The international journals which are described as linked ...



DA ALEMANHA PARA O BRASIL: HISTÓRIA DA REVISTA A ESTAÇÃO, UM EMPREENDIMENTO MULTINACIONAL

Ana Cláudia Suriani da Silva

APÊNDICE 1: Edições diferentes de Die Modenwelt

Esssa tabela reproduz dados fornecidos em Zum 25jahringen Bestehen der Modenwelt 1865-1890 referentes aos periódicos considerados edições diferentes de Die Modenwelt (“die verschieden Ausgaben der Modenwelt”).

Os periódicos Les Modes de la Saison e The Young Ladies’ Journal não são qualificados como “diferentes edições” de Die Modenwelt. São antes descritos como periódicos com os quais Die Modenwelt mantinha relações comerciais. A informação a respeito de The Young Ladies’ Journal foi adicionada por mim.

A maior parte das editoras produzia moldes e edições especiais que eram vendidas separadamente. A editoras ofereciam assinaturas com preços diferentes para a edição econômica e para a edição de luxo. O preço indicado abaixo corresponde sempre à edição econômica da revista.

|Nome |Primeiro número |Desde quando ligado a |Editora |Tipografia que |Tipografia que imprimia |Periodicidade |Preço |

| | |Die Modenwelt | |imprimia as |os textos | | |

| | | | |ilustrações | | | |

|The Young Ladies’s Journal |Jan 1864 |Out 1865 |Harrison, London |Harrison, London |semanal |9d (pelo correio 1s)|

|Die Modenwelt, Berlin, Alemanha |Out 1865 | |Franz Lipperheide, Berlin |Otto Dürr, Leipzig |quinzenal |1 ¼ Mark por |

| | | | | | |trismestre |

|De Bazar, Gravenhage, Holanda |5 Jan 1857 |1 Jan 1866 |Gebr. Belifante, Haag |Otto Dürr, Leipzig |Gebr. Belifante, Haag |quinzenal |f. 1,00 por |

| | | | | | | |trimestre |

|Budapesti Bazár, Hungria |1 Jan 1860 |1 Jul 1877 |Johann von Kinály, Budapest |Otto Dürr, Leipzig |Hungaria-Buchdrückerei, |? |? |

| | | | | |Budapest | | |

|Dagmar, Kjobenhaun, Dinamarca |1 Jul 1866 |1 Jul 1866 |Carls Otto’s Nachfolger, Copenhagen |Otto Dürr, Leipzig |quinzenal |2, 75 por trimestre |

|La Saison, Paris[1] |1 Dez 1867 |1 Dez 1867 |J. Lebègue e Cie, Paris |J. Bolbachm Paris |quinzenal |3. fr 75 cent. ou 3 |

| | | | | | |Marcos por trimestre|

|A Estação, Jornal Ilustrado para|1 Jan 1872 |1 Jan 1879 |H. Lombaerts & Comp |Otto Dürr, Leipzig |quinzenal |Capital (Rio): |

|a família. Edição para os | | |Para Portugal: Comissão editorial Livraria | | |12$000 |

|Estados Unidos do Brasil[2] | | |Ernesto Chardron Lugan C. Genelioux – | | |Estados: 14$000 por |

| | | |sucessores –, Porto | | |ano |

|Freja, Malmö, Suécia |1 Jan 1873 |1 Jan 1873 |J. G. Hedberg, Malmö and Stockholm |Otto Dürr, Leipzig |Stenström and Bartelson,|? |3 Kronor 50 öre por |

| | | | | |Malmö | |trimestre |

|Illustrirte Frauen-Zeitung, |1 Jan 1874 | |Franz Lipperheide, Berlin and Viena |Otto Dürr, Leipzig |quinzenal |? |

|Alemanha | | | | | | |

|Modni Svet, tcheco |1 Jan 1879 |1 Jan 1879 |Karl Vaĉlera, Jungbunzlau e Prag |Otto Dürr, Leipzig |Josef Zvikl, Jungbunzlau|? |1 zl 25 kr (por |

| | | | | | | |trimestre?) |

|The Season, Lady’s Illustrated |1 Jan 1882 |1 Jan 1882 |International News Company, Nova Iorque, 83|Otto Dürr, Leipzig |mensal |? |

|Magazine, New York | | |e 85 Duane Street |(impressão da capa: Keppler e Schwarzmann, | | |

| | | | |New York) | | |

|The Season, Lady’s Illustrated |1 Out 1884 |1 Out 1884 |London office: 13 Bedford Street, Convent |Otto Dürr, Leipzig |mensal |1 shilling |

|Magazine, London | | |Garden |(Impressão da capa: Hazell, Watson e Viney | | |

| | | | |Ld, Londres Aylesbury) | | |

|La Estacíon, Periódico para |1 Abr 1884 |1 Abr 1884 |Comissão editorial: |Otto Dürr, Leipzig |quinzenal |2 feos 50 cts |

|Senhoras | | |Livraria Gutenberg, Madri | | |por trimestre |

|Para a Espanha | | | | | | |

|La Estacíon, Periódico para |1 Abr 1884 |1 Abr 1884 |Franz Lipperheide, Berlin |Otto Dürr, Leipzig |quinzenal |2 feos 50 cts |

|Senhoras | | |Agência central na Argentina: CM Joly y | | |por trimestre (?) |

|Edição para a América | | |Cia, Buenos Aires | | | |

|(Argentina, Uruguai, Colômbia, | | | | | | |

|Venezuela, Chile, Paraguai) | | | | | | |

|La Stagione. Giornale delle Mode|1 Out 1882 |1 Out 1882 |Tipografia Bernadoni di C. Rebeschini e C. |? |? |quinzenal |L. 2.50 por |

| | | |Ulrico Hoepli, Editore | | | |trimestre |

|Moдный Cbet и Moдный Магазинъ, |1 Dec 1866 |? |Hermann Hopee |Eduard Hoppe |semanal |2 P 50 K |

|Russian | | | | | |(6 meses) |

|Tygonik Mód I Powiésci, |? |? |E. Skiwskiin, Warschau |E. Skiwskiin, Warschau |? |? |

|Warschau, Poland | | | | | | |

Die Modenwelt – “onde quer que a cultura européia alcance suas mãos”

O livro Zum 25jähringen Bestehen der Modenwelt 1865-1890[3] é uma fonte muito rica para os historiadores do livro. Como o título indica, trata-se de uma edição comemorativa dos 25 anos de existência da revista ilustrada alemã Die Modenwelt. Illustrierte Zeitung für Toilette und Handarbeiten, publicada por Franz Lipperheide, Berlim. O caso da editora de Lipperheide talvez não tenha sido muito diferente da maior parte dos editores no mundo, os quais, explica Robert Darnton, “treat[ed] their archives as garbage”.[4] De fato, não se sabe com certeza se a destruição dos arquivos coincide com o fim da carreira editorial de Lipperheide, que vendeu a editora no início do século XX, ou com a Segunda Guerra Mundial. A companhia se situou durante a maior parte de sua existência no centro de Berlim, na Potsdamer Strasse, rua que foi parcialmente destruída durante a guerra. A fachada de uma das casas que a editora ocupou ainda existe até hoje, com o seu interior totalmente restaurado.

Em qualquer um dos dois casos, os arquivos de Lipperheide aparentemente não sobreviveram. Hoje em dia a Kostümbibliothek de Berlim detém a coleção particular de Franz e Frieda Lipperheide, composta pelos livros, pinturas, gravuras, desenhos e fotografias adquiridos pelo casal com os lucros da editora.[5]

A perda dos arquivos certamente dificulta a pesquisa, porém não impossibilita a reconstituição parcial da história da editora. A companhia Lipperheide combinava a produção de periódicos centralizada em Berlim com uma série de colaborações com outras editoras na Europa e Américas. Seu objetivo era a divulgação da moda parisiense e de bens de consumo europeus pelo mundo. Para estudarmos a dimensão exata desse empreendimento multinacional, teríamos então que realizar pesquisas em vários arquivos da Europa, América Latina e Estados Unidos, em busca do que sobreviveu dos 20 periódicos diferentes ligados a Die Modenwelt, publicados ao todo em 14 línguas diferentes.

O presente trabalho não pretende ser tão abrangente, embora um dos meus objetivos seja entender como a editora Lipperheide negociava com as outras editoras ou tipografias nos outros países. Levantarei algumas hipóteses sobre como a concepção editorial de Lipperheide disseminou cultura material pela Europa e pelas Américas e tambem a respeito do público alvo da revista. Para isso, fornecerei um panorama da extensão desse empreendimento jornalístico no Ocidente, utilizando principalmente as informações obtidas no livro Zum 25jähringen Bestehen der Modenwelt 1865-1890. Posteriormente focalizarei as revistas brasileira e inglesa filiadas a Die Modenwelt: A Estação (1879-1904), publicada por Lombaerts, Rio de Janeiro, e The Young Ladies’ Journal (1864-1920), publicada por E. Harrison, Londres. Para o propósito deste trabalho, concentrei-me nos editoriais e prefácios principalmente dos primeiros números das duas revistas. Nesses textos constata-se que os editores expressaram mais abertamente as suas intenções editoriais.

Qual era o público alvo dessa empresa transnacional e que público a revista mais provavelmente alcançou na escala local? Podemos falar de uma audiência global? Que gêneros literários eram publicados nos suplementos literários? Os romances seriados de autoria dos colaboradores locais possuem algo em comum? Em vez de responder a todas essas perguntas e comparar romances individuais, meu objetivo é mostrar que essas revistas ilustradas reforçam o argumento da história do livro segundo o qual é redutor conceber cultura material e, conseqüentemente, cultura literária somente em termos nacionais.

1. História

Fundada em outubro de 1865, o objetivo da revista Die Modenwelt era ensinar às donas-de-casa como fabricar vestimentas para toda a família, bordar e decorar suas casas. A revista prometia mantê-las em dia com as últimas tendências da moda parisiense, assim como ajudá-las a economizar nas despesas domésticas.

Essa idéia não era nova. Existiram periódicos femininos antes de Die Modenwelt, os primeiros datando do final do século XVII. A principal característica de Die Modenwelt também não representava nenhuma novidade. De fato, os periódicos direcionados ao sexo feminino caracterizaram-se antes como imprensa de entretenimento e serviço do que como jornalismo de notícias.[6] Além do mais, a autoridade cultural de Paris no comércio da moda já tinha sido reconhecida muito anteriormente. Na Alemanha, por exemplo, antes de Die Modenwelt existiu a Pariser Damenkleider-Magazin de Stuttgart. No Brasil, o Correio das Modas, com ilustrações e moldes impressos em Paris, era publicado pela editora Laemmert desde 1840.

O que parece novidade no conceito editorial de Lipperheide é “a proposta e defesa de uma moda internacional de orientação francesa”.[7] Essa proposta parece ter desempenhado papel muito importante nas estratégias comerciais da editora, cujo interesse era expandir os negócios por toda Europa e do outro lado do Atlântico. Isso representava em parte uma necessidade econômica. De acordo com Robert Gross,

…the trouble started with Gutenberg. His ingenious invention, with its interchangeable parts, was the model of the modern machine, costly to build, inexpensive to operate, demanding large scales to compensate for the heavy capital investment. In the relentless quest for market, succeeding generations of publishers pushed the dynamic logic of mass production to its limits.[8]

Na verdade, a editora Lipperheide tinha grande interesse em livrar sua imagem de uma orientação nacional estreita. É indicativo que, em um editorial de 1870, a redatora Frieda Lipperheide tenha reforçado o caráter internacional do seu periódico. Não nos esqueçamos de que em 1870 a Alemanha estava em guerra contra a França. Quando Friedrich Melfort contabiliza o aumento no número de assinaturas de Die Modenwelt entre os anos de 1865 e 1890, ele também enfatiza que a publicação do periódico nunca foi ameaçada pela Guerra franco-prussiana. Houve considerável redução no número de assinaturas entre junho (98.928) e outubro de 1870 (82.110). Entretanto, o periódico alcançou rapidamente a marca das 100.000 assinaturas no ano seguinte (Zum 25jährigen, p. 6,8).

O projeto de Lipperheide de criar um periódico de moda internacional se concretizou através do que podemos chamar de associações com outros periódicos já existentes: “Antes mesmo do lançamento do primeiro número, conexões foram estabelecidas com editores estrangeiros, de forma que Die Modenwelt pôde aparecer desde o começo em três línguas” (Zum 25jährigen, p. 5, 6). Os dois outros jornais eram o francês L’Illustrateur des Dames, de Paris, e o inglês The Young Ladies’ Journal, de Londres. Até o final da década de 1880, o modelo jornalístico de Die Modenwelt, suas ilustrações e editorial de moda eram reproduzidos em 14 línguas diferentes.

O apêndice 1 contém a lista das edições estrangeiras de Die Modenwelt, seus editores e lugar de publicação. Os dados talvez não sejam muito precisos, porque refletem apenas um momento da produção. A maioria desses periódicos circulou durante um longo período. A respeito da revista brasileira, por exemplo, não é verdade que A Estação começou a ser publicada no Brasil em 1872. Na verdade, o periódico em língua portuguesa começou a ser publicado muito mais tarde, em 15 de janeiro de 1872. No entanto, os próprios redatores de A Estação informam ao leitor no primeiro número de A Estação que a revista estava começando seu oitavo ano de circulação.[9] Para Lombaerts, assim como para Lipperheide, o que importava era o primeiro ano de circulação no Brasil da versão francesa do periódico – La Saison. Além do mais, a partir da observação da distribuição das matérias e ilustrações no periódico brasileiro, pude provar que tanto o caderno principal de modas quanto o suplemento literário eram editados e impressos no Brasil.[10] Os estereótipos dos elementos pictóricos eram enviados por navio e posteriormente impressos no Rio. Cabia ao paginador e ao editor a diagramação das páginas da revista. No número de 15 de março de 1880, por exemplo, os editores pedem desculpa ao leitor pelo atraso na distribuição do periódico: “os últimos números do jornal têm sido distribuídos com alguns dias de atraso, que foram causados por circunstâncias fora do nosso alcance. O inverno rigoroso na Europa e as quarentenas no Sul alteraram o cronograma dos vapores que trazem os elementos artísticos do jornal”.[11]

A editora Lipperheide foi provavelmente a que mais lucrou com o negócio, porque controlava a produção dos periódicos que eram impressos na Alemanha e elaborava os elementos pictóricos e dos editoriais de moda enviados às editoras estrangeiras associadas. Parece-nos que as revistas eram produzidas seguindo um dos três modelos comerciais. No primeiro caso, a editora Lipperheide traduzia, editava e imprimia o periódico estrangeiro, o qual era posteriormente enviado ao país de circulação. Este parece ser o caso de La Estacíon e The Season (New York). No segundo modelo, os esteriótipos eram enviados ao editor local, o qual se encarregava da paginação e impressão da revista. Este é o caso de La Saison e A Estação. The Young Ladies’ Journal representaria o terceiro modelo. O periódico britânico manteve um formato independente, mas partilhava muitas características com Die Modenwelt. Em cada número semanal, como na revista hebdomadária alemã, encontramos um artigo sobre moda, tecidos, acessórios, moldes e trabalhos de agulha.

2. Leitor

Ao incutir uma atmosfera transnacional no periódico, os editores tinham em vista não só os leitores, mas também os anunciantes. Um exemplo concreto é a tentativa da revista britânica de criar um ambiente internacional nas notas direcionadas aos anunciantes. Os editores de The Young Ladies’ Journal alegavam que a revista circulava por todo o mundo e era lida por aproximadamente meio milhão de membros de famílias, constituindo assim “a most grand medium for advertisers”.[12] Apesar de podermos considerar esses números apenas como a expressão da ambição dos editores, eles representam o volume de leitores que a revista esperava alcançar.

Encontrei na revista brasileira as mesmas aspirações. A Estação tinha sido acusada de não ser um autêntico periódico francês. No editorial de 15 de janeiro de 1885, para defender a autenticidade do periódico da casa Lombaerts, o redator revela ao leitor a complexidade cultural e econômica da produção do seu periódico. Encontrei novamente a mesma tentativa de enfatizar o caráter internacional da publicação e o mesmo número de assinaturas, os quais asseguravam aos leitores e anunciantes a alta escala de circulação do periódico. Mas o que é mais interessante nesse editorial é a confirmação de que o projeto de Die Modenwelt, orientado pela autoridade cultural francesa, reunia leitores de diferentes países em uma mesma audiência global, a qual aspiraria aos mesmos sinais externos de prosperidade e bem-estar.

O que dava forma a essa audiência global que a revista alega alcançar era a aspiração dos mesmos valores culturais europeus, tomados como universais. Porém, até que ponto podemos comparar entre si as audiências de cada periódico, na sua circulação nacional? Mesmo que compartilhassem as mesmas aspirações de consumo, será que os leitores assumiam o mesmo escopo social em cada país?

De acordo com os editoriais dos primeiros números, A Estação, assim como The Young Ladies’ Journal e Die Modenwelt, tinham como alvo as donas-de-casa que queriam se manter elegantes com parcimônia, ou seja, que poderiam fabricar elas próprias suas roupas, não necessitando recorrer às lojas.[13] Essa descrição parece no entanto se ajustar melhor à mulher da classe-média dos países europeus, como Inglaterra, Alemanha e França, do que à mulher brasileira que era livre, alfabetizada e que teria condições de manter uma assinatura da revista.[14]

Agora que começamos a comparar de mais perto as revistas brasileira e britânica, constataremos que A Estação teve que se adaptar às especificidades do mercado e da sociedade local. Entre todas as edições estrangeiras de Die Modenwelt, a revista brasileira talvez seja o melhor exemplo de um periódico transnacional com inflexão local. As mudanças ocorridas na estrutura do periódico devido à necessidade de adaptação ao mercado local são o que torna a comparação entre esses dois periódicos ainda mais interessante. O Brasil e a Inglaterra possuíam condições sociais muito diferentes. De um lado, no Brasil, antiga colônia portuguesa, ainda predominava o sistema de trabalho escravo. Do outro, a Inglaterra, que já havia passado pela Revolução Industrial, possuía uma classe média muito numerosa, que atuava na indústria e prestação de serviços.

Na verdade, não podemos falar na existência de uma classe média numerosa nesse período da história do Brasil. Havia sim uma classe comercial ascendente, que passou a se concentrar principalmente na corte no final do século XIX. Para as mulheres casadas pertencentes a essa classe ascendente, da qual a personagem Sofia, do romance Quincas Borba, talvez seja talvez o melhor exemplo literário, a ostentação de beleza, cultura e classe eram os sinais exteriores de prosperidade econômica. Para as jovens solteiras em busca de um casamento acima do seu nível social, a ostentação desses sinais de prosperidade era muitas vezes o caminho mais curto para a ascensão social. Tanto as mulheres casadas quanto as solteiras não somente tinham que dominar o francês e saber tocar piano, mas também tinham que se apresentar em sociedade de acordo com a última moda francesa. Mas quem confeccionava os vestidos? As escravas, as costureiras ou as donas-de-casa?

Antes de responder a essa pergunta, precisamos delinear o papel que a disponibilidade de servos assumia na vida familiar britânica. Para isso precisamos cruzar novamente o Atlântico e investigar que classe social melhor se enquadrava no público alvo almejado por The Young Ladies’ Journal. De fato, na segunda metade do século XIX, a Inglaterra (assim como a Alemanha e França) vivenciaram uma rápida expansão da classe média. No caso específico da Inglaterra, Braithwaite relaciona a nova onda de periódicos femininos que cobriam assuntos domésticos à escassez de servos:

The growth of industrialization brought new opportunities to thousands of young women who deserted the traditional role of domestic service and found clerical jobs and work in the bustling distribution and retail trades. The shortage of servants meant that the middle classes, in particular, were often confronted with their own domestic chores. This brought a demand for household hints and information, recipes, dressmaking tips and other domestic necessities (Braithwaite, p. 14).

Os periódicos femininos populares que floresceram na Europa central e Inglaterra traziam notas a respeito de jardinagem, artigos sobre assuntos domésticos e higiene pessoal, receitas e moldes de papel.[15] Apresentando essas características, The Young Ladies’ Journal (e também La Saison, Die Modenwelt, Illustrierte Frauen Zeitung[16]) era direcionada à classe media. E obtiveram muito sucesso, uma vez que circularam durante um longo período. Dessa forma, podemos concluir que, mesmo direcionadas a um público tão específico, essas revistas não tiveram dificuldades em atingir altos níveis de vendagem.

Teria sido esse o caso da revista brasileira se ela contasse apenas com um público tão limitado para garantir sua sobrevivência? Apesar do editorial ser direcionado às damas que precisavam conter as despesas sem prejudicar a elegância, precisamos reconhecer que Lombaerts muito provavelmente não cobriria os custos com a produção do periódico se apenas se endereçasse à mulher da classe comercial ascendente. Na verdade, a taxa populacional brasileira era muito diferente da britânica naquela época. Em 1872, a população total do país estava um pouco acima de 10.10 milhões de habitantes, dos quais 8.60 eram livres. Apenas 1.65 milhões eram letrados. No ano da abolição da escravatura, a população total do país era de 14.33 milhões de habitantes. Apenas 2.12 milhões sabiam ler (Hallewell, p. 128).

Podemos comparar o total da população brasileira em 1880 ao total da população inglesa em 1881. Na Inglaterra e País de Gales, havia 24.968.286 habitantes (dos quais 13.343.532 eram mulheres) contra 11.750.000 habitantes no Brasil (Hallewell, p. 128). Em 1881, a população somente da grande Londres era de 4.764.312 habitantes.[17]

A publicação de A Estação não era no entanto o único negócio de Lombaerts. De acordo com Hallewell, Lombaerts, que havia se estabelecido no Brasil em 1848, comercializava outros periódicos estrangeiros e imprimia por comissão (Hallewell, p. 113). A partir dos editoriais de A Estação, também ficamos sabendo que Lombaerts vendia em sua loja, na rua Ourives, 17, os moldes anunciados na revista:

As nossas assinantes podem obter encomendando-os no nosso escritório com antecedência de 24 horas, o molde cortado em tamanho natural, quer em papel, quer em cassa, de qualquer das peças de vestuário publicada pelo nosso jornal. Esses moldes são cortados pelas dimensões normais, sendo facílimo seguindo os conselhos do nosso tratado de costura fazer servir o mesmo molde para qualquer estatura ou grossura de corpo.[18]

Quando analisamos os índices populacionais brasileiros do final do século XIX em retrospectiva, eles nos parecem pouco atrativos para os editores europeus em busca de um mercado brasileiro. Mas, afinal das contas, eles se instalaram no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro. Depois da Independência do Brasil em 1822 e com a supressão do controle da imprensa por Portugal, o país passou a oferecer boas perspectivas, particularmente para os editores franceses. Tendo adquirido, como explica Hallewell, “the economic advantages of Independence without loss of political continuity, Brazil provided the requisite stability and prosperity, allied to an almost unique receptivity to all the trapping of French culture” (Hallewell, p. 92). Até o final da década de 1890, a maior parte dos editores e livreiros do Rio eram franceses (Garnier, Bossange, Aillaud, Mongie, Didot Brothers, B. L. Garnier). Lombaerts era belga, Leuzinger suíço e E. & H. Laemmert alemão.[19]

Dessa forma, como pôde uma publicação que originalmente se direcionava a um público tão específico sobreviver no Brasil? Levanto a hipótese de que a estratégia de Lombaerts foi transformar sua publicação interessante não só ao público feminino pertencente à elite carioca,[20] mas também para o público masculino. Em um país onde não só os elementos necessários para a impressão de livros e jornais, mas também pianos, sombrinhas, chapéus, produtos de beleza, tecidos finos tinham que ser importados, a escassez de bens de consumo os transformava em artigos raros, caros e luxuosos. Isso talvez tenha encorajado muitas famílias a usarem seus servos ou escravos para confeccionar as peças do vestuário da família.

Para alcançar a elite feminina, Lombaerts não precisou fazer nenhuma mudança no conteúdo do caderno de modas da revista. Porém, para alcançar o público masculino, o periódico brasileiro teve que se afastar um pouco da matriz européia e incluir seções no suplemento literário que fossem atrativas ao público do outro sexo. Como o suplemento literário era concebido localmente, Lombaerts tinha mais liberdade para escolher os gêneros literários a publicar e os escritores que iriam colaborar com a revista.

3. Literatura

Agora precisamos voltar no tempo e interromper momentaneamente a discussão, para esclarecer de que forma a literatura se transformou num elemento de vendagem muito importante do periódico alemão e das edições estrangeiras. Sabemos que, quando Lipperheide fundou Die Modenwelt, ele havia projetado uma revista de modas isenta de conteúdo literário. Com isso, a produção tornava-se mais barata, além de tornar sua publicação diferente dos periódicos que circulavam na Alemanha antes de 1865, como o Bazar, o Allgemeine Musterzeitung, e o Hamburger Zeitschriften Jahrzeiten.

Entretanto, em 1874, Lipperheide começou a publicar uma edição literária de Die Modenwelt: o Illustrierte Frauen Zeitung. Lipperheide, dessa forma, preferiu manter o formato original de Die Modenwelt e publicar ao mesmo tempo um segundo periódico composto pelo mesmo conteúdo de moda, além de textos literários. La Saison e A Estação, no entanto, preferiram publicar textos literários num suplemento que era vendido juntamente com o caderno principal. O primeiro suplemento literário do periódico francês tinha duas páginas e foi publicado em outubro de 1869. A Estação anunciou a publicação de um suplemento literário em 31 de Março de 1879. The Young Ladies’ Journal desde o primeiro número sempre se apresentou como um jornal de modas e literatura.

Qual tipo de literatura era publicado nos periódicos brasileiro e inglês? Dado que o periódico brasileiro partilhava com o inglês o mesmo padrão editorial, mas tinha, ao mesmo tempo, que se adaptar às necessidades locais, quais teriam as conseqüências dessa adaptação para os textos literários publicados no periódico brasileiro?

Lombaerts se valeu de pelo menos três estratégias para atrair um público mais amplo. Em primeiro lugar, convidou autores como Machado de Assis, cuja autoridade literária já era reconhecida na corte, para publicar textos literários seriados. Machado de Assis começou a publicar contos em A Estação a partir do número de 30 de julho de 1879. Seus dois trabalhos mais longos foram a novela Casa Velha e a primeira versão de Quincas Borba. Em segundo lugar, Lombaerts incluiu no suplemento literário seções, como as Chroniquetas e Theatros de Artur Azevedo, que traziam informações sobre a vida cultural e política da corte. Em terceiro lugar, além dessas seções e dos anúncios comerciais, A Estação reproduzia uma variedade de ilustrações, predominando pinturas, quadros de figuras monárquicas, paisagens ou monumentos arquitetônicos, na sua grande parte europeus. Essas ilustrações parecem, na verdade, ter desempenhado um papel muito importante no periódico, pelo espaço que lhes era destinado em cada suplemento. Na maior parte das vezes, a cada quinzena o jornal provia duas ilustrações aos leitores, que ocupavam muito freqüentemente toda a superfície de duas páginas. Essas gravuras, juntamente com as crônicas de Artur Azevedo, atraíam para a revista leitores que se situavam fora da orientação doméstica e do salão enfatizada no encarte principal do periódico, uma vez que trazia para dentro da revista imagens e textos que não se restringiam exclusivamente à moda e à higiene do lar.[21]

No caso do jornal britânico, publicavam-se basicamente dois tipos de textos literários. Os romances seriados eram chamados de “continuous stories” e os contos de “complete stories”. Os romances eram na maioria dos casos publicados anonimamente. Pude, no entanto, identificar alguns autores: Eliza Margareth J. Humphreys, Florence Marryat, Eliza Lynn Linton, Florence Warden and Gertrude Warden, sendo todas autoras de romances populares.

4. Conclusão

Tentei mostrar como o projeto de Die Modenwelt constituiu uma rede de periódicos de orientação cultural francesa, com aspirações transnacionais. Transcendendo as fronteiras nacionais, o conceito editorial de Die Modenwelt formava uma audiência que partilhava os mesmos desejos de consumo. Também procurei delinear o público alvo principalmente das edições brasileira e inglesa da revista. Espero ter demonstrado que podemos aplicar ao estudo de periódicos uma das principais questões que Robert Darnton levanta a respeito da história dos livros em geral: os periódicos assim como os livros não respeitam os limites lingüísticos, muito menos as fronteiras nacionais (Darnton, p. 135). Ou de acordo com Robert Gross:

The modern media shrank the globe, annihilating time and space. Millions read the same news, saw the same images, craved the same goods. Theirs was a standardized experience of mass culture, and if the content differed from nation to nation, the effects did not. Popular tastes, shaped by dominant media, transcended national boundaries. (Gross, p. 109)

A Estação se declarava uma publicação transnacional, pregando a disseminação da cultura material européia. Ao mesmo tempo, outros periódicos brasileiros do mesmo período estavam publicando artigos, como os de autoria de Sílvio Romero e Joaquim Nabuco, que abriram o debate em relação à criação de uma história e literatura nacionais.[22] Assim, ao ao mesmo tempo em que os intelectuais brasileiros defendiam a independência política e literária do país, a produção de cultura material no Brasil e, mais especificamente, o comércio editorial inseria o país num processo global, seguindo padrões estabelecidos na Europa.

Na verdade, estamos lidando aqui com duas esferas de interesses. De um lado, as motivações políticas defendiam a soberania da nação. Do outro, as motivações comerciais intensificavam as ligações entre a Europa e o Brasil. Com periódicos como A Estação, os leitores brasileiros se beneficiavam de ilustrações de alta qualidade, as quais, se talhadas nas tipografias brasileiras, aumentariam o custo da produção. O Brasil, além do mais, já possuía uma longa experiência enquanto produtor de matéria-prima para Portugal, França e Inglaterra, em troca de artigos europeus. O preço a pagar pelo cosmopolitismo foi dessa forma a intensificação da dependência cultural pela Europa, veiculada por materiais impressos, artigos de luxo, transportados pelos vapores transatlânticos.

Dessa forma, o formato de A Estação, com seu caderno de moda e suplemento literário, harmoniza o cosmopolitano ao local, ao mesmo tempo em que estreita a dependência cultural brasileira à Europa. A revista brasileira ilustra muito bem como, no processo de globalização, os editores precisavam adaptar seus produtos às conjunturas econômicas e sociais locais.

Bibliografia

 

1. Fontes Contemporâneas

Periódicos

A Estação, Rio/Porto. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1879-1904); Biblioteca Naciocal de Portugal, Lisboa (7.2.1883, 1.2.1884, 1.2.1887).

La estagione, Milan. Kunstbibliotek Berlin (1892-1896); Biblioteca Nazionale Vittorio Emanuele III, Napoli (1892, 1898).

La saison, Brussels. Bibliothèque Nacional Suisse, Bern (1887-1891).

La saison, Paris. Kunstbibliotek Berlin (1868-1873); Bibliothèque National de France (1867-1902).

Les Modes de la Saison. Bibliothèque National de France (1871-1885); Kunstbibliotek Berlin (1881-1885).

The Season, London. British Library (1884-1897).

Young Ladies’ Journal, London, British Library (1864-1920); Kunstbibliotek Berlin (11.1874-36.1890).

Die Modenwelt, Berlin. Kunstbibliotek Berlin (1865-1904, 1924-1926, 1939)

Illustrirte Frauen Zeitung, Berlin. Kunstbibliotek Berlin (1874-1911)

The Gentleman’s Journal. A Magazine of Literature, Information and Amusement. A Companion Work to the Young Ladies’s Journal, Specimen Number, 1 Nov 1869.

The Weldon’s Ladies’ Journal of Dress, Fashion and Needlework, Strand: Weldon and co., British Library

 

Outras

A. B. C. Dressmaker, of easy parctical lessons in cutting, fitting, and making dresses at home, Young Ladies’ Journal, London: Harrison, Nov 1892.

Alley, Joseph John. 1881. Census of the United Kingdom, arranged from the official returns, 2nd ed., London: Manch, 1881.

Almeida, Júlia Lopes de. Livro das donas e donzellas, Rio de Janeiro: F. Alves, 1906.

Butterfly Series of Complete Stories from the Young Ladies‘ Journal, 2 vols., London: E Harrison

Lynn, Eliza Linton. A defence of the girl of the period, a reply and refutation to [The girl of the period by E.L. Linton, in the Saturday review, Bristol,1868

Lynn, Eliza Linton. Is marriage a failure? Ed. with a preface by H. Quilter and containing the most important letters on this subject in the Daily telegraph, a paper on the philosophy of marriage by mrs. L. Linton, and a full account of the principal laws of marriage and divorce by H.A. Smith, London, 1888.

Lynn, Eliza Linton. Ourselves, essays on women, 2nd ed., London, 1870.

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The New Review, ed. by A. Grove., Lond, 1889-97, vols. 1-3

The Newspaper Press Directory Containing Full Particulars Relative to Each Journal Published in the United Kingdom and the British Isle. A Complete Guide to the News Paper Press of Each County With the Newspaper Map of the United Kingdom. A Directory of Magazines, Reviews, and Periodical, London: C. Mitchell and Co., vols. 1864-1920.

The Young Ladies‘s Journal Library [of works of fiction], 3 vols, London: E Harrison, 1892.

The Young Ladies’ Journals Complete Guide to the Work-Table, London: E. Harrison, 9th ed, 1894.

Zum 25jähringen Bestehen der Modenwelt 1865-1890, Berlin [Leipzig: Otto Dürr], 1890. 

2. Bibliografia consultada

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Gross, Robert. “Books, Nationalism, and History”, Papers of the Bibliographical Society of Canada, Toronto: Bibliographical Society of Canada 36/2 (1998).

Hallewell, Laurence. Books in Brazil: a History of the Publishing Trade. N.J. and London: The Scarecrow Press, 1982

Rasche, Adelheid. Frieda Lipperheide (1840-1896). Ein Leben fur Textil und Mode im 19. Jahrhundert, Berlin: SMPK, Kunstbibliothek, 1999.

Sousa, Galante de. Bibliografia de Machado de Assis, Rio de Janeiro: MEC/INL, 1955.

Sullerot, Evelyne. La Presse Féminine, Paris: A. Colin, 1963.

Sutherland, John. The Longman Companion to Victorian Fiction, London: Longman, 1988.

Ventura, Roberto. Estilo Tropical. História cultural e polêmicas literárias no Brasil: 1870-1914, São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

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[1] Publicado na França, Alemanha, Bélgica, Suíça e Itália com o mesmo conteúdo. Na França, o jornal possuía um suplemento literário.

[2] Com suplemento literário.

[3] Berlim, 1o de outubro de 1890.

[4] “What is the History of Books?”, in: The Kiss of Lamourette (London: Faber and Faber, 1990), p 127.

[5] Essa coleção foi doada à cidade de Berlim antes mesmo da morte do casal: Franz Joseph Lipperheide (1838-1906), Wilhelmine Amalie Friederike Lipperheide (1840-1896).

[6] Dulcilia Buitoni, Mulher de papel (São Paulo: Editora Loyola, 1981), p. 9. No capítulo 2, “Origens da representação: século XIX”, encontramos uma breve história da imprensa feminina e os nomes dos primeiros periódicos na Alemanha, Inglaterra, França e Brasil. Ver também Brian Braithwaite, Women's Magazines (London: Peter Owen, 1995), pp. 9-28; e Evelyne Sullerot, La Presse Féminine (Paris: A. Colin, 1963), pp. 5-13. Estamos deixando de fora todos os tipos de periódicos feministas que começaram a ser publicados a partir do início do século XIX.

[7] Frieda Lipperheide, Die Modenwelt 1o de Setembro de 1870, apud Adelheid Rasche, Frieda Lipperheide (Berlin: SMPK, Kunstbibliothek, 1999) p. 19. São minhas todas as traduções das citações do alemão para o português.

[8] “Books, Nationalism, and History,” Papers of the Bibliographical Society of Canada 36/2 (1998): 109.

[9] “Começa com este número o oitavo ano do nosso jornal... Acabamos de folhear a coleção completa dos números publicados sob o título La Saison, edição para o Brasil, e não é sem experimentarmos um intenso sentimento de satisfação que vimos as provas do pouco que temos feito, mas que muito foi, para atingirmos ao alvo que almejamos. Às nossas amáveis leitoras, aquelas principalmente que nos acompanham desde 1872 perguntaremos: cumprimos nós fielmente o nosso programa, auxiliando e aconselhando as senhoras mais econômicas, fornecendo-lhes os meios de reduzirem a sua despesa, sem diminuição alguma do grau de elegância a que as obrigava a respectiva posição na boa sociedade, incutindo ou fortificando-lhes o gosto para o trabalho e moralizando a família a que, por seu turno, saberão incutir sentimentos iguais?... O jornal de modas brasileiro pois, que outrora seria uma impossibilidade, é possível hoje. A Estação será o primeiro jornal nesse gênero.” (Editorial, A Estação, 15 de Janeiro de 1879, p. 01).

[10] Laurence Hallewell e a “Comissão Machado de Assis” afirmam, o que não é verdade, que todo o periódico era impresso na França (e por conseqüência a primeira versão de Quincas Borba, de Machado de Assis). Ver L. Hallewell, Books in Brazil (N.J. and London: The Scarecrow Press, 1982), p. 113; e “Introdução Crítico-Filológica”. Quincas Borba. Edições críticas de obras de Machado de Assis (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975), p. 38.

[11] A Estação, 15 de Março de 1880, p. 45. Ver também: 1) o aviso de 15 de setembro de 1890, p. 72: “Com o presente número distribuímos a parte de modas do número de 31 de julho próximo passado, cuja entrega teve de ser adiada em conseqüência do naufrágio do vapor Buenos Aires”; 2) e a Chroniqueta de Artur Azevedo de 30 de junho de 1887, p. 52: “E termino aqui, porque o paginador da Estação recomendou-me que escrevesse muito pouco. Eloy, o herói”. Podemos apreender que o paginador, além de ser responsável pela distribuição das matérias pelas páginas do suplemento literário da revista, também controlava a extensão das colunas dos colaboradores.

[12] The Young Ladies’s Journal, 1 de Outubro de 1890, p. 254.

[13] Ver nota 6.

[14] Não podemos nos esquecer de que uma só revista era lida por várias pessoas, se não por várias famílias, já que era costume na época emprestar livros e revistas aos parentes, amigos e vizinhos.

[15] De acordo com Sullerot, o molde de papel apareceu primeiro na França no periódico Souvenir (1849-1855) e se chamava “modes vrais, travail en famille” (Sullerot, p. 7). Na Inglaterra, Braithwaite atribui a invenção do molde de papel, assim como da revista popular, a Samuel Beeton, que começou a publicar The Englishwoman’s Domestic Magazine em 1852 (Braithwaite, p. 12).

[16] Adelheid Rache associa o leitor de Die Modenwelt à mulher pertencente à classe média burguesa alemã: “With this main focus the journal addresses the readers of the common middle class, where women were primarily responsible for elegant living and clothing of the family” (Rasche, p. 18-19).

[17] Joseph John Alley, 1881. Census of the United Kingdom, arranged from the official returns, segunda edição, London: Manch, 1881.

[18] A Estação, 15 de Maio de 1879, p. 73.

[19] Para uma história dos editores estrangeiros e livreiros que se instalaram no Rio de Janeiro ao longo do século XIX, ver Hallewell, pp. 91-142.

[20] Valentim Guimarães deixa claro qual era o público feminino a que a revista era destinada, ao recomendar a leitura do novo romance de Júlia Lopes de Almeida, A família Medeiros: “Suas excelências contam, bem sei, entres as suas relações as famílias mais distintas da sociedade fluminense, quer pela educação, quer pela elegância, quer pela fortuna. Não quis acrescentar pela aristocracia, porque tal distinção não se compadece com o igualitarismo do regime democrático que felizmente nos rege. / Mas podia fazê-lo, tomando o desterrado vocábulo na accepção de nata ou escól social. / Acostumadas, assim, ao trato com essas famílias que povoam os bairros caros e fazem a fortuna dos empresários de ópera lírica, porque delas fazem parte, venho, como procurador oficioso de D. Júlia Lopes de Almeida, pedir-lhes a gentileza de se relacionarem com a família Medeiros. / Oh! não a procurem por Botafogo ou Laranjeiras. / Seria inútil: essa família é paulista e mora no interior do própero e rico estado de S. Paulo” (A Estação, 31.03.1893).

[21] Ver o editorial de 31 de março de 1879, p. 43: “Este número de nosso jornal traz um novo melhoramento, que estamos convencidos será bem recebido pelas pessoas que lêem a Estação. O suplemento literário do nosso jornal, deste número em diante, sairá também[pic]Z[]z{†?«Ö ilustrado, trazendo gravuras de atualidade ou sobre belas-artes, sempre escolhidas entre as obras primas dos abridores em madeira de França, Inglaterra, ou Alemanha.

[22] Ver Roberto Ventura, Estilo Tropical. História cultural e polêmicas literárias no Brasil: 1870-1914 (São Paulo: Companhia das Letras, 1991).

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