Lubango 2007



Lubango • Os 200km da Huíla • GP Coca Cola 2007

O Circuito da Nossa Senhora do Monte, na cidade do Lubango, é um dos últimos sítios do mundo, onde ainda é possível assistir a corridas de automóveis sem os constrangimentos da era moderna.

Tudo aqui é como há 30 ou 40 anos. Muito entusiasmo, poucas regras, os automóveis de anteontem e o público de amanhã.

Para quem já andou a ver corridas no Estoril, em Donington, Silverstone, Goodwood ou Spa, a atmosfera e o ambiente são incomparáveis.

Em mais nenhum circuito é possivel abrir a porta da estalagem, no Domingo de manhã, olhar para os stands e observar: “Estão a chegar ali aos boxes, uns automóveis que não estavam cá ontem! É melhor ir tomar o pequeno almoço e seguir rapidamente para o circuito!...”

A ondulação do piso é a mesma.

Em 1974 fazia saltar como um cabrito o Lola T292 do Dr. Mabílio de Albuquerque e hoje, em 2007, aplica uma massagem de corpo inteiro aos pilotos dos Radical SR3, de qualquer outro automóvel de corrida, ou que esteja convenientemente adaptado para correr.

A maior surpresa, do ponto de vista organizativo, consistiu em encontrar transponders pendurados nos automóveis, a confirmar aquilo que Eurico Silva, o Director-Adjunto, já tinha anunciado em 2006: “No ano que vem havemos de ter cronometragem automática!”

Sem negligenciar, a presença das autoridades da Polícia Nacional no briefing de Sábado à noite, a explicar de uma forma muito clara, que as lições foram aprendidas e, tanto quanto é possível, as corridas não voltarão a encontrar-se com aquilo que ninguém quer.

A melhor maneira de avaliar a corrida mais sumptuosa do calendário de Angola, é observar os competidores, um a um. E vamos fazê-lo, seguindo a divisão por categorias estabelecida pela APDML (a Associação Provincial dos Desportos Motorizados de Luanda).

Categoria A, para os automóveis até 1600cc

Bruno Martins

O Campeão de 2006 e seguramente o menos fanfarrão e o mais sensato de todos os competidores, desembarcou no Lubango com o Hyundai Accent habitual e fez sem exuberância ou truques de magia, aquilo que se esperava: o melhor tempo nos treinos entre os carros que “Larama” aqui deixou em 2004, e o melhor resultado na corrida, na sua categoria.

Reis Cunha

José Manuel Reis Cunha é um dos raros competidores que prepara cuidadosamente a oportunidade de correr, quando já não aguenta estar parado e não consegue abster-se de vestir o Nomex e colocar o capacete.

O Hyundai Accent, da Arena, que utilizou, estava amplamente decorado a lembrar a província e a cidade do Huambo, em alusão à esperança de que, certamente, algo deve andar a ser congeminado com vista a reeditar a corrida mais significativa e mais internacional da velha história do automobilismo angolano...

Depois de, durante os treinos e parte da corrida, se deixar rebocar por Bruno Albernaz, num delicioso jogo de slipstreaming, Reis Cunha foi o segundo da sua classe, a escassos décimos de segundo de Bruno Martins.

Nuno Sampaio

Este jovem do Namibe, apoiado pelos prestigiados armazéns Laurinda Comercial, já mostrou do que é capaz com o Hyundai Accent. Sensato, cuidadoso, ponderado e atencioso, vai dar que falar quando dispuser de máquina mais poderosa.

“Edy” Antunes

O piloto da Huíla Edivaldo Antunes, apresentou-se com o mesmo Hyundai Elantra que utilizou em 2006 e com o qual alcançou na altura o 7º lugar da classificação geral e o triunfo na Classe 2 e no Grupo C. Trata-se de um modelo de automóvel montado no Botswana e muito aligeirado que todavia, e mesmo superadas as dificuldades que encontrou na corrida do Namibe, já começa a revelar-se curto para as possibildades deste piloto.

“Charlie Oscar”

Um dos arqui-entusiastas da competição em Angola. Viciado da competição em circuito, especialista em vencer obstáculos fora de estrada, “Charlie Oscar” desenvolve e cuida pessoalmente do seu Hyundai Accent. É também o leader da segurança médica nos circuitos e sempre que as organizações de outras provas, solicitam a presença dos serviços state of the art que lidera.

Bruno Albernaz

Como o vício das corridas, o humor, a boa disposição e a capacidade realizar empreendimentos, são características transmitidas de forma genética, é garantido que o piloto de Benguela as herdou do pai, o veterano Fernando Cardoso Albernaz.

Um caso em que o filho do peixe sabe mesmo nadar... Ou nasceu dentro do aquário, ou perto dos automóveis de competição.

Atormentado por algumas dificuldades, o leader da Arena terminou ainda assim a uma volta de “Charlie Oscar”, conduzindo o automóvel com a decoração mais selvagem e apelativa de todas.

“Riquito”

O piloto da Huíla Sandro Dias, utilizou aqui o Honda Civic CRX deixado vago por Mário Ferreira. Foi forçado a retirar-se volvida meia hora de corrida, mas deixou um sinal importante: foi o mais rápido nos treinos, na sua categoria.

Categoria B, para automóveis até 2-litros

Moura Fernandes, José Carlos Madaleno e Luís Barreto

Não é possível uma referência individual aos três pilotos da MFBO Competição.

Para começar, deram uma nota de verdadeiro team, pelo cuidado que tiveram em preparar e apresentar uma imagem global de apresentação, todos vestidos, pilotos e acompanhantes, com a imagem da equipa.

Nada foi mexido nos Honda Civic Type-R adquiridos no Inverno à Sande e Castro Sport: 215hp, diferencial autoblocante, suspensão de competição KW, roll-cage OMP soldada à monocoque, idêntica à dos carros do ETCC, pneus Avon slick.

Luís Barreto surpreendeu no final dos treinos ao realizar a volta mais rápida entre os três elementos da equipa, seguido de Madaleno e Moura Fernandes.

As posições inverteram-se todavia no final da corrida, com Moura Fernandes a impor a sua mais vasta experiência sobre Madaleno e Luís Barreto.

De novo a MFBO demonstrou que estes Honda Civic são os veículos mais fiáveis e mais equilibrados actualmente a correr em Angola, e terminarão sempre as corridas logo atrás dos carros de GT e Sport que chegarem ao fim.

Amílcar Ligeiro

O entusiasta de Benguela dispunha do mesmo Peugeot 205 GTi já qui visto no ano passado, altura em que foi forçado a retirar-se volvidas 6 voltas com problemas no motor. Para esta corrida equipou-se com um motor 1.9 e, desta vez, foram os travões que cederam após cumprir 19 voltas.

Dário Guerreiro

Este estreante da Huíla apresentou-se com um Nissan Skyline GT, versão pacata do velho godzilla que, no final dos anos ’80 fez a vida negra e humilhou no Japão e na Austrália os BMW M3 e os Ford Sierra RS 500.

Nas 14 voltas que conseguiu cumprir mostrou um andamento idêntico ao dos Hyundai Accent e retirou-se demonstrando que os pneus, a suspensão e os travões um carro de estrada se arruinam muito rapidamente na utilização em pista.

“Tony” Lopes de Almeida

Herdeiro, tal como Bruno Albernaz, de outra histórica figura do automobilismo em Benguela, o Engº Eurico Lopes de Almeida, este gentleman driver apresentou-se com o seu habitual Renault Clio 16S, visto aqui no ano passado pelas maõs do irmão João Lopes de Almeida. A cura de rejuvenescimento não foi famosa e a corrida de “Tony” Lopes de Almeida terminou ao fim de 9 voltas com o motor a sofrer de aquecimento excessivo.

Jorge Rodrigues

Este participante de Luanda apresentou outro Renault Clio 16S mas não chegou sequer a rodar nos treinos de Sábado e já não voltou sequer a ser visto no circuito no Domingo.

José Carlos Teles Menezes

Outro entusiasta de Benguela que, correndo em representação do renovado Clube Tuku Tuku, não conseguiu pôr a funcionar o Peugeot 205 GTi 1.9 que Jorge Portugal deixou no Lubango desde a corrida do ano passado.

Categoria C, para automóveis até 4.5-litros

José Antunes Sueco

Apresentou o mesmo Hyundai Elantra já qui visto ano passado. Este carro está equipado com um motor Toyota 3S-GTE, 4-cilindros, 2-litros, sobrealimentado por um turbocompressor. Trata-se do tipo de motor que em tempos equipou o Toyota MR2 e o Celica GT-Four.

O piloto da Huíla venceu na Classe C e é seguro que, no futuro, compreenderá que o reabastecimento não é feito no pit lane, nem com o motor a trabalhar.

Carlos Dias

Não tem falhado uma corrida, desde que se estreou no Namibe, este competidor de Benguela. Conduz um Ford Sierra Cosworth 4x4 utilizado em rallyes em Portugal há uns anos atrás. Terminou em 2º da Classe C a uma volta do Hyundai com motor Toyota de Sueco Antunes.

Ricardo de Almeida

Este experiente e já veterano piloto de Benguela não foi feliz uma vez mais. No ano passado perdeu o pára-brisas do Ford Sierra Cosworth 4x4 o que, ainda assim não o impediu de alinhar. Este ano, problemas mecânicos obrigaram-no a retirar-se ao fim de 6 voltas. O carro que utiliza é um dos dois idênticos que vieram para Angola em 1992 integrados no Team Ascenso Edipesca. O outro está nas mãos de Luís Gonçalves.

Categoria D, para automóveis acima de 4.5-litros

Pedro Maló Almeida

O vencedor crónico desta corrida nos últimos anos estava esperançado que o Porsche 996 Turbo o ajudasse a cumprir o objectivo de lutar pelo primeiro lugar até ao fim.

No entanto, tal não aconteceu. Segundo tempo nos treinos, a 3,8 segundos do Radical SR3 de Fiório de Sousa, Maló Almeida comandou a corrida na primeira volta e depois cedeu o comando e foi perdendo terreno para o jovem da Huíla. Na volta 18 o Porsche passou na recta da meta a despejar o fluído do sistema hidráulico e 5 voltas depois encostou definitivamente na boxe com a correia de comando partida.

João Carlos Carvalho

O outro competidor na Categoria D também não tem sido feliz com a mecânica do seu bólide. O Dodge Neon SRT-4 habitual, nem chegou a alinhar, depois de, mais uma vez, ter arruinado o turbocompressor durante o treino de qualificação.

Categoria Sport

Fiório de Sousa

Um ano depois da estreia em automóveis, primeira vitória do jovem talento do Lubango e mais um caso de filho de peixe que sabe mesmo nadar. Com carros inferiores já tinha mostrado que é capaz de andar muito depressa de forma consistente, com grande capacidade de concentração e fazendo exactamente aquilo se lhe pede ou seja, sem inventar. Só falta agir em função do significado das bandeiras, mas isso virá com a experiência.

O Radical SR3 Supersport que Fiório de Sousa aqui estreou é novo e um dos últimos construídos. Está equipado com o motor Powertec 1585T da última geração, que desenvolve 270hp às 9.250rpm.

Jorge Sousa

Regresso do veterano do Lubango, já recuperado das lesões do acidente de há tempos.

Estreou o BRC CM05 que havia sido utilizado anteriormente por Pedro Salvador no Campeonato de Montanha de Portugal.

Trata-se de um automóvel de chassis tubular em aço-carbono, produzido nas Astúrias pela sociedade Bango Racing Cars, a primeira empresa espanhola que concebeu e construiu um automóvel de competição de acordo com regulamento FIA do Grupo CM. O carro é propulsionado por um motor baseado no Suzuki Hayabusa de 1.000cc e “Gasosa” terminou a corrida em 2º lugar a 2 voltas do filho Fiório.

Mário Ferreira

Uma novidade que causou um misto de curiosidade e perplexidade foi a presença de um monolugar numa corrida de longa distância, algo que já não se via, talvez desde o Grande Prémio de Macau de 1969.

Com efeito, o piloto do Lubango Mário Ferreira apresentou um carro da extinta Formula Ford by Novis, que correu em Portugal entre 2000 e 2002. Trata-se de um chassis do construtor francês Mygale, baseado em Magny-Cours, equipado com o motor Ford Zetec modificado pela Minister Racing Engines, que era habitual nestes automóveis.

Mário Ferreira, que tinha alcançado nos treinos a 4ª posição a 8 segundos de Fiório, terminou a corrida a 4 voltas do vencedor.

Daniel Vidal Júnior

Se houvesse um prémio para a combatividade e para a persistência, ele seria entregue certamente a Daniel Vidal. Apoquentado pela quebra de um semi-eixo, socorreu-se dos recursos de uma oficina local para remediar problema e alinhou na última fila, pois não chegou a obter tempo de qualificação.

Na segunda volta da corrida já era 7º e foi subindo lugares, até passar em 4º na volta 8. Com o abandono de Pedro Maló Almeida passou para o 2º lugar e chegou a comandar a corrida durante 5 voltas, na sequência da paragem de Fiório de Sousa para reabastecer.

Mas a soldadura no semi-eixo acabou por ceder e Vidal teve de retirar-se com 47 voltas completadas.

Paulo Silva

As coisas não correram de feição para o vencedor da corrida do ano passado. Primeiro foi a transmissão que cedeu. Depois foi o motor, com um problema irremediável, que nem a equipa técnica de Santos “Pêras” estava em posição de solucionar.

Post Scriptum

O homem mais feliz no final da corrida era seguramente o Senhor Ramos da Cruz. O Governador da Província da Huíla, foi recompensado das correrias em que também teve de andar nas últimos meses, até porque o Parque da Nossa Senhora do Monte, tinha sido nas semanas anteriores, palco das eliminatórias do torneio AfroBasket 2007.

Entretanto sabe-se já que, o Circuito da Nossa Senhora do Monte vai voltar a ver corridas ainda este ano. O Grande Prémio Socolil está marcado para 18 de Novembro. A não perder...

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