ESTUDO DE “O CRIME DO PADRE AMARO”



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| |Disciplina: Literatura Professor: Márcio Santiago |

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| |Aluno(a): _________________________________________________ Nº: ______ |

| |Data: ____/____/2007 - Turma: 301 e 302 - Turno: Manhã |

ESTUDO DE “O CRIME DO PADRE AMARO”

Eça de Queirós

|Eça de Queirós |

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|Vida e Obra |

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|1. A vida de José Maria d’Eça de Queirós (1845-1900)  |

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|      Nascido em Póvoa do Varzim,  Eça de Queirós ingressou em 1861 na Universidade de Coimbra. Envolvendo-se com |

|Antero de Quental e seu grupo, participa ativamente da implantação do realismo em Portugal. Formado, advoga e |

|escreve para jornais. Em 1869 assiste à inauguração do Canal de Suez. Em 1872 ingressa no corpo diplomático, |

|passando a trabalhar, como cônsul, fora de Portugal. Primeiro vai servir em Havana, Cuba, depois na Ing;aterra e, |

|finalmente, em Paris, onde morre em 1900. Morreu aos 55 anos, deixando uma das mais importantes obras de toda a |

|literatura luso-brasileira.  |

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|2. Primeira Fase: Aprendizado (1865 - 1871)  |

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|      As primeiras obras de Eça de Queirós impressas foram textos em prosa poética intitulados Notas Marginais, |

|publicados na Gazeta de Portugal  em 1866 (depois publicadas como Prosas Bárbaras, em 1905). Influenciado por |

|Victor Hugo, Michelet e Baudelaire, o estreante, carregando nas imagens, metáforas e comparações, envereda por |

|temas históricos e já revela um certo anticlericalismo. Em parceria com Ramalho Ortigão (1836-1915), Eça publica, |

|em folhetins no Diário de Notícias, durante o ano de 1870, o seu primeiro romance, O Mistério da Estrada de Sintra,|

|escrito através de cartas enviadas ao jornal e que relatam um seqüestro na estrada de Sintra. Com a cumplicidade do|

|jornal, os autores conseguiram enganar muitos leitores, que supunham as cartas e a história verdadeiras.  |

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|3. Segunda Fase: Realismo-Naturalismo (1871 - 1888)  |

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|      Segundo Eça: “Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o|

|na sua realidade social. (...) Toda a diferença entre o idealismo e o naturalismo está nisto. O primeiro falsifica,|

|o segundo verifica.”  Foi seguindo estas premissas que escreveu as obras-primas do período naturalista, que já se |

|anunciava nas Farpas (1871), e na conferência A  Nova Literatura, apresentada no ciclo do Casino Lisbonense, no |

|mesmo ano.   |

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|3a. O Primo Basílio (1878)  |

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|      Após a publicação de O Crime do Padre Amaro, Eça de Queirós escreve O Primo Basílio. Nesta obra, o romancista|

|retrata a burguesia lisboeta em toda a sua vacuidade. Inspirado no Madame Bovary, de Flaubert, apresenta a tola |

|Luísa, cujo marido, o medíocre engenheiro Jorge, passa algum tempo, a trabalho, fora de Lisboa. Neste momento |

|retorna a Portugal o primo pelo qual Luísa fora apaixonada na adolescência, Basílio. Mal caráter acabado, Basílio, |

|ao perceber que sua prima estava só, decide conquistá-la. Convence-a de que está na moda, em Paris, as mulheres |

|terem um amante e acaba por arrastá-la ao Paraíso, local de seus encontros amorosos. Mas a criada Juliana descobre |

|uma carta amorosa do casal e passa a chantagear a patroa. Basílio deixa Lisboa e Luísa, incapaz de arrumar o |

|dinheiro para pagar o silêncio da criada, acaba por servir de escrava a Juliana. Quando Jorge retorna, Luísa, |

|ajudada pelo amigo Sebastião, um pobre e servil rapaz, acaba por recuperar a carta incriminadora. Mas abalada, |

|termina morrendo sem saber que Jorge descobrira tudo e a perdoara. De volta a Lisboa, Basílio, ao saber da morte da|

|prima, lamenta não ter trazido sua amante parisiense. Como podemos perceber, não há na obra um personagem heróico, |

|todos são movidos por interesses mesquinhos e guiados pelas aparências.   |

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|3b. Os Maias (1888)  |

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|      Considerado por muitos a obra-prima do romance português, Os Maias tem como subtítulo Episódios da Vida |

|Romântica. Através da história incestuosa do jovem médico Carlos da Maia e sua irmã Maria Eduarda, Eça de Queirós, |

|além de criticar as aventuras de amor românticas, pinta um painel demolidor da sociedade portuguesa. Ministros, |

|jornalistas, maestros, poetas, professores, ninguém escapa da ironia devastadora de  Eça. Nem mesmo João da Ega, |

|porta-voz das críticas do próprio Eça, que é um ocioso inútil.  |

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|4.Terceira Fase: Nacionalismo Nostálgico (1888 - 1900)  |

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|Na terceira fase da obra de Eça de Queirós, o romancista, longe de sua terra, passa a defender o retorno de seu |

|país às suas origens tradicionais. No romance A Ilustre Casa de Ramires (1900), a personagem do título não consegue|

|se colocar à altura de seus antepassados medievais, cuja história tenta recompor. Outras obras desta fase são A |

|Correspondência de Fradique Mendes (1900) e A Cidade e as Serras.   |

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|4a. A Cidade e as Serras (1901)  |

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|      Narrado por José Fernandes, o romance conta as atribulações de Jacinto de Tormes, fidalgo português nascido |

|em Paris. Milionário e culto, Jacinto se cerca das mais sofisticadas invenções do mundo moderno, de milhares de |

|livros e de inúmeros amigos influentes e superficiais. Mas  absorve-o um constante tédio. Indo a Portugal em |

|companhia de José Fernandes, para reformar o cemitério dos antepassados na sua propriedade rural em Tormes, Jacinto|

|se vê, para seu desespero, desligado da civilização que tanto preza. Depois de algum tempo, no entanto, para |

|surpresa do amigo, Jacinto se apaixona pelo campo, torna-se alegre, casa-se com a robusta Joaninha, passa a ajudar |

|os camponeses e decide ficar para sempre em Tormes. Trata-se, portanto, de uma clara defesa do retorno de Portugal |

|a suas origens ruralistas.  |

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|O Crime do Padre Amaro |

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| Introdução  |

|          Primeiro romance realista da língua portuguesa, O Crime do Padre Amaro revelou o maior romancista |

|português e chocou a sociedade da época com sua denúncia da hipocrisia social e religiosa.  |

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|O Enredo               [pic] |

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|      Romance anticlerical dos mais ferozes, é ambientado em Leiria, onde o Padre Amaro Vieira, ingênuo e |

|psicologicamente um fraco, vai assumir  sua paróquia. Hospedando-se na casa da Senhora Joaneira, acaba por se |

|envolver sexualmente com sua filha, Amélia. Amaro conhece, então, o cinismo dos seus colegas, que em nada |

|estranham  sua relação com a jovem. Grávida, Amélia acaba por morrer no parto e Amaro entrega a criança a uma |

|"tecedeira de anjos". Morta também a criança, Amaro, agora um cínico descarado, prossegue com a sua carreira. O |

|romance, que critica violentamente a vida provinciana e o comportamento do clero, foi, durante décadas, leitura |

|proibida em muitas escolas de Portugal e do Brasil.  |

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|As Personagens   |

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|      A intenção de Eça ao escrever o Crime do Padre Amaro não era apenas a denúncia dos vícios do clero devasso, |

|mas também apresentar a vida mesquinha da cidade provinciana portuguesa. Assim, só Amaro e Amélia, as personagens |

|centrais, são criticadas pelo narrador. Também as personagens secundárias são utilizada para revelar as mazelas da |

|sociedade em que estão inseridas.  |

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|O Padre Amaro Vieira   |

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|       O protagonista do romance era filho de dois criados do marquês de Alegros. Perde os pais ainda criança e é |

|educado no meio da criadagem da marquesa, o que faz com se torne "enredador. Muito mentiroso." A marquesa decide |

|que se ele tornaria padre, e assim, aos quinze anos, é mandado ao seminário.   |

|      É um fraco tanto física quanto psicologicamente. Aceita o sacerdócio passivamente. Por influência do conde de|

|Ribamar, obtém a paróquia de Leiria, onde se hospeda na casa da S. Joaneira. Lá conhece Amélia, filha de sua |

|hospedeira, e ela torna-se sua amante. O ambiente da casa da marquesa, onde fora criado, e o seminário moldaram o |

|caráter de Amaro. Já sacerdote em Leiria, espanta-se, no início, com o cinismo explícito dos seus colegas de |

|batina, mas todas essas situações, somadas ao ambiente de servilismo beato da casa onde está hospedado, fazem com |

|que ele se atole em ações desonrosas, como entregar seu filho a uma "tecedeira de anjos" e a criança acaba por |

|morrer. No final do romance, ele tornou-se idêntico aos seus pares. Uma conversa entre Amaro e o cônego Dias, |

|mostra, de forma clara, como Amaro e os outros eclesiásticos representam o clero sem vocação e hipócrita. Os dois |

|estão refletindo sobre os excessos da Comuna, afirmam que seus seguidores merecem a masmorra e a forca porque não |

|respeitam o clero e "destroem no povo a veneração pelo sacerdócio", caluniando a Igreja. Então, uma mulher |

|provocante passa diante deles e ambos trocam olhares cúmplices. O cônego exclama: "- Hem, seu Padre Amaro?... |

|Aquilo é que você queria confessar" E Amaro responde: " - Já lá vai o tempo, padre-mestre - disse o pároco rindo - |

|já as não confesso senão casadas!"  |

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|Amélia Caminha   |

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|      A co-protagonista do romance concentra, em sua figura, o resultado trágico de uma formação num meio |

|provinciano e atrasado, centrado em torno do poder eclesiástico. A sua casa é um beatério, centro de convivência |

|dos poderosos e amorais sacerdotes da cidade, em que impera a superficialidade dos rituais e uma deformação dos |

|conceitos religiosos cristãos. Nesta sociedade, a Igreja é parte ativa do poder político, que a utiliza nas suas |

|manobras eleitoreiras e lhe dá privilégios sociais, prestígio e poder.  |

|     Amélia vive, portanto, rodeada de cônegos e padres. Aos 23 anos, alta, forte e "muito desejada", possui um |

|temperamento sentimental, romântico e fortemente sensual. Órfã de pai, sua mãe é amante do cônego Dias e ela é uma |

|devota simplória e passiva, atraída pelo ritual católico. Namora João Eduardo, escrevente de cartório. Conhece, |

|então, o Padre Amaro, pároco da Sé de Leiria, hóspede na casa de sua mãe. Apaixona-se e entrega-se a ele com total |

|submissão. Fica grávida e esconde-se numa quinta próxima à cidade, acompanhada de uma fanática beata, irmã do |

|cônego Dias. Recebe a visita do abade Ferrão, único sacerdote decente do romance. Ele tenta recuperá-la para uma |

|vida normal e digna e quer tirá-la da influência nefasta de Amaro. No entanto, Amélia morre no parto.   |

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|Personagens secundárias   |

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|      O narrador do romance, na terceira pessoa, apresenta as personagens secundárias com grande dose de ironia e |

|uma certa antipatia. Como bem o colocou Benjami Abdala Jr:  |

|      “Fica muito clara a antipatia do narrador pelo círculo de amigos da S. Joaneira (Maria Assunção, Josefa Dias,|

|Joaquina Gansoso e o beato homossexual Libaninho). O mesmo ocorre em relação aos colegas de Amaro (cônego Dias, |

|padre Natário e padre Brito), pois o narrador parece convencido antecipadamente de seus vícios e grosseirias. O |

|único religioso que se exclui desse círculo é o abade Ferrão, apresentado como uma personagem coerente com seus |

|ideais. A ironia do narrador não é restrita aos religiosos, estendendo-se para o contexto social de Leiria.  |

|      Várias personagens são apresentadas de forma sarcástica: o jornalista Agostinho Pinheiro; o venal Gouveia |

|Ledesma, o burguês reacionário Carlos. Nesse ambiente, João Eduardo, noivo de Amélia, enciumado com as atenções da |

|moça ao padre Amaro, escreveu um anônimo “Comunicado” na Voz do Distrito, criticando a covivência de padres com |

|amantes. Rompe-se o noivado: Amélia trona-se amante do padre Amaro.”  |

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|Análise da Obra |

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|O REALISMO    |

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|      O Realismo significou a aparição de uma série de temas novos, mas, sobretudo, uma maneira diferente de |

|entender a literatura. O subjetivismo romântico foi substituído pela descrição da realidade externa. O escritor |

|realista desejava retratar a realidade tal como era, sem deixar de lado nenhum aspecto, por mais desagradável que |

|fosse. A base do romance realista é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Através dos personagens, |

|abordavam-se conflitos sociais: entre a burguesia e o proletariado, entre a sociedade urbana e a sociedade rural, |

|entre a ideologia conservadora e a liberal e progressista. Os personagens eram estudados em detalhe. Segundo Eça de|

|Queirós:   |

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|      “Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua |

|realidade social. Outrora no drama, no romance, concebia-se o jogo da paixões a priori; hoje analisa-se a |

|posteriori, por processos tão exatos como os da própria fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que rege os |

|corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos, que a constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mesmas leis |

|que a constituição do espírito de uma donzela, que há no mundo uma fenomenalidade única, que a lei que rege os |

|movimentos dos mundos não difere da lei que rege as paixões humanas, o romance, em lugar de imaginar, tinha |

|simplesmente de observar. A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a idealização das imaginações inatas.|

|(...) Toda a diferença entre o idealismo e o naturalismo está nisto. O primeiro falsifica, o segundo verifica.”    |

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|O Realismo-naturalismo    |

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|      O Realismo-naturalismo aparece por volta de 1870 como uma derivação do realismo. Recebeu profunda influência |

|de algumas das teorias e doutrinas que estavam no auge naquele momento, sobretudo do materialismo e do |

|determinismo. O Naturalismo considerava a vida do homem resultado de fatores externos (raça, ambiente familiar, |

|classe social, etc.). Influenciado pelas ciências experimentais, o escritor naturalista tentava demonstrar, com |

|rigor científico, que o comportamento humano está sujeito a leis semelhantes às que regem os fenômenos físicos. Se |

|o realismo pretendia ser objetivo e imitar a realidade, o Naturalismo desejava fazer uma análise histórica, social |

|e psicológica da realidade, um estudo profundo a partir de uma ampla documentação prévia.    |

|      O Crime do Padre Amaro é a primeira obra naturalista da língua portuguesa. O Realismo-naturalismo é |

|cientificista e determinista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio, das |

|características hereditárias e do momento histórico. Portanto, os romances naturalistas, como O Crime da Padre |

|Amaro, procuravam, através da representação literária, demonstrar teses extraídas de teorias científicas. Para |

|isso, o Naturalismo buscou compor um registro implacável da realidade, incluindo seus aspectos repugnantes e |

|grotescos.    |

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|A introdução do Realismo em Portugal  |

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|      As idéias realistas foram introduzidas em Portugal por um grupo de jovens estudantes de Coimbra, liderados |

|pelo poeta Antero de Quental (1842-1891). Em 1865, batendo-se pelas novas idéias realistas, Antero, Teófilo Braga |

|(1843-1824) e seu grupo se envolvem numa polêmica com o escritor e tradutor romântico Antônio Feliciano de Castilho|

|(1800-1875), conhecida como Questão Coimbrã. Formam, então, uma fraternidade acadêmica, O Cenáculo, e, em 1871, |

|organizam as Conferências Democráticas, no Casino Lisbonense. Encerradas pelo governo, que as temia subversivas, as|

|conferências serviram para o grupo expôr suas idéias, influenciadas por Taine e Proudhon, sobre a necessidade de a |

|arte retratar e revolucionar a sociedade burguesa. Entre os seguidores de Antero estava, desde a faculdade, o jovem|

|Eça de Queirós, que iria introduzir o Realismo na prosa portuguesa com O Crime do Padre Amaro.   |

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|AS “CENAS DA VIDA PORTUGUESA”   |

|      Eça de Queirós tinha a intenção, nos romances da sua fase naturalista, de pintar um quadro crítico da vida |

|portuguesa. Em famosa carta a Teófilo Braga, na qual o romancista explica suas intenções ao escrever o romance O |

|Primo Basílio, deixa claro que pretende compor um cenário de todas as mazelas da sociedade portuguesa de seu |

|tempo:   |

|  |

|      “A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa tal qual a fez o Constitucionalismo desde 1830 e |

|mostrar-lhe, como num espelho que triste país eles formam - eles e elas. É o meu fim nas “Cenas da Vida |

|Portuguesa”. É necessário acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o |

|mundo supersticioso - e, com todo respeito pelas instituições de origem eterna, destruir as falsas interpretações e|

|falsas realizações que lhe dá uma sociedade podre. Não lhe parece você  que um tal trabalho é justo?”     |

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|      Assim, Eça aborda, em O Crime do Padre Amaro, o clero devasso e a pequena burguesia da província; em O Primo |

|Basílio, a burguesia lisboeta e a instituição do casamento; em Os Maias, a aristrocacia decadente e a alta |

|sociedade preconceituosa; em A Capital, o jornalismo, a política e a literatura.   |

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|DA PUBLICAÇÃO   |

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|      A primeira versão do romance foi publicada entre 15 de fevereiro e 15 de maio de 1875, na Revista Ocidental, |

|quinzenário fundado por Oliveira Martins. Antero de Quental era diretor literário e Jaime Batalha Reis, secretário |

|da revista. Antes de viajar para Newcastle, Eça deixara o original do romance com eles, mas queria revisá-lo à |

|medida que as provas impressas fossem chegando. O problema é que as emendas e os acréscimos eram extensos e em |

|grande quantidade e a distância entre Portugal e Inglaterra, enorme, o que prejudicava a periodicidade da revista e|

|atrapalhava os prazos para a publicação. Além disso, algumas passagens consideradas muito realistas foram cortadas |

|à revelia do autor, possivelmente por Antero de Quental, que não aceitava os aspectos crus do realismo literário. |

|Eça de Queirós ficou furioso e solicitou aos editores repetidas vezes, por carta e telegrama, que fossem mandadas a|

|ele as provas de página e se suspendesse a publicação, já que ele não autorizava a publicação do resto do romance |

|sem antes rever as provas: "As emendas que fiz são consideráveis e complicadas: e se um trabalho - onde o estilo já|

|de si é afetado e amaneirado, todo cheio de pequenas intenções e tão dependente da pontuação - ajuntamos os erros |

|tipográficos - temos um fiasco deplorável". E em outra carta a Batalha Reis mostra o quanto estava irado: "... |

|estou verdadeiramente indignado. Pois quê? Eu dou-vos um borrão do romance - e vocês em lugar de publicar o romance|

|publicam o borrão!"  |

|      Embora contrariado, Eça não consegue impedir "a publicação do borrão" e decide: "calar, emendar, refazer |

|tranqüilamente o romance, e publicá-lo num volume - que se pertença e responda por si." Ele pede a Batalha Reis que|

|lhe remeta os capítulos suprimidos na revista e no mesmo mês que a revista termina a publicação do romance, Eça |

|finaliza O Crime do Padre Amaro para publicação em livro. A primeira edição, de 1876, é financiada por seu pai, dr.|

|José Maria de Almeida Teixeira de Queirós e sua tiragem foi de apenas 800 exemplares.  |

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|A ACUSAÇÃO DE PLÁGIO   |

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|      Muitos críticos, ao abordarem O Crime do Padre Amaro, quando de sua publicação, acusaram Eça de Queirós de |

|ter plagiado o grande mestre da corrente naturalista, o romancista francês Émile Zola. Entre esses, está Machado de|

|Assis, que, em crítica a O Primo Basílio, publicada na revista O Cruzeiro, em 16 de abril de 1878, assim se refere |

|ao primeiro livro de Eça:  |

|    |

|      "O Crime do Padre Amaro revelou desde logo as tendências literárias do Sr. Eça de  Queirós e a escola a que |

|abertamente se filiava. O Sr. Eça de Queirós é um fiel e aspérrimo discípulo do realismo propagado pelo autor do |

|Assommoir. Se fora simples copista, o dever da crítica era deixá-lo, sem defesa, nas mãos do entusiasmo cego, que |

|acabaria por matá-lo; mas é homem de talento, transpôs ainda há pouco as portas da oficina literária; e eu, que lhe|

|não nego a minha admiração, tomo a peito dizer-lhe francamente o que penso, já da obra em si, já das doutrinas e |

|práticas, cujo iniciador é, na pátria de Alexandre Herculano e no idioma de Gonçalves Dias.   |

|      Que o sr. Eça de Queirós é discípulo do autor do Assommoir, ninguém há que o não conheça. O próprio Crime do |

|Padre Amaro é imitação do romance de Zola, La Faute de l'Abbé Mouret. Situação análoga, iguais tendências; |

|diferença do meio; diferença do desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscências, como no capítulo da missa, e |

|outras; enfim, o mesmo título. Quem os leu a ambos, não contestou decerto a originalidade do Sr. Eça de Queirós, |

|porque ele a tinha, e tem, e a manifesta de modo afirmativo; creio até que essa mesma originalidade deu motivo ao |

|maior defeito na concepção do Crime do Padre Amaro. O Sr. Eça dc Queirós alterou naturalmente as circunstâncias que|

|rodeavam o padre Mouret, administrador espiritual de uma paróquia rústica, flanqueado de um padre austero e |

|ríspido; o padre Amaro vive numa cidade de província, no meio de mulheres, ao lado de outros que do sacerdócio só |

|têm a batina e as propinas; vê-os concupiscentes e maritalmente estabelecidos, sem perderem um só átomo de |

|influência e consideração. Sendo assim, não se compreende o terror do padre Amaro, no dia em que do seu erro lhe |

|nasce um filho, e muito menos se compreende que o mate. Das duas forças que lutam na alma do padre Amaro, uma é |

|real e efetiva - o sentimento da paternidade; a outra é quimérica e impossível - o terror da opinião, que ele tem |

|visto tolerante e cúmplice no desvio dos seus confrades; e não obstante, é esta a força que triunfa. Haverá aí |

|alguma verdade moral?   |

|       Ora bem, compreende-se a ruidosa aceitação do Crime do Padre Amaro. Era realismo implacável, conseqüente, |

|lógico, levado à puerilidade e à obscuridade. Víamos aparecer na nossa língua um realista sem rebuço, sem |

|atenuações, sem melindres, resoluto a vibrar o camartelo no mármore da outra escola, que aos olhos do Sr. Eça de |

|Queirós parecia uma simples ruína, unia tradição acabada. Não se conhecia no nosso idioma aquela reprodução |

|fotográfica e servil das coisas mínimas e ignóbeis. Pela primeira vez, aparecia um livro em que o escuso e o - |

|digamos o próprio termo, pois tratamos de repelir a doutrina, não o talento, e menos o homem, - em que o escuso e o|

|torpe eram tratados com um carinho minucioso e relacionados com uma exação de inventário. A gente de gosto leu com |

|prazer alguns quadros, excelentemente acabados, em que o Sr. Eça de Queirós esquecia por minutos as preocupações da|

|escola; e, ainda nos quadros que lhe destoavam, achou mais de um rasgo feliz, mais de uma expressão verdadeira a |

|maioria, porém, atirou-se ao inventário. Pois que havia de fazer a maioria, senão admirar a fidelidade de um autor,|

|que não esquece nada, e não oculta nada? Porque a nova poética é isto, e só chegará à perfeição no dia em que nos |

|disser o número exato dos fios de que se compõe um lenço de cambraia ou um esfregão de cozinha. Quanto à ação em |

|si, e os episódios que a esmaltam, foram um dos atrativos do Crime do Padre Amaro, e o maior deles; tinham o mérito|

|do pomo defeso. E tudo isso, saindo das mãos de um homem de talento, produziu o sucesso da obra."   |

|   |

|      É importante notar que Machado não critica apenas as semelhanças entre o livro de Zola e o de Eça. A sua |

|grande restrição ao livro português se dá quanto ao seu estilo. Nessa crítica, Machado há de se colocar |

|frontalmente contra o estilo Naturalista, antecipando o Realismo Psicológico, que haveria de inaugurar no Brasil |

|com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881.  |

|     Eça de Queirós, no entanto, responde a seus críticos, como Machado, ao escrever a nota introdutória à segunda |

|edição do livro, em 1880:  |

|      "O Crime do Padre Amaro recebeu no Brasil e em Portugal alguma atenção da critica, quando foi publicado |

|ulteriormente um romance intitulado O Primo Basílio. E no Brasil e em Portugal escreveu-se (sem todavia se aduzir |

|nenhuma prova efectiva) que O Crime do Padre Amaro era uma imitação do romance do sr. E. Zola - La Faute de l'Abbé |

|Mouret; ou que este livro do autor do Assomoir e de outros magistrais estudos sociais sugerira a ideia, as |

|personagens, a intenção de O Crime do Padre Amaro.  Eu tenho algumas razões para crer que isto não é correcto.   |

|       O Crime do Padre Amaro foi escrito em 1871, lido a alguns amigos em 1872, e publicado em 1874. O livro do |

|sr. Zola, La Faute de l'Abbé Mouret (que é o quinto volume da série Rougon Macquart), foi escrito e publicado em |

|1875. Mas (ainda que isto pareça sobrenatural) eu considero esta razão apenas como subalterna e insuficiente. Eu |

|podia, enfim, ter penetrado no cérebro, no pensamento do sr. Zola, e ter avistado, entre as formas ainda indecisas |

|das suas criações futuras, a figura do abade Mouret…  |

|       O que, segundo penso, mostra melhor que a acusação carece de exactidão, é a simples comparação dos dois |

|romances…   |

|       Os criticos inteligentes que acusaram o Crime do Padre Amaro de ser apenas uma imitação da Faute de l'Abbé |

|Mouret não tinham infelizmente lido o romance maravilhoso do sr. Zola, que foi talvez a origem de toda a sua |

|glória. A semelhança casual dos dois titulos induziu-os em erro. Com conhecimento dos dois livros, só uma |

|obtusidade córnea ou uma má fé cinica poderia assemelhar esta bela alegoria idilica, a que está misturado o |

|patético drama de uma alma mistica, ao Crime do Padre Amaro, que, como podem ver neste novo trabalho, é apenas, no |

|fundo, uma intriga de clérigos e de beatas tramada e murmurada à sombra de uma velha Sé de província portuguesa.  |

REFERÊNCIAS

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2001.

O ESTUDO de O crime do padre Amaro. In:

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