Sebentas - Altervista



2339340-79565500 UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETOFACULDADE DE CI?NCIAS SOCIAISDEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIAANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURALPor:Bortolami Gabriele PhDSebentas das li??es dadas no Ano Académico 2018Luanda 2018?ndiceTOC \o "1-3" \h \z \uCapítulo 1- A Antropologia e o estudo da cultura PAGEREF _Toc530425020 \h 41.1 - Antropologia, ciência e senso comum PAGEREF _Toc530425021 \h 51.1.1 Introdu??o à antropologia social e cultural PAGEREF _Toc530425022 \h 51.1.2 Os antropólogos e as antropologias PAGEREF _Toc530425023 \h 71.2 Base teórica: Durkheim PAGEREF _Toc530425024 \h 121.2.1 A supremacia da sociedade . PAGEREF _Toc530425025 \h 121.2.2 Modernidade e tradi??o. PAGEREF _Toc530425026 \h 121.3 Pós-modernismo na antropologia PAGEREF _Toc530425027 \h 12Capítulo 2 - O conceito de cultura ao longo da história PAGEREF _Toc530425028 \h 143.1 Edward Burnett Tylor PAGEREF _Toc530425029 \h 163.2 O particularismo Histórico PAGEREF _Toc530425030 \h 173.3 características da cultura PAGEREF _Toc530425031 \h 183.3.1 subculturas. PAGEREF _Toc530425032 \h 193.3.2 Abordagens antropológicas . PAGEREF _Toc530425033 \h 203.3.3 Características da cultura PAGEREF _Toc530425034 \h 233.3.4 teorias antropológicas . PAGEREF _Toc530425035 \h 293.3.5 Evolucionismo cultural PAGEREF _Toc530425036 \h 303.4 Franz Uri Boas: Relativismo cultural PAGEREF _Toc530425037 \h 303.5 Funcionalismo de Malinowski PAGEREF _Toc530425038 \h 313.6 Radcliffe Brown: funcionalismo estrutural PAGEREF _Toc530425039 \h 353.7 Edward Evans Prtitchard PAGEREF _Toc530425040 \h 393.7.1 Obras escritas por Evans-Pritchard. PAGEREF _Toc530425041 \h 413.8 Clifford Geertz, a importancia da interpreta??o PAGEREF _Toc530425042 \h 433.8.1 O conceito semiotico da cultura PAGEREF _Toc530425043 \h 443.8.2 Ler as culturas PAGEREF _Toc530425044 \h 44Capítulo 4 – Antropologia Cultural e social PAGEREF _Toc530425045 \h 444.1 Como a Antropologia se compara a outras Disciplinas? PAGEREF _Toc530425046 \h 454. 2 Como é que os antropólogos conseguem o que fazem? PAGEREF _Toc530425047 \h 454.3 O desenvolvimento da antropologia PAGEREF _Toc530425048 \h 474.4 As viagens PAGEREF _Toc530425049 \h 474.5 Perspectivas antropológicas PAGEREF _Toc530425050 \h 484.6 Antropologia e seus campos PAGEREF _Toc530425051 \h 494.6.1 Antropologia Física PAGEREF _Toc530425052 \h 504.6.2 Paleoantropologia PAGEREF _Toc530425053 \h 504.6.3 PRIMATOLOGIA PAGEREF _Toc530425054 \h 534.7 Crescimento humano, adapta??o, e varia??o PAGEREF _Toc530425055 \h 534.7.1 Antropologia Forense PAGEREF _Toc530425056 \h 544.7.2 Etnografia e Antropologia PAGEREF _Toc530425057 \h 544.8 ETNOGRAFIA PAGEREF _Toc530425058 \h 554.9 Etnologia PAGEREF _Toc530425059 \h 554.9.1Como a pesquisa está relacionada à teoria? PAGEREF _Toc530425060 \h 564.9.2 Quais s?o os métodos de pesquisa etnográfica? PAGEREF _Toc530425061 \h 564.9.3 Componentes da antropologia PAGEREF _Toc530425062 \h 564.9.4 Trabalho de campo PAGEREF _Toc530425063 \h 574.9.5 História da Pesquisa etnográfica e seus usos PAGEREF _Toc530425064 \h 574.9.6 Etnografia de Salvamento ou Antropologia Urgente PAGEREF _Toc530425065 \h 58Capítulo 5 – O conceito de cultura PAGEREF _Toc530425066 \h 585.1 A Cultura PAGEREF _Toc530425067 \h 585.2 Porque as culturas existem? PAGEREF _Toc530425068 \h 585.3 Etnocentrismo: PAGEREF _Toc530425069 \h 595.4 O Conceito de Cultura PAGEREF _Toc530425070 \h 595.5 Características da cultura PAGEREF _Toc530425071 \h 595.5.1 A cultura é aprendida e n?o herdada biologicamente. PAGEREF _Toc530425072 \h 605.5.2 Os alimentos PAGEREF _Toc530425073 \h 605.5.3 Satisfazer as necessidades PAGEREF _Toc530425074 \h 605.5.4 Os le?es do Kakutchi PAGEREF _Toc530425075 \h 605.6 A cultura é compartilhada PAGEREF _Toc530425076 \h 615.6.1 Sociedade PAGEREF _Toc530425077 \h 615.6.2 Cultura e Sociedade PAGEREF _Toc530425078 \h 615.6.3 A constru??o do gênero PAGEREF _Toc530425079 \h 615.6.4 Diferencia??o social baseada no gênero PAGEREF _Toc530425080 \h 615.6.5 Diferencia??o etária PAGEREF _Toc530425081 \h 625.7 SUBCULTURAS: PAGEREF _Toc530425082 \h 625.7.1 Grupo étnico PAGEREF _Toc530425083 \h 625.7.2 Etnia PAGEREF _Toc530425084 \h 625.7.2 Pluralismo PAGEREF _Toc530425085 \h 635.8 A cultura é baseada em símbolos PAGEREF _Toc530425086 \h 635.8.1 A linguagem como panorama simbólico PAGEREF _Toc530425087 \h 635.8.2 A Cultura é Integrada, PAGEREF _Toc530425088 \h 15.8.3 Cultura holística PAGEREF _Toc530425089 \h 15.9 Estrutura, infraestrutura, superestrutura PAGEREF _Toc530425090 \h 15.9.1 CULTURA Bakongo COMO SISTEMA INTEGRADO PAGEREF _Toc530425091 \h 25. 10 Fun??es da Cultura PAGEREF _Toc530425092 \h 25.10.1 Malinowski PAGEREF _Toc530425093 \h 35.10.2 Fun??es da cultura PAGEREF _Toc530425094 \h 4Capítulo 6 – Etapas dos Ciclo da vida: a Morte PAGEREF _Toc530425095 \h 66.1 Infancia PAGEREF _Toc530425096 \h 66.1.2 Apreender PAGEREF _Toc530425097 \h 76.1.3 Aprendizagem cultural PAGEREF _Toc530425098 \h 96.1.4 Socializar: Irm?os e amigos PAGEREF _Toc530425099 \h 106.2 Casamento PAGEREF _Toc530425100 \h 146.2.1 Lundula PAGEREF _Toc530425101 \h 156.2.2 Poligamia PAGEREF _Toc530425102 \h 156.2.3 Regras do matrimonio PAGEREF _Toc530425103 \h 166.2.4 CASAMENTO PAGEREF _Toc530425104 \h 166.2.5 Proibi??es de casamento. PAGEREF _Toc530425105 \h 176.2.6 Exogamia e Endogamia PAGEREF _Toc530425106 \h 176.2.7 Troca de irm?s PAGEREF _Toc530425107 \h 186.2.8 Alembamentos PAGEREF _Toc530425108 \h 186.2.9 Presta??o de Servi?o como troca PAGEREF _Toc530425109 \h 186.3 A Morte PAGEREF _Toc530425110 \h 28Capítulo 7- A ORGANIZA??O ECON?MICA PAGEREF _Toc530425111 \h 417.1 Produ??o PAGEREF _Toc530425112 \h 417.2 Ca?a e coleta PAGEREF _Toc530425113 \h 447.3 Teorias económicas Escola formalista PAGEREF _Toc530425114 \h 467.3.1 Homem económico PAGEREF _Toc530425115 \h 467.4 Escola substantivista PAGEREF _Toc530425116 \h 477.5 Antropologia económica PAGEREF _Toc530425117 \h 487.5.1 Rela??es de parentesco PAGEREF _Toc530425118 \h 497. 6 Modo de produ??o PAGEREF _Toc530425119 \h 497.7 Meios de produ??o PAGEREF _Toc530425120 \h 507.7.1 A agricultura PAGEREF _Toc530425121 \h 507.7.2 As ferramentas PAGEREF _Toc530425122 \h 507.7.3 A terra PAGEREF _Toc530425123 \h 517.8 Velhos, Jovens e mulheres PAGEREF _Toc530425124 \h 527.8.1 Velhos PAGEREF _Toc530425125 \h 527.8.2 Administra??o dos velhos PAGEREF _Toc530425126 \h 537.9 Organiza??o económica das sociedades tradicionais PAGEREF _Toc530425127 \h 557.9.1 Os !Kung de Angola PAGEREF _Toc530425128 \h 56Capítulo 8- A ORGANIZA??O POL?TICA PAGEREF _Toc530425129 \h 648.1 Bakongo e akwakimbundu PAGEREF _Toc530425130 \h 658.3 Akwakimbundu PAGEREF _Toc530425131 \h 668.4 Os reinos da savana PAGEREF _Toc530425132 \h 668.5 Os chefes PAGEREF _Toc530425133 \h 688.6 O poder da kanda PAGEREF _Toc530425134 \h 698.6.1 Estruturas hierárquicas PAGEREF _Toc530425135 \h 708.7 Estruturas matrilineares e patrilineares PAGEREF _Toc530425136 \h 718.7.1 Mvila za makanda PAGEREF _Toc530425137 \h 71Capítulo 9 - A ORGANIZA??O RELIGIOSA PAGEREF _Toc530425138 \h 789.1 defini??o de religi?o PAGEREF _Toc530425139 \h 789-2 O Deus dos Bakongo PAGEREF _Toc530425140 \h 799-3 A dupla interpreta??o dos factos: científica e tradicional PAGEREF _Toc530425141 \h 809.4 Simbolismos religiosos PAGEREF _Toc530425142 \h 829.5 O juízos ordálicos PAGEREF _Toc530425143 \h 839.6 Nkadi a Mpemba PAGEREF _Toc530425144 \h 849.7 Kimpavita PAGEREF _Toc530425145 \h 849.8 Culto do Kimpassi PAGEREF _Toc530425146 \h 85Capítulo 1- A Antropologia e o estudo da culturaA Antropologia é uma das Ciências Sociais mais antigas. Ela visa estudar o ser humano como ser biológico, cultural e social. A dimens?o biológica do homem é objeto da Antropologia Física, área que se ocupa de factores genéticos e fisiológicos do ser humano. A Antropologia Cultural visa estudar a cultura humana, ou seja, todos os aspectos da produ??o simbólica, religiosa, artística, jurídica, ética que caracterizam uma cultura. Um campo paralelo à Antropologia Cultural é constituído pela Antropologia Social, que visa estudar os sistemas presentes em uma cultura, como sistema de parentesco, político, e institui??es.? importante apontar que esses dois campos, cultural e social, dos estudos antropológicos se aproximam do campo da Sociologia, mas n?o se confundem com ele, para os antropólogos o foco de interesse será sempre a cultura e a alteridade, enquanto que para os sociólogos é a sociedade e o facto social. O limite entre as duas disciplinas tende quase a desaparecer, mas est?o presentes.Uma área da Antropologia que é bastante conhecida é a Arqueologia, que visa o estudo dos seres humanos e das culturas desaparecidas. Este campo se relaciona com a Arqueologia, no que respeita às culturas desaparecidas, mas que deixaram rastros, como inscri??es, desenhos, cer?micas, objetos e até pir?mides; ele se relaciona com a Antropologia Física, no que respeita à análise dos fósseis humanos e múmias.A Antropologia também compreende divis?es internas, com base em modalidades de estudos realizados, em rela??o principalmente a culturas específicas. Pode-se apontar a Etnografia, como observa??o e descri??o de culturas, e à Etnologia como estudo comparativo e analítico da cultura, sendo a Antropologia a combina??o dos estudos etnográficos e etnológicos, buscando interpreta??o e síntese.Ela se constitui como campo de conhecimento científico para desfazer preconceitos raciais, sociais, religiosos, sexuais, reconhecendo que a diferen?a cultural entre os povos n?o implica superioridade ou inferioridade mas reconhecimento e aceita??o da diversidade das culturas e grupos, sem vis?es etnocêntricas. 1.1 - Antropologia, ciência e senso comumNa Antropologia: é possível a comunica??o entre aquele que pesquisa e aquele cuja vida é pesquisada, mesmo quando essa comunica??o é “indirecta”, como na pesquisa com filmes, por exemplo.? claro que a pesquisa em Antropologia, como em qualquer das ciências sociais, também se vale de documentos, de registros diferenciados dos fatos pesquisados. Por exemplo, no antigo Egipto o povo tomava cerveja, como se sabe? Pela investiga??o de arqueólogos sobre o conteúdo de alguns potes de cer?mica encontrados...Na verdade, várias profiss?es se valem de procedimentos semelhantes aos das ciências sociais: 1.1.1 Introdu??o à antropologia social e culturalA antropologia social e cultural para entender as diferen?as nas abordagens teóricas para as duas escolas antropológicas (culturale - social) é necessário perceber as condi??es históricas em que elas se desenvolveram.?Escola Americana: a antropologia cultural (Franz Boas) Anglo-Saxon Escola: Antropologia Social (Bronislaw Malinowski) diferen?as entre os duas consistem nas abordagens: a escola americana prefere a vis?o da cultura como: - a soma das formas de existência e da vida cotidiana - a 'express?o de sistemas de conhecimento, em que as pessoas estruturam a sua idéias A cultura inclui os sistemas compartilhados de ideias, conceitos e significados inerentes aos sistemas e expressos através dos modos de vida dos povos (Goodenough 1961).Escola de Inglês: pouco interesse na no??o de cultura, ênfase em formas de estruturas de organiza??o social (influência teórica do estruturalismo e funcionalismo) As formas de organiza??o social s?o sistemas compostos de diferentes órg?os ou estruturas, em constante mudan?a e intimamente ligados. Economia, religi?o, política s?o todos os aspectos, intimamente relacionados, qualquer sistema de organiza??o social. A origem da diferen?a de abordagens antropológicas pode ser encontrada em contextos históricos e políticos em que a disciplina tem desenvolvidoNas Américas a antropologia come?ou como um estudo sobre os índios. O programa antropológico faz parte da ideologia americana de intera??o e integra??o de culturas e ra?as, para entender a verdadeira origem da cultura norte-americana. Isto é porque os Estados Unidos n?o tinham col?nias e problema mais urgente do governo dos EUA foi a integra??o dos povos indígenas sobre o seu território.Na Europa, a situa??o era muito diferente. A longa história de regimes coloniais em Portugal, Espanha e depois a Fran?a, Holanda e Inglaterra haviam deixado vestígios importantes sobre o modo de conquista, estratégias políticas e econ?micas desses países estrangeiros. Compreender diferentes culturas e sociedades tornou-se uma necessidade para os países europeus a tomar as rela??es de domina??o vantagem máxima em termos económicos e políticos. A Antropologia foi criada e desenvolvida para apoiar os esfor?os para a compreens?o, controle e gest?o das popula??es da col?nia. Os antropólogos est?o aqui como funcionários do governo viajando no campo (os territórios das col?nias) e estudando as características das organiza??es sociais locais.Em outros contextos (Itália, Alemanha e os países da Europa Central e Oriental) a antropologia nasceu como um impulso intelectual para coleta e registro de dados sobre aspectos históricos (e étnicos) usa, rituais e práticas locais (folclore e demologia).Qual é a principal diferen?a entre as duas abordagens? O enfoque sobre o conceito de cultura ou sobre as organiza??es e estrutura social apresenta diferen?as fundamentais nas abordagens das duas escolas de pesquisa. Segundo o particularismo histórico, a antropologia inclui estes ramos ou subdisciplinas:Subcampos da Antropologia a antropologia física,a antropologia cultural, arqueologia. A antropologia cultural, por sua vez tem uma própria influxo nas disciplinas como a antropologia social,linguística e psicologia. No caso da antropologia social, ela influencia disciplinas como a antropologia forense, a antropologia política, antropologia económica, antropologia psicológica, antropologia simbólica, antropologia cognitiva, ecológica, médica, folclore e etno-história. ? um grupo complexo de disciplinas que se originou a partir de diferentes abordagens teóricas exercidas pelos envolvidos em antropologia.No Reino Unido, a situa??o é menos complicada. A Antropologia Social tem entre suas áreas de interesse: religi?o, economia, política,?parentesco e redes sociais, arte e entretenimento, história, antropologia forense. N?o há, como na América do Norte, uma clara separa??o dos campos pois eles n?o constituem disciplinas independentes, mas áreas de especializa??o. Os princípios básicos da antropologia social s?o compartilhados por todos os especialistas, que, em seguida, orientam-se cada qual com a sua própria area.Em rela??o a algumas diferen?as entre trabalhos de campo na antropologia cultural e social deve-se enfatizar que o trabalho etnográfico da antropologia social s?o mais ricos em detalhes, colocam os diferentes aspectos das características sociais (política, econ?mica, jurídica, religiosa ...) de um determinado grupo e muitas vezes n?o s?o históricos, mas enquadrados sobre o que Malinowski chamou de 'etnográfica do presente.' Os tranalho de campo americanos s?o mais amplos, muitas vezes domina a abordagem histórica e há uma maior ênfase no relacionamento entre as sociedades locais, tais como sociedade tradicional e contexto nacional ou global. No entanto, por causa da grande f?lego, esse trabalho muitas vezes n?o têm a precis?o de detalhe e rigor da mesma antropologia de molde brit?nico.1.1.2 Os antropólogos e as antropologias (A) Antropólogos culturais, estudam popula??es vivas, costumam passar o? tempo vivendo com grupos culturais para obter perspectivas mais específicas so- bre essas culturas. A antropóloga norte-americana Margaret Mead (1901-1978), é um dos nomes mais reconhecidos da antropologia cultural, estudou os povos das Ilhas Samoa, perto de Papua Nova Guiné. (B) Os arqueólogos estudam comportamentos humanos passados ao investigar material que os seres humanos deixaram para trás, como edifícios e outras estruturas. Em Mbanza Kongo, os arqueólogos examina os restos do palácio do Rei do Kongo (cerca de 750-1000 dC). (C) os Antropólogos linguísticos estudam todos os aspectos do uso da linguagem e da linguagem. Aqui, Leslie Moore, uma antropóloga linguística que trabalha em uma comunidade Fulbe no norte dos Camar?es, registra como um professor guia um menino na memoriza??o dos versos do Alcor?o. (D) Antropólogos físicos estudam evolu??o e varia??o humanas. Alguns antropólogos físicos estudam esqueletos do passado para investigar a evolu??o e a varia??o ao longo da história humana. Aqueles que trabalham em antropologia forense, uma especialidade da antropologia física, examinam esqueletos na esperan?a de identificar as pessoas do passado. Essa identifica??o pode ser de uma única pessoa ou de milhares. Antropologia Cultural ? o estudo de culturas e sociedades de seres humanos e seu passado muito recente. Os Antropólogos culturais tradicionais estudam culturas vivas e apresentam as suas observa??es numa pesquisa etnográfica. O estudo das sociedades passadas e suas culturas, especialmente os restos materiais do passado, como ferramentas, restos alimentares e lugares onde as pessoas viviam. O estudo da linguagem, especialmente a forma como a linguagem é estruturada, a evolu??o da linguagem e os contextos sociais e culturais da linguagem. Os antropólogos culturais geralmente estudam as sociedades atuais em ambientes n?o-ocidentais, como na ?frica, América do Sul ou Austrália. A cultura - definida como comportamento aprendido que é transmitido de pessoa para pessoa - é o tema unificador do estudo em antropologia cultural. ?Antropologia física Também chamada de antropologia biológica, a antropologia física é o estudo da evolu??o e varia??o humana, tanto passadas quanto atuais. Como exploraremos na próxima se??o, a antropologia física lida com a evolu??o e varia??o entre os se- res humanos e seus familiares vivos e passados. ?Arqueologia Os arqueólogos estudam as sociedades humanas passadas, concentrando-se principalmente os seus restos materiais - como restos de animais e plantas e lugares onde as pessoas viviam no passado. Os arqueólogos s?o mais conhecidos pelo seu estudo de objetos da cultura material - artefatos - de culturas passadas, como armamento e cer?mica. Os arqueólogos estudam os processos por trás dos comportamen- tos humanos passados - por exemplo, por que as pessoas viviam onde eles faziam, por que algumas sociedades eram simples e outras complexas e por que as pes- soas passavam da ca?a e da coleta à agricultura, come?ando há mais de 10.000 anos. Os arqueólogos s?o os antropólogos culturais do passado - eles procuram reassemblar culturas do passado como se essas culturas estivessem vivas hoje. Antropologia linguística Os antropólogos linguísticos estudam a constru??o e o uso da linguagem pelas sociedades humanas. A linguagem definida como um conjunto de símbolos escritos ou falados que se referem a coisas (pessoas, lugares, conceitos, etc.) que n?o sejam eles mesmos - possibilita a transferência de conhecimento de uma pessoa para a próxima e de uma gera??o para outra. Difundido entre os antropólogos linguísticos é um subfil?o chamado sociolinguística, a investiga??o dos contextos sociais da linguagem. Os antropólogos físicos (ou biológicos) estudam todos os aspectos da biologia humana presente e passada. Nenhum antropólogo deve ser um especialista em todos os quatro ramos. Os antropólogos em todas as quatro áreas e com interesses muito diferentes reconhe- cem a diversidade da humanidade em todos os contextos. Nenhuma outra disci- plina abra?a a amplitude da condi??o humana dessa maneira. De fato, esta disci- plina notavelmente diversa difere de outras disciplinas em seu compromisso com a no??o de que os humanos s?o seres biológicos e culturais. Uma área central de interesse que muitos antropólogos compartilham é a inter-rela??o entre o que os seres humanos herdaram geneticamente e a cultura. Os antropólogos chamam esse enfoque de abordagem biocultural. A antropologia também difere de ou- tras disciplinas em enfatizar uma abordagem comparativa ampla para o estudo da biologia e da cultura, olhando todas as pessoas (e seus antepassados) e todas as culturas em todos os momentos e lugares - é holística. ?Antropologia simbólicaA antropologia simbólica, que teve sua eflorescência na década de 1970, preocupa-se com a interpreta??o da cultura e a busca de significado. Essa ênfase está relacionada à centralidade do significado no estruturalismo de Lévi-Strauss, que é um dos seus antecedentes intelectuais. A cultura é vista como um sistema de símbolos, e a tarefa do antropólogo é decifrar seus significados. Na década de 1970, antropólogos como David Schneider e Clifford Geertz come?aram a se concentrar no conjunto de significados inter-relacionados que as culturas codificam. A tarefa do antropólogo passou ent?o a traduzir as camadas de significado de um fen?meno cultural particular em nossos conceitos e em nossa linguagem. Clifford Geertz (1972), em sua tentativa de entender o significado da briga de galo de Bali, chamou esse tipo de tradu??o de uma “descri??o densa”. A descri??o espessa significa que a cultura é vista como um texto a ser lido e interpretado. Essa ênfase na decifra??o de significado tem sido associada na antropologia ao particularismo e ao relativismo cultural, ambos basicamente anticomparativos. Se os antropólogos que escreveram etnografias coletavam informa??es etnográficas na forma de textos, a análise antropológica era a análise de textos. Nos últimos anos, a abordagem de Geertz tornou-se cada vez mais semelhante à crítica literária. Em meados da década de 1980, em Works and Lives, Geertz (1988) analisou os relatos etnográficos de quatro antropólogos. Ele argumentou que a compreens?o desses escritos é semelhante à compreens?o de um corpo de trabalho ficcional de Melville ou Mark Twain. O significado de um texto é encontrado na voz do autor, e o material antropológico contido nele deve ser interpretado sob essa luz. Em contraste, Schneider continuou a ver cada etnografia como representando o sistema simbólico de uma cultura particular e singularmente diferente. N?o havia espa?o para uma abordagem comparativa na antropologia de Geertz e Schneider. Na tens?o entre a antropologia como ciência buscando fazer generaliza??es através do uso da abordagem comparativa, e como um aspecto das humanidades que buscam a compreens?o, a abordagem simbólica desceu diretamente do lado das humanidades. Antropologia Histórica Os antropólogos sempre se preocuparam com a dimens?o temporal ou histórica da cultura. Os antropólogos de bra?os cruzados do século XIX construíram um esquema que tentou descrever a evolu??o da cultura humana. Os discípulos de Boas, especialmente A. L. Kroeber, e outros durante o início do século XX, tentaram reconstruir a história de culturas particulares, observando a dissemina??o de características culturais. Eles estavam lidando com culturas sem histórias escritas que eles poderiam consultar, e ainda, eles estavam interessados no que era chamado de 'cultura tradicional' naqueles dias. Isso tudo foi posteriormente condenado por Radcliffe Brown como 'história conjetural'. Mas, na época do contato ocidental, essas culturas estavam inseridas dentro de um quadro histórico de conquista e colonialismo, que muitos antropólogos da época n?o consideravam relevante. Claramente, o que estava sendo descrito do ponto de vista dos conquistadores, no arquivo e em outras fontes históricas, era significativo e importante para qualquer compreens?o dessas culturas. ? medida que os antropólogos brit?nicos come?aram a prestar cada vez mais aten??o aos efeitos do colonialismo nas pessoas que estavam estudando, eles reconheceram que a história era uma técnica para ajudar a explicar as consequências da influência europeia e que precisavam se familiarizar com as ferramentas do historiador colonial. Só ent?o os antropólogos poderiam compreender a natureza da intera??o entre os colonizadores e aqueles que colonizaram e como cada um deles reconstruiu seu mundo como consequência do outro. Claramente, o controle, a domina??o branca e a diferen?a na gest?o do poder eram centrais em tal empreendimento intelectual. Os contextos regionais, de estado-na??o e emergentes globais, com suas dimens?es políticas e econ?micas, também s?o significativos. Deve-se considerar como o local e o global se interpenetram ao longo do tempo. O que também é relevante nesse esfor?o foi como a rela??o entre pesquisa arquivística e etnografia deveria ser constituída. Como Cohen observou, o antropólogo deveria “tratar dos materiais da maneira como um antropólogo trata suas anota??es de campo” (Axel 2002: 9 [1987: 2]). ? claro que as metodologias tanto da história quanto da antropologia s?o relevantes para qualquer investiga??o. Ainda mais cedo, décadas atrás, antropólogos como dois dos autores deste livro (Rubel e Rosman) tiveram que prestar aten??o ao contexto histórico em mudan?a da sociedade ou grupo social, com seu quadro de colonialismo e domina??o, que eles estavam estudando. Estes seriam encontrados nos arquivos, que no caso do estudo de Cavazzi sobre os três Reinos: Congo Matamba e Ngola (1691) significava voltar ao material de três séculos para descobrir informa??es. O trabalho de José Redinha em Povos e Culturas de Angola (1974) tra?a continuidades entre documentos coloniais portugueses e idéias contempor?neas sobre etnias e identidade angolana. Aqueles que fazem o tal dito trabalho de etnohistória n?o só arquivam, mas também colectam materiais de história arqueológica e oral para tra?ar a história das culturas que n?o têm registro escrito. As narrativas dos povos locais de sua própria história s?o importantes. Isso inclui n?o apenas a história oral, mas a tradi??o e o mito (Balandier 1977: 148). Na sua vers?o da antropologia histórica, Balandier estava interessado na situa??o colonial que se desenvolveu entre colonizadores e colonizados. As popula??es angolanas reagiram à introdu??o do colonialismo, por sua vez, essas rea??es determinaram no nascer dos movimentos anticoloniais (Abranches, 1980). A abordagem teórica de Abranches, que combina história e antropologia, mostra como os angolanos perceberam o colono, após sua chegada em Angola, primeiramente, em termos de suas próprias categorias culturais. Mais tarde coma escravatura n?o só se afetou os eventos subsequentes envolvendo as rela??es entre angolanos e européus, angolanos e americanos (isto é, a história), mas também resultava em mudan?as nas regras culturais angolanas de assimila??o for?ada (Atzori, 1978). Como Dirks, Eley e Ortner observam, “[Antropologia] tem se movido em uma dire??o histórica. Apenas um pouco menos óbvia, a história tornou-se cada vez mais antropológica ”(1994: 5). A antropologia n?o pode ser apenas o contexto histórico, significando apenas uma sequência temporal de eventos e transforma??es; deve ainda prestar aten??o aos significados culturais, suas interpreta??es e como os indivíduos agem em termos desses significados culturais.Introdu??o à antropologia social e culturalA antropologia social e cultural para entender as diferen?as nas abordagens teóricas para as duas escolas antropológicas (cultural - social) é necessário perceber as condi??es históricas em que elas se desenvolveram.?Escola Americana: a antropologia cultural (Franz Boas) Escola Inglesa: Antropologia Social (Bronislaw Malinowski) diferen?as entre os duas consistem nas abordagens: a escola americana prefere a vis?o da cultura como: - a soma das formas de existência e da vida cotidiana - a 'express?o de sistemas de conhecimento, em que as pessoas estruturam a sua idéias A cultura inclui os sistemas compartilhados de ideias, conceitos e significados inerentes aos sistemas e expressos através dos modos de vida dos povos (Goodenough 1961).Escola de Inglês: pouco interesse na no??o de cultura, ênfase em formas de estruturas de organiza??o social (influência teórica do estruturalismo e funcionalismo) As formas de organiza??o social s?o sistemas compostos de diferentes órg?os ou estruturas, em constante mudan?a e intimamente ligados. Economia, religi?o, política s?o todos os aspectos, intimamente relacionados, qualquer sistema de organiza??o social. A origem da diferen?a de abordagens antropológicas pode ser encontrada em contextos históricos e políticos em que a disciplina tem desenvolvido Compreender diferentes culturas e sociedades tornou-se uma necessidade para os países europeus a tomar as rela??es de domina??o vantagem máxima em termos económicos e políticos. A Antropologia foi criada e desenvolvida para apoiar os esfor?os para a compreens?o, controle e gest?o das popula??es da col?nia. Os antropólogos eram funcionários do governo que viajavam no campo (os territórios das col?nias) para estudar as características das organiza??es sociais locais.Em outros contextos (Itália, Alemanha e os países da Europa Central e Oriental) a antropologia nasceu como um impulso intelectual para coleta e registro de dados sobre aspectos históricos (e étnicos), hábitos e costumes, rituais e práticas locais (folclore e demologia).Qual é a principal diferen?a entre as duas abordagens? O enfoque sobre o conceito de cultura ou sobre as organiza??es e estrutura social apresenta diferen?as fundamentais nas abordagens das duas escolas de pesquisa.1.2 Base teórica: DurkheimAs bases teóricas da antropologia social est?o a ser encontradas na obra do sociólogo francês ?mile Durkheim. Três s?o substancialmente os pontos significativos de seu pensamento.1.2.1 A supremacia da sociedade .A sociedade é para Durkheim a organiza??o suprema acima dos indivíduos. ? uma Entidade Abstracta com uma vida e suas fun??es com a capacidade de sobreviver às grandes mudan?as históricas e continuar a existir. O destino do homem está intimamente ligado às características da estrutura social à qual pertence, até mesmo a maneira como o homem vê o mundo ao seu redor è ditada pela sociedade ao invés de ser o resultado de processos cognitivos e da fun??o cerebral. Até o individualismo é o produto do desenvolvimento histórico de uma sociedade1.2.2 Modernidade e tradi??o.? Na sua obra a “Divis?o do trabalho” (1893), Durkheim postula a diferen?a entre uma sociedade?“tribal" e as sociedades modernas.? O primeiro tipo corresponde às organiza??es sociais baseadas em rela??es interpessoais, na família, e no poder dos indivíduos.? Neste caso, a religi?o e rituais servem como normas de comportamento social e de códigos morais. N?o apresentam grandes diferen?as na divis?o do trabalho baseada no sexo e na idade.? No caso da sociedade capitalista, as rela??es ter-se-iam formalizadas por causa da burocracia.? Essa sociedade é regulada pelos códigos formais (leitura) e pelas diferen?as na divis?o do trabalho gerando um acentuado individualismo.1.3 Pós-modernismo na antropologiaA partir das décadas de 1980 e 1990, a antropologia, juntamente com as outras ciências humanas, passou por uma reavalia??o, que foi rotulada como pós-modernismo. As análises e tradu??es dos antropólogos das culturas de outros foram consideradas insuficientes e inadequadas. O pós-modernismo na antropologia encontrou falhas na generaliza??o e numa abordagem mais científica. Eles desafiaram “a afirma??o de que a ciência e o racionalismo podem levar a um conhecimento completo e preciso do mundo. . . argumentando que essas s?o formas específicas de conhecimento historicamente construídas ”(McGee e Warms 2008: 532). A antropologia sempre ocupou as humanidades e as ciências sociais. Os pós-modernistas achavam que a antropologia deveria abra?ar totalmente o humanismo, enfatizando o relativismo cultural e procurando captar a singularidade de cada situa??o cultural, que os pós-modernistas consideravam perdida quando se generalizava. O etnógrafo traz consigo suas próprias categorias culturais e, portanto, n?o pode ser um observador objetivo e imparcial de outra cultura. O antropólogo deve estar ciente dessas categorias culturais, uma vez que elas enquadram a pesquisa. A ideia de que o antropólogo também poderia abranger a totalidade de outra cultura foi abandonada pela posi??o de James Clifford de que só podemos alcan?ar “verdades parciais” (1986). Clifford e outros pós-modernistas viram os textos etnográficos, que foram produzidos como representa??es ocidentais da cultura que está sendo examinada, como sendo refuncionalizados em categorias ocidentais. Uma vez que o etnógrafo e seus informantes, as pessoas dentro da cultura que fornecem informa??es, devem ser vistas como parte do mesmo tempo e espa?o social, a tarefa do etnógrafo se torna a de um intérprete ou tradutor. Muitas vezes, a compreens?o da cultura por parte do etnógrafo é apresentada na etnografia, juntamente com os entendimentos dos informantes para o público leitor, para tirar suas próprias conclus?es. Alguns viram a etnografia, o produto do diálogo entre o informante e o pesquisador de campo, como n?o suficientemente representativa da variedade de pontos de vista ou ideias mantidas pelos indivíduos na cultura. Eles argumentaram que diferentes segmentos de uma sociedade podem ter opini?es contestadoras sobre os significados culturais e que vis?es opostas deveriam ser representadas na etnografia nas próprias palavras dos informantes. Para prestar mais aten??o a essas vis?es, alguns antropólogos apresentaram suas análises aos seus informantes para comentários.Alguns pós-modernistas preferem que as vozes dos informantes ocupem um lugar central ao contar sua história, utilizando a abordagem da história de vida, que tradicionalmente faz parte da metodologia antropológica. Isto é em resposta ao sentimento de que no passado as vozes dos sujeitos etnográficos foram marginalizadas ou deslocadas pela única voz autoritária do etnógrafo, a voz que contou “a história”. O papel do etnógrafo nativo, isto é, o indivíduo que é membro da cultura que recebeu treinamento como antropólogo também está relacionado à quest?o da representa??o. Tais indivíduos s?o vistos como tendo uma compreens?o intuitiva da cultura e uma maior capacidade de empatia com as pessoas e interpretam sua cultura do que um antropólogo que é membro de outra cultura. No entanto, há aqueles que argumentam que uma maior empatia vem à custa da perspectiva e compreens?o que um estranho pode trazer. Diz-se que os antropólogos angolanos que estudam sua própria cultura n?o podem ser objetivos, tendem a justificar o comportamento de maneira etnocêntrica e muitas vezes têm suas próprias agendas políticas. Quando a antropologia é vista como ciência, a observa??o desempenha um papel essencial. No entanto, para os pós-modernistas que enfatizam a vis?o humanista da antropologia, a observa??o desempenha um papel secundário nos diálogos com os informantes e no registro das informa??es que os informantes apresentam como um texto etnográfico. Nos relatos etnográficos que os pós-modernistas aplaudem, as estruturas conceituais analíticas s?o completamente ausentes porque se considera que em cada sociedade, que é considerada uma entidade única, as categorias devem ser entendidas em seus próprios termos e n?o podem ser equiparadas a categorias em outras sociedades. é feito em pesquisa comparativa entre culturas. Os antropólogos pós-modernistas consideraram a escrita de descri??es etnográficas t?o central que uma delas define a antropologia como “uma categoria discursiva, um tipo ou grupo de tipos de escrita que têm filia??es importantes para outros campos culturais e acadêmicos modernos” (Manganaro, 1990, p. 5). ). Eles est?o interessados em aprender que dispositivos retóricos est?o sendo usados para convencer o leitor de que o pesquisador de campo estava “lá” e que suas observa??es e conclus?es s?o representa??es precisas das vidas dos “outros” que os antropólogos estudaram. Quando a cultura é vista como um texto, como na vis?o de Geertz, e a etnografia se torna um tipo de escrita, a antropologia se aproxima muito mais da teoria literária. A antropologia, do ponto de vista pós-modernista, torna-se parte de uma nova abordagem humanista interdisciplinar, que também inclui filosofia, história, história da arte e arquitetura. Os pós-modernistas for?aram os antropólogos a repensar a natureza do trabalho de campo. Eles colocaram a ênfase na etnografia ao saber como o etnógrafo se sentiu como pessoa na situa??o de trabalho de campo e foi percebido pela comunidade, pelos aspectos experienciais do campo. Este foco no etnógrafo é uma virada reflexiva recente na antropologia, como exemplificado pelo trabalho de Barbara TedlockCapítulo 2 - O conceito de cultura ao longo da históriaO “conceito de cultura” que atravessa a história n?o é o antropológico, mas aquele relativo à forma??o intelectual, por exemplo, cultura na antiguidade clássica grega implicava certa forma??o nas matemáticas, poesia, filosofia, informa??o sobre outros povos, domínio de línguas, e capacidade de oratória. Na Idade Média cultura era o conhecimento baseado nas línguas, latim, grego, leitura, escrita, filosofia, matemática, e evidentemente teologia. Tendências nos estudos da Antropologia, variantes no conceito de cultura.O percurso realizado até agora seguiu, em linhas gerais, a constitui??o do conceito de cultura na forma??o das bases do pensamento ocidental, até chegar à formula??o da ciência Antropologia. Notadamente nesse percurso a rela??o entre Homem e Sociedade ficou nas entrelinhas, como que “costurando” os vários momentos discutidos. Inegavelmente chegou-se à conclus?o de que o homem (ser humano) é o construtor da sociedade, na variedade de condi??es dadas por uma história nem sempre escrita, mas sempre presente.Resta agora tra?ar rapidamente (eu prometo) como a ciência antropologia, em suas várias tendências, chegou a focalizar esse conceito central ao seu campo, “a cultura”. O Evolucionismo Social, ainda no século XIX, se valeu do estudo dos “povos primitivos”, buscando tra?ar uma linha de evolu??o do mais simples para o mais complexo, do primitivo para o civilizado. Contudo, nessa trajetória, o foco de análise n?o foram as ra?as (diferen?as físicas observáveis), mas as diferen?as culturais, notadamente de organiza??o social, dos sistemas de parentesco, sobretudo de constitui??o da família, e também das formas religiosas, embora considerando algumas como “elementares”, portanto n?o como religi?es propriamente.O termo cultura foi introduzido por E. Tylor em 1871 substituindo civiliza??o, mas ao mesmo tempo abrangendo a produ??o material e espiritual do homem. Contudo Tylor admitia que houvesse um processo evolutivo de transmiss?o da cultura, que n?o se dava pela hereditariedade, ou pela genética, era um processo natural, unilinear, do mais elementar ao mais complexo, obedecendo a leis que caberia à Antropologia descobrir e estudar.A corrente que seguiu ao evolucionismo foi o funcionalismo de Malinowski que propunha um modelo para descri??o e estudo empírico de culturas, partindo das necessidades humanas, escalonadas em necessidades primárias, aquelas que permitem ao indivíduo sobreviver (alimenta??o, abrigo, etc.), secundárias (aquelas relacionadas à sobrevivência e permanência do grupo) e terciárias, aquelas que permitem a intera??o entre grupos, ou culturas distintas.O funcionalismo se caracteriza pelo estudo das culturas como totalidade, principalmente focalizando as rela??es funcionais entre as institui??es, as quais respondem pela preserva??o do todo. Bronislaw Malinowski e Radicliffe Brown s?o autores que representam essa tendência.Mas também essa tendência n?o foi aceita por todos os antropólogos, embora reconhecessem que ela era muito útil na sistematiza??o de projetos de pesquisa de uma dada cultura em especial; (aliás, dizem as más línguas que o funcionalismo come?ou dessa forma com Malinowski).A rea??o ao evolucionismo de Tylor, assim como à ênfase nos estudos funcionalistas de culturas isoladas, e baseados em “necessidades”, veio com Franz Boas, com a ênfase no método comparativo para estudo das culturas, mas alertando para as limita??es da compara??o. Para Boas seria necessário estudar a história das culturas, sobretudo buscando os chamados “padr?es culturais” (Benedict Ruth). Os “padr?es” aos quais Boas e Benedict Ruth se referem n?o s?o os padr?es de comportamento individual, mas, grosso modo, os estilos de cultura. A postura de Boas e de seus seguidores formalizou-se na Antropologia Cultural, caracterizando a tendência dos estudos antropológicos dos USA. O conceito de “padr?o cultural” terá import?ncia significativa no desenvolvimento da antropologia, e foi utilizado por Margareth Mead em seus estudos da adolescência em Samoa, trabalho clássico, que comprovou que o período da “adolescência” é cultural e n?o biológico, e nos estudos sobre a rela??o sexo e cultura nas denominadas “culturas primitivas”. Outra antropóloga importante nessa mesma tendência foi Ruth Benedict, coube a ela desacreditar o conceito de ra?a para a espécie humana, bem como estabelecer rela??es profundas entre padr?o cultural e personalidade. Tema desenvolvido por vários autores posteriores, inclusive Kardiner.Nessas alturas, entre anos 20 e 30 do século XX, outro antropólogo deve ser mencionado, exatamente pelo conceito de cultura que ele desenvolve: Alfred Kroeber conceitua cultura como nível “superorg?nico” da existência. Para ele as rela??es entre aspectos da cultura formam mais que uma “teia de rela??es”(como os funcionalistas apontavam) porque constituem o modo como o homem se distancia do mundo animal, se adapta ao meio e o altera, constrói a história e a si mesmo. Nesse sentido a cultura, (qualquer que seja), caracteriza a dimens?o humana propriamente dita, por isso ela n?o é natural, é sempre cultural, simbólica, enfim o “superorg?nico”.Outras abordagens ao conceito cultura s?o: o estruturalismo (Lévi-Strauss) busca identificar as chamadas “regras estruturantes”, ou princípios que organizam o pensamento humano. Basicamente s?o rela??es lógicas (pares de oposi??o), portanto simbólicas que devem ser pesquisadas, na medida em que elas permitem a produ??o e reprodu??o da cultura.Na verdade, o estruturalismo dominou o ambiente acadêmico das ciências humanas e sociais. Ele se constitui mais como um método de investiga??o, que propriamente uma tendência na Antropologia, na medida em que está presente na psicologia, sociologia, e constitui a base das ciências da linguagem.Em paralelo ao estruturalismo na antropologia desenvolveu-se o interpretativismo com Clifford Geertz, a chamada antropologia interpretativa, que busca resgatar e analisar as rela??es culturais a partir dos sentidos que os próprios grupos lhes atribui. Interpretar n?o parte da leitura do antropólogo, mas da analise daquilo que move “de dentro” a cultura.Um último comentário deve ser acrescentado: a antropologia se inicia como ciência afirmando as diferen?as entre os humanos, mas se constitui como ciência negando que as diferen?as implicam rela??es hierárquicas entre culturas, afirmando a chamada multilinearidade, negando todo etnocentrismo, e reafirmando o caráter identitário das culturas.. O percurso realizado até agora seguiu, em linhas gerais, a constitui??o do conceito de cultura na forma??o das bases do pensamento ocidental, até chegar à formula??o da ciência Antropologia. Notadamente nesse percurso a rela??o entre Homem e Sociedade ficou nas entrelinhas, como que “costurando” os vários momentos discutidos. Inegavelmente chegou-se à conclus?o de que o homem (ser humano) é o construtor da sociedade, na variedade de condi??es dadas por uma história nem sempre escrita, mas sempre presente.Resta agora tra?ar rapidamente (eu prometo) como a ciência antropologia, em suas várias tendências, chegou a focalizar esse conceito central ao seu campo, “a cultura”. O Evolucionismo Social, ainda no século XIX, se valeu do estudo dos “povos primitivos”, buscando tra?ar uma linha de evolu??o do mais simples para o mais complexo, do primitivo para o civilizado. Contudo, nessa trajetória, o foco de análise n?o foram as ra?as (diferen?as físicas observáveis), mas as diferen?as culturais, notadamente de organiza??o social, dos sistemas de parentesco, sobretudo de constitui??o da família, e também das formas religiosas, embora considerando algumas como “elementares”, portanto n?o como religi?es propriamente.3.1 Edward Burnett TylorO termo cultura foi introduzido por E. Tylor em 1871 substituindo civiliza??o, mas ao mesmo tempo abrangendo a produ??o material e espiritual do homem. Contudo Tylor admitia que houvesse um processo evolutivo de transmiss?o da cultura, que n?o se dava pela hereditariedade, ou pela genética, era um processo natural, unilinear, do mais elementar ao mais complexo, obedecendo a leis que caberia à Antropologia descobrir e estudar. A posi??o de Tylor e de outros que o seguiram n?o foi aceita por autores que viam na existência de uma cultura (qualquer que fosse) um conjunto, ou todo, organizado, cujas “partes” que eram integradas. Os antropólogos conceberam o conceito moderno de cultura no final do século XIX. A primeira defini??o realmente clara e abrangente veio do antropólogo brit?nico Sir Edward Tylor. Escrevendo em 1871, ele definiu a cultura como 'todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a cren?a, a arte, o direito, a moral, o costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade' Desde a época de Tylor, as defini??es de cultura proliferaram, de modo que, no início dos anos 1950, os antropólogos A. L. Kroeber e Clyde Kluckhohn foram capazes de coletar mais de uma centena deles da literatura acadêmica. As defini??es recentes tendem a distinguir mais claramente entre o comportamento real e as idéias, valores e percep??es abstratas do mundo que informam esse comportamento. Em outras palavras, a cultura é mais profunda do que o comportamento observável; S?o idéias, valores e percep??es compartilhadas e socialmente transmitidas por uma sociedade, usadas para dar sentido à experiência e gerar comportamentos e refletidas nesse comportamento A ideia de integra??o de “partes” leva à tendência de tomar como modelo para sociedade e a cultura o organismo vivo (por exemplo, o organismo humano). Na sociologia e na antropologia essa tendência levou ao funcionalismo.Mas o que vem a ser, realmente funcionalismo na Antropologia? Um modelo para descri??o e estudo empírico de culturas, partindo das necessidades humanas, escalonadas em necessidades primárias, aquelas que permitem ao indivíduo sobreviver (alimenta??o, abrigo, etc.), secundárias (aquelas relacionadas à sobrevivência e permanência do grupo) e terciárias, aquelas que permitem a intera??o entre grupos, ou culturas distintas. O funcionalismo se caracteriza pelo estudo das culturas como totalidade, principalmente focalizando as rela??es funcionais entre as institui??es, as quais respondem pela preserva??o do todo. Bronislaw Malinowski e Radicliffe Brown s?o autores que representam essa tendência.Mas também essa tendência n?o foi aceita por todos os antropólogos, embora reconhecessem que ela era muito útil na sistematiza??o de projetos de pesquisa de uma dada cultura em especial; (aliás, dizem as más línguas que o funcionalismo come?ou dessa forma com Malinowski).3.2 O particularismo HistóricoA rea??o ao evolucionismo de Tylor, assim como à ênfase nos estudos funcionalistas de culturas isoladas, e baseados em “necessidades”, veio com Franz Boas, com a ênfase no método comparativo para estudo das culturas, mas alertando para as limita??es da compara??o. Para Boas seria necessário estudar a história das culturas, sobretudo buscando os chamados “padr?es culturais”. Os “padr?es” aos quais Boas se refere n?o s?o os padr?es de comportamento individual, mas, grosso modo, os estilos de cultura. A postura de Boas e de seus seguidores é denominada por Culturalismo, caracterizando um dado período da Antropologia dos USA. O conceito de “padr?o cultural” terá import?ncia significativa no desenvolvimento da antropologia, e foi utilizado por Margareth Mead em seus estudos da adolescência em Samoa, trabalho clássico, que comprovou que o período de “adolescência” é cultural e n?o biológico, e nos estudos sobre a rela??o sexo e cultura nas denominadas “culturas primitivas”. Outra antropóloga importante nessa mesma tendência foi Ruth Benedict, coube a ela desacreditar o conceito de ra?a para a espécie humana, bem como estabelecer rela??es profundas entre padr?o cultural e personalidade. Tema desenvolvido por vários autores posteriores, inclusive Kardiner e Adorno.Nessas alturas, entre anos 20 e 30 do século XX, outro antropólogo deve ser mencionado, exatamente pelo conceito de cultura que ele desenvolve: Alfred Kroeber conceitua cultura como nível “superorg?nico” da existência. Para ele as rela??es entre aspectos da cultura formam mais que uma “teia de rela??es”(como os funcionalistas apontavam) porque constituem o modo como o homem se distancia do mundo animal, se adapta ao meio e o altera, constrói a história e a si mesmo. Nesse sentido a cultura, (qualquer que seja), caracteriza a dimens?o humana propriamente dita, por isso ela n?o é natural, é sempre cultural, simbólica, enfim o “superorg?nico”.Outras abordagens ao conceito cultura s?o: o estruturalismo (Lévi-Strauss) busca identificar as chamadas “regras estruturantes”, ou princípios que organizam o pensamento humano. Basicamente s?o rela??es lógicas (pares de oposi??o), portanto simbólicas que devem ser pesquisadas, na medida em que elas permitem a produ??o e reprodu??o da cultura.Na verdade, o estruturalismo dominou o ambiente acadêmico das ciências humanas e sociais. Ele se constitui mais como um método de investiga??o, que propriamente uma tendência na Antropologia, na medida em que está presente na psicologia, sociologia, e constitui a base das ciências da linguagem.Em paralelo ao estruturalismo na antropologia desenvolveu-se com Clifford Geertz, a chamada antropologia interpretativa, que busca resgatar e analisar as rela??es culturais a partir dos sentidos que os próprios grupos lhes atribui. Portanto, interpretar n?o significa uma leitura do antropólogo, mas o entendimento do que se chama comumente de “vis?o de dentro”.A tendência mais recente em Antropologia implica no exame crítico da postura do antropólogo como portador de um discurso de poder. Na verdade, o processo cultural é mais amplo, permite muitos significados para um mesmo significante, além de se registrar uma prolifera??o de significantes. Um último comentário deve ser acrescentado: a antropologia se inicia como ciência afirmando as diferen?as entre os humanos, mas se constitui como ciência negando que as diferen?as impliquem em rela??es hierárquicas entre culturas, afirmando a chamada multilinearidade, negando todo etnocentrismo, e reafirmando o caráter identitário das culturas.3.3 características da culturaCaracterísticas da culturaAtravés do estudo comparativo de muitas culturas humanas, passadas e presentes, os antropólogos adquiriram uma compreens?o das características básicas evidentes em todas elas: Toda cultura é socialmente aprendida, compartilhada, baseada em símbolos, integrada e din?mica. Um estudo cuidadoso dessas características nos ajuda a ver a import?ncia e a fun??o da própria cultura.A cultura é aprendida e n?o herdada biologicamente. Aprende-se a cultura por crescer com ela, e o processo pelo qual cultura é transmitida de uma gera??o para a próxima é chamado Encultura??o. A maioria dos animais comem e bebem sempre que lhe apete?a. Os seres humanos, s?o inculturados, a maior parte deles comem e bebem em determinados momentos prescrito culturalmente apesar de sentir fome. Os alimentosAs formas de comer variam de cultura para cultura, como tambem o que é comido, como ele é preparado, como ele é consumido e aonde. ? um factor complexo, pois alimento é usado n?o somente para satisfazer as necessidades nutricionais. Quando usado para celebrar rituais e atividades religiosas, a comida "estabelece rela??es de dar e receber, de coopera??o, de partilha, de um vínculo emocional que é universal. " através de incultura??o cada pessoa aprende socialmente formas adequadas de satisfazer às necessidades básicas biologicamente determinadas por todos os seres humanos: comida, sono, abrigo, comunidade, auto-defesa e gratifica??o sexual. Satisfazer as necessidades? importante distinguir entre as necessidades próprias, que n?o s?o aprendidas, e maneiras de ficar satisfeitos que aprendemos —cada cultura determina a sua própria maneira de satisfazer às suas necessidades. Por exemplo, a forma como um ca?ador tutchokwe janta pode variar grandemente daquela de um pastor n?made kwangari. Comportamento aprendido é exibido pela maioria. Várias etnias possuem uma cultura elementar, cada linhagem local compartilha padr?es de comportamento que aprende e que diferem de uma popula??o para outra. Os le?es do KakutchiPor exemplo, a pesquisa mostra um padr?o distinto de comportamento entre os le?es do deserto de Kalahari de ?frica do Sul — comportamento n?o agressivo que generou uma intera??o com os ca?adores indígenas da regi?o e coletores e que s?o trasmitidos de gera??o em gera??o dos le?es duma gera??o passada para a sucessiva. Além disso, a cultura do le?o de Kalahari mudou durante um período de trinta anos em resposta às novas circunst?ncias. Dito isto, é importante notar que nem todo o comportamento aprendido é cultural. 3.3.1 subculturas.? GRUPOS DENTRO DE UMA SOCIEDADE MAIOR Além da varia??o de idade e sexo, pode haver mudan?as culturais entre subgrupos em sociedades que compartilham uma cultura abrangente. Podem ser grupos ocupacionais em sociedades onde há uma divis?o complexa do trabalho, ou classes sociais em uma sociedade estratificada, ou grupos étnicos em algumas outras sociedades. Quando tais grupos existem dentro de uma sociedade, cada um funcionando por seus próprios padr?es distintivos de comportamento, enquanto ainda partilha alguns Padr?es comuns, falamos de subculturas. A palavra subcultura n?o contem nenhum significado piorativo da relativa palavra cultura. Grupo étnico - pessoas que coletiva e publicamente se identificam como um grupo distinto baseado em várias características culturais, tais como ancestralidade compartilhada, origem comum, linguagem, costumes e cren?as tradicionais.EtniaEste termo, deriva da palavra grega ?θνο? ethnos (na??o - povo), relacionada ao adjectivo, εθνικ??que é a express?o de um conjunto de idéias culturais cultivadas por um grupo étnico.As comunidades islámicas s?o um exemplo de uma subcultura em Luanda. Especificamente, elas formam um grupo étnico, pois os homens podem casar qualquer mulher, mas as mulheres só podem casar mu?ulmanos – s?o pessoas que coletiva e publicamente se identificam como um grupo distinto baseado em várias características culturais e práticas religiosas, tais como a ascendência compartilhada e origem comum, linguagem árabe, costumes e cren?as tradicionais. 'Entre eles eles costumam falar árabe. Eles usam o Cor?o como texto religioso e legislativo. O objetivo da educa??o árabe é ensinar aos jovens a ler o Cor?o, escrever em árabe, bem como os valores religiosos do Isl?o. Eles insistem que a educa??o ocorre nas Mesquitas e nas escolas cor?nicas. PluralismoNossa discuss?o levanta a quest?o da sociedade multiétnica ou pluralista na qual dois ou mais grupos étnicos ou nacionalidades s?o politicamente organizados num estado territorial, mas mantêm as suas diferen?as culturais. As sociedades pluralistas n?o poderiam ter existido antes dos primeiros estados politicamente centralizados surgirem há apenas 5.000 anos. Com a ascens?o do Estado, tornou-se possível a unifica??o política de duas ou mais sociedades anteriormente independentes, cada uma com sua própria cultura, criando assim uma ordem mais complexa que transcende a liga??o teórica da cultura - uma sociedade. As sociedades pluralistas, que s?o comuns no mundo de hoje enfrentam o mesmo desafio: elas s?o formadas por grupos que, em virtude de seu alto grau de diferen?a cultural, operam essencialmente por diferentes conjuntos de regras. Uma vez que a vida social exige um comportamento previsível, pode ser difícil para os membros de qualquer subgrupo interpretar com precis?o e seguir os diferentes padr?es pelos quais os outros operam.Infelizmente, os membros de um subgrupo dentro de uma sociedade pluralista tem a dificuldade de adeguar-se às normas pelas quais os outros membros do grupo operam e isto provoca desentendimento. Este pode intensificar ao ponto de romper em raiva e violência. Há muitos exemplos de sociedades pluralistas conturbados no mundo de hoje, incluindo Bolívia, Iraque e Quênia, Egipto, onde os governos centrais enfrentam desafios importantes na manuten??o da paz e da ordem legalO conceito central em antropologia é cultura. Consiste nas coisas que as pessoas fazem, seu comportamento, seus símbolos, cren?as e idéias. Nas suas defini??es do que constitui a cultura, os antropólogos enfatizaram diferentes aspectos da cultura e, nesse sentido, pode-se dizer que o conceito é 'contestado'. Alguns se concentraram na cultura como um conjunto de idéias e significados que as pessoas usam, derivadas do passado e remodeladas no presente. Nesta vis?o, transmitida historicamente padr?es de significado, incorporados em símbolos, s?o os meios pelos quais os humanos se comunicam, perpetuam e desenvolvem os seus conhecimentos e atitudes em rela??o à vida. O papel do antropólogo, ent?o, é compreender, compreender e traduzir essas ideias e significados para que pessoas de outros grupos possam entendê-los. 3.3.2 Abordagens antropológicas .? Abordagem antropológicaA abordagem da antropologia é holística e usa a cultura como um conceito organizador e enfatiza a rela??o entre esses campos. A ênfase está na maneira pela qual a economia pode afetar tanto a política quanto a arte. Por sua vez, religi?o e economia podem ser examinadas em termos de como elas interagem uma com outra e assim por diante. Antes, os antropólogos focaram nas sociedades de pequena escala e o enfoque desses outros campos era primordialmente sobre os países ocidentais industrializados.EvolucionismoOutros antropólogos, influenciados pela antropologia e psicologia evolucionista, vem a cultura como o meio pelo qual os seres humanos se adaptaram ao seu ambiente. Eles argumentam que o repertório de tra?os culturais de um determinado grupo deve ter sido o resultado da evolu??o e da sele??o. Este repertório de tra?os culturais é caracterizado como adaptativo; caso contrário, n?o se teriam perpetuados. Mas muitas características presentes nas culturas n?o s?o adaptáveis. De acordo com princípio central da teoria evolutiva, a sele??o natural, indivíduos com características culturais adaptáveis s?o reprodutivamente bem-sucedidos, produzem mais descendentes daqueles com características culturais que n?o s?o adaptáveis, n?o transmitem os seus genes. Essa perspectiva enfatiza o que os humanos têm em comum com outras espécies animais, cada qual se adapta ao seu ambiente.Sectores específicos de culturaOutras disciplinas estudam os vários tipos de atividades humanas; mas cada uma estuda um setor específico desta atividade como se fosse em grande parte aut?noma. Assim, os economistas estudam aspectos da economia como o produto nacional bruto ou a bolsa de valores. Cientistas políticos estudam como as leis s?o promulgadas. Historiadores de arte estudam a pintura angolana. Musicólogos estudam a kizomba, o kuduro . Antropólogos religiosos estudam o papel de Sim?o Toko na história da na??o angolana. O antropólogo também investiga esses campos, mas a ênfase está na sua inter-rela??o. Sociedades. Hoje, os antropólogos se concentram no impacto da mudan?a econ?mica e política as antigas sociedades de pequena escala, agora fazem parte de estados-na??o, enquanto os economistas podem fazer suas pesquisa na ?sia e na ?frica, onde a ocidentaliza??o e moderniza??o est?o tendo um impacto. O conceito de cultura é agora utilizado por outras disciplinas, como estudos culturais. O conceito de cultura também une a antropologia cultural às outras subdisciplinas da antropologia. A arqueologia examina a história passada das culturas através de seus restos materiais. A antropologia física investiga a evolu??o humana e a rela??o entre a cultura dos seres humanos e a sua natureza física. Os Estudos culturais, que apareceram na africanística, usam um conceito de cultura que é principalmente orientado para preocupa??es literárias e isso é realmente distante do conceito antropológico de cultura.Mesti?agem culturalHoje, os indivíduos vivem suas vidas em um mundo de culturas sobrepostas. Os Bakongo, que foram estudados por gera??es de antropólogos, ainda mantêm sua identidade bakongo, embora eles fa?am parte de uma cultura angolana complexa maior, a cultura angolana, que participa do sistema económico e político. A maioria dos Bakongos é bilíngue, falam a língua kisansala e lingala. Eles retêm elementos de seu sistema de cren?as bakongo e praticam muitos rituais tradicionais. Dentro da popula??o bakongo, há uma considerável varia??o cultural entre os indivíduos, entre as comunidades e entre as regi?es. O tamanho da estrutura social dos Bakongo toma forma depois de um processo elaborado de acordo com marcos: a propaga??o do kikongo, a unifica??o de diferentes linhagens e diversifica??o de muitas comunidades estabelecidas de acordo com variantes linguísticas tais como exicongo, bassolongo, bazombo, bapombo, bayaka, bamanyanga, bandibu ecct. Se f?ssemos realizar uma investiga??o sistemática, na estrutura sócio-política do Bakongo nós devemos primeiro definir as estruturas existentes linháticas (kanda) como unidades constituintes, tais como, a sua propaga??o, suas semelhan?as e sua continuidade no complexo de rela??es sociais seguintes tamanhos diacr?nico e espacial (Bortolami, 2018: 153).Fronteiras culturaisAté cem anos atrás, os limites das culturas eram muito mais “fixos”. Anos atrás, quando a antropologia profissional estava na sua fase inicial, os trabalhadores de campo abordaram as culturas que eles estudaram como se fossem t?o isoladas que as suas fronteiras culturais eram impenetráveis (Redinha, Estermann, Asua Altuna). Algumas culturas foram selecionadas para um estudo especifico. Por exemplo, Redinha estudou os povos e culturas de Angola, tratando-os como tantas ilhas com limites fixos, embora os angolanos tivessem contatos com o mundo exterior. As Culturas hoje n?o existem dentro de limites fixos; elas se misturam. Nas fronteiras culturais, os indivíduos s?o bilíngues, Em Negage se fala kikongo e kimbundu, no Waku Kungu se fala kimbundu e umbundu, em Makela se fala kikongo e sobretudo lingala. Nestas situa??es as culturas assimilam elementos culturais provenientes das culturas vizinhas. Já que as fronteiras culturais n?o s?o mais fixas, as mudan?as est?o constantemente ocorrendo na cultura, muitas vezes como consequência da globaliza??o. Porque os limites s?o fluidos, os indivíduos s?o participantes ativos envolvidos em refuncionalizar suas culturas e as suas tradi??es em termos de influências do exterior. Todas as culturas possuem um certo grau de consistência interna. Muitas vertentes, muitos padr?es contribuem para a cultura angolana em geral assim como muitos itens de comportamento e muitos costumes formam padr?es que, por sua vez, comp?em a cultura angolana.Meta-culturas A cultura angolana n?o se apresenta como um sistema integrado. Existem muitas inconsistências internas e contradi??es. As culturas n?o s?o entidades únicas e monolíticas. Na maioria das sociedades, como a sociedade angolana, existem subculturas baseadas em grupos étnicos regionais, ou diferen?as religiosas, e assim por diante. Os estudos da antropologia feminista nos tornaram muito mais conscientes de que os homens angolanos têm vis?es diferentes daquelas das mulheres acerca da sua cultura. Nos bairros de Luanda, por causa da diferente proveniência e estratifica??o sócio-cultural há diferen?as sublinhadas entre o Kazenga e o Alvalade, os Mulemvos e o Ingombota, o Kilamba e o Palanca cada bairro apresenta uma perspectiva diferente sobre a cultura que os seus habitantes compartilham. De cada uma dessas categorias, obtemos apenas ‘vis?es parciais' sobre a cultura luandense. Pode-se dizer que dirigentes e trabalhadores n?o compartilham o mesmo conjunto de idéias, cren?as e valores e cada grupo constitui uma subcultura separada. Isso ainda pode ser verdade nalgumas indústrias angolanas por exemplo na fabrica de cerveja Cuca, e naquela de café Ginga; no entanto, hoje, no mundo empresarial angolano, pelo menos, a distin??o entre trabalhadores e chefes é t?o clara a partir dos meios que cada grupo exibe como performance do seu status social. Os Padr?es e as constantes da cultura n?o permanecem eternamente as mesmas, mas mudam com o tempo. Cada inova??o significativa - como Samsung, Toyota, a motorizada chinês e o computador da NCR- provocaram grandes mudan?as em diferentes partes da cultura angolana.Acultura??o A cultura é aprendida e adquirida desde crian?as através de um processo referido pelos antropólogos como acultura??o. Estruturas ou esquemas mentais s?o criados no indivíduo como resultado de um processo de acultura??o. Padr?es culturais coloniais foram impostos obrigatoriamente sobre padr?es tradicionais angolanos que obrigatoriamente tiveram que adaptar-se. Os angolanos assimilaram as práticas culturais portuguesas, que mudaram e transformaram atingindo o substrato tradicional. Os refugiados na RDC, na Namibia ou nos campos de Kimpese, Songololo, Nkamuna levaram consigo essas práticas como resultado das suas experiências. Os refugiados aprenderam outra cultura quando migraram para um novo país, mas o grau em que eles aprenderam essa nova cultura pode variar, e alguns até resistiram aos influxos culturais da nova cultura.Além da nossa espécie, há exemplos de comportamento cultural que s?o particularmente evidentes entre os primatas. Um chimpanzé, por exemplo, tomará um ramo, limpa-lo-á de todas as folhas, e alisa-o no ch?o e se serve deste pauzito para extrair “selelés”. Esta fabrica??o de ferramentas, que os jovens aprendem com os mais velhos, é, sem dúvida, uma forma de comportamento cultural que se pensava ser exclusivo do homem. No Jap?o, os macacos aprenderam as vantagens de lavar batatas doces antes de comê-las e trasmitiram a prática à nova gera??o. Tal como acontece entre os seres humanos também entre primatas há culturas que diferem a segunda dos grupos. Descobrimos que possuem uma inteligência quase humana, que inclui o uso de sons e de formas representativas; possuem a faculdade de usar símbolos para comunicar com os seres humanos e entre eles. 3.3.3 Características da cultura ? A cultura é compartilhada Como um conjunto compartilhado de idéias, valores, percep??es e padr?es de comportamento, a cultura é o denominador comum que torna as a??es dos indivíduos compreensíveis para outros membros da sua sociedade. Sociedade A sociedade pode ser definida como um grupo organizado ou grupos de pessoas interdependentes que geralmente compartilham um território, uma linguagem e uma cultura comuns e que atuam em conjunto para a sobrevivência e bem-estar coletivo. As maneiras pelas quais essas pessoas dependem umas das outras podem ser vistas em particular nos seus sistemas econ?micos, de comunica??o e de defesa. Eles também est?o ligados por um senso comum de identidade comum. Cultura e SociedadeSendo que a cultura e a sociedade s?o conceitos t?o próximos, os antropólogos estudam ambos. Obviamente, n?o pode haver cultura sem uma sociedade. Por outro lado, n?o existem sociedades humanas conhecidas que n?o exibam cultura. Isto n?o pode ser dito para todas as outras espécies animais. As formigas e as abelhas, por exemplo, cooperam instintivamente numa maneira tal que indica claramente um grau notável de organiza??o social, mas este comportamento instintivo n?o é uma cultura. Embora uma cultura seja compartilhada por membros de uma sociedade, é importante perceber que nem tudo é uniforme.A constru??o do gêneroNo mínimo, há alguma diferen?a entre o comportamento dos homens e das mulheres. Isso vem do facto que as mulheres d?o à luz, mas os homens n?o, e que existem diferen?as óbvias entre a anatomia e a fisiologia reprodutiva masculina e feminina. Toda sociedade dá significado cultural às diferen?as sexuais biológicas, explicando-as de uma maneira particular e especificando qual é a sua import?ncia social e os padr?es de comportamento. Def de gêneroOs antropólogos usam o termo gênero para se referir às elabora??es e significados culturais atribuídos à diferencia??o biológica entre os sexos.Assim, embora o sexo seja biologicamente determinado, o gênero é socialmente construído dentro do contexto de uma cultura particular. A distin??o entre sexo, que é biológico, e o gênero, que é cultural, é importante. Presumivelmente, as diferen?as de gênero s?o pelo menos t?o antigas quanto a cultura humana - cerca de 2,5 milh?es de anos - e nasceram a causa das diferen?as biológicas entre machos e fêmeas. Inicialmente a média dos machos humanos era substancialmente maior daquela das fêmeas. Diferencia??o social baseada no gêneroOs avan?os tecnológicos no lar e no local de trabalho durante o último século ou dois têm diminuído grandemente o significado cultural de muitas diferen?as masculinas biológicas existentes nas sociedades em todo o mundo. De facto, apesar das diferen?as sexuais diretamente relacionadas à reprodu??o, nas sociedades industriais e pós-industriais modernas desapareceu em grande parte qualquer base biológica para desenvolver papéis tradicionalmente ligados ao gênero. No entanto, todas as culturas exibem, pelo menos, alguma diferencia??o de papéis de gênero relacionada a diferen?as biológicas entre os sexos.Diferencia??o etária Além da diferencia??o cultural associada ao gênero, também há diferencia??o relacionada à idade. Em qualquer sociedade, n?o se espera que as crian?as se comportem como adultos, e o inverso é igualmente verdadeiro. Mas ent?o, quem é uma crian?a e quem é um adulto? Novamente, embora as diferen?as de idade sejam 'naturais', as culturas d?o seu próprio significado e cronograma ao ciclo de vida humano. Em Africa, por exemplo, os Jovens s?o os que tem a tarefa de continuar com a linhagem, é portanto essencial por eles a liga??o com os velhos, que com os seus saberes fornecem aos jovens a riqueza da tradi??o; Em muitas outras culturas, a idade adulta come?a mais cedo - muitas vezes em torno de 12 anos, uma idade mais próxima das mudan?as biológicas da adolescência. Dito isto, o status de idade adulta muitas vezes tem menos a ver com a idade do que com a passagem através de certos rituais prescritos (Van Gennep).?A cultura é baseada em símbolos Grande parte do comportamento humano envolve símbolos - símbolos, sons, emblemas e signos que est?o ligados a uma outra coisa e que a representam de maneira significativa. Porque muitas vezes n?o há uma rela??o inerente ou necessária entre uma coisa e sua representa??o, os símbolos s?o geralmente arbitrários, adquirindo significados específicos quando as pessoas concordam com o uso nas suas comunica??es. Na verdade, os símbolos - desde as bandeiras nacionais até os anéis de casamento e o dinheiro - entram em todos os aspectos da cultura, da vida social e da religi?o à política e à economia. Estamos todos familiarizados com o fervor e devo??o que um símbolo religioso pode provocar num crente. A lua crescente isl?mica, a cruz crist?, ou uma estrela judaica de David - assim como o sol entre os Incas, a? Vaca entre os hindus, um bezerro de búfalo branco entre índios de America, ou qualquer outro objeto de adora??o - pode trazer à mente anos de luta e persegui??o ou pode representar uma filosofia ou uma religi?o inteira.A linguagem como panorama simbólico O aspecto simbólico mais importante da cultura é a linguagem - usando palavras para representar objetos e idéias. Através da linguagem, os seres humanos s?o capazes de transmitir de uma gera??o para outra a cultura. Em particular, através linguagem se torna possível aprender com a experiência acumulada e compartilhada. Sem ela, n?o se poderia informar os outros sobre eventos, emo??es e outras experiências com as quais n?o tiveram parte. A linguagem é t?o importante que todo um capítulo deste livro é dedicado ao assunto. A Cultura é Integrada, A cultura inclui o que as pessoas fazem para viver, as ferramentas que usam, a maneira como trabalham juntos, como transformam seus ambientes e constroem suas moradias, o que comem e bebem,? O que eles acreditam ser certo ou errado, os dons que trocam, como e quando se casam, como criam seus filhos, como lidam com a morte, e assim por diante. Cultura holística Sendo que esses e todos os outros aspectos de uma cultura devem estar razoavelmente bem integrados para funcionar adequadamente, os antropólogos raramente se concentram em um aspecto cultural isoladamente. Em vez disso, eles vêem cada um no seu contexto maior e examinam cuidadosamente suas conex?es com características relacionadas. Para fins de compara??o e análise, os antropólogos habitualmente imaginam uma cultura como um sistema bem estruturado, composto por partes distintas que funcionam juntas como um todo organizado. Embora possam distinguir claramente cada parte como uma unidade claramente definida com suas próprias características e lugar especial dentro do sistema maior, os antropólogos reconhecem que a realidade social é complexa e mutável e que as divis?es entre unidades culturais s?o muitas vezes erradas. Estrutura, infraestrutura, superestruturaDe um modo geral, as características culturais de uma sociedade se enquadram em três categorias: estrutura social, infra-estrutura e superestrutura. A estrutura social diz respeito a rela??es regidas por regras - com todos os seus direitos e obriga??es - que unem os membros de uma sociedade. Os agregados familiares, as famílias, as associa??es e as rela??es de poder, incluindo a política, fazem parte da estrutura social. Estabelece a coes?o grupal e permite que as pessoas satisfa?am consistentemente suas necessidades básicas, incluindo alimentos e abrigo, para si e seus dependentes, por meio de? trabalhos. Assim, há uma rela??o direta entre a estrutura social de um grupo e sua base econ?mica, que inclui práticas de subsistência e as ferramentas e outros equipamentos materiais usados ??para ganhar a vida. Como as práticas de subsistência envolvem o aproveitamento dos recursos disponíveis para satisfazer as necessidades básicas de uma sociedade, esse aspecto da cultura é conhecido como infra-estrutura. Apoiada por esta funda??o econ?mica, uma sociedade é unida também por um sentido compartilhado de identidade e da cosmovis?o. Este corpo coletivo de idéias, cren?as e valores pelos quais os membros de uma sociedade d?o sentido ao mundo - sua forma, desafios e oportunidades - e compreendem seu lugar nela é conhecido como ideologia ou superestrutura. Incluindo religi?o e ideologia nacional, a superestrutura compreende suas idéias abrangentes sobre si mesmas e tudo o mais ao seu redor - e dá sentido e dire??o a suas vidas. Influenciando e refor?ando um ao outro, e adaptando-se continuamente aos fatores demográficos e ambientais em mudan?a, estas três estruturas interdependentes junto constituem um sistema cultural. CULTURA Bakongo COMO SISTEMA INTEGRADO A integra??o dos aspectos econ?micos, sociais e ideológicos de uma cultura pode ser ilustrada pelos Bakongo, povo que vive no Norte de Angola, estudado nos anos 1950 pelos antropólogos Jean Cuvelier, Van Wing, George Balandier. A economia dos Bakongo depende do cultivo de plantas, da cria??o de suínos e ovinos, da ca?a e da pesca. Embora o cultivo da mandioca forne?a a maioria da comida das pessoas, é através da cria??o de porcos, cabras e ovelhas que os homens alcan?am algo.Entre os Kapauku, a prepara??o das lavras é um trabalho complexo. A nova família deve contactar o Mfumu a Ntoto para receber e legalizar o seu talh?o de terra. O marido com seus amigos e parentes deve desbravar da mata o terreno, fazer secar os paus e queimar. Mais tarde no come?o das chuvas s?o às mulheres que compete semear. A sementeira é constituída por amendoim, feij?o e batata-doce, cultivada em parcelas da lavra. De acordo com a cultura Bakongo, certas atividades de jardinagem e a manuten??o s?o tarefas que se enquadram exclusivamente no domínio do trabalho das mulheres. Para ter muitas lavras e manifestar seu prestigio, um homem precisa de mais mulheres em casa; assim na sociedade bakongo as esposas múltiplas s?o permitidas somente, se o marido tem capacidade de mantê-las. Para cada mulher, no entanto, um homem deve pagar o pre?o do alambamento, e isso pode ser caro. Além disso, as esposas têm de ser compensadas pelo seu cuidado as lavras e os filhos, precisam de casa, roupa e talheres. Escusado será dizer que isso requer um empreendedorismo considerável. ? essa capacidade que actualmente produz líderes na sociedade bakongo. A inter-rela??o destes elementos com várias outras características da cultura bakongo é ainda mais complicada. Por exemplo, uma condi??o que encorajava os homens a manter várias mulheres era um excesso de mulheres adultas, às vezes causadas pela perda de machos através da guerra. Este sistema mudou com o refoulement for?ado de Bakongo angolanos presentes desde ent?o da RDC. Entre os Bakongo o matrimonio é matrilinear e patrilocal. Com este arranjo, os homens de uma aldeia s?o tipicamente 'sangue' parentes uns dos outros, o que aumenta a sua capacidade de cooperar na economia, na ca?a e na organiza??o social. Considerando tudo isso, faz sentido que os Bakongo tra?am a sua descendência (ancestralidade) através de grupos linháticos matrilineares chamados kanda. No entanto juntamente com a matrilinearidade da kanda se afirma a import?ncia da gest?o e organiza??o mascolina através da organiza??o do lumbu com grupos parentais de descendência mascolina chamados kise. Portanto, n?o é de surpreender que as posi??es de lideran?a na sociedade bakongo sejam mantidas também por homens que se apropriam dos produtos do trabalho feminino para aumentar sua estatura política. Tal domina??o masculina n?o é de modo algum característica de todas as sociedades humanas. Em vez disso, como nos Bakongo, ela surge apenas em circunst?ncias particulares que, se mudadas, alterar?o o modo como os homens e as mulheres se relacionam entre si.Fun??es da Cultura O antropólogo brit?nico Bronislaw Malinowski argumentou que as pessoas em todo o mundo compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a fun??o final de todas as institui??es culturais é satisfazer essas necessidades. Outros têm marcado diferentes critérios e categorias, mas a idéia é basicamente a mesma: uma cultura n?o pode suportar se n?o lidar eficazmente com os desafios básicos. Deve incluir estratégias para a produ??o e distribui??o de bens e servi?os considerados necessários para a vida. Para garantir a continuidade biológica de seus membros, ela também deve proporcionar uma estrutura social para reprodu??o e apoio mútuo. Ela deve oferecer maneiras de transmitir o conhecimento e enculturar novos membros para que eles possam contribuir para o bom funcionamento da sua comunidade como adultos. Ela deve facilitar a intera??o social e fornecer maneiras de evitar ou resolver conflitos dentro do seu grupo, bem como com os de fora. Uma vez que uma cultura deve apoiar todos os aspectos da vida, também deve atender as necessidades psicológicas e emocionais de seus membros. Esta última fun??o é satisfeita, em parte, simplesmente pela medida de previsibilidade que cada cultura, como um projeto compartilhado de pensamento e a??o, traz para a vida cotidiana. Claro que envolve muito mais do que isso, incluindo uma vis?o de mundo que ajuda as pessoas a entender o seu lugar no mundo e enfrentar grandes mudan?as e desafios. Por exemplo, cada cultura fornece a seus membros certas idéias e rituais habituais que lhes permitem pensar criativamente sobre o significado da vida e da morte. Muitas culturas ainda tornam possível para as pessoas imaginarem uma vida após a morte. Convidados a suspender a descren?a e a se envolver nessas cren?as, as pessoas encontram os meios para lidar com o sofrimento de perder um ente querido. Em Luanda, por exemplo, na Camama os grupos de jovens realizam rituais de criatividade espectaculares no cimitério onde eles dan?am com os caix?es dos restos físicos de seus mortos. Depois de uma colorida prociss?o com músicos, o cadáver é levado para o enterro dentro do cimitério.AS REGRAS CULTURAISAs regras culturais ditam o modo pelo qual os impulsos biológicos básicos s?o expressos. O que é aprendido e internalizado por crian?as humanas durante o processo de encultura??o em diferentes culturas s?o regras culturais. As enormes varia??es entre as culturas se devem às diferen?as culturais e às regras. Definir essas regras culturais é como tentar identificar as regras que governam uma linguagem. Todas as línguas operam de acordo com conjuntos de regras, e as pessoas as seguem em seus discursos. ? o trabalho do linguista para determinar as regras de gramática que os falantes das línguas usam automaticamente e geralmente n?o est?o cientes. Frequentemente, as pessoas podem dizer ao antropólogo quais s?o as regras culturais. Em outras ocasi?es, eles podem se comportar de acordo com regras que eles próprios n?o podem verbalizar. O trabalho do antropólogo é descobrir as regras culturais das quais as pessoas podem n?o estar cientes a existência de regras n?o implica que falantes de uma língua ou membros de uma cultura sejam rob?s que falam e agem de maneira idêntica. Cada crian?a aprende regras culturais de uma maneira distinta, e todo falante de uma língua tem a sua pronúncia distinta e especialidades linguísticas. A varia??o individual é considerável na linguagem falada, e está igualmente presente na cultura prática. As regras devem ser respeitadas e muitas vezes os indivíduos respondem às regras da mesma maneira. Mas acontece que o código é desrespeitado. Por fim, os indivíduos n?o s?o simplesmente receptores de cultura; eles s?o participantes ativos em refuncionalizar suas culturas e tradi??es. Como conseqüência, é a varia??o na observa??o das regras que regem o comportamento social em termos daquilo que é permitido, bem como quando, onde, e como, s?o altamente variáveis. Notamos anteriormente que trabalhadores e chefes têm perspectivas culturais diferentes. Seu repertório de regras culturais também podem variar. Da mesma forma, as subculturas também exibem variabilidade em suas regras culturais. Isso é chamado de varia??o intracultural. Ocasionalmente, como observamos acima, os indivíduos podem violar as regras culturais. Todas as culturas têm alguma provis?o para sancionar a viola??o de regras culturais, bem como recompensas por obedecê-las. Da mesma forma que os conjuntos de regras culturais diferem, tanto recompensas quanto puni??es também diferem de uma cultura para outra. As regras culturais também mudam com o tempo. Quando muitos indivíduos insistentemente interpretam uma regra de forma diferente do que havia sido interpretado antes, o resultado será uma mudan?a na regra em si.A SOCIEDADEOutro conceito de paralelismo cultural é o da sociedade. A cultura lida com significados e simbolismos padroniza??o, enquanto a sociedade tem sido usada para lidar com a organiza??o das rela??es sociais dentro grupos. A cultura é distintiva unicamente dos seres humanos, embora existam alguns primatas que têm o que nós caracterizaram-se como protocultura. No entanto, todos os animais que vivem em grupos, os humanos entre eles, pode-se dizer que tem sociedades. Assim, uma colmeia de abelhas, uma matilha de lobos, uma manada de veados e uma tropa de babuínos constituem sociedades. Como em uma sociedade humana, os membros individuais de uma matilha de lobos s?o diferenciados como machos e fêmeas, como indivíduos imaturos e adultos, e como m?es, pais e filhos.Que existam semelhan?as entre o lobo e as sociedades humanas n?o surpreende, já que tanto os lobos quanto os humanos s?o animais sociais. Hoje, n?o há entidades sociais absolutamente isoladas como eram sociedades no passado. Estados-na??o que s?o entidades políticas independentes est?o ligadas a outros estados. Muitos estados-na??o s?o multiétnicos, contendo grupos com culturas e repertórios culturais diferentes. Embora os antropólogos possam come?ar as suas pesquisas com os grupos como se fossem entidades separadas enquanto sociedades, em última análise, a sua conex?o social e cultural com outras grupos e ao Estado-na??o devem ser considerados. Esses grupos compartilham idéias culturais e ainda outras idéias s?o contestadas, mas eles têm um património em comum como parte do estado-na??o. ESTRUTURA SOCIALOs padr?es particulares de rela??es sociais que caracterizam uma sociedade ou grupo social s?o referidos como a sua estrutura social. Padr?es de estrutura social s?o baseados em regras culturais. Sociedades ou grupos sociais podem ser organizadas com base nafamília, parentesco, afinidade residencial, interesse, amizade ou classe. ????Esses agrupamentos têm continuidade no tempo. A estrutura distingue-se da organiza??o social (Firth 1951). Enquanto a estrutura enfatiza a continuidade e estabilidade, a organiza??o refere-se ao modo como os indivíduos percebem a estrutura e o contexto de qualquer situa??o e tomam decis?es e escolhas entre os tipos alternativos de comportamento.A Organiza??o enfatiza fluxo e mudan?a e refere-se a varia??es no comportamento individual. Esta ênfase nas escolhas e decis?es individuais também é definida como prática (Bourdieu, 1977). A praxe social? refere-se ao ponto de vista do indivíduo que faz as escolhas. A gama de escolhas que as pessoas podem fazer a escolha é sempre moldada pela estrutura social. A a??o que eles tomam enquanto 'agentes' pode servir para reconfigurar a estrutura social (Ahearn 2001: 115).Em sociedades ou grupos sociais, os indivíduos geralmente ocupam mais de uma posi??o ou status ao mesmo tempo. Um indivíduo pode ser pai e chefe ao mesmo tempo. As Sociedades, variam no número e nos tipos de status sociais. O comportamento que é associado a um determinado status social em uma sociedade é conhecido como papel social. Os papéis sociais envolvem o comportamento em rela??o a outras pessoas. A Intera??o de pessoas em seus papéis sociais e a intera??o entre grupos definem dois tipos de rela??es sociais. Essas rela??es sociais podem ser analisadas em termos de diferenciais de poder, prestígio e acesso a recursos. O chefe tem mais poder, prestígio e recursos do que seus súbditos.A desigualdade caracteriza muitos papéis sociais, de modo que um pai tem poder sobre seus filhos, um gerente tem poder sobre os trabalhadores, e um sargento tem poder sobre seu pelot?o. A estrutura social contém? uma rede de papéis sociais, isto é, o comportamento associado a uma determinada posi??o ou status, e uma distribui??o de energia através dessa rede.3.3.4 teorias antropológicas .? A disciplina da antropologia é profissionalizada há mais de 130 anos. Para mais claramente entender o trabalho que os antropólogos est?o fazendo hoje, bem como os resultados de suas pesquisas anteriores, é necessário fazer um breve levantamento das abordagens teóricas e metodológicas significativas que marcaram, moldaram e focalizaram essa pesquisa. Quando a antropologia se desenvolveu durante o século dezanove, foi concebida como uma ciência, modelada a partir das ciências naturais. Esta imagem foi dominante até o início do século XX. Nas décadas que se seguiram a antropologia oscilou entre abordagens humanistas e científicas. Deve-se também considerar que o quadro dentro do qual os antropólogos trabalharam durante o século XIX e grande parte do século XX foi o dos impérios coloniais.3.3.5 Evolucionismo culturalO século XIX foi um período de expans?o colonial e o desenvolvimento de grandes impérios pelas potências europeias. A teoria evolutiva darwiniana era dominante. O Darwinismo Social, que proclamava a sobrevivência do mais apto, foi usado para justificar a domina??o dos povos nativos, bem como a explora??o da subclasse nas sociedades industriais. Foi durante este período que a antropologia enquanto disciplina surgiu, e se concentrou no estudo dos povos indígenas das col?nias que haviam sido estabelecidas. A teoria significativa da época era a evolu??o cultural. A contribui??o de Edward Tylor (1871) foi definir cultura, o conceito central em antropologia, de uma maneira ampla e abrangente que incluía a linguagem e todas as demais características de um grupo social. Em geral, os antropólogos da época permaneciam em suas poltronas e utilizavam as rela??es de missionários, exploradores como o Cavazzi, viajantes como o Diogo C?o que explorou a costa angolana, e outros (Redinha, Estermann etc) que descreveram os povos nativos que eles encontraram em suas viagens. Muitas dessas descri??es foram etnocêntricas e tendenciosas. Lewis Henry Morgan e Tylor, os principais teóricos do século XIX, conceituaram a evolu??o cultural em termos de etapas pelas quais todas as sociedades haviam progredido, com as sociedades simples tomando formas cada vez mais complexas, culminando em sua própria sociedade vitoriana. Dentro desta vis?o, algumas sociedades, ou seja, aquelas dos “selvagens” que foram encontradas pelos missionários e outros, representaram exemplos de etapas anteriores, isto é, exemplos de desenvolvimento ou sobrevivência pertencentes a estadea??es precedentes. Os evolucionistas organizaram os seus dados e utilizaram a abordagem comparativa, descoberta inicialmente por Lafiteau. Eles procuraram semelhan?as e diferen?as nas culturas, classificaram-nas em modelos culturais, e sistematizaram os tipos culturais a partir do simples até o mais complexo. Eles eram etnocêntricos na suas avalia??o de outras sociedades. Religi?o ocidental, vida familiar e assim por diante constituíam o apogeu do desenvolvimento evolutivo. A ênfase de Morgan na base econ?mica da sociedade como o fator determinante dos estágios da evolu??o cultural chamaram a aten??o de Friedrich Engels. A Origem da Família, Propriedade Privada e Estado de Engels (1884) inclui uma reinterpreta??o da Ancient Society de Morgan (1877).3.4 Franz Uri Boas: Relativismo culturalFranz Boas foi a primeira pessoa a realizar o que chamamos de trabalho de campo. Em 1883-1884, ele trabalhou com os esquimós, agora chamados Inuit, da ilha de Baffin em Cumberland. Ele mesmo primeiro familiarizou com a literatura sobre a área, incluindo relatos de viagens de descoberta e missionários sobre os modos de vida Inuit. Ele aprendeu a língua inuit nos livros e nas palavras e gramáticas dos missionários e a sua pergunta de partida foi examinar a maneira pela qual os habitantes da ilha de Baffin migravam, explorou e cartografou o terreno e analisou economicamente a regi?o. Ele viajou de trenó de aldeia em aldeia, e vivia nos iglus das pessoas. Embora Franz Boas tenha come?ado como um defensor do ponto de vista evolucionista, seu trabalho de campo com os esquimós (conhecidos hoje como Inuit) da ilha de Baffin no final do século XIX, e um pouco mais tarde com uma variedade de sociedades da Costa Noroeste, especialmente o Kwakiutl, logo o levou a abandonar a abordagem evolutiva. Depois de aprender a língua Kwakiutl, ele veio a respeitar as diferen?as significativas entre o modo como os Kwakiutl viam o mundo e o modo como as outras as pessoas o viam. Ele se afastou de uma perspectiva evolucionista, considerando todas as culturas e linguagens igualmente distintas e complexas de maneiras diferentes.Particularismo históricoEsta ênfase pelo particularismo veio a ser referida como relativismo cultural ou particularismo histórico. Boas viu as culturas como sistemas simbólicos de idéias. Seu trabalho enfatizou a coleta de textos na língua nativa sobre todos os aspectos da vida das pessoas, especialmente arte, mitologia e linguagem. Boas sentiu que os antropólogos deviam primeiro abordar a história do desenvolvimento das sociedades particulares, como aquela dos Kwakiutl e outras sociedades indígenas dos índios americanos. Esta abordagem passou a ser conhecida como particularismo histórico. A sua ênfase no relativismo cultural veio a ser associada à abordagem humanista que caracterizou o trabalho de seus alunos Benedict Ruth, Sapir e Kroeber 3.5 Funcionalismo de Malinowski A rea??o brit?nica contra a teoria evolucionista do século XIX tomou uma forma um pouco diferente. Os antropólogos brit?nicos no início do século XX suplantaram a teoria evolucionista com um modelo derivado da biologia referente à sociedade como a um organismo vivo. Os princípios organizacionais básicos que eles usaram foram os conceitos interligados de estrutura e fun??o. EstruturaEstrutura é uma descri??o da forma e da rela??o das partes entre si, fun??oa fun??o se refere a como a estrutura funciona. Eles rejeitaram a especula??o e a substituíram com o trabalho de campo. Logo depois disso, Bronislaw Malinowski foi o primeiro inglês a realizar trabalho de campo estendido nas ilhas Trobriand. Nesta senda como é que alguém ganha perspectiva acerca das outras sociedades? A resposta do antropólogo foi sempre aquela de sair da teia de significados elaborados pelo seu próprio mundo cultural para examinar de perto o outro, a alteridade cultural muitas vezes com um modo de vida diferente. Mas antes de entrar nesse 'outro mundo cultural', os antropólogos hoje devem desenvolver um conjunto de quest?es de pesquisa a serem colocadas, e considerar os métodos a serem usados para poder da uma resposta a este conjunto de quest?es é necessário projectar um desenho de pesquisa. Os preliminares da pesquisa de campoO antropólogo também deve solicitar fundos para fazer a pesquisa, às vezes de funda??es privadas ou de agências governamentais, como a National Science Foundation. Antes de sair para o campo, o antropólogo atual, como Boas, deve conhecer a área em que a pesquisa deve ser feita, fazendo uma pesquisa bibliográfica, lendo o que foi publicado na área da pesquisa, bem como sobre as quest?es de pesquisa. Ele ou ela também consultam arquivos n?o publicados, dados do censo, registros coloniais e coisas semelhantes antes do início do trabalho de campo, bem como durante e depois de deixar o campo, isto para obter uma perspectiva histórica. Observa??o participante e participadoraO cerne do trabalho de campo é a observa??o participante - viver com outras pessoas, aprender sua língua e compreender seu comportamento e as idéias que s?o importantes para elas. Geralmente inclui morar na típica casa da aquela regi?o, seja uma tenda feita de pele de cabra preta ou uma casa de tijolos de barro; vestindo os trajes tradicionais das cerimoniais e comendo sua comida. ? assim que se aprende sobre o cotidiano das pessoas. Os pesquisadores se unem à felicidade dos ritos de nascimento e choram nos funerais. Se possível, a língua local falada no campo é aprendida antes que o antropólogo vá para o campo. Caso contrário, o antropólogo aprende a linguagem no campo enquanto aprende a cultura ao mesmo tempo. Muitas vezes, ir a campo envolve negocia??es com várias autoridades e fazer conex?es com indivíduos que fazem parte do ambiente de pesquisa selecionado. Choque cultural: observar e participarQuando mergulhado em uma cultura diferente pela primeira vez, o pesquisador de campo experimenta um choque cultural ao reconhecer que sua própria cultura n?o é a mais certa, pois outras pessoas vivem as mesmas coisas de maneira diferente. No início, à medida que o antropólogo aprende essa nova cultura, ele ou ela est?o na mesma posi??o de uma crian?a nessa cultura. A observa??o participante envolve uma contradi??o interna. Um participante opera dentro de uma cultura, enquanto um observador é como um estranho, olhando de fora. Por outro lado, espera-se que um observador permane?a desapegado e relatar objetivamente o que ele vê e ouve. Como Malinowski observa?Imagine o leitor que, de repente, desembarca sozinho numa praia tropical, perto de uma aldeia nativa, rodeado pelo seu material, enquanto a lancha ou pequena baleeira que o trouxe navega até desaparecer de vista. Uma vez que se instalou na vizinhan?a de um homem branco, comerciante ou missionário, n?o tem nada a fazer sen?o o o de come?ar imediatamente o seu trabalho etnográfico. Imagine ainda que um principiante sem experiência anterior, sem nada para o guiar e ninguém para o ajudar, (…) Isto descreve exactamente a minha primeira iniciao no trabalho de campo na costa Sul da Nova Guiné? (Malinowski 1997:19)O paradoxo: observar destacados e participar coinvolgídos“a prática da etnografia também assume a import?ncia de manter dist?ncia intelectual suficiente para assegurar que os pesquisadores sejam capazes de realizar uma análise crítica dos eventos nos quais eles est?o participando” (2004: xi). Aprender outra cultura é muito diferente de analisar e interpretar objetivamente. Como o antropólogo está interagindo e participando com outras pessoas, é impossível para ele ser completamente objetivo. A observa??o participante é difícil de realizar porque envolve esse paradoxo básico. Permanece um ideal que nunca é completamente realizado. A participa??o em outra cultura significa aprender a ver as coisas do ponto de vista 'interno', ou seja, do ponto de vista de outra cultura. Isso significa investigar os conceitos e idéias que ordenam esse mundo. ReflexividadeQuando os antropólogos fazem trabalho de campo, eles trazem consigo suas próprias categorias culturais, modos de ver as coisas e valores pessoais. Eles tentam evitar permitir que essa categorias condicionem as suas percep??es. Prestar aten??o ao próprio quadro cognitivo pessoal enquanto operamos noutra cultura é uma opera??o conhecida como reflexividade. Como O'Reilly observa, “etnografia contempor?nea. . . tenta ser reflexiva, isto é, é conduzida conscientemente nas inúmeras limita??es associadas aos seres humanos que estudam outras vidas humanas ”(2005: 14). Isso significa ter consciência do contexto do trabalho de campo, da natureza da rela??o de poder entre pesquisador e pesquisado, os possíveis efeitos do colonialismo, a quest?o de quem devem ser representados na pesquisa e, por fim, como o texto etnográfico deve ser produzido. Reflexividade significa construir o texto etnográfico n?o apenas em termos de próprio estilo e segundo as categorias do antropólogo, mas também em termos de fatores históricos, políticos e econ?micos e desenvolvimentos relevantes, globais e tecnológicos. InformantesAlém das observa??es, os antropólogos obtêm informa??es entrevistando indivíduos dentro do campo onde pesquisam, escolhendo-os como informantes (ou amostra). Essas entrevistas geralmente eram abertas, o que significa que quando o informante era estimulado pelas perguntas do antropólogo a ir além delas seguindo diferentes “caminhos de informa??o”, o antropólogo acompanhava. Estes contrastam com entrevistas baseadas apenas em questionários, que possuem limites fixos. Para o antropólogo hoje, o informante é um colega de trabalho de campo. Na intera??o entre informante e antropólogo, o informante aprende cada vez mais o que seu colega de campo está interessado em descobrir e também ganha um certo conhecimento sobre a antropologia. Ao tentar explicar a sua cultura ao antropólogo que os interroga, os informantes muitas vezes come?am a entender a sua própria cultura de uma forma que antes n?o entendiam. Quando os informantes tentam explicar sua cultura aos antropólogos, os informantes objetivam as suas próprias experiências culturais. Eles podem tornar-se conscientes das regras culturais que regulam a sua própria sociedade e que eles n?o tinham considerado. Em suas intera??es, informantes e antropólogos est?o, em certo sentido, operando numa área de limite entre duas culturas. Este processo é repetido com outros informantes, e se torna um padr?o que emerge. Os dados s?o verificados em rela??o às observa??es do próprio antropólogo. Informante chaveA rela??o pessoal entre antropólogo e informante é complexa. Indivíduos que se tornam mentores e fontes de muita informa??o para o antropólogo s?o referidos como informantes-chave. O informante-chave de Griaule, enquanto fazia trabalho de campo entre os Dogon, era o mais velho cego Ogotemmeli (Griaule 1972). Durante o trabalho de campo, muitas pessoas confiam no antropólogo e est?o dispostas a conversar com ele portanto, outras fontes de informa??o se fecham para o antropólogo, porque aqueles que possuíam outras informa??o em oposi??o ou que pertenciam a outra fac??o da comunidade n?o tem como ser tomados em considera??o. ReciprocidadeO trabalho de campo envolve reciprocidade por parte do antropólogo. No entanto, o meio que o antropólogo usa para ir ter com os seus informantes muda. Nas áreas rurais e urbanas, o antropólogo se desloca com um veículo pago, tornando-se motorista de toda a comunidade. Frequentemente, os antropólogos se tornam partidários, assumindo as causas da comunidade como defensores nos mídia ou tornando-se testemunhas especializadas para eles nos tribunais (Morgan com os índios Seneca). Quando surgiram conflitos legais entre os Seneca e os colonos relativos à propriedade da terra e à passagem da linha de ferro, Morgan que tinha feito pesquisas com os Seneca defendeu-os no tribunal. O trabalho de campo antropológico envolve toda uma série de considera??es éticas. Como observou O'Reilly, “A medida em que somos, ou podemos ser, abertos e honestos sobre nossa pesquisa, devemos obter o consentimento declarado dos participantes, divulgar o que estamos estudando e produzindo, respeitar a confidencialidade e evitar explora??es e isto levanta dilemas para cada etnógrafo ”(2005: 81-82). Também Malinowski observa?Na Etnografia, o autor é, simultaneamente, o seu próprio cronista e historiador; e embora as suas fontes sejam, sem dúvida, facilmente acessíveis, elas s?o também altamente dúbias e complexas; n?o est?o materializadas em documentos fixos e concretos, mas sim no comportamento e na memória dos homens vivos ? (1997:19)Portanto determinantes pela pesquisa s?o as observa??es de campo empíricas feitas por antropólogos academicamente treinados que passaram um ano ou mais trabalhando com um grupo de pessoas, aprendendo a sua língua, observando e participando da sua cultura. Este trabalho de campo era realizado com indígenas que viviam sob um império colonial. Bronislaw Malinowski, um grande funcionalista, foi um dos fundadores do trabalho de campo antropológico moderno. Ele passou um longo período fazendo trabalho de campo nas Ilhas Trobriand na Nova Guiné. Ele identificou as institui??es que compunham o “esqueleto” da sociedade (ou seja, a sua estrutura) e, em seguida, descreveu em detalhes como essas institui??es funcionavam. Malinowski viu as institui??es culturais funcionando em resposta às necessidades biológicas humanas básicas, bem como ao que ele chamou de necessidades culturalmente derivadas. Em seu trabalho de dois volumes, Coral Gardens and Their Magic (1935), ele descreveu aquela parte da institui??o econ?mica dos trobriandeses preocupados com a horticultura. Ele descreveu a planta??o e o cultivo de inhame, mas também os feiti?os envolvidos no cultivo do inhame, e como os inhame eram usados no sistema de troca e de obriga??es para com os parentes e chefes. ?3.6 Radcliffe Brown: funcionalismo estruturalO outro funcionalista brit?nico, A. R. Radcliffe-Brown, optou por uma teoria um pouco diferente. Usando uma abordagem comparativa, ele tentou desenvolver tipologias para classificar e categorizar diferentes tipos de sociedades (1952). Ele estava preocupado com a 'anatomia' das sociedades, com a estrutura social, que ele definiu como ‘uma rede de rela??es sociais realmente existentes' (1952: 190). Para Radcliffe-Brown, a fun??o de uma parte da estrutura social, como o grupo linhático, significava a contribui??o feita pela linhagem para os processos de vida em curso da sociedade. Ele opunha-se fortemente à “história conjetural”, que tinha sido característica da teoria evolucionista. A história real, argumentava ele, existe apenas lá onde há registros escritos mantidos pelas próprias pessoas. Infelizmente, o efeito da posi??o de Radcliffe-Brown foi inibir todos os tipos de pesquisa histórica feitos por antropólogos brit?nicos por uma ou duas gera??es. Com o colapso dos impérios coloniais após a Segunda Guerra Mundial, o arcabou?o teórico funcionalista, que enfatizava as sociedades imutáveis existentes em um estado de equilíbrio, foi atacado. Antropólogos brit?nicos, como A. L. Epstein e Philip Mayer, come?aram a seguir o povo tribal que tinha sido estudado antes, na sua transi??o para as cidades onde os indígenas foram contratados para trabalhar nas minas. Documentaram as mudan?as econ?micas e políticas que estavam ocorrendo nas suas vidas. Outros, rejeitaram a posi??o de Radcliffe-Brown contra a história conjetural, como E. E. Evans-Pritchard e M. G. Smith, e recorreram à pesquisa de arquivos para documentar as histórias das sociedades com as quais estavam realizando pesquisas etnográficas. Finalmente entrou em cena um modelo muito mais processual, que enfatizava n?o a estrutura social, mas os conceitos de organiza??o social e a maneira como as estruturas mudam . Estruturalismo O estruturalismo como abordagem teórica está intimamente associado ao trabalho do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. Ele usou o método linguístico para analisar a cultura. Os sons articulados numa linguagem, por si só, n?o têm significado, mas fazem parte duma estrutura maior que transmite significados. Da mesma forma, os elementos de uma cultura devem ser vistos na sua rela??o uns com os outros à medida que formam uma estrutura que transmite significados culturais. O antropólogo estrutural tentou determinar a estrutura subjacente de uma cultura, que corresponde à gramática de uma língua na análise do linguista, e pode n?o estar na consciência do falante. Lévi-Strauss viu Boas como um seu precursor. Foi Boas que por primeiro salientou que a gramática de uma língua n?o fazia parte da consciência do falante e, de maneira paralela, que a cultura também tinha uma estrutura subjacente que funcionava da mesma maneira. Os estruturalistas analisaram os sistemas cognitivos, a estrutura de parentesco, a arte, a mitologia, o ritual e a cerim?nia, entre outras coisas. Os antropólogos estruturais eram comparativos na medida em que tentavam determinar se havia semelhan?as nas estruturas subjacentes em diferentes culturas. Assim, esta abordagem pode agrupar sociedades que parecem ser muito diferentes à primeira vista. O estruturalismo de Lévi Strauss foi fortemente rejeitado pelos pós-modernistas e pós-estruturalistas porque seus modelos eram abstratos demais e sua abordagem era basicamente a-histórica.Antropologia, é o estudo da humanidade em toda parte ao longo do tempo, produz conhecimento sobre o a alteridade que torna as pessoas diferentes umas das outras e sobre o que todos temos em comum. Os antropólogos trabalham dentro de quatro campos da disciplina. Enquanto os antropólogos físicos se concentram nos seres humanos como organismos biológicos (tra?ando o desenvolvimento evolutivo e observando as varia??es biológicas), os antropólogos culturais investigam as formas diferentes pensar sentir e comportar-se dos seres humanos. Os arqueólogos tentam de recuperar informa??es sobre as culturas humanas - geralmente do passado - estudando objetos materiais, restos esqueléticos e assentamentos. Enquanto, os linguistas estudam os sistemas de comunica??o das línguas através dos quais as culturas se mantem na tradi??o e se transmitem às gera??es seguintes. Os que praticam os quatro campos s?o informados pelos achados uns dos outros e unidos por uma perspectiva antropológica comum sobre a condi??o o a Antropologia se compara a outras Disciplinas? Ao estudar a humanidade, os primeiros antropólogos chegaram à conclus?o de que para compreender plenamente as complexidades do pensamento, sentimentos, comportamento e corpo humanos, era necessário estudar e comparar todos os seres humanos, onde, como e quando se encontrassem. Mais do que qualquer outra característica, essa perspectiva comparativa, transcultural é de longo prazo e distingue a antropologia doutras ciências sociais. Os antropólogos n?o s?o os únicos estudiosos que estudam as pessoas, mas s?o exclusivamente holísticos na sua abordagem, focalizam as interconex?es e a interdependência de todos os aspectos da experiência humana, passada e presente. Esta vis?o holística e integradora fornece aos antropólogos os meios para lidar com uma quest?o de import?ncia primordial para todos nós hoje: a globaliza??o é que os antropólogos conseguem o que fazem? Antropólogos, como outros estudiosos, est?o preocupados com a descri??o e explica??o da realidade. Eles formulam e testam hipótese – tentam dar explica??es dos fen?menos observados - sobre a humanidade. O seu objetivo é desenvolver teorias confiáveis ??- interpreta??es ou explica??es apoiadas por corpos de dados - sobre a nossa espécie. Esses dados s?o geralmente coletados através do trabalho de campo - um tipo particular de pesquisa prática que dá aos antropólogos familiaridade suficiente com uma situa??o que eles podem come?ar a reconhecer padr?es, regularidades e excep??es. ? também através da observa??o cuidadosa, combinada com a compara??o, que os antropólogos formulam Teorias.Enquanto estivermos na Terra, nós procuramos compreender quem somos, donde viemos e por que agimos e como trabalhamos. Ao longo da maior parte da história da humanidade, entretanto, as pessoas confiavam no mito e no folclore para obter respostas, ao invés de recolher sistematicamente os dados obtidos através de observa??o cuidadosa. A antropologia, nos últimos 150 anos, surgiu como uma tradi??o de investiga??o científica com suas próprias abordagens para responder a essas perguntas. Simplificando, a antropologia é o estudo da humanidade em todos os tempos e lugares. Ao se concentrar principalmente no Homo sapiens - a espécie humana - os antropólogos também estudam nossos ancestrais e parentes próximos dos animais para obter pistas sobre o que significa ser humano.O desenvolvimento da antropologiaApesar de obras de import?ncia antropológica tem uma antiguidade considerável — cerca de 2.500 anos atrás o historiador grego Heródoto narrou as muitas culturas diferentes que encontrou durante as viagens extensas através de territórios em torno do mar Mediterr?neo e mais além e quase 700 anos atrás longe-movimenta??o de estudioso de norte Africano árabe Ibn Khaldun escreveu uma "história universal ". A antropologia como um campo distinto de inquérito é um produto relativamente recente da civiliza??o ocidental. Se as pessoas sempre est?o preocupadas com suas origens e a os dos outros, ent?o por que demorou tanto tempo a aparecer uma disciplina sistemática da antropologia? A resposta é t?o complexa como a história humana. Em parte, se relaciona com os limites da tecnologia humana. Durante a maior parte da história, os horizontes geográficos das pessoas tem sido restritos. As viagensSem encontrar maneiras de viajar para partes distantes do mundo, a observa??o de culturas e povos foi mesmo uma difícil — se n?o impossível — empresa. Viagens Extensas era geralmente o privilégio exclusivo de poucos; o estudo das culturas e dos povos estrangeiros n?o poderia florescer sem melhorar e desenvolver os meios de transporte e comunica??o. O Antigo e Novo testamento da Bíblia, por exemplo, est?o cheios de referências a diversos povos antigos, entre os babil?nios, egípcios, gregos, Judeus e sírios. No entanto, as diferen?as entre essas pessoas s?o leves em compara??o com aquelas observadas nos povos da Sibéria ártica, na floresta amaz?nica, e no deserto do Kalahari da ?frica Austral. A inven??o da bússola magnética permitiu aos marítimos em navios equipados melhor de viajar para lugares verdadeiramente distantes e encontrar pessoas diferentes. O encontro maci?o com povos anteriormente desconhecidos - que come?ou há 500 anos, quando os europeus procuravam estender a sua domina??o em todas as partes do mundo — incentivou a aten??o para as diferen?as humanas em toda sua variedade incrível. Com esta aten??o, os europeus, aos poucos, passaram a reconhecer que apesar de todas as diferen?as, eles podiam compartilhar uma humanidade básica com todas as pessoas. Inicialmente, os europeus diferenciaram essas sociedades aplicando os termos de "selvagens " ou "bárbaro " porque eles n?o compartilhavam os mesmos valores culturais. Ao longo do tempo reconheceram grupos altamente diversificados como membros de uma espécie e, portanto, como relevantes para a compreens?o do que é ser humano. Este crescente interesse na diversidade humana incentivou estudos científicos. Embora a antropologia originou-se dentro do contexto histórico das culturas europeias, hoje, é uma disciplina atraente, transnacional, cujos estudiosos s?o provenientes de diversas sociedades no mundo inteiro. Muitos antropólogos profissionais nasceram e cresceram em culturas asiáticas, africanas, latino-americanas ou índias estudaram na Europa e nos EUA. AS suas acentuadas perspectivas n?o-ocidentais lan?am uma nova luz, n?o só nas suas próprias culturas, mas também nas dos outros. A aten??o pela alteridade cultural tem sido uma marca registrada da disciplina: desde seus primeiros dias, as mulheres, bem como os homens engajaram-se no estudo de campo. Perspectivas antropológicasMuitas disciplinas acadêmicas est?o preocupadas de uma forma ou de outra com nossa espécie. Por exemplo, a biologia se concentra nos aspectos genéticos, anat?micos e fisiológicos dos organismos. A psicologia está preocupada principalmente com quest?es cognitivas, mentais e emocionais, enquanto a economia examina a produ??o, distribui??o e gest?o de recursos materiais. Entre várias disciplinas as ciências humanas examinam as realiza??es históricas, artísticas e filosóficas das culturas humanas. Mas a antropologia é distinta pelo seu enfoque nas interconex?es e interdependência de todos os aspectos da experiência humana em todos os lugares e tempos - tanto biológicos como culturais, passados ??e presentes. ? esta perspectiva holística que melhor equipa os antropólogos para abordar, em termos gerais, aquele fen?meno indescritível que chamamos de natureza humana. Os antropólogos saúdam as contribui??es de pesquisadores de outras disciplinas e, em troca, oferecem o benefício de suas próprias descobertas. Os antropólogos n?o esperam, por exemplo, de saber tanto sobre a estrutura do olho humano como os anatomistas ou tanto quanto sobre a percep??o da cor como psicólogos. Os antropólogos est?o preparados para entender como essas no??es se relacionam com as práticas de nomea??o de cor nas diferentes sociedades humanas. Porque eles olham para a ampla base de ideias humanas e práticas sem limitar-se unicamente a um só aspecto social ou biológico, os antropólogos podem adquirir uma vis?o geral especialmente expansiva e abrangente do complexo organismo biológico e cultural que é o ser humano. A perspectiva holística também ajuda os antropólogos ficar cientes das maneiras que seus próprios valores culturais podem impactar a pesquisa. Como diz o velho ditado, as pessoas muitas vezes veem aquilo em que acreditam, em vez do que aparece diante de seus olhos. Mantendo uma consciência crítica de seus próprios pressupostos sobre a natureza humana — confirmam as formas de cren?as e a??es podem ser moldar suas pesquisas — antropólogos se esfor?am para ganhar conhecimento objetivo sobre as pessoas. Com isto em mente, os antropólogos visam evitar as armadilhas do etnocentrismo, uma cren?a de que os caminhos da própria cultura, s?o os únicos adequados. Assim, os antropólogos contribuíram à compreens?o da diversidade psíquica, biológica do seu comportamento, bem como para a nossa compreens?o dos muitos compartilhados características dos seres humanos. Podemos dizer que a antropologia é uma disciplina em quest?o com uma avalia??o imparcial de diversos sistemas humanos, incluindo a própria. ?s vezes isso requer desafiando o status quo é mantido e defendido pelas elites do poder do sistema sob estudo. Isso é verdadeiro independentemente se antropólogos se concentrar em aspectos de sua cultura ou por distantes e diferentes culturas.Enquanto outras ciências sociais se concentraram predominantemente nos povos contempor?neos que vivem nas sociedades norte-americanas e europeias (ocidentais), historicamente os antropólogos têm se concentrado principalmente mos povos e culturas n?o-ocidentais. Os antropólogos trabalham com a no??o de que para a compreens?o e o pleno acesso às complexidades das idéias humanas, deve ser estudado o comportamento de todos os seres humanos. Os antropólogos trabalham com uma profundidade de tempo que se estende de volta milh?es de anos para nossos antepassados ??pré-humanos. Uma perspectiva evolutiva, comparativa e de longo prazo distingue a antropologia das outras ciências sociais. Esta abordagem abrange e também protege contra teorias do comportamento humano ligadas à cultura: isto é, teorias baseadas em suposi??es sobre o mundo e a realidade que vêm da própria cultura do investigador. Como um caso em quest?o, considere o facto de que as crian?as nos Estados Unidos geralmente dormem separadas de seus pais. Para as pessoas acostumadas a casas de vários quartos, ber?os e assentos de carro, isso pode parecer normal, mas as pesquisas culturais cruzadas mostram que o dormir juntos da m?e e do bebê em particular, é a norma. Além disso, a prática de dormir distante remonta apenas cerca de 200 anos. Estudos recentes têm mostrado que a separa??o entre m?e e filho tem importantes consequências biológicas e culturais. Por um lado, ela aumenta o comprimento do choro do bebê. Algumas m?es interpretam incorretamente o choro como indicando que os bebês est?o recebendo leite materno insuficiente e, consequentemente, mudam para alimentá-los com o biber?o, que é menos saudável. Em casos extremos, os choros de um bebê podem provocar chapadas. Mas os benefícios de dormir juntos v?o além das redu??es significativas no choro: Os bebês que s?o amamentados recebem mais estimula??o importante para o desenvolvimento do cérebro, e aparentemente s?o menos suscetíveis à síndrome de morte súbita infantil. Há benefícios para a m?e também. Por que tantas m?es continuam a dormir separadamente de seus filhos? Para come?ar a construir identidades individuais, os bebês s?o fornecidos com quartos (ou pelo menos espa?o) dos seus próprios. Este quarto também oferecem aos pais um lugar para os brinquedos. A ênfase histórica da antropologia no estudo de povos tradicionais e n?o-ocidentais muitas vezes levou a conclus?es que os antropólogos foram os primeiros a demonstrar que o mundo n?o se divide em piedosos e supersticiosos; Que a ordem política é possível sem um poder centralizado e uma justi?a baseada em princípios sem regras codificadas. Embora as descobertas de antropólogos tenham muitas vezes desafiado as conclus?es de sociólogos, psicólogos e economistas, a antropologia é absolutamente indispensável para eles, pois é a única verifica??o consistente contra afirma??es vinculadas à cultura. Em certo sentido, a antropologia é para essas disciplinas o que o laboratório é para a física e a química: um campo de testes essencial para suas teorias.3.7 Edward Evans PrtitchardImagine tomar comboio, em seguida, um navio e depois de uma semana para chegar à capital Khartoum do Sud?o, em seguida, pegar um navio e levar mais dez dias de viagem e, finalmente penetrar no país com uma marcha de três semanas: esta foi a viagem que teve que fazer Edward Evans-Pritchard o primeiro que estudou a vida diária de uma popula??o Africana. Hoje seria suficiente poucas horas de avi?o, mas 60 anos atrás era a única maneira de alcan?ar essas áreas remotas e, portanto, precisava fazer sete semanas viajando a pé ou por outros meios. Eram tempos diferentes para as idéias que você teve sobre as pessoas que viviam nessas áreas remotas da ?frica foram consideradas selvagem e livre de interesse cultural. As histórias contadas pelos administradores viajantes e missionários acabaram de eliminar esta cren?a. Foi neste momento e neste quadro que ele teve que se mudar Evans-Pritchard, mais interessados nos mecanismos mentais e comportamentais destas pessoas, porque ele acreditava, com raz?o, que as tradi??es cren?as e supersti??es de essas pessoas n?o eram índice de vidas primitivas, mas, pelo contrário, o resultado de sistemas mentais complexos. No final, mesmo os antigos romanos que eram grandes engenheiros e grandes estadistas e filósofos tiveram uma vida cheia de supersti??es e ritos supersticiosos e nós também.Em 1926, a ?frica negra era considerada uma terra selvagem habitada por pessoas atrasadas com cren?as ridículas portanto o trabalho de Evans foi pioneiro1), foi um dos primeiros antropólogos a sair das bibliotecas para ir entre as popula??es das quais teve que estudar e aprender a língua, que era uma coisa chave e inserir-se lentamente nas suas vidas diárias para entender.2) A escolha ainda mais notável quando se considera que na época havia poucos medicamentos eficazes e instala??es médicas para o tratamento de doen?as e picadas de cobras e insetos talvez teve que confiar na experiência terapêutica local e do tratamento dum feiticeiro'Uma coisa que me pedem muitos é se eu acreditava na bruxaria que praticavam os Azande, devo dizer que, ao viver entre eles tinha chegado a aceitá-los, mas quando estou entre o meu povo racionalmente rejeito tais práticas, mas entre eles parecia que eu n?o tivesse outra escolha se n?o acreditar 'Imagine tomar comboio, em seguida, um navio e depois de uma semana para chegar à capital Khartoum do Sud?o, em seguida, pegar um navio e levar mais dez dias de viagem e, finalmente penetrar no país com uma marcha de três semanas: esta foi a viagem que teve que fazer Edward Evans-Pritchard o primeiro que estudou a vida diária de uma popula??o Africana. Hoje seria suficiente poucas horas de avi?o, mas 60 anos atrás era a única maneira de alcan?ar essas áreas remotas e, portanto, precisava fazer sete semanas viajando a pé ou por outros meios. Eram tempos diferentes para as idéias que você teve sobre as pessoas que viviam nessas áreas remotas da ?frica foram consideradas selvagem e livre de interesse cultural. As histórias contadas pelos administradores viajantes e missionários acabaram de eliminar esta cren?a. Foi neste momento e neste quadro que ele teve que se mudar Evans-Pritchard, mais interessados nos mecanismos mentais e comportamentais destas pessoas, porque ele acreditava, com raz?o, que as tradi??es cren?as e supersti??es de essas pessoas n?o eram índice de vidas primitivas, mas, pelo contrário, o resultado de sistemas mentais complexos. No final, mesmo os antigos romanos que eram grandes engenheiros e grandes estadistas e filósofos tiveram uma vida cheia de supersti??es e ritos supersticiosos e nós também.Em 1926, a ?frica negra era considerada uma terra selvagem habitada por pessoas atrasadas com cren?as ridículas portanto o trabalho de Evans foi pioneiro1), foi um dos primeiros antropólogos a sair das bibliotecas para ir entre as popula??es das quais teve que estudar e aprender a língua, que era uma coisa chave e inserir-se lentamente nas suas vidas diárias para entender.2) A escolha ainda mais notável quando se considera que na época havia poucos medicamentos eficazes e instala??es médicas para o tratamento de doen?as e picadas de cobras e insetos talvez teve que confiar na experiência terapêutica local e do tratamento dum feiticeiro'Uma coisa que me pedem muitos é se eu acreditava na bruxaria que praticavam os Azande, devo dizer que, ao viver entre eles tinha chegado a aceitá-los, mas quando estou entre o meu povo racionalmente rejeito tais práticas, mas entre eles parecia que eu n?o tivesse outra escolha se n?o acreditar '3.7.1 Obras escritas por Evans-Pritchard.1902: ele frequenta a escola pública em Winchester e a Oxford a faculdade para estudar história, mas estava no ber?o da antropologia brit?nica portanto sentiu-se fortemente atraído pela sensa??o de aventura que permeou naquela altura o estudo dos povos exóticos. A Sua experiência de outras culturas deu como resultado a compreens?o do comportamento aparentemente irracional e dos padr?es mentais. Foi formado em um período em que a antropologia estava tentando dar-se métodos e leis científicas, foi aluno de Seligman, terá sucesso no ensino em Oxford através do funcional-estruturalismo de Radcliffe Brown A quest?o era a maneira de compreender o funcionamento de uma sociedade. A contribui??o de Evans foi concentrar os seus estudos sobre a vida mental dessas etnias e popula??es primitivas examinando as suas fés e cren?as sem tratá-los como exemplos de pensamento primitivo, mas incorporá-las em sistemas mentais complexos. Este sistema tinha uma estrutura lógica com postulados que levaram a estas conclus?es.1) feiti?aria conduz à morte2) a morte é a prova da feiti?aria3) o Nganga confirma que foi feiti?aria4) a feiti?aria é necessaria para vingar a morteDesde ent?o, o pensamento primitivo n?o é algo pré-racional ou pré-lógico é colocado em rela??o à sociedade que se expressa como um conjunto coerente de conceitos relacionados entre si por sua própria lógica. Este tipo de comportamento foi por Evans-Pritchard logicamente estruturado, mas a fim de compreender bem a din?mica foi necessário entrar na lógica prática do Azande, por que data certas premissas derivavam certas consequências. O problema da racionalidade do Azande n?o poderia ser colocada em termos de verdadeiro / falso, mas em termos de consistência interna para o sistema de cren?a. A partir de ent?o se abandonou a teoria da natureza pré-lógica e pré-racional do pensamento religioso (Lévi-Bruhl), mas1) é fundamental estabelecer o caráter consistente do sistema primitivo de pensamento que até ent?o era tido como irracional2) consistência pode n?o ser o único critério para julgar um sistema de pensamento, mas também o contexto e a utiliza??o prática dos conceitos3) analisar como e quando os conceitos s?o usados leva a compreender o seu sentido cultural e deve-se ter a capacidade de traduzi-los4) a antropologia como tradu??o cultural depois de 1950 tornou-se possível para Edward Evans-Pritchard.Dele fala Mary Douglas'Para ele, era um erro pensar que as diferen?as entre a nossa maneira de pensar e aqueles destas sociedades primitivas fossem devidas à suas habilidades menos racionais. N?o era verdade que as suas fun??es mentais n?o fossem desenvolvidas ou as suas emo??es t?o fortes de sobrepujar a racionalidade. Ele estava convencido de que havia outra raz?o para explicar por que eles tinham cren?as diferentes das nossas '.Estudantes e alem?es e brit?nicos antropólogos franceses tendem a ir para partes do mundo onde antigamente se encontravam as col?nias. Desta forma, eles iriam encontrar logicamente o apoio de administradores, bem como de indígenas que poderiam falar a língua deles. Mas a presen?a colonial nem sempre se demonstrou ser útil como também os administradores comerciantes e missionários n?o mostravam de ser sensíveis à cultura indígena, especialmente na área onde Evans-Pritchard come?ou o seu trabalho no campo.'Eu nunca me importei muito dos administradores do Sud?o do norte porque eram sempre muito orgulhosos de si mesmos e tomavam uma atitude de professores, eles falavam do Sud?o como da terra dos negros governados pelos azuis que era a cor das suas uniformes. Mas quando eu fui para o sul do Sud?o, achei muito diferentes o comportamento dos funcionários. No ambiente em que viviam Conheci vários que se comportavam com os locais num relacionamento de respeito mútuo'.Dada a grande presen?a colonial brit?nica na ?frica foi uma escolha lógica para Pritchard ir estudar os povos da Bacia do Nilo e do Sud?o. A antropologia desses anos ensinou que o trabalho de campo consistiu em ir para o estrangeiro e visitar as pessoas locais no lugar onde viviam, mas1) viver com eles2) falar a sua língua3) adaptar-se a sua culturaos detalhes da vida diária eram interessantes como momentos comemorativos.1926 Evans estava pronto para come?ar a trabalhar no campo o primeiro estudo intensivo de uma popula??o Africana. Foi a etnia Azande que ainda vivem em lotes de terreno espalhadas por uma área que pertence ao Congo, à República Centro-Africana e ao Sud?o. Evans-Pritchard sabia que, a fim de entrar na sua vida social tinha de viver como eles e construiu a sua cabana. Mas naqueles dias a maior dificuldade a superar no trabalho de campo foi a realiza??o do lugar onde se pretendia trabalhar.'Para alcan?ar a zona de trabalho em 1926 ele levou uma semana de marcha e barco para o Egito muitos dias de comboio e barco para Kartum após 10 dias de barco a motor para subir o Nilo e, finalmente, três semanas de marcha a pé para chegar à terra dos Azande no Sud?o. Ao todo, cerca de sete semanasEle passou mais de um ano e meio entre os Azande e descreveu, o arranjo das suas aldeias a divis?o em linhagens, as suas colheitas e o seu poder político tradicional.Ele n?o esqueceu a sua organiza??o social, e ainda a guerra e as suas tradi??es. Mas o que o caracteriza respeito a outros antropólogos era o estudo do seu sistema distintivo de idéias, e da sua defini??o em compara??o com a nossa, gravou a vida cultural deles com fotos e tomou notas sobre o que eles pensavam ser temas importantes.Embora a primeira gera??o de antropólogos tenha muitas vezes iniciado as suas carreiras trabalhando para museus, aqueles que vieram mais tarde foram formados academicamente na disciplina a antropologia e se tornaram activos em departamentos de antropologia recém-fundados. Na América do Norte, a maioria dos últimos fez o seu trabalho de campo em reservas tribais, onde as comunidades indígenas estavam caindo em peda?os diante de doen?as, pobreza e desespero provocadas por press?es de mudan?as culturais for?adas. Esses antropólogos entrevistaram indianos americanos idosos ainda capazes de recordar o modo ancestral de vida antes das interrup??es impostas a eles. Os pesquisadores também coletaram histórias orais, tradi??es, mitos, lendas e outras informa??es, bem como artefatos antigos para pesquisa, preserva??o e exibi??o pública.Além de documentar práticas sociais, cren?as, artefatos e outras características culturais de desaparecimento, os antropólogos também procuraram reconstruir as vidas tradicionais abandonadas, lembradas apenas pelos anci?os sobreviventes. Embora as teorias antropológicas tenham surgido nos últimos cem anos, a situa??o dos povos indígenas que lutam pela sobrevivência cultural perdura. Os antropólogos podem ainda contribuir com esse esfor?o, auxiliando nos esfor?os de preserva??o cultural. Nesse trabalho, utilizam uma variedade de novos métodos, eles podem aproveitar e continuar a construir um grupo profissional de etnografia de salvamento e antropologia urgente.Estudos de Acultura??oDesde a década de 1930, os antropólogos têm estudado o contato cultural ou acultura??o assimétrica (desigual). Este é o processo muitas vezes de perigosa mudan?a cultural que ocorre nas sociedades tradicionais à medida que entram em contato com sociedades estatais mais poderosas - em particular, sociedades industrializadas ou capitalistas. Normalmente, como o poder dominante (muitas vezes estrangeiro) estabelecem a sua superioridade, as culturas indígenas locais s?o feitas aparecer inferiores, ridículas ou, de outra forma, n?o merecem ser preservadas; e muitas vezes s?o for?adas a adotar os caminhos da sociedade dominante que exercita grande press?o sobre elas. Os programas patrocinados pelo governo, destinados a obrigar os grupos indígenas a abandonarem suas línguas ancestrais e suas culturais tradi??es para os moldes da sociedade dominante, destruindo o tecido cultural de um grupo após o outro. Esses programas deixaram muitas famílias indígenas empobrecidas, desmoralizadas e desesperadas. Um dos primeiros antropólogos a estudar a acultura??o foi Margaret Mead em seu trabalho de campo em 1932 entre os indianos Omaha de Nebraska.Nessa pesquisa (um dos muitos projetos que ela empreendeu), ela se concentrou no problema da desintegra??o cultural deste grupo indígena americano tradicional. Ao longo do século XX, muitos outros antropólogos realizaram estudos de acultura??o na ?sia, ?frica, Austrália, Oceania, Américas e mesmo em partes da Europa, contribuindo de maneira significativa para o conhecimento de processos complexos e muitas vezes perturbadores de mudan?a cultural.3.8 Clifford Geertz, a importancia da interpreta??oCitazioni tratte da Interpretazione di culture, 1973, trad. it. Bologna, il MulinoClifford Geertz (1926-2006) é mais famoso por sua pesquisa etnográfica realizada em Java (ilha indonésia sul de Borneo) em Bali e Marrocos, e suas reflex?es sobre a interpreta??o das culturas. Talvez o mais especial do trabalho de Geertz é constituída pela import?ncia que ele atribui em suas obras para a dimens?o simbólica (ou seja, os sistemas de significa??o) em sua rela??o com a estrutura social, mudan?a cultural e prática da pesquisa etnográfica.3.8.1 O conceito semiotico da cultura'A idéia de cultura que eu prescelgo ... é essencialmente semiótica. Convencido, como Max Weber, que o homem é um animal suspenso por redes de significados que ele mesmo tecido, acredito que a cultura é composta dessas redes, e, portanto, a sua análise n?o deve ser uma ciência experimental em busca de leis , mas uma ciência interpretativa em busca de significado. O que eu estou procurando é uma explica??o (explica??o) '(pp. 4-5).3.8.2 Ler as culturasGeertz muitas vezes colocam um paralelo entre o antropólogo metodologia que analisa uma cultura e de um crítico literário que analisa um texto: 'Extrapolar as estruturas de significado ... e determinar a sua matriz social e sua relev?ncia ... Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de' construir uma leitura de ') um manuscrito ...'O significato é socialmente construidoGeertz muitas vezes colocam um paralelo entre o antropólogo metodologia que analisa uma cultura e de um crítico literário que analisa um texto: 'Extrapolar as estruturas de significado . . . e determinar a sua matriz social e sua relev?ncia . . . Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de' construir uma leitura de ') um manuscrito . . . 'Etnografia como descri??o densa... Os textos antropológicos s?o elas próprias interpreta??es, muitas vezes, segunda e terceira m?o (na verdade, por defini??o, apenas um 'nativo' faz interpreta??es de Primeira Inst?ncia é a sua cultura). Neste sentido etnografias s?o fic??o narrativa (fic??o) ...O etnógrafo 'inscreve' discurso social, entra-lo (escreve-lo para baixo).análise cultural é (ou deveria ser) tentar adivinhar os significados de controlo desses conhecimentos e delinear diagramas explicativos das melhores insights.N?o deve ser a descoberta do continente Significado e mapeamento de suas opini?es inconsistentes.A idéia de que podemos chegar a captar a essência das sociedades nacionais, civiliza??es, grandes religi?es ou qualquer outra constru??o cultural deste tipo ... é um absurdo óbvio. Análise cultural é intrinsecamente incompleta.Por esta Geertz prop?e para ancorar a etnografia à 'descri??o densa' (descri??o densa).Capítulo 4 – Antropologia Cultural e socialAntropologia, é o estudo da humanidade em toda parte ao longo do tempo, produz conhecimento sobre o a alteridade que torna as pessoas diferentes umas das outras e sobre o que todos temos em comum. Os antropólogos trabalham dentro de quatro campos da disciplina. Enquanto os antropólogos físicos se concentram nos seres humanos como organismos biológicos (tra?ando o desenvolvimento evolutivo e observando as varia??es biológicas), os antropólogos culturais investigam as formas diferentes pensar sentir e comportar-se dos seres humanos. Os arqueólogos tentam de recuperar informa??es sobre as culturas humanas - geralmente do passado - estudando objetos materiais, restos esqueléticos e assentamentos. Enquanto, os linguistas estudam os sistemas de comunica??o das línguas através dos quais as culturas se mantem na tradi??o e se transmitem às gera??es seguintes. Os que praticam os quatro campos s?o informados pelos achados uns dos outros e unidos por uma perspectiva antropológica comum sobre a condi??o humana.4.1 Como a Antropologia se compara a outras Disciplinas? Ao estudar a humanidade, os primeiros antropólogos chegaram à conclus?o de que para compreender plenamente as complexidades do pensamento, sentimentos, comportamento e corpo humanos, era necessário estudar e comparar todos os seres humanos, onde, como e quando se encontrassem. Mais do que qualquer outra característica, essa perspectiva comparativa, transcultural é de longo prazo e distingue a antropologia doutras ciências sociais. Os antropólogos n?o s?o os únicos estudiosos que estudam as pessoas, mas s?o exclusivamente holísticos na sua abordagem, focalizam as interconex?es e a interdependência de todos os aspectos da experiência humana, passada e presente. Esta vis?o holística e integradora fornece aos antropólogos os meios para lidar com uma quest?o de import?ncia primordial para todos nós hoje: a globaliza??o.4. 2 Como é que os antropólogos conseguem o que fazem? Antropólogos, como outros estudiosos, est?o preocupados com a descri??o e explica??o da realidade. Eles formulam e testam hipótese – tentam dar explica??es dos fen?menos observados - sobre a humanidade. O seu objetivo é desenvolver teorias confiáveis ??- interpreta??es ou explica??es apoiadas por corpos de dados - sobre a nossa espécie. Esses dados s?o geralmente coletados através do trabalho de campo - um tipo particular de pesquisa prática que dá aos antropólogos familiaridade suficiente com uma situa??o que eles podem come?ar a reconhecer padr?es, regularidades e excep??es. ? também através da observa??o cuidadosa, combinada com a compara??o, que os antropólogos formulam Teorias.Enquanto estivermos na Terra, nós procuramos compreender quem somos, donde viemos e por que agimos e como trabalhamos. Ao longo da maior parte da história da humanidade, entretanto, as pessoas confiavam no mito e no folclore para obter respostas, ao invés de recolher sistematicamente os dados obtidos através de observa??o cuidadosa. A antropologia, nos últimos 150 anos, surgiu como uma tradi??o de investiga??o científica com suas próprias abordagens para responder a essas perguntas. Simplificando, a antropologia é o estudo da humanidade em todos os tempos e lugares. Ao se concentrar principalmente no Homo sapiens - a espécie humana - os antropólogos também estudam nossos ancestrais e parentes próximos dos animais para obter pistas sobre o que significa ser humano Tarefa da antropologiaA tarefa do antropólogo é de “Traduzir” as culturas e suas premissas para torná-las compreensíveis para nós, mas também para classificar as culturas em termos de conceitos analíticos desenvolvidos na antropologia que permitem a compara??o e revelam as diferen?as e semelhan?as entre culturas. A tarefa da antropologia historicamente tem sido enfocar sociedades diferentes da nossa. Embora as pessoas estejam hoje mais conscientes das diferentes culturas, como consequência da dissemina??o de ideias através da globaliza??o, a antropologia ainda tem uma miss?o a realizar. ? aprender mais sobre outras culturas para permitir uma melhor comunica??o intercultural para que possamos entender melhor outras pessoas. Uma consequência de aprender mais sobre outras culturas é que aprendemos mais sobre nós mesmos. O método antropológico Os métodos do antropólogo s?o diferentes dos de outros cientistas sociais, e essa diferen?a influencia a natureza da disciplina - seus conceitos, procedimentos e teorias. A investiga??o antropológica de um modo de vida diferente do seu é como uma viagem para outro universo onde as pessoas se comportam de maneiras muito diferentes, e as regras podem ser transformadas nas suas cabe?as. A pesquisa antropológica envolve uma investiga??o - uma investiga??o no espa?o, uma investiga??o através do tempo, uma investiga??o psicológica uma viagem em um mundo diverso do nosso. O antropólogo deve abandonar os preconceitos da sua sua própria sociedade e suspender as suas regras culturais, para aprender o modo de vida da sociedade onde ele pesquisa, e depois voltar para contar 'sua história'. Ao fazer isso, o antropólogo parece colocar-se na posi??o de quem tem a “autoridade” sobre essa sociedade. EtnocentrismoAlguns dos membros da muitas sociedades ao ver o que os antropólogos estudaram discordam. Alguns chamaram o encontro, análise e publica??o de informa??es sobre a sociedade que o antropólogo estudou como “Apropria??o” da sua cultura. Daí um certo ciúme: como é que um estrangeiro sabe mais que eu acerca dos meus costumes culturais? A cren?a de que a própria cultura representa a melhor maneira de fazer as coisas é conhecida como etnocentrismo. O etnocentrismo enfatiza o orgulho que um grupo tem em suas realiza??es culturais, suas conquistas históricas, a supremacia de suas cren?as religiosas e as virtudes 'dadas por Deus' de suas práticas sexuais e culinárias. O etnocentrismo também inclui a idéia de que as cren?as, costumes e práticas de outras pessoas (muitas vezes seus vizinhos mais próximos) s?o como os dos “animais”. O etnocentrismo está na raiz do conflito étnico e o etnonacionalismo prevalece no mundo de hoje.Relativismo culturalA antropologia examina o mundo das diferen?as culturais. Examina práticas culturais dentro de seus próprios contextos culturais maiores. O relativismo cultural é a ideia de que cada cultura é única e distintiva, mas que nenhuma cultura é superior. Isto está em nítido contraste com o ponto de vista etnocêntrico. O relativismo cultural também está em oposi??o ao conceito de culturas universais.Universos culturaisAlém das diferen?as culturais, os antropólogos também est?o preocupados com o que as culturas têm em comum, isto é, universos culturais. Os antropólogos podem utilizar a abordagem comparativa comparar e diferenciar culturas, quer dizer identificar semelhan?as fundamentais de padr?es culturais bem como diferen?as. Por exemplo, até ao 1995, os Bakongo dependiam principalmente da agricultura de subsistência e do mercado informal. Durante a guerra de 2000 fugiram na RDC, confiavam nas lavras onde eles moravam. Apesar do fato de que os ambientes que habitavam eram totalmente diferentes apesar de ter a mesmas linhagens, bem como os bens de troca que compartilhavam havia toda uma série de características culturais que os assemelhava às popula??es da RDC. Ambos mandavam os filhos nas mesmas escolas, trocaram os nomes segundo a lei da ?autenticité?. Eles viviam em campos de refugiados em Kimpesse, Songololo reunidos em vários grupos de pessoas, relacionadas por parentesco, cada um com sua própria tenda. Eles dependiam da troca de produtos humanitários recebidos pela UNHCR (como leite, óleo alimentar, mais e arroz) com pessoas da cidade onde o campo confinava em troca de mercadorias que eles n?o podiam receber (jinguba, mandioca, gergelim). Por causa dessas semelhan?as básicas, os antropólogos caracterizam ambos como um tipo de sociedade chamadas estanciais. Mas importantes diferen?as culturais existiam entre os Bakongo angolanos e os Bakongos da RDC. Eles falavam línguas diferentes, pois os refugiados falavam kizombo, kisansala pertencentes a famílias de línguas diferentes daquelas da RDC (kimanyanga, lingala) e tinham cren?as e práticas diferentes..4.3 O desenvolvimento da antropologiaApesar de obras de import?ncia antropológica tem uma antiguidade considerável — cerca de 2.500 anos atrás o historiador grego Heródoto narrou as muitas culturas diferentes que encontrou durante as viagens extensas através de territórios em torno do mar Mediterr?neo e mais além e quase 700 anos atrás longe-movimenta??o de estudioso de norte Africano árabe Ibn Khaldun escreveu uma "história universal ". A antropologia como um campo distinto de inquérito é um produto relativamente recente da civiliza??o ocidental. Se as pessoas sempre est?o preocupadas com suas origens e a os dos outros, ent?o por que demorou tanto tempo a aparecer uma disciplina sistemática da antropologia? A resposta é t?o complexa como a história humana. Em parte, se relaciona com os limites da tecnologia humana. Durante a maior parte da história, os horizontes geográficos das pessoas tem sido restritos. 4.4 As viagensSem encontrar maneiras de viajar para partes distantes do mundo, a observa??o de culturas e povos foi mesmo uma difícil — se n?o impossível — empresa. Viagens Extensas era geralmente o privilégio exclusivo de poucos; o estudo das culturas e dos povos estrangeiros n?o poderia florescer sem melhorar e desenvolver os meios de transporte e comunica??o. O Antigo e Novo testamento da Bíblia, por exemplo, est?o cheios de referências a diversos povos antigos, entre os babil?nios, egípcios, gregos, Judeus e sírios. No entanto, as diferen?as entre essas pessoas s?o leves em compara??o com aquelas observadas nos povos da Sibéria ártica, na floresta amaz?nica, e no deserto do Kalahari da ?frica Austral. A inven??o da bússola magnética permitiu aos marítimos em navios equipados melhor de viajar para lugares verdadeiramente distantes e encontrar pessoas diferentes. O encontro maci?o com povos anteriormente desconhecidos - que come?ou há 500 anos, quando os europeus procuravam estender a sua domina??o em todas as partes do mundo — incentivou a aten??o para as diferen?as humanas em toda sua variedade incrível. Com esta aten??o, os europeus, aos poucos, passaram a reconhecer que apesar de todas as diferen?as, eles podiam compartilhar uma humanidade básica com todas as pessoas. Inicialmente, os europeus diferenciaram essas sociedades aplicando os termos de "selvagens " ou "bárbaro " porque eles n?o compartilhavam os mesmos valores culturais. Ao longo do tempo reconheceram grupos altamente diversificados como membros de uma espécie e, portanto, como relevantes para a compreens?o do que é ser humano. Este crescente interesse na diversidade humana incentivou estudos científicos. Embora a antropologia originou-se dentro do contexto histórico das culturas europeias, hoje, é uma disciplina atraente, transnacional, cujos estudiosos s?o provenientes de diversas sociedades no mundo inteiro. Muitos antropólogos profissionais nasceram e cresceram em culturas asiáticas, africanas, latino-americanas ou índias estudaram na Europa e nos EUA. AS suas acentuadas perspectivas n?o-ocidentais lan?am uma nova luz, n?o só nas suas próprias culturas, mas também nas dos outros. A aten??o pela alteridade cultural tem sido uma marca registrada da disciplina: desde seus primeiros dias, as mulheres, bem como os homens engajaram-se no estudo de campo. 4.5 Perspectivas antropológicasMuitas disciplinas acadêmicas est?o preocupadas de uma forma ou de outra com nossa espécie. Por exemplo, a biologia se concentra nos aspectos genéticos, anat?micos e fisiológicos dos organismos. A psicologia está preocupada principalmente com quest?es cognitivas, mentais e emocionais, enquanto a economia examina a produ??o, distribui??o e gest?o de recursos materiais. Entre várias disciplinas as ciências humanas examinam as realiza??es históricas, artísticas e filosóficas das culturas humanas. Mas a antropologia é distinta pelo seu enfoque nas interconex?es e interdependência de todos os aspectos da experiência humana em todos os lugares e tempos - tanto biológicos como culturais, passados ??e presentes. ? esta perspectiva holística que melhor equipa os antropólogos para abordar, em termos gerais, aquele fen?meno indescritível que chamamos de natureza humana. Os antropólogos saúdam as contribui??es de pesquisadores de outras disciplinas e, em troca, oferecem o benefício de suas próprias descobertas. Os antropólogos n?o esperam, por exemplo, de saber tanto sobre a estrutura do olho humano como os anatomistas ou tanto quanto sobre a percep??o da cor como psicólogos. Os antropólogos est?o preparados para entender como essas no??es se relacionam com as práticas de nomea??o de cor nas diferentes sociedades humanas. Porque eles olham para a ampla base de ideias humanas e práticas sem limitar-se unicamente a um só aspecto social ou biológico, os antropólogos podem adquirir uma vis?o geral especialmente expansiva e abrangente do complexo organismo biológico e cultural que é o ser humano. A perspectiva holística também ajuda os antropólogos ficar cientes das maneiras que seus próprios valores culturais podem impactar a pesquisa. Como diz o velho ditado, as pessoas muitas vezes veem aquilo em que acreditam, em vez do que aparece diante de seus olhos. Mantendo uma consciência crítica de seus próprios pressupostos sobre a natureza humana — confirmam as formas de cren?as e a??es podem ser moldar suas pesquisas — antropólogos se esfor?am para ganhar conhecimento objetivo sobre as pessoas. Com isto em mente, os antropólogos visam evitar as armadilhas do etnocentrismo, uma cren?a de que os caminhos da própria cultura, s?o os únicos adequados. Assim, os antropólogos contribuíram à compreens?o da diversidade psíquica, biológica do seu comportamento, bem como para a nossa compreens?o dos muitos compartilhados características dos seres humanos. Podemos dizer que a antropologia é uma disciplina em quest?o com uma avalia??o imparcial de diversos sistemas humanos, incluindo a própria. ?s vezes isso requer desafiando o status quo é mantido e defendido pelas elites do poder do sistema sob estudo. Isso é verdadeiro independentemente se antropólogos se concentrar em aspectos de sua cultura ou por distantes e diferentes culturas.Enquanto outras ciências sociais se concentraram predominantemente nos povos contempor?neos que vivem nas sociedades norte-americanas e europeias (ocidentais), historicamente os antropólogos têm se concentrado principalmente mos povos e culturas n?o-ocidentais. Os antropólogos trabalham com a no??o de que para a compreens?o e o pleno acesso às complexidades das idéias humanas, deve ser estudado o comportamento de todos os seres humanos. Os antropólogos trabalham com uma profundidade de tempo que se estende de volta milh?es de anos para nossos antepassados ??pré-humanos. Uma perspectiva evolutiva, comparativa e de longo prazo distingue a antropologia das outras ciências sociais. Esta abordagem abrange e também protege contra teorias do comportamento humano ligadas à cultura: isto é, teorias baseadas em suposi??es sobre o mundo e a realidade que vêm da própria cultura do investigador. Como um caso em quest?o, considere o facto de que as crian?as nos Estados Unidos geralmente dormem separadas de seus pais. Para as pessoas acostumadas a casas de vários quartos, ber?os e assentos de carro, isso pode parecer normal, mas as pesquisas culturais cruzadas mostram que o dormir juntos da m?e e do bebê em particular, é a norma. Além disso, a prática de dormir distante remonta apenas cerca de 200 anos. Estudos recentes têm mostrado que a separa??o entre m?e e filho tem importantes consequências biológicas e culturais. Por um lado, ela aumenta o comprimento do choro do bebê. Algumas m?es interpretam incorretamente o choro como indicando que os bebês est?o recebendo leite materno insuficiente e, consequentemente, mudam para alimentá-los com o biber?o, que é menos saudável. Em casos extremos, os choros de um bebê podem provocar chapadas. Mas os benefícios de dormir juntos v?o além das redu??es significativas no choro: Os bebês que s?o amamentados recebem mais estimula??o importante para o desenvolvimento do cérebro, e aparentemente s?o menos suscetíveis à síndrome de morte súbita infantil. Há benefícios para a m?e também. Por que tantas m?es continuam a dormir separadamente de seus filhos? Para come?ar a construir identidades individuais, os bebês s?o fornecidos com quartos (ou pelo menos espa?o) dos seus próprios. Este quarto também oferecem aos pais um lugar para os brinquedos. A ênfase histórica da antropologia no estudo de povos tradicionais e n?o-ocidentais muitas vezes levou a conclus?es que os antropólogos foram os primeiros a demonstrar que o mundo n?o se divide em piedosos e supersticiosos; Que a ordem política é possível sem um poder centralizado e uma justi?a baseada em princípios sem regras codificadas. Embora as descobertas de antropólogos tenham muitas vezes desafiado as conclus?es de sociólogos, psicólogos e economistas, a antropologia é absolutamente indispensável para eles, pois é a única verifica??o consistente contra afirma??es vinculadas à cultura. Em certo sentido, a antropologia é para essas disciplinas o que o laboratório é para a física e a química: um campo de testes essencial para suas teorias.4.6 Antropologia e seus campos Os antropólogos individuais tendem a se especializar em um dos quatro campos ou subdisciplinas: antropologia física (biológica), arqueologia, antropologia linguística ou antropologia cultural. Alguns antropólogos consideram a arqueologia e a linguística como parte do estudo mais amplo das culturas humanas, mas a arqueologia e a linguística também têm la?os estreitos com a antropologia biológica. Por exemplo, enquanto a antropologia linguística enfoca os aspectos culturais da linguagem, ela tem profundas conex?es com a evolu??o da linguagem humana e com a base biológica da linguagem local estudada dentro da antropologia física. Cada um dos campos da antropologia pode ter uma abordagem distinta para o estudo dos seres humanos, mas todos reunir e analisar dados que s?o essenciais para explicar semelhan?as e diferen?as entre os seres humanos, através do tempo e do espa?o. Além disso, todos eles geram conhecimentos que têm inúmeras aplica??es práticas. Muitos estudiosos de cada um dos quatro campos praticam a antropologia aplicada, o que implica o uso de conhecimentos antropológicos e métodos para resolver problemas práticos. Antropólogos aplicados n?o oferecem as suas perspectivas a partir do lado de fora. Em vez disso, eles colaboram ativamente com as comunidades em que trabalham - estabelecendo metas, resolvendo problemas e conduzindo pesquisas em conjunto. Um dos primeiros contextos em que o conhecimento antropológico foi aplicado a um problema prático foi o movimento internacional de saúde pública que come?ou na década de 1920. Isso marcou o início da antropologia médica - uma especializa??o que combina abordagens teóricas e aplicadas dos campos da antropologia cultural e biológica com o estudo da saúde humana e da doen?a. O trabalho dos antropólogos médicos lan?a luz sobre as conex?es entre a saúde humana e as for?as políticas e econ?micas, tanto local quanto globalmente. Exemplos desta especializa??o aparecem em muitas das Liga??es Bioculturais. 4.6.1 Antropologia Física A antropologia física, também chamada de antropologia biológica, se concentra nos seres humanos como organismos biológicos. Tradicionalmente, os antropólogos biológicos concentraram-se na evolu??o humana, primatologia, crescimento e desenvolvimento, adapta??o humana e forense. Hoje, a antropologia molecular, ou o estudo antropológico de genes e rela??es genéticas, contribui significativamente para o estudo contempor?neo da diversidade biológica humana e das compara??es entre grupos4.6.2 Paleoantropologia é o estudo das origens e predecessores da espécie humana presente; em outras palavras, é o estudo da evolu??o humana. Paleoantropólogos enfocam mudan?as biológicas através do tempo para entender como, quando e por que nos tornamos o tipo de organismos que somos hoje. Em termos biológicos, os seres humanos somos primatas, um dos muitos tipos de mamíferos. Porque nós compartilhamos um ancestral comum com outros primatas, os macacos, mais especificamente. Os paleoantropólogos olham para trás para os primeiros primatas (65 milh?es de anos atrás) ou mesmo para os primeiros mamíferos (225 milh?es de anos atrás) para reconstruir o caminho complexo da evolu??o humana. Paleoantropologia, ao contrário de outros estudos evolutivos, adopta uma abordagem biocultural, enfocando a intera??o entre biologia e cultura. Os esqueletos fossilizados dos nossos antepassados permitem aos paleoantropólogos de reconstruir o curso da história evolutiva humana.Para fazer isso, os paleoantropólogos comparam o tamanho e a forma destes fósseis um com o outro e com os ossos de espécies vivas. Cada nova descoberta fóssil traz outra pe?a para adicionar para o quebra-cabe?a da história evolutiva humana. Estudos bioquímicos e genéticos contribuiram consideravelmente para a evidência fóssil. A evidência genética estabelece a estreita rela??o entre os seres humanos e a espécie de macaco — chimpanzés, bonobos e gorilas. Análises genéticas indicam que a linha distintiva humana se originou 5 a 8 milh?es de anos atrás. Antropologia física, portanto, lida com arcos de tempo muito maiores do que os outros ramos da antropologia.Paleoantropologia é o estudo das origens e predecessores da espécie humana presente; em outras palavras, é o estudo da evolu??o humana. Os Paleoantropólogos enfocam mudan?as biológicas através do tempo para entender como, quando e por que nos tornamos o tipo de organismos que somos hojeQUEM E’ LUCY? AUSTRALOPITHECUS AFARENSIS Lucy é o primeiro espécime de hominídeos encontrados, acredita-se ter vivido há 3 ou 4 bilh?es de anos. Pertence à família dos australopitecos, nomeadamente os símios do Sul.As suas Características Lucy foi chamada assim em homenagem a can??o dos Beatles "Lucy in the sky ". Alta1,07 metros e quando foi descoberta se pensava que fosse jovem, mas depois ao longo do tempo se percebeu que já estava na idade adulta. ACHADOS Quando foram encontrados os restos do esqueleto, apenas 40% dos seus ossos eram presente, mas a conforma??o dos restos, permite concluir que já andou sobre dois pés. COMO VIVIAQuando encontraram os ossos dela, especulou-se que morreu sem for?as nas margens de um p?ntano e o corpo n?o foi atacado por predadores foi enterrado na lama até tornou-se rocha. como morreu Lucy AL288-1Em termos biológicos, os seres humanos s?o primatas, um dos muitos tipos de mamíferos. Porque nós compartilhamos um ancestral comum com outros primatas: os macacos. Paleoantropologia, ao contrário de outros estudos evolutivos, adopta uma abordagem biocultural, enfocando a intera??o entre biologia e cultura. Os esqueletos fossilizados dos nossos antepassados permitem aos paleoantropólogos de reconstruir o curso da história evolutiva humana. Para fazer isso, os paleoantropólogos comparam o tamanho e a forma destes fósseis um com o outro e com os ossos de espécies vivas. Cada nova descoberta fóssil traz outra pe?a para adicionar para o quebra-cabe?a da história evolutiva humana.Estudos bioquímicos e genéticos contribuiram consideravelmente para a evidência fóssil. A evidência genética estabelece a estreita rela??o entre os seres humanos e a espécie de macaco — chimpanzés, bonobos e gorilas. Análises genéticas indicam que a linha distintiva humana se originou 5 a 8 milh?es de anos atrás. Antropologia física, portanto, lida com arcos de tempo muito maiores do que os outros ramos da antropologia a primatologia estuda a anatomia e o comportamento dos outros primatas ajuda a entender o que nós compartilhamos com nossos vivos mais próximos parentes e o que distingue os seres humanos. Portanto, primatologia, ou o estudo dos primatas vivos e fósseis, é uma parte vital da antropologia física.Primatas incluem os macacos africanos e asiáticos, assim como macacos, lêmures, lóris e társios. Biologicamente, os humanos s?o membros da família de macaco — primatas de grande porte, ombros largos sem cauda. Estudos detalhados do comportamento do macaco na mata indicam que a partilha de comportamentos aprendidos é uma parte significativa da sua vida social. Cada vez mais, os primatologistas designam o comportamento compartilhado, aprendido pelos símios n?o-humanos como cultura. Por exemplo, sistemas de comunica??o e uso de ferramentas indicam as bases elementares da linguagem em algumas sociedades de macacos. Os estudos sobre os Primatas oferecem perspectivas cientificamente fundadas sobre o comportamento dos nossos antepassados, bem como uma maior valoriza??o e respeito para as habilidades dos nossos parentes vivos mais próximos. Sendo que a actividade humana invade todas as partes do mundo amea?ando a sobrevivência das espécies, o habitat de muitas espécies de primatas está amea?adas de extin??o. Os Primatologistas muitas vezes defendem a preserva??o dos habitats de primatas para que estes animais notáveis sejam capazes de continuar a habitar a terra lidando com o homemevolu??o humanaadattamento e variabilidadeUma outra especialidade de outros de antropólogos físicos é o estudo do desenvolvimento e crescimento humano. Os antropólogos examinam os mecanismos biológicos do crescimento, bem como o impacto do ambiente sobre o processo de crescimento. Por exemplo, Franz Boas, um pioneiro da antropologia americana do início do século XX comparou a altura dos imigrantes que passaram sua inf?ncia na "pátria " (Europa) com a altura mais elevada dos seus filhos que cresceram nos Estados Unidos. Hoje, os antropólogos físicos estudam o impacto da doen?a, da polui??o e da pobreza no crescimento. Compara??es entre padr?es de crescimento de primatas n?o-humanos e humanos podem fornecer pistas sobre a história evolutiva dos seres humanos. Detalhados estudos antropológicos das bases fisiológicas hormonais e genéticas de crescimento saudável em seres humanos vivos também contribuem significativamente para a saúde das crian?as de hoje. Estudos de adapta??o humana centralizam-se sobre a capacidade dos seres humanos de se adaptar ou ajustar ao seu ambiente material — biologicamente e culturalmente. Este ramo da antropologia física leva a uma abordagem comparativa dos seres humanos que vivem hoje numa variedade de ambientes. Os humanos destacaram-se entre os primatas que agora habitam a terra inteira. Apesar das adapta??es culturais tornou-se possível para os seres humanos viver em algumas situa??es extremas ambientais, adapta??es biológicas também contribuiram para a sobrevivência em altitude elevada, calor e frio extremo. Algumas dessas adapta??es biológicas s?o gravadas na composi??o do património genético das popula??es. O longo período de desenvolvimento e crescimento humano fornece ampla oportunidade para o ambiente moldar o corpo humano. Adapta??es do desenvolvimento s?o responsáveis por algumas características da varia??o humana, tais como o alargamento do ventrículo direito do cora??o para ajudar a empurrar sangue para os pulm?es entre os índios Quechua do planalto andino, conhecido como o altiplano das Andes4.6.3 PRIMATOLOGIA estuda a anatomia e o comportamento dos outros primatas ajuda a entender o que nós compartilhamos com nossos mais próximos parentes vivos e o que distingue os seres humanos. Portanto, primatologia, ou o estudo dos primatas vivos e fósseis, é uma parte vital da antropologia física. Primatas incluem os macacos africanos e asiáticos, assim como macacos, lêmures, lóris e társios. Biologicamente, os humanos s?o membros da família de macaco — primatas de grande porte, ombros largos sem cauda. Estudos detalhados do comportamento do macaco na selva indicam que a partilha de comportamentos aprendidos é uma parte significativa da sua vida social. Cada vez mais, os primatologistas designam o comportamento compartilhado, aprendido pelos símios n?o-humanos como cultura. Por exemplo, sistemas de comunica??o e uso de ferramentas indicam as bases elementares da linguagem em algumas sociedades de macacos. Os estudos sobre os Primatas oferecem perspectivas cientificamente fundadas sobre o comportamento dos nossos antepassados, bem como uma maior valoriza??o e respeito para as habilidades dos nossos parentes vivos mais próximos.Sendo que a actividade humana invade todas as partes do mundo amea?ando a sobrevivência das espécies, o habitat de muitas espécies de primatas está amea?adas de extin??o. Os Primatologistas muitas vezes defendem a preserva??o dos habitats de primatas para que estes animais notáveis sejam capazes de continuar a habitar a terra lidando com o homem.4.7 Crescimento humano, adapta??o, e varia??o Uma outra especialidade de outros de antropólogos físicos é o estudo do desenvolvimento e crescimento humano. Os antropólogos examinam os mecanismos biológicos do crescimento, bem como o impacto do ambiente sobre o processo de crescimento. Por exemplo, Franz Boas, um pioneiro da antropologia americana do início do século XX comparou a altura dos imigrantes que passaram sua inf?ncia na "pátria " (Europa) com a altura mais elevada dos seus filhos que cresceram nos Estados Unidos. Hoje, os antropólogos físicos estudam o impacto da doen?a, da polui??o e da pobreza no crescimento. Compara??es entre padr?es de crescimento de primatas n?o-humanos e humanos podem fornecer pistas sobre a história evolutiva dos seres humanos. Detalhados estudos antropológicos das bases fisiológicas hormonais e genéticas de crescimento saudável em seres humanos vivos também contribuem significativamente para a saúde das crian?as de hoje. Estudos de adapta??o humana centralizam-se sobre a capacidade dos seres humanos de se adaptar ou ajustar ao seu ambiente material — biologicamente e culturalmente. Este ramo da antropologia física leva a uma abordagem comparativa dos seres humanos que vivem hoje numa variedade de ambientes. Os humanos destacaram-se entre os primatas que agora habitam a terra inteira. Apesar de adapta??es culturais tornou-se possível para os seres humanos viver em algumas situa??es extremas ambientais, adapta??es biológicas também contribuíram para a sobrevivência em altitude elevada, calor e frio extremo.Algumas dessas adapta??es biológicas s?o gravadas na composi??o do património genético das popula??es. O longo período de desenvolvimento e crescimento humano fornece ampla oportunidade para o ambiente moldar o corpo humano. Adapta??es do desenvolvimento s?o responsáveis por algumas características da varia??o humana, tais como o alargamento do ventrículo direito do cora??o para ajudar a empurrar sangue para os pulm?es entre os índios Quechua do planalto andino, conhecido como o altiplano das Andes. Em contraste, as adapta??es fisiológicas s?o altera??es a curto prazo, em resposta a um estímulo ambiental específico. Por exemplo, uma mulher que vive normalmente ao nível do mar vai sofrer uma série de respostas fisiológicas, como, por exemplo, se ela de repente se move para uma altitude elevada aumenta da produ??o de transporte de oxigénio aos glóbulos vermelhos do sangue. Todos estes tipos de adapta??o biológica contribuem para estabelecer a varia??o humana. Diferen?as humanas incluem tra?os visíveis, tais como a altura, os pelos do corpo e a cor da pele, bem como outros fatores bioquímicos como tipo sanguíneo e a suscetibilidade a determinadas doen?as. Ainda assim, continuamos a ser membros de uma única espécie. A Antropologia física aplica-se a todas as técnicas da biologia moderna para alcan?ar uma compreens?o mais completa da varia??o humana e sua rela??o com os diferentes ambientes em que as pessoas viveram. Pesquisa dos antropólogos físicos na varia??o humana tem desmascarado falsas no??es de ra?as biologicamente definidas, uma cren?a baseada na má interpreta??o generalizada da varia??o humana.4.7.1 Antropologia ForenseAntropologia forense é a análise dos restos mortais feita para fins legais. As Autoridades policiais apelam aos antropólogos forenses para estudar restos de esqueletos e identificar vítimas de assassinato, pessoas desaparecidas ou pessoas que morreram em desastres, tais como acidentes de avi?o. Os Antropólogos forenses também contribuíram substancialmente para a investiga??o viola??es dos direitos humanos em todas as partes do mundo através da identifica??o de vítimas e documentando a causa da sua morte. Os antropólogos forenses também viola??es dos direitos humanos como genocídio sistemático, terrorismo e crimes de guerra. Estes especialistas usam detalhes da anatomia esquelética para estabelecer a idade, sexo, filia??o de popula??o e estatura do falecido. Antropólogos forenses também podem determinar se a pessoa era canhoto, se tinha qualquer anormalidade física ou tinha subido traumas. Enquanto perícia depende de diferentes frequências de certas características esqueléticas estabelecer a filia??o de popula??o.4.7.2 Etnografia e Antropologia Antropologia cultural tem duas componentes principais: etnografia e Etnologia. A etnografia é uma descri??o detalhada de uma determinada cultura, baseada principalmente no trabalho de campo, que é o termo que todos os antropólogos usam para designar a pesquisa no lugar onde se encontra a cultura. Porque a característica específica do trabalho de campo etnográfico é uma combina??o entre participa??o social e observa??o pessoal dentro da Comunidade estudada, bem como as entrevistas e discuss?es com membros individuais de um grupo; o método etnográfico é comumente referido como observa??o participante. As Etnografias fornecem as informa??es usadas para fazer compara??es sistemáticas entre culturas de todo o mundo. A etnologia, é uma pesquisa transcultural que permite aos antropólogos desenvolver teorias antropológicas que ajudem a explicar do porque de certas diferen?as importantes ou semelhan?as ocorrem entre grupos.4.8 ETNOGRAFIA Através da Observa??o participante — comendo a comida do povo, dormindo sob seu tecto, aprendendo a falar e a comportar-se de forma aceitável e experimentando pessoalmente os seus hábitos e costumes — o etnógrafo procura ganhar a melhor compreens?o possível de um modo particular de vida. Sendo um observador participante n?o significa que o antropólogo deve participar em batalhas para estudar uma cultura onde a guerra é proeminente; Mas por viver entre um povo bélico, o etnógrafo deve ser capaz de entender como a guerra se encaixa no ?mbito da cultura em geral. Ele ou ela deve observar cuidadosamente para obter uma vis?o geral sem colocar demasiada ênfase sobre uma parte em detrimento da outra. Só descobrindo como todos os aspectos de uma cultura — as práticas sociais, políticas, econ?micas e religiosas e institucionais — interagem o etnógrafo pode come?ar a entender o sistema cultural. Esta é a perspectiva holística t?o básica para esta disciplina. A imagem popular do trabalho de campo etnográfico é a que ocorre entre pessoas que vivem em lugares distantes e isolados. Para ter certeza, tem sido feito muito trabalho etnográfico nas aldeias remotas da ?frica ou na América do Sul, as ilhas do Oceano Pacífico, as reservas índias da América do Norte, os desertos da Austrália e assim por diante. No entanto, como a disciplina se desenvolveu, as sociedades industrializadas ocidentais também se tornaram o foco de estudo antropológico. O Trabalho de campo etnográfico conduziu antropólogos ocidentais peritos a estudar as pessoas d’ "outros " lugares em colabora??o com antropólogos e varias comunidades locais. Hoje, os antropólogos de todo o mundo utilizam as mesmas técnicas de pesquisa que foram usadas no estudo dos povos n?o-ocidentais para explorar diversos temas como movimentos religiosos, gangues de rua, direitos de terra, escolas, práticas matrimoniais, resolu??o de conflictos nas culturas ocidentais.4.9 Etnologia A ampla descri??o da natureza feita pela etnografia fornece os dados necessários para a etnologia — o ramo da antropologia cultural que envolve compara??es transculturais e teorias que explicam as diferen?as ou semelhan?as entre os grupos. O estudo sobre as nossas próprias cren?as e práticas pode contribuir a estabelecer compara??es transculturais. Considere, por exemplo, a quantidade de tempo gasto em tarefas domésticas por povos industrializados comparada à prepara??o da comida tradicional camponês (pessoas que dependem de plantas silvestres e recursos animais para subsistência). A Pesquisa antropológica demonstrou que as operárias na prepara??o da comida empregam muito menos tempo em tarefas domésticas e outras atividades de subsistência em compara??o com as pessoas nas sociedades industrializadas. Mulheres urbanas nos Estados Unidos, que n?o estavam trabalhando por salários fora de suas casas emèregam 55 horas por semana na sua casa — isto, apesar de todos os "electrodomésticos " máquinas de lavar lou?a, máquinas de lavar, secadores de roupa, aspiradores de pó, processadores de alimentos e fornos de micro-ondas. Doutro lado, as mulheres aborígines na Austrália dedicam 20 horas por semana para seus afazeres. No entanto, aparelhos de consumidor tornaram-se importantes indicadores de um alto padr?o de vida nos Estados Unidos devido à cren?a generalizada de que aparelhos domésticos reduzem o trabalho doméstico e aumentam o tempo de lazer.Nos primeiros anos da disciplina, muitos antropólogos documentaram as culturas tradicionais que assumiram desapareceriam devido a doen?as, guerras ou acultura??es impostas pelo colonialismo, pelo poder crescente do estado ou pela expans?o do mercado internacional. Alguns trabalharam como antropólogos governamentais, reunindo dados usados para formular políticas relativas aos povos indígenas ou para ajudar a prever o comportamento dos inimigos em tempos de guerra. Após a era colonial ter terminado na década de 1960, os antropólogos estabeleceram um código de ética para garantir que suas pesquisas n?o prejudicassem os grupos que estudavam. Hoje é comum que os antropólogos colaborem com grupos minoritários e comunidades sob cerco e que ajudem nos esfor?os de revitaliza??o cultural. Os métodos e conhecimentos antropológicos também s?o aplicados a uma série de desafios de globaliza??o, incluindo desenvolvimento econ?mico, resolu??o de conflitos, negócios e políticas. Finalmente, os antropólogos pesquisam para entender melhor o que nos faz assinalar e explicar as diferen?as e semelhan?as entre culturas.4.9.1Como a pesquisa está relacionada à teoria? Os dados resultantes da pesquisa, sejam eles coletados através de trabalho de campo ou outro método, fornecem aos antropólogos o material necessário para produzir uma etnografia (ou uma descri??o) abrangente escrita (ou filmada) de uma cultura. Além disso, eles fornecem detalhes que s?o fundamentais para a etnologia - compara??es e teorias interculturais que explicam diferentes cren?as e comportamentos culturais. Além de oferecer explica??es, as teorias nos ajudam a criar novas quest?es que aprofundam nossa compreens?o dos fen?menos culturais. Os antropólogos apresentaram uma grande variedade de teorias, algumas das quais foram substituídas ou melhoradas por novas informa??es ou melhores explica??es. Gradualmente, muito do que foi desconcertante ou desconhecido sobre nossas espécies complexas e sua fascinante diversidade social e cultural é exposto, revelado ou esclarecido através de pesquisas teoricamente informadas.4.9.2 Quais s?o os métodos de pesquisa etnográfica? Embora a antropologia se baseie em vários métodos de pesquisa, sua marca registrada é o trabalho de campo estendido em uma determinada comunidade ou grupo cultural. Este trabalho de campo apresenta observa??o participante em que o pesquisador n?o só observa e documenta a vida diária da comunidade em estudo, mas também participa dessa vida. Normalmente, o trabalho de campo inicial de um antropólogo é realizado solo e dura um ano completo. No entanto, alguns antropólogos trabalham em equipes, e algumas estadias de campo podem ser mais breves ou mais longas. N?o é incomum que os antropólogos voltem aos seus locais de campo periodicamente ao longo de várias décadas.4.9.3 Componentes da antropologiaConforme explicado a antropologia cultural tem dois principais componentes acadêmicos: etnografia e etnologia. A etnografia é uma descri??o detalhada de uma determinada cultura baseada principalmente no trabalho de campo. A etnologia é o estudo e análise de diferentes culturas do ponto de vista comparativo ou histórico, utilizando relatos etnográficos e desenvolvendo teorias antropológicas que ajudam a explicar por que determinadas diferen?as importantes ou semelhan?as ocorrem entre os grupos. Historicamente, a antropologia se concentrou nos povos tradicionais n?o ocidentais cujas línguas n?o eram escritas - pessoas cuja comunica??o era frequentemente directa e cara a cara e cujo conhecimento sobre o passado se baseava principalmente na tradi??o oral. Mesmo em sociedades onde a escrita existe, n?o há muito do que interessa aos antropólogos, por escrito. 4.9.4 Trabalho de campoAssim, os antropólogos fizeram quest?o de ir pessoalmente a esses lugares para observar e experimentar os povos e suas culturas de primeira m?o. Isso é chamado de trabalho de campo. Hoje, o trabalho de campo antropológico ocorre n?o só em comunidades de pequena escala em cantos distantes do mundo, mas também em bairros urbanos modernos em sociedades industriais ou pós-industriais. Os antropólogos podem ser encontrados fazendo trabalho de campo em uma ampla gama de lugares e dentro de uma série de diversos grupos e institui??es, incluindo corpora??es globais, organiza??es n?o-governamentais (ONGs), comunidades trabalhistas migratórias e pessoas refugiadas por causa de catástrofes naturais ou provocadas pelo homem. Em nosso mundo inesgotável e globalizante, onde fronteiras de longa data entre culturas est?o sendo apagadas, novas redes sociais e constru??es culturais est?o emergindo, tornadas possíveis pelas tecnologias de comunica??o de massa e comunica??o de longa dist?ncia. Atualmente, os antropólogos est?o ajustando os seus métodos de pesquisa para melhor descrever, explicar e compreender essas din?micas complexas mas fascinantes na condi??o humana em rápida mudan?a do século XXI. 4.9.5 História da Pesquisa etnográfica e seus usos A antropologia surgiu como uma disciplina formal durante o auge do colonialismo (1870-1950), quando muitos antropólogos europeus se concentraram no estudo dos povos tradicionais e suas culturas nas col?nias no exterior. Por exemplo, os antropólogos franceses fizeram a maioria de suas pesquisas na ?frica do Norte e Ocidental e no Sudeste Asiático; Antropólogos brit?nicos no sul e leste da ?frica; Antropólogos holandeses no que se tornou Indonésia, Nova Guiné Ocidental e Suriname; E antropólogos belgas no Congo da ?frica. Enquanto isso, os antropólogos na América do Norte concentraram-se principalmente nas comunidades indianas e esquimós de seus próprios países, geralmente residindo em terrenos conhecidos como reservas, ou em aldeias remotas do ?rtico. Como esses grupos indígenas est?o cercados por uma sociedade dominante que se instalou sobre o que costumava ser exclusivamente nativas, e n?o s?o mais completamente independentes do governo nacional da grande sociedade, suas reservas às vezes s?o descritas como col?nias internas. Ao mesmo tempo, era uma prática comum comparar os povos que ainda seguiam o caminho-de-vida tradicional baseado na ca?a, pesca, coleta e ?agricultura em pequena escala ou pastoreio - com os antigos antepassados pré-históricos dos europeus e categorizar as culturas desses povos tradicionais como 'primitivo. 'Embora os antropólogos tenham abandonado por muito tempo essa terminologia etnocêntrica, muitos outros ainda pensam e falam dessas culturas tradicionais como subdesenvolvidas ou até pouco desenvolvidas. Este equívoco ajudou sociedades estatais, empresas comerciais e outros poderosos grupos externos a justificar expandir suas atividades e invadir as terras pertencentes a esses povos, muitas vezes pressionando incrivelmente sobre eles para mudar suas formas ancestrais.4.9.6 Etnografia de Salvamento ou Antropologia Urgente Neste contexto histórico perturbador e frequentemente violento, a sobrevivência de milhares de comunidades tradicionais em todo o mundo está em jogo. Na verdade, muitos desses povos amea?ados tornaram-se fisicamente extintos. Outros sobreviveram, mas foram for?ados a render seus territórios ou seu modo de vida. Embora os antropólogos raramente tenham sido capazes de prevenir tais eventos trágicos, eles tentaram fazer um registro desses grupos culturais. Esta importante prática antropológica precoce de documentar culturas amea?adas de extin??o foi inicialmente chamada etnografia de salvamento e depois se tornou conhecida como antropologia urgente. No final dos anos 1800, muitos museus europeus e norte-americanos estavam patrocinando expedi??es antropológicas para colecionar artefactos culturais e outros restos materiais (incluindo caveiras, ossos, utensílios, armas, roupas e objetos cerimoniais), bem como vocabulários, mitos e outros aspectos relevantes Dados culturais. Os primeiros antropólogos também come?aram a tirar fotografias etnográficas e, na década de 1890, alguns come?aram a filmar documentários ou a gravar o discurso, músicas e música desses chamados povos desaparecidos. Antropologia urgente Pesquisa etnográfica que documenta culturas amea?adas de extin??o; Também conhecido como etnografia de salvamentoCapítulo 5 – O conceito de cultura5.1 A Cultura A cultura consiste nas idéias abstratas, valores e percep??es que marcam o mundo e s?o refletidas no comportamento das pessoas. A cultura é compartilhada pelos membros de uma sociedade e produz comportamentos inteligíveis para os outros membros dessa sociedade. A cultura é aprendida em vez de herdada biologicamente, e todas as diferentes partes de uma cultura funcionam como um todo integrado.5.2 Porque as culturas existem? Cada cultura fornece um molde para o pensamento e a a??o que ajuda as pessoas a sobreviver e lidar com todos os desafios da existência. Para resistir, uma cultura deve satisfazer as necessidades básicas daqueles que vivem de acordo com suas regras, e deve proporcionar uma existência ordenada para os membros de uma sociedade. Ao fazê-lo, uma cultura deve encontrar um equilíbrio entre os interesses próprios dos indivíduos e as necessidades da sociedade como um todo. Além disso, deve ter a capacidade de mudar para se adaptar a novas circunst?ncias ou alterar as percep??es das circunst?ncias existentes.5.3 Etnocentrismo: Algumas culturas s?o melhores do que outras? Os seres humanos nascem em famílias que fazem parte de comunidades mais amplas. Criados por parentes e outros membros desses grupos, aprendemos a nos comportar, falar e pensar como os outros em nossa sociedade. Porque cada um de nós é educado para considerar o mundo do ponto de vista do nosso próprio grupo social, a perspectiva humana é tipicamente etnocêntrica - acreditando que os caminhos da própria cultura s?o os únicos adequados. Medir o milho de outros povos com o próprio alqueire, é, o erro fundamental a evitar em cada momento. Atravessando fronteiras culturais, descobrimos que as pessoas em todos os lugares têm idéias e valores etnocêntricos. Os antropólogos desafiam o etnocentrismo esfor?ando-se por entender cada cultura segundo o direito próprio.Os Estudantes de antropologia estudam uma aparentemente infinita variedade de sociedades humanas, cada uma com seu próprio ambiente distintivo e sistema de economia, política e religi?o. No entanto, para toda esta variedade, essas sociedades têm uma coisa em comum: cada um é um grupo de pessoas que cooperam para garantir a sua sobrevivência coletiva e bem-estar. A vida em grupo e a coopera??o s?o impossíveis a menos que os indivíduos saibam como os outros podem se comportar em qualquer situa??o. Assim, algum grau de comportamento previsível é exigido de cada pessoa dentro da sociedade. Nos seres humanos, é a cultura que define os limites do comportamento e guia-o por caminhos previsíveis que s?o geralmente aceitáveis ??para aqueles que se enquadram na cultura.5.4 O Conceito de Cultura Os antropólogos conceberam o conceito moderno de cultura no final do século XIX. A primeira defini??o realmente clara e abrangente veio do antropólogo brit?nico Sir Edward Tylor. Escrevendo em 1871, ele definiu a cultura como 'todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a cren?a, a arte, o direito, a moral, o costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade' Desde a época de Tylor, as defini??es de cultura proliferaram, de modo que, no início dos anos 1950, os antropólogos A. L. Kroeber e Clyde Kluckhohn foram capazes de coletar mais de uma centena deles da literatura acadêmica. As defini??es recentes tendem a distinguir mais claramente entre o comportamento real e as idéias, valores e percep??es abstratas do mundo que informam esse comportamento. Em outras palavras, a cultura é mais profunda do que o comportamento observável; S?o idéias, valores e percep??es compartilhadas e socialmente transmitidas por uma sociedade, usadas para dar sentido à experiência e gerar comportamentos e refletidas nesse comportamento.5.5 Características da culturaAtravés do estudo comparativo de muitas culturas humanas, passadas e presentes, os antropólogos adquiriram uma compreens?o das características básicas evidentes em todas elas: Toda cultura é socialmente aprendida, compartilhada, baseada em símbolos, integrada e din?mica. Um estudo cuidadoso dessas características nos ajuda a ver a import?ncia e a fun??o da própria cultura.5.5.1 A cultura é aprendida e n?o herdada biologicamente. Aprende-se a cultura por crescer com ela, e o processo pelo qual cultura é transmitida de uma gera??o para a próxima é chamado Encultura??o. A maioria dos animais comem e bebem sempre que lhe apete?a. Os seres humanos, s?o inculturados, a maior parte deles comem e bebem em determinados momentos prescrito culturalmente apesar de sentir fome. 5.5.2 Os alimentosAs formas de comer variam de cultura para cultura, como tambem o que é comido, como ele é preparado, como ele é consumido e aonde. ? um factor complexo, pois alimento é usado n?o somente para satisfazer as necessidades nutricionais. Quando usado para celebrar rituais e atividades religiosas, a comida "estabelece rela??es de dar e receber, de coopera??o, de partilha, de um vínculo emocional que é universal. " através de incultura??o cada pessoa aprende socialmente formas adequadas de satisfazer às necessidades básicas biologicamente determinadas por todos os seres humanos: comida, sono, abrigo, comunidade, auto-defesa e gratifica??o sexual. 5.5.3 Satisfazer as necessidades? importante distinguir entre as necessidades próprias, que n?o s?o aprendidas, e maneiras de ficar satisfeitos que aprendemos —cada cultura determina a sua própria maneira de satisfazer às suas necessidades. Por exemplo, a forma como um ca?ador tutchokwe janta pode variar grandemente daquela de um pastor n?made kwangari. Comportamento aprendido é exibido pela maioria. Várias etnias possuem uma cultura elementar, cada linhagem local compartilha padr?es de comportamento que aprende e que diferem de uma popula??o para outra. 5.5.4 Os le?es do KakutchiPor exemplo, a pesquisa mostra um padr?o distinto de comportamento entre os le?es do deserto de Kalahari de ?frica do Sul — comportamento n?o agressivo que generou uma intera??o com os ca?adores indígenas da regi?o e coletores e que s?o trasmitidos de gera??o em gera??o dos le?es duma gera??o passada para a sucessiva. Além disso, a cultura do le?o de Kalahari mudou durante um período de trinta anos em resposta às novas circunst?ncias. Dito isto, é importante notar que nem todo o comportamento aprendido é cultural. Além da nossa espécie, há exemplos de comportamento cultural que s?o particularmente evidentes entre os primatas. Um chimpanzé, por exemplo, tomará um ramo, limpa-lo-á de todas as folhas, e alisa-o no ch?o e se serve deste pauzito para extrair “selelés”. Esta fabrica??o de ferramentas, que os jovens aprendem com os mais velhos, é, sem dúvida, uma forma de comportamento cultural que se pensava ser exclusivo do homem. No Jap?o, os macacos aprenderam as vantagens de lavar batatas doces antes de comê-las e trasmitiram a prática à nova gera??o. Tal como acontece entre os seres humanos também entre primatas há culturas que diferem a segunda dos grupos. Descobrimos que possuem uma inteligência quase humana, que inclui o uso de sons e de formas representativas; possuem a faculdade de usar símbolos para comunicar com os seres humanos e entre eles. 5.6 A cultura é compartilhada Como um conjunto compartilhado de idéias, valores, percep??es e padr?es de comportamento, a cultura é o denominador comum que torna as a??es dos indivíduos compreensíveis para outros membros da sua sociedade. 5.6.1 Sociedade A sociedade pode ser definida como um grupo organizado ou grupos de pessoas interdependentes que geralmente compartilham um território, uma linguagem e uma cultura comuns e que atuam em conjunto para a sobrevivência e bem-estar coletivo. As maneiras pelas quais essas pessoas dependem umas das outras podem ser vistas em particular nos seus sistemas econ?micos, de comunica??o e de defesa. Eles também est?o ligados por um senso comum de identidade comum. 5.6.2 Cultura e SociedadeSendo que a cultura e a sociedade s?o conceitos t?o próximos, os antropólogos estudam ambos. Obviamente, n?o pode haver cultura sem uma sociedade. Por outro lado, n?o existem sociedades humanas conhecidas que n?o exibam cultura. Isto n?o pode ser dito para todas as outras espécies animais. As formigas e as abelhas, por exemplo, cooperam instintivamente numa maneira tal que indica claramente um grau notável de organiza??o social, mas este comportamento instintivo n?o é uma cultura. Embora uma cultura seja compartilhada por membros de uma sociedade, é importante perceber que nem tudo é uniforme.5.6.3 A constru??o do gêneroNo mínimo, há alguma diferen?a entre o comportamento dos homens e das mulheres. Isso vem do facto que as mulheres d?o à luz, mas os homens n?o, e que existem diferen?as óbvias entre a anatomia e a fisiologia reprodutiva masculina e feminina. Toda sociedade dá significado cultural às diferen?as sexuais biológicas, explicando-as de uma maneira particular e especificando qual é a sua import?ncia social e os padr?es de comportamento. Def de gêneroOs antropólogos usam o termo gênero para se referir às elabora??es e significados culturais atribuídos à diferencia??o biológica entre os sexos.Assim, embora o sexo seja biologicamente determinado, o gênero é socialmente construído dentro do contexto de uma cultura particular. A distin??o entre sexo, que é biológico, e o gênero, que é cultural, é importante. Presumivelmente, as diferen?as de gênero s?o pelo menos t?o antigas quanto a cultura humana - cerca de 2,5 milh?es de anos - e nasceram a causa das diferen?as biológicas entre machos e fêmeas. Inicialmente a média dos machos humanos era substancialmente maior daquela das fêmeas. 5.6.4 Diferencia??o social baseada no gêneroOs avan?os tecnológicos no lar e no local de trabalho durante o último século ou dois têm diminuído grandemente o significado cultural de muitas diferen?as masculinas biológicas existentes nas sociedades em todo o mundo. De facto, apesar das diferen?as sexuais diretamente relacionadas à reprodu??o, nas sociedades industriais e pós-industriais modernas desapareceu em grande parte qualquer base biológica para desenvolver papéis tradicionalmente ligados ao gênero. No entanto, todas as culturas exibem, pelo menos, alguma diferencia??o de papéis de gênero relacionada a diferen?as biológicas entre os sexos.5.6.5 Diferencia??o etária Além da diferencia??o cultural associada ao gênero, também há diferencia??o relacionada à idade. Em qualquer sociedade, n?o se espera que as crian?as se comportem como adultos, e o inverso é igualmente verdadeiro. Mas ent?o, quem é uma crian?a e quem é um adulto? Novamente, embora as diferen?as de idade sejam 'naturais', as culturas d?o seu próprio significado e cronograma ao ciclo de vida humano. Em Africa, por exemplo, os Jovens s?o os que tem a tarefa de continuar com a linhagem, é portanto essencial por eles a liga??o com os velhos, que com os seus saberes fornecem aos jovens a riqueza da tradi??o; Em muitas outras culturas, a idade adulta come?a mais cedo - muitas vezes em torno de 12 anos, uma idade mais próxima das mudan?as biológicas da adolescência. Dito isto, o status de idade adulta muitas vezes tem menos a ver com a idade do que com a passagem através de certos rituais prescritos (Van Gennep).5.7 SUBCULTURAS: GRUPOS DENTRO DE UMA SOCIEDADE MAIOR Além da varia??o de idade e sexo, pode haver mudan?as culturais entre subgrupos em sociedades que compartilham uma cultura abrangente. Podem ser grupos ocupacionais em sociedades onde há uma divis?o complexa do trabalho, ou classes sociais em uma sociedade estratificada, ou grupos étnicos em algumas outras sociedades. Quando tais grupos existem dentro de uma sociedade, cada um funcionando por seus próprios padr?es distintivos de comportamento, enquanto ainda partilha alguns padr?es comuns, falamos de subculturas. A palavra subcultura n?o contem nenhum significado piorativo da relativa palavra cultura.5.7.1 Grupo étnico - pessoas que coletiva e publicamente se identificam como um grupo distinto baseado em várias características culturais, tais como ancestralidade compartilhada, origem comum, linguagem, costumes e cren?as tradicionais.5.7.2 EtniaEste termo, deriva da palavra grega ?θνο? ethnos (na??o - povo), relacionada ao adjectivo, εθνικ??que é a express?o de um conjunto de idéias culturais cultivadas por um grupo étnico.As comunidades islámicas s?o um exemplo de uma subcultura em Luanda. Especificamente, elas formam um grupo étnico, pois os homens podem casar qualquer mulher, mas as mulheres só podem casar mu?ulmanos – s?o pessoas que coletiva e publicamente se identificam como um grupo distinto baseado em várias características culturais e práticas religiosas, tais como a ascendência compartilhada e origem comum, linguagem árabe, costumes e cren?as tradicionais. 'Entre eles eles costumam falar árabe. Eles usam o Cor?o como texto religioso e legislativo. O objetivo da educa??o árabe é ensinar aos jovens a ler o Cor?o, escrever em árabe, bem como os valores religiosos do Isl?o. Eles insistem que a educa??o ocorre nas Mesquitas e nas escolas cor?nicas. 5.7.2 PluralismoNossa discuss?o levanta a quest?o da sociedade multiétnica ou pluralista na qual dois ou mais grupos étnicos ou nacionalidades s?o politicamente organizados num estado territorial, mas mantêm as suas diferen?as culturais. As sociedades pluralistas n?o poderiam ter existido antes dos primeiros estados politicamente centralizados surgirem há apenas 5.000 anos. Com a ascens?o do Estado, tornou-se possível a unifica??o política de duas ou mais sociedades anteriormente independentes, cada uma com sua própria cultura, criando assim uma ordem mais complexa que transcende a liga??o teórica da cultura - uma sociedade. As sociedades pluralistas, que s?o comuns no mundo de hoje enfrentam o mesmo desafio: elas s?o formadas por grupos que, em virtude de seu alto grau de diferen?a cultural, operam essencialmente por diferentes conjuntos de regras. Uma vez que a vida social exige um comportamento previsível, pode ser difícil para os membros de qualquer subgrupo interpretar com precis?o e seguir os diferentes padr?es pelos quais os outros operam.Infelizmente, os membros de um subgrupo dentro de uma sociedade pluralista tem a dificuldade de adeguar-se às normas pelas quais os outros membros do grupo operam e isto provoca desentendimento. Este pode intensificar ao ponto de romper em raiva e violência. Há muitos exemplos de sociedades pluralistas conturbados no mundo de hoje, incluindo Bolívia, Iraque e Quênia, Egipto, onde os governos centrais enfrentam desafios importantes na manuten??o da paz e da ordem legal.?5.8 A cultura é baseada em símbolos Grande parte do comportamento humano envolve símbolos - símbolos, sons, emblemas e signos que est?o ligados a uma outra coisa e que a representam de maneira significativa. Porque muitas vezes n?o há uma rela??o inerente ou necessária entre uma coisa e sua representa??o, os símbolos s?o geralmente arbitrários, adquirindo significados específicos quando as pessoas concordam com o uso nas suas comunica??es. Na verdade, os símbolos - desde as bandeiras nacionais até os anéis de casamento e o dinheiro - entram em todos os aspectos da cultura, da vida social e da religi?o à política e à economia. Estamos todos familiarizados com o fervor e devo??o que um símbolo religioso pode provocar num crente. A lua crescente isl?mica, a cruz crist?, ou uma estrela judaica de David - assim como o sol entre os Incas, a? Vaca entre os hindus, um bezerro de búfalo branco entre índios de America, ou qualquer outro objeto de adora??o - pode trazer à mente anos de luta e persegui??o ou pode representar uma filosofia ou uma religi?o inteira.5.8.1 A linguagem como panorama simbólico O aspecto simbólico mais importante da cultura é a linguagem - usando palavras para representar objetos e idéias. Através da linguagem, os seres humanos s?o capazes de transmitir de uma gera??o para outra a cultura. Em particular, através linguagem se torna possível aprender com a experiência acumulada e compartilhada. Sem ela, n?o se poderia informar os outros sobre eventos, emo??es e outras experiências com as quais n?o tiveram parte. A linguagem é t?o importante que todo um capítulo deste livro é dedicado ao assunto. O comportamento das pessoas em uma cultura é enquadrado de acordo com um conjunto de símbolos ou ideias culturais. Isso constitui o design geral da tape?aria de sua cultura. Para entender o comportamento econ?mico das pessoas, o comportamento político e o comportamento social, é preciso entender o sistema de significados culturais que permeiam essas institui??es. Em suas a??es cotidianas, as pessoas criam e transmitem significado cultural ao recriar sua cultura. Como eles andam, como se vestem e como eles falam, todos transmitem significado cultural. Quando as pessoas mudam seu comportamento, o significado também muda. Cultura como texto? preciso 'ler' a cultura como um texto para entender o significado do comportamento cultural. A análise de símbolos conjuga com os significados das palavras, os significados das a??es e os significados dos objetos em uma cultura. Além de envolver significados, os símbolos também s?o expressivos e transmitem emo??o. Isto é especialmente verdadeiro no que diz respeito aos símbolos da arte e da religi?o. SímbolosA ?linguagem em si é um sistema feito inteiramente de símbolos Os símbolos e seus significados guiam as a??es das pessoas e também motivam essas a??es. Além disso, o próprio comportamento das pessoas tem um significado simbólico para aqueles que o observam. A metáforaA metáfora, uma espécie de símbolo, é um importante conceito analítico utilizado pelos antropólogos no estudo dos sistemas simbólicos. Uma metáfora é uma ideia que representa um outro conjunto de ideias. O significado da metáfora é o reconhecimento da conex?o entre a própria metáfora e a “outra coisa” que ela representa. muitas das atividades descritas também eram características da guerra, como rostos enegrecidos, vestir-se como guerreiros e passar por uma luva de fogo para demonstrar coragem.Sangamento, alembamento, jogo?Entre os Bakongo, o sangamento é metaforicamente uma forma de guerra. A guerra é uma metáfora adequada para esta dan?a a frente do Kolumbimbi, os Bakongo celebravam assim a sua memoria histórica . O aspecto competitivo na cerim?nia de casamento também é visto no alembamento, que coloca um lado contra o outro. Em nossa sociedade, os jogos s?o frequentemente usados como metáforas para a vida. Jogos envolvem luta e competi??o. ?s vezes você ganha e às vezes perde, mas os jogos devem ser jogados de acordo com um conjunto de regras. Os jogos exigem dos jogadores a capacidade estratégica, a tomada de riscos, a resistência e a coragem - virtudes em nossa cultura. Jogar duroNa sua presidência Trump, as autoridades da Casa Branca fala sobre “jogar duro” e usam a express?o do beisebol: “Quando as coisas ficam difíceis, as coisas ficam difíceis.” O beisebol estava sendo usado para representar uma outra coisa -a política - porque ambos incluem competi??o. luta e algum elemento de perigo, embora possam diferir em outros aspectos. O tabuleiro de xadrez é um mundo em miniatura povoado por uma sociedade feudal. os processos de pensamento humano s?o em grande parte metafóricos, que as metáforas n?o s?o apenas uma quest?o de relacionamento simbólico. Eles afirmam que “o nosso sistema conceitual comum, em termos do qual pensamos e agimos, é fundamentalmente metafórico por natureza” (2003: 3). Eles estendem esse argumento para afirmar que expressamos nossas experiências do mundo através de metáforas. Seu exemplo é que os argumentos entre duas pessoas s?o como a guerra entre dois países (ou seja, 'Suas críticas estavam certas'). Aqui est?o alguns outros exemplos:O casamento é como uma guerra.O futebol é como uma guerra.O xadrez é como uma guerra.Em todas essas metáforas, os dois lados envolvidos formam a estrutura A: B como C: D, raz?o pela qual Lakoff e Johnson os chamam de “metáforas estruturais”. Outras metáforas que eles apresentam s?o “metáforas orientacionais”, por exemplo, “acorde, 'Levante-se' ou 'ele entrou em coma'. Pinker, o psicólogo evolucionista, também aceitou o argumento de que o pensamento metafórico caracteriza a espécie humana. Outro tipo de símbolo é uma metonímia. Como uma metáfora, uma metonímia também é baseada na substitui??o de uma coisa por outra, mas, neste caso, o símbolo que representa a outra coisa é uma das várias coisas que constituem a outra coisa. Assim, o rei pode ser referido como o chefe de estado, e a coroa ou trono pode ficar como um símbolo metonímico para o rei. A capital de qualquer tipo de governo pode ser referida como a sede do governo. Em cada caso, uma parte foi usada para representar o todo.Sistema cultural?Uma categoria de símbolos, símbolos públicos, constitui o sistema cultural para a sociedade. Muitos desses símbolos culturais s?o conhecidos, compreendidos e compartilhados por todos os membros da sociedade. No entanto, alguns símbolos, muitas vezes os mais importantes, s?o mais esotéricos e podem ser conhecidos apenas por praticantes religiosos. As pessoas também criam símbolos a partir de suas próprias experiências, que n?o s?o comumente compartilhadas por outras pessoas. Estes s?o conhecidos como símbolos privados e s?o os símbolos da nossa vida de sonho e fantasias. No processo criativo, o artista, romancista ou cineasta usa símbolos privados. Interpreta??oO processo de interpreta??o das obras artísticas pelo público e pelos críticos envolve tentar decifrar o significado dos símbolos privados do artista. Discutiremos como o artista criativo usa símbolos privados e públicos no capítulo 12. Há duas maneiras pelas quais o estudo do simbolismo pode ser abordado. A primeira é examinar um símbolo particular e os diferentes significados que est?o ligados a ele em várias culturas. A segunda é come?ar com o outro lado da moeda - estudar a coisa simbolizada e os diferentes símbolos usados para ela.O SIMBOLISMO DOS ALIMENTOS Examinaremos o simbolismo da comida para mostrar como um símbolo pode ter vários significados ligados a ele em diferentes culturas. Do ponto de vista utilitarista ou materialista, a comida é ingerida pelos seres humanos para sustentar a vida. ? composto de calorias, proteínas, gorduras, minerais e carboidratos que s?o introduzidos nos seres humanos por comer. Este aspecto da comida é equivalente às manifesta??es físicas ou sons que comp?em uma palavra. N?o ir além desse aspecto da comida em termos de uma investiga??o seria como analisar palavras sem considerar seus significados. ?GRUPOS SOCIAIS, CATEGORIAS SOCIAIS E SEUS S?MBOLOS?A identidade do grupo pode ser simbolizada de várias outras maneiras além da culinária. Por exemplo, o grupo social Tutchokwe representa os antepassados com os mahamba uma linhagem pode ser representada por paus simbólicos, com representa??es pictóricas. Os mahamba específicos s?o colocados nas entradas das casas e esculpidos nos totens em pé diante do limiar. Nas linhagens como muitas outras sociedades do mundo, os nomes pessoais dados aos membros do grupo eram propriedade de todo o grupo. Quando uma pessoa morre, o seu nome é tomado pelo grupo, para ser usado novamente quando uma crian?a nasce. Havia também a cren?a de que um nome carregava uma identidade, e essa identidade era perpetuada através dos nomes transmitidos de gera??o em gera??o. Desta forma, a identidade individual estava ligada à identidade da linhagem, o nome simbolizava a participa??o no grupo. Em geral, a limhagem como um grupo social pode estar associado a espíritos particulares, incluindo espíritos dos ancestrais da linhagem, que dizem residir em locais específicos (rios, lavras, florestas) no território da linhagem. Os espíritos e o território representam a linhagem. Os invasores atravessando o território ou ca?ando nele est?o em perigo a causa dos espíritos que o protegem. Em tal situa??o, em que a terra simboliza a continuidade do grupo social (linhagem) dos tempos míticos até o presente, a terra n?o poderia ser vendida por membros da linhagem por dinheiro sem destruir a identidade do próprio grupo. Assim, um animal, uma pintura, uma escultura, um nome ou um território permanece como um símbolo do grupo. Formas bastante comuns usadas para simbolizar grupos sociais s?o pássaros, peixes e animais. Pode-se perguntar por que é que os animais s?o usados para representar pessoas5.8.2 A Cultura é Integrada, A cultura inclui o que as pessoas fazem para viver, as ferramentas que usam, a maneira como trabalham juntos, como transformam seus ambientes e constroem suas moradias, o que comem e bebem,? O que eles acreditam ser certo ou errado, os dons que trocam, como e quando se casam, como criam seus filhos, como lidam com a morte, e assim por diante. 5.8.3 Cultura holística Sendo que esses e todos os outros aspectos de uma cultura devem estar razoavelmente bem integrados para funcionar adequadamente, os antropólogos raramente se concentram em um aspecto cultural isoladamente. Em vez disso, eles vêem cada um no seu contexto maior e examinam cuidadosamente suas conex?es com características relacionadas. Para fins de compara??o e análise, os antropólogos habitualmente imaginam uma cultura como um sistema bem estruturado, composto por partes distintas que funcionam juntas como um todo organizado. Embora possam distinguir claramente cada parte como uma unidade claramente definida com suas próprias características e lugar especial dentro do sistema maior, os antropólogos reconhecem que a realidade social é complexa e mutável e que as divis?es entre unidades culturais s?o muitas vezes erradas. 5.9 Estrutura, infraestrutura, superestruturaDe um modo geral, as características culturais de uma sociedade se enquadram em três categorias: estrutura social, infra-estrutura e superestrutura. A estrutura social diz respeito a rela??es regidas por regras - com todos os seus direitos e obriga??es - que unem os membros de uma sociedade. Os agregados familiares, as famílias, as associa??es e as rela??es de poder, incluindo a política, fazem parte da estrutura social. Estabelece a coes?o grupal e permite que as pessoas satisfa?am consistentemente suas necessidades básicas, incluindo alimentos e abrigo, para si e seus dependentes, por meio de? trabalhos. Assim, há uma rela??o direta entre a estrutura social de um grupo e sua base econ?mica, que inclui práticas de subsistência e as ferramentas e outros equipamentos materiais usados ??para ganhar a vida. Como as práticas de subsistência envolvem o aproveitamento dos recursos disponíveis para satisfazer as necessidades básicas de uma sociedade, esse aspecto da cultura é conhecido como infra-estrutura. Apoiada por esta funda??o econ?mica, uma sociedade é unida também por um sentido compartilhado de identidade e da cosmovis?o. Este corpo coletivo de idéias, cren?as e valores pelos quais os membros de uma sociedade d?o sentido ao mundo - sua forma, desafios e oportunidades - e compreendem seu lugar nela é conhecido como ideologia ou superestrutura. Incluindo religi?o e ideologia nacional, a superestrutura compreende suas idéias abrangentes sobre si mesmas e tudo o mais ao seu redor - e dá sentido e dire??o a suas vidas. Influenciando e refor?ando um ao outro, e adaptando-se continuamente aos fatores demográficos e ambientais em mudan?a, estas três estruturas interdependentes junto constituem um sistema cultural. 5.9.1 CULTURA Bakongo COMO SISTEMA INTEGRADO A integra??o dos aspectos econ?micos, sociais e ideológicos de uma cultura pode ser ilustrada pelos Bakongo, povo que vive no Norte de Angola, estudado nos anos 1950 pelos antropólogos Jean Cuvelier, Van Wing, George Balandier. A economia dos Bakongo depende do cultivo de plantas, da cria??o de suínos e ovinos, da ca?a e da pesca. Embora o cultivo da mandioca forne?a a maioria da comida das pessoas, é através da cria??o de porcos, cabras e ovelhas que os homens alcan?am algo.Entre os Kapauku, a prepara??o das lavras é um trabalho complexo. A nova família deve contactar o Mfumu a Ntoto para receber e legalizar o seu talh?o de terra. O marido com seus amigos e parentes deve desbravar da mata o terreno, fazer secar os paus e queimar. Mais tarde no come?o das chuvas s?o às mulheres que compete semear. A sementeira é constituída por amendoim, feij?o e batata-doce, cultivada em parcelas da lavra. De acordo com a cultura Bakongo, certas atividades de jardinagem e a manuten??o s?o tarefas que se enquadram exclusivamente no domínio do trabalho das mulheres. Para ter muitas lavras e manifestar seu prestigio, um homem precisa de mais mulheres em casa; assim na sociedade bakongo as esposas múltiplas s?o permitidas somente, se o marido tem capacidade de mantê-las. Para cada mulher, no entanto, um homem deve pagar o pre?o do alambamento, e isso pode ser caro. Além disso, as esposas têm de ser compensadas pelo seu cuidado as lavras e os filhos, precisam de casa, roupa e talheres. Escusado será dizer que isso requer um empreendedorismo considerável. ? essa capacidade que actualmente produz líderes na sociedade bakongo. A inter-rela??o destes elementos com várias outras características da cultura bakongo é ainda mais complicada. Por exemplo, uma condi??o que encorajava os homens a manter várias mulheres era um excesso de mulheres adultas, às vezes causadas pela perda de machos através da guerra. Este sistema mudou com o refoulement for?ado de Bakongo angolanos presentes desde ent?o da RDC. Entre os Bakongo o matrimonio é matrilinear e patrilocal. Com este arranjo, os homens de uma aldeia s?o tipicamente 'sangue' parentes uns dos outros, o que aumenta a sua capacidade de cooperar na economia, na ca?a e na organiza??o social. Considerando tudo isso, faz sentido que os Bakongo tra?am a sua descendência (ancestralidade) através de grupos linháticos matrilineares chamados kanda. No entanto juntamente com a matrilinearidade da kanda se afirma a import?ncia da gest?o e organiza??o mascolina através da organiza??o do lumbu com grupos parentais de descendência mascolina chamados kise. Portanto, n?o é de surpreender que as posi??es de lideran?a na sociedade bakongo sejam mantidas também por homens que se apropriam dos produtos do trabalho feminino para aumentar sua estatura política. Tal domina??o masculina n?o é de modo algum característica de todas as sociedades humanas. Em vez disso, como nos Bakongo, ela surge apenas em circunst?ncias particulares que, se mudadas, alterar?o o modo como os homens e as mulheres se relacionam entre si.5. 10 Fun??es da Cultura O antropólogo brit?nico Bronislaw Malinowski argumentou que as pessoas em todo o mundo compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a fun??o final de todas as institui??es culturais é satisfazer essas necessidades. Outros têm marcado diferentes critérios e categorias, mas a idéia é basicamente a mesma: uma cultura n?o pode suportar se n?o lidar eficazmente com os desafios básicos. Deve incluir estratégias para a produ??o e distribui??o de bens e servi?os considerados necessários para a vida. Para garantir a continuidade biológica de seus membros, ela também deve proporcionar uma estrutura social para reprodu??o e apoio mútuo. Ela deve oferecer maneiras de transmitir o conhecimento e enculturar novos membros para que eles possam contribuir para o bom funcionamento da sua comunidade como adultos. Ela deve facilitar a intera??o social e fornecer maneiras de evitar ou resolver conflitos dentro do seu grupo, bem como com os de fora. Uma vez que uma cultura deve apoiar todos os aspectos da vida, também deve atender as necessidades psicológicas e emocionais de seus membros. Esta última fun??o é satisfeita, em parte, simplesmente pela medida de previsibilidade que cada cultura, como um projeto compartilhado de pensamento e a??o, traz para a vida cotidiana. Claro que envolve muito mais do que isso, incluindo uma vis?o de mundo que ajuda as pessoas a entender o seu lugar no mundo e enfrentar grandes mudan?as e desafios. Por exemplo, cada cultura fornece a seus membros certas idéias e rituais habituais que lhes permitem pensar criativamente sobre o significado da vida e da morte. Muitas culturas ainda tornam possível para as pessoas imaginarem uma vida após a morte. Convidados a suspender a descren?a e a se envolver nessas cren?as, as pessoas encontram os meios para lidar com o sofrimento de perder um ente querido. Em Luanda, por exemplo, na Camama os grupos de jovens realizam rituais de criatividade espectaculares no cimitério onde eles dan?am com os caix?es dos restos físicos de seus mortos. Depois de uma colorida prociss?o com músicos, o cadáver é levado para o enterro dentro do cimitério.5.10.1 MalinowskiBronislaw Malinowski, nascido na Pol?nia, fez o seu doutorado em antropologia na London School of Economics e, mais tarde, como professor, desempenhou um papel vital para torná-la um importante centro de antropologia. Reconhecido como pioneiro na observa??o participante e particularmente famoso pela sua pesquisa entre os habitantes das ilhas Trobriand no Pacífico ocidental, afirmou que o objetivo do etnógrafo é 'entender o ponto de vista do nativo'. . . Para considerar a vis?o do seu mundo. Escrevendo sobre a cultura, Malinowski argumentou que as pessoas em todos os lugares compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a fun??o final de todas as institui??es culturais é atender a essas necessidades. Todos, por exemplo, precisam se sentir seguros em rela??o ao universo físico. Portanto, quando a ciência e a tecnologia s?o inadequadas para explicar certos fen?menos naturais - como os eclipses ou terremotos - as pessoas recorrem à religi?o e magia para explicar esses fen?menos e estabelecer um sentimento de seguran?a. A natureza da institui??o, de acordo com Malinowski, é determinada pela sua fun??o. Malinowski delineou três níveis fundamentais de necessidades que ele afirmou ter sido resolvido por todas as culturas: Uma cultura deve prever necessidades biológicas, como a necessidade de alimentos e procria??o. Uma cultura deve prever necessidades instrumentais, como a necessidade de lei e educa??o. Uma cultura deve prever necessidades integrativas, como religi?o e arte. Se os antropólogos pudessem analisar as formas em que uma cultura preenche essas necessidades para seus membros, Malinowski acreditava que eles também poderiam deduzir a origem dos tra?os culturais. Embora essa cren?a nunca tenha sido justificada, a qualidade dos dados solicitados pela abordagem de Malinowski estabeleceu novos padr?es para o trabalho de campo antropológico. Ele foi o primeiro a insistir em que era necessário se inserir-se numa comunidade por um longo período de tempo para realmente estudá-la. Ele demonstrou essa abordagem com o seu trabalho nas Ilhas Trobriand entre 1915 e 1918. Nunca antes esse trabalho de campo tinha sido feito nem essas idéias foram adquiridas no funcionamento de outra cultura. A qualidade da pesquisa de Malinowski nas Trobriand é devida à etnografia (a descri??o detalhada de uma cultura particular baseada principalmente no trabalho de campo) considerada como uma actividade científica.5.10.2 Fun??es da cultura O antropólogo brit?nico Bronislaw Malinowski, argumentou que as pessoas em todos os lugares compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a fun??o final de todas as institui??es culturais é atender a essas necessidades. Outros marcaram diferentes critérios e categorias, mas a idéia é basicamente a mesma: uma cultura n?o pode existir se n?o lida efectivamente com os desafios básicos. Deve incluir estratégias para a produ??o e distribui??o de bens e servi?os considerados necessários para a existência. Para garantir a continuidade biológica dos seus membros, ela também deve fornecer uma estrutura social apta a favorecer a reprodu??o. Ela deve oferecer maneiras de transmitir o conhecimento e inserir novos membros para que eles possam contribuir para a sua comunidade como adultos que colaborem bem. Ela deve facilitar a intera??o social e fornecer maneiras de evitar ou resolver conflitos dentro e fora do seu grupo. Quando uma cultura apoia todos os aspectos da vida, atende às necessidades psicológicas e emocionais dos seus membros. Esta última fun??o é cumprida, em parte, na vida cotidiana. Claro que isso envolve muito mais do que isso, incluindo uma vis?o de mundo que ajuda os indivíduos a entender o seu lugar no mundo e a enfrentar grandes mudan?as e desafios. Por exemplo, cada cultura fornece aos seus membros certas idéias e rituais habituais que lhes permitem pensar criativamente sobre o significado da vida e da morte. Muitas culturas permitem que as pessoas imaginem uma vida após a morte. Convidados a suspender a descren?a e a se envolverem em tais imagina??es, as pessoas encontram os meios para lidar com o sofrimento quando perdem um ente querido. Bronislaw Malinowski, nascido na Pol?nia, aprendeu seu doutorado em antropologia na London School of Economics e, mais tarde, professor como professor, desempenhou um papel vital para torná-lo um importante centro de antropologia. Reconhecido como pioneiro na observa??o participante e particularmente famoso por sua pesquisa entre os insulares Trobriand no Pacífico ocidental, afirmou que o objetivo do etnógrafo é 'entender o ponto de vista nativo'. . . Para realizar sua vis?o de seu mundo. 'Escrevendo sobre a cultura, Malinowski argumentou que as pessoas em todos os lugares compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a fun??o final de todas as institui??es culturais é atender a essas necessidades. Todos, por exemplo, precisam se sentir seguros em rela??o ao universo físico. Portanto, quando a ciência e a tecnologia s?o inadequadas para explicar certos fen?menos naturais - como os eclipses ou terremotos - as pessoas desenvolvem religi?o e magia para explicar esses fen?menos e estabelecer um sentimento de seguran?a. A natureza da institui??o, de acordo com Malinowski, é determinada pela sua fun??o. Malinowski delineou três níveis fundamentais de necessidades que ele afirmou ter sido resolvido por todas as culturas: Uma cultura deve prever necessidades biológicas, como a necessidade de alimentos e procria??o. Uma cultura deve prever necessidades instrumentais, como a necessidade de lei e educa??o. Uma cultura deve prever necessidades integrativas, como religi?o e arte. Se os antropólogos pudessem analisar as formas em que uma cultura preenche essas necessidades para seus membros, Malinowski acreditava que eles também poderiam deduzir a origem dos tra?os culturais. Embora essa cren?a nunca tenha sido justificada, a qualidade dos dados solicitados pela abordagem de Malinowski estabeleceu novos padr?es para o trabalho de campo antropológico. Ele foi o primeiro a insistir em que era necessário se instalar na comunidade que estava sendo estudada por um longo período de tempo para realmente entender isso. Ele demonstrou essa abordagem com seu trabalho nas Ilhas Trobriand entre 1915 e 1918. Nunca antes esse trabalho de campo havia sido feito nem essas idéias foram adquiridas no funcionamento de outra cultura. A qualidade da pesquisa Trobenand de Malinowski diz ter obtido a etnografia (a descri??o detalhada de uma cultura particular baseada principalmente no trabalho de campo) como uma empresa científica. Fun??es da cultura O antropólogo brit?nico Bronislaw Malinowski, nascido em polonês, argumentou que as pessoas em todos os lugares compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a fun??o final de todas as institui??es culturais é atender a essas necessidades (ver Antropologista da Nota). Outros marcaram diferentes critérios e categorias, mas a idéia é basicamente a mesma: uma cultura n?o pode suportar se n?o lida efetivamente com os desafios básicos. Deve incluir estratégias para a produ??o e distribui??o de bens e servi?os considerados necessários para a vida. Para garantir a continuidade biológica de seus membros, ele também deve fornecer uma estrutura social para reprodu??o e apoio mútuo. Ele deve oferecer maneiras de transmitir conhecimento e encabular novos membros para que eles possam contribuir para a sua comunidade como adultos que funcionem bem. Ele deve facilitar a intera??o social e fornecer maneiras de evitar ou resolver conflitos dentro de seu grupo, bem como com pessoas de fora. Uma vez que uma cultura deve apoiar todos os aspectos da vida, como indicado no nosso modelo de barril, também deve atender às necessidades psicológicas e emocionais de seus membros. Esta última fun??o é cumprida, em parte, simplesmente pela medida da previsibilidade de que cada cultura, como um design compartilhado para pensamento e a??o, traz para a vida cotidiana. Claro que isso envolve muito mais do que isso, incluindo uma vis?o de mundo que ajuda os indivíduos a entender seu lugar no mundo e enfrentar grandes mudan?as e desafios. Por exemplo, cada cultura fornece aos seus membros certas idéias e rituais habituais que lhes permitem pensar criativamente sobre o significado da vida e da morte. Muitas culturas permitem que as pessoas imaginem uma vida após a morte. Convidados a suspender a descren?a e se envolverem em tais imagina??es, as pessoas encontram os meios para lidar com o sofrimento de perder um ente querido. Em Bali, por exemplo, os adoradores hindus colocam rituais de crema??o espetaculares em lugares especiais onde eles queimam os restos físicos de seus mortos. Depois de uma colorida prociss?o com músicos, o cadáver é levado a uma grande torre de crema??o, ou wadah, representando o cosmos de três camadas. ? ent?o transferido para um sarcófago lindamente decorado, feito de madeira e pano de forma artística na forma de um animal - um touro quando o falecido pertencia à maior casta dos sacerdotes (brahman), um le?o alado para a segunda maior casta dos guerreiros E administradores (satria), e meio peixe / meio elefante para a próxima casta de comerciantes (wesia). Depois que parentes e amigos colocam suas ofertas no topo ou no interior do sarcófago, um sacerdote hindu define a estrutura em chamas. Em breve, o corpo queima e, de acordo com a cren?a hindu do Balinês, o sarcófago animal simbolicamente guia a alma do falecido para Bali, 'outra montanha Gunung Angung'. Esta é a morada sagrada dos deuses e antepassados ??da ilha, o lugar para o qual muitos dos balineses acreditam que eles retornam quando eles morrem. Liberados da carne, a alma pode mais tarde se transmigrar e retornar de forma corpórea. Essa cren?a na reencarna??o da alma permite que os balineses lidem com a morte como uma celebra??o da vida. Em suma, para que uma cultura funcione adequadamente, suas várias partes devem ser consistentes umas com as outras. Mas a consistência n?o é a mesma harmonia. Na verdade, há fric??o e potencial de conflito dentro de cada cultu entre indivíduos, fac??es e institui??es concorrentes. Mesmo no nível mais básico de uma sociedade, os indivíduos raramente experimentam o processo de encultura??o exatamente da mesma maneira, nem percebem sua realidade de maneira exatamente idêntica. Além disso, as condi??es podem mudar, provocadas por for?as internas ou externas.Capítulo 6 – Etapas dos Ciclo da vida: a Morte6.1 Infancia No curso de sua evolu??o, os humanos, como todos os animais, enfrentaram continuamente o desafio de se adaptar ao seu meio ambiente. O termo adapta??o refere-se a um processo gradual pelo qual os organismos se ajustam às condi??es do lugar em que vivem. Os organismos geralmente se adaptaram biologicamente à medida que o número de características anat?micas e fisiológicas vantajosas aumenta numa popula??o através de um processo conhecido como sele??o natural. Por exemplo, o cabelo do corpo protege os mamíferos de temperaturas extremas; Os dentes especializados ajudam-nos a adquirir os tipos de alimento de que necessitam; e assim por diante. Respostas fisiológicas a curto prazo ao meio ambiente - juntamente com respostas que se incorporam a um organismo através da intera??o com o meio ambiente durante o crescimento e o desenvolvimento s?o outros tipos de adapta??es biológicas. Os seres humanos, no entanto, dependeram cada vez mais da adapta??o cultural, um complexo de idéias, tecnologias e atividades que lhes permitem sobreviver e até prosperar no seu ambiente. A biologia n?o lhes forneceu casacos de pele embutidos para protegê-los em climas frios, mas deu-lhes a capacidade de fazer seus próprios casacos, construir incêndios e construir abrigos para se proteger contra o frio. Eles porém n?o s?o capazes de correr t?o rápido quanto um leopardo, mas eles s?o capazes de inventar e construir veículos que possam levá-los mais rápido e mais longe do que qualquer outra criatura. Através da cultura e das suas muitas constru??es, a espécie humana asseguraram n?o apenas a sua sobrevivência, mas também a sua expans?o - a custa doutras espécies e do planeta em geral. Ao manipular ambientes através dos meios culturais, as pessoas conseguiram se mover para uma vasta gama de ambientes, desde o Círculo Polar ?rtico gelado até o deserto do Sahara. Isso n?o quer dizer que tudo aquilo que os humanos fazem, seja devido à sua adapta??o a um ambiente particular. Por um lado, as pessoas nem sempre reagem imediatamente a um certo ambiente; em vez, eles reagem quando apreciam isso, e diferentes grupos de pessoas podem ter a mesma aprecia??o para o mesmo ambiente apesar das maneiras radicalmente diferentes de viver. Eles também reagem n?o somente ao ambiente mas a outras coisas: suas próprias naturezas biológicas, suas cren?as e atitudes e as consequências a curto e longo prazo do seu comportamento para si e para outras pessoas e formas de vida que compartilham com os seus habitats. Embora as pessoas possuam abordagem culturais diferentes em lidar com os problemas, algumas práticas culturais se revelaram ser inadequadas e realmente criaram novos problemas - como a água e o ar tóxicos causados ??por certas práticas industriais, ou a epidemia de obesidade trazidas pela cultura de carros, fast food, televis?o e computadores. Uma outra complica??o é a relatividade de qualquer adapta??o dada: o que é adaptativo num contexto pode ser seriamente inadaptado noutro. Mas essas mesmas práticas tornam-se graves riscos para a saúde para popula??es grandes e totalmente sedentárias. Da mesma forma, o comportamento que é adaptativo no curto prazo pode ser desadequado durante um período de tempo mais longo. Por exemplo, o desenvolvimento da irriga??o na Mesopot?mia antiga (sul do Iraque) possibilitou que as pessoas aumentassem sua produ??o de alimentos, mas também causou uma acumula??o gradual de sal no solo, o que contribuiu para a queda dessa civiliza??o há mais de 4.000 anos. No entanto, ao longo do tempo, esses rendimentos n?o ser?o sustentáveis ??devido à perda de solo vegetal, ao aumento da salinidade do solo e à falta de irriga??o, sem mencionar o alto custo da água e do combustível fóssil. Para que uma cultura seja bem-sucedida, ela deve produzir um comportamento humano coletivo que geralmente é adaptável ao ambiente natural.6.1.2 Apreender Quais s?o as maneiras pelas quais os indivíduos nascidos numa determinada sociedade aprendem a sua língua e a sua cultura, e os comportamentos que os indivíduos nessa cultura consideram apropriados? Qual é a rela??o do indivíduo com a sua cultura, as diferentes personalidades dentro das culturas e as formas de lidar com os indivíduos cujo comportamento está fora das normas da sua cultura? Isso se relaciona com a maneira de encarar as doen?as mentais em determinadas culturas e como os inovadores e rebeldes, em determinadas sociedades s?o considerados doentes mentais. A línguaO aprendizado da língua come?a antes mesmo do nascimento da crian?a. Recentes estudos e técnicas de pesquisa mostraram que o feto pode ouvir e distinguir a voz de sua m?e dos outros sons, como a música ou ruído, filtrados pelo líquido amniótico, já no último trimestre antes do nascimento. Os estímulos auditivos provocam mudan?as na frequência cardíaca do feto e nas respostas motoras, como chutar. Como se demonstrou o recém-nascido identifica imediatamente a voz de sua m?e, fica claro que esse reconhecimento é aprendido no período pré-natal, quando o feto aprendeu a reconhecer os tons de voz e o estresse da m?e (Karmiloff e Karmiloff-Smith 2001: 43-44).Os bebêsEstudos sobre a percep??o da fala dos bebês mostraram que “os bebês quando nascem percebem quase todas as tonalidades da voz e s?o capazes de. . . aprender qualquer linguagem natural ”(Tomasello e Bates 2001: 16). Aos quatro dias ou mais cedo, os recém-nascidos sabem distinguir os fonemas e perceber as sílabas. Eles podem distinguir a diferen?a entre as características rítmicas da linguagem da m?e e outras línguas. Os bebês franceses chupam com mais for?a quando ouvem francês e menos quando ouvem russo. Entre seis e doze meses, as crian?as perdem a capacidade de perceber os contrastes da fala enquanto se esfor?am de dominar a estrutura sonora da própria comunidade de linguística. Há uma linguagem especial que as m?es usam quando interagem com seus bebês. Em algumas culturas, as m?es podem falar com o feto. Repeti??es e perguntas com entona??o ascendente s?o usadas para atrair a aten??o da crian?a. O “tom agudo e exagerado de entona??o do bebê [torna] especialmente interessante para as crian?as” (2007: 110). Isso serve para demonstrar que “a din?mica da intera??o social desempenha um papel no interesse prestado pela crian?a frente à linguagem”. No entanto, Schieffelin mostrou que em algumas culturas os pais mal falam com seus bebês até que estes produzam a fala. Nesse ponto, eles conversam com a crian?a em linguagem adulta (1985). Há uma considerável mudan?a transcultural na medida em que os pais e outros adultos modificam a sua fala quando se dirigem às crian?as ou até falam diretamente com crian?as, mas as crian?as ainda aprendem a língua, portanto o desenvolvimento da linguagem n?o pode depender da linguagem usada pela m?e quando se dirige á crian?a.Os bebês inicialmente respondem às diferen?as fonéticas de uma maneira “neutra em termos de linguagem, mas sua percep??o da língua torna-se mais específica até o final do primeiro ano de vida” (Polka et al. 2007: 156). A de seis meses, os bebês adquirem a capacidade de distinguir o som da vogal duma língua diferente e come?am a declinar (Gerken 2007: 175). Há portanto um “filtro do idioma nativo” que entra em ac??o. A Crian?aA crian?a também se familiariza com o padr?o de palavras e com o padr?o de estresse, usado muitas vezes pela m?e. Nem sempre os bebes s?o capazes de detectar o significado da linguagem adulta. Até agora, temos nos preocupado com a percep??o infantil da fala, mas o que dizer da produ??o de fala pelos bebês? Entre dois e três meses de idade, o bebê aprende a criar sons, o bebê produz sons n?o-lingüísticos; entre quatro e seis meses, seu balbucio marginal consiste em sons semelhantes a vogais e consoantes; a partir de sete meses, há uma passagem para as vogais e consoantes tais como s?o produzidas; aos dez meses, a língua nativa do bebê come?a a afetar os tipos de sons produzidos; logo após o primeiro ano, a produ??o de palavras geralmente come?am (Karmiloff e Karmiloff-Smith 2001: 56, 57).As meninasA constru??o do vocabulário infantil relaciona-se a fatores externos como o sexo - as meninas tendem a produzir a linguagem mais cedo do que os meninos porque o cérebro das meninas amadurece um pouco mais rápido. A competência e inteligência linguística das m?es, o nível socioecon?mico materno, a educa??o dos pais, a competência social e as atitudes em rela??o à educa??o dos filhos também s?o fatores relacionados à maneira como os pais interagem com a crian?a (Karmiloff e Karmiloff-Smith 2001: 60). Embora os bebês n?o produzam palavras compreensíveis até entre doze e vinte meses, eles podem entender as palavras antes desse ponto. Apreender a falarFoi recentemente demonstrado que crian?as até quatorze meses também podem aprender palavras referidas a objetos (Disendruck 2007: 271). Como Saffran e Thiessen observam, “um processo que é crítico para a aprendizagem de palavras é a capacidade de detectar correspondência entre palavras e objetos e formar uma associa??o entre eles” (2007: 74). Aos vinte e quatro meses, as crian?as pequenas podem produzir cinquenta palavras diferentes. A princípio, palavras isoladas s?o usadas para designar conceitos e categorias inteiras - o uso da palavra cachorro para todos os animais de quatro patas. Aprender os significados das palavras n?o ocorre no vácuo. O desenvolvimento cognitivo e os constrangimentos sociais (isto é, aspectos do ambiente social da crian?a) desempenham um papel na aprendizagem de línguas. Como Baldwin e Meyer notam: “Desde os 12 meses de idade, as próprias crian?as se deixam conduzir pelo indica??es provenientes dos adultos para formular as inferências sobre referência e significado” (2007: 100 ). De acordo com as evidências, a idade em que os bebês come?am a detectar primórdios de sintaxe varia de sete meses para o meio e o segundo ano (Gerken 2007: 184-85).6.1.3 Aprendizagem culturalA aprendizagem de formas linguísticas específicas está intimamente relacionada ao contexto cultural no qual a aprendizagem ocorre. As crian?as de Bakongo passam seus primeiros anos de vida em contato próximo com as m?es. Relacionamento com a m?eDesde quando nasce até três anos de vida, uma crian?a pode se unir tanto quanto deseja ao peito de sua m?e, tanto de dia quanto de noite, e chupar várias vezes. ? noite o bebê dorme com a m?e e durante o dia ela o carrega sempre consigo, seja quando trabalha como quando viaja, mantendo-o amarrado às costas com um pano com os nós amarrados no peito. Os momentos de separa??o física entre os dois s?o curtos e limitados às visitas de parentes que querem levar o bebê nos bra?os e acariciá-lo, mas sempre sob o olhar atento da m?e. A separa??o entre os dois ocorre a partir do terceiro ano e por iniciativa da crian?a atraída pelos jogos dos outros amigos ao redor da aldeia. No entanto, a m?e está sempre presente para intervir sempre que seja necessário.Relacionamento com o paiO pai é afetuoso, carinhoso e indulgente e estabelece um relacionamento próximo com seu filho, o tempo que ele leva para entreter seu filho é obviamente inferior ao da m?e. Muitas vezes evita aquelas tarefas n?o muito agradáveis exigidas pela higiene e prefere devolver a crian?a à m?e mesmo quando o bebê chora. A rela??o entre pai e filho nunca é autoritária, é afetuosa, íntima e compartilha com ele o mesmo espa?o em que vive e dorme. A informa??o sociocultural é codificada na organiza??o da conversa??o e, desde a mais tenra inf?ncia, as crian?as adquirem conhecimento cultural, pois est?o envolvidas em tais intera??es. Relacionamento com os outros? medida que as crian?as aprendem a linguagem daqueles que as cercam, das pessoas que cuidam delas e das pessoas com quem elas interagem, elas também aprendem papéis sociais, a respeitar os idosos, a ser autónomas, a ter iniciativas. As crian?as aprendem os formulários de solicita??o apropriados para operar com sucesso nas atividades de reciprocidade e interc?mbio importantes que organizam a sociedade. Elas aprendem valores culturais e um comportamento apropriado no seu próprio contexto cultural. Há formas particulares de linguagem relacionadas a formas corretas de comportamento em cada sociedade onde às crian?as s?o ensinadas. As crian?as pequenas sempre têm ao seu redor a m?e e o pai ou, de qualquer forma, uma irm?. Desmamar a crian?aO idílio é quebrado pelo desmame que a maioria das crian?as n?o aceita, de fato, a amamenta??o dá à crian?a um bem-estar físico e emocional. N?o é incomum ver a m?e oferecer uma bola de funji à crian?a enquanto o pai entrega o copo com vinho de palma. Quando uma crian?a nasce, o irm?o mais novo deve relutantemente desistir do seu lugar privilegiado ao lado da m?e e n?o sendo ao centro das aten??es, como estava habituado, muitas vezes reage com raiva e protestos contra os pais e contra o recém-nascido. As crian?as bakongo amam ser levadas por cima do ombro e logo aprendem a alargar as pernas e os bra?os para se fixarem nas costas da m?e ou irm? que os amarra. 6.1.4 Socializar: Irm?os e amigosEstrutura social e a personalidadeEm todas as sociedades, as pessoas s?o minimamente diferenciadas de acordo com a idade e o sexo. Indivíduos que comp?em uma sociedade ocupam diferentes posi??es sociais, diferentes status na sociedade. Além disso, Existem muitas outras bases para diferencia??o. Indivíduos que ocupam diferentes status dentro. ? provável que a mesma sociedade tenha características de personalidade diferentes. Por exemplo, o candongheiro, o polícia, os rapazes que vendem na rua... uma sociedade terá personalidades um pouco diferentes dos n?o-membros da mesma sociedade. O deputado, um político, tem uma personalidade um pouco diferente dos seus chauffeurs. Estas diferen?as nas características de personalidade resultam de diferen?as na socializa??o. Existem duas maneiras de ver essa rela??o entre status social e personalidade. Na primeira vis?o, os indivíduos com certos tipos de características de personalidade gravitam em dire??o a esses papéis sociais ou ocupa??es que atendem às suas personalidades. Por exemplo, na nossa própria sociedade luandense, os indivíduos que s?o autoconfiantes, assertivos e dispostos a correr riscos gravitam para posi??es empreendedoras no mundo dos negócios. Outros, com tra?os de personalidade, com tendência para intelectualizar e uma curiosidade sobre o mundo, mas uma sensa??o de desconforto em lidar com outras pessoas, é mais provável que se tornem cientistas e fa?am pesquisas.No segundo ponto de vista, as pessoas que se movem em papéis sociais específicos sofrer?o personalidade mudan?as trazidas pelas demandas do papel. Um exemplo clássico disso é Nelson Mandela, que, como preso político, era um espírito livre, que cuidava e conduzia a lideran?a do ANC e o processo de independência. Quando Mandela foi nomeado presidente da Africa do Sul, ele prosseguiu em se comportar de acordo com esse papel. Ele n?o mudou de op??o fundamental em prol da humanidade defensor comprometido de uma causa moral que escolheu até o martírio na cadeia op??o que o conduziu até a Presidência sem trair os seus princípiosA m?e, enquanto cozinha, deixa a crian?a aos cuidados das outras crian?as mais velhas, e é aqui que a crian?a é for?ada a se arrastar no ch?o e depois andar sob os olhos divertidos de seu pai. ?s seis ou sete anos, a crian?a come?a a acompanhar sua m?e no regresso a casa com seu pacote de madeira ou com o jarro de água na cabe?a. A rela??o íntima estabelecida entre m?e e filho dá muita for?a e coragem à crian?a: a crian?a chega a se manifestar agressiva amea?ando os irm?os e depois refugia-se nas saias da m?e. Durante os primeiros anos de vida, a crian?a torna-se objeto exclusivo da aten??o da m?e, uma vez atingidos os três ou quatro anos, sentir?o menos a necessidade de recorrer à m?e. A partilhaOs jogos barulhentos das outras crian?as se tornar?o mais interessantes. Embora os bebês n?o articulem palavras compreensíveis até doze e vinte meses, eles podem entender as palavras que lhes s?o dirigidas. Foi recentemente demonstrado que crian?as até quatorze meses também podem aprender palavras referidas a objetos (Disendruck 2007: 271). Desde a primeira inf?ncia, as crian?as s?o educadas para compartilhar suas próprias coisas com os outros. Entre as primeiras palavras que aprendem a repetir e usar há verbos como o ?dar? (vana) e ?tomar? (baka). Eles dificilmente compartilham seus pertences ou alimentos com pessoas que consideram desagradáveis, muitas vezes, de fato, dar ou tirar s?o maneiras que eles usam para expressar raiva, ciúmes, ressentimento ou amor. Partilhar a comidaN?o é incomum ver uma m?e que repreende o filho que n?o quer compartilhar a sua comida com outros irm?os. As observa??es feitas a este respeito por Max Gluckman para os Bemba adaptam-se muito bem também ao Bakongo. ?A crian?a ent?o aprende muito cedo que certos parentes têm o direito de esperar coisas dele e s?o obrigados a oferecer aos outros. 'Comida é algo sobre o qual seus irm?os e irm?s têm direitos bem definidos ... ele é ensinado que eles podem tomar posse de qualquer deleite que eles comam? (1965, p.76).Os meninos muitas vezes recebem um tratamento especial só por eles, mesmo em períodos em que a comida é escassa, isso muitas vezes gera ciúmes e pequenas vingan?as nos irm?os. DisciplinaOs pais tornam-se com eles indulgentes principalmente quando choram, o choro, na verdade, muitas vezes gera a censura dos adultos em rela??o aos pais acusados de n?o saber como cuidar de seus filhos. Em torno de quatro a seis anos de idade, há técnicas disciplinares “como amea?ar, repreender, envergonhar e castigar fisicamente se tornar?o aceitáveis e ser?o frequentemente aplicadas”. Uma variedade de dispositivos linguísticos é usada para comunicar que ocorreu uma transgress?o. (Rosman 2009:70). ? raro testemunhar entre os Bakongo a espancamentos, amea?as ou puni??es físicas contra crian?as. O Ngudi a nkaziNestes casos, as crian?as aprendem imediatamente a refugiar-se nos tios maternos, culpando os pais muito severos. Em tempos de conflito com os pais, as crian?as preferem morar nas casas do tio materno (ngudi a nkazi), entretendo-se por meses. ?Após o nascimento, o indivíduo está na frente de um corpo de suas próprias tradi??es e etnia a inf?ncia você estabelecer um diálogo a vários níveis, entre ele e o organismo social? (Leroi-Gourham de 1965: 269).O jogoDurante o período de desenvolvimento físico, as crian?as praticam jogos e atividades que facilitam seu crescimento, tanto em termos do corpo, tanto na esfera social quanto cultural. A vida na aldeia oferece às crian?as um ambiente rico e seguro para brincar. As crian?as têm livre acesso a toda a área da aldeia, e passam o dia indo encontrar outras pessoas dentro das cabanas brincando em grandes áreas comuns, limpas do capim e arbustos, à vista das cabanas que formam o perímetro da aldeia. Os jogos geralmente imitam atividades produtivas dos adultos; por exemplo, as meninas brincam com pequenas enxadas usadas para semear jinguba, os meninos se organizam para ca?ar em grupos de amigos excluindo e desprezando crian?as n?o circuncidadas.?Em alguns casos, essas imita??es das actividades dos adultos se tornam realidade, ent?o as crian?as v?o procurar raízes e fruta na área ao redor da aldeia ou até mesmo capturam pequenos animais e pássaros? (Shostak, 1981, p.136).?s vezes, para jogar, eles saem deste círculo perto de árvores frutíferas (Mangos, Cajueiros), ou cursos de água. Os adultos raramente intervêm nos jogos das crian?as, só os observam de longe e comentam seus movimentos sorrindo, às vezes intervêm em caso de brigas, evitando que se machuquem. N?o é incomum notar o sinal de queimaduras nos corpos das crian?as, o fogo, na verdade, constitui o maior perigo, e as queimaduras menores ou sérias ocorrem com frequência alarmante. Apesar dos avisos, as crian?as costumam brincar com brasas, correm aqui e ali com esguichos de fogo nas m?os e muitas vezes acabam incendiando cabanas e campos. As m?es n?o se importam muito com os danos que as crian?as podem causar às coisas e deixam que elas andem livremente pela aldeia. 6.1.5 ActividadesO trabalhoN?o é incomum ver crian?as empunhando facas e catanas com l?minas gastas, elas usam isso com grande facilidade sem se machucar. A educa??o escolar nas aldeias é às vezes inexistente, apesar das estruturas escolares, e as crian?as já n?o recebem a instru??o continuando aquela que foi dada durante a inicia??o, pelo que a aprendizagem é baseada na prática e na observa??o, e é precisamente nestes grupos que as crian?as adquirem conhecimento que as levará a se tornarem adultos. Desde o nascimento até as crian?as de sete anos sempre acompanham a m?e que cuida da sua educa??o. Durante este período n?o é adotada nenhuma diferen?a entre crian?as ou meninas: existe uma educa??o comum. Mesmo entre os Bakongo e na maioria das sociedades africanas, as crian?as contribuem consideravelmente para a economia da aldeia. Depois de sete anos, uma etapa importante é alcan?ada, os machos geralmente seguem o pai nas tarefas diárias: ca?a, pesca e agricultura.?Os pais n?o tomam nenhum cuidado especial com a educa??o de seus filhos. Eles se contentam em inspirar neles um certo medo vago da Divindade, da qual eles mesmos têm idéias muito confusas. Eles manifestam, pelo seu exemplo e n?o pelos discursos, a respeitar suas práticas supersticiosas, para evitar mentiras, roubo e perjúrio. Eles também recomendam respeito pelo Ganga ou pelos ministros e habitantes da aldeia. Eles d?o-lhes essas li??es quando se apresenta a ocasi?o? (Proyart, 1776, 96).A ca?aA capacidade e a inclina??o para a ca?a s?o cultivadas desde a primeira inf?ncia. As mesmas crian?as procuram elásticos para as fisgas. Eles passam a maior parte do tempo atirando em alvos fixos e, em seguida, nas numerosas aves que povoam a floresta. A capacidade de reconhecer e interpretar as pegadas deixadas pelos animais é adquirida ao longo do tempo através da prática e acompanhamento dos adultos. Com a idade de dez anos, eles aprendem a montar as armadilhas, aplicando as técnicas aprendidas com os adultos e colegas mais experientes. ? uma honra especial acompanhar na ca?a o pai. Meninas com a m?eQuando as m?es saem para ir nas lavras, preferem levar as crian?as consigo para que possam trabalhar sem serem incomodadas. A maioria das crian?as prefere ficar em casa e brincar com outros colegas. Brincar com os amigos é, sem dúvida, mais divertido do que acompanhar a m?e nas longas jornadas. As meninas mais velhas seguem a m?e para o rio, para a floresta, para os campos.?As meninas s?o t?o trabalhadoras quanto suas m?es. Sempre ao lado delas, compartilham com elas o trabalho mais duro dos campos e todo o cuidado da casa. Elas recolhem lenha nas florestas e catam água no rio, que está perto? (Proyart, 1776, pp. 96-97).Neste período os meninos aprendem a realizar atividades produtivas, cuidar dos irm?os mais novos, quando a m?e está ausente, ou realizar tarefas úteis como buscar água, descascar jinguba, etc. Também come?am as primeiras distin??es no trabalho a ser feito com base no sexo. As meninas s?o dedicadas a tarefas domésticas, como preparar a farinha pisar a mandioca no almofariz; as crian?as preparam pequenos artefactos com galhos de palmeira. A distin??o das atividades é notada acima de tudo aos 12 anos, quando as meninas acompanham as m?es nos campos aprendendo a semear e a cultivar. Os machos, pelo contrário, aprendem a fazer armadilhas para os animais e a pegar ratos. Eles treinam para usar a catana, cortar árvores, transportar as colheitas e armazená-las; eles também aprendem a usar plantas medicinais para feridas, a subir nas árvores de mangos e nsafu.6.1.6 Factores educativosEduca??o sexualAs meninas recebem suas primeiras instru??es sexuais da m?e e da tia materna (ngudi a nkazi). As crian?as e meninas Bakongo brincam juntas e compartilham quase todos os momentos recreativos, n?o s?o separadas com base no sexo e nem no género; ninguém é educado a reprimir emo??es inerentes à natureza humana. De facto, as crian?as s?o deixadas livres e essa liberdade se traduz em jogos de grande inventividade e energia, que enchem a maior parte do dia.Os Bakongo n?o acusam seus filhos de responsabilidade; quanto às meninas, elas n?o atribuem nenhum valor à virgindade. Somente depois da acultura??o ocidental as mulheres aprenderam a esconder e cobrir seus corpos. Ent?o as meninas desfrutam da mesma liberdade que os meninos. De sua parte, as crian?as, escutando os velhos, s?o informadas sobre o respeito que subjaz à moralidade social. Pais e filhos dormem juntos e dividem os cobertores em espa?os muito pequenos e muitas vezes em um único quarto sem paredes. Os adultos tentam impedir que as crian?as se conscientizem de sua atividade sexual, esperando que as crian?as adorme?am e ajam com grande discri??o. Pode acontecer que as crian?as mais curiosas finjam dormir para observar as efus?es de seus pais. AdolescênciaDurante a puberdade, os meninos come?am um período de transi??o construindo com seus pares uma cabana separada onde podem dormir. Os meninos cultivam uma consciência precoce e manifestam uma certa curiosidade sexual quando se banham no rio, n?o muito longe das meninas. A educa??o é fortalecida quando o menino socializa com seus companheiros da mesma idade; nessas circunst?ncias ocorre que os velhos intervêm para corrigir atitudes erradas usando histórias e provérbios (kingana).Portanto as crian?as s?o educadas e crescem partilhando ?normas comportamentais específicas centradas no respeito s?o necessárias para fazer a sociedade funcionar e garantir a sobrevivência? (Bolin 2006: 151). Esta é uma sociedade igualitária onde as crian?as s?o ?introduzidas numa cultura de respeito'. . . para outras pessoas e as divindades, mas [também]. . . para todas as formas de vida? (Bolin 2006: 33). As crian?as s?o criadas numa atmosfera permissiva e, em tenra idade, s?o ?introduzidas na lei n?o escrita da reciprocidade, que marca toda a vida kongo?. Eles crescem dentro de uma família extensa e participam de atividades adultas, aprendendo através da observa??o em um ambiente onde as crian?as s?o tratadas com respeito e assumem tarefas de trabalho quando se sentem prontas para elas. Embora a norma de reciprocidade também seja encontrada em muitas outras sociedades, há pouca informa??o sobre quando ela é introduzida no ciclo de vida. A autossuficiência é uma característica mais valorizada em algumas sociedades do que em outras. Com a idade de quatro anos ou até mais cedo, as crian?as percebem que as pessoas podem ter falsas cren?as e mentiras. Eles aprendem a dizer quando os outros est?o mentindo para eles e também como se mente. As crian?as aprendem a lidar com mentiras sociais. No entanto, é errado mentir para os filhos pequenos. Diferentes culturas enfatizam valores diferentes nas suas práticas de educa??o infantil. Enquanto alguns enfatizam sinceridade e autoconfian?a, outros enfatizam exatamente o oposto - que a crian?a deve aprender sua posi??o subordinada adequada em rela??o aos mais velhos. Algumas culturas enfatizam a necessidade de promover o apego entre pai e filho, e outros ensinam a crian?a a mentir para manter os sentimentos verdadeiros dos outros. ? evidente que cada cultura favorece um certo tipo de pessoa. Para conseguir isso, as crian?as s?o criadas para se comportarem de maneiras culturalmente desejáveis. 6.2 CasamentoO que é “PARENTESCO”? Como podemos identificar o parentesco em Angola? Na nossa sociedade, temos famílias, e uma rede de parentes além da família. Quando uma crian?a cresce e se casa, ele ou ela forma uma nova família. Famílias em Angola s?o alargadas s?o famílias linhaticas. Algumas pessoas pensam que este tipo de organiza??o de parentesco é universal. No entanto, em Angola, muitas sociedades têm três ou até quatro gera??es de famílias, incluindo avós, filhos casados e netos. Com tais famílias maiores os cuidados de crian?as pequenas e dos avós idosos deficientes n?o é um problema. Como consequência, eles n?o têm necessidade nem de creches e nem de lares de idosos que atendam a estas necessidades na nossa sociedade. Um angolano quando se encontra em séria necessidade financeira normalmente vai da seu tio para obter assistência. Cada irm?o deve primeiro olhar para seus próprios filhos. ”Muitas pessoas em Europa acham que a estrutura das suas famílias e o seu sistema de parentesco é o mais comum no mundo. Nas sociedades definidas como “sociedades linhaticas”, como aquelas angolanas, há três ou quatro gera??es de famílias e é um facto comum, e os irm?os vivem e partilham juntos. 6.2.1 LundulaNa verdade, acontece às vezes, quando um homem morre, seu irm?o toma o seu lugar e casa com a viúva (levirato: lundula). Se um homem é morto por um membro de outra linhagem, seu irm?o é obrigado a vingar a morte. As linhagens vivem em conjunto e todos s?o responsáveis pelas medidas tomadas por um membro do grupo, e a honra do grupo deve ser defendida. Os grupos étnicos das sociedades mais complexas muitas vezes usam da mesma no??o alargada de “fraternidade” ou parentesco para reivindicar que “somos todos irm?os”. Esta vis?o coletiva de irm?os pode ser contrastada com o individualismo da nossa própria sociedade, que leva os irm?os casados a separar-se, cada um favorecendo a sua própria família e esquecendo-se das outras. Na sociedade “livre”, a pessoa deve ter o direito de casar com qualquer um que ela escolhe. 6.2.2 PoligamiaNa Europa dizem que nós podemos ter uma, e só uma, mulher. Há regras rígidas sobre o sexo, mesmo nas sociedades livres as regras variam de um estado para outro. Normalmente, o sexo n?o pode ser praticado com uma idade inferior a dezasseis anos. Embora a poligamia foi praticada entre os angolanos das sociedades tradicionais, n?o é conveniente entre os angolanos de hoje ter mais de uma mulher por respeito à mulher, que deve ser respeitada n?o usada. Nas sociedades simples estudadas pelos antropólogos, a maioria da vida diária era organizada em base às rela??es de parentesco. Nessas sociedades de pequena escala, todo o comportamento religioso, económico e político tem lugar no contexto de uma estrutura social baseada no parentesco. ? por isso que o estudo do parentesco é t?o importante na antropologia. Mesmo com o aumento da industrializa??o e globaliza??o em tantas partes do mundo hoje o parentesco continua a ser um problema central. Como Parkin observa: “Muitas sociedades ainda pensam em termos de linhagens, sistemas de alian?a de afinidade, regras de residência e alambamentos, enquanto praticamente todos ainda est?o organizados em famílias de algum tipo e usam termos de parentesco para definir a própria identidade e classificar os parentes” (1997: IX- X). Mesmo com o incremento de pessoas do mesmo sexo, aumentaram os homossexuais, e as famílias lésbicas na América e na Europa Ocidental, estes novos modelos de famílias subvertem os valores clássicos tradicionais da família angolana, portanto é necessário definir a terminologia de parentesco e importante. 6.2.3 Regras do matrimonio Olhando para os que se casam, há regras de casamento que dizem respeito a uma organiza??o familiar, há padr?es de residência após o casamento, as formas linháticas e os grupos de descendência, e outros aspectos do parentesco, verifica-se que há um número limitado de possibilidades. Além disso, essas regras foram construídas desde ent?o na tradi??o, quando um casal decide de viver a sua vida no casamento relaciona-se com o tipo de família que ele terá, e que muitas vezes é a base para os tipos de grupos de parentesco maiores aos quais os noivos pertencem. Devemos lembrar também que estas s?o as regras para as sociedades em geral e que as práticas reais dos membros dessas sociedades podem muitas vezes variar a segunda do grupo étnico, como como também por todas as regras culturais, inclusive regras sobre um tema quente, como o incesto. Todas as regras culturais s?o passíveis de viola??o. Por exemplo, os registos dos Institutos de Saúde Mental documentam que algumas pessoas na nossa sociedade violaram o tabu do incesto. A discuss?o sobre o casamento, a família e o parentesco envolvem as regras e as dimens?es culturais da sociedades. Com o tempo, essas regras culturais subiram notáveis transforma??es. O parentesco ainda desempenha um papel crucial nas sociedades simples, apesar delas serem abaladas nas raízes, foram incorporadas aos impérios coloniais e, agora, em novas na??es. Historicamente, antes do advento do colonialismo e da mudan?a acelerada da cultura, quando os grupos tinham menos contacto uns com os outros, as regras de parentesco nessas sociedades eram muito mais óbvias. Hoje, os grupos de parentesco e parentes continuam a ter muito significado na vida das pessoas, quer permane?am nas suas aldeias rurais, quer migrem para procurar trabalho nas cidades em expans?o como Luanda, Lisboa ou Bruxelas. Até recentemente, acreditava-se amplamente que as rela??es de parentesco n?o fossem t?o vinculantes nas sociedades industriais modernas. O sociólogo Lewis Wirth formulou a hipótese de que, com o crescimento do urbanismo, os vínculos de parentesco enfraqueceram e diminuíram de import?ncia. A pesquisa sobre parentesco revelou exactamente o contrário. A falta de um ambiente onde as pessoas harmonicamente possam realizar a sua existência determinou o insurgir de novas formas que incidiram e modificaram o panorama tradicional das famílias como por exemplo as famílias compostas por homossexuais na América e famílias transnacionais na Europa, ?sia e Américas. Por último, há c?njuges que por motivo de trabalho n?o podem viver na mesma cidade ou país, mas ainda mantêm contacto por carta, telefone e e-mail.6.2.4 CASAMENTOQuase todas as sociedades conhecidas reconhecem o casamento. O ritual do casamento marca uma mudan?a de status seja para um homem como também para uma mulher (Van Gennep) e a aceita??o e reconhecimento por parte da sociedade onde a nova família se formou. No entanto, há grupos que n?o possuem rituais de matrimonio ou casamento. O casamento, como todas os outros factos culturais, é governado por regras que, como se verá, est?o conectadas entre si. Assim como as regras variam de uma sociedade para outra, o mesmo acontece com o ritual pelo qual a sociedade reconhece e celebra o casamento. No casamento, o noivo coloca um anel no terceiro dedo, da m?o esquerda, o anular, da noiva e repete a fórmula ritual: “ Recebe esta alian?a em sinal do meu amor, e da minha fidelidade, em nome do Pai, do filho e do Espirito Santo”. No casamento Kwakiutl, o noivo vem como um membro da família a uma festa de guerra fingindo de capturar a noiva subtraindo-a à casa de seu pai. Nos casamentos Kwakiutl e americanos, um grande número de convidados est?o presentes, servindo como testemunhas do casamento, significando que o casamento é mais do que um caso privado e é reconhecido publicamente pela sociedade. ?s vezes, o ritual pode ser t?o mínimo como nos casos dos Trobriandenses estudados por Malinowski, em que o casamento é simbolizado simplesmente pelo acto de comer em público. Em Luanda o casamento é o momento para exibir-se em público, agora as igrejas mudaram até o horário da celebra??o para permitir aos noivos de farrar toda a noite nos melhores hotéis da cidade, e aquilo que poderia ter servido para enfrentar as graves situa??es económicas iminentes, gasta-se num dia só para aparecer a frente de todos com uma performance construída no momento. E torna-se actual o ditado: Val mais um dia como le?es que cem como ovelhas. Um casamento completamente globalizado que colocou de lado aquele tradicional. 6.2.5 Proibi??es de casamento. ?As sociedades também têm regras que indicam quem se pode e quem n?o se pode casar. As regras sobre quem n?o se pode casar est?o diretamente relacionadas ao tabu do incesto, que é vinculante em todas as sociedades e, portanto, pertence a um universal cultural. O tabu do incesto proíbe as rela??es sexuais entre certas categorias de parentes próximos. Quase universalmente, as categorias proibidas incluem m?e e filho, pai e filha, e irm?o e irm?. Uma vez que os parceiros sexuais n?o podem ser procurados dentro da família imediata por causa do tabu do incesto, eles devem ser procurados noutro lugar. O tabu do incesto que proíbe as rela??es sexuais também proíbe necessariamente o casamento, já que o casamento quase sempre inclui acesso sexual ao partner. Existem alguns exemplos impressionantes de casamento entre membros da família imediata que violam a universalidade do tabu do incesto. Entre os faraós do antigo Egito, como Tutankhamon, o rei menino, bem como entre as linhagens reais do Havaí e os Incas no Peru, o irm?o e a irm? se casavam. Em cada caso, o governante teve que se casar com alguém de igual qualidade e quem poderia ser melhor qualificado do que o seu próprio irm?o ou irm??6.2.6 Exogamia e EndogamiaO casamento dentro do grupo é chamado de endogamia e o casamento fora do grupo é chamado de exogamia. A regra da exogamia, como o tabu do incesto, exige que membros do grupo busquem c?njuges fora de seu próprio grupo. Uma regra de exogamia é frequentemente conceituada como uma extens?o do tabu do incesto. Entre os ilhêus das Trobriand, o termo suvasova é usado para o tabu do incesto e também se estendeu para proibir as rela??es sexuais e o casamento com mulheres do próprio grupo entre parentes maiores, ou dala, que todos chamam de irm?s. Uma regra da endogamia exige que os indivíduos se casem com seu próprio grupo e proíbe-os de se casarem entre eles. Grupos religiosos como os amish, os mórmons, os católicos e os judeus têm regras de endogamia, embora estas sejam frequentemente violadas quando o casamento ocorre fora do próprio grupo. As castas na ?ndia e no Nepal também s?o endog?micas. Regras de exogamia criam elos entre grupos, enquanto as regras da endogamia preservam os membros da separa??o e usam da exclusividade como de um meio para manter limites entre um grupo e outros grupos. Nesse sentido, os casamentos entre irm?os e irm?s mencionados acima atingem o limite absoluto da endogamia, a fim de preservar a santidade e o poder dentro das próprias famílias dominantes dessas sociedades. Mais típicos s?o os casos em que a família imediata é exog?mica, enquanto o grupo maior, frequentemente um grupo étnico ou seita religiosa, é endog?mico.6.2.7 Troca de irm?sUma vez que uma regra de exogamia exige que os c?njuges venham de fora do grupo, os relacionamentos s?o criados através do casamento com outros grupos. Se um homem n?o se pode? casar com sua própria irm?, ele dá a sua irm? a alguém de outro grupo. De acordo com o princípio básico da troca, algo dado deve ser devolvido com o equivalente. Se um homem aceita a irm? de outro homem, ele deve, portanto, devolver sua própria irm? como equivalente. Afinal, o receptor também n?o pode se casar com sua própria irm?. Várias sociedades do mundo têm uma regra que exige que dois homens troquem irm?s; Os antropólogos referem-se a isso como troca de irm?s. Se um homem n?o tem uma irm? biológica, ele atribui a uma que tornou-se sua mulher o mesmo termo de parentesco que ele usa para com a sua irm?. Recentemente, os antropólogos feministas argumentaram que essa forma de casamento poderia ser t?o facilmente denominada como a troca de irm?os. No entanto, numa sociedade onde s?o os homens a mandar, isso é visto como troca de irm?s "do ponto de vista do nativo". Quando Margaret Mead foi estudar, juntamente a Gregory Bateson, os Arapesh das montanhas na Nova Guiné, ela perguntou por que eles n?o se casavam com as suas próprias irm?s, esperando uma resposta indicando repulsa ao mesmo pensamento. Em vez disso, o informante da Mead declarou: "Qual é o problema que tu tens com isso? Você n?o quer um cunhado?" (Mead 1935: 68). Isto é porque, entre os Arapesh, uma ca?a, cultiva e viaja juntamente ao seu cunhado. Assim, o casamento cria um vínculo n?o só entre marido e mulher, mas também, por meio da esposa, entre dois homens que tornam-se cunhados uns dos outros.6.2.8 AlembamentosEm muitas sociedades, o casamento envolve uma transferência ou troca de bens. ?s vezes, os alembamentos s?o feitos por parte do noivo e? da sua família à família da noiva, como ocorre entre os Bakongo. Este pagamento é conhecido como lóbola. Em outros casos, como entre os Kwanhama, a noiva traz consigo os seus bois no casamento. Isso é conhecido como dote, e os bens se movimentam na dire??o oposta aos alembamentos. Nas sociedades que praticam a troca de irm?s, como op??o para dar o alembamento se n?o tiver uma irm? para trocar. No entanto, também é comum encontrar a pratica da troca de irm?s acompanhada pelo alembamento, de modo que os grupos trocam entre si seja os alembamentos como também mulheres e noivas. Na China pré-revolucionária, tanto a noiva quanto o dote eram pagos.6.2.9 Presta??o de Servi?o como troca?s vezes, o noivo presta trabalho para obter a noiva, isto substitui o alembamento da noiva. Quando o noivo trabalha para a família da sua esposa, isso é conhecido como servi?o de noiva. Pode-se lembrar que, no Antigo Testamento, Jacob trabalhou por sete anos para se casar com Lia, e depois outros sete anos para se casar com Raquel, a irm? mais nova de Lia, realizando ent?o catorze anos de servi?o de noiva para com o seu sogro. O servi?o da noiva também foi praticado pelos Yanomamo, um povo que vive nas terras baixas do Venezuela. Durante este tempo, o noivo vive com os pais da noiva e ca?a por eles. Uma vez que os Yanomamo também têm troca de irm?s, pode-se dizer que durante esse período de servi?o de noiva, eles realmente est?o praticando troca de irm?os. Após o período de presta??o de servi?o para obter a noiva acabar, o marido leva a sua esposa para viver com ela no seu grupo. O Apu Tani, um povo tribal na ?ndia, normalmente paga mithun, um grande bovino domesticado como alembamento quando se casam. Quando um homem n?o tem mithun para dar, ele realiza prsta??o de servi?o de noiva para com seus sogros (Rikam 2006: 344, 354). Depois que o servi?o acabar, ele levará sua esposa consigo para casa, no entanto, esta presta??o de servi?o para obter a noiva abaixou o seu status social.O casamento é tanto uma categoria cultural quanto um evento ou uma série de eventos. Nas páginas seguintes vamos analisar o casamento das sociedades Bakongo. Ao examinar o casamento Bakongo vamos evidenciar como o casamento ilustra temas específicos da sociedade angolana. No entanto, como se verá, existem também semelhan?as fundamentais com outras sociedades. Essa descri??o do casamento kongo é baseada em fontes antigas, dados etnográficos obtidos no campo como o método da observa??o participante entre os Bakongo. O casamento bakongo ?A família linhatica é a base econ?mica da sociedade kongo. N?o deve ser confundida com o chamado 'grupo nuclear? que, segundo Davidson, é:?uma daquelas abstra??es antropológicas confortáveis ??porque elas traduzem o exótico com pouca distor??o em conceitos familiares? (Davidson 1969: 41).Portanto, a unidade econ?mica e social fundamental é a família extensa, composta de três ou quatro gera??es; apresenta-se como unidade auto-suficiente de produtores e consumidores em rela??o à reciprocidade com outras famílias de linhagem. De fato, é capaz de existir somente dentro de uma comunidade de famílias semelhantes (ibid.). Segundo Sahlins (1972) a família respeita o modo domestico de produ??o cujos principais aspectos, segundo ele, seriam1) divis?o sexual do trabalho baseada na família nuclear2) rela??o entre o homem e mulher e o seu instrumento de trabalho manipulado individualmente3) produ??o de bens destinados a satisfazer as necessidades básicas 4) exercício de um direito sobre as coisas através do direito sobre as pessoas5) circula??o de bens baseada na frui??o (Meillassoux 1978: 10) A família linhática do Bakongo inclui uma linhagem ou descendência matrilinear. Os homens e mulheres que pertencem a uma linhagem se casam com homens e mulheres doutros grupos linháticos. N?o é possível sobreviver sem entrar em relacionamentos com indivíduos de outras linhagens. As pessoas autorizadas a estabelecer essas rela??es s?o pessoas influentes que pertencem à estrutura linháticas matrilineares. S?o os irm?os da m?e que est?o preocupados com tudo o que é necessário para a saúde dos filhos das suas irm?s. Esta preocupa??o n?o se limita a administrar os bens materiais necessários para o sustentamento, uma vez que Ekholm observa?Eles deveriam proteger a gera??o mais jovem e fazê-la ?desenvolver através do seu poder especial. Eles poderiam, no entanto, também ser submetidos a influências negativas? (Ekholm 1991: 130).As consequências dessa prote??o s?o desastrosas quando os interesses da linhagem colidem com os interesses individuais. A vontade individual é sacrificada pela 'raz?o de estado' linhática e, eventualmente, aqueles que n?o est?o sujeitos a ela s?o punidos; é o caso das mulheres que se recusam a casar-se com os homens que a linhagem estabeleceu. A puni??o consiste na esterilidade expressa com o verbo bindika, ou seja, o encerramento da barriga:?O tio podia usar seu poder e os filhos e filhas de sua irm? para fechar (bindika) sua capacidade produtiva e reprodutiva.' Isso foi feito, por exemplo, a uma mulher quando ela se recusou a casar com o homem que seu tio havia escolhido ... Aconteceu também quando o tio estava insatisfeito com sua parte da riqueza da noiva? (Ekholm 1991: 130).A mulher que n?o cuida das opini?es da sua linhagem quer seguir o seu desejo, sabe que incorre nas desgra?as da família; se ela desafiar todos tendo êxito no seu intento, a sua atitude será fixada com uma express?o kikongo dya e kandu, quer dizer que está 'sujeita ao interdito'. O nome da crian?a que nascerá deste desafio que n?o foi aprovado será mwan'a kandu, ou seja 'interdito infantil'. Estas s?o as notícias reportadas por Weeks:?Se uma garota quer casar-se com um homem que n?o aprova, ou se recusa a casar com o que for decidido, eles a amaldi?oam ou, como dizem,' dia e kandu ', comem com uma maldi??o, ou interditam com uma maldi??o A pessoa amaldi?oada é 'mwan'a kandu' ou filho da maldi??o? (Weeks 1909: 472).Embora nos últimos anos as meninas tenham se casado por volta dos dezoito anos, nas gera??es anteriores, as duas famílias concordavam em casar-se mesmo em idade precoce. Os jovens eram apreciados pela família da namorada apenas quando demonstravam a sua capacidade de sustentar a família. Independentemente da idade em que uma menina era casada, em geral, as rela??es sexuais n?o eram praticadas se a menina n?o demonstrava a maturidade sexual, que é culturalmente relatada com o período do primeiro período menstrual. Portanto, a linhagem exerce a máxima vigil?ncia para que nada possa perturbar a menagem familiar:?Se todos estivessem satisfeitos, eles deveriam dar uma bên??o que eles poderiam dar à luz (...). De acordo, o casamento seria frutífero. Se, por outro lado, houvesse um desagrado por uma raz?o ou outra, o casamento seria infeliz, e se alguém pronunciasse a maldi??o, a noiva n?o poderia engravidar, ou a experiência de gravidez. No Congo de hoje, esta é ainda uma das principais explica??es para a esterilidade? (Ekholm 1991: 130).Com o casamento, a mulher passa de um estado de liberdade para o controle sexual total do marido. No entanto, se a partir desse ponto de vista a mulher se torna submissa ao marido, em contrapartida o casamento fortalece a sua socializa??o. Aquilo que Junod relata das etnias mo?ambicanas, aplica-se também ao casamento dos Bakongo que é um contrato entre duas linhagens, a saber, do marido e da esposa:'O casamento é uma transa??o em que o marido ou o marido do grupo, fornece um benefício para adquirir uma esposa e assim manter e expandir o seu grupo' (Junod 1936: 235).Como observa George Frazer, esta è uma transa??o lucrativa que provem sobretudo do trabalho doméstico desenvolvido pela mulher com filhos, nas lavras ela cultiva, nos rios carta água e nas matas procura lenha:?A maior posse que um homem possa ter é sua esposa, n?o só para ela suportar o crescimento das crian?as, que ajudam e que s?o uma fonte de ganho para a linhagem de várias maneiras, com o objetivo que ela assim faz a maioria do trabalho duro transportando a bagagem bem como as crian?as no mercado Construindo o abrigo temporário de cubatas onde eles passam a noite, apanhando lenha, indo buscar água, e procurando todo o alimento vegetal da família? (Frazer 1919: 194).Estes motivos induzem os machos ao casamento, de facto seria extremamente humilhante e digno de reprova??o social fazer os trabalhos que competem às mulheres. Matrilinearidade e patrilinearidade Segundo a antropologia clássicas a descendência se estabelece sobre dois eixos: a patrilinearidade e a matrilinearidade. Na matrilinearidade a prole pertence à família materna donde teve origem a m?e,; neste caso a descendência se estabelece através das irm?s e das filhas dos homens da comunidade. O tio materno (irm?o maio por parte da m?e) exerce autoridade sobre os filhos da sua ou das suas irm?s.Na descendência patrilinear a prole de uma mulher pertence à comunidade do esposo reconhecido por ela. Trata-se do clássico relacionamento pai-filho das sociedades ocidentais (Meillassoux 1978: 32)O esquema matrilinear influi sobre as regras do casamento e sobre a residência da família kongo. A partir da série de investiga??es feitas no campo, entre os Exicongo surgiram vários casos de que o casamento foi combinado pelos idosos da família, ainda quando os esposos eram em tenra idade. Nestes casos, o menino cresce perfeitamente sabendo que esta menina é sua esposa e se sentirá obrigado a mostrar seu respeito e prestar servi?os que ser?o necessários para a família da sua futura o já mencionado, o sistema parental kongo é essencialmente baseado no casamento, considerado como a institui??o que confere da continuidade à linhagem. O parentesco na linha paterna (kise) é de grande import?ncia, especialmente entre os Bassolongo (Vansina 1976: 22); De fato, todo indivíduo tem o nome de seu pai como segundo nome. Os tabus alimentares vêm da linhagem paterna. Além disso, precisamente por causa do conceito da família extensa, o casamento é estritamente regulado por proibi??es e tabus que vêm da tradi??o antiga. O objetivo é evitar o incesto e encorajar a exogamia. George Frazer relata que entre os Bakongo que vivem no estuário do Congo:?no vale inferior do Congo, um homem n?o pode se casar com seu primo directo, a filha do irm?o de seu pai; mas ele pode casar com sua prima cruzada, a filha da irm? de seu pai. Aparentemente ele é proibido de se casar com sua outra prima cruzada, a filha do irm?o de sua m?e, pois nos é dito que 'um homem n?o pode casar ou ter rela??es com nenhum componente da família de sua m?e que ele denomina mam?e? (Frazer 1919: 157).O alembamentoO casamento também é um investimento econ?mico recebido através do alembamento, o que provoca a aprova??o da linhagem. Nesta senda as despesas podem ser exorbitantes e o receber convidados com presentes opulentos é uma forma de demostrar o status elevado e adquirir grande prestígio. As quantidades de bens materiais envolvidos no alembamento foram obtidos com o dinheiro ganho no trabalho local ou nas empresas ou no emprego ou obtidos com a ajuda da família. Os ativos pagos s?o parcialmente distribuídos aos membros mais destacados para que todos fiquem satisfeitos.A olhos inexpertos o alembamento podia parecer uma troca comercial ao invés de uma oferta de dons para o casamento de duas pessoas. E de facto muitas vezes o alembamento corre o risco de ofuscar completamente o objetivo principal do casamento - a uni?o de um homem e uma mulher para estabelecer uma família.A primeira etapa para um casamento kongo é o início das negocia??es entre os tios maternos dos jovens, às vezes até sem o conhecimento deles. Primeiramente os mensageiros do lado do noivo e os tios s?o enviados para os tios da noiva pedindo a noiva em casamento. Apresentam-se com um garraf?o de maruvu. Mesmo hoje o casamento se baseia no alembamento (nzimbu za nlongo) muitas vezes interpretado como compra da mulher (Frazer 1919: 22. 98), mas de facto é uma valoriza??o da mulher:?O alembamento tem tido muitos detractores europeus que por vezes consideravam o alembamento como compra da mulher. A Verdade porem è que o alembamento tem por fim prestigiar a noiva. A Mulher cujo marido n?o tenha pago o alembamento è considerada apenas como amante? (Felgas, 1965: 64).Os missionários apoiados pelo governo colonial lutaram para abolir o uso da alembamento e impor o sistema de noivado em uso entre os europeus. Segundo a mentalidade deles, este costume africano era repreensível e digno de ser abolido pois era interpretado como um sinal da escravid?o feminina. Malinowski sugere de n?o ver no pagamento da noiva um mero processo comercial, mas uma recompensa, entregue à família pelo dano sofrido a causa da priva??o de um membro que prestava servi?os essenciais (Malinowski 1937: 28). Hélio Felgas também confirma que:?tendo em conta o importante elemento de trabalho que è a mulher indígena, o alembamento representa ainda uma compensa??o dada aos pais da noiva pela m?o-de-obra que lhes sai de casa? (1965: 64).O alembamento, portanto, deve ser considerada como um pagamento versado à família da menina, em compensa??o pela perda que a família sofre ao dar-se em casamento (Radcliffe-Brown 1972: 48).?Um dos grupos perde um dos seus membros, enquanto o outro aumenta de um.' A fim de compensar uma redu??o prejudicial, o primeiro grupo reivindica uma indemniza??o que é concedida por este último sob a forma de alembamento? (Junod 1936: 117).O alembamento tem um certo valor econ?mico simbólico e consiste em bens que est?o ao alcance de todos, como cobertores, roupas, animais domésticos que s?o trocados numa esfera de transa??es familiares (Vansina 1975: 23). De acordo com essas transa??es e para a concep??o ampliada da família ampliada, o casamento torna-se a ocasi?o da alian?a acordada entre dois grupos, na verdade, disso depende a sua estabilidade:?Esta entrega de dinheiro, de bois ou picaretas permitirá ao primeiro grupo adquirir um novo membro para substituir o que ele perdeu, e assim o equilíbrio será restaurado? (Junod 1936: 118).Além disso, a alembamento (nzimbu za longo) expressa mais significados, pois, além de sancionar a alian?a entre duas famílias, dá ao casal o reconhecimento social necessário e a valoriza??o da noiva, garantindo-lhe a perten?a à linhagem do marido como bem-vinda. Na verdade, quem n?o paga a alembamento n?o é considerado noivo, mas apenas um amante, e isso ajuda a tornar o casamento instável. O marido que paga o alembamento garante à família da noiva que ele possui as habilidades econ?micas necessárias, tanto para a manuten??o da noiva, quanto para o sustento da nova unidade familiar (Malinowski 1937: 28).Na estrutura social dos Bakongo, onde toma decis?es pertence aos velhos, as uni?es conjugais dependem do consentimento da tia ou tio maternos (ngudi a nkazi). Os pedidos de casamento s?o dirigidos a eles que analisam a maturidade dos jovens pretendentes; muitas vezes indicam melhores oportunidades para a sua realiza??o. Se for achado conveniente, o tio materno escolhe uma mulher jovem, entre as famílias com as quais tem boas rela??es. Mais tarde acompanhado por outros tios, o ngudi a nkazi vai até a família da jovem e oferece-lhes uma cabassa de vinho de palma, e p?e o problema na mesa. A resposta é dada a ele no dia seguinte, depois de ter feita a proposta para a jovem. Se a mo?a n?o concorda, a família tenta convencê-la exaltando as qualidades do pretendente; mas se continua a recusar, eles amea?am-na negando a possibilidade de ser pretendida por outros jovens. Frente esta amea?a, a jovem se defenderá teimosamente amea?ando abandonar a casa. Ao contrário pode acontecer que ela queira casar-se com um jovem, que família n?o aprova; dificilmente resistirá às press?es da família e geralmente acabará aceitando. Se ela n?o o fizesse, acredita-se que correria o risco de se tornar estéril ou que os filhos logo ao nascer morreriam. No dia seguinte ao pedido, o tio do pretendente materno regressa na família da menina para receber os resultados de suas propostas. Se a resposta for negativa, o vinho de palma é devolvido; quando isso n?o acontece, se profere o provérbio:?O que o jovem deixou para trás faz parte do conjunto da menina?.?Za sala toko ndumba nkut'andi?.Se a resposta for positiva, a menina dirá a seus tios e pais que podem beber o vinho de palma oferecido; a este acto segue a carta de compromisso (nkanda a lusompo) escrita pelo tio materno do menino. A aceita??o final é atestada com a express?o: ?comer a carta? (dya nkanda); a menina se considera t?o comprometida que recusará os avan?os doutros pretendentes. O vinho de palma bebido é chamado ?espalha os pretendentes? (mwanga toko) ou ?fecha as portas? (kanga mafula).Neste ponto, segue uma lista de presentes que a família do menino deve oferecer àquela da noiva; é o chamado kamalongo, uma institui??o intimamente ligada ao casamento e muitas vezes equivocadamente interpretada como uma compra da esposa:?O alembamento n?o pode ser um dote - porque n?o acompanha a noiva, mas entra na família dela - nem um pagamento, pois a mulher nunca é objeto de uma apropria??o, n?o pode ser vendida ou condenada a morte, permanece sob a prote??o cuidadosa de sua família? (Lévi-Strauss 2003: 600).Neste estado de coisas, há muitos problemas que surgem e muitas vezes levam à separa??o, que é definida pela express?o ?o casamento está morto? (longo ifwidi). Embora todas as raparigas bakongo tenham um conhecimento do sexo que deriva de seus jogos eróticos da inf?ncia; a maioria delas sabe estabelecer a diferen?a entre os jogos de crian?as e um verdadeiro relacionamento com o homem. Os Bakongo nunca reprimem emo??es fortes e uma esposa jovem quando é insatisfeita manifesta de maneira livre e vigorosa tanto sua satisfa??o quanto o seu próprio descontentamento no mundo conjugal. Quando a insatisfa??o se torna grande demais, a mulher recorre a medidas drásticas e violentas publicando a situa??o na qual ela vive e chamando os parentes que tomem decis?es apropriadas para o caso. Em casos extremos, pode até p?r em risco as suas vidas, amea?ando e atraindo a aten??o do grupo e assim provocar sentimentos de comisera??o e apoio.Em todo caso, o alembamento é uma garantia de indissolubilidade: o marido se compromete a respeitar a sua esposa e a n?o tratá-la mal; por sua vez, a esposa se sente valorizada e n?o trairá o marido. Se isso acontecer, a família da esposa é obrigada a devolver o ?kamalongo? ao marido, dando assim início ao primeiro passo para a separa??o. O alembamento deve ser pago integralmente antes do casamento; mas isso raramente acontece. Portanto, o marido frequentemente fica debitado com a família da sua esposa, e esta situa??o pode durar anos. No casamento, temos dois grupos sociais, duas famílias que se relacionam gra?as à uni?o de um homem com uma mulher de diferentes linhagens.? uma espécie de contrato entre dois grupos: a família do esposo e a família da esposa (Junod 1936: 117)O marido permaneceria estranho e separado da linhagem da sua esposa se n?o tivesse uma série de relacionamentos indiretos e mediados com os membros da sua linhagem por meio do casamento. Deve, portanto, ter o cuidado de n?o incorrer em conflitos pois terá que dar conta da saúde da sua esposa. O casamento ?é um ritual de passagem que marca a transi??o da juventude para a maturidade dos dois contratados; A sua uni?o é protegida pela alian?a entre suas respectivas famílias. O ritual celebra tanto a uni?o dos c?njuges, mas especialmente das suas famílias. A institui??o do casamento é a que mais revela a influência das mudan?as sociais. Anteriormente, as cerimónias que antecediam o casamento eram complexas e com numerosos ritos; hoje em dia tudo é simplificado e isso requer uma maior aten??o ao papel desempenhado pela mulher dentro da família. De fato, como Balandier observa:?a presen?a de uma realidade em mudan?a, obriga a concep??o fundamentalmente din?mica dos fatos sociais e culturais?(Balandier 1955: 2).Isso significa que o antigo equilíbrio social que tornou o casamento uma institui??o estável é perturbado por factores como a economia de mercado, a escolariza??o, a difus?o dos mídia de massa os novos modelos de comportamento.Casamento entre crian?asEntre os Bassolongo, no passado, o casamento era combinado entre as famílias do noivo e da noiva, mesmo antes do nascimento. Imediatamente após o nascimento, de fato, a família da futura noiva visitava a família do menino, abria as negocia??es batendo palmas e depositando, com um gesto simbólico, um molho de lenha, uma garrafa de água e uma moeda de prata. Se a família do menino concordasse com esse futuro casamento, ele retribuía esse gesto oferecendo-lhes uma refei??o ritual baseada em peixe, galinha e pir?o de mandioca (fungi). Também antecipava o futuro alembamento com sinais simbólicos, oferecendo panos, uma garrafa de capuca e dois garraf?es de vinho de palma, estipulando assim o contrato de casamento.Durante a inf?ncia, a família do menino comprometia-se a pagar parte do alembamento ao sogro e à família, e repartia os bens com a m?e da noiva e a sua família. O que pertencia ao sogro consistia em trinta pe?as de tecido, um cobertor, um pano, um cayangulo, um porco e sete garrafas de capuca. Em vez disso, a parte, entregue à m?e da menina, poderia incluir vinte panos, um cobertor, uma saia, um par de pulseiras pesadas de cobre, um porco e cinco garrafas de capuca. Levava anos para acumular todo esse material; na verdade, antes do casamento, a família da menina enviava um representante para seus futuros sogros pedindo-lhes que completassem o alembamento. O pedido era acompanhado por um frasco de vinho e duas caba?as cheias de maluvu. Num dia fixado, as duas famílias se encontravam, diante das testemunhas escolhidas, era proclamada a lista das coisas que haviam sido pagas e as que faltavam para completar a o Felgas relata para o passado, pago o alembamento, os pais da menina organizavam uma refei??o na qual convidavam os futuros sogros e marcavam o dia em que a menina tinha que entrar na casa das tintas e ser iniciada ao casamento. Era confiada aos ensinamentos de uma mestra e às aten??es de um grupo de meninas que cuidavam dela durante seis meses. Ela era educada acerca do comportamento a ser tomado com o marido, sobre a higiene doméstica e como cozinhar. Após seis meses de educa??o, os pais da menina pagavam à mestra vinte esteiras, alguns potes e talheres, uma galinha, um porco e duas cabras. Mais tarde, a mo?a era acompanhada procissionalmente até a casa do marido; na prociss?o alguns se encarregavam de atirar no ar com cayangulos, advertindo o noivo que devia-se esconder. Encontrar o noivo era a tarefa da mestra e do grupo das meninas que haviam instruído a noiva; se fossem bem-sucedidas, o noivo teria de lhes dar uma garrafa de conhaque, caso contrário, eram eles que davam ao noivo.Em seguida, os batuques tocavam e formada a prociss?o do casamento acompanhavam a noiva e o noivo até a cabana do casamento. A primeira noite era particularmente solene: a mestra dormia no limiar da cabana do casal e, ao amanhecer, perguntava ao marido se a noiva se tivesse comportado bem. Se recebesse uma resposta afirmativa e satisfeita, ele cantava e dan?ava, avisando à aldeia que seus ensinamentos tinham sido eficazes. Quando o noivo n?o exaltava o desempenho da noiva, mas permanecia igualmente satisfeito, ela sacrificava uma galinha. Se a resposta era negativa, a mestra e seus ajudantes era presas e fechadas na cabana da noiva, punindo-as assim pela ineficácia de seus ensinamentos. Elas eram libertadas somente após a multa paga pela família da noiva; a taxa consistia de um porco e uma garrafa de capuca (Felgas 1965: 66).Ainda hoje a estrutura social é organizada de acordo com as regras de residência que sobrevivem após o casamento. Como em outras sociedades matrilineares, também entre os Bakongo, o marido estabelece a sua família na aldeia de seu pai ou de seu tio materno. O casamento é, portanto, virilocal embora possa acontecer de ocorrer mudan?as da aldeia paterna com a de seu tio materno (ngudi a nkazi) ou para a aldeia do irm?o da m?e:?Mas muitas vezes existem arranjos complexos pelos quais os homens, suas esposas e filhos se mudam da aldeia do pai do marido para aquela do irm?o da m?e, enquanto uma certa porcentagem de maridos vive por períodos mais curtos ou longos na aldeia d família do pai da mulher, do irm?o da m?e ou da m?e, isto causa grande mobilidade no lar? (Vansina 1976: 23).A descendência da linhagem é calculada matrilinearmente, mas é evidente que a autoridade é administrada pelos homens e n?o pelas mulheres; no entanto, como observa Vansina:?Homens de uma linhagem devem permanecer juntos, mas se n?o o fizerem, seus herdeiros matrilineares ser?o dispersos, e se deslocam na aldeia da esposa, ser?o estrangeiros ou inferiores? (ibid.).Uma solu??o de compromisso que modifica as rela??es de autoridade dentro da família é enviar as crian?as para com seu tio materno.A PoligamiaJá se sabe há algum tempo que, quando vários casamentos s?o celebrados, a rede de alian?as feitas entre diferentes grupos é expandida. Desta forma, ao elaborar consenso com diferentes linhagens, o Bakongo adquire mais poder e influência através do vínculo de sangue. Deste tipo de opera??es emergem dois importantes fatores sociais:?aumento do pessoal de prestígio e do poder do grupo familiar? (Balandier 1963: 120).Possuir mais noivas dentro da sociedade africana está ligado à competi??o; Na verdade, o homem polígamo é como se possuísse um banco ou um banco de poupan?a. Através do casamento, a mulher torna-se parte dos bens mantidos pela linhagem e isso acontece através do contrato social estabelecido pelo alembamento. Portanto, o adultério que subverte todas essas lógicas contratuais é considerado um roubo. No entanto, a mulher é um bem de natureza particular; de fato, na sociedade matrilinear bakongo sempre a mulher constitui uma entidade jurídica. A mulher continua a possuir uma terra pertencente à sua linhagem, bem como as crian?as que ela dá à luz. Com esse pressuposto, a mulher se torna capital porque produz bens de consumo e gera filhos, dando continuidade à linhagem que a protege. Ent?o, ter mais mulheres na sociedade tradicional é o principal sinal de riqueza e determina o status social de um indivíduo e do seu nível de poder com toda uma hierarquia de rela??es que comp?em a linhagem. Uma demonstra??o da domina??o dos homens sobre as mulheres reside na press?o que eles podem exercer sobre suas esposas para aceitar a presen?a de outras mulheres na comunidade doméstica. A poligamia, como diz Abbé Proyart, é frequentemente o resultado da aprova??o econ?mica da família.?Se um homem tem várias esposas, cada uma, por sua vez, prepara-lhe de comer, e tem a honra de servi-lo durante a refei??o, e ent?o receber de sua m?o, algo que fique para ela e seus filhos. O marido para n?o excitar o ciúme entre as outras mulheres, e ?se familiarizar com qualquer delas: vive sozinho na sua cabana, e cada uma tem a sua própria cabana onde vive, com seus próprios filhos? (Proyart 1776: 93)Em qualquer caso, a monogamia pertence, na maioria dos casos, à maneira usual de organizar a família, especialmente hoje em face de press?es econ?micas e culturais vindas do Ocidente. Segundo as observa??es de Thornton, acerca da sociedade do passado:?Nós descrevemos a família no Kongo como se fosse monog?mica. Na verdade, as evidências parecem sugerir que a monogamia era o padr?o do casamento normal, se n?o por outra raz?o que o nível geralmente alto da noiva impedia muito o casamento polígamo. Sem dúvida, entre os velhos os casamentos polígamos tornaram-se mais frequentes, com as viúvas nas aldeia casadas com outras famílias, de modo a manter juntas as duas partes e manter a divis?o sexual do trabalho. Havia, no entanto, aqueles que tinham múltiplas esposas até mesmo desde ?tenra idade? (Thornton, 1983, p. 35).De: Bortolami G. (2017), Feticci e credenze religiose dei Bakongo, Eurilink University Press, Roma, pp. 254-264Tradu??o de Gabriele Bortolami.6.3 A MorteTodos os rituais obedecem quase à mesma din?mica em ?e?aríamos por dizer, que com pequenas variantes de rituais, o povo bantu tem um sistema bem detalhado de celebrar a morte, considerada como a porta, o limite entre o mundo dos homens e o mundo dos espíritos, entre o visível e o invisível.As várias cerimónias que acompanham a morte referem-se fundamentalmente:- A doen?a;- A morte propriamente dita;- As cerimónias de enterro;- As causas da morte;- A sobrevivência da alma no além-túmulo;- E, finalmente, ao culto dos mortos.a) A doen?a:Quando alguém cai gravemente doente, s?o informados (todos) os membros da família e todos devem estar presentes. ? forte o carácter de solidariedade entre nós na doen?a. Nunca se pode pergunatr, ao saudar, como está ou como passou a noite (o dia). Mas deve-se dizer sempre ?vukasi ndati" (como est?o) ou "walali (wosali) ndati" (como passaram a noite, ou o dia). ? preciso cumprimentar sempre no plural. E a resposta é: "Twapitano, twalale, twosala" (estamos bem, passámos bem a noite ou o dia). A ausência de qualquer familiar é considerada como entrega a práticas mágicas ou feiticistas, contra o doente, cujo espírito poderá vingar-se, caso morra. E é também uma falta de respeito. Se o moribundo tiver muitas mulheres é tratado e acompanhado na casa da primeira mulher. O irm?o e o filho mais velho do doente fazem velório permanente junto à cabeceira para se inteiraremdas causas da doen?a. A família mata um animal (boi ou cabra, se for nobre ou rico) no santuário familiar (petambo) pronunciando as seguintes palavras: "venham todos aqueles que já partiram comer desta carne - e chama pelos nomes dos mortos-vivos familiares (ove a ngandi, ove a numetu).Em seguida, a carne é comida pela família e pelo doente, caso ele possa. Este animal é o último dom aos antepassados da família para lhes pedir que o recebam e para n?o obstacular o seu caminho para o lugar do repouso eterno, ou a última casa do além. Os familiares defuntos comem, de igual modo, com os familiares vivos. A sua parte é colocada sobre o altar (vetambo).Entretanto, procura-se reanimar o moribundo, deitando-lhe água fria sobre a cabe?a e fazendo-lhe inalar o fumo de algumas plantas (okufenhisa). Nessa altura os mais velhos procuram, segundo os seus segredos, indagar se por ventura o causador da morte é ele mesmo (vyahe mwele vyulya), ou ent?o viria de outrem (volova), enfeiti?ado por alguém. A presen?a do filho junto do doente significa que o moribundo, apesar de tudo, continua vivo nos seus filhos. Uma vez comido em partilha o animal, apresentam-se desculpas a todos pelas faltas cometidas contra a família e os vizinhos. E, por último, d?o-se instru??es sobre á partilha dos bens e a partir dali todos aguardam pacientemente pelo último suspiro (okutula omwenho).PONTOS A RETER:l) Carácter familiar e comunitário da doen?a;2) A esperan?a de vida depois da morte, simbolizada pela presen?a do filho;3) A refei??o sacrificial simbolizando comunh?o e reconcilia??o (uni?o do mundo visível com oinvisível).4) O arrependimento: ninguém deve separar-se dos outros em estado de ira e de vingan?a.b) A MORTE PROPRIAMENTE DITA:Assim que o homem morre, a esposa solta gritos e lamenta??es, imitada, depois, pelos filhos, oshomens e as outras mulheres. A mulher toca e arranha o corpo do marido, dan?a e vai balan?andode canto em canto. As outras mulheres p?em as m?os na nuca e v?o de canto a canto fazer coro. Osvelhos, tomam ar grave e silencioso, entretanto, uns parentes (primos do terceiro grau) lan?am piadas e fazem todo o tipo de caretas misturadas com insultos, para atenuar o ambiente fúnebre. Exigem bebida (calmante de vergonha). Horas depois de se certificarem da morte (podia ser dissimulada), o corpo é lavado (banho ritual) como acto de purifica??o da sujidade causada pela morte. A lavagem normalmente é feita por categorias etárias e segundo a posi??o social e religiosa. Em nenhum caso um jovem poderá lavar o corpo de um mais velho, ou de alguém, cujo estatuto social mere?a considera??o (curandeiro, mágico, fazedor de chuva, soba...). O corpo, depois de lavado, é coberto por uma pele de animal ou envolto em folhas de bananeira. Se for um notável, usa-se pele de on?a. O cadáver de um chefe de cl? é conservado durante uma semana ou mais. Mas, antes de se anunciar a morte, o corpo fica suspenso no tecto até que a cabe?a se desintegre do resto. ? preparada com pós apropriados econserva-se para sempre numa cabana ("etambo" situada na linhagem das cabanas onde repousam as cabe?as dos chefes que o antecederam).l) Anúncio da morte:O chefe da família manda anunciar a notícia às diferentes associa??es às quais pertence o defunto. Cabe a essas associa??es organizar as cerimónias que h?o-de libertar o corpo daquilo que pode retê-lo cá na terra e impedi-lo de transpor as etapas que o conduzir?o à casa dos antepassados. Mas o anúncio de um óbito a um chefe religioso faz-se através da entrega de uma soma simbólica, acompanhada, por vezes, de algumas folhas ou outros objectos que se revestem de significa??es particulares e constituem, de um certo modo, emblemas de comunica??o de mensagens. Cada associa??o religiosa tem o seu emblema para se fazer anunciar o óbito de um dos seus membros e para responder por mensagens de condolências. Faz-se assim, na medida em que nesses momentos de desordem e de desequilibro social, a dor é t?o grande que a linguagem verbal n?o pode exprimir o que se sente. Para se anunciar, por exemplo, a morte de um velho prestigioso, o enviado, ao chegar ao destino, sobe ao cerco da aldeia (olumbo) e toca, à etiqueta, um olumbendo (flauta especial) ou como de boi e diz em alta voz: Sekulu watusya (o velho deixou-nos). Faz-se entrar na sala comum (ondjango) e, depois de se sentar com os mais velhos, explica as raz?es da morte.2) A Refei??o Ritual Uma vez informados todos os parentes e amigos ou a dignidade do cl?, procede-se à consulta dos .oráculos para se saber que tipo de morte recaiu sobre o defunto (feiti?o alheio, próprio ou maldi??o dos mortos- vivos?) e qual foi a última vontade dele. ? no decorrer dessa consulta familiar que se sabe qual o envolvimento (empenho) a dar-se às cerimónias fúnebres, os objectos que devem acompanhar o defunto na sepultura.Em princípio os defuntos beneficiam de dois estádios de funerais. O primeiro estádio come?a ao último suspiro e termina com o enterro e o segundo funeral realiza-se (entre nós) depois de um intervalo de tempo mais ou menos longo e dependendo das disposi??es e disponibilidades financeiras das famílias do defunto.Intervêm sociedades religiosas e dignidades além dos familiares e do povo (todo o povo conhecido). E a família deverá gastar muito para oferecer a todas as associa??es a que pertencia o indivíduo em vida, afim de se dessacralizar o corpo do defunto que, doravante, deverá atravessar um período de impureza. Há contribui??o dos honorários para ajudar nas despesas e para pagar àqueles que.se v?o encarregar de desligar o cadáver da divindade a que estava unido. A contribui??o dos honorários depende das condi??es do defunto (caso tenha sido um homem importante e que deixou muitos bens, evidentemente que o óbito levará mais tempo...).Os honorários recebidos servir?o sobretudo para a compra ou resgate do animal preferido dodefunto e que deve ser morto em sacrifício. A refei??o preparada é partilhada entre a divindade, os membros da associa??o religiosa e o defunto que toma a sua última refei??o aqui na terra. Esta refei??o é t?o importante para o defunto como para os vivos. Ela evita que durante o tempo de putrefac??o do corpo, os espíritos do defunto possam juntar-se aos espíritos perigosos que, depois viriam agitar a associa??o religiosa ou a família.Quando se trata de um defunto que n?o é nenhuma dignidade religiosa ou um iniciado, caberá à família receber as oferendas e a referida refei??o é partilhada entre a divindade em quest?o, o defunto e os membros da família (os vivos). Mas há defuntos que n?o beneficiam efectivamente do sacrifício-comunh?o: s?o os feiticeiros (olonganga), os suicidas, aqueles que morrem durante a inicia??o, os que morrem vítimas de ataques de animais ferozes (sinal de maldi??o).c) O ENTERRONo dia do enterro, a viúva é preparada por outra viúva mais velha. ? levada ao ribeiro mais próximo para o banho ritual e para se ungir de argila (por vezes unge-se de cinza), os filhos e os membros da família untam-se igualmente de argila. A argila é símbolo de luto. A ida, e de regresso, canta-se. A viúva faz o elogio do marido dizendo: "O meu marido foi muito bom para comigo, deu-me muitos filhos, era um grande ca?ador (ou agricultor)..." O óbito leva dois ou três dias. Organiza-se, ent?o, o cortejo fúnebre: primeiro os homens que transportam o corpo. Seguem depois as mulheres. O cruzamento com tais grupos n?o é desejável. Deve-se evitar. Enquanto isto, quatro parentes (terceiro ou quarto grau) v?o cavar o túmulo. Este acto é proibido às mulheres e aos incircuncisos. O pai n?o pode cavar o túmulo do filho ou da filha, nem o da esposa.? preciso dar aos coveiros uma cabra ou uma galinha que eles matam e cujo sangue é derramado no túmulo e a carne é assada e comida mesmo no local. No fim do enterro n?o pode faltar bebida. O elemento mais importante aqui é o sangue com que eles lavam a impureza causada pela morte.Quem morre de epidemia ou se suicida é enterrado na margem do rio ou da savana para que n?o polua o cemitério. O feiticeiro (onganga) n?o se enterra, é lan?ado numa lagoa ou na floresta ao sabor dos peixes ou dos animais selvagens. Trata-se de um maldito que n?o merece dó nem piedade. O enterro é feito à tarde, se for o de uma mulher ou de um homem qualquer e ao entardecer, tratando-se de um nobre ou de um chefe do grupo. Se o defunto for um homem notável, um chefe de cl?, um guerreiro famoso, um ca?ador (ukongo), ou um soba grande, o enterro é precedido de dan?as e cantares rituais durante os quais se sacrifica um boi ou uma cabra, para comunh?o entre os vivos e reconcilia??o com os antepassados. Exibe-se a riqueza ou aquilo que deu nome ao defunto. ?s vezes, mata-se uma das mulheres para lhe fazer companhia. O túmulo passa doravante a ser o novo santuário dos mortos-vivos da família. Os coveiros matam de novo uma cabra e o sangue é espalhado sobre o "santuário". Tudo isto é sinal de agradecimento ao defunto pela sua fama e riqueza que deixa. O corpo é colocado no túmulo com a cabe?a voltada para o sul e totalmente nu. Esta nudez simboliza o nascimento para o além, para a vida nova. Caso a morta tenha sido estéril, no sarcófago leva um carv?o, em sinal de maldi??o e todas as jovens que ainda n?o têm filhos devem manter-se longe do corpo para n?o se contaminarem com a esterilidade. Ao chegar à casa todos devem lavarse, purificando-se do espírito da morte que dizimou a doente. Durante o período da decomposi??o, o cadáver guarda sempre algo de sagrado: é o que explica o banho ritual (mistura de água e de um produto cujo nome n?o chegamos a reter bem por ora) e com o qual será aspergido no momento da inhuma??o. Este banho é o mesmo que se utiliza durante as cerimónias da inicia??o. Significa que para participar na vida da divindade que ele adorava neste mundo, o defunto deve necessariamente passar por este estado de inicia??o e de provas purificatórias, que lhe permitir?o renascer para a vida intensa, rica e enriquecedora. Estes ritos propiciatórios celebrados pelos chefes religiosos s?o benéficos para a família do defunto. Entretanto, o último cria por vezes as suas liga??es imediatas com aquele que passa por muta??es e que deve conduzi-lo à mans?o dos mortos, dos antepassados. A família celebra estas cerimónias para colocar os espíritos do defunto numa situa??o confortável que n?o causa descontentamento. De contrário voltam a amea?ar toda a família. Depois das liba??es para pedir aos espíritos do defunto que assistam ao sacrifício, o chefe da família ou seu delegado imola uma galinha que verterá um pouco de sangue sobre os despojos mortais. Se se matar um carneiro, como é o caso no óbito de um dignitário, o sangue a derramar deverá ser igual ao de duas galinhas, pelo menos. Segundo se acredita este sacrifício permitirá ao morto atravessar sem incómodos o espa?o que separa o mundo dos vivos e o dos antepassados e evita a interven??o perigosa dos espíritos do defunto na vida dos familiares, durante o período da decomposi??o do corpo no túmulo.Período de transi??o. Entre o funeral e o dia da separa??o (okusandoka kwonombi) existe um período de transi??o correspondente, em princípio, à decomposi??o do cadáver no túmulo e ao momento em que os espíritos do defunto est?o muito agitados e muito agressivos. E a raz?o pela qual durante este lapso de tempo se fazem ritos de pacifica??o dos espíritos. Entre os ritos sobressaem as priva??es às quais s?o submetidas as viúvas do defunto ou exigidas ao marido que perdeu a esposa. Em geral as regras s?o muito duras para as viúvas enlutadas no quarto ou quarto contíguo ao do marido pela mulher que, na família ou na linhagem, está encarregada desta fun??o. A viúva ou as viúvas n?o devem mudar de roupa, conservam o cabelo em desordem durante todo o tempo em que guardam o quarto. Enquanto isso, a família do marido é obrigada a alimentá-la (s). E neste momento que cada uma das mulheres se apercebe do lugar que ocupa no cora??o da cunhada.Quanto ao homem que perde a mulher, n?o se pode atrever e evita manifestar-se em público durante um certo número de dias. Mas durante o período de transi??o as pessoas n?o se ocupam apenas dos vivos. ? preciso ajudar o defunto a atravessar com sucesso a muta??o necessária que lhe permita atingir a casa dos antepassados e das divindades. Durante a decomposi??o do corpo os espíritos têm necessidade de se revigorar por terem atravessado um período de inicia??o e de provas purificatórias. Fazem-se liba??es periódicas pelos chefes religiosos no altar da divindade que o defunto adorava, a fim de refor?ar estes últimos e facilitar a sua caminhada para a morada dos antepassados e de revivificar os la?os entre o defunto e os membros das diversas comunidades às quais pertencia. Neste tempo intermediário entre o funeral e o fim do óbito, os parentes recebem visitas de simpatia e de condolências. ? noite os amigos e os vizinhos convidam as sociedades de que s?o membros a vir frequentar a casa enlutada, para evitar a família a estar continuamente mergulhada na dor. No decorrer dos ser?es e vigílias em que se gasta muita for?a, as bebidas e a comida s?o uma verdadeira concorrência que, por vezes, se instaura entre diferentes associa??es. Trata-se de dar o máximo de melodia do canto melódico e da dan?a, tudo é significativo e tudo é habilidade. A maioria das can??es exprimem desgra?a, tristeza e inquieta??o diante da desordem e do desequilíbrio criados. Ficam acalmados os parentes e os espíritos do morto.d) CERIM?NIA ANTES DO FIM DO ?BITO: Okukomba atiko (varrer cinzas)Alguns dias antes da celebra??o do último funeral, o adivinho convida a escrutar a vontade do defunto, o que lhe permite saber que tipo de sacrifícios fazer (sacrifícios de purifica??o) antes do grande dia. Entre as cerimónias preliminares figura necessariamente um sacrifício oferecido à divindade que o defunto adorava. Na vigília do dia marcado para o último funeral procede-se a uma pequena cerimónia ritual no decorrer da qual s?o convidados os antepassados. Durante toda a noite diferentes grupos religiosos cantam e dan?am acompanhados de instrumentos de música. Comem e bebem à custa da família do defunto que n?o se queixa absolutamente de nada. Quanto mais comida e bebida se gastam e se oferecem tanto mais os espíritos do defunto ficam satisfeitos. Quanto ao mais dá-se grande import?ncia a esta velada, pois o ambiente que lá reina é de alto interesse e à medida do defunto quando estava em vida.? hora marcada, toda a família, os parentes e os amigos regressam ao túmulo do morto. Depois de uma nova invoca??o dos antepassados da família e da linhagem e logo que se saiba os últimos desejos do defunto, o celebrante apresenta aos mortos as inten??es de cada membro da família e de cada um dos amigos e conhecidos que trouxeram as oferendas. O celebrante come?a pelas oferendas do chefe da linhagem e termina pelas dos amigos passando pelas dos parentes por ordem de grau de parentesco. Cada oferente apresenta as suas próprias preocupa??es ao morto que, em alguns instantes depois será hóspede dos antepassados e das divindades. As mensagens entregues ao morto destinam-se a ele mesmo e àqueles que o v?o receber no outro mundo. Terminado tudo isto, o celebrante dá lugar ao sacrificador designado pelo chefe da linhagem ou pela família. Cabe a ele proceder à imola??o dos animais oferecidos ao defunto.O facto de se oferecer a um antepassado um animal e comer da carne desse animal em comunh?o com o próprio antepassado permite ao sacrificador participar nas for?as vivificantes do mesmo antepassado, isto é, receber a própria for?a que proporciona fidelidade e prosperidade.e) FIM DO ?BITOTerminado o óbito toda a gente se retira do cemitério para a casa do defunto (okutyula olom?i) para a cerimónia do lava-m?os, que consiste em purificar-se por duas raz?es: o contacto com a terra do túmulo e a possibilidade de ficar sujo pelo espírito da morte (otchilulu tchuku kwama-kwama). Há comida em abund?ncia (canjica) simbolizando a refei??o sagrada, na qual participam os familiares próximos e longínquos, os vizinhos e as visitas de longe; comem também os mortos-vivos.Normalmente usa-se canjica (milho fervido com feij?o) por causa da frugalidade do momento. Tratando-se de uma família rica, n?o faltará carne. Há bebida com fartura, sobretudo para fazer esquecer a dor da separa??o (Tratando-se da morte de um chefe ou de um homem rico segue-se "onlundongo" durante a noite inteira, animada pelos vakwatchisoko (responsáveis do enterro, que normalmente s?o parentes do quarto a quinto grau); estes exigem sempre que se lhes pague comida (carne e bebida) por causa de terem tido contacto directo com o corpo do defunto. Matam uma cabra ou uma galinha, com cujo sangue se asperge o novo túmulo que doravante se tornará o novo santuário familiar. A aspers?o é sinal de agradecimento ao defunto pela fama na linhagem familiar e a riqueza que deixa. Para um homem que n?o deixou filhos, n?o se faz esta celebra??o.Por fim pintam-se as caras e os cabelos com argila branca e vestem-se de roupas de luto, com as quais ficam até um ano depois. A viúva fica com os familiares do defunto até ao dia em que se tiram as vestes de dor (um ano mais tarde). Durante um ano ela deve cumprir os rituais que demonstrem fidelidade e dor.RESUMINDO:O moribundo é separado dos seres humanos, mas é preciso que haja la?os de liga??o entre vivos e mortos. (? o primeiro sinal que demonstra esta liga??o no caso crist?o)Os membros da família e os vizinhos choram a morte do defunto, mas sabem que ele continua vivo entre os vivos, através dos filhos e dos ritos que unem os dois mundos. (Como conciliar isto com a alegria crist? da morte?).A morte é causa de impureza ritual e interrompe a existência normal. Mas, o seu efeito n?o é duradoiro porque as coisas, s?o depois, purificadas. E a partir do momento da purifica??o das coisas (okulula olutu) volta-se à normalidade. O túmulo simboliza a separa??o entre os vivos e os mortos, mas, pelo facto de se tornar o espa?o sagrado, um santuário, para os mortos-vivos (ovilelenbya vyava vafa), transforma-se num ponto de encontro entre os dois mundos (o mundo físico e o mundo espiritual). Os ritos demonstram também que a morte atinge a família inteira, a vizinhan?a, o gado, os campos..., como garantia para fazer partir aquele que vai ganhar um outro mundo. Mesmo os mortos-vivos est?o presentes, pois s?o eles que recebem o que acaba de morrer. Para nós a morte é um novo nascimento, simbolizada pela nudez do corpo ou pela decepa??o da cabe?a dos grandes sobas.2. CAUSAS DA MORTEEm ?frica quase todos os povos têm explica??es mitológicas sobre a maneira como a morte veio pela primeira vez; a partir de ent?o o homem aceita-a como fazendo parte do ritmo natural da vida. Porém, paradoxalmente, cada morte é atribuída a causas exteriores, o que a torna, ao mesmo tempo, natural e anormal Há raz?es directas que se lhe atribuem. A primeira de entre todas é a feiti?aria. Normalmente acusa-se uma pessoa de ter utilizado feiti?o para provocar a morte de uma outra pessoa. A feiti?aria pode ser alheia ou própria, para o caso dos velhos. Mesmo que se saiba que foi um paludismo que vitimou alguém, procurar-se-á saber porque é que n?o foi outra pessoa a ser afectada pelo paludismo. Só se explica porque algum inimigo o fez. Vêem depois as maldi??es, os espíritos e os mortos-vivos. Deus é a quarta causa. Uma vez que a morte é provocada por um agente exterior, segue-se que eliminando este os homens n?o morreriam nunca, segundo esta mentalidade, a morte natural n?o existe.3. O AL?M (O mundo dos mortos)N?o temos nenhuma prova concreta de um Além-túmulo que seria concebido em termos decastigo ou de recompensa. Para muitos de nós, dependendo das tribos ou até das regi?es, dentro da mesma etnia, o Além-túmulo é a continua??o pura e simples da vida, tal como ela foi vivida na terra. Isto implica que no outro mundo a personalidade continua a mesma, os estatutos sociais e políticos s?o imutáveis, a distin??o entre os sexos continua, as actividades humanas prosseguem, a riqueza ou a pobreza do indivíduo n?o se modifica, apenas muda o lugar. Portanto, em todos os aspectos, a vida do Além é o decalque da vida presente. Embora a alma esteja desligada do corpo, pensa-se que continua a conservar a maioria das características físicas e sociais da existência humana. Sabendo que a morte significa desola??o e separa??o, o homem n?o aceita esta transforma??o total. Por isso ele reconhece-a e nega-a ao mesmo tempo a ruptura que a morte acarreta: um indivíduo morre, mas, continua a viver, é um morto-vivo. No momento da morte os parentes vivos n?o aceitam separar-se facilmente do defunto, retêm-no, lembram-se dele, mantêm-no num estado de sobrevivência pessoal. E, assim, sobrevive como se fosse uma pessoa como um "tal", como meu "pai" ou nosso "pai, m?e, irm?os, filho ou av?". Portanto, a família tem o dever sagrado de guardar os mortos-vivos, na perspectiva temporal do período presente (etali). ? neste aspecto que é assinalado o culto dos mortos-vivos em todas as nossas sociedades africanas. Trata-se de uma luta entre o presente e o futuro longínquo, cada ser quer ser lembrado, quer ser objecto de recorda??o. Todos querem continuar a vida, custe o que custar.4. A ALMA TER? DESTINO?A morte proclama um conflito formal entre as for?as do presente e as do futuro. Logo que um indivíduo morre, torna-se num morto-vivo, é um espírito, na medida em que já n?o está no corpo. Entretanto, conserva tra?os que o caracterizavam em termos físicos, guarda o seu nome pessoal, e assim, quando aparece aos membros da sua família, estes reconhecem-no como tal. Faz parte da família, mesmo que se saiba que já partiu. Uma parte do seu ser sobrevive na memória dos que o conheciam quando era vivo e através dos filhos. ? sobretudo, a família que o mantém vivo. O morto-vivo aparece aos membros da casa ou da família, mas, raras vezes, ou quase nunca, àqueles que n?o s?o directamente parentes ou familiares Por vezes os mortos-vivos podem dar instru??es ou informarem-se sobre a família, pedir alguns objectos e até dar castigos aos familiares que n?o obede?am às suas instru??es ou que as negligenciem. Todos se esfor?am por fazer alguma coisa por eles, sobretudo porque se encontram na situa??o de dependência análoga à das criancinhas em rela??o aos adultos.Além disso, os mortos-vivos, situam-se numa posi??o de intermediários entre o homem e Deus e entre o homem e os espíritos, e, o contacto com eles é feito através de liba??es, oferendas, ora??es e observ?ncia de ritos em memória dos defuntos. Esta é a vis?o antropocêntrica do destino humano: a morte é o princípio de uma passagem que vai da sociedade humana ao estado de espírito.Concluindo sobre este ponto, a filosofia espiritual que enquadra o homem depois da morte, desde o enterro até se transformar em espírito, poderia ser ponto de partida para a explica??o do purgatório e enquadramento do culto crist?o dos defuntos: pedir por eles ou pedir-lhes a eles?5. O CULTO DOS MORTOSO Angolano e a maior parte dos africanos prestam culto aos seus antepassados. De tudo quanto fica dito, pode-se compreender a raz?o pela qual, depois dos últimos ritos de passagem deste mundo, a família organiza cerimónias periódicas durante as quais comunica e comunga com os antepassados, membros da mesma família. Essas cerimónias comemorativas, além de contribuírem para a nega??o e o repúdio da morte, destinam-se a refor?ar os la?os vitais entre vivos e defuntos que, aliás, s?o capazes de exercer, de forma mais poderosa e mais fácil as suas fun??es de parentesco sobre os vivos. Assim, na casa dos antepassados há extens?o ao infinito das actividades familiares da terra. Os antepassados s?o considerados como os verdadeiros garantes do equilíbrio familiar: cuidam dos seus descendentes ou pelo menos dos membros da sua família ou linhagem, asseguram a disciplina e a ordem familiares. Quanto aos vivos devem comportar-se bem para caírem nas gra?as dos antepassados revitalizando de tempos a tempos as suas for?as e partilhando com eles refei??es sacrificiais. Assim, por exemplo, o chefe de linhagem ou da família, para assegurar a prosperidade da comunidade e consolidar os la?os entre os vivos e os mortos, oferece sacrifícios periódicos sobre o altar do fundador da comunidade. Por outro lado, cada membro da comunidade pode ter contactos regulares e íntimos com os defuntos da família. Porém, no decorrer dessas oferendas periódicas, osmortos da família n?o s?o recordados ou honrados com a mesma import?ncia: pense-se que há defuntos mais poderosos do que os outros, sobretudo em rela??o ao lugar que ocupavam e ao prestígio de que usufruíam enquanto vivos. Estes antepassados poderosos n?o se podem esquecer e o seu nome passa de gera??o em gera??o. S?o eles que o chefe da família ou da linhagem toma como testemunhos quando se dirige à família ou à linhagem, pois, é deles que tira a sua autoridade de chefe, posi??o que lhe permite estar mais próximo das for?as luminosas (invisíveis). Em suma, pode-se dizer que o culto dos mortos e dos antepassados coloca os vivos sob o controle permanente dos defuntos, ao mesmo tempo que, pelas diversas cerimónias de propicia??o e de oferenda, evita a degenera??o das for?as vitais dos antepassados. N?o é só para se divertir que montam altares aos mortos. Eles s?o por excelência os lugares de troca de mensagens e de for?as e reservatórios de for?a e dinamismo, cada vez que se convidam os mortos a descer até lá. As mortos n?o est?o mortos, dizem os ovimbundu, vivem para sempre.PONTOS ? RETER DESTE ?LTIMO PAR?GRAFO:Este parágrafo sugere:a) A comunh?o dos dois mundos: o visível e o mundo espiritual;b) O carácter sacrificial das refei??es como elemento de uni?o entre o oferente, o defunto e os antepassados;c) O controle permanente dos defuntos sobre os vivos poderia ser uma base de catequese para se falar dos anjos como guardas e protectores dos homens; falar-se-ia também do culto dos santos como intermediários e intercessores dos homens junto de Deus Pai.d) ? notório o poder sagrado do sacerdote oficiante: o seu prestígio e a sua for?a tira-os do contacto permanente com os antepassados e através da oferenda periódica dos sacrifícios.Em segundo lugar vêm as maldi??es, os espíritos e os mortos-vivos. Deus é a Quarta causa, sobretudo quando n?o se encontram explica??es satisfatórias (por exemplo a morte de uma pessoa de idade muito avan?ada) (wakuka, wakapuyukapo). Uma vez que a morte é provocada por um agente exterior, segue-se que eliminando este os homens n?o morreriam nunca, segundo esta mentalidade, a morte natural n?o existe.6. SENTIDO DA MORTEComo fenómeno, é preciso ir à express?o utilizada à hora da morte:a) deu o seu último suspiro - "watula omuenho";b) foi descansar - "wakopyuwkapo";c) partir - "wandá";d) fez bem morrer, comeu o suficiente - "walinga afa, walyako tchiwa";e) partir de ir-se embora, ir lá onde est?o os outros - "wandaa oku kuli vakwavo".Examinando textos de outras partes da ?frica, chega-se à seguinte conclus?o sobre o sentido da morte:? A morte é concebida como partida e n?o como aniquilamento do homem, do indivíduo.? homem desloca-se para se juntar à assembleia dos defuntos e renuncia ao corpo físico, enquanto espírito vai para uma outra forma de existência. Alguns termos indicam que o defunto partiu para a casa, o que significa que a existência da terra é como que uma peregrina??o. A verdadeira casa é no além, de onde ninguém mais consegue regressar. Uma parte do homem deixa de existir, a outra continua viva. A morte é cruel; engana a pessoa, mesmo em idade avan?ada ninguém a aceita como conbsequência lógica da vida. Do que acabámos de ver, a morte é vista como partida e n?o aniquilamento total do indivíduo. O homem desloca-se para se juntar aos outros defuntos e a única mudan?a é a de renúncia do corpo físico; o espírito vai par uma outra forma de existência.Algumas das express?es utilizadas como "foi para o repouso", aos doentes, indicam a ideia de que a existência terrena é como se fosse uma peregrina??o, uma marcha, e que a verdadeira casa está fora do tempo, no além, lá, de onde ninguém pode sair mais. Uma parte do indivíduo deixa de existir no momento da morte. Ele dorme para nunca mais se levantar. A morte é vista entre nós como cruel, porque reduz, evapora a pessoa, ainda que ela continue a existir no além-túmulo.A morte é também representada como um monstro, diante do qual, o homem se torna impotente. O moribundo é sempre rodeado de membros da família que o guardam, mas, ninguém pode ajudá-lo a escapar-se da morte, pois ela diz respeito a cada um individualmente. ? aqui, onde se vê o paradoxo da agonia e da morte, para o qual a nossa religi?o n?o oferece nem remédio nem evas?o. O defunto é brutalmente cortado da sociedade dos homens, mas o colectivo do grupo continua ligado a ele, quer através dos ritos funerários, quer por outras maneiras. A morte torna-se um processo que só termina depois de passados muitos anos da morte física (várias gera??es). No momento do óbito, o indivíduo passa para morto-vivo; ele n?o está, nem fisicamente em vida, nem morto em rela??o ao grupo comunitário. Termina o período presente (etali) e entra em cheio no futuro (hela), mas, em rela??o aos vivos que o conhecem continua no "etali"; portanto vai desaparecendo aos poucos. Aqueles que n?o têm ninguém que os mantenha no "etali", morrem, na realidade e imediatamente, porque se apagou da memória de todos.7. CONSEQU?NCIAS DESTA VIS?O:? O aspecto de partida e da casa no mundo dos defuntos faz-nos pensar na imortalidade dohomem? A forte liga??o entre os moribundos e os vivos e entre o defunto (morto-vivo) e os que ficam indicia a comunh?o entre os membros da mesma família.? A morte é o momento de solidariedade e de liga??o entre o mundo físico e o espiritual? Da crueldade da morte pode nascer o respeito pela vida neste mundo.? A ideia de lembran?a na memória dos que ficam (parentes e familiares) pode facilitar ummaior compromisso comunitário em rela??o à vida futura do indivíduo que parte. Essa cren?a na reencarna??o da alma permite que os ovimbundu lidem com a morte como uma celebra??o da vida. Em suma, para que uma cultura funcione adequadamente, suas várias partes devem ser consistentes umas com as outras. Mas a consistência n?o é a mesma harmonia. Na verdade, há fric??o e conflito potenciais dentro de cada indivíduos, fac??es e institui??es concorrentes. Mesmo no nível mais básico de uma sociedade, os indivíduos raramente experimentam o processo de encultura??o exatamente da mesma maneira, nem percebem sua realidade de maneira exatamente idêntica. Além disso, as condi??es podem mudar, provocadas por for?as internas ou externas. Cultura e Adapta??o No curso de sua evolu??o, os humanos, como todos os animais, enfrentaram continuamente o desafio de se adaptar ao seu meio ambiente. O termo adapta??o refere-se a um processo gradual pelo qual os organismos se ajustam às condi??es do lugar em que vivem. Os organismos geralmente se adaptaram biologicamente à medida que o número de características anat?micas e fisiológicas vantajosas aumenta numa popula??o através de um processo conhecido como sele??o natural. Por exemplo, o cabelo do corpo protege os mamíferos de temperaturas extremas; Os dentes especializados ajudam-nos a adquirir os tipos de alimento de que necessitam; e assim por diante. Respostas fisiológicas a curto prazo ao meio ambiente - juntamente com respostas que se incorporam a um organismo através da intera??o com o meio ambiente durante o crescimento e o desenvolvimento s?o outros tipos de adapta??es biológicas. Os seres humanos, no entanto, dependeram cada vez mais da adapta??o cultural, um complexo de idéias, tecnologias e atividades que lhes permitem sobreviver e até prosperar no seu ambiente. A biologia n?o lhes forneceu casacos de pele embutidos para protegê-los em climas frios, mas deu-lhes a capacidade de fazer seus próprios casacos, construir incêndios e construir abrigos para se proteger contra o frio. Eles porém n?o s?o capazes de correr t?o rápido quanto um leopardo, mas eles s?o capazes de inventar e construir veículos que possam levá-los mais rápido e mais longe do que qualquer outra criatura. Através da cultura e das suas muitas constru??es, a espécie humana asseguraram n?o apenas a sua sobrevivência, mas também a sua expans?o - a custa doutras espécies e do planeta em geral. Ao manipular ambientes através dos meios culturais, as pessoas conseguiram se mover para uma vasta gama de ambientes, desde o Círculo Polar ?rtico gelado até o deserto do Sahara. Isso n?o quer dizer que tudo aquilo que os humanos fazem, seja devido à sua adapta??o a um ambiente particular. Por um lado, as pessoas nem sempre reagem imediatamente a um certo ambiente; em vez, eles reagem quando apreciam isso, e diferentes grupos de pessoas podem ter a mesma aprecia??o para o mesmo ambiente apesar das maneiras radicalmente diferentes de viver. Eles também reagem n?o somente ao ambiente mas a outras coisas: suas próprias naturezas biológicas, suas cren?as e atitudes e as consequências a curto e longo prazo do seu comportamento para si e para outras pessoas e formas de vida que compartilham com os seus habitats. Embora as pessoas possuam abordagem culturais diferentes em lidar com os problemas, algumas práticas culturais se revelaram ser inadequadas e realmente criaram novos problemas - como a água e o ar tóxicos causados ??por certas práticas industriais, ou a epidemia de obesidade trazidas pela cultura de carros, fast food, televis?o e computadores. Uma outra complica??o é a relatividade de qualquer adapta??o dada: o que é adaptativo num contexto pode ser seriamente inadaptado noutro. Mas essas mesmas práticas tornam-se graves riscos para a saúde para popula??es grandes e totalmente sedentárias. Da mesma forma, o comportamento que é adaptativo no curto prazo pode ser desadequado durante um período de tempo mais longo. Por exemplo, o desenvolvimento da irriga??o na Mesopot?mia antiga (sul do Iraque) possibilitou que as pessoas aumentassem sua produ??o de alimentos, mas também causou uma acumula??o gradual de sal no solo, o que contribuiu para a queda dessa civiliza??o há mais de 4.000 anos. No entanto, ao longo do tempo, esses rendimentos n?o ser?o sustentáveis ??devido à perda de solo vegetal, ao aumento da salinidade do solo e à falta de irriga??o, sem mencionar o alto custo da água e do combustível fóssil. Para que uma cultura seja bem-sucedida, ela deve produzir um comportamento humano coletivo que geralmente é adaptável ao ambiente natural.V?o vir as chuvas e Luanda vai ficar inundada. A popula??o guarda as suas coisas e seus aparelhos de televis?o precavindo-se da água que inundou o centro urbano da cidade, engolindo casas, lojas e igrejas. Após a chuva, os moradores atravessavam água suja para encontrar formas de resgatar as suas coisas. Os moradores dos bairros e dezenas de milhares de pessoas s?o desesperadas - incluindo crian?as, idosos e deficientes - As estruturas de assistencia n?o existem, e s?o aparentemente paralisadas em dar resposta ao desastre. Mas Angola é um país em desenvolvimento na ?frica. Quando as chuvas atingem Luanda, o antigo sistema de esgotos da cidade ficam entopidos, e 80% da cidade inunda-se. Os pobres da cidade - predominantemente nos bairros - s?o os mais gravemente afetados e, em grande parte, n?o sabem como se defender.O antropólogo e geógrafo Neil Smith argumenta que 'n?o há como um desastre natural'. 'Furac?es, tsunamis, terremotos, secas e erup??es vulc?nicas s?o todos eventos naturais. Se eles se tornam um desastre, no entanto, depende de fatores sociais: localiza??o, vulnerabilidade da popula??o, prepara??o do governo, eficácia da resposta e esfor?os sustentados de reconstru??o. A diferen?a entre quem vive e quem morre em um evento natural é amplamente determinada pela desigualdade social. Por exemplo, o aumento do nível do mar relacionado com as mudan?as climáticas está tornando cidades como Veneza, Dacca (Bangladesh) e Nova Orleans especialmente vulneráveis a inunda??es; mas o impacto em certas pessoas nesses lugares será determinado por hierarquias raciais e estratifica??o de renda (Smith, 2006). ? possível analizar os acontecimentos sob o filtro da etnicidade? A ra?a e o racismo s?o tópicos incrivelmente difíceis da conversa na cultura, quer se trate de uma sala de aula, de uma comunidade religiosa, de um hospital. Como criamos oportunidades para explorar idéias de ra?a e a forma como essas idéias moldam as nossas vidas e cultura?? Os antropólogos vêem a ra?a como uma estrutura de categorias criadas para dividir a popula??o humana. Os europeus ocidentais desenvolveram originalmente esse quadro como parte da sua expans?o global a partir dos anos 1400 (Sanjek 1994a). Ao encontrarem-se com os Africanos, os organizaram em etnias e organizaram colonias em ?frica, na ?sia, no Pacífico e nas Américas, os europeus os colocaram numa 'hierarquia internacional de ra?as, cores, religi?es e culturas' (Trouillot 1994, 146). Os rótulos e express?es exatas variaram ao longo do tempo e colocaram-se como potências coloniais envolvidas com culturas locais e confrontadas com a resistência local. Mas o projeto subjacente - para estratificar as pessoas em grupos com base em premissas de diferen?as naturais em inteligência, atratividade, capacidade de civiliza??o e valor fundamental em rela??o a pessoas de ascendência européia - foi notavelmente consistente (Mullings 2005). Hoje os antropólogos n?o encontram base científica para classifica??es de ra?a. Geneticamente, há apenas uma ra?a - a ra?a humana, com toda a aparente diversidade. No entanto, apesar de esfor?os consistentes ao longo do século passado por antropólogos e outros para contrariar a cren?a imprecisa de que as ra?as s?o biologicamente reais, a ra?a permaneceu um poderoso quadro através do qual muitas pessoas vêem a diversidade humana e através das quais os que est?o no poder organizam a distribui??o de privilégios e recursos. A ra?a - que é cientificamente n?o real - tornou-se culturalmente real no racismo penetrante encontrado em muitas partes do globo, incluindo a Europa e os Estados Unidos.Ao longo dos últimos quinze anos, a ra?a como forma de organizar o mundo foi usada de forma destrutiva, causando um enorme impacto sobre as vítimas e seus defensores. A ra?a e o racismo justificaram a conquista, a escraviza??o, o transporte for?ado e a domina??o econ?mica e política de alguns homens sobre outros há mais de cinco séculos. Hoje, a ra?a eo racismo tornaram-se t?o integrantes aos padr?es das rela??es humanas em muitas partes do mundo que as categorias ra?as herdadas podem parecer naturais e a desigualdade construída sobre o racismo pode parecer representar diferen?as 'reais' entre as ra?as 'reais'. N?o há como organizar a existência de grupos humanos biológicos sobre os paradigmas das chamadas ra?as. Consideraremos as raízes da ra?a e do racismo como restos do passado colonial europeu que continuam hoje em vários lugares. consideramos as seguintes quest?es:1 Existem ra?as biologicamente separadas?2 Como a ra?a é construída em todo o mundo?3 Como as ra?a foi construída em Angola?4 O que é racismo? A ra?a é um sistema falido de classifica??o, criado e recriado ao longo do tempo, que usa certas características físicas (como cor da pele, textura do cabelo, forma do olho e cor dos olhos) para dividir a popula??o humana em alguns supostamente discretos grupos biológicos e atribuindo-lhes combina??es únicas de habilidade física, capacidade mental, tra?os de personalidade, padr?es culturais e capacidade de civiliza??o. Com base na pesquisa antropológica, veremos, no entanto, que as categorias raciais n?o têm base biológica. Podemos até dizer que as ra?as, como um conceito biológico, n?o existem. O perigo nesta declara??o sobre a ra?a biológica é que isso pode nos levar à conclus?o equivocada de que a ra?a n?o existe. Pelo contrário, a ra?a tem consequências muito reais. A ra?a é um sistema de pensamento profundamente influente que afeta pessoas e institui??es. Ao longo do tempo, categorias imaginárias de ra?a moldaram nossas institui??es culturais - escolas, locais de culto, mídia, partidos políticos, práticas econ?micas - e organizaram a aloca??o de riqueza, poder e privilégio em todos os níveis da sociedade. A ra?a tem servido para criar e justificar padr?es de poder e desigualdades dentro de culturas em todo o mundo, e muitas pessoas aprenderam a ver esses padr?es como normais e razoáveis. Assim, examinamos o racismo: pensamentos e a??es dos indivíduos, bem como padr?es e políticas institucionais, que criam ou reproduzem acesso desigual ao poder, aos privilégios, aos recursos e às oportunidades com base em diferen?as imaginarias entre os grupos (Omi e Winant, 1994 ).As ra?as biologicamente separadas existem? Muitos de nós foram inculturados a acreditar que “ra?a” refere-se a características físicas distintas que marcam indivíduos pertencentes t?o claramente em um grupo e n?o em outro. No entanto, os antropólogos pensam num modo muito diferente. Estudos recentes da genética humana n?o revelam quaisquer grupos humanos biologicamente distintos. Podemos afirmar isso com certeza apesar de séculos de esfor?o científico para provar a existência de ra?as biológicas distintas, e apesar da cren?a popular generalizada de que existem diferentes ra?as. De fato, os seres humanos s?o quase idênticos, compartilhando mais de 99. 9 por cento do nosso DNA. As pequenas diferen?as que existem n?o s?o distribuídos de forma alguma que correspondam com no??es populares ou científicas de moldes separados. Ra?a n?o é algo de estabelecido na natureza, mas, como iremos é un paramentro, criado, perpetuado, e alterado por pessoas através da a??o individual e coletiva.?Capítulo 7- A ORGANIZA??O ECON?MICA de uma sociedade é a forma como a sociedade, de forma regularizada, envolve a presta??o dos bens e servi?os materiais necessários para se reproduzir. A organiza??o econ?mica é uma constru??o cultural que opera de acordo com conjuntos de regras culturais. As regras relativas à organiza??o econ?mica s?o semelhantes às regras que regem os outros aspectos da cultura. Os indivíduos podem interpretar as regras para sua própria vantagem. Em termos econ?micos, isso é conhecido como maximiza??o. O trabalho humano e animal, a tecnologia artificial e os recursos naturais s?o reunidos para o fornecimento da sociedade. Nas sociedades em pequena escala, o comportamento econ?mico operava em grande parte no contexto da estrutura de parentesco. Em tais situa??es, Há regras que regem quem possui os recursos, como o trabalho organizado, quem usa ou come o produto, e assim por diante, tudo era regulado em base às regras de parentesco. ? medida que as sociedades se ampliaram em escala, o comportamento econ?mico foi separado do domínio do parentesco, e as institui??es econ?micas ficaram cada vez mais delimitadas como sistemas separados. Hoje, podemos dizer que o mundo é um único sistema econ?mico como consequência da globaliza??o. Vamos mostrar como as sociedades e tornaram-se parte do sistema mundial, de uma forma ou de outra. Embora neste capítulo lidamos com a organiza??o econ?mica separadamente da organiza??o política, os dois tópicos est?o interligados. As decis?es econ?micas sempre têm implica??es políticas, e as decis?es políticas também têm implica??es econ?micas. Para fins de análise, consideraremos a organiza??o econ?mica em termos de produ??o, distribui??o ou troca e consumo.?7.1 Produ??oA produ??o é o processo pelo qual uma sociedade usa as ferramentas e as fontes de energia à sua disposi??o e o trabalho de suas pessoas e animais domesticados para criar os bens necessários e fornecê-los à sociedade como a uma entidade em progresso. A tecnologia é a parte da cultura que permite que as pessoas explorem o seu meio ambiente. A tecnologia engloba a fabrica??o e uso de ferramentas de acordo com um conjunto de regras culturais. As ferramentas relacionam e afetam outros aspectos da cultura. Os artefactos têm importantes significados simbólicos. Construir casas e canoas nas Ilhas Trobriand s?o símbolos significativos?principalmente de poder. N?o só o objeto acabado, mas o processo de fabrica??o também tem significado religioso e simbólico. Hoje, a antropologia da tecnologia inclui o estudo da fabrica??o e uso de ferramentas n?o só em sociedades de pequena escala e pré-históricas, mas também em sociedades industriais modernas, apesar das diferen?as nos tipos de ferramentas. Assim, o projecto e o desenvolvimento da produ??o tornaram-se recentemente um assunto de pesquisa antropológica (ver Suchman 2001: 163-78; Aronson, Bell e Vermeer 2001: 179, 193).?Para o melhor momento da sua existência na Terra, cerca de 5 milh?es de anos, os seres humanos subsistiram por meio de uma combina??o de ca?a de animais selvagens; reunindo raízes, sementes e plantas; e pesca e colecta de marisco ao longo das margens. Este modo de explora??o do ambiente natural é referido pelos antropólogos como forrageamento ou ca?a e coleta. Representava 'um modo de existência caracterizado pela ausência de controle humano direto sobre a reprodu??o de espécies exploradas e pouco ou nenhum controle de. . . o comportamento . . . de recursos alimentares '(Panter-Brick et al., 2001: 2). A ca?a e a coleta como base de subsistência representaram um amalgama de tra?os, incluindo a autonomia individual, independentemente do sexo e da idade, o igualitarismo extremo é um apego relativamente fraco ao grupo como consequência da mobilidade. Isso permite que os ca?adores e coletores se adaptem prontamente e alterem as modalidades a segunda das circunst?ncias que mudam (Kent 1996: 13-14). No início do século XX, quando os antropólogos come?aram a fazer trabalho de campo, descobriram que as sociedades que dependiam principalmente da ca?a e da coleta foram encontradas apenas numa variedade de ambientes marginais. Os Inuit (ou esquimós) da regi?o do ?rtico, os Pigmes da Floresta do Ituri no Zaire na ?frica Central, os San (ou os bosquímanos) do deserto do Kalahari no sul da ?frica e o Washo da Grande Bacia na fronteira Califórnia-Nevada s?o exemplos de sociedades que anteriormente dependiam exclusivamente da ca?a e da coleta para sua subsistência. Essas sociedades de ca?a e coleta ocuparam diferentes tipos de ambientes com flora e fauna muito diferentes. No entanto, várias generaliza??es podem ser feitas sobre seu modo de subsistência. Todas essas sociedades tinham popula??es dispersas com densidades populacionais muito baixas. As plantas e os animais de que dependiam eram escassos ou abundantes de acordo com as esta??es do ano. As espécies animais migratórias estavam ausentes durante a maior parte do ano e depois Da mesma forma, nozes, frutas, tubérculos e sementes amadureceram durante um determinado período do ano, altura em que precisavam ser colhidas. Eles geralmente processavam recursos em campanhas com o propósito específico e trouxeram esses recursos processados de volta aos seus campos de base para serem armazenados (Rowley-Conwy 2001: 41). Para lidar com as varia??es de disponibilidade, os ca?adores e os coletores geralmente tiveram que explorar todos os recursos presentes em seus ambientes. A varia??o na dieta dos ca?adores e coletores segue a latitude, que se relaciona claramente com o clima. O grau de dependência dos alimentos vegetais diminui à medida que se afasta do equador. A porcentagem de carne aumenta até chegar ao extremo norte, onde a carne constitui quase 100 por cento da dieta (Kuhn e Steiner 2001: 103-104, ver também Jenike 2001). Há uma diversidade mais próxima do equador onde pássaros, pequenos mamíferos e répteis complementaram a dieta vegetal. As sociedades ca?adoras e coletoras seguiram um ciclo migratório porque era necessário estar em áreas específicas para colher o que estava disponível nessas áreas naquele momento. Embora houvesse sites regulares para os quais eles retornassem todos os anos, eles n?o tinham assentamentos urbanos permanentes durante todo o ano. Maiores aglomera??es de indivíduos se juntaram quando grandes quantidades de alimentos estavam disponíveis em um local. Este era geralmente o caso quando alguns recursos alimentares únicos eram abundantes (caribu de migrantes, salm?o reprodutor, amadurecimento de pinh?es e outros). Festivais religiosos foram freqüentemente realizados nesses momentos. Em outras épocas do ano, pequenos grupos dispersos de uma ou mais famílias nucleares migraram como uma unidade. A tecnologia de ca?a e coleta de pessoas utilizou materiais naturais retirados diretamente do meio ambiente, como pedra, osso, madeira e tend?o. As técnicas de fabrica??o foram relativamente simples. Ca?adores e coletores tiveram um conhecimento íntimo do meio ambiente, incluindo o comportamento animal e os padr?es crescentes das plantas. Por exemplo, o Inuit caiu no selo de várias maneiras diferentes, dependendo das condi??es climáticas, esta??es e espécies de focas. Cada parte dos animais capturados foi utilizada para alimenta??o ou fabrica??o de toda uma variedade de bens. Nas sociedades de ca?a e coleta, n?o havia especialistas cuja única ocupa??o era fazer ferramentas. Todos fizeram suas próprias ferramentas. As crian?as foram ensinadas a fabricar ferramentas como parte de sua educa??o. A diferencia??o de tarefas foi principalmente entre homens e mulheres, com homens ca?ando e pescando enquanto as mulheres reuniam plantas, colecionavam mariscos e cuidavam tarefas domésticas, como fabrica??o de roupas, prepara??o de alimentos e cuidados infantis. As crian?as come?aram a aprender tarefas em uma idade jovem, e na puberdade assumiram papéis econ?micos para adultos. Ca?adores e pescadores bem-sucedidos, que se destacaram em suas tarefas, receberam respeito e prestígio, e seu conselho foi freqüentemente procurado. As sociedades de ca?a e partilha tendiam a n?o ter divis?es de classe social. Nem eles classificavam os indivíduos como mais ou menos no status social. O próprio ambiente muda como resultado da explora??o humana. O equilíbrio ecológico é alterado à medida que as pessoas colhem as espécies que utilizam. Em algumas sociedades, foi feito um esfor?o para limitar a explora??o do meio ambiente ao impor alguns controles sobre a ca?a de certas espécies ou animais de idade jovem. Em outros casos, o ambiente tornou-se degradado permanentemente. Por exemplo, há séculos atrás na Nova Guiné, o fogo foi usado como auxílio na ca?a e, como conseqüência, as florestas primárias foram destruídas e substituídas por pastagens, alterando totalmente o ecossistema e a fauna da área. Hoje, nos Estados Unidos, estamos sofrendo as consequências do excesso de pescar e bacalhau nos Grand Banks da Nova Escócia e no litoral da Nova Inglaterra. As popula??es de ca?a e coleta nunca foram isoladas, negociando com outros ca?adores e coletores. Eles come?aram a ter rela??es de interc?mbio de longo prazo com agricultores e pastores dos mesmos ou diferentes grupos étnicos, uma vez que esses outros modos de produ??o se desenvolveram (Headland e Reid 1989; Bird-David 1992; Shott, 1992). Antes dos atuais choques políticos, os Twa de Ruanda eram ca?adores que faziam parte de uma estrutura hierárquica e casta. Eles trocaram os produtos da ca?ada com agricultores hutus e pastores tutsis. ArqueológicoA ORGANIZA??O ECON?MICA de uma sociedade é a forma como a sociedade, de forma regularizada, envolve a presta??o dos bens e servi?os materiais necessários para se reproduzir. A organiza??o econ?mica é uma constru??o cultural que opera de acordo com conjuntos de regras culturais. As regras relativas à organiza??o econ?mica s?o semelhantes às regras que regem os outros aspectos da cultura. Os indivíduos podem interpretar as regras para sua própria vantagem. Em termos econ?micos, isso é conhecido como maximiza??o. O trabalho humano e animal, a tecnologia artificial e os recursos naturais s?o reunidos para o fornecimento da sociedade. Nas sociedades em pequena escala, o comportamento econ?mico operava em grande parte no contexto da estrutura de parentesco. Em tais situa??es, Há regras que regem quem possui os recursos, como o trabalho organizado, quem usa ou come o produto, e assim por diante, tudo era regulado em base às regras de parentesco. ? medida que as sociedades se ampliaram em escala, o comportamento econ?mico foi separado do domínio do parentesco, e as institui??es econ?micas ficaram cada vez mais delimitadas como sistemas separados. Hoje, podemos dizer que o mundo é um único sistema econ?mico como consequência da globaliza??o. Vamos mostrar como as sociedades e tornaram-se parte do sistema mundial, de uma forma ou de outra. Embora neste capítulo Lidamos com a organiza??o econ?mica separadamente da organiza??o política, os dois tópicos est?o interligados. As decis?es econ?micas sempre têm implica??es políticas, e as decis?es políticas também têm implica??es econ?micas. Para fins de análise, consideraremos a organiza??o econ?mica em termos de produ??o, distribui??o ou troca e consumo.??7.2 Ca?a e coletaPara o melhor momento da sua existência na Terra, cerca de 5 milh?es de anos, os seres humanos subsistiram por meio de uma combina??o de ca?a de animais selvagens; reunindo raízes, sementes e plantas; e pesca e colecta de marisco ao longo das margens. Este modo de explora??o do ambiente natural é referido pelos antropólogos como forrageamento ou ca?a e coleta. Representava 'um modo de existência caracterizado pela ausência de controle humano direto sobre a reprodu??o de espécies exploradas e pouco ou nenhum controle de. . . o comportamento . . . de recursos alimentares '(Panter-Brick et al., 2001: 2). A ca?a e a coleta como base de subsistência representaram um amalgama de tra?os, incluindo a autonomia individual, independentemente do sexo e da idade, o igualitarismo extremo é um apego relativamente fraco ao grupo como consequência da mobilidade. Isso permite que os ca?adores e coletores se adaptem prontamente e alterem as modalidades a segunda das circunst?ncias que mudam (Kent 1996: 13-14). No início do século XX, quando os antropólogos come?aram a fazer trabalho de campo, descobriram que as sociedades que dependiam principalmente da ca?a e da coleta foram encontradas apenas numa variedade de ambientes marginais. Os Inuit (ou esquimós) da regi?o do ?rtico, os Pigmes da Floresta do Ituri no Zaire na ?frica Central, os San (ou os bosquímanos) do deserto do Kalahari no sul da ?frica e o Washo da Grande Bacia na fronteira Califórnia-Nevada s?o exemplos de sociedades que anteriormente dependiam exclusivamente da ca?a e da coleta para sua subsistência. Essas sociedades de ca?a e coleta ocuparam diferentes tipos de ambientes com flora e fauna muito diferentes. No entanto, várias generaliza??es podem ser feitas sobre seu modo de subsistência. Todas essas sociedades tinham popula??es dispersas com densidades populacionais muito baixas. As plantas e os animais de que dependiam eram escassos ou abundantes de acordo com as esta??es do ano. As espécies animais migratórias estavam ausentes durante a maior parte do ano e depois Da mesma forma, nozes, frutas, tubérculos e sementes amadureceram durante um determinado período do ano, altura em que precisavam ser colhidas. Eles geralmente processavam recursos em campanhas com o propósito específico e trouxeram esses recursos processados de volta aos seus campos de base para serem armazenados (Rowley-Conwy 2001: 41). Para lidar com as varia??es de disponibilidade, os ca?adores e os coletores geralmente tiveram que explorar todos os recursos presentes em seus ambientes. A varia??o na dieta dos ca?adores e coletores segue a latitude, que se relaciona claramente com o clima. O grau de dependência dos alimentos vegetais diminui à medida que se afasta do equador. A porcentagem de carne aumenta até chegar ao extremo norte, onde a carne constitui quase 100 por cento da dieta (Kuhn e Steiner 2001: 103-104, ver também Jenike 2001). Há uma diversidade mais próxima do equador onde pássaros, pequenos mamíferos e répteis complementaram a dieta vegetal. As sociedades ca?adoras e coletoras seguiram um ciclo migratório porque era necessário estar em áreas específicas para colher o que estava disponível nessas áreas naquele momento. Embora houvesse sites regulares para os quais eles retornassem todos os anos, eles n?o tinham assentamentos urbanos permanentes durante todo o ano. Maiores aglomera??es de indivíduos se juntaram quando grandes quantidades de alimentos estavam disponíveis em um local. Este era geralmente o caso quando alguns recursos alimentares únicos eram abundantes (caribu de migrantes, salm?o reprodutor, amadurecimento de pinh?es e outros). Festivais religiosos foram freqüentemente realizados nesses momentos. Em outras épocas do ano, pequenos grupos dispersos de uma ou mais famílias nucleares migraram como uma unidade. A tecnologia de ca?a e coleta de pessoas utilizou materiais naturais retirados diretamente do meio ambiente, como pedra, osso, madeira e tend?o. As técnicas de fabrica??o foram relativamente simples. Ca?adores e coletores tiveram um conhecimento íntimo do meio ambiente, incluindo o comportamento animal e os padr?es crescentes das plantas. Por exemplo, o Inuit caiu no selo de várias maneiras diferentes, dependendo das condi??es climáticas, esta??es e espécies de focas. Cada parte dos animais capturados foi utilizada para alimenta??o ou fabrica??o de toda uma variedade de bens. Nas sociedades de ca?a e coleta, n?o havia especialistas cuja única ocupa??o era fazer ferramentas. Todos fizeram suas próprias ferramentas. As crian?as foram ensinadas a fabricar ferramentas como parte de sua educa??o. A diferencia??o de tarefas foi principalmente entre homens e mulheres, com homens ca?ando e pescando enquanto as mulheres reuniam plantas, colecionavam mariscos e cuidavam tarefas domésticas, como fabrica??o de roupas, prepara??o de alimentos e cuidados infantis. As crian?as come?aram a aprender tarefas em uma idade jovem, e na puberdade assumiram papéis econ?micos para adultos. Ca?adores e pescadores bem-sucedidos, que se destacaram em suas tarefas, receberam respeito e prestígio, e seu conselho foi freqüentemente procurado. As sociedades de ca?a e partilha tendiam a n?o ter divis?es de classe social. Nem eles classificavam os indivíduos como mais ou menos no status social. O próprio ambiente muda como resultado da explora??o humana. O equilíbrio ecológico é alterado à medida que as pessoas colhem as espécies que utilizam. Em algumas sociedades, foi feito um esfor?o para limitar a explora??o do meio ambiente ao impor alguns controles sobre a ca?a de certas espécies ou animais de idade jovem. Em outros casos, o ambiente tornou-se degradado permanentemente. Por exemplo, há séculos atrás na Nova Guiné, o fogo foi usado como auxílio na ca?a e, como conseqüência, as florestas primárias foram destruídas e substituídas por pastagens, alterando totalmente o ecossistema e a fauna da área. Hoje, nos Estados Unidos, estamos sofrendo as consequências do excesso de pescar e bacalhau nos Grand Banks da Nova Escócia e no litoral da Nova Inglaterra. As popula??es de ca?a e coleta nunca foram isoladas, negociando com outros ca?adores e coletores. Eles come?aram a ter rela??es de interc?mbio de longo prazo com agricultores e pastores dos mesmos ou diferentes grupos étnicos, uma vez que esses outros modos de produ??o se desenvolveram (Headland e Reid 1989; Bird-David 1992; Shott, 1992). Antes dos atuais choques políticos, os Twa de Ruanda eram ca?adores que faziam parte de uma estrutura hierárquica e casta. Eles trocaram os produtos da ca?ada com agricultores hutus e pastores tutsis. Arqueológico7.3 Teorias económicas Escola formalistaPara formalistas (como Herskovits, Leclair, Salisbury ) a ciência económica tem como objectivo 'o estudo do comportamento humano e é entendido como uma rela??o entre fins e meios raros. Em outras palavras, a tese formalista atribui à antropologia econ?mica a tarefa de analisar o comportamento humano que consiste na melhor combina??o possível de meios raros e limitados para atingir fins específicos. Segue-se que a economia deve cuidar de qualquer atividade humana finalizada; N?o importa se é um acúmulo de riqueza ou uma cerim?nia de propicia??o das chuvas. Além disso, esse tipo de abordagem considera objetivos e sistemas de valores sem dar qualquer explica??o, seja de sua origem ou de seu fundamento: eles, portanto, parecem brotar de uma história social acidental.7.3.1 Homem económico Agora, embora a análise do comportamento econ?mico seja um objeto real da ciência econ?mica, a defini??o formal de economia torna impossível estudar o comportamento econ?mico, uma vez que exclui indivíduos, grupos sociais e rela??es de propriedade dos meios de produ??o do próprio campo, isto é, rela??es objetivas, mas n?o intencionais, que determinam a lógica e a evolu??o do sistema econ?mico. As rela??es sociais s?o esvaziadas de qualquer conteúdo e tudo é explicado com o homo oeconomicus, que nada mais é que a express?o que legitima a vis?o burguesa da sociedade e a 'racionalidade' econ?mica entendida como maximiza??o do lucro.Além disso, os formalistas assumem que a economia é governada por leis naturais e universais às quais todas as organiza??es sociais est?o sujeitas. Portanto, o pressuposto ideológico do sistema econ?mico liberal sobre a universalidade das leis e dos princípios econ?micos permite que esses antropólogos apliquem conceitos da economia clássica, como capital, lucro, lei de oferta e demanda, juros etc. também para sociedades ainda n?o completamente incluídas no processo de desenvolvimento capitalista; e, portanto, as teorias e conceitos válidos para analisar o capitalismo atual também s?o usados para analisar qualquer outra forma??o econ?mica. Desta forma, todo tipo de bens (ferramentas, terras, estrume, etc.) se tornam 'capital', cada transferência de bens incluindo o tomar e o dar se torna 'troca', institui??es como o potlatch s?o descritas em termos de especula??o de mercado selvagem (Boas , 1897) Por outro lado, a compreens?o dessas sociedades passa pelo reconhecimento de sua diversidade e de suas formas de economia, que obedecem às suas próprias leis.O homo oeconomicus, que atua em um estado universal de escassez, for?ado a escolher entre várias alternativas possíveis, é um produto da história e, como tal, incorpora as qualidades ideais do empreendedor burguês. Esta representa??o, relatada numa sociedade baseada em relacionamentos familiares ou em uma sociedade feudal onde a posi??o e o status s?o determinados pelo nascimento, envolve a impossibilidade de compreender as várias rela??es econ?micas e sociais que perpassam essa sociedade.7.4 Escola substantivistaPor sua parte, os substantivistas (como K. Polanyi e G. Dalton), rejeitando uma defini??o formal de economia, consideram que a economia de uma sociedade deve considerar 'as formas e estruturas sociais de produ??o, distribui??o e da circula??o dos bens materiais que caracterizam essa sociedade em um dado momento de sua existência. Essa perspectiva está ligada a uma defini??o clássica da economia que se refere a Adam Smith e Ricardo. Desse modo, superamos o pressuposto formalista da universalidade das leis econ?micas para reconhecer a existência de diferentes sistemas econ?micos que s?o o resultado de um desenvolvimento histórico específico e de ritmos desiguais de evolu??o, que devem, portanto, ser analisados usando ferramentas teóricas derivadas de análise das empresas em quest?o.Embora a última abordagem seja um passo em dire??o à teoria formalista, ainda é insuficiente para explicar as formas e estruturas dos processos da vida material. Aos substantivistas, se critica uma abordagem simplesmente empirista substantiva que é reprovada, onde n?o é levado em conta que a análise de um sistema econ?mico 'n?o deve ser confundida com a observa??o de seus aspectos visuais, nem com a interpreta??o de representa??es espont?neas, feitas por agentes econ?micos que operando em um determinado sistema o reproduzem para sua atividade.Por outro lado, esse empirismo também pode ser encontrado entre os formalistas que, apesar de pretenderem considerar apenas os comportamentos econ?micos resultantes de uma rela??o entre fins e meios escassos, quando ent?o precisam coletar dados no terreno s?o for?ados a introduzir essas variáveis sociais, culturais e ecológicas que podem explicar o jogo do mercado.Praticamente, portanto, n?o se desviam da abordagem e da preocupa??o de encontrar pesquisas sobre dados empíricos, que resulta em uma mera descri??o sistemática das rela??es entre o homem e o seu ambiente social.Portanto, é fácil afirmar que os factos s?o exatamente como aparecem, caindo em um empirismo que n?o nos permite compreender a diferen?a entre o que aparece e a realidade dos fen?menos; Por esse motivo, por exemplo, o salário é o pre?o do trabalho. No entanto, a realidade dos fatos, como demonstrado Marx apresenta-se sempre através de formas fenoménicas que d?o um medida aparente do real. Em nosso exemplo, o trabalho e o pre?o do trabalho s?o precisamente formas fenoménicas de rela??es substanciais: o pre?o da for?a de trabalho, o pre?o equivalente ao custo socialmente necessário para reproduzi-lo.Parando a análise a este nível, os substantivistas, portanto, n?o parecem ser capazes de explicar a própria estrutura da sociedade uma vez, que come?am com os 'factos' e performances espont?neas, n?o conseguem entender a lógica profunda e as rela??es económicas e sociais invisíveis e, param apenas na aparência de tais relacionamentos, e reproduzem os aspectos ideológicos e mistificadores.7.5 Antropologia económica A partir das considera??es até agora expressas, pode-se apontar que as abordagens formalistas e substantivistas, além de seus contrastes, s?o muito mais convergentes do que parecem e, segundo Godelier, representam duas variantes do empirismo funcionalista que reina na economia e na antropologia anglo-sax?nica.Meillassoux pretende analisar e explicar as formas de vida material e social e, através dos conceitos de produ??o e forma??o econ?mico-social, e tenta estabelecer uma análise social marxista.Na primeira análise, o problema que ela enfrenta n?o é tanto desenvolver uma antropologia econ?mica válida em si mesma, mas estudar as forma??es sociais específicas que especificam os diferentes 'níveis de determina??o' que contribuem para a forma??o da composi??o social. Essa abordagem, portanto, considera as rela??es sociais completas, ao se oferecerem para a observa??o, como o produto de múltiplas determina??es que, como um todo e em suas inter-rela??es recíprocas, definem forma??es sociais específicas. Essas determina??es podem ser identificadas no 1) sistema econ?mico, 2) sistema político-jurídico e 3) sistema cultural-ideológico Esta esquematiza??o seria uma primeira abordagem da realidade, Meillassoux usa algumas inst?ncias metodológicas de Althusser, que coloca a organiza??o social como 'uma totalidade cuja unidade consiste em uma certa determinado tipo de articula??o interna, portanto, de um tipo específico de complexidade que p?e em jogo certas inst?ncias ... Em toda sociedade há, portanto, em formas muito paradoxais, a a) existência de uma atividade econ?mica básica, b) de uma organiza??o política e c) de formas 'ideológicas' como religi?o, moralidade, filosofia, etc. ?O efeito combinado desses três sistemas determina a configura??o de uma organiza??o social em que o sistema econ?mico, em última inst?ncia, é decisivo; Por isso, é necessário partir dela para elaborar uma teoria da organiza??o social na sua totalidade. Por outro lado, a prioridade dada ao or?amento é para ser considerada de uma forma particular, uma vez que este sistema é apresentado como uma densa rede de rela??es sociais complexas.?Mais especificamente, podemos destacar dois aspectos: 1) em primeiro lugar, o sistema econ?mico é apresentado como uma atividade para a produ??o, distribui??o e consumo de objetos tangíveis; 2) e além disso, para o funcionamento desta produ??o, desta distribui??o e deste consumo, é um aspecto particular de todas as atividades n?o econ?micas.No primeiro caso, a transi??o de uma organiza??o mercantil pré-capitalista para uma capitalista é realizada quando a mesma for?a de trabalho se torna uma mercadoria. Por um lado temos o empreendedor que compra for?a de trabalho para organizar a produ??o, por outro temos o trabalhador que vende m?o-de-obra para obter os meios necessários para o seu sustento e o da sua família. Essas rela??es entre empregador e produtor n?o permitem nenhuma conex?o de dependência pessoal, mas deixam espa?o apenas para um relacionamento em que o trabalhador e o capitalista é visto como vendedor e comprador no mercado de trabalho.7.5.1 Rela??es de parentescoNas forma??es sociais pré-capitalistas, por outro lado, as instancias econ?micas, as políticas e as ideológicas est?o ligadas por múltiplos relacionamentos, para os quais tanto as rela??es pessoais de dependência quanto as escolhas culturais ou ideológicas específicas afetam a economia. Em particular, somos confrontados com sociedades organizadas em etnias, linhagens ou segmentos de linhagem nos quais as rela??es de parentesco formam o apoio de grupos ou linhagens que s?o ao mesmo tempo unidades de produ??o, grupo social e grupo político. Analisar as rela??es de parentesco significa, portanto, considerar n?o apenas a determina??o do status pessoal dos indivíduos em rela??o à vida social e cultural do grupo, mas também considerar materialmente como essas rela??es s?o realizadas e reproduzidas (como for?a de trabalho) nos grupos que constituem unidades de produ??o; e também considerar como os meios de produ??o s?o compartilhados entre essas unidades. Em outras palavras, Meillassoux ressalta que, mesmo em sociedades sucessivas em que as rela??es de parentesco parecem assumir uma profundidade operativa determinante, o nível de análise deve sempre ser confrontado com a organiza??o material da sociedade. Essa abordagem metodológica é evidente quando tratamos da situa??o económica tradicional angolana, onde os elementos de análise que est?o na base podem ser identificados na no??o de produ??o e forma??o econ?mico-social.7. 6 Modo de produ??oLembrando o que foi dito acima, a própria no??o de modo de produ??o deve ser considerada como o resultado de uma tripla determina??o: uma base econ?mica, uma superestrutura política e uma superestrutura ideológica.Base económica como um fator determinante, um modo de produ??o resulta tanto da associa??o entre um sistema de for?as produtivas e um sistema de rela??es de produ??o quanto da combina??o entre produtores e meios de produ??o. Essa combina??o é, por sua vez, determinada por dois relacionamentos: o primeiro que designa o processo de apropria??o material da natureza pelo homem; o segundo que designa o processo de apropria??o social do produto e sua distribui??o. A partir da combina??o de todos esses fatores, é possível reconstruir os diferentes modos de produ??o, ou seja, é possível expor os pressupostos de seus conhecimentos teóricos. A partir dessas no??es, se podem identificar na sociedade tradicional angolana dois modos de produ??o: ca?a e agricultura. A principal forma de ca?a é baseada em uma forma de coopera??o complexa realizada por numerosos grupos de indivíduos que se associam para opera??es específicas (ca?a com a rede, queimada). Esse tipo de coopera??o ultrapassa as áreas da comunidade familiar para se identificar, e n?o na comunidade da aldeia, que expressa regras de organiza??o - social e econ?mica - geralmente válidas apenas para opera??es de ca?a (Meillassoux, 1964, p.198).7.7 Meios de produ??o Meios de produ??o s?o: um território de ca?a, ratoeiras e redes. O território de ca?a é definido por todas as aldeias que formam uma linhagem; mais frequentemente o território é limitado às terras n?o cultivadas que cercam uma aldeia, a terra é a propriedade coletiva de seus habitantes, que podem usá-la livremente. Aqueles que pertencem às outras aldeias da mesma linhagem também podem ca?ar neste território, mas geralmente devem compartilhar uma parte da ca?a com os habitantes da aldeia.As redes e ratoeiras s?o instrumentos relativamente complexos e implicam um processo de trabalho prolongado. Eles s?o de propriedade das famílias e s?o transmitidas seguindo as regras da descendência.Os produtores s?o os ca?adores individuais, que neste caso coordenam o trabalho sob a dire??o e o controle de uma pessoa encarregada da ca?a, ou seja, da pessoa que tomou a iniciativa. A fun??o de dire??o e controle n?o é, portanto, estabelecida a priori, mas varia de tempos em tempos. Além disso, esses grupos de ca?adores n?o correspondem à divis?o em linhagens presentes na aldeia, mas s?o formados espontaneamente de acordo com os interesses de cada um. Em outras palavras, a organiza??o social da aldeia se sobrep?e a uma organiza??o de ca?adores que entra em opera??o fora da aldeia e durante a ca?ada. Nesta situa??o a distribui??o do produto ultrapassa as rela??es sociais de dependência existentes na aldeia e pode acontecer que cada ca?ador mantém para si o animal capturado, com exce??o de uma pequena parte dada ao organizador da ca?a. Em síntese , na organiza??o da ca?ada destacamos rela??es de produ??o e rela??es superestruturais que se realizam através de formas de coopera??o complexas que se referem diretamente ao sistema da aldeia.7.7.1 A agriculturaA agricultura é baseada em uma forma simples de coopera??o. Os indivíduos produtores geralmente pertencem a uma única unidade de produ??o: o segmento de linhagem ou a família estendida. Dentro desta unidade de produ??o s?o desenvolvidas diferencia??es que permitem que alguns (velhos) controlem os produtores (os jovens) e a distribui??o do produto. O controle dos velhos sobre os jovens é fortalecido pelo desenvolvimento de formas culturais e ideológicas.Os meios de produ??o que podemos identificar s?o as ferramentas e a terra. Em ambos os casos, os indivíduos produtores detêm apenas a posse desses meios de produ??o. Ferramentas n?o podem ser objeto de posse exclusiva. Geralmente s?o 'bens de uso coletivo que podem ser emprestados e pedidos em préstimo muito livremente'. No entanto, continua por esclarecer.7.7.2 As ferramentas'Na análise de Meillassoux a distin??o entre ca?a na floresta e ca?a na savana é introduzida. No primeiro caso, as regras da ca?a encontram uma resposta muito mais simétrica, mesmo na organiza??o social da aldeia. A ca?a na savana, por outro lado, representa uma forma de organiza??o social paralela à existente na aldeia, mesmo que só entre em opera??o durante opera??es específicas de ca?a. Há instrumentos usadosde madeira (morteiros, pil?es, pirogas), que podem ser fabricados individualmente ou por artes?os especializados, mas sempre dentro da aldeia, a partir de ferramentas de ferro, que s?o feitas de uma matéria-prima (as barras de ferro) importadas de 'exterior. Ora, embora a deten??o de ferramentas de madeira n?o tenha qualquer prestígio social e possa ser considerada 'bens de uso coletivo', a posse de ferramentas de ferro garante prestígio e é prerrogativa exclusiva dos velhos. E isso ocorre porque as barras de ferro s?o importadas pela troca de objetos pertencentes apenas aos velhos. Portanto as ferramentas de ferro permane?em como propriedade exclusiva dos velhos que as entregam aos seus empregados e pelo número de catanas ou enxadas possuídas pode ser avaliado o prestígio dos velhos.7.7.3 A terraA terra como meio de produ??o pertence à comunidade da aldeia e é dada em uso às linhagens individuais ou segmentos de linhagem que comp?em a aldeia. A distribui??o da terra tem como ponto de referência a linhagem, que representa a unidade de produ??o sob a dire??o e controle de um mfumu a ntoto. Em ambos os casos, portanto, os meios de produ??o s?o sempre disponibilizados aos produtores, mas nunca s?o de propriedade deles. Além disso, no modo de produ??o baseado na agricultura, a linhagem apresenta-se como a unidade de produ??o que realiza a coopera??o simples e como um lugar privilegiado de distribui??o dos meios de produ??o.A produ??o e a distribui??o do produto podem, portanto, estar ligadas à organiza??o de linhagens em unidades de produ??o caracterizadas, no que diz respeito aos produtores, na rela??o de dependência entre jovens e velhos, quanto à distribui??o, no processo de centraliza??o do produto pelos velhos e na sua redistribui??o.Resta, portanto, analisar como as rela??es sociais que definem a linhagem ou fun??o dos velhos est?o intimamente relacionadas com o aspecto material da sociedade. Mas mesmo agora é possível estabelecer as rela??es recíprocas que ligam os três níveis de análise utilizados (economia-política-ideologia) e a sua convergência para a caracteriza??o de uma forma??o social.Os dois modos de produ??o da sociedade tradicional angolana s?o, portanto, apresentados considerando tanto o aspecto da organiza??o da produ??o, tanto as inter-rela??es sociais e ideológicas particulares do modo de produ??o agrícola ou dos ca?adores.Seguindo esse caminho, torna-se possível coletar e processar os dados necessários para reconhecer uma forma??o econ?mico-social. Em primeiro lugar, podemos identificar quantos s?o os modos de produ??o que combinam e caracterizam uma determinada sociedade historicamente determinada. Podemos associar esses modos de produ??o à sua superestrutura social, política e ideológica específica. Uma vez que tenhamos definido a forma e a articula??o em que esses modos de produ??o s?o combinados, podemos determinar qual é o dominante. Finalmente, esta abordagem permite uma redefini??o dos aspectos superestruturais correspondentes aos diferentes métodos de produ??o.7.8 Velhos, Jovens e mulheresA partir dessas considera??es metodológicas, Meillassoux deduz um esquema de análise que permite estudar o fen?meno econ?mico em sociedades tradicionais de auto-subsistência. Certamente sociedades tradicionais baseadas totalmente na auto-suficiência s?o muito limitadas, mas podemos encontrar essa característica quando 'as condi??es de explora??o permanecem inalteradas até que as trocas com o exterior tenham introduzido uma especializa??o do trabalho dentro do grupo, isto é até atingiram um limite crítico no dia após o qual o grupo se torna incapaz de trocar bens importados sem transformar radicalmente suas estruturas fundamentais. 'Dentro dessas sociedades, Meillassoux identifica algumas figuras sociais que determinam a estrutura da sociedade como um todo. E estes s?o: os velhos, os jovens e as mulheres.7.8.1 VelhosOs Velhos s?o aqueles que detêm poder econ?mico e político. Esse poder deriva em parte do fato de que no processo de produ??o eles desempenham um papel de centralizadores e redistribuidores do produto, em parte porque s?o responsáveis por essa série de conhecimentos relacionados às técnicas e técnicas de produ??o relacionadas a toda a produ??o juntamente ao aspecto cultural da comunidade que tem suas especifica??es mais óbvias na religi?o, na cren?as e nos procedimentos das cerim?nias de propicia??o. Quanto ao primeiro aspecto, o anci?o dentro da família se coloca como controlador do processo de produ??o, desempenhando uma fun??o de dire??o e controle para os produtores mais jovens. As diferentes famílias que comp?em, por exemplo, uma família extensa, s?o incluídas no processo de coopera??o estabelecido para a produ??o agrícola e devolvem o produto de seu trabalho aos velhos, que o redistribuem igualmente entre as diferentes famílias. que comp?em sua família. Meillassoux dá uma explica??o bastante clara de como e por que essa obriga??o é cumprida e mantida. Estamos interessados aqui em observar que, na base desta obriga??o, e em última inst?ncia na sua manuten??o, há uma série de controles que o velho é obrigado a fazer para manter a coes?o do grupo ou permitir que o jovem se desloque de seu status para aquele de um anci?o; por exemplo, os alembamentos que o velho contrata, dando assim ao jovem a oportunidade de se casar, ter filhos e, portanto, ter também os produtores que trabalham para ele. Nesse segundo aspecto, os velhos mantêm a ?sua posi??o de prestígio, pois detêm o conhecimento ligado ao processo de produ??o e aqueles que ligam o sobrenatural a esse processo (semeadura, chuva, defesa da colheita).Além disso, os velhos apresentam toda uma série de dificuldades para os jovens adquirirem esse conhecimento (ritos de inicia??o, instru??es), regulando assim o seu influxo para novos estratos sociais. Parece evidente que a no??o de pessoa anci? ?assume um significado mais social do que cronológico. Todos aqueles que, dentro dessas organiza??es sociais, possuem certo tipo de poder e prestígio e possuem fun??es específicas, podem ser classificados como anci?os.No sociedade kongo, ao lado da categoria dos anci?os pode-se identificar pelo menos duas institui??es significativas: o mfumu a nsanda, o mfumu a vata, o mfumu a belo, e o mfumu a ntoto.Estes últimos têm um papel político e social particular. E é por essa soma de conhecimentos tradicionais que se pode dizer com Léopold Senghor que, toda vez que um velho morre, é como se tivessem queimado uma biblioteca. Eles s?o os guardi?es da tradi??o e tem a tarefa de ensinar aos jovens. Além de ensinar aos jovens podem ser considerados os censores dos costumes e os defensores da ideologia do grupo. O velho é, portanto, um mediador social e através dessa media??o podemos identificar a sua fun??o econ?mica: onde, por exemplo, é um dos canais por meio dos quais a economia das sociedades simples é implementada em Angola.7.8.2 Administra??o dos velhosA troca de bens difere, numa base qualitativa, em diferentes níveis de circula??o: o circuito de bens alimentares, o de bens de prestígio e o de bens matrimoniais. Esses três ativos possuem três diferentes esferas de circula??o. Os bens circulam dos produtores (jovens) para os Velhos que, em sua fun??o de redistribuidores, detêm certos bens dentro de si e redistribuem os alimentos necessários para o sustento do grupo. Os mais velhos, ent?o, retêm os bens que d?o 'prestígio' e os bens que s?o usados nos alembamentos. No nível dos jovens, apenas circulam alimentos. De facto, os idosos, impedindo o acesso dos jovens à propriedade matrimonial, controlam a acessibilidade das mulheres e, em última análise, a possibilidade de os jovens acederem ao estatuto de idosos que mostra a oportunidade de ter filhos (assim produtores). Os Bens de prestígio, circulando entre pares, refor?am suas respectivas posi??es; circulando do fundo para o topo, eles permitem atingir um posto mais alto.A circula??o de bens nos três níveis (de subsistência, de prestígio e de casamento) sanciona o status dos indivíduos envolvidos na troca. Isto é evidente no caso dos alembamentos. A acessibilidade às mulheres, neste caso, passa pela possibilidade de os jovens encontrarem um anci?o que atue como intermediário e que esteja disposto a trocar bens com outro velho do seu próprio status. Nas sociedades tradicionais, diz Meillassoux, as mulheres têm a fun??o de 'produtores de produtores' que os fazem assumir uma posi??o média e n?o simétrica à dos homens. Levamos em considera??o n?o tanto a fun??o da mulher trabalhadora, mas a sua fun??o como procriadora. Esse discurso assume todo o seu significado quando comparamos dois tipos de organiza??o social que encontramos no estudo de Meillassoux.A análise da sociedade de ca?a e a análise da sociedade de agricultores evidenciam uma série de oposi??es radicais, que v?o desde a organiza??o social da produ??o até as representa??es ideológicas. Nas sociedades de ca?adores, ao contrário das sociedades de agricultores, o controle social sobre as mulheres ou a posse exclusiva de determinadas tecnologias ou conhecimentos relacionados ao aparato ideológico-cultural n?o pode ocorrer. Os velhos, com a perda de for?a, tendo deixado de pertencer à faixa etária considerada mais influente, v?o depender materialmente dos produtores mais jovens, isto é, dos ca?adores. Neste caso, a organiza??o da família torna-se uma institui??o lábil. A mulher n?o é mais considerada como produtora de crian?as, mas como membro direto do processo de produ??o. Portanto, n?o há controle sobre a mulher e seus descendentes. As crian?as, uma vez desmamadas, s?o socializadas por todo o grupo e podem facilmente passar de um núcleo familiar para outro.A análise dos diferentes 'níveis de determina??o' destas duas forma??es sociais (agricultores e ca?adores) mostra significativas diferen?as. Os primeiros s?o baseados em uma organiza??o de produ??o que envolve uma complexa institui??o familiar e envolve uma maneira de explorar a terra que envolve toda a sociedade; os últimos s?o baseados em uma organiza??o de produ??o baseada em uma maneira de explorar a terra como um objeto de trabalho. Neste caso, o homem projecta o que ele precisa da natureza, sem melhorá-la ou modificá-la. Essas sociedades s?o formadas por grupos limitados que geralmente se movimentam por um grande território assim que os recursos naturais de um lugar se esgotam. O trabalho na terra tem um retorno instant?neo e n?o diferido. As formas de coopera??o na produ??o (ca?a e coleta) n?o s?o pré-determinados, mas s?o grupos ad hoc que por sua vez est?o associadas em empresas específicas. O status social n?o afeta os relacionamentos de produ??o; já que a coopera??o na produ??o é baseada em faixas etárias, dependendo da capacidade dos indivíduos de suportar os esfor?os. A ca?a coletiva também implica um número de pessoas que excedem o círculo da família extensa. Assim, a família, n?o sendo capaz de coincidir com esse grupo de coopera??o, tende a reduzir-se na sua dimens?o mínima: a família nuclear. Além disso, as mulheres e os homens participam em quase todos os processos de produ??o superando da divis?o do trabalho com base no sexo e definindo suas rela??es em um nível quase perfeito de igualdade.Em primeiro lugar, nas sociedades de agricultores, notamos que a terra é usada como meio de trabalho. Ou seja, a for?a de trabalho é incorporada à terra, cujo produto é diferido ao longo do tempo. Isso significa que a coopera??o n?o pode mais ser limitada a um curto período de tempo, mas deve ser prolongada e sujeita à dura??o dos ciclos agrícolas. O tempo e o futuro, se na sociedade de ca?adores n?o constituíam uma preocupa??o nos agricultores se torna constante apreens?o conectada com a repeti??o do ciclo agrícola e com a colheita. A filia??o e a organiza??o da família garantem a renova??o dos produtores que permitem a existência do grupo. Dentro da família, as crian?as aparecem naturalmente sujeitas à autoridade dos velhos e as mulheres tornam-se os meios para controlar e aumentar o número de empregados.Parece, portanto, que o modo de produ??o das várias organiza??es sociais implica uma estrutura diferente da sociedade. Em última análise, o modo de produ??o determina a organiza??o das rela??es sociais. Mas em si o modo de produ??o é uma no??o complexa que abrange as rela??es entre os meios de produ??o e as rela??es de produ??o Existem múltiplos modos de produ??o que contribuem em suas rela??es mútuas para caracterizar uma determinada sociedade. Podemos comparar as duas sociedades, ca?adores e agricultores a partir do modo de produ??o baseada na ca?a e outro baseado na agricultura, embora este último é considere-se dominante. Como vimos, entre os agricultores agora a organiza??o familiar é mais estruturada e rela??es familiares assumem certas características que se especificam seja ao nível de produ??o e ao nível das rela??es com os outros grupos. Assim, parece que os relacionamentos de parentesco assumem particular relev?ncia. Levi-Strauss afirma que, nas sociedades primitivas, as regras que governam parentesco e casamento têm um 'valor operacional comparável à de fen?menos econ?micos em nossa sociedade. Por um lado, as rela??es de parentesco seriam, de alguma forma, criadas ou geradas pelas rela??es de produ??o, para as outras, elas se formariam de forma aut?noma e teriam fun??es econ?micas apenas em termos marginais. O problema é mostrar 'como a inst?ncia econ?mica e a inst?ncia ideológica, transformam o corpo político-judicial para torná-lo capaz de assumir diferentes fun??es, tendo em conta o grau de desenvolvimento da base econ?mica; em outras palavras, devemos considerar as rela??es de parentesco concretas, como o produto das três inst?ncias do modo de produ??o.7.9 Organiza??o económica das sociedades tradicionaisA organiza??o econ?mica de uma sociedade é a maneira pela qual essa sociedade, de forma regularizada, fornece os bens materiais e servi?os de que necessita para se reproduzir. Organiza??o econ?mica é uma constru??o cultural que opera de acordo com conjuntos de regras culturais. Regras relacionadas a organiza??o econ?mica s?o semelhantes a regras que governam os outros aspectos da cultura. Indivíduos pode interpretar as regras em seu próprio benefício. Em termos econ?micos, isso é conhecido como maximiza??o.O trabalho humano e animal, a tecnologia humana e os recursos naturais s?o reunidos para o provisionamento da sociedade. Em sociedades de pequena escala, o comportamento econ?mico operou no grande contexto da estrutura de parentesco. Em tais situa??es, as regras que dirigem quem possui os recursos, como quem oferece o trabalho e quem gasta o produto, s?o regras de parentesco.? medida que as sociedades se expandiram em escala, o comportamento econ?mico foi separado do ?mbito do parentesco e as institui??es econ?micas tornaram-se cada vez mais delimitadas como sistemas separados. Hoje, o mundo pode ser dito ser um sistema econ?mico único como consequência da globaliza??o. Decis?es econ?micas têm sempre implica??es políticas, e as decis?es políticas também têm implica??es econ?micas, como se manifesta no termo economia política. Para fins de análise, consideraremos a organiza??o econ?mica em termos de produ??o, distribui??o ou troca e consumo.PRODU??OProdu??o é o processo pelo qual uma sociedade usa as ferramentas e fontes de energia à sua disposi??o e o trabalho do seu povo e dos animais domesticados para criar os bens necessários para o fornecimento da sociedade colocando-os a disposi??o.Tecnologia Tecnologia é aquela parte da cultura que permite que as pessoas explorem seu ambiente. A tecnologia engloba a fabrica??o e o uso de ferramentas de acordo com um conjunto de regras culturais. As ferramentas se relacionam e afetam outros aspectos da cultura. Os Artefatos têm importantes significados simbólicos. Produzir sacos de milho e Jinguba tornou-se símbolo significativo de poder. N?o só o objeto acabado, mas o processo de fabrica??o também tem significado religioso e simbólico. Hoje, a antropologia da tecnologia inclui o estudo da fabrica??o de ferramentas e o seu uso n?o apenas em sociedades de pequena escala e pré-históricas, mas também em sociedades industriais modernas, apesar das diferen?as nos tipos de ferramentas. Portanto, o design e o desenvolvimento da produ??o tornaram-se recentemente objeto de pesquisa antropológica. Ca?a e Colheita Para o maior tempo de sua existência na Terra, cerca de 5 milh?es de anos, os seres humanos subsistiram por meio de uma combina??o destas actividades: ca?a de animais selvagens; colheita de raízes, sementes e plantas; pesca e colheita de frutos de vida marinha ao longo das margens. Este modo de explora??o do ambiente natural é referido pelos antropólogos como forrageamento ou ca?a e coleta. Representava “um modo de existência caracterizado pela ausência de controle humano direto sobre a reprodu??o das espécies exploradas e pouco ou nenhum controle sobre. . . o comportamento . .e o consumo de recursos alimentares ”. Ca?a e coleta como base de subsistência representavam um amálgama de características que incluíam autonomia individual, independentemente do gênero e idade, igualitarismo extremo e uma liga??o relativamente frouxa ao grupo como consequência da mobilidade. Isso permitiu que os ca?adores e coletores se adaptassem prontamente e modificassem as formas de convivência em base às circunst?ncias. No início do século XX, quando os antropólogos come?aram a fazer o trabalho de campo, descobriram que as sociedades dependentes principalmente da ca?a e coleta eram encontradas apenas em uma série de ambientes marginais. Os inuits (ou esquimós) da regi?o ártica, os pigmeus da floresta de Ituri, no Zaire, na ?frica Central, os san (ou bosquímanos) do deserto de Kalahari, e o Washo da Grande Bacia, na fronteira Califórnia-Nevada. 7.9.1 Os !Kung de AngolaS?o exemplos os Kung de Angola de sociedades que antes dependiam exclusivamente da ca?a e coleta para sua subsistência. Essas sociedades de ca?a e coleta ocupavam o ambiente do deserto do Kalahari muito diferentes, com flora e fauna muito diferentes. No entanto, várias reflex?es podem ser feitas sobre seu modo de subsistência. Todas essas sociedades tinham popula??es esparsas com densidades populacionais muito baixas. As plantas e animais de que dependiam eram escassos ou abundantes de acordo com as esta??es do ano. Espécies de animais migratórios estavam ausentes durante grande parte do ano e depois se apresentaram por um curto período de tempo em superabund?ncia. Da mesma forma, nozes, frutas, tubérculos, o mangongo e sementes amadureceram durante uma determinada época do ano, quando precisavam ser colhidos. Eles frequentemente produziam recursos em àreas e armazenavam em outras. Para lidar com diferentes situa??es produtivas, os Bosquimanes geralmente precisavam explorar todos os recursos presentes em seus ambientes. A varia??o na dieta de ca?adores e coletores segue a latitude, que se relaciona claramente com o clima. O grau de dependência dos alimentos vegetais diminui à medida que nos afastamos do equador. A percentagem de carne aumenta até chegar ao extremo norte, onde a carne constitui quase o 100% da dieta. Há mais diversidade perto do equador, onde aves, pequenos mamíferos e répteis complementam a dieta vegetal.Estilo semi-nómadeAs sociedades de ca?adores-coletores Kung seguiam um ciclo migratório porque era necessário estar nas matas do Kwando Kubango para colher o que a mata dispunha naquelas áreas naquela época. Embora existissem aldeias kwanhamas e kwangaris onde regressavam todos os anos durante o cachimbo, eles n?o possuíam assentamentos permanentes durante todo o ano. Aglomera??es maiores de indivíduos se juntaram quando quantidades maiores de alimentos estavam disponíveis numa localidade. Este era geralmente o caso quando algum recurso alimentar único era abundante (bufalos, peixes, mangongo e similares). Festivais religiosos eram frequentemente realizados em tais ocasi?es. Em outras épocas do ano, pequenos grupos dispersos de uma ou mais famílias nucleares migravam como uma unidade. Cultura materialA tecnologia das pessoas que ca?avam e colecionavam utilizava materiais naturais extraídos diretamente do meio ambiente, como pedra, osso, madeira e ndjaviti. Técnicas de fabrica??o eram relativamente simples. Ca?adores e coletores tinham um conhecimento profundo do ambiente, incluindo o comportamento animal e os padr?es crescentes das plantas. Por exemplo, os Khoisan ca?avam de muitas maneiras diferentes, dependendo das condi??es climáticas, das esta??es e das espécies de animais. Cada parte dos animais capturados era usada para comida ou para a fabrica??o de toda uma variedade de mercadorias. Nas sociedades de ca?a e coleta, n?o havia especialistas cuja única ocupa??o fosse fabricar ferramentas. Todos fizeram suas próprias ferramentas. As crian?as aprenderam como fabricar ferramentas como parte de sua educa??o. Diferencia??o do trabalhoA diferencia??o de tarefas era principalmente entre homens e mulheres, com homens ca?ando e pescando enquanto as mulheres juntavam plantas, coletavam frutas e cuidavam de tarefas domésticas, como fabrica??o de roupas, prepara??o de alimentos e cuidados com a crian?a. As crian?as come?aram a aprender tarefas em tenra idade, e na puberdade assumiram papéis econ?micos adultos. Ca?adores e pescadores de sucesso, que se destacavam em suas tarefas, recebiam respeito e prestígio, e seus conselhos eram frequentemente procurados. Sociedades de ca?a e coleta tendem a n?o ter divis?es de classe social. Nem costumavam classificar os indivíduos como mais altos ou mais baixos no status social. O próprio ambiente muda como resultado da explora??o humana. O equilíbrio ecológico é alterado quando as pessoas colhem as espécies que utilizam. Em algumas sociedades, foi feito um esfor?o para limitar a explora??o do meio ambiente através da imposi??o de alguns controles sobre a ca?a de certas espécies ou animais de idades jovens. Em outros casos, o meio ambiente ficou permanentemente degradado. Por exemplo, séculos atrás, em Angola, o fogo foi usado como ajuda na ca?a e, como consequência, as florestas primárias foram destruídas e substituídas por pastagens, alterando totalmente o ecossistema e a fauna da área. Hoje, em Angola, estamos sofrendo as consequências de ca?as e queimadas irracionais. As popula??es de ca?a e coleta nunca foram isoladas, negociando com outros ca?adores e coletores. Eles come?aram a ter rela??es de interc?mbio de longo prazo com os agricultores e pastores do mesmo ou de diferentes grupos étnicos, mudando o modo de produ??o (Rosman 2009: 161-167).?Kwando Kubango e KuneneA margem norte do deserto de Kalahari é um ambiente caprichoso e exigente. A precipita??o total da esta??o chuvosa pode variar de quarenta centímetros ?de chuva que enchem depress?es na terra e forma po?as que muitas vezes permanecem cheias por semanas ou até meses. Viajar para lugares distantes é fácil, e as pessoas podem se dispersar em pequenos grupos pela área em busca de ca?a e outros alimentos. As plantas menos conhecidas, vistas apenas uma vez em vários anos, florescem, mas alguns dos alimentos mais básicos podem ficar submergidos. Chuvas contínuas podem até fazer com que o fruto do alimento básico, a noz mangongo rica em proteínas, apodre?a; pior ainda, raras chuvas pesadas no início da temporada podem danificar as flores do mangongo antes de darem frutos. 45 cm de chuva, comparados com o deserto, é uma condi??o de seca, e muitas das plantas comestíveis reunidas por mulheres !Kung n?o podem ser encontradas. A seca terrível ocorre na área do Cunene cada quatro anos. Sabendo onde est?o localizadas as nascentes de água permanentes, sendo capazes de ver as trepadeiras murchas que sinalizam grandes raízes armazenadoras de água escondidas vários metros abaixo do solo, lembrando também os buracos parcialmente fechados dos grossos troncos de mangongo e loncha que escondem água aprisionada, pode significar sobrevivência. O MangongoTudo isso é agravado pela variabilidade geográfica da precipita??o dentro de uma esta??o; uma área pode receber o dobro de outra a apenas alguns quil?metros de dist?ncia. Um visitante inexperiente sentado nesse deserto de areia e espinhos em períodos de setembro a novembro, primeiro procuraria alguma sombra, e ficaria grato em encontrar alguns ?lugares onde a temperatura permanece apenas 37° C. O visitante pode n?o ver a água em qualquer lugar e pode encontrar pouca coisa para comer. Mesmo no meio dos bosques de Mangongo, com centenas de milhares de nozes no ch?o, o recém-chegado pode passar fome; seria necessário encontrar pedras fortes o suficiente para quebrar a casca, ent?o determinar como segurar a noz entre as pedras e, sem esmagar um dedo, atingi-lo com energia suficiente apenas no ponto certo para fazê-la rachar ao longo da linha de falha, liberando a medula dentro.A ca?aSuponha que um animal fosse avistado e suponha ainda que o visitante tivesse tido a vis?o de ter formado pontas de flechas de restos de ossos, veneno das larvas de um certo insecto, um arco de ramo verde seco, e um fio de linhas de plantas fibrosas enroladas em fio. Mesmo para um visitante t?o bem preparado, seria preciso ter a sorte mais extraordinária para ter sucesso sem anos de treinamento e experiência em rastreamento, persegui??o e tiro. E mesmo assim, quanto tempo levaria para o animal morrer? Horas? Dias? O visitante seria capaz de seguir seus rastros? Para encontrar comida vegetal suficiente para sobreviver nesse meio tempo? Mesmo os !Kung matam em média apenas um animal cada quatro dias de ca?a. O ca?ador deve saber ler os rastos dos animais - saber quando passaram e de que espécie de animal se trata, bem como a idade, tamanho e condi??o de saúde do animal. O animal n?o deve apenas ser rastreado, mas perseguida, e o ca?ador deve entender os caprichos do vento para chegar perto o suficiente para um tiro certeiro. Se a flecha bater, ela deve deve criar uma ferida suficiente para o veneno entrar e penetrar, quanto tempo o animal levará para morrer, e onde é provável que ele se desloque antes de morrer. Se o animal for grande, o ca?ador pode voltar para a aldeia durante a noite e regressar no dia seguinte com outras pessoas para ajudar. Eles seguem as pegadas novamente, encontram o animal e, se ainda n?o estiver morto, o matam com lan?as. Se já estiver morto, o animal pode ter atraído le?es, on?as, hienas, chacais, mabecos ou abutres, separadamente ou em conjuntos, e estes ter?o de ser afugentados, às vezes correndo grande risco. A carca?a será ent?o abatida e a pele cuidadosamente removida para depois ser preparada e transformada em roupas ou cobertores. O fígado será assado e comido imediatamente e o resto da carne preparado para ser levado de volta. Nada será deixado para trás ou desperdi?ado. A educa??oAs habilidades e inclina??es de ca?a de um homem s?o promovidas no início da inf?ncia, geralmente come?ando quando ele é apenas um bebê. Arcos e flechas de brinquedo s?o normalmente dados a crian?as pequenas, geralmente por crian?as que n?o s?o muito mais velhas do que elas. Objetos pendurados s?o seus primeiros alvos. Em breve, acrescentam-se os insectos e aves que se movem, como gafanhotos e besouros. ? medida que os meninos crescem, eles melhoram a sua pontaria jogando bast?es e lan?as de madeira. A sua experiência em seguir pegadas de animais, como sua capacidade de identificar as centenas de espécies de plantas e animais no ambiente, é um processo lento, adquirido através da prática e observa??o. Grande parte do conhecimento dos animais t?o necessária para o sucesso na ca?a é aprendida nas discuss?es acerca das ca?as presentes e passadas. Por volta dos doze anos de idade, os meninos recebem as suas primeiras armas - com pequenos arcos e flechas - de seus pais, e come?am a atirar em pássaros e coelhos. Eles também podem ser ensinados a montar armadilhas. O próximo passo é acompanhar seus pais, tios e irm?os mais velhos quando saem para ca?ar. Ca?adas s?o muitas vezes perigosas. Os! Kung enfrentam o perigo corajosamente, mas n?o o procuram ou assumem riscos para provar sua coragem. Evitar logo situa??es perigosas é considerado prudente, n?o covarde ou desmascarado. N?o se espera que garotos jovens conquistem seu medo e ajam como homens adultos. Para riscos desnecessários, os! Kung dizem: 'Mas uma pessoa pode morrer!'Tornar-se adultoUm menino provavelmente matará seu primeiro grande animal entre as idades de quinze e dezoito anos. A cultura reconhece este evento como um marco e realiza duas cerim?nias separadas para celebrar a morte do primeiro macho e da primeira fêmea. Pequenas tatuagens rituais s?o administradas e pequenos cortes adicionais s?o feitos para garantir, simbolicamente, a for?a e o sucesso do futuro do garoto como ca?ador. Embora agora considerado elegível para o casamento, ele n?o pode realmente se casar só depois de dez anos. Estes anos ser?o gastos refinando suas habilidades e conhecimento da ca?a. Aos trinta anos, um homem entra no período mais produtivo da sua carreira de ca?ador, o que provavelmente se estenderá por pelo menos quinze anos. Durante esse período, ele passará entre 1900 e 3300 Km por ano na busca das cinquenta e cinco espécies de mamíferos, aves, répteis e insetos considerados comestíveis. Ele usará vários métodos para capturar animais que vivem acima e abaixo do solo, inclusive derrubando-os com paus, capturando-os, perseguindo-os com ou sem c?es e ca?ando-os no estilo clássico com flechas e lan?as envenenadas. Baseando-se no conhecimento de si próprio e das outras pessoas sobre as condi??es ambientais, ele decidirá em que dire??o os ca?adores devem ir num determinado dia. Ele também pode prestar muita aten??o à fonte mágica - sonhos e discos de adivinha??o - que supostamente fornecem informa??es sobre o paradeiro dos animais. Essas fontes também ajudar?o a dar confian?a a ele, sugerindo que as poderosas for?as do “outro mundo” est?o com dele. Ele pode ca?ar sozinho ou com os outros. Quando ele ca?a com os outros, ele usará nomes secretos para se referir a animais sendo perseguidos, e os ca?adores se comunicar?o por sinais manuais e assobios para n?o perturbar a ca?a. A partilha da carneSe o ca?ador for bem-sucedido em matar um animal grande, este será cuidadosamente abatido e trazido de volta para a aldeia. Aí a carne será distribuída de acordo com regras de precedência bem estabelecidas. Todos receber?o uma por??o, direta ou indiretamente. A carne é altamente valorizada - as pessoas podem falar de “fome de carne”, mesmo quando outros alimentos s?o abundantes - e carne bem atada com gordura é especialmente valorizada porque na maioria dos animais do deserto a carne é magra. Como a disponibilidade de carne é t?o incerta, as distribui??es s?o eventos carregados de emo??o; o tamanho das por??es depende n?o apenas de quest?es claras como o parentesco, mas de quest?es sutis, como a contribui??o para a ca?a. As quest?es s?o ainda mais complicadas pela tradi??o de que a maioria dos ca?adores carrega as flechas de outras pessoas em suas algibeiras ao lado das suas flechas. A flecha que mata um animal n?o pode, portanto, pertencer ao ca?ador que atirou nele. De acordo com o costume Kung, a pessoa que possui a flecha é considerada a verdadeira “dona” da carne, e a prestigiosa (e onerosa) tarefa de distribuir a carne é justamente dele (ou dela - as mulheres às vezes também participam) . Assim, a distribui??o deve ser tratada com grande delicadeza para evitar insultos, reais ou imaginários. Parte da carne pode ser seca para consumo posterior, mas quantidades ingentes ser?o entusiasticamente consumidas no local. Se o ca?ador n?o for bem-sucedido, ele pode coletar alguns alimentos vegetais a caminho de casa para n?o voltar para a aldeia de m?os vazias.Os homens kung variam muito em sua habilidade de ca?ar, mas níveis diferentes de sucesso n?o levam a diferen?as de status. Auto deprecia??o e subestima??o s?o rigorosamente exigidas do ca?ador após uma ca?ada bem-sucedida. Essa modéstia está em evidência a partir do momento em que ele entra na aldeia para transmitir suas notícias. Andando em silêncio, ele se senta ao lado de uma lareira - a dele ou a de outra pessoa. Ele cumprimenta as pessoas e espera. Quando eles perguntam, ele diz: 'N?o, eu n?o vi nada hoje. Pelo menos, nada vale a pena falar. ”Os outros, bem versados nas regras, insistem em detalhes:“ Nada do que você viu. . . você chegou perto o suficiente para atingi-lo? ”Assim, a conversa lentamente revela que um cachote, um bufalo ou até mesmo uma girafa foram atingidos. Excita??o se espalha através do acampamento enquanto as notícias se espalham; Enquanto isso, o ca?ador se senta como antes, descrevendo silenciosamente os eventos que levaram à matan?a. Reconhecimento das habilidadesSe o seu comportamento é interpretado como arrogante ou se a sua realiza??o n?o é apresentada como uma mistura de habilidade e sorte, piadas e escárnio podem ser usadas para pressioná-lo a regressar na ca?a. Mais tarde, relatos dramáticos da ca?a ser?o dados, e outras ca?as importantes ser?o lembradas. O problema para o verdadeiro ca?ador (ou coletor, músico, curandeiro e assim por diante) é realizar o melhor possível sem provocar inveja ou raiva nos outros. Esta tens?o pode ser diminuída pelo costume de compartilhar flechas, o que ajuda a difundir a responsabilidade pela morte. Além disso, um ca?ador menos bem-sucedido pode se sentir imbuído de poder ao usar flechas de ca?ador mais bem-sucedidas, e isso pode dar a ele a confian?a de que ele precisa para ter sucesso. A maioria dos ca?adores também alterna a ca?a com longos períodos de inatividade, proporcionando aos outros a oportunidade de trazer carne e receber o elogio e a aten??o do grupo - por um tempo. ? medida que envelhece, um ca?ador come?a a acompanhar os homens mais jovens na ca?a, ajudando-os a aprender as habilidades e conhecimentos acumulados durante seus quase quarenta anos de experiência ativa. No momento em que ele terminar sua carreira de ca?a no início dos anos 60, ele terá matado entre 80 e 120 (ou mais) grandes animais de ca?a, bem como centenas de animais menores. Se ele ficar bem de saúde, ele acabará mudando para as armadilhas, ensinando aos garotos a interpretar pegadas de pássaros e pequenos animais no mato e procurando comida em áreas próximas à vila (Shostak 2000: 73-95) .Como os ca?adores e colectores contempor?neos se adaptaram ao mundo modernoA ca?a e a coleta como um empreendimento econ?mico s?o um modo de vida que continua ainda? até hoje e é sempre combinado com outros tipos de atividades econ?micas, no Kwando Kubango, Faixa de Caprivi os Kung, se prestam a pastar o gado dos kwanhamas, as vezes trabalham para os Ganguelas em regime de escravid?o e como única recompensa recebem os pastos e um pouco de tabaco.Usam já ferramentas modernas como ca?adeiras, armadilhas de a?o e motoserra. Hoje, as colheitas dependem de trabalho humano, dos que est?o intimamente ligados à terra, têm recursos e propriedade comum num sistemas de gest?o, que implica uma vis?o do mundo que combina natureza com fen?menos espirituais. Em Kakutchi os empresários namibianos quiseram tra?ar estradas e picadas para os cami?es atravessandoáreas onde as aldeias tradicionais viviam, eles tiveram que lidar com o problema dos velhos que n?o aceitavam o desenvolvimento comercial. Os bulldozers come?aram arrastar terra de lado e planar, mas arrastaram também um síto sagrado onde os velhos tinham colocado algo para travar as invas?es dos le?es. A partir daquela data os le?es recome?aram a atacar. Os engenheiros tiveram que pedir desculpa aos velhos e se sujeitar ?s suas indica??es, somente assim os le?es voltaram nas matas.Tempo colonial e tempo actualNo início dos anos 1960, o governo colonial português tentou de sedentarizar as popula??es que viviam nas abaixas, e as que viviam de ca?a e coletas, estabelecendo-as em aldeias ao longo das estradas principais, e transformando-as em agricultores, dando-lhes sementes e vacinas contra a doen?a do sono (campanha da Pentamidina) eram assim obrigadas a? cultivar lavras em áreas pouco férteis fora dos seus próprios campos. Este plano logo falhou pois continuaram na sexta sábado e domingo a voltar para as floresta e continuar sua vida de ca?a e colecta (Serr?o Ravara 1970: 83-139). Os comerciantes do mato organizaram lojas onde a rela??o patr?o-cliente era empostada em criar elos com os vizinhos camponeses agrícolas, trocando carne por mercadorias. Os produtos do mato também iniciaram a ser vendidos na cidade. Hoje a carne que vem de Lubango é apreciada n?o só porque fornece proteína animal, mas é valorizada pelo povo de Luanda, porque é vista como algo de genuíno ?n?o obtido por importa??es de surgelados. Além disso, os Kung quando a mata n?o fornece recursos também trocam trabalho diurno por comida, cerveja, utensílios de ferro, roupas femininas e embora os Kung tenham contatos com a economia de mercado, a sua própria economia permanece 'n?o-capturada' pela economia monetária nacional '.Os carvoeiros da estrada Caxito-Nzeto ainda passam parte da tempo nas cubatas da floresta, aprisionando animais com modernas armadilhas de a?o e com armas. As carnes de viados, kambwisi, gazelas, s?o vendidas ao longo do asfalto e procuradas pelos carros que aí passam.Mudan?as na cultura !KungOs primeiros assentamentos de Kwanhama e Herero e Cuangari na área do Cunene e Kwando Kubango provavelmente foram tolerados pelos !Kung principalmente porque era mais fácil acomodar do que lutar. Mas é provável que tenha havido alguma resposta positiva dos Kung à sua presen?a também. Aldeias fixas com recursos alimentares permanentes eram um contraste t?o dramático com a vida n?made da mata, tratavam-se de pessoas altas, pesadas, crist?os, povo de língua bantu que era para o !Kung estranhos pois bebiam leite, comiam mahini, cuidavam das lavras, criavam bois domésticos para carne e comércio, e as mulheres vestiam roupas coloridas. Também pareciam atraentes. Seus eumbos estáveis e definitivos, com cabanas robustas bem separadas dos currais dos bois, também eram uma espécie de seguran?a para os !Kung contra a escassez ocasional de alimentos na mata. Quando necessário, os !Kung podiam trocar seu trabalho por leite e talvez por cereais - supondo, é claro, que os Kwanhamas e Ganguelas tivessem o suficiente para poupar. (Houve também anos em que o fracasso das colheitas for?ou-os a depender do conhecimento! Kung dos alimentos do mato.) Mas as desvantagens para os !Kung também eram claras. As nascentes foram contaminadas pelo gado e pelas cabras que bebiam nas proximidades. A concentra??o de animais, excrementos de animais e caba?as de leite fresco e lavras trouxeram enxames de moscas. Doen?as venéreas e outras doen?as humanas, mais comuns nos Kwanhamas e Herero por causa do seu contato com Ondjiva, Menongue, Kwito Kwanavale se espalharam entre os !Kung. Os rebanhos de gado e cabras afastaram a ca?a e desnudaram a regi?o de capim, raízes, bagos e outras plantas silvestres, dos quais tanto o !Kung quanto os animais que eles ca?avam dependiam. Os arbustos espinhosos eram as únicas plantas que sobreviveriam aos rebanhos errantes, que comiam - em abund?ncia. As manadas pastavam cada vez mais longe dos po?os d'água permanentes, invadindo as matas onde os !Kung ainda se reuniam e ca?avam.O !Kung entre tradi??o e mudan?a? medida que os locais das aldeias Kwanhams e Herero se expandiram para abrangir os tradicionais terrenos Kung, manter o modo de vida !Kung tornou-se cada vez mais difícil. Pedir esmola aos seus vizinhos mais ricos tornou-se n?o apenas aceitável, mas necessário. Excepto para as meninas Kung que se casaram com as famílias Kwanhamas ou Herero ou Ganguela, muitos Kung que viviam em torno das aldeias deles eram essencialmente mendigos ou estavam em posi??es de escravid?o, trabalhando longas horas por pouca compensa??o direta. Os homens e mulheres Kung que antes forneciam alimentos de carne e vegetais para suas famílias, e que conduziam suas vidas com independência e dignidade, agora viviam em posi??es de baixo status em rela??o às pessoas que os tratavam como inferiores. Dados os efeitos psicológicos de tal mudan?a naquelas situa??es, n?o é de surpreender que beber o quimbombo e ndoka vendidos nas aldeias se tornou um passatempo atraente para muitos dos Kung. Muitos outros, no entanto, foram capazes de se adaptar e até mesmo de se beneficiar dos assentamentos Kwanhamas e Herero. Quando a água parada era escassa, eles trocavam seu trabalho pelo leite. Mas quando as chuvas chegavam, eles deixavam as aldeias, seguindo a atra??o de abundantes comidas nas matas em áreas distantes, ou de carne abundante de grandes abates de animais. Visitar as pessoas longe e a emo??o de se mudar para lugares novos e limpos também atraiu muitos !Kung longe da agita??o dos postos de gado. A política colonial português olhou sempre com suspeito esta etnia pois n?o conseguia administrar as “Terras do Fim do Munfo” e expulsou os missionários de Charles de Foucauld que para evangelizar os !Kung viviam com eles como nómadas. A Unita tentou de enquadrar os Kung no seu exercito, dando armas e condi??es mas os Kung recusaram e voltaram nas matas. O exercito sul-africano os enquadrou no famoso batalh?o 32, que se tornou praticamente invencível, pois desfrutava da enorme experiência que os !Kung traziam. O próprio Kung e um fluente orador de todas as três línguas Umbundu, Kwanhama e Ganguela pois n?o costuma falar a sua própria língua em presen?a de estrangeiros.Cada ano se encontra mais! Kung cuidando de seus próprios rebanhos de cabras e bois ou de outras pessoas, limpando e plantando hortas, criando galinhas e vendendo artesanato, para ganhar dinheiro para comprar gr?os, a?úcar e sal. Eles também est?o usando mercadorias mais negociadas e compradas em lojas – marmitas, panelas, pratos, talheres, gasóleo, l?mpadas e velas, tecidos coloridos e roupas fabricadas, cobertores, sapatos, lanternas e, ocasionalmente, até mesmo rádios e gravadores. O estilo da cubata Kung também está mudando: as cubatas agora est?o sendo construídas para durar, com molduras resistentes, paredes de gesso à base de lama e telhados de colmo separados - réplicas de cabanas Bantu. Talvez mais significativamente, terrenos individuais est?o, pela primeira vez, sendo demarcados dentro da área maior da aldeia. Inevitavelmente, houve mudan?as na vida diária. Rapazes e raparigas que estariam jogando ou aprendendo a colectar ou ca?ar agora cuidam de rebanhos e de cabras. Os adultos também est?o ocupados com as tarefas estabelecidas das aldeias: cercas elaboradas de arbustos espinhosos devem ser erguidas e consertadas para proteger os jardins; sementeiras e ro?as devem ser feitas; novas cubatas, muitas vezes exigindo uma semana de trabalho, precisam ser construídas, rebocadas e mantidas; os pratos devem ser lavados; roupas e cobertores precisam ser costurados, lavados e consertados; e alguns dos novos alimentos precisam de mais longos tempos de prepara??o. O padr?o do cuidado infantil também foi afetado. Situa??o da mulher !KungAs Mulheres vivem agora vidas mais sedentárias e d?o à luz mais filhos. Uma explica??o para essa mudan?a pode ser a disponibilidade de leite de vaca e de cabra e o seu efeito nos padr?es de saúde. Ou talvez as mulheres sejam mais bem alimentadas e menos ativas, facilitando o início e a manuten??o da gravidez. De qualquer forma, com duas crian?as para carregar, as mulheres s?o menos propensas a se afastar; elas tornam-se mais dependentes das novas fontes de alimento, da cria??o de animais domésticos e da agricultura. Tendo mais filhos para cuidar e mais tarefas domésticas do que antes, as mulheres !Kung podem n?o fornecer os alimentos para suas famílias que costumavam procurar antes. Esta tendência, juntamente com a crescente participa??o dos homens Kung na política, pode colocar em risco a influência e o status relativamente elevado que as mulheres Kung tradicionalmente desfrutavam. O mesmo pode ser verdade para os mais velhos! Uma vez que eles foram vistos como repositórios da cultura tradicional. Mas como suas habilidades e conhecimentos se aplicam às preocupa??es dos seus netos, que est?o indo à escola, ordenhando vacas, pastoreando cabras e burros, e até mesmo aprendendo a fazer po?os e usar armas. O que acontece com os “donos” de terras e recursos alimentares antes respeitados em um mundo onde a terra é controlada pelo governo, que distribui lotes a requerentes com grandes manadas em base a formas jurídicas complexas? Apesar dessas quest?es, alguns sinais s?o positivos. A vida relativamente sedentária dos pastores e agricultores é mais fácil para os idosos: as excurs?es ao mato s?o menos frequentes; as crian?as com uma certa idade, deixadas para trás na aldeia para cuidar dos rebanhos, também s?o capazes de cuidar de adultos mais velhos; e costumam cavalcar, transportando alimentos de áreas distantes, tornam as excurs?es mais eficientes e de menor dura??o.Os !Kung conseguiram responder a muitas das mudan?as em seu estilo de vida com flexibilidade e humor, se n?o sempre com entusiasmo. Eles entendem que adotar novos caminhos é a melhor chance de sobrevivência. Eles, portanto, come?aram a trabalhar dentro do sistema legal do país para garantir os direitos de suas terras tradicionais. Com o apoio do governo as crian?as frequentam as escolas e pagam as propinas escolares. Os postos médicos est?o diminuindo a mortalidade. A proxima??o com os Kwanhamas especialistas em agropecuária e veterinária transformou ?o trabalho dos !Kung com a terra e e o cuidado de animais domésticos tornou-se incentivo de produ??o económica. A esperan?a é que a transi??o para uma nova economia seja alcan?ada sem sacrificar a riqueza da cultura tradicional Kung. Essa esperan?a pode ainda ser realizada. As mulheres kung que vivem em aldeias sedentárias continuam a recolher ocasionalmente alimentos à base de plantas, mantendo a sua dieta mais variada do que a dos seus vizinhos de língua bantu. Eles dizem: “O leite e a comida da lavra s?o alimentos da aldeia. Mesmo se tivermos o suficiente na aldeia, ainda vamos ao mato para pegar nossa comida; nossos cora??es anseiam pelo sabor disso”. Embora os jumentos, em vez de homens e mulheres, estejam agora carregando sacos de nozes mangongo de volta dos pomares de nozes, esse alimento nutritivo continua a ser uma parte importante da dieta !Kung. Crian?as Kung que est?o indo para a escola e aprendendo os valores da cultura moderna ainda est?o sendo expostas a muitas das tradi??es de seus pais e avós, com quem passam muito tempo. Muitas das habilidades tradicionais de ca?a e rastreamento também est?o sendo mantidas, embora em uma forma alterada: mestres incomparáveis da ca?a, homens Kung est?o sendo empregados pelos Kwanhamas e Herero para ca?ar com eles ou para eles, com armas e a cavalo. Outra tendência encorajadora é o florescimento da dan?a de transe cerimonial e a dan?a das mulheres nas aldeias sedentárias. Agora que s?o menos móveis, as pessoas parecem mais inclinadas a gastar energia em bailes que durmir a noite toda; o maior número de pessoas também cria uma atmosfera excitante e festiva. A fé que os Kwanhams e os Herero professam no poder da medicina !Kung ajudou a manter seu prestígio. As pessoas que n?o s?o da aldeia Kung costumam frequentar as dan?as, onde s?o ritualmente curadas junto com todos os outros. Eles também empregam curandeiros Kung em tempos de doen?a. Seu apoio confere maior dignidade às realiza??es espirituais no contexto de contato cultural e mudan?a.Capítulo 8- A ORGANIZA??O POL?TICAAntropologia política A política sempre envolve o uso do poder? O que significa “obter um oferta que você n?o pode recusar? Na sociedade angolana, essa metáfora representa o exercício do poder em muitos contextos diferentes. Pode ser uma maneira de for?ar alguém a fazer algo que ele ou ela n?o quer fazer, ou conseguir que um concorrente se retire da competi??o. Como o poder e a política operam em diferentes sociedades? A sucess?oUm homem umbundu que aspira ao poder principalmente pode aproveitar a oportunidade da morte do irm?o de sua m?e soba para organizar o óbito e isto poderá dar a ele uma vantagem em herdar o sábado. Assim, no contexto tradicional angolano o óbito é um bem político como um evento social, religioso e de parentesco. Assim também s?o os funerais de um presidente ou de um ditador num estado totalitário. Nestes exemplos, embora o sucessor venha de um pequeno círculo de indivíduos, n?o há regra fixa em rela??o à sucess?o.8.1 Bakongo e akwakimbunduPerguntas sobre a política e o poder podem ser esclarecidas comparando os processos de organiza??o política em duas sociedades de pequena escala contrastantes, os Bakongo e os Akwakimbundu. Durkheim há muito tempo apontou que um ou dois exemplos detalhados eram dispositivos úteis . Organiza??o política dos Bakongo envolvia a divis?o do Reino em cinco províncias, cada uma continha várias aldeias. Os Membros do Reino pertenciam a grandes grupos matrilineares pertencentes às Mvila, embora as linhagens estivessem localizados. o relacionamento entre os Bakongo e os akwaKimbundu em termos do "dualismo étnico" que caracterizaria o Reino do Mwene Kongo: um grupo de invasores de língua Kongo dominou os autóctones Mbundu que constituiam o substracto humano da margem esquerda do baixo Zaire. Cada um dos grupos teria conservado, inicialmente, a respectiva identidade linguística, funcionando o idioma dos invasores como língua veicular. (Calogero Piazza 1981: 236). Antropologia políticaA política trata de algo totalmente diferente da organiza??o política. Enquanto o governo envolve a realiza??o de objetivos compartilhados, a política implica competir pelo poder. A política concentra-se na manipula??o de pessoas e recursos, nas manobras destinadas a aumentar o poder, no surgimento de fac??es que competem pelo poder e no desenvolvimento de partidos políticos com pontos de vista diferentes. A política enfatiza pontos de vista e conflito opostos, objetivos divergentes e n?o comuns. ? claro que, na nossa própria sociedade, assim como em outras, aqueles que competem pelo poder político geralmente afirmam que est?o operando para o bem comum e n?o apenas para o seu próprio engrandecimento pessoal. Eles podem realmente acreditar que isso seja verdade. A política também operou entre os Bakongo e os Akwakimbundu. Quando um chefe kongo morre, a escolha de um novo chefe está aberta a manobras políticas e competi??o entre os indivíduos das linhagens elegíveis que lidam para assumir o poder. Esses candidatos devem demonstrar suas habilidades políticas aos seguidores que s?o membros da sua linhagem. Neste ponto, os pretendentes potenciais ao poder principal fazem promessas e apontam para suas habilidades demonstradas na lideran?a e pelo seu prestígio. O homem que é reconhecido como o novo chefe tem a autoridade de governar e portanto recebe os símbolos do poder. Neste sentido política foi constantemente presente entre os Bakongo, uma vez que os chefes enfrentaram regularmente a potencial oposi??o daqueles que também aspiravam à lideran?a na mesma área. Até mesmo a decis?o de realizar uma festa podia ser a base para manobras políticas. Um rival para organizar a sua oposi??o ao chefe pode tentar organizar uma festa. Ele assim convence os outros na aldeia que esta é uma decis?o sábia politicamente. Se ele conseguir contar com o apoio da maioria dos habitantes, ent?o é possível que se torne o novo chefe. Se ele conseguir mobilizar apenas parcialmente o apoio, ele poderá liderar a sua própria fac??o mas n?o a inteira aldeia e poderá tentar novamente no futuro. Ele também pode n?o conseguir qualquer apoio, e neste caso aborrecido se retira. Os antropólogos quando estudam a política da substitui??o do chefe se referem a uma posi??o que depende das qualifica??es pessoais e da capacidade individual como um status adquirido, em contraste com um status atribuído, ou que é herdado. Distribui??o geográfica O grupo Kongo habita uma vasta área a norte e a sul do rio Zaire, entre a costa atl?ntica e Brazzaville, ocupando a regi?o administrativa do Baixo Congo (República do Congo Democratico), grande parte do Noroeste de Angola, o enclave de Cabinda e atingindo a parte ocidental da República do Congo. A sul do rio Zaire, o grupo Kongo subdivide-se nas seguintes etnias: Solongo, Mboma, Mushikongo, Zombo (Mbata), Nkanu, Mpangu, Nsundi, povo que se estende para norte do grande rio, Nsoso, Hungu, Yaka e Suku. A norte do Zaire, habitam as etnias Woyo, Kakongo, Vili, Yombe, Kunyi, Manyanga, e Bembe. 8.3 AkwakimbunduO grupo akwaKimbundu engloba, no Noroeste de Angola, as etnias Ngola, Jinga, Ndembu, Bondo e Imbangala, estende-se ainda para leste do rio Kwango e para sul de Kwanza. O sub-grupo Holo do Noroeste angolano parece n?o se poder incluir nem no grupo Mbundu nem no grupo Kongo. Os povos de língua Kongo já no século XIV se encontravam organizados num importante Estado, cujo modelo político exerceu marcada influência nas regi?es vizinhas. Todavia, o aparecimento do Estado Kongo n?o foi um caso singular na ?frica Central. 8.4 Os reinos da savanaPovos que praticavam uma agricultura extensiva de derrube e queimada tinham-se ido estabelecendo durante vários séculos na vasta savana a sul da Floresta Equatorial e a norte do rio Zambeze, assim como nas florestas da bacia central do rio Zaire, onde criaram Estados que tinham no vértice um chefe supremo. Foi possível determinar nessa vasta regi?o áreas fundamentais de inova??o política, onde se teriam desencadeado, a partir do século XIII, diversos processos da forma??o de estados. O historiador Jan Vansina, confrontando o meio ambiente com a forma de organiza??o política, notou que, na periferia da savana, os habitantes da floresta equatorial n?o est?o organizados em estados, isto é, n?o possuem sistemas políticos com estrutura centralizada e governados por um indivíduo (1965: 8). A forma??o de savana, as condi??es climáticas, marcadas pela altern?ncia da época das chuvas, cuja influência é preponderante, com a do cacimbo, e as técnicas agrícolas utilizadas. A correla??o desses três factores possibilitou a produ??o de excedentes agrícolas que permitiram a manuten??o de governantes, de um corpo de funcionários executivos e de vários especialistas na administra??o? da justi?a, nas práticas mágico-religiosas e nos diferentes artesanatos. Como se sustentavam?Segundo o esquema proposto por Maquet (1962: 135), o meio natural, as técnicas de produ??o, os excedentes agrícolas produzidos e a apropria??o desses excedentes por um dos membros do grupo explicariam a emergência e o desenvolvimento do poder político. O aparecimento dos estados sedentários da savana e as respectivas estruturas políticas s?o explicadas, fundamentalmente, pelas características do domínio tecno-económico, produtor de excedentes agrícolas. Parece existir uma certa correspondência entre as características ecológicas da savana e uma civiliza??o de celeiros e estados. Se olharmos para o Noroeste de Angola, onde se desenvolveu o Estado Kongo, verificamos que essa regi?o é ocupada n?o propriamente por savanas, mas por mosaicos de floresta-savana e que a agricultura extensiva e as queimadas devem ter sido os factores que originaram os capinzais que intercalam as florestas. A introdu??o da metalurgiaO processo ter-se-ia iniciado em épocas recuadas, pois os arqueólogos opinam que, no Baixo Zaire, a degrada??o da floresta teria come?ado antes da introdu??o da metalurgia do ferro e que cultivadores neolíticos teriam sido os responsáveis pela degrada??o da floresta nos come?os do primeiro milénio. ? importante sublinhar os condicionamentos do ambiente natural, e a produ??o de excedentes agrícolas como elementos que entram a explicar a forma??o de estados. A própria acumula??o de bens e a selec??o dos mesmos é motivada por exigências de carácter religioso e político, encontrando, portanto, a sua raz?o de ser no comportamento, nas representa??es colectivas e nas vis?es do mundo que orientam a ac??o dos chefes e a vida das sociedades. ? importante sublinhar a dimens?o económica na forma??o e existência dos estados de agricultores de savana, muito embora, numa perspectiva substantiva, tenhamos de considerar n?o apenas as formas de produ??o mas o processo económico global que abrange igualmente a circula??o e o consumo dos bens materiais. Aspectos económicos Outros aspectos do processo económico, por exemplo, o controlo das fontes de bens escassos, mas de crucial import?ncia, como é o caso do sal e dos minérios de ferro e de cobre ou o comércio a longa dist?ncia, têm sido apontados como explicativos do aparecimento de estados a sul da floresta equatorial. Vários factores, tais como a concentra??o demográfica, ac??es militares e o génio de alguns chefes têm sido igualmente relacionados com aforma??o desses estados. Nas interpreta??es de George Balandier, a funda??o do Estado Kongo, por volta do século XIV, estaria relacionada com a introdu??o de tecnologia dos metais que se tornou um privilégio real e aristocrático (1965: 248). Teria sido precisamente a superioridade tecnológica, ligada ao conhecimento da metalurgia e ao uso de armas de ferro, que teria permitido aos guerreiros de Ntinu Wene submeter as popula??es préexistentes e instaurar a organiza??o do novo Estado Kongo. Como manter o poderMalinowski (1929) menciona que o chefe tinha “Juramentos ordálicos” para punir pessoas que n?o lhe obedeciam. Eles podiam através dos ?Nganga?até infligir pena de morte. Frequentemente, as pessoas obedeciam ao chefe porque tinham medo de que o feiti?o fosse usada contra eles. Vários símbolos políticos foram associados à chefia Kongo. Sinais especiais de deferência foram mostrados ao chefe. Um dos provérbios que explica a fun??o do poder é: ?Matu ka malendi luta e nau ko? Que significa: as orelhas mesmo crescerem nunca poder?o ultrapassar a cabe?a. A apropria??o vertical de bens alimentares, e sobretudo de bens de prestígio, através das complexas e apertadas malhas da hierarquia conguesa, era, como se sabe, indissociável de um processo inverso de redistribui??o desses bens. O tributoCada chefe de mbanza pagava o tributo ao seu superior, recebendo em compensa??o um quantitativo de bens e, por sua vez, tributava os chefes seus subordinados, a quem tinha de redistribuir alguns. O Mwene Kongo, como é óbvio, n?o era tributado mas recebia tributos e redistribuia bens. Era ainda através dele que se processava o comércio externo, o que lhe permitia controlar a circula??o de bens de prestígio, de ideias e de mitos. Podemos concluir que aqueles produtos eram usados e circulavam dentro dos estreitos limites impostos pela organiza??o social e política. A acumula??o e a circula??o de tais bens escondem, porém, uma realidade subjacente: a obriga??o de tributo imposta pelos chefes aos seus subordinados e a concomitante obriga??o de generosidades a que aqueles tinham de se submeter. 8.5 Os chefesPortanto, é a sociedade e, em última análise, o sistema político que explicam a acumula??o e a circula??o dos excedentes em bens de prestígio (Sousa Martins, de R. 1999: 495-550). Malinowski (1929) menciona que o chefe tinha “privilégios especiais” para punir pessoas que n?o lhe obedeciam. Eles podem até infligir pena de morte. Frequentemente, as pessoas obedeciam ao chefe porque tinham medo de que ele usasse do feiti?o contra eles. Vários símbolos políticos foram associados à chefia Kongo. Símbolos do poderSinais especiais de deferência foram mostrados ao chefe. A pele de on?a, colocada aos pés do rei, a arvore dos julgamentos yala-nkuwu. o Kangi a Kiditu, ou seja uma cruz que vinha usada nos juramentos durante as sess?es dos tribunais. A organiza??o política dos Bakongo fornece um claro sinal de organiza??o política. Todo homem kongo tem as suas autoridades familiares, que convocam os membros da linhagem; a estas autoridades se acrescentaram as autoridades político-administrativas. Cada aldeia kongo é uma unidade interligada à Mbanza. ChefesCada aldeia kongo tem um chefe, o Mfumu e Vata, um homem que demonstrou qualidades de lideran?a e que exercita o seu poder juntamente com o Mfumu a Nsanda, responsável das reuni?es que convocam os anci?os. Na gest?o do território encontramos o Mfumu a Ntoto que distribui as terras. Estes chefes procuram de segurar o povo, com sabedoria e julgamentos no planejamento do curso de a??o para a aldeia - na realiza??o de alian?as com outras aldeias, no planejamento de estradas e constru??es que facilitem a vida e na mudan?a da vila para outra área quando as lavras est?o esgotadas. A posi??o do chefe n?o é hereditária. O chefe da aldeia deve obter o acordo de todos os homens da aldeia quando uma decis?o sobre qualquer curso de a??o deve ser tomada. O chefe n?o orienta os indivíduos a fazer coisas; Primeiro, ele mesmo os faz, dando um exemplo para os outros seguirem. Os velhos s?o constantemente desafiados por outros que aspiram à posi??o de poder. Um homem é chefe apenas enquanto os alde?es confiarem em seu julgamento. Outro indivíduo com partidários pode come?ar a se opor ao chefe e às suas decis?es. ? medida que essa oposi??o cresce, o chefe, se as pessoas perdem a confian?a nele, pode ser suplantado por seu rival, ou o chefe pode inspirar os habitantes da aldeia a usar a for?a para expulsar o líder adversário e seus seguidores e obrigá-los a formar sua própria aldeia. Como n?o há regra fixa de sucess?o, o irm?o mais novo ou o filho de um chefe n?o tem mais probabilidade de ter sucesso como chefe do que qualquer outro homem adulto na aldeia. Ninguém faz trabalho para o chefe; ele trabalha a sua própria lavra. ? o nganga que tem conhecimentos e gest?o de poderes ocultos especiais. IgualdadeComo n?o há diferen?as de posi??o entre os Bakongo - todos os machos adultos s?o iguais - n?o há sinais externos de prestigio, nenhuma deferência especial e nenhum costume alimentar especial para diferenciar o chefe de outros alde?es. O status de igualdade de todos os homens kongo adultos é consonante com a rela??o igualitária que eles têm em troca8.6 O poder da kandaA kanda podia se tornar um instrumento poderoso na participa??o do poder. Sua estrutura interna era flexível, a autoridade em cada nível era legitimada pela posi??o do detentor do poder no contexto dos velhos e devido ao seu poder de aben?oar ou amaldi?oar os jovens. Quando o poder fosse extensivo e participado, haviam estruturas que se formavam de tipo igualitárias e que prevaleciam. Ma se o poder era concentrado, ent?o nascia uma estrutura extremamente hierárquica que se formava, com chefes de linhagem que mantinham-se a causa do produto excedente. O desenvolvimento das estruturas hierárquicas da kanda podia ser facilitado e refletido na aquisi??o de indivíduos e linhagens que permaneciam dependentes. Os escravosEsta aquisi??o incluía clientes, que optavam por se colocar em estado de dependência, membros que eram temporariamente transferidos pela sua própria kanda ou linhagem em troca de uma dívida, e considerados escravos eram involuntariamente e, em teoria, permanentemente, colocados num estado de dependência. No início do século XVI, antes do desenvolvimento do comércio atl?ntico, os escravos eram normalmente presos e só recentemente compravam-se presos que mais tarde poderiam ser legitimamente vendidos. Esses indivíduos dependentes careciam, em grau variável, do complemento normal de quatro chefes interessados em auxiliá-los e apoiá-los. Eles só tinham o mfumu a kanda ou chefe de linhagem que os possuía e que era seu pai classificador. Isso n?o necessariamente tornava a sua posi??o radicalmente inferior, já que a posi??o social de qualquer pessoa dependia do número e do poder dos grupos aos quais ela era afiliada e da sua disposi??o em apoiá-lo, e no século XVII, como hoje, a posi??o de chefe de um grupo era descrita pelo verbo vwa ‘possuir’, que se aplicava tanto aos escravos quanto aos dependentes livres.8.6.1 Estruturas hierárquicasNo entanto, parentes, servos e escravos normalmente eram mais dependentes e com maior obriga??o econ?mica do que os jovens da linhagem e a sua aquisi??o contribuiu para o desenvolvimento de estruturas hierárquicas. O desenvolvimento de estruturas hierárquicas da kanda também poderia ser facilitada pela variedade de op??es de residência abertas a indivíduos do sexo masculino. Há evidências de que nos séculos XVI e XVII, como hoje, um macho da kanda podia normalmente escolher entre vários locais de residência, isto é, de localiza??o física ou de zona social. Ele tinha direitos e interesses políticos nas terras da sua própria kanda. No entanto, ele normalmente poderia estabelecer-se, se quisesse, nas terras da kanda de seu pai e av? e ele normalmente escolheria a op??o mais vantajosa. Políticas matrimoniaisO casamento poderia ser usado para legitimar e promover as rela??es políticas entre e com a kanda vizinha. A partir do trabalho feminino e da sua capacidade reprodutiva, se construíam rela??es de igualdade ou de submiss?o entre dois grupos. Assim, na sociedade altamente estratificada de meados do século XVII, os chefes de segmento de linhagem normalmente tinham pelo menos várias esposas. Havia também uma clara preferência pelos casamentos patri e matrilineare entre primos cruzados, ambos os quais teriam refor?ado as uni?es existentes. rela??es entre os grupos, o filho da irm? do pai em pé como pai classificatório para a kanda e o filho do irm?o da m?e em pé como crian?a. O casamento ou recriaria na próxima gera??o o mesmo relacionamento ou inverso. O casamento de primos cruzados matrilineares geralmente ocorre dentro de políticas e assentamentos. ? um dispositivo bem conhecido para centralizar poder, riqueza e autoridade. Se n?o for conduzido como um ‘casamento circular’, torna-se uma rela??o assimétrica entre grupos desiguais nos quais a posi??o da prole pode ser controlada. ? especialmente útil no controle da capacidade reprodutiva dos escravos. O casamento de c?njuge cruzado patrilinear ocorre entre assentamentos e organiza??es políticas e é usado como uma estratégia para criar redes que ligam grupos regionais. Havia nos séculos XVI e XVII várias formas de contrato de casamento que eram disponíveis como hoje. O arranjo mais comum era o homem fazer um presente para a mulher com a interven??o e aceita??o dos pais de ambas as partes. A residência doméstica, entretanto, era a condi??o mínima para um casamento e, nesses casos, nenhum presente era dado. Quando um homem procurava assegurar um direito a um bebê, ele apresentava um pequeno presente com panos ou bebidas ao pai, bem como à menina. DivórcioA dissolu??o de um casamento entre membros de grupos recíprocos de baixo status era fácil e frequente; era desconhecido entre membros de grupos recíprocos de status elevado onde o casamento cimentava rela??es políticas importantes, ou entre membros de grupos de status muitos desiguais onde a mulher era considerada como uma escrava. Embora a maioria das kanda pudesse, nos séculos XVI e XVII, ser denominadas de matrilineares, há alguma evidência de que, antes da evolu??o do Reino de Kongo, algumas kanda estavam profundamente segmentadas e controlavam um número de áreas distintas de terra que eram intercaladas com aquelas da kanda vizinha. 8.7 Estruturas matrilineares e patrilinearesNo século XVI, algumas das kanda 'maiores', que talvez pudessem ser chamadas matrilineares, ainda poderiam ser instrumentalizadas por fins políticos. Os Mbala, que ocupava uma extensa área do noroeste do Congo, provavelmente era uma kanda desse tipo. Parece ter sido dividida em seis segmentos que ocupavam as terras conhecidas como Ntadi, Kiondo, Savona, Kiowa, Kainza e Masongo. Se a matrilinearidade já foi um fenómeno geral, ent?o, nos séculos XV e XVI, houve mudan?as de circunst?ncias, incluindo provavelmente a migra??o e a evolu??o de outras estruturas políticas, isto fez com que a maioria delas se segmentasse em grupos matrilineares aut?nomos menores. Uma explica??o alternativa dessas linhagens matrilineares é que elas representavam o estágio final de um processo que tinha come?ado com o desenvolvimento de estruturas políticas fora da kanda, e culminou na legitima??o através da ideologias de descendência d kanda.8.7.1 Mvila za makandaAs maKanda, resultado da migra??o ou segmenta??o n?o tinha relacionamento político, mas compartilhavam o mesmo nome de linhagem, e descendiam da mesma 'm?e'. Tais formas de organiza??o social eram denominadas mvila, varias mvila foram conhecidas a partir dos séculos XVI e XVII, mas n?o há evidências de que elas exercessem influência política, seja dentro do reino, seja em rela??o às makanda que a constituiam. A fun??o sacerdotal do KitomiOs kitomi, eram sacerdotes que foram encontrados em toda a regi?o do Congo ao sul do Zaire, e representavam um tipo bastante diferente de estrutura política da kanda, baseavam-se em agrupamentos locais, em oposi??o a grupos de descendência. O facto de que chefes semelhantes com fun??es semelhantes já governaram toda a ?frica central e ocidental sugere que eles eram muito mais antigos. Os títulos do kitome relacionava seja à dimens?o do mbumba como também ao ferreiro. A palavra kitome significava o puro, o iniciado, em contraste com o profano. O título mais comum do kitome era kalunga. KalungaKalunga indicava um grande corpo de água e também o limite ideal entre a água deste mundo e doutro. Referia-se claramente aos riachos e lagos da kitomesa, por um lado, e ao seu papel de mediadora entre os dois mundos, e era coligado ao poder de transitar os defuntos dum lado para outro. Outros títulos comuns eram ngimba ou nzumba, que podiam ser referidos a vários atributos espirituais dos kitome: mbumba, que se referia diretamente à dimens?o do poder de fertilidade derivada doutro mundo; e pangala, que significava ferreiro. Os ferreirosAs conex?es entre o kitome e o ferreiro s?o obscuras, mas no século XVII os ferreiros eram muito estimados e também eram associados aos mitos de origem e à regalia do chefe. ? possível que o kitome fosse outrora ferreiro e conseguiu institucionalizar-se como o representante estabelecido do poder mbumba através do exercicio da arte de ferreiro que era de import?ncia fundamental no período inicial de desmatamento e assentamento agrícola. Poucos detalhes s?o conhecidos sobre a estrutura da chefia do kitome. Eles n?o coincidiam com a defini??o de kanda, pois um kitome governava as duas terras da se??o de Kainza e Masongo na Kanda 'maior' de Mbala no noroeste do Congo, enquanto vários governavam na regi?o de Kiowa. Pelo contrário, as fronteiras das chefias sacerdotais parecem ter sido relacionadas com as áreas de drenagem de riachos específicos dum rio ou lago sagrado que, com uma árvore sagrada, que se acreditava conter ou ser visitada pela cobra mbumba. As chefias eram controladas por linhagens sacerdotais, e as pessoas acreditavam que, se a fun??o de kitome n?o fosse continuamente exercida, a terra se tornaria estéril e a humanidade pereceria. Sucess?o do KitomePor esse motivo, o sucessor do kitome era escolhido antes da sua morte. Quando o kitome sentia-se que a sua morte se aproximava, ele comunicava seus poderes ao seu sucessor e ent?o, sempre em público, ordenava ao sucessor que o matasse por estrangulamento ou pelo sufocamento. Isso, dizia-se, garantia o exercicio contínuo da sua fun??o e impedia as contendas. O kitome nomeava um representante para cada uma das aldeias dentro de sua jurisdi??o. Acreditava-se que o kitome incorporava em si o poder da dimens?o mbumba e era sua fun??o restabelecer harmonia entre as pessoas e o mundo da natureza e, assim, assegurava a fertilidade do homem, dos animais e das plantas. Para este fim, eles estabeleceram leis rituais dentro de seus domínios. No meio do século XVII, o kitome de Nsevo, Nsundi, promulgou suas leis a partir de duas grandes pedras. Ele sentou-se numa pedra e a kitomesa, chefe feminino, sentava-se noutra. As pessoas sentavam-se no ch?o, embora o governador o mani Kongo pudesse usar um pequeno peda?o de pano. Tendo ouvido as leis promulgadas, as pessoas bebiam do fluxo sagrado do kitome.FORMAS DE ORGANIZA??O POL?TICA Alguma forma de autoridade e lideran?a sempre existiram em todas as sociedades humanas. As formas de organiza??o política que descrevemos nos fornecer?o uma imagem de como as estruturas políticas sucessivamente mais complexas se desenvolveram. Esse processo de maior complexidade política envolveu posi??es de lideran?a cada vez mais definidas. As formas de organiza??o política que descreveremos caracterizam as sociedades que hoje s?o partes dos estados-na??o. A Lideran?a informal é a forma mais simples de organiza??o política, quando a lideran?a se manifesta de forma intermitente. Esse tipo de organiza??o pode ser chamado de lideran?a informal. Inicio da organiza??o política kongoUma tradi??o difundida entre os Bakongo apresenta nove ou doze linhagens originais. Houve uma dispers?o após uma briga. Dentro da área do antigo reino de Kongo e uma sucessiva concentra??o em Mbanza Kongo. Esta antiga capital do reino formou-se ao longo dos anos pelo contínuo acréscimo de pequenos grupos. As estruturas das linhagens que existiam antes, durante e depois do estabelecimento do reino de Kongo, indicam que, ao longo do tempo, se impuseram chefes políticos aos grupos linháticos. Divis?o do TrabalhoHavia uma divis?o estrita de trabalho entre homens e mulheres. Desta divis?o temos noticias no período da coloniza??o antecipada, quando a pesada tarefa de desbravar era realizada pelos homens, e as mulheres semeavam e cuidavam das planta??es na terra desbravada pelos homens. Nos séculos XV e XVI, os homens ainda eram responsáveis por limpar a floresta ou, mais commumente, o matagal. Eles também se encarregavam ?das planta??es de árvores, como a palmeira, o bord?o, arvore de frutas, arvores cujas fibras serviam para produzir os tecidos, e outras que serviam como remédios. Havia arvores que serviam para constru??o de casas. Os homens se engajaram em outras atividades longe da terra cultivada, como a ca?a, a pesca e o comércio. FerreirosAlguns indivíduos eram artes?os e ganhavam por isso um grande prestígio. Destacavam-se os ferreiros que usavam tanto o minério de ferro, encontrado em depósitos isolados em toda a regi?o, como também o cobre, que era extraído e importado no Congo. Produziam ferramentas e armas de ferro, e objetos cerimoniais e religiosos com o cobre. Havia carpinteiros também que eram muito estimados. MulheresAs mulheres trabalhavam a terra, semeando, cuidando e colhendo. Cuidavam dos animais domésticos e colectavam frutas e outros produtos. Elas cozinhavam o jantar para o marido e os filhos. A esta subdivis?o do trabalho se acrescentou uma dimens?o religiosa. Tanto homens quanto mulheres praticavam o culto relacionado com a fertilidade da terra, do homem e dos animais. EconomiaA principal actividade econ?mica do povo era a agricultura que empenhava os camponeses em longos períodos de actividades nos bosques como vimos era praticada a arboricultura complementada pela cria??o de animais, pela pratica da ca?a e da colecta. AssentamentosA causa destas actividades os assentamento eram normalmente dispersos. As aldeias, libata, organizadas segundo o principio da descendência matrilinear, eram muito pequenas, provavelmente contavam mais ou menos trinta casas. Havia também inúmeros assentamentos dispersos chamados ki-belo, termo que indicava um segmento de linhagem estabelecido num assentamento por causa das lavra num determinado lugar. As cidades, chamadas mbanza, evoluíram como resultado do comércio, eram assentamentos de pessoas vindas doutros lugares ou concentra??es de poder, eram essencialmente áreas populacionais mais densas, com pequenos assentamentos intercalados em campos cultivados. A densidade populacional geral provavelmente n?o era alta - talvez menos de quatro pessoas por Km2; na metade do século XVII e a terra estava repleta de animais selvagens e muitas vezes perigosos. O ParentescoAo longo de grande parte da história do Congo, o uso da terra, o trabalho e a distribui??o primária do produto eram amplamente controlados por grupos de descendência matrilinear chamados makanda e, desde ent?o no Kongo a organiza??o social era estruturada segundo as makanda, n?o com indivíduos. Assim, o termo 'irm?o' era aplicado a todos os membros matrilineares da kanda; o termo 'Pai' referia-se a todos os membros do grupo paterno e 'crian?a' (mwan’a kanda) referia-se a todos os membros pertencentes à linhagem. N?o havia cargos políticos fixos, e o exercício do poder era prerrogativa dos homens, nunca das mulheres, que raramente exerciam a lideran?a. Esses líderes temporários, n?o tinham o poder de obrigar as pessoas a obedecê-los. Dentro desse sistema de posse da terra e status definiram-se grupos de descendência matrilineares, onde as rela??es com a família da m?e (kanda) e do pai (kise) eram, para o indivíduo, de import?ncia crucial, uma vez que conferiam identidade espiritual, personalidade e garantias práticas de liberdade. O muxikongo também mantinha o primeiro nome do pai como segundo nome. ? provável que os chefes das kise patrilineares se relacionassem e unissem com os da kanda matrilinear ao assumir a responsabilidade pela gest?o da vida social. A organiza??o social tinha origem duma 'dupla unilinearidade', segundo a qual um único individuo podia adquirir direitos complementares baseados nos vínculos com a família da m?e e do pai. O mundo da morteAs estruturas econ?micas e sociais do Congo estavam intimamente relacionadas e reflectiam uma vis?o mais ampla do mundo. Tratava-se duma cosmologia onde o mundo era concebido como composto de duas montanhas uma em frente doutra mas separadas por um mar. A barreira entre as duas montanhas era chamada kalunga, um termo que significa literalmente oceano ou um grande corpo de água. Kalunga, é considerado seja uma grande barreira quanto uma grande quantidade de água atravessada pelos defuntos que passam para o outro mundo. Nesse mundo do além há clareza, ordem e ausência de sofrimento. Vida do além? claro, a partir das crónicas que o Kongo dos séculos XVI e XVII mantinha uma vis?o semelhante e acreditava que 'quando um homem morria, a sua alma passava das dores da vida presente para as felicidades do outro mundo'. Na vis?o do kongo, era gra?as à alma (moyo) que o homem vivia sua vida (uzinga) neste mundo. Segundo esta vis?o quando um homem terminava sua vida (luzingu) neste mundo, a alma (moyo) retirava-se para a água onde tomava um outro corpo de cor branca e um outro nome. A alma permanecia na mesma, mas a forma dela mudava. Quando uma alma conservava a sua forma comum, era dita, kitala buna, = ainda vive na mesma. Se a alma era transformada, dizia-se, fwafwidi = n?o é mais a mesma coisa, era morta. Ritos fúnebres A import?ncia da categoria dos mortos era evidenciada pelos rituais que envolviam a morte. Esses rituais, além de suas fun??es normais de ajustamento social e político, tinham a fun??o apotropaica de desligar o sobrevivente da influência imediata exercitada pelo defunto e assegurava que o fantasma dos mortos n?o voltava a prejudicar os vivos. O óbito variava de regi?o para regi?o, mas geralmente havia um período de luto de oito dias (duas semanas do Kongo) durante o qual os parentes, amigos e escravos da pessoa morta choravam. Durante três dias o pai, o filho e a esposa eram ritualmente imobilizados. Na regi?o de Mbanza Kongo, este período terminava quando a primeira esposa conduzia os familiares ao rio mais próximo. Ali ela cortava o cinto que o marido usava em vida e o jogava no rio. O rio levava o cinto juntamente com a tristeza pelo falecido. Diferentes rituais serviram na mesma fun??o em outras partes do Kongo. Durante os oito dias os homens usavam um pano branco sempre que se aproximavam do cadáver, sendo a cor branca símbolo do luto, dos mortos e do outro mundo. Naquele tempo as mulheres pintavam os rostos e os seios com uma mistura feita de carv?o em pó, sendo a cor preta 'um preservativo e antídoto contra os mortos'. Defuntos pobres e ricosNo caso de nobreza, o cadáver era envolvido primeiramente num tecido branco e depois noutro tecido preto. Os pobres eram envolvidos num tecido rude do país e depois encobertos com uma esteira. Considerava-se t?o importante para o corpo estar completamente coberto que os pobres pediam aos que passavam, aos governadores e até ao rei de conceder-lhes algumas esteiras. E eles nunca recusavam. Os ritos funerários variavam regionalmente. Na sepultura, duma pessoa 'respeitada pela sua fun??o como uma pessoa religiosa' enchia-se a campa de terra e água, transportava-se o cadáver aos ombros e, com o rosto virado, encobria-se o cadáver. Proteger-seOs parentes 'pisavam o barro, julgando que, desse modo, o espírito justiceiro (nkuya), assim como os espíritos dos rios (nsimbi), e dos mortos iriam para o seu descanso e n?o precisavam de mais nada, e nunca iriam deixar o sepulcro para vaguear na aldeia. No século XVI e XVII por um período que variava em diferentes regi?es de um mês a um ano após a morte, os parentes do c?njuge sobrevivente 'até o segundo grau', chamados 'escravos', n?o eram autorizados a lavar, cortar os cabelos ou deixar a casa sem licen?a dos parentes da pessoa morta, denominados 'senhores'. No final do período, o parente do defunto era considerado 'livre das virtudes dos mortos' e capaz de se casar novamente. Ele ou ela ainda era obrigada, no entanto, a usar um manto preto ou um chapéu como antídoto para os mortos. Comunh?o entre vivos e mortosO culto público dos ancestrais da Kanda era conduzido pelos Bana ba Kanda e era baseado no poder espiritual atribuído ao Pai e em rela??o ao filho. Assim, no final do século XVI, as 'crian?as e parentes próximos' visitavam as campas dos defuntos a cada lua nova. Eles choravam os mortos, deixavam vinho de palma e comida para eles, e ent?o podiam comer e beber quanto pudessem. Eles continuavam a fazer isso por muitos anos. Também realizavam rituais ocasionais, provavelmente em tempos de calamidade, quando havia várias mortes ou outras sinais de raiva dos ancestrais. A comunica??o entre os membros vivos e mortos da Kanda era normal e necessária. Culto prestado aos mortosNos séculos XVI e XVII, acreditava-se que os antepassados continuassem a chefiar a família que se estendia deles até o membro mais jovem da kanda. Cada anci?o parente poderia aben?oar ou amaldi?oar o mais jovem. Esperava-se que o mais novo respeitasse o mais velho, o consultasse e oferecesse presentes de tributo. Os anci?os da kanda desempenhavam essas fun??es em rela??o aos antepassados. Da mesma forma, quando um indivíduo morria, o 'parente mais próximo' - quase certamente o parente matrilinear - cortava um peda?o de unha das m?os e dos pés e uma mecha de cabelo da cabe?a do defunto. Ele 'os conservava religiosamente em sua honra'. Eram às relíquias contidas na 'cesta dos ancestrais' mantida pelos chefes. As cestas evocavam 'humilde dependência e profundo respeito', mas nenhum culto público. Além dessas comunica??es, os indivíduos podiam invocar os defuntos para estabelecer uma rela??o social ou política, com os membros vivos da kanda. Os homens, por exemplo, frequentemente se ajoelhavam diante das lápides dos guerreiros antes de partirem para a guerra, elogiavam seu valor e imploravam sua ajuda. MbumbaUm dos propósitos dos objetos deixados nas sepulturas era, sem dúvida, facilitar estas ora??es. Embora aos mortos invocados fossem atribuídos poderes de aben?oar ou amaldi?oar os vivos, a eles se atribuía o poder de conferir fertilidade à terra e às mulheres. A este poder era atribuído o nome de? mbumba e pertencia aos espíritos da água e da terra. Este conjunto de cren?as e rituais apelavam a uma cobra gigante, água, árvores, fogo e fertilidade, bem como água individual e espíritos da terra. Há alguma evidência de que esse poder era referido como mbumba. No século XVII, mbumba significava literalmente fecundo, e os ritos do culto nkimbambumba, que apelavam ao mbumba, como motivo de fertilidade. Em meados do século XVII, dizia-se que um espírito chamado imbombo era venerado acima de todos os outros, entre os Bakongo ao norte do estuário do Zaire a mbumba mbula, mani entrava nos mitos de origem de dois estados ao sul do Zaire. No século XX, dizia-se que mbumba era uma grande potência que dominava os espíritos da Terra era um poder além dos espíritos normais. O moderno culto nkimba concebe o mbumba como uma cobra gigantesca que deixa o mar, pula nas árvores, e lan?a-se no ar para banhar-se noutra água. Embora seja conveniente usar o termo mbumba para denotar o poder em geral notamos que em certas fontes modernas considera-se o mbumba um espírito entre muitos espíritos. Kanda como estrutura política Além de serem as unidades essenciais da estrutura social, as kanda eram estruturas políticas importantes cuja fun??o primordial era fornecer outras legitima??es mundanas para o status de seus membros enquanto homens livres que exploravam a terra segundo a lei do parentesco. ? quase certo como nos séculos XVI e XVII, também hoje fazem, estabelece-se uma liga??o genealógica directa entre os membros vivos e os antepassados que supostamente eram considerados os primeiros habitantes organizados ao redor de um Pai que era mesmo um? chefe. Como cada membro individual de uma kanda era, portanto, um anci?o que pertencia a um grupo de velhos cujo poder provinha dos anci?os nomeados noutro mundo até o membro mais jovem, cada um continha dentro de si a autoridade jurídica? e espiritual plena da kanda. A afirma??o da autoridade era da responsabilidade dos nganga ya kanda, e era atribuída aos filhos classificatórios e aos netos da kanda. Como estes eram normalmente membros da kanda vizinha, as reivindica??es de cada kanda eram, idealmente, mantidas reciprocamente pelos seus vizinhos. As makanda eram exógamas ?ou seja grupos corporativos que tinham nomes, tradi??es e membros definidos. Elas tinham um corpo exclusivo de assuntos comuns que se centrava na explora??o da terra e nas pessoas que a reivindicavam. Elas também tinham a autonomia e os procedimentos necessários para lidar com esses assuntos juntamente aos seus 'chefes' ou aos 'representantes' dos grupos subdivididos. Chefia tradicional kongoO chefe da Kanda, nos séculos XVI e XVII eram muitas vezes mulheres, e tomavam o nome de mfumu a kanda como título. Eles ou elas provavelmente tinham uma contraparte subordinada pertencente ao sexo oposto. Sua autoridade, que em última análise derivava dos ancestrais do 'outro mundo', repousava sobre seu status real ou vinha atribuído por serem membros sêniores da kanda. Outros grupos eram encabe?ados por mbuta, palavra que significava 'mais velho'. Os níveis públicos mais baixos de organiza??o social eram representados pelas aldeias ou povos associados. Estes eram chefiados por nkuluntu, termo derivado de nkulii, idade e que indicava relativa ancianidade. O nkuluntu julgava quest?es civis e criminais e representava o grupo em suas rela??es internas e externas. Ele era responsável pela distribui??o primária da colheita, extraindo um excedente para si e para outras autoridades, reservando sementes e redistribuindo o restante de acordo com a necessidade. Fun??esGeralmente, as pessoas que eram respeitadas tomavam decis?es, julgavam disputas e representavam a comunidade em discuss?es com pessoas de fora. Havia aldeias situadas ao longo das lavras, que consistiam em famílias afins, embora n?o fossem as mesmas todos os anos, que exploravam os recursos dos campos. Os homens de influência e lideran?a na aldeia eram os ‘mfumu a ntoto', eram parentes mais velhos que geriam o possesso das terras. A ca?a e a pesca, feita em conjunto por várias famílias, era conduzida sob a lideran?a de um homem com experiência em ca?a. Durante a maior parte do ano, pequenos grupos de famílias relacionadas cultivavam uma única área. Os homens com influência eram líderes do grupo. A kanda actuava como uma unidade cuja lideran?a era reconhecida oficialmente, embora essa lideran?a fosse baseada na influência e na autoridade. A Estrutura do Mfumu a kanda respeitava a organiza??o política ainda mais complexa. Geralmente, o termo nkuluntu definia essa posi??o e significava condutor esclarecido. A estrutura do? Mfumu a Kanda representava uma posi??o de lideran?a, em compara??o com a organiza??o da kanda. ? medida que a lideran?a se tornava mais claramente definida, se tomavam iniciativas que envolviam chefes doutros grupos. Isto demostrava a capacidade de lidar e conferia o prestígio de todo o grupo. O Mfumu a kanda possuia habilidades oratórias, pois ele devia fazer discursos durante cerimonias enquanto representante do seu grupo. Devia também mostrar proeza na guerra. Capítulo 9 - A ORGANIZA??O RELIGIOSAImposi??o colonialA história do estudo antropológico da religi?o está interligada com a expans?o econ?mica e o colonialismo europeus. Os estudiosos de gabinete do final do século XIX e início do século XX derivaram suas várias teorias da informa??o comparativa sobre a cultura trata-se de conhecimentos acerca da diversidade global de práticas religiosas e rituais. Essas informa??es foram coletadas com a aprova??o de autoridades coloniais que reconheceram o benefício de entender os sistemas locais de cren?as para novos governantes. Mais tarde, informa??es etnográficas sobre sistemas religiosos contaram com extensas observa??es diretas e experiências de campo dos antropólogos. Alguns estudiosos argumentam que essas observa??es e os relatos escritos resultantes de religi?es n?o-ocidentais identificam a experiência local como um fenómeno religioso devido à imposi??o inevitável de categorias e ideologias européias e americanas. Essa crítica adverte os estudiosos contempor?neos a definir claramente, com o melhor de sua capacidade, as premissas e abordagens subjacentes que guiam suas observa??es e conclus?es. 9.1 defini??o de religi?oA religi?o é tradicionalmente definida pelos antropólogos como o meio cultural pelo qual os humanos lidam com o sobrenatural, mas muitos humanos também acreditam que o inverso é verdadeiro - que o sobrenatural lida com os humanos. Nesta intera??o, o sobrenatural é geralmente visto como poderoso e os seres humanos como fracos. Em outra abordagem, Saler (1993) define religi?o em termos de um conjunto de elementos que tendem a se agrupar. Eles incluem uma cren?a em Deus, deuses ou 'seres espirituais' com quem os humanos podem ter contato espiritual; um código moral que se acredita emanar de fontes extra-humanas; cren?a na capacidade humana de ir além do sofrimento humano; e rituais que envolvem humanos com o extra-humano (Saler 1993: 219). Os “seres espirituais” e o extrahumano da defini??o de Saler podem ser equiparados ao que chamamos “o sobrenatural”. Klass (1995) argumenta que a defini??o da religi?o em termos do sobrenatural reflete uma suposi??o eurocêntrica sobre a separa??o do “natural” e reinos sobrenaturais de existência. Portanto, ele define a religi?o como “o processo instituído de intera??o entre os membros dessa sociedade - e entre eles e o universo como eles o imaginam a ser constituído - que lhes fornece significado, coerência, dire??o, unidade, servid?o e qualquer outra coisa. grau de controle sobre os eventos que eles percebem como possíveis ”(1995: 38). SIstema de cren?asUm sistema de cren?a religiosa é encontrado em todas as culturas e, portanto, é geralmente reconhecido como um universal cultural que engloba cren?as e práticas, que variam entre e entre comunidades e praticantes. Essa universalidade levou os estudiosos a questionar o que é o sobrenatural e em maneira a vida sobrenatural é vivida, o que é que compele os seres humanos a propor que o mundo seja governado por for?as além daquelas que as suas observa??es empíricas estabelecem. Muitos teóricos ao longo dos anos tentaram responder a essa pergunta. Max Weber (1930) argumentou que desde que a vida é feita de dor e sofrimento, os seres humanos desenvolveram a religi?o para explicar porque eles foram colocados na Terra para sofrer. S?o Paulo constantemente perguntou a Deus por que ele estava aflito com um 'espinho na carne', sem nunca receber uma resposta. Sigmund Freud (1928) prop?s que as institui??es religiosas representavam a maneira da sociedade de lidar com as necessidades infantis de dependência por parte dos indivíduos. O que de outra forma seria um tra?o neurótico, encontra express?o na forma de deuses e divindades todo-poderosos que controlam o destino de um indivíduo. Melford Spiro (1966) sugere três tipos de necessidades que a religi?o cumpre. A primeira é chamada de necessidade cognitiva, isto é, a necessidade de entender; Esta é a necessidade de explica??es e significados. A segunda é a necessidade substantiva de trazer metas específicas, como chuva, boas colheitas e saúde, através da realiza??o de atos religiosos. A terceira é a necessidade psicológica de reduzir o medo e a ansiedade nas situa??es em que estas s?o provocadas. Emile Durkheim (1915) e outros que seguiram a abordagem de Durkheim viam a religi?o como o meio pelo qual a sociedade inculca valores e sentimentos necessários para a promo??o da solidariedade social e a sobrevivência final da sociedade.MUITAS PESSOAS NO MUNDO acreditam em uma ordem de existência além do universo observável, isto é, no que chamamos de sobrenatural. 9-2 O Deus dos BakongoEm kikongo, a palavra Deus existia antes da evangeliza??o dos missionários, na verdade, para indicar a Deus já no início do século XVI, os Bakongo usaram o termo _Nzambi_. Os Bakongo usam o termo Nzambi com o significado de ser supremo, autor do mundo (_Mvangi a zulu ye Nza_). Seus atributos s?o, aquele que possui toda a for?a (_Nkwa Ngolo zawonso_), todas as coisas especialmente as mais admiráveis s?o as coisas de Deus (_lekwa ya Nzambi_) e só ele sabe porque as criou, na verdade uma express?o que sempre se repete em kikongo é: Deus sabe (_Nzambi izeye_) às vezes chamado mesmo com resigna??o diante de situa??es impossíveis. Antes da morte, nos resignamos dizendo: Deus o comeu (_Nzambi odidi_). Há nomes típicos que os Bakongo atribuem a Nzambi, um deles é o poderoso: _Akwa lulendo_, mesmo que seja entendido como um poder esmagador. Mas o mais singular está contido em uma express?o intraduzível: _Nzambi, um Mpungu_, isto é, Deus Altíssimo. A imagem de Deus que pune (_tumbu dya Nzambi_) é conhecida, mas n?o a de um Deus que reunirá o homem. Nzambi é invocado na bên??o que o pai dá a seu filho que vai de viagem, pegando um pouco de terra e jogando-a no ar. Entretanto, como é evidente em outras culturas africanas em Nzambi, os Bakongo n?o dedicam um espa?o cultural específico, nem existe um corpo sacerdotal específico para sua adora??o. O único sacerdote de Deus (_Ngang'a Nzambi_) é o missionário. De facto, os Bakongo recorrem a Nzambi somente em casos excepcionais como a esterilidade ou a seca. ?Pequenos s?o importados com a sua interven??o, até agora é de tudo o que acontece com os pobres mortais! Eles aceitam a les?o com resigna??o, sem mérito, uma atitude próxima a um fatalismo impressionante?. Evangeliza??o operado desde o início do século XVI, tem rifunzionalizzato Nzambi, (fn) Deus crist?o, e criou a base para uma nova imagem de Deus. Isto se sobrepunha à cosmologia e mitologia kongo, uma nova religi?o muito mais exigente e que muitas vezes veio em contraste com a concep??o tradicional que ainda existe hoje com o nome de_ fu kya nkisi nsi_ 'culto dos espíritos da terra'. Portanto, na cultura kongo, o legado da cosmologia e da mitologia tradicional permanece profundamente como uma base sobre a qual o cristianismo foi inserido pela evangeliza??o dos missionários. O direito fundamental à cren?a religiosa protege os crentes da feiti?aria, coisa que aparece frequentemente nos seguidores de muitas outras religi?es na Africa hoje. No entanto, periodicamente os crentes entram em conflito com a lei e as conven??es sociais na prática da sua religi?o. Praticantes citam o Novo Testamento Escrituras afirmando que “[os crentes] falar?o novas línguas; eles tomar?o serpentes; e se eles se beberem alguma coisa venenosa, isso n?o os ferirá ”(Marcos 16: 17–18). Membros dessas religiosos comunidades, como muitos outros grupos crist?os descritos como “fundamentalistas”, tomam a Bíblia literalmente. Tudo é entendido pelos participantes como sendo o resultado da interven??o de for?as sobrenaturais.9-3 A dupla interpreta??o dos factos: científica e tradicionalA aplica??o desses estatutos é esporádica e a maioria dos casos n?o é executada a n?o ser que seja altamente divulgada na mídia. A cren?a no poder dos feiticeiros e a cren?a nos nganga que protegem a vida vai além do que se pode observar. Tais explica??es dependem de fenómenos que caem no domínio do sobrenatural. Do ponto de vista ocidental, as explica??es empíricas do mundo observável s?o consideradas científicas. Explica??es que n?o dependem de evidências empíricas, mas dependem de cren?as fortemente defendidas em for?as n?o-empíricas ou sobrenaturais s?o categorizadas como supersticiosas. No entanto, pessoas de outras sociedades, como os Bakongo, consideram um profundo imaginário coletivo que emerge e é celebrado toda vez que o Muxikongo vive as experiências fundamentais da vida (nascimento, inicia??o, casamento, morte). Nkisi a nsiOs _Nkisi nsi_ s?o essas entidades sobre-humanas que governam o cosmos. Como um conceito básico, eles representam as for?as da 'natureza' e um grande espa?o é reservado para eles na economia do sagrado. Se a divindade suprema Nzambi, é considerado longe dos homens, ao contrário do _Nkisi nsi _s?o muito próximos a eles, de modo a intervir na vida cotidiana, e para eles é um culto praticado com ofertas sacrificiais. Eles s?o seres transcendentes, semideuses que incorporam as for?as cósmicas e tornam a natureza frutífera. S?o divididos em _Bakisi ba nsi bannene_, que entram na vida privada do indivíduo, mas também realizam as institui??es públicas, a partir deles se pode sempre obter prote??o suficiente e ajuda a observar os tabus. De fato, seus campos de a??o s?o diferentes, na verdade, afetam a soberania do líder da linhagem e a expans?o geográfica da linhagem nas vários _makanda_ estabelecidas no território. De fato, para quem se encontra viajando nesse território, basta saber qual é o Nkisi nsi da linhagem que mora lá para saber como se comportar. Outra área em que a a??o de Nkisi nsi é refletida é a prosperidade material, fertilidade dos campos, abund?ncia de chuvas, saúde do corpo, sucesso nos negócios. Eles condicionam a vida social da linhagem, a prepara??o para o casamento de seus membros, as leis que regulam as rela??es sexuais dentro e fora da esfera matrimonial. Eles regulam os funerais e os preparativos para o enterro, dependendo da classe a que pertencem. Há todo um ritual que se aplica quando se descobre a existência de um Nkisi nsi, s?o objecto de honras e votos, para que possa dirigir a linhagem social, política e família. O Nkisi Nsi n?o tem forma humana e, portanto, n?o está representado com estátuas ou ídolos, mas está relacionado com a terra, a água, as pedras e a floresta. Durante a constru??o de uma aldeia, há sinais particulares que manifestam o Nkisi Nsi daquela regi?o, mesmo através de sonhos. Aquele que com o sonho revela ao senhor da terra (_Mfumu a Ntoto_) o nome do Nkisi Nsi daquele lugar e se tornará o sacerdote (_ntoma nsi_) de que Nkisi NSi. O ritual para propiciar o novo assentamento será executado pelo ntoma Nsi cavando um buraco em forma de cruz onde o malavu (Nsamba) e aguardente (capuca), ser?o versados para garantir que o Nkisi Nsi bebendo possa ser amigo dos novos habitantes. Mais tarde, ele aben?oará as enxadas, facas, machados, cayangulos, muni??es e redes de pesca, marcando-as com a lama obtida ao derramar vinho de palma no buraco. Uma vez de volta na aldeia ao Mfumu Ntoto ordena que sejam oferecidas pelo ntoma Nsi comida, bebida e roupas e para tal o ntoma Nsi aben?oará as pessoas, colocando a sua m?o direita na axila esquerda e a esquerda na axila direita, em seguida, virando as palmas das m?os para o céu fará o sinal de rejeitar e reter algo. As entidades ligadas ao Nkisi Nsi e dedicadas às suas atividades s?o: o Nkita, o Kimpasi e o Mbumba Luwango. Os Nkita eram bem conhecidos e temidos por diferentes linhagens Bakongo, porque quando chegavam em uma aldeia castigavam aqueles que tinham ofendido o Nkisi Nsi com a doen?a, e se quisessem deixavam que recuperasse a saúde. O Mbumba Luwango s?o arco íris, corpos misteriosos e sobre-humanos amarradas à grande actividade dos Nkisi Nsi, juntamente com os Nkita pertencem a uma classe superior de Nkisi e est?o ligados à magia e práticas fetichistas. Eles s?o unidos ao Nzazi, o rel?mpago que inspira medo por causa de sua for?a, e é interpretado como um castigo, o lugar onde ele cai é objecto de ritos especiais para apaziguar os Nkisi Nsi. O Lemba vez interpreta o significado de prote??o, tanto do casamento, bem como das crian?as nascidas a partir dos espíritos que s?o _bana Nkisi_: s?o albinos (Ndundu), gêmeos (Nsimba e nzusi) e nsunda, sempre objeto de admira??o e respeito entre o Bakongo9.4 Simbolismos religiososToda essa cultura espiritual e os fantasmas dos ancestrais s?o tidos absolutamente reais, n?o menos reais do que o mundo físico ao seu redor. Na sociedade africana, as explica??es científicas que envolvem as for?as da natureza s?o geralmente percebidas como distintas das cren?as e idéias religiosas sobre o sobrenatural. A interse??o da religi?o como a cren?a tradicional no sobrenatural e nas outras partes da cultura é presente nas nossas discuss?es sobre família, economia e organiza??o política, bem como nas nossas discuss?es sobre religi?o. Institui??es n?o-religiosas ou tradicionais em Africa invocam rotineiramente o simbolismo da religi?o; a frase “Deus é que sabe” aparece nas conversas diárias da pessoas simples. Fenómenos religiosos envolvem o uso de símbolos que evocam respostas emocionais poderosas. Basta considerar a diferen?a entre água e água benta e a resposta emocional evocada no ritual praticado pelos pastores que vendem a caro pre?o a água benta para perceber isso. Símbolos que evocam sentimentos fortes s?o encontrados em todas as culturas, em domínios considerados religiosos e aqueles considerados seculares ou n?o religiosos. Símbolos políticos, como a bandeira e o hino nacional, produzem fortes emo??es compartilhadas; símbolos e idéias religiosas amplificam as emo??es dos rituais políticos. formas ideológicasAs idéias religiosas inspiram os indivíduos a decretar ou actuar de maneira culturalmente sancionada, obscurecendo a divis?o entre a mente como é intendida pela ideologia e o corpo representa essas idéias. As ideologias religiosas também moldam invariavelmente idéias sobre o corpo e a experiência corporal. O enfoque recente na antropologia sobre a constru??o cultural do corpo humano, enunciando valores interiorizados, referidos como incultura??o, é uma importante abordagem contempor?nea para compreender a experiência vivida da religi?o e do ritual. A ideologia religiosa invariavelmente normaliza os papéis de género e é invocada para manter o status quo das divis?es sociais ou mobilizar as pessoas em torno de actos coletivos de violência. Também pode fornecer a base para resistência às normas sociais e mobilizar movimentos de justi?a social e mudan?a. A ideologia religiosa n?o apenas motiva o comportamento individual mas também de grupo, mas é invariavelmente codificada em vários graus de identidade que pode ser a identidade nacional e política dum estado. Considerando essas múltiplas formas pelas quais a religi?o funciona nas sociedades humanas, n?o é de surpreender que haja um considerável debate entre os estudiosos sobre sua defini??o.NgangaAs opera??es rituais em favor da divindade dependem do contexto em que s?o colocadas, se estiverem limitadas ao contexto familiar, quem lida com elas é o mais velho da família ou a tia materna (Ngudi a Nkazi). Mas se eles dizem respeito à Natureza e aos fen?menos que a caracterizam o feiti?o entra em campo, o sacerdote (Nganga). Entre os Bakongo, há uma grande variedade de Nganga cada um com tarefas específicas e um campo de a??o delimitado. A primeira figura de Nganga é parecido uma espécie de curandeiro ervanário, também conhecido por suas habilidades de adivinha??o. No entanto, o Nganga n?o tem nada a ver com magia negra, bruxaria ou outras práticas erroneamente definidas magicas; pelo contrário, ele é uma figura conhecida e respeitada dentro de sua comunidade por sua capacidade de lidar com a doen?a, em particular com dificuldades de origem mental , que muitas vezes s?o conexas com um mal-estar natural - bem como psicológico - mesmo espiritual. Desse ponto de vista, o Nganga representa, em certo sentido, o elo entre o visível, o mundo real e o invisível, animado pelos espíritos, em particular pelos ancestrais com os quais tem a tarefa de manter ou estabelecer uma rela??o equilibrada e harmoniosa. O papel religioso do Nganga é particularmente importante, pois deve propiciar os favores da divindade em rela??o à linhagem para obter bens e descendentes.9.5 O juízos ordálicosO kitomi resolvia conflitos dentro de seu domínio por meio do teste de veneno bolungo. Isso diferia dos juizo ordalicos do nganga da dimens?o nkadi mpemba, pois o kitome n?o manipulava um espírito nkisi, ele mesmo era o poder mbumba neste mundo e lavava seu pé e seu arco na bebida venenosa para simbolizar seus outros poderes mundanos de cura (o pé) e de prejuízo (o arco). Ele infundia na bebida os dois poderes de confundir os culpados e preservar os inocentes. O kitome também mantinha um ou dois fogos, que estavam intimamente associados à fertilidade, e vendia brasas aos suplicantes. Embora n?o haja evidência direta, é quase certo que o kitome e seus representantes da aldeia fossem responsáveis por manter e regular os cultos públicos. da dimens?o mbumba e dos espíritos da água e da terra.Poder do KitomiO kitome era descrito como um dos donos, mestres, senhores ou chefes da terra e os deuses da terra, semente ou regi?o e acreditava-se que, como a encarna??o do poder da dimens?o mbumba neste mundo, eles poderiam conceder ou reter a chuva, tornando o mundo fecundo ou estéril. Como resultado, podiam conseguir obter uma propor??o exorbitante de produtos agrícola. O kitome iniciava a lavoura, diretamente ou através de seus representantes da aldeia. Eles aben?oavam as sementes, davam a permiss?o para que as colheitas fossem colhidas e recebiam as primícias dos frutos com rituais de fecundidade. Em meados do século XVII, um kitome recebeu mais tributo do que o próprio governador.Em certas circunst?ncias, o kitome podia exercer um poder considerável. Em meados do século XVII eles foram muito apreciados. Ninguém poderia abordá-los, exceto por raz?es julgadas honrosas. Ent?o, por respeito, lhes falavam estendidos no ch?o com os olhos desviados. Quando o kitome anunciava solenemente sua inten??o de percorrer seus domínios, as pessoas casadas observavam a severa continência, sob pena, da morte. O kitome intervinha nas elei??es, na tomada de posse? dos governadores dos Bakomgo e influenciava estes últimos em quest?es de governo e rituais.Saúde e fertilidadeA atribui??o do poder ao kitomi da dimens?o mbumba ou seja de promover a saúde e a fertilidade podia, em certas circunst?ncias, rivalizar com outras formas institucionalizadas e provavelmente muito antigas de poder baseado no mbumba, cultos baseados no mbumba. No século XVII, o culto do kimpassi dominava a regi?o do Congo, embora o culto nkimba, que se concentrava em Kakongo e Loango, pudesse ter alguma influência em Soio. A estrutura, organiza??o e até certo ponto a fun??o desses cultos. variou consideravelmente ao longo dos séculos. No século XVII havia continuamente associa??es muito antigas, que se encontravam regularmente fora das aldeias e cidades dentro da mata em 'lugares onde os raios do sol nunca penetravam'. 9.6 Nkadi a MpembaO sol, é claro, estava associado à dimens?o do nkadi a mpemba e aos lugares inacessíveis, por muitos séculos, com os mbumba e os espíritos da água e da terra. Os kimpassi eram associa??es secretas. Havia para os participantes uma palavra de ordem? que mudava em cada reuni?o e aí se fixava a data para a reuni?o sucessiva, embora os iniciados também se reunissem quando um nganga a ngombo chegasse à aldeia. Cada grupo tinha um chefe, o nganga mani nkita, e as várias encarna??es dos simbi da água e espíritos da terra, como os albinos e as pessoas com pés aleijados, ocupavam um cargo subordinado. Juntamente às areas de poder? do kitome, também os kimpassi baseavam-se em agrupamentos locais, cujo poder se transmitia n?o por descendência.Morte e resurrei??o O propósito fundamental dos cultos neste período parece ter sido o de permitir que os iniciados masculinos e femininos morressem e ressuscitassem como os simbi da água ou espíritos da terra possuíam o poder do mbumba de dar saúde e fertilidade. O procedimento de inicia??o ao culto kimpassi do século XVII é bastante bem documentado. O iniciado se aproximava de um semicírculo de feiti?os do tipo nkadi a mpemba que separava os n?o-iniciados isto, para garantir o respeito, era chamado de 'muro do rei do Kongo'. Na sua entrada, os membros lan?avam ao iniciado um pequeno cord?o decorado, ordenando-lhe que passasse por baixo dele muitas vezes. Por fim, o iniciado desmaia e caia no ch?o 'como se estivesse morto'. Os membros o levaram para a parte interna do recinto e o 'curavam'.9.7 KimpavitaEle jurava de permanecer como membro do culto até a sua morte. A cren?a implícita nessa prática provavelmente foi manifestada numa declara??o de Dona Beatriz? Kimpavita que, nos primeiros anos do século XVIII, afirmou estar possuída por Santo Antonio. Ela disse que quando estava doente e, ao momento da morte, apareceu-lhe um frade dizendo que ele era Santo Ant?nio e que Deus o havia enviado à sua cabe?a para pregar ao povo. Ela estava quase morta porque Santo Ant?nio no lugar de entrar na sua alma tinha entrado na sua cabe?a.Ela n?o sabia como isso aconteceu, mas sentiu-se reviver. A palavra que o comentarista traduziu como 'alma' era quase certamente moyo. No pensamento do Kongo, a alma, moyo, resistia à morte e tomava outro corpo apropriado na sua nova vida doutro mundo. Dona Beatriz afirmou que no momento da morte quando seu moyo estava para ir noutro mundo, o moyo de Santo Ant?nio encontrando o seu corpo sem o moio dela entrou nela, resucitou-o e usou-o como seu veículo neste mundo. Assim, ela n?o era já Dona Beatrice, mas Santo Ant?nio do Kongo. Os crentes que praticavam este culto pareciam ter experimentado a sua 'morte' e 'ressurrei??o' de maneira semelhante. BankitaOs iniciados ao kimpassi, por exemplo, eram chamados de nkita ou nganga a nkita (sacerdote), e diziam que invocavam um 'dem?nio' chamado nkita, que, era um simbi da terra da dimens?o mbumba. Os europeus traduziram nganga a nkita como 'um homem que voltava doutro mundo'. Assim, os iniciados acreditavam que, durante a cerim?nia de inicia??o, o seu moyo passava para o outro mundo e um nkita ou um espírito simbi entrava no seu corpo morto e revivia. Os iniciados usavam uma certa semente no ombro esquerdo, como sinal dos simbi da água e dos espíritos da terra.O povo se tornava possuido pelos simbi a nkoko ou espíritos da terra para ter o poder do mbumba da saúde e da fertilidade. Uma fonte do século XVII afirmou que 'quando se acendiam as fogueiras da bomba (mbumba) - todas as filhas do kimbo bombos (nkimba mubumba) dan?avam, movendo seus corpos, olhos e cabe?a, e com gestos obscenos, cantavam certos cantos. Outra fonte relata que os iniciantes do kimpassi faziam 'gestos de induzir extrema obscenidade' a frente do semicírculo de ídolos. 9.8 Culto do KimpassiO culto kimpassi era usualmente descrito como uma associa??o na qual homens e mulheres invocavam o diabo, dan?avam e depois 'juntavam-se carnalmente sem medo do parentesco ou afinidade'. As reuni?es dos kimpassi também estavam associadas à fertilidade agrícola. Um dos vários significados da palavra vela, usada para designar o recinto do kimpassi, era 'coletar frutos'. Vela mbongo significava fazer a colheita. Um recinto kimpassi do meio do século XVII a três quil?metros de Mbanza Nkusu continha um ídolo venerado como 'protetor da lavra'. As evidências limitadas sugerem uma estreita rela??o entre o kimpassi ao sul do Zaire e o lemba ao norte, e nos séculos XVI e XVII o lemba também parece ter estado primariamente preocupado com a fertilidade, embora no início do século XVIII a ênfase de ambos os cultos mudou de fertilidade para saúde, um recinto kimpassi sendo descrito como 'um lugar de supersti??o destinado ao cuidado dos doentes e outras cerim?nias'. No final do século XIX, havia uma formula de juramento kimpassi que dizia "mbumba jintumbula" - ( que possa punir-me o mbumba).Até certo ponto, e em certas circunst?ncias, os cultos poderiam constituir uma alternativa mais aberta e flexível baseada no mbumba às estruturas autocráticas do kitome . Através deles, os iniciados adquiriram o estado de ser característico do kitome, os 'puros'; o termo para o recinto do kimpassi, era vela que significava 'tornar-se branco' e indicava um estado de pureza. A principal diferen?a entre o culto? do kitome e os cultos baseados no mbumba era que o poder era de corpora??es exclusivas, o kitome mediando em nome do grupo, e o esta tarefa era levada a cabo por uma série de indivíduos em sucess?o, enquanto os cultos eram praticados em seitas agregadas, a fun??o de nganga tikita era mantida simultaneamente por todos os iniciados, .- O antonianismoQue essas seitas agregadas pudessem ser rapidamente transformadas em corpora??es exclusivas, seria amplamente demonstrado pelo movimento de Antonianismo no início do século XVIII. Em meados do século XVII, os cultos rivalizavam com o kitomi como uma fonte de poder e autoridade baseada na dimens?o mbumba. Observadores consideraram que era 'incrível o medo que todos tinham da seita dos kimpassi, até mesmo as autoridades das cidades e das províncias em cujos distritos e jurisdi??es esta seita existia. Desta forma, esses adeptos viviam com grande impudência, mantendo-se imunes a qualquer processo. Se eles se consideravam perseguidos, rapidamente se vingavam contra qualquer, fazendo-os morrer por meio de feiti?aria ”. O movimento dos Antonianos do início do século XVIII tornou-se uma grande for?a política no Congo.Conclus?o: kimfumu kya makandaAlém da kanda, do kitome e dos cultos, o reino do Kongo incorporou estruturas políticas mais complexas que podiam ser convenientemente chamadas de chefias? extra-kanda. Os processos subjacentes à forma??o desses chefes n?o s?o claros. No entanto, é significativo que os chefes mais importantes tenham surgido na parte mais fértil, produtiva e próspera da regi?o, ao longo do vale do rio Nkisi. Vários fatores podem ter contribuido. O primeiro assentamento foi de hospedes necessitodos, pois as pessoas buscavam refúgio da seca periódica da zona costeira e da aridez do planalto. A unidade com estes hospedes fortaleceria tanto as tendências hierárquicas dentro da kanda quanto a posi??o da kanda em rela??o aos grupos vizinhos. O segundo fator pode ter sido o comércio, a próspera indústria de tecidos do vale de Nkisi atraindo comerciantes de sal e nzimbu da costa e talvez comerciantes de cobre do norte do Zaire. Isso também poderia ter fortalecido as tendências hierárquicas de certas kanda e sua posi??o em rela??o aos outros. Um rico e poderoso chefe do segmento kanda ou kanda estaria na altura de atrair grupos vizinhos ligados a um tributo. O resultado seria uma chefia baseada na kanda governante apoiada por outras kanda hospedes tributárias. Tais chefes eram normalmente de sexo masculino e usavam suas filhas como esposas? para cimentar alian?as com as kanda iguais e suas outras esposas para consolidar as rela??es com a kanda subordinada. Os sobados mais conhecidos do vale de Nkisi eram aqueles dominados pelos kanda Nsaku Lau e Mpangu, respectivamente. Outras chefias que surgiram ao sul ao longo do cume da montanha podem ter sido originadas por linhagens clientes que escaparam à guerra ou às secas mais frequentes e intensas da regi?o da faixa costeira do sul. Entre estes Wembo e Wandu deviam participar na forma??o do reino do Kongo ................
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