O PAPEL DO JORNAL NH NO - UFRGS



O PAPEL DO JORNAL NH NO

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO REGIONAL

João Carlos Rambor de Ávila

Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Feevale –Novo Hamburgo/RS. E-mail: joaocavila@.br

Resumo

O Jornal NH, editado pelo Grupo Editorial Sinos, circula em Novo Hamburgo (RS) e cidades vizinhas e caracteriza-se como veículo engajado nas causas que incentivam o desenvolvimento econômico regional. Nos dez primeiros anos de Jornal NH, nos anos 60, entre as campanhas lideradas e/ou incentivadas pelo veículo, destacam-se a criação da Festa Nacional do Calçado, atualmente Fenac S/A, promotora de feiras; a implantação da telefonia automática em Novo Hamburgo; e a criação da Associação Pró-Ensino Superior em Novo Hamburgo (Aspeur), mantenedora do Centro Universitário Feevale. Os documentos analisados revelam aspectos dessa trajetória de 45 anos, descrevendo a contribuição que a cobertura e a difusão das campanhas jornalísticas realizadas pelo Jornal NH proporcionou para o desenvolvimento econômico regional: um veículo preocupado com as questões de sua comunidade, defensor do otimismo e que busca não apenas fornecer informações, mas também colaborar na busca de caminhos para a solução dos problemas regionais.

 PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento, Jornal NH, campanhas jornalísticas.

Introdução: o jornal e uma região em constante desenvolvimento

O Jornal NH foi fundado e circula, há 45 anos, numa das regiões mais importantes do interior do Brasil. Fruto do sonho de dois irmãos, Paulo Sérgio e Mário Alberto Gusmão, é testemunha, nestas últimas cinco décadas, do desenvolvimento econômico de dezenas de municípios. No entanto, para compreender o que se passa na região do Vale do Sinos hoje, é preciso entender o processo migratório, iniciado há 180 anos.

Foi no ano de 1924 que os primeiros alemães aportaram no Rio Grande do Sul. Formados por agricultores e artesãos, os imigrantes assentados na Colônia de São Leopoldo começaram a dar um novo perfil para esta área, situada entre a Região Metropolitana e a Serra gaúcha. Hoje, a região é uma das mais desenvolvidas do País. Possui indústrias de ponta, tecnologia de primeiro mundo e uma comunidade imbuída nas questões regionais. Registra maior crescimento a partir dos anos 60, quando a indústria calçadista passa a ser reconhecida internacionalmente.

Este foi o processo que acelerou o desenvolvimento, termo que, segundo Basso (apud BATISTA, 1996:8), não pode ser confundido com crescimento: “O crescimento se limita apenas à expansão continuada das quantidades produzidas medidas pelo aumento do PNB (Produto Nacional Bruto).” Batista diz, ainda, lembrando o mesmo Basso, que desenvolvimento implica muito mais do que o crescimento industrial. O desenvolvimento, mesmo econômico significa melhor satisfação das necessidades fundamentais do homem, como alimentação, saúde, educação.

Deve vir, o desenvolvimento, acompanhado de uma redução das desigualdades sociais, do desemprego, da pobreza e da situação de miserabilidade, típico dos moradores das periferias dos grandes centros. Por isto, para Batista (ibid) “o verdadeiro desenvolvimento é o desenvolvimento humano, e, isto implica levar em consideração as condições de qualidade de vida que têm indicadores sociais como critérios de mensuração (expectativa de vida, saúde pública, escolaridade etc)”. Esta qualidade de vida está diretamente ligada às possibilidades que as lideranças têm de oferecer muito mais do que crescimento para a sua comunidade. E alguns movimentos comunitários foram importantes para o desenvolvimento regional.

Parte do caminho percorrido por Novo Hamburgo e por dezenas[1] de municípios foi testemunhada pelo Jornal NH, fundado em 19 de março de 1960. Segundo Marques de Melo (2003:191), “o jornalismo é (...) a principal forma de conhecimento que permite aos cidadãos de qualquer sociedade acompanhar, participar e influir na história de seu tempo”. Veiga França (1998:38) afirma que no jornalismo o poder se encontra na divulgação da informação: “(...) o jornalismo se realiza através da socialização da informação.”

Ainda segundo Veiga França (1998:29), o discurso jornalístico “vem descaracterizar a presença de relações específicas e diretas entre aquele que o pronuncia, a audiência à qual se dirige e o assunto do qual está tratando.” A autora vai além e diz que, “(...) a palavra jornalística torna-se uma palavra de mediação.” Sob estes pontos de vista, se há desenvolvimento, o agente de divulgação é o meio de comunicação. Por ele, a sociedade toma conhecimento das conquistas, dos avanços e dos resultados. Desta forma, a articulação promovida é capaz de promover a mobilização social, desde que haja envolvimento dos órgãos de imprensa. “Um jornal é muito mais do que um veículo que traz informações para seus leitores. Ele exprime um certo padrão de sociabilidade, cristaliza valores e imagens presentes em uma sociedade num determinado momento, constitui uma das muitas modulações da palavra social.” (ibid, p. 61). E desempenha importante papel na sociedade: “A informação jornalística não é uma informação qualquer, mas aquela que, submetida a um tratamento especial, adquire as características necessárias para ser ‘trocada’ (tais como interesse, inteligibilidade etc)” (ibid, p. 27). Em outras palavras, além de seu caráter de difusão de mensagens, o jornalismo também assume um aspecto de comercialização da informação.

Ainda segundo a autora Veiga França: “(...) cada jornal é único, dotado de uma existência e configuração particulares, destilando uma lógica própria” (ibid, p. 101), A autora justifica, ainda, que um jornal adquire a sua identidade “através da materialidade de suas páginas, do seu recorte temático e tratamento da informação. O jornal é produto e instância de produção, e a palavra jornalística, elemento fundamental nas relações de identificação entre o jornal e seu público, constrói-se em íntima relação com a palavra social.” (ibid).

Desta forma, o jornal torna-se o novo ponto de partida da vida social dos moradores de sua área de abrangência. E o NH assumiu este papel não apenas informando, mas também desenvolvendo e/ou incentivando campanhas em prol do desenvolvimento regional. E, segundo Quesada (1980:15), as instituições têm o papel de manter o vínculo com a comunidade, visto que “as instituições são praticamente as veias pelas quais circulam as mudanças sociais”. Ainda segundo este mesmo autor, o progresso, para ser duradouro, necessita estar baseado na aceitação desta comunidade, bem como em sintonia com a liderança local. Neste sentido, um movimento pelo progresso deve estimular a auto-suficiência, uma vez que “qualquer comunidade tem um potencial latente” (QUESADA, 1980:20).

Cabe, aqui, apontar para as questões referentes às campanhas envolvendo o jornalismo brasileiro. Fernando Moraes, na obra Chatô, o Rei do Brasil, lembra a campanha “Dê Asas à Juventude”, a primeira dos Diários Associados, grupo fundado por Assis Chateaubriand, que promoveria, durante dez anos, a doação de aviões para aeroclubes de todo o Brasil. Além disso, Chatô promovia eventos para incentivar a aviação.

Simultaneamente à campanha da aviação, os Diários Associados, sob o comando de Chatô, lançavam a Campanha Nacional da Criança. O objetivo era diminuir a mortalidade infantil com a construção de postos de saúde em todo o Brasil. Os veículos associados veicularam inúmeras notícias sobre o tema, mas nem sempre os resultados eram os esperados pelo dono do império.

Na seqüência, a terceira grande campanha: conquistar doadores para que se pudesse construir e montar no Brasil uma das maiores e mais importantes galerias de arte do mundo. Era o primeiro passo para a criação do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. A proposta de Chateaubriand mereceu notícias internacionais no jornal Coriere della Sera e na revista L’Europeu, ambos italianos.

Jornal NH: a história do fundador

O diretor-presidente do Grupo Editorial Sinos, que controla o Jornal NH, também é um dos fundadores da empresa e sua história praticamente se confunde com o jornalismo. Aos 13 anos, Mário Alberto Gusmão era entregador do jornal O Estado do Rio Grande, veículo do Partido Libertador. A família Gusmão residia em São Leopoldo, ao lado da Igreja Católica Matriz e perto da Câmara de Vereadores e da Prefeitura. “Acabei me envolvendo com a política, mas nunca fui filiado a partido algum”, lembra. Esta ligação acabou conduzindo-o à Rádio São Leopoldo, como colaborador nas coberturas políticas. Nesta época, lembra o jornalista, surgiram os jornais Folha de São Leopoldo e Gazeta de São Leopoldo. “Ambos surgiram e sumiram”, recorda Gusmão, que trabalhou como colaborador nos dois periódicos, sem nunca ter sido remunerado pelo trabalho.

No ano de 1957, em conversa com o irmão Paulo Sérgio, surgiu a idéia do jornal próprio. Mas os irmãos não tinham recursos. Paulo Sérgio era representante comercial e Mário Gusmão trabalhava com a mãe, Maria Emília, na Câmara de Vereadores. Apesar das dificuldades, o sonho foi concretizado no dia 20 de dezembro de 1957, quando circulou pela primeira vez o SL, que até agosto de 1958 era quinzenal.

A vinda para Novo Hamburgo só ocorreu dois anos e três meses depois, a convite de um empresário amigo, Roberto Jaeger. Era o convite que faltava: “Acreditamos naquele desafio dele e passamos a encarar Novo Hamburgo como uma possibilidade. Na verdade, se fôssemos analisar hoje, não havia condições de se atender a esta sugestão do Roberto. Continuávamos sem capital, continuávamos sem equipe.” Gusmão lembra que os dois não tinham nada. “Só se tinha a vontade, o desejo de fazer jornal”.

O jornal chegou com um propósito de participação na vida da comunidade e aderiu ao movimento social de Novo Hamburgo e, por conseqüência, da região dos vales dos Sinos, Caí, Paranhana e Encosta da Serra. Ainda no início dos anos 60, participou ativamente da criação da Festa Nacional do Calçado, mais tarde transformada em Fenac S/A, promotora de feiras principalmente voltadas ao setor coureiro-calçadista. Além de se inserir na comunidade, participando de movimentos empresariais e sociais, teve aceitação da comunidade, confirmando as idéias de Quesada (1980:19), de que “o progresso, para ser duradouro, tem de estar baseado na aceitação da comunidade e da sua liderança local”.

Fenac, telefonia e universidade

O Jornal NH promoveu campanhas e incentivou o crescimento e desenvolvimento. Esta proposta fez parte da caminhada da empresa, segundo o diretor-fundador Mário Gusmão: “Isto veio a provar, dentro do espírito que nos acionava desde a fundação do jornal, que o jornal deveria ser não apenas um veículo de informação e também não apenas de críticas.” Gusmão defende que um jornal deve participar do processo construtivo de uma sociedade. “Nós criticamos [...] mas é uma parte que até não nos agrada fazer. Nós gostamos mesmo é de ajudar a construir.”

Tal aspecto pode ser evidenciado desde a primeira edição, enviada para potenciais clientes em diversas cidades brasileiras. Nessa ocasião, a contra-capa apresentava o primeiro de uma série de anúncios com os nomes e endereços das principais indústrias calçadistas da região. A idéia era impulsionar a indústria calçadista e desenvolver a marca “O bom calçado de Novo Hamburgo”. Este era o primeiro passo deste jornal na defesa de desenvolvimento econômico do Vale. Nos anos 60, a idéia era fazer com que o NH circulasse nas lojas de calçados do Brasil. A última página era um anúncio. Este foi o início do vínculo com o setor calçadista.

Junta-se a isto, o fato de o Jornal NH ter sido fundado na época em que as primeiras indústrias se preparavam para a exportação de calçados. Ao mesmo tempo em que surgia a possibilidade de um novo mercado consumidor, representantes multiplicavam esforços, saindo do Vale do Sinos com suas DKW – o principal automóvel da época – para fazer vendas pelos diversos estados brasileiros.

Com o passar dos anos, o jornal ultrapassou os limites do município de Novo Hamburgo. Viu esta região crescer e se desenvolver, tendo participado ativamente do processo de crescimento e desenvolvimento da região onde circula.

Seguindo o mesmo caminho de Assis Chateaubriand e seus Diários Associados, os irmãos Paulo Sérgio e Mário Alberto Gusmão também aderiram às campanhas pelo desenvolvimento de Novo Hamburgo e região. Estas campanhas desenvolvidas ou defendidas pelo Jornal NH são relembradas como motivo de orgulho para Mário Alberto Gusmão: “Todas foram muito significativas”, lembra.

Ao circular pela primeira vez, no dia 19 de março de 1960, o Jornal NH destacava o desenvolvimento de Novo Hamburgo e já chamava para a necessidade de duplicação da atual BR-116. Se integrava a uma das necessidades da sociedade, pois, segundo Hermet (2002:21) “(...) o desenvolvimento não é somente econômico, embora o crescimento e a distribuição menos desigual da riqueza material sejam decisivos para este maior bem-estar”.

Primeiro foi a Fenac, que transformou-se no grande impulso do setor coureiro-calçadista, pois passou a promover feiras nacionais e, mais tarde, internacionais, chamando a atenção do mundo para o Vale do Sapateiro. Os diretores sugeriram a realização da festa, jornal divulgou a idéia e alertou quando sentia que a mobilização estava perdendo forças. Como fez no dia 17 de fevereiro de 1962, ao dar de manchete: “PARADOS DEMAIS OS PREPARATIVOS PARA A FESTA DO CALÇADO”. O NH estava em sua primeira grande campanha, a da realização, em Novo Hamburgo, da Festa Nacional do Calçado, mais tarde batizada Fenac. O evento, diz a notícia, “deverá firmar de uma vez por todas a legítima liderança de Novo Hamburgo no setor industrial desta região.”

Desde a primeira edição, no dia 19 de março de 1960, o Jornal NH apostou no desenvolvimento do município. Na capa do número 1, uma foto aérea da cidade, com um pequeno texto, trazia o título, em letras destacadas na cor verde: “Novo Hamburgo – Cidade em Vertiginoso Desenvolvimento”. Trazia, ainda, outros assuntos locais como destaque e a necessidade de duplicação da BR-2, hoje a BR-116, principal via de acesso do Vale do Sinos à Capital gaúcha.

Durante os três primeiros anos, foram raras as edições do NH que não falaram da Festa do Calçado. O início das obras, a mobilização da comunidade, os financiamentos conquistados, a constituição da diretoria. Tudo ficou documentado nas páginas do jornal. A primeira edição da Fenac começou no dia 25 de maio de 1963.

Até o início dos anos 60, a telefonia em Novo Hamburgo era de magneto, via telefonista. Para qualquer contato telefônico, era preciso ligar para a telefonista e aguardar a ligação, que poderia levar horas. No dia 13 de junho daquele ano, a edição de número 11 do Jornal NH circulou com a seguinte chamada de capa em letras vermelhas: “Até 1963: 1300 Telefones Automáticos para N.H.” Era o início da segunda campanha desenvolvida e liderada pelo NH, um espelho do trabalho que já era desenvolvido pelo primeiro veículo da empresa, o Jornal SL, atualmente VS, com sede em São Leopoldo. Por mais de cinco anos, até que os telefones automáticos foram implantados, no dia 12 de novembro de 1965, praticamente todas as semanas – na época o Jornal NH era semanal – circulava uma notícia ou editorial sobre telefonia e a necessidade de se implantar o sistema automático no município.

No dia 18 de fevereiro de 1961, um apelo como manchete do Jornal NH: “Devemos Resolver Imediatamente o Problema dos TELEFONES.” A primeira frase da matéria de capa revelava o ceticismo da população: “Quando se fala na solução do problema dos telefones, muitos fazem um sorriso e dizem que não acreditam. Repetem que várias tentativas foram fracassadas e que promessas já existiram em demasia, para resolver o problema, sem no entanto nada resultar de prático.” No parágrafo seguinte, o Jornal NH apelava apoio da comunidade e anunciava para o ano de 1962 a instalação, “caso houvessem mil aparelhos adquiridos” pela comunidade.

Ao longo dos anos, o NH mobilizou a comunidade e divulgou cada passo da campanha. O espaço Bilhete da Redação, editorial do jornal, também cobrou incessantemente das lideranças estaduais a implantação do sistema. Num deles, sob o título “53 anos depois... Sr. Governador”, lembrava que Novo Hamburgo se emancipara em 1927, com oito mil habitantes e, em 1961, cerca de 60 mil pessoas residiam no município. Destacava a arrecadação municipal e concluía: “Telefone é fator de progresso, dizem os povos adiantados. Nosso progresso portanto está sendo atrofiado pela falta de um eficiente serviço telefônico. Teremos que esperar mais outros 53 anos para vermos solucionado o mais grave problema de nossa cidade? Até a próxima semana, Sr. Governador.” Foi assim até o dia 12 de novembro de 1965, data da inauguração da telefonia, com a presença do governador Ildo Meneghetti.

A Fenac deu visibilidade ao sapato produzido em Novo Hamburgo e na região. A telefonia facilitou a venda. Faltava, neste processo de desenvolvimento, a qualificação, que ganhou impulso com a proposta do então prefeito Alceu Mosmann, que sugeriu, em 1965, a implantação de cursos superiores em Novo Hamburgo. A idéia não foi do NH, mas o jornal aderiu ao movimento e passou a acompanhar o assunto. Cada passo do projeto era noticiado, mantendo a população informada. Na matéria da página 3 do dia 9 de maio de 1969 era apresentada a Comissão de Estudos Pró-Universidade em Novo Hamburgo, designada por decreto do prefeito, da qual fazia parte um dos fundadores do NH, Mário Gusmão. Em junho era noticiada a criação da Aspeur e foi assim até a inauguração, noticiada no dia 27 de março de 1970, com a manchete: “FACULDADES JÁ ESTÃO INAUGURADAS”. Os cursos: Belas Artes, Administração de Empresas e Educação Física.

Vieram outras campanhas ao longo dos anos, muitas, parte de cunho comunitário, outras, pelo desenvolvimento econômico, e algumas, defendendo causas sociais. Mesmo que este objeto de estudo se restrinja aos três temas acima citados, cabe lembrar o incentivo pela criação da Associação dos Municípios do Vale; o processo pela municipalização da água em Novo Hamburgo; o Projeto Agora, que visava a disseminação do computador no início dos anos 80; a Cruzada Anti-Drogas, voltada ao combate ao uso de drogas lícitas e ilícitas; o Ação 21, programa que trabalhava o desenvolvimento econômico de Novo Hamburgo; e mais recentemente o projeto da Rodovia do Progresso, que busca uma via alternativa entre o Vale do Sinos e Porto Alegre; e o ABC Alfabetizando, que trabalha para erradicar o analfabetismo.

Participando destes movimentos, o Jornal NH se transformou numa vitrine dos acontecimentos. Marques de Mello (2003:63) lembra a última reflexão de Rui Barbosa sobre a imprensa, de 1920:

“A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa perto e ao longo, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se cautela do que ameaça. Sem vista mal se vive (...)” (2003:63)

A frase de Rui Barbosa, reproduzida por Marques de Melo, ainda hoje é atual. Afinal, ela se complementa com a idéia de Schuch (2003:on-line). Para ele, o jornalismo “(...) não somente faz parte da economia, como a manifesta, explicitando sua dinamicidade, o que significa difundir os fatos diretamente econômicos e/ou de negócios em forma jornalística”.

Conclusão

Em quase 45 anos de história, o Jornal NH esteve inserido nos assuntos dessa sociedade. Liderou campanhas, divulgou sua pujança, criou um sentimento social através da comunicação com seus receptores. Foi um grande colaborador no crescimento de Novo Hamburgo, publicando notícias locais e de incentivo. Foi esta identidade que o Jornal NH, do Grupo Editorial Sinos S/A, buscou ao longo de sua história. E esta afinidade, principalmente com o segmento econômico, foi a que transformou-o num veículo integrado à sociedade, à cultura e ao desenvolvimento, contribuindo para o crescimento regional.

A persistência em noticiar propostas e campanhas e a busca por adesões da comunidade viabilizaram algumas das maiores conquistas, movimentos que colaboraram com o desenvolvimento econômico.

A Fenac S/A, criada como Festa Nacional do Calçado, é o primeiro destes exemplos. Idéia dos diretores do Jornal NH, que viram na Festa da Uva a possibilidade de fazer o mesmo no Vale do Sinos, com o principal produto deste região, não apenas mereceu a campanha pela criação, como também levou um dos diretores de carro até a Bahia para divulgar a festa. A partir desta conquista, o calçado da região conquistou espaço, inclusive no exterior, transformando este vale um dos mais desenvolvidos do país.

A implantação da telefonia automática também trouxe resultados. Mais do que incentivar a implantação do sistema em Novo Hamburgo, o Jornal NH liderou a campanha, buscou adesões para a aquisição de linhas, mostrou aos governadores do Estado que a reivindicação era necessária.

Ainda na primeira década de existência, o Jornal NH ajudou a difundir a idéia da criação de cursos superiores em Novo Hamburgo. Surgiu a Aspeur, mantenedora do hoje Centro Universitário Feevale, que oferece quatro dezenas de cursos. O papel do NH, nesta campanha, foi divulgar a proposta e buscar adesões para que ela se viabilizasse.

Conclui-se, então, que o Jornal NH, teve, sim, participação no desenvolvimento econômico regional, uma vez que incentivou a criação da Festa Nacional do Calçado, maior divulgadora do sapato aqui fabricado, possibilitando a conquista de novos mercados. Com a telefonia automática, possibilitou que o contato ficasse mais ágil e, com a campanha pró-universidade, que a qualificação profissional ficasse mais próxima da comunidade.

Por fim, importa pontuar que a participação do NH não se ateve apenas ao desenvolvimento econômico ou a campanhas jornalísticas e ações descritas. O jornal também esteve envolvido em outros movimentos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FRANÇA, Vera Veiga. Jornalismo e vida social – A história Amena de Um Jornal Mineiro. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. 259 páginas.

HERMET, Guy. Cultura e Desenvolvimento. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. 204 páginas

LANDO, Aldair Marli et al. RS; Imigração e Colonização. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980. 280 páginas (Série documentada, 4)

MARQUES DE MELO, José. Jornalismo Brasileiro. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003. 239 páginas.

MORAES, Fernando. Chatô, o Rei do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1994. 732 páginas.

PETRY, Leopoldo. Novo Hamburgo - O Florescente Município Do Vale dos Sinos. São Leopoldo, Editora Rotermund & Cia. LTDA., 1963. 156 páginas.

PETRY, Leopoldo. O Episídio do Ferrabraz. São Leopoldo, Casa Editora Rotermund & Co. 1957. 194 páginas.

QUESADA, Gustavo. Comunicação e Comunidade: Mitos da Mudança Social. São Paulo: Edições Loyola, 1980. 94 páginas.

SCHUCH, Hélio A. Professor do Curso de Jornalismo da UFSC. [on-line]. portal-.br/bibliotecavirtual/assuntoscorrelatos/jornalismo/0107.htm. Dia 09/09/2003.

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[1] O Jornal NH circula hoje em 40 municípios: Novo Hamburgo, Campo Bom, Sapíranga, Araricá, Nova Hartz, Parobé, Taquara, Rolante, Riozinho, Santo Antônio da Patrulha, Igrejinha, Três Coroas, Gramado, Canela, São Francisco de Paula, Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Picada Café, Nova Petrópolis, Ivoti, Lindolfo Collor, Presidente Lucena, Linha Nova, São José do Hortêncio, São Sebastião do Caí, Capela de Santana, Montenegro, Feliz, Bom Princípio, São Vendelino, Harmonia, Barão, Tupandi, Brochier, Maratá, São José do Sul e Salvador do Sul.

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