Análise de principais erros dos maiores jornais do Piauí ...



Estudo sobre o jornalismo impresso piauiense: avaliação de principais erros dos jornais O Dia e Meio Norte. VAZ, Tyciane Viana. Pós-graduanda. Universidade Federal do Piauí. Orientadora: profa. Dra. Samantha Viana Castelo Branco.

Empiricamente, sabe-se que os jornais impressos chegam diariamente às mãos dos leitores com uma grande quantidade de erros. Falhas que na maioria das vezes não são reconhecidas e tratadas na edição seguinte como uma forma de respeito e fidelidade ao leitor. Este, no papel de consumidor de informação, nem sempre consegue perceber essas falhas. A pesquisa objetiva realizar um estudo sobre a mídia imprensa piauiense, através dos dois maiores jornais: Meio Norte e O Dia, no que concerne em um levantamento dos principais erros. Para a concretização desta proposta, realizou-se uma pesquisa qualitativa, de cunho exploratório, analisando-se os diários escolhidos no período de 06 a 12 de março de 2005. Para sua complementação, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com editores-chefes dos veículos e uma breve explanação sobre a história dos impressos. Chegou-se a conclusão de que os jornais apresentam erros de diferentes naturezas, oferecendo pouca valorização aos leitores, como a preocupação em reparar as falhas.

MÍDIA IMPRESSA

ERROS

LEITOR

Estudo sobre o jornalismo impresso piauiense: avaliação de principais erros dos jornais O Dia e Meio Norte

O fazer jornalismo não é tarefa isolada, na verdade é uma ação possuidora de uma repercussão social, que faz dos profissionais que trabalham na área, agentes de mudança, e intermediadores de processos sociais, econômicos, culturais e políticos, que afetam um grande público.

A função do jornalista exige além de uma rotina frenética, uma tensão no ato da apuração dos fatos e fidelidade narrativa que envolve o contexto e os personagens inseridos nele. Um embate que contém dilemas éticos. Pois é peculiar do profissional a atuação em descobrir a verdade, encontrar provas, buscar isenção, e assim achar a melhor forma de repassar as informações para os consumidores.

Em contrapartida a todos os métodos de fazer a notícia da maneira mais correta e ética, existem os prazos para fechamento, e a corrida diária para não perder o fato mais atual e não ser “furado” pelos meios correntes. Além disso, leva-se em consideração o comportamento pessoal do profissional que trabalha com a notícia.

Metodologia

Os jornais O Dia e Meio Norte foram escolhidos como objetos de estudo por serem os maiores jornais de circulação. Portanto têm-se condições de representar através de nossas pesquisas, mesmo que de maneira sucinta, uma avaliação de erros comuns e persistentes nos impressos.

Parte-se do objetivo geral de analisar alguns erros divulgados em edições dos jornais no período de 06 a 12 de março de 2005 e outras edições aleatórias. Utilizou-se ainda revisão bibliográfica e entrevistas semi-estruturadas com editores-chefes dos jornais.

Neste processo de análise dos jornais, excluiu-se as matérias nacionais e todas as colunas. Foram analisadas as matérias locais dos três cadernos principais de cada jornal, eliminando também os suplementos e cadernos especiais.

Em alguns itens de análise dos erros, escolheu-se trabalhar com apenas um caderno dos jornais. Certos casos, com o propósito de facilitar o processo de dissecação das falhas. Em outros, por conta dos erros se concentrarem preferencialmente em determinado caderno.

Histórico Jornal Meio Norte

O jornal Meio Norte, usado como nosso primeiro objeto de estudo, circula em Teresina, Piauí, desde 1o de janeiro de 1995, por iniciativa do empresário Paulo Guimarães, que adquiriu a estrutura do antigo jornal Estado, de propriedade de Helder Feitosa, após seu falecimento.

Paulo Guimarães comprou a empresa com intuito de formar um sistema de comunicação, já que tinha como propriedade a TV Timon, hoje TV Meio Norte, e a rádio MN. Várias reformulações foram realizadas nessa época, O Estado ganhou novo nome e projeto gráfico.

O Meio Norte é considerado o maior do estado, com grande abrangência no interior e maior número de jornalistas. Na redação trabalham 40 profissionais, entre editores, repórteres, fotógrafos, estagiários, arquivistas, revisores e um chargista.

Ele foi o primeiro a circular nas segundas-feiras, forçando assim que os outros meios fizessem o mesmo. Em 2003, inovou e lançou um novo projeto gráfico, que causou impacto pela quantidade de cores utilizadas, principalmente na capa.

Também foi pioneiro em fazer diagramação no computador. No início do ano de 2005, o Meio Norte inovou mais uma vez e aboliu as fotos de papel. Atualmente, todas as fotos usadas no jornal são digitais, para isso a empresa adquiriu máquinas novas para os repórteres fotográficos.

O Meio Norte circula diariamente com os três cadernos principais. O primeiro caderno, nomeado de “A”, com uma página de opinião (A2), duas de política (A3 e A4), uma de polícia (A5), uma dedicada aos assuntos nacionais (A6), uma relacionada a matérias internacionais (A7), uma página para últimas notícias (A8) e duas para esporte (A9 e A10), sendo que esta última muitas vezes é ocupada na íntegra por anúncios publicitários.

O segundo caderno do jornal corresponde a Cidades; chamado também de “B”. Neste caderno, há normalmente quatro páginas dedicadas a assuntos relacionados aos acontecimentos da cidade (B1, B2, B3 e B8). A página B4 é destinada a educação, B5 a bairros, B6 a economia e B7 a municípios. Essa ordem não é cumprida na segunda-feira, dia em que o número de páginas do jornal é reduzido.

O terceiro caderno é o Alternativo, “C”, com quatro páginas. Apenas na segunda-feira o caderno Alternativo, relativo a assuntos culturais, não circula. Neste dia é agrupado ao jornal o caderno de Negócios e o Esportes. O jornal conta também com suplementos, como o For Teens, dedicado para adolescentes todas as quintas-feiras; Clube do Assinantes às sextas-feiras e aos domingos os suplementos Municípios, Notícia da TV, Infantil e ainda um caderno especial da coluna social Inside.

O jornal Meio Norte possui diariamente as colunas: Informe (A2), Opinião (A4), Painel (A6), Cláudio Humberto (A8), Papo do Bogéa (A9), Minuta (B9), Sua Cidade (B7), Inside (C4). Aos sábados são incluídas as colunas Gospel (B3) e Padre Marcelo Rossi (C2). Aos domingos, o caderno C ganha mais páginas e colunas como Estante de Livros (C2), Up Moda (C5), Coluna do Aquiles (C6), de Tudo de Bom (C7) e Tudo Mais (C8).

Histórico do Jornal O Dia

Fundado no dia 1o de fevereiro de 1951, pelo professor Leão Monteiro, O Dia era inicialmente um jornal semanário, já que na época as máquinas não tinham condições de imprimir uma publicação diária e nem a capital piauiense contava com tantas notícias para um impresso diário.

O impulso para o crescimento do jornal foi dado a partir de 1964, quando o empresário Octávio Miranda comprou a empresa. Mas, a crise mundial do petróleo em 1973 abalou as estruturas do jornal. Nesse período houve redução de suas páginas de 32 para apenas oito.

Após a fase ruim, vieram os avanços, novas máquinas com impressão off-set foram adquiridas para oferecer maior qualidade. Surgem nesse contexto, as divisões de editorias e chefias na redação, implantadas ainda hoje. Em 1994, o jornal ganhou cores e em 1996 a internet chega à redação como um meio eficaz para receber fotos e matérias de nacionais e internacionais. Em 2004, O Dia ganhou um novo projeto gráfico, mais moderno e com maior valorização de fotos.

Hoje, conta 25 profissionais, entre repórteres, editores, colunistas e revisores. Disponibiliza diariamente o 1o caderno, com três páginas dedicadas à editoria de política, uma titulada de geral, uma para opinião, uma de polícia, e outra mundo.

De segunda a sábado, o jornal traz o caderno Dia-a-Dia, que corresponde a notícias corriqueiras e eventos da capital, no domingo este caderno passa a ser chamado de Domingo. Este caderno abriga uma página para municípios, duas para esportes, e uma para colunismo social. Na segunda-feira as páginas de esportes são publicadas no primeiro caderno, enquanto o segundo caderno sofre redução e fica com quatro páginas.

O terceiro caderno, nomeado de Torquato, é publicado de terça a sábado. Este conta com três páginas destinadas a matérias sobre cultura e uma para coluna social. O jornal também conta com suplementos, como os cadernos Metrópole, Estilo, e Notícia da TV aos domingos; Economia na segunda-feira. E ainda os dois cadernos de classificados.

O Dia possui colunas diárias no primeiro caderno: na página 02, Roda Viva; página 04, Arimatéia Azevedo; página 05, Boechat; no segundo caderno, páginas 02, Balaio; página 04, Interior; página 07, Um Prego na Chuteira; e página 08, Prisma; no terceiro caderno, página 02, Canal 1.

Segundo Robson Costa, editor-chefe, o jornal O Dia encontra-se em fase de recuperação. A partir de 2005, o impresso passou a investir bastante em cadernos especiais. A cada semana novos temas são abordados, como forma de reportagens e entrevistas. O setor comercial explora esses cadernos com venda exagerada de anúncios, que ocupam espaços maiores do que destinados para matérias.

Em ambos os jornais, os assuntos mais explorados são relacionados à política. As manchetes e chamadas de capa geralmente estão direcionadas às questões locais de grande repercussão.

Análise de erros

Para o estudo, foram selecionados os tipos de falhas:

1. Erros de dados ou informação: quando os jornais publicam matérias com informações equivocadas, distorcidas e que fogem da realidade.

2. Ausência de fontes: matérias desprovidas de declarações, falta a presença do informante, o sujeito que ofereceu as informações para que a matéria fosse feita.

3. Matérias para serem lidas com ajuda de dicionário: quando os veículos utilizam termos de difícil entendimento para um leitor comum.

4. Erros de construção: matérias que aparecem com frases mal construídas. Neste caso, o repórter não apresentou uma linearidade das idéias, que de alguma forma, ficaram incoerentes.

5. Falhas gramaticais ou de grafia: erros ferem as normas gramaticais da língua portuguesa. Entre eles, a falta ou excesso de vírgulas, erros de concordância, nomes próprios com letras minúsculas e grafias incorretas por conta de falhas na digitação.

6. Suposições: quando os veículos publicam supostas informações e estas aparecem como verdade.

7. Erros de edição: falhas que não provêm da produção da matéria, mas da montagem destas matérias no espaço disponível, pode ser tanto de palavras separadas de maneira errada de uma linha para outra ou entre colunas, como matérias cortadas, e equívocos de matérias trocadas, entre outros erros de diagramação.

8. Matérias comerciais: estas são publicadas de tal forma que se confundem com matérias jornalísticas.

Apresenta-se a seguir alguns dos tópicos analisados na pesquisa, considerados de maior relevância:

Erros de dados ou informação

O veículo de comunicação é responsável por tudo que publica. Uma matéria antes de ser impressa, passa pelo menos por duas avaliações, a primeira do próprio repórter, que deve ter a consciência de que aquilo que escreveu condiz com as informações coletadas e conferidas. A segunda avaliação é do editor, que também responde pelas conseqüências das publicações.

Mesmo com o crivo do repórter e do editor, matérias com erros de informação são publicadas com freqüência nos impressos analisados. Muitas passam desapercebidas pelos leitores, outras não. Acontece que o veículo na maioria das vezes fecha os olhos para os erros, e raramente se preocupa em pedir desculpas ao leitor, com notas de erratas.

Não se percebeu erros desta natureza durante a análise da amostra de jornais estudados. Porém, foram utilizados alguns casos de erros grosseiros em edições ocasionais, como o que aconteceu em publicação de nota do leitor Amaro Ferreira Ramalhaes, na seção de cartas do dia 21 de janeiro de 2005:

Li na coluna Informe, de Efrém Ribeiro, na nota ‘Nomeação’, notícia onde aparece o nome do ex-vice-prefeito, Sr. Marcos Silva, como filho do senador Mão Santa!!!? Falei com alguns amigos e fiquei sabendo que o ex-vice-prefeito de Teresina, Sr. Marcos Silva, é filho do senador Alberto Silva, que eu considero ‘O Deus do Piauí’, sinceramente. O jornal precisa contratar com urgência um revisor, pois mudar a paternidade é coisa grave, mais ainda de pessoa importante. (Jornal Meio Norte, 21 jan. 2005, p. A/2).

No final da nota o jornal deu a seguinte resposta: “O jornalista responsável pela coluna pede desculpas pelo equívoco”.

Segundo o editor-chefe do jornal Meio Norte, Arimatéa Carvalho, a seção de cartas é uma forma do leitor manifestar sua opinião contra alguma publicação do jornal. Ele afirma ainda que caso o leitor tenha sido citado na matéria, pode recorrer ao editor e pedir direito de resposta, sem se manifestar através da justiça.

No jornal O Dia também há casos de erros de informação. A diferença é que neste jornal, o leitor não tem espaço próprio para expressar sua opinião. Robson Costa, editor-chefe do jornal O Dia, diz que a manifestação do leitor pode ser publicada em colunas. Mas, nenhum caso de manifestação foi encontrado no período da amostragem.

Na edição do dia 19 de abril de 2005, o jornal O Dia publicou como manchete de primeira página: “Mais de 20 mil ações estão encalhadas na Defensoria”. A princípio, o leitor já pode notar o erro de edição, pois na capa a matéria é anunciada para a página 03, quando na verdade localiza-se na página 02.

Ao iniciar a leitura da matéria na página 02, assinada pela repórter Yala Sena, verifica-se outro equívoco, a chamada de capa foge um pouco se compararmos com o conteúdo da matéria:

O Tribunal de Justiça do Piauí e a Defensoria Pública do Estado inicia hoje (19) uma parceria de trabalho para agilizar cerca de 20 mil processos que estão abandonados no cartório único da assistência judiciária da Defensoria Pública. A operação encerrará amanhã, e julgará ação de separação, pensão alimentícia, reconhecimento de parternidade, além de concessão de registro de nascimento e de óbito [...]. (Jornal O Dia, 19 abr. 2005, p.02).

Na edição do dia seguinte, uma nova matéria em torno do assunto foi publicada por um repórter diferente, esta dando novas informações e desmentindo parte da matéria anterior. Com uma chamada no final da primeira página, localizada no mesmo local da matéria anterior e, sem assumir o erro, o jornal publica a matéria como se tratasse do assunto pela primeira vez:

Numa parceria entre o Ministério Público, Poder Judiciário e Defensoria Pública, processos que estavam parados no cartório único da assistência judiciária da Justiça do Piai estão sendo agilizados com ajuda do programa Justiça Itinerante. Na primeira leva, que durou do dia 18 ao dia 20 de abril, quatro mil processos estão tendo atenção especial da Justiça. A defensora pública do Estado, Norma Dantas, esclareceu que os 20 mil processos estão parados no cartório único, ligado ao poder judiciário, e não na Defensoria Pública. (Jornal O Dia, 20 abr. 2005, p. 02).

Pedro Jansen, repórter da matéria publicada no dia posterior ao erro do veículo, disponibilizou a autora desta pesquisa o material inicialmente produzido e entregue ao editor.

O Jornal O DIA errou. Em matéria vinculada ontem, como manchete do jornal, foi afirmado que mais de 20 mil processos estariam emperrados na Defensoria Pública, informação essa que não procede.

Os processos aos quais se referiu a matéria são responsabilidade da assistência judiciária do Estado do Piauí. [...]

Fazendo um comparativo da matéria produzida pelo repórter com a matéria publicada, verifica-se que o erro assumido pelo repórter foi cortado na edição do veículo.

Ausência de fontes/declarações

Os veículos estudados publicam freqüentemente matérias sem declarações ou indicação de fontes. A ausência de informantes empobrece a matéria, além de não comprovar a veracidade dos fatos através de quem forneceu os dados apresentados.

Algumas destas matérias sem fontes provêm dos realeses. Essas matérias institucionais, sem contestações, e informações ditas como verdade, ganham espaços cada vez maiores nos impressos.

As fontes são de grande importância no jornalismo, por isso o jornalista, deve cultivar um bom relacionamento com essas pessoas possuidoras de informação. Mas, ao mesmo tempo, o profissional deve estar atento ao direito ou a conveniência da fonte ficar no anonimato. Além disso, deve preocupar-se com a veracidade da informação e a idoneidade da fonte. Sabe-se também que questões como a intimidade e os riscos de submissão à fonte, acordos com favorecimentos mútuos, podem ser prejudiciais à integridade das matérias.

Ressalta-se que algumas matérias podem surgir a partir de observações do repórter, sem que necessariamente haja uma fonte física. Mas, o que se busca apresentar neste tópico de análise é e a forma pelas quais estas informações são publicadas, sem que haja alguma especificação de onde surgiram esses dados, já que podem ter sido de observações pessoais ou documentação institucional.

Numa tentativa de mostrar a realidade da ausência de fontes nos jornais, fez-se um levantamento da quantidade de matérias desta natureza por dia nos jornais O Dia e Meio Norte, separadamente nos três cadernos.

TABELA : Quantidade de matérias sem a presença de fontes no primeiro caderno dos jornais O Dia e Meio Norte

|Dia/Jornal |Domingo |Segunda |Terça |Quarta |Quinta |Sexta |Sábado |Total |

| |06/03/05 |07/03/05 |08/03/05 |09/03/05 |10/03/05 |11/03/05 |12/03/05 | |

|O Dia |05 |00 |01 |07 |09 |09 |01 |32 |

|Meio Norte |00 |03 |01 |03 |03 |01 |05 |16 |

|Total |05 |03 |02 |10 |11 |10 |06 |48 |

Matérias para serem lidas com ajuda de dicionário

O jornalista tem o dever de escrever para leitor, considerando-se um público diverso, de diferentes classes sociais e níveis de instrução. Mas o que acontece é diferente. Ao folhear o jornal, muitas vezes a sensação que se tem é de estar perdido em meio a informações escritas em linguagem alheia ao vocabulário cotidiano.

Nas páginas de política e economia, principalmente, vários termos técnicos são utilizados, que soam de forma estranha para os leitores, e até mesmo indecifráveis. Para o entendimento, necessita-se, portanto, do uso do dicionário.

A adequação da linguagem é um dos principais pressupostos do jornalismo. As páginas dos jornais não foram feitas para abrigar os cacoetes da linguagem acadêmica, nem para dar guarida aos vícios de linguagem típicos de determinadas categorias profissionais. E todos eles, doutores ou donas-de-casa, têm o direito de compreender qualquer texto, fale ele sobre política, economia ou literatura. É comum encontrarmos, principalmente em artigos assinados, textos que têm no hermetismo a marca registrada. O problema é quando nós, jornalistas, caímos na tentação da mesma incomunicabilidade e passamos a reproduzir e incorporar a nosso vocabulário o juridiquês, o economês, o politiquês, o literatês [...]. (LIRA NETO, 2000, p.54).

Nos jornais estudados encontrou-se vários exemplos de “juridiquês”, “economês”, “politiquês”, como realça Lira Neto. Para exemplificar essa prática nos jornais, utiliza-se algumas matérias dos jornais, no período da amostragem estudada.

O Tribunal de Justiça do Piauí (TJ), em sessão da 1a Câmara Especializada Criminal, afastou, ontem (8), Joaquim José Carvalho (PFL) do cargo de prefeito do Município de Simões, localizado a cerca de 440km de Teresina. O TJ também determinou a quebra de sigilo bancário do prefeito. A decisão foi anunciada após serem aceitas denúncias do Ministério Público Estadual (MPE) em face de Joaquim Carvalho, que alegam, contra o prefeito, irregularidades como compras sem licitação [...] A sanção aplicada pelo Tribunal de Justiça terá validade a partir da publicação do acórdão, documento que sintetiza e oficializa a decisão anunciada em julgamento. [...] Da decisão da 1a Câmara Criminal, cabe um embargo de declaração (espécie de recurso) ao TJ e um recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). [...] Se quiser retornar ao cargo antes de aguardar a decisão final do TJ sobre as denúncias do MPE, Joaquim José de Carvalho tem que ajuizar uma medida cautelar no STJ.[...] (Jornal O Dia, 9 mar. 2005, p. 03)

Percebe-se nesta matéria, alguns termos de difícil entendimento e sem explicações posteriores, como “sanção”, “ajuizar uma medida cautelar” e “recurso especial”. Foram encontrados apenas dois termos, considerados como incompreensíveis para um leitor comum, precedidos de explicação. O repórter escreveu o nome “sanção”, e em seguida, ofereceu a comentário, “documento que sintetiza e oficializa a decisão anunciada em julgamento”. Também aparece “embargo de declaração”, esclarecido como “espécie de recurso”.

Erros de construção

Após a leitura inicial dos jornais utilizados na amostra, decidiu-se que os erros de construção de matérias deveriam ser destacados nesta análise. Nas páginas policiais foram encontradas falhas como informações mal-apuradas e, por conseqüência, textos desconexos, construídos de forma ambígua e de difícil entendimento.

Por conta do número de matérias mal construídas se concentrarem nas páginas policiais, fez-se o levantamento apenas destas, com uso de tabela. Cita-se alguns exemplos do material coletado.

Na edição de 07 de março, do jornal O Dia, a matéria principal da página de polícia “Suspeito de assalto ao BB é baleado e preso”.

O suposto assaltante Antônio Marcos Alves, de 33 anos, acusado de participação no assalto ao Banco do Brasil de Parnarama- MA, foi preso na madrugada de ontem.

Na ocasião em que foi abordado pelos policiais, Antônio Marcos, que foi baleado na cabeça, estava sangrando muito. Ele foi socorrido e levado para o Pronto-Socorro do Hospital Getúlio Vargas. A Polícia do Maranhão suspeita que o assaltante foi atingido com um tiro de escopeta calibre 12 ao se desentender com os colegas, durante a divisão do dinheiro roubado na agência do BB. Ao prestar depoimento, o acusado negou sua participação no assalto. (Jornal O Dia, 07 mar. 2005, p. 05).

A matéria publicada contém uma série de erros. As informações aparecem de forma confusa. No lead, por exemplo, não é dada a informação de que a pessoa foi baleada. O enfoque dado pelo repórter é de que o suposto assaltante foi preso. A matéria é relatada com vários detalhes, mesmo sem a presença de fontes.

Na edição do dia 08 de março, o jornal O Dia publica duas matérias com erros de construção. Uma delas, titulada de “Secretário defende reforma do ECA”:

Para Robert Rios, secretário de Segurança do Estado do Piauí é preciso fazer um reestudo do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente do Piauí. [...] Rios também não é a favor de baixar a maioridade para 18 anos, mas é necessário uma reunião com juristas, advogados, pedagogos e assistentes sociais para ver qual é a melhor maneira de evitar que menores de 18 anos cometam tantos crimes em Teresina. (Jornal O Dia, 08 mar. 2005, p. 07).

Nota-se que o secretário de Segurança, Robert Rios, diz que “não é a favor de baixar a maioridade para 18 anos”. O repórter cometeu o equívoco de trocar os números 16 por 18, pois a maioridade atual é de 18 anos.

Outra matéria no dia 08 de março é referente ao título “Polícia procura outros assaltantes de banco”.

As polícias do Piauí e Maranhão prosseguem as buscas para prender outros integrantes da quadrilha que assaltou a agência do Banco do Brasil de Parnarama- MA, na semana passada. Um dos acusados, identificado como Antônio Marcos Alves, foi preso após ser atingido com um tiro na cabeça. Um dos integrantes da quadrilha que assaltou na semana passada o Banco do Brasil de Parnarama foi preso enquanto recebia atendimento médico (Jornal O Dia, 08 mar. 2005, p. 07)

As informações da matéria são desarmônicas. O leitor pode ficar confuso, se apenas um ou duas pessoas foram presas. Percebe-se em análise da notícia no dia anterior que apenas uma pessoa foi pega pela polícia. A matéria é disposta em duas colunas e 65 linhas, sem quebra de parágrafo.

Na edição do dia 09 de março do jornal O Dia traz a matéria de título “Criança morre em acidente”:

Uma criança de três anos morreu atropelada, ontem na zona Leste de Teresina. O acidente aconteceu quando a menina estava em frente à sua casa, na vila Samaritana, em companhia da avó, que saiu ferida. O veículo envolvido é um Voyage, cujo motorista evadiu-se do local. A vítima fatal foi um menino identificado como Wellisson, que ainda foi medicado, mas não resistiu aos ferimentos. (Jornal O Dia, 9 mar. 2005, p.07)

Avalia-se que a matéria está incoerente, pois no início o repórter diz que a menina estava em frente à casa. Enquanto mais abaixo é relatado que a vítima fatal foi um menino identificado como Wellisson.

No jornal Meio Norte, erros de construção também são comuns e ferem a linearidade das informações contidas nas matérias. Em várias matérias policiais, encontrou-se falhas como o uso do “enquanto isso” no meio da notícia como uma forma de mudar o conteúdo da informação. Um exemplo é verificado na data 09 de março. O título da matéria diz: “Intensificada vistoria para evitar fuga”.

“Pelo menos sete homens estão presos na delegacia do 12o DP, onde a vistoria é intensificada para evitar fugas. [...] Enquanto isso, na delegacia do 2o Distrito Policial, no bairro Primavera (zona Norte), plantonistas informaram que dois homens acusados de assaltar um supermercado foram presos e aguardam vagas em uma das penitenciárias”. (Jornal Meio Norte, 09 mar. 2005, p. A/5).

Erros de edição

No processo de fechamento do jornal, muitas etapas são realizadas, em pouco tempo, fazendo que freqüentemente apareçam os erros de edição. Algumas vezes, equívocos que chegam a ser tão comuns, que podem nem mesmo incomodar os leitores. Já outros erros, podem prejudicar as informações que chegam aos leitores.

Neste item, buscou-se mostrar dois exemplos que aconteceram no jornal Meio Norte. Excluí-se os tipos mais comuns, procurou-se apresentar casos que possam ter causado confusão entre os leitores, e que o jornal não se preocupou em notificar com errata na edição do dia seguinte.

O primeiro exemplo, encontrou-se na amostra analisada, edição do dia 11 de março de 2005. O jornal publica todos os dias uma chamada padronizada na primeira página. Nela contêm o nome do veículo, ano, numeração e data entre outras informações. Nesse dia, a data foi publicada corretamente, porém o jornal especificou o dia como se fosse quinta-feira, quando na verdade, a edição era de sexta-feira.

O leitor assinante que já tem costume de ler o jornal diariamente pode não ter notado o equívoco, já que de tão costumeiro, não deve se prender à chamada padrão. Mas o leitor que passa por uma banca de revista pode vir achar que a edição é o dia anterior.

Na correria para o fechamento, os editores responsáveis, diagramadores e revisores não perceberam o equívoco cometido. Este não foi um erro grave, mas jornal deveria ter publicado uma nota em respeito aos leitores.

Chama-se a atenção, para o segundo exemplo utilizado neste tópico. Na edição do dia 26 de maio de 2005 o jornal Meio Norte publica a manchete: “Mais de 10 mil servidores sob ameaça de demissão”. A indicação mais abaixo informa que a matéria estaria na página A3, quando na verdade esta não existe no conteúdo interno do jornal. Quando o leitor busca mais informações sobre a chamada da capa, percebe que a notícia foi publicada apenas na primeira página.

Anota- que poderia ter sido um erro de edição. Uma matéria antiga foi utilizada no lugar da atual. Isso por conta de um erro de comunicação entre o editor da página de política e os editores de primeira página. Buscamos uma explicação do editor-chefe do jornal, que também é responsável pelo fechamento da capa. Através de e-mail ele afirma:

A manchete refere-se a reportagem já publicada, antiga. O editor de Política, Edson Almeida, forneceu aos editores da primeira página, Arimatéa Carvalho e Lúcia Bezerra, o nome de um arquivo de texto antigo, que foi utilizado como se a reportagem fosse atual. Como não havia datas no texto e a matéria continuava "atual", já que não tinha acontecido fato novo no caso, os editores da primeira página julgaram que o texto era aquele mesmo. A manchete passou pela revisão, que também não viu nenhum problema, já que não tinha problema com datas ou desatualização. Ou seja, a chamada e o título pareciam "atuais". Eles tratavam da questão judicial envolvendo os servidores públicos estaduais sem estabilidade e a determinação de demiti-los. (CARVALHO, 2005).

Não foi encontrada na edição do dia 27 de maio de 2005, alguma manifestação do jornal sobre a manchete equivocada. Sobre isso, Arimatéa Carvalho diz: “O curioso é que não recebemos um único telefonema, e-mail, carta ou comentário de leitores questionando a manchete ‘antiga’. A forma que o Jornal achou de pedir desculpas foi a seguinte: publicamos a suíte dos dois assuntos, o que foi tratado na manchete e o que deveria ter sido tratado”. (CARVALHO, 2005).

Considerações Finais

Todo produto, que muitas vezes é feito com pressa, como o jornalismo diário, é passível de erros. Entretanto, a imprensa carrega consigo uma responsabilidade social de servir os interesses da sociedade. É nisso que o jornalismo deve encontrar seu referencial. A fim de cobrir esses encargos, os veículos de comunicação devem encontrar maneiras de desenvolver esta função, pensando muito além da cobertura diária de pautas e edição.

Cabe à imprensa, um comportamento ético diante às falhas, reconhecendo-as sempre como uma forma de respeito ao leitor. Diante desta pesquisa, sugere-se a implantação do ombudsman. Com este profissional, o meio de comunicação poderá dar passos para uma crítica profissionalizada de mídia, e em conseqüência o desenvolvimento do veículo.

O objetivo da presença do ombudsman não é exterminar todo e qualquer tipo de falha, mas evitar matérias imprecisas envolvendo episódios importantes, abater informações mal apuradas nas quais pessoas poderão ser atingidas e produzir mecanismos de produção, edição e fechamento do produto que reduzam em termos quantitativos as falhas, além disso, eleve a qualidade dos jornais.

Dentro da redação, o profissional será capaz de fazer uma crítica mais baseada em uma análise do que a depreciação. Na frente da função, o ombudsman é um observador, crítico e analista dos fatos, que visa assim, um contínuo aperfeiçoamento do veículo onde atua. O reconhecimento do erro é uma das finalidades importantes do ombudsman.

Referências Bibliográficas

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