A TESE DA CRIS - Inicial — UFRGS



II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho

Florianópolis, de 15 a 17 de abril de 2004

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GT História da Mídia Visual

Coordenação: Prof. Sônia Luyten (Unisantos)

O TICO-TICO UM MARCO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL

(1905-1962)

Maria Cristina Merlo

Mestre em Histórias em Quadrinhos pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo

Professora Universitária do curso de Comunicação Social da Universidade Anhembi-Morumbi – São Paulo

Texto elaborado para participação do GT de Mídia Visual

II Encontro da Rede Alfredo de Carvalho

Sinopse

O objetivo principal foi estudar a Revista O Tico-Tico, 1905 a 1962, elaborada para o público infantil, mas de conotação adulta cuja importância está centrada na construção da história do quadrinho brasileiro e suas repercussões sociais, políticas e econômicas no contexto histórico da primeira fase da República brasileira.

A intenção foi de descrever um dos periódicos mais significativos desse período, a Revista O Tico-Tico (1905-962), a primeira revista infantil e de quadrinhos. Registrando sua importância como a primeira revista infantil e em histórias em quadrinhos, desde a data de seu início e quais foram os motivos de seu encerramento.

Também, a pesquisa foi focada sobre o quadro histórico, educativo e social da revista na época de sua publicação.

Palavras-chave

Histórias em quadrinhos; Levantamento bibliográfico e histórico; Catalogação.

1. As primeiras histórias dos quadrinhos no Brasil

A história em quadrinhos com balões é, historicamente, um fenômeno americano destinado aos adultos. As primeiras histórias em quadrinhos completas surgiram nas páginas do jornal New York World, em 5 de maio de 1895, desenhadas pelo artista Richard Felton Outcault em formato de charges, um colorido e outro em preto e branco, sob o título "At the Circus in Down Hogan's Alley". Apareciam quadros com crianças de favelas, porém, no meio da gurizada havia um garoto de cabeça grande, orelhudo, com traços orientais e usava um camisolão azul.

A partir de 5 de janeiro de 1896, seu camisolão já é amarelo e os desenhos serviam de suporte para textos com mensagens e temas diversos. Em 16 de fevereiro de 1896, o New York World, pela primeira vez, imprime a cor amarela, a única que ainda não havia sido impressa. O garoto amarelo transformou-se na principal atração do jornal ficou conhecido como “The Yellow Kid”.[1]

A imaginação dos desenhistas não parou por ai, outras histórias e outros personagens surgiram como: "The Katzenjammer Kids” (Os sobrinhos do Capitão), em 1897, de Rudolph Dirks; “Buster Brown” de Richard F. Outcault, em 1902, para o New York Herald World que durou até 1910; “Little Nemo in Slumberland”, em 1905, de Windsor Mc Cay; “Bécassine” de Gauthier-Maurice Languereau, em 1905, aparece no La Semaine de Suzette.

No Brasil, em 1860, o português Henrique Fleuiss foi um dos precursores na criação de um personagem, o “Dr.Semana”, publicado na Revista da Semana.

Em 1867, o ítalo-brasileiro Ângelo Agostini começou a publicar sua história ilustrada "As Cobranças", na revista O Cabrião. Em 30 de janeiro de 1869, surge a história considerada a primeira novela-folhetim, ou também conhecida, segundo o estudioso e professor Dr. Antonio Luiz Cagnin, como a primeira “graphic novel”, com o título "As Aventuras do Nhô Quim" ou “Impressões de uma viagem à corte”, na revista Vida Fluminense. A criação de Agostini narra a história do personagem Zé Caipora, um caipira perdido na cidade grande. Suas histórias, contadas em nove páginas duplas duraram até o dia 15 de dezembro de 1906, completando o capítulo 75, na editora O Malho e apresentavam todas as características dos quadrinhos, só que 20 anos antes da aparição do Menino Amarelo.

A imprensa no Brasil enfrentou uma sociedade com pouca originalidade no campo da literatura e da própria imprensa. Ambas eram apenas voltadas ao público adulto, urbano, politizado, elitista e intelectualizado. As imitações dos moldes europeus e americanos em nossa cultura serviram como figurinos que trajávamos através de nossas idéias, roupas, atitudes, cotidiano, consumo e hábitos. A falta de identificação provocou uma decadência e estagnação, no Brasil, por uma outra cultura e conhecimento que não faziam parte de nossas raízes. Através dos esforços da modernização do país e uma “quase” independência da imprensa estrangeira na nossa cultura, é que apareceram revistas de críticas, humorísticas e de outros gêneros que acompanhavam as mesmas características e tendências dos jornais, mas com uma maior visibilidade e preocupação gráfica. Vale citar duas que iniciaram esse ciclo, foram: Revista da Semana e depois O Malho. Segundo Sodré:

“Do ponto de vista da técnica, as revistas ilustradas assinalavam o início da fase da fotografia, libertada a ilustração das limitações da litografia e da xilogravura”.[2]

Dentre as revistas ilustradas publicadas e adaptadas a essa nova fase da imprensa brasileira, em 1902, surge a revista O Malho, fundada por Luís Bartolomeu de Souza e Silva, com conteúdo humorístico, político, crítico, artístico, cotidiano, ou seja, literária e noticiosa. A revista era composta por uma equipe com os melhores escritores e caricaturistas da época. Sodré analisa a fase em que a produção das revistas ilustradas assume um estatuto literário, mas mantém uma “alienação cultural vigente” marcada pelo momento:

“As revistas ilustradas, aparecendo na fase em que imprensa e literatura se confundiam e como que se separando, ou esboçando a separação entre as duas atividades, submeteram-se, inicialmente, ao domínio da alienação cultural então vigente, buscando emancipar-se depois, ao se tornarem principalmente mundanas, e até femininas umas, e principalmente críticas outras”. [3]

Nesse mesmo contexto histórico e literário voltado apenas para o público adulto devemos ressaltar o início na imprensa por meio dos lançamentos de jornais e revistas também dedicados às crianças, exercendo um papel considerável no processo de formação e desenvolvimento da literatura infantil brasileira, como instrumentos de cultura e educativos. O público passa por segmentação, o que também significa uma maior definição na produção literária brasileira:

“É fora de dúvida que devemos procurar nos jornais antigos, na vasta messe de periódicos de que nos ficaram exemplares as mais das vezes raros, elementos capazes de nos levar a uma orientação para o levantamento da pré-história da literatura infantil brasileira. Elementos que possam fundamentar a sistematização de fatos, a estruturar todo o caminho percorrido pelos precursores do gênero”.[4]

Vale citar uma das primeiras publicações de grande importância surgida no Rio de Janeiro, O Jornal da Infância, de 1898, revista semanal e ilustrada, propriedade de João de Pino & Cia e dirigida por Luiz H. Lins de Almeida. Nela eram publicados os gêneros: religiosos, morais, científicos, educativos, literários. Entre os literários: contos ilustrados, lendas, crônicas, poesias e recreativos com passatempos e concursos. Teve uma vida curta, com apenas 20 (vinte) números publicados contendo 8 (oito) páginas em preto e branco.

Para Nelly Novaes Coelho, foi o entre-séculos que proporcionou uma reviravolta nas áreas literárias, educativas, culturais e ideológicas na sociedade brasileira, em função das profundas mudanças que colocavam a formação de uma identidade como meta para construção da nação. Diz ela: “Simultaneamente ao aumento de traduções e adaptações de livros literários para o público-infantil, começa a se firmar, no Brasil, a consciência de uma literatura própria, que valorizasse o nacional, se fazia urgente para a criança e para a juventude brasileira”.[5]

Neste contexto, a primeira revista a publicar histórias em quadrinhos no Brasil foi O Tico-Tico (1905-1962). Seu fundador foi o jornalista Luís Bartolomeu de Souza e Silva, inspirado na publicação francesa La Semaine de Suzette, pois a personagem Felismina, que aparece nas páginas de O Tico-Tico apresenta semelhanças com Suzette. O Tico-Tico foi uma revista de quadrinhos dedicada inteiramente às crianças. Pode-se dizer que representou o ponto de partida para atender uma carência de leitura infantil e, também, foi a primeira pela sua importância, pela modernidade de apresentação, pelo conteúdo atraente, educativo e cultural, pela efetiva aceitação por quantos com ele conviveram e pela duração, 56 anos.

Três gerações entretiveram-se com ela, encantadas, divertindo-se e aprendendo. Longevidade alcançada por poucos periódicos, talvez a maior registrada na história da nossa imprensa ilustrada pela sua manifestação cultural. Seu domínio só foi paulatinamente minado à medida que novas técnicas e novos meios alargavam o império da imagem, acrescentando-lhe, além das cores, o movimento, a facilidade de acesso, a variedade de formas, a avalancha de figuras. Diante disto é fácil afirmar que foi de uma constância invejável, já que não deixou de circular uma vez sequer, embora, no fim da vida, fosse espaçando mais a periodicidade, trocando as edições semanais pelas mensais, e finalmente, pelas bimestrais. Por isso O Tico-Tico foi uma revista exemplar, se levarmos em conta as circunstâncias em que apareceu e a roupagem que exibiu. Cumpriu sua missão em relação à obra de alfabetização das crianças e cooperou para animar o coração da garotada, ilustrando, ensinando e divertindo. Nelly Novaes aponta para o fato de O Tico-Tico ter contribuído para a construção do imaginário infantil nacional:

“A prontidão e maturidade da sociedade brasileira para absorção de produtos culturais mais modernos e especificamente dirigidos para uma ou outra faixa de consumidores expressa-se exemplarmente no surgimento, em 1905, da revista O Tico-Tico. O sucesso do lançamento, a longa permanência da revista no cenário editorial, a importância de suas personagens na construção do imaginário infantil nacional, a colaboração recebida de grandes artistas – tudo isso referenda que o Brasil do começo do século, nos centros maiores, já se habilitava ao consumo de produtos da hoje chamada indústria cultural”.[6]

O Tico-Tico representou um marco na história do ensino e educação no Brasil realizado de maneira digna, fiel, divertida e com muita paixão. Foi responsável, em parte, pelo surgimento de grandes nomes de nossa literatura, artes e cultura em geral.

O Tico-Tico oferecia vários tipos de entretenimentos: na seção de correspondência, os leitores enviavam suas cartas, trocavam experiências, fotografias, curiosidades e desenhos; na seção dos passatempos, resolviam os enigmas, adivinhações e participavam de concursos; na seção de contos, havia histórias antigas de povos, contos da carochinha, de Natal, história do Brasil, romances de aventuras com ilustrações belíssimas, versos, peças teatrais e as histórias em quadrinhos que marcaram personagens durante anos com “As Aventuras do Chiquinho” e sua turma; na seção Gaiola do Tico-Tico os leitores encontravam o cantinho dos seus momentos de fama, bálsamo de glória e imaginação; nas Lições do Vovô, conhecimentos e aprendizados sobre ciências, matemática, geografia, artes e moral e cívica; propagandas com anúncios das personagens representativos da revista demonstrando suas preferências e indicações pelos produtos. Outras seções ajudaram e colaboraram na formação e educação das crianças e jovens, como as instruções que recebemos hoje através de livros específicos e didáticos. Arroyo mostra a abrangência da revista, reiterando sua importância:

“Observa-se uma coincidência curiosa: desde o aparecimento de O Tico-Tico vai-se notar a diminuição do lançamento de jornais infantis, particularmente em São Paulo. Durante cinco anos seguidos não se registra outra publicação especialmente dedicada à infância”.[7]

Pode-se dizer que, por conta de seu sucesso de público, se formou uma equipe com diretores, escritores, redatores, desenhistas e funcionários a qual respeitou e aprendeu a ouvir o seu público, suas necessidades, suas reclamações, suas felicitações, seu valor, até, por fim, dar o seu adeus. Sobreviveu a duas guerras mundiais, invasões, explorações e inovações científicas e alterações significativas nos hábitos e costumes, resistência ao tempo e oscilações econômicas, não se importando com seus tropeços, mas, ao contrário, preocupando-se com a sua essência, que significou e significa para muitas pessoas[8] que lembram com saudades e profundo carinho de sua inesquecível e querida revista O Tico-Tico voltada para a sociedade e cultura brasileiras. Moya lembra o surgimento da sociedade do consumo criando condições para o aparecimento e sucesso das histórias em quadrinhos, uma vez que a informação, seja ela de que tipo fosse, era algo a ser apropriado:

“Principalmente é necessário que a história em quadrinhos seja entendida como um produto típico da cultura de massas, ou especificamente da cultura jornalística. A necessidade de participação e envolvimento catártico motivada pela alienação do indivíduo, a metamorfose da informação em mercadoria, o avanço da ciência, a nova consciência da realidade, enfim, as coordenadas características do estabelecimento da sociedade de consumo criaram condições para o aparecimento e sucesso do jornal, cinema e histórias em quadrinhos”.[9]

O fato de não ter concorrentes entre os periódicos, fez de O Tico-Tico um atrativo irresistível para as crianças. O único, aliás, pois as crianças da época não tinham esta avalancha de imagens de toda a forma e tipo, como temos hoje: jornais, revistas, cinema, tevê, videocassete, DVD, games, muito menos Internet. Em outras palavras, O Tico-Tico era tudo.

A década de 40, para a revista O Tico-Tico, segundo Ortiz

”...foi um momento em que se viabiliza, com a consolidação da sociedade urbano-industrial, uma cultura popular de massa[10] no Brasil, reconhece que a imprensa, desde o início do século, tentara dinamizá-la, por intermédio dos jornais diários, das revistas ilustradas e das histórias em quadrinhos. Todavia, para que os modos comunicativos instituíssem concretamente uma cultura de massas socialmente abrangente impunha-se a própria reestruturação da sociedade”.[11]

O Tico-Tico, no caso, mesmo com o alcance nacional e seu preço popular, entrou nos lares que cultivavam o hábito de leitura e construiu uma certa brasilidade, mas também sofreu com a concorrência dos clássicos infanto-juvenis, entre outros que habitualmente estavam nos lares daqueles que liam tradicionalmente.

Por outro lado, O Tico-Tico era lido não só pelo público infanto-juvenil, mas por seus familiares, amigos, entre outros, o que contribuiu para difundir a história, ciências e literatura, áreas estas que a revista se propunha a divulgar com palavras e imagens na tentativa de atingir pessoas que não eram leitoras habituais, o que proporcionava mais um aspecto positivo a sua produção.

Além de O Tico-Tico, outras publicações fizeram parte dos quadrinhos nacionais. Foi nessa época que começaram a circular os primeiros comics books[12], ou revistas que reuniam tiras com as aventuras de determinados personagens. No Brasil, a década de 40 foi o auge de A Gazetinha, do Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen, encarte do jornal A Nação, que trazia histórias com os principais personagens americanos. Mais tarde, causando disputa com as publicações de Adolfo Aizen, foi lançado o Globo Juvenil encartado pelo jornal O Globo de Roberto Marinho, responsável pela criação da revista Gibi, nome que se popularizou como sinônimo de revista em quadrinhos.

Com o surgimento de outras publicações e novos gêneros, a revista O Tico-Tico começou a ficar menos atraente devido à comparação com os “gibis” ilustradíssimos, com pouco texto e com uma tendência à ficção fantástica associada ao fator novidade, bem ao gosto de um público em transição que não queria ser mais identificado como infantil, ingênuo, pacato e sem graça.[13]

2. A Revista “O Tico-Tico”

A enorme e extraordinária empreitada à qual se lançou o fundador e principal responsável pela existência da revista O Tico-Tico, Luis Bartolomeu de Souza Silva, rendeu, sem meias palavras, uma das mais espetaculares páginas da História da Imprensa Brasileira.

A grata surpresa deste homem e de seus associados e talentosos artistas, muito antes das 11h da manhã do dia 11 de outubro de 1905, dia do lançamento da revista, ao verificarem que toda a tiragem inicial da primeira publicação com histórias-em-quadrinhos a cores no Brasil tinha se esgotado por completo, assinalou, pelos próximos 56 anos que viriam – até a última edição, em 1962 -, a firme decisão destes profissionais de continuarem entretendo e educando a criança brasileira, numa época marcada pela transição de um Brasil agrário para um Brasil urbano, em pleno início do século XX.

E entre os homens que empreenderam essa brilhante aventura de editar O Tico-Tico, estava a sua figura maior, Luis Bartolomeu de Souza Silva. Mineiro de Rio Pardo, teve destacada atuação na vida jornalística e pública de vários Estados brasileiros, principalmente no Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde inclusive angariou, neste meio tempo, uma fundamentada experiência editorial ao fundar vários jornais e periódicos, ter sido redator e diretor de redação de alguns outros títulos da época, como “A República” e “O País”, antes mesmo de fundar a revista ilustrada “O Malho”, em 1902, talvez a sua principal criação até aquele momento e que, com o corpo editorial fora-de-série que possuía – com artistas do porte de Ângelo Agostini, J. Carlos, Alfredo Storni, Max Yantók, Luis Sá e tantos outros - , começou seriamente a pensar em dedicar especial atenção à educação, à infância e também ao público leitor feminino.

Graças ao rápido incremento da Imprensa internacional, em plena passagem do século XIX para o XX, haja vista o que se publicava em cidades como Nova York e Paris, onde já havia revistas voltadas para essas novas áreas que começavam a rondar os interesses de Luis Bartolomeu, e também graças a algumas incursões do brilhante ilustrador ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, ao publicar histórias-em-quadrinhos em “O Malho”, a equipe principal da revista decidiu então apostar suas fichas num formato novo, inédito no Brasil. A idéia seria produzir algo que se inspirasse nos moldes da revista ilustrada francesa “La Semaine de Suzette”, e que fosse, por sua vez, voltada especificamente para o público infantil brasileiro com temas brasileiros, utilizando contos, histórias-em-quadrinhos, páginas de armar, passatempos, algumas páginas impressas a cores e que aproveitasse da melhor forma possível a mão-de-obra que Luis Bartolomeu tinha à disposição.

A idéia de criar a revista infantil partiu de três jornalistas de “O Malho”, Cardoso Júnior, Manuel Bonfim e principalmente Renato de Castro.

A princípio reticente com o projeto, Luis Bartolomeu, calculando como aquilo influenciaria sua publicação principal, tanto econômica quanto politicamente – pois afinal, lançar uma revista para crianças multiplicaria em muito sua responsabilidade social -, ele decidiu primeiramente consultar, pesquisar junto a seus leitores tal viabilidade, se havia mesmo tal interesse, ao mesmo tempo em que ia publicando, para atiçar a vontade destes mesmos leitores, algumas páginas infantis coloridas em “O Malho”, tendo obviamente já em vista o novo projeto que sempre contou, inclusive, com o ilustrador e caricaturista Renato de Castro como sua figura-chave.

A contrapartida positiva do público motivou finalmente o lançamento de O Tico-Tico, lançamento este que foi amplamente celebrado pelos leitores e por toda a Imprensa de 1905.

Sobre a criação do nome O Tico-Tico, no entanto, as hipóteses existentes são três, sendo a primeira delas a de que a própria filha de Luis Bartolomeu, Carmen, assim teria batizado a revista, uma outra, a de Manuel Bonfim, onde lembrava a forma como eram chamadas as escolas primárias da época, de “tico-tico” e, finalmente, a do nome de Becassine, personagem principal dos quadrinhos da revista ilustrada francesa “La Semaine de Suzette” e que teria inspirado o nome da revista ligado ao nome de um pássaro por ser becassine ele mesmo a denominação de um pássaro, na França. Daí O Tico-Tico.

No Brasil daquela época, como havia jornais ilustrados na Imprensa e nos grandes colégios, muitos anos antes inclusive da aparição de O Tico-Tico, a tradição brasileira neste tipo de publicação só viria por assinar embaixo a demanda inacreditável que a revista de Luis Bartolomeu teve que atender, sempre com as graças do seu fiel público leitor, ao longo de 56 anos de existência.

Também é fundamental lembrar a rapidez e o profissionalismo daqueles hábeis redatores e desenhistas de O Tico-Tico, uma vez que tinham que proporcionar semanalmente, todas as quartas-feiras e de forma ininterrupta, páginas ilustradas a cores e em preto-e-branco, sendo que eles trabalhavam no complicado processo litográfico – que era o que havia de mais moderno na época – sendo que, por exemplo, a aventuras em quadrinhos de Buster Brown e seu cachorro Tige, personagens criados pelo cartunista americano Richard Felton Outcault e de grande sucesso nos EUA, cujos desenhos eram decalcados para a publicação brasileira, também foram plenamente adaptados para a nossa realidade, tendo esses personagens recebido os nomes popularíssimos de Chiquinho e Jagunço, respectivamente, e que foram estrondosos sucessos de leitura por toda a vida da revista, amealhando milhões de fãs Brasil afora. Chiquinho e Jagunço, portanto, viraram mania nacional.

Assim sendo, O Tico-Tico, estrondoso sucesso editorial cuja longevidade jamais foi alcançada por nenhuma publicação brasileira até hoje, tornou-se um marco, referência cultural, foi cantada e lembrada em prosa, verso e canções, e principalmente foi a primeira a estabelecer, de norte a sul do País, um importante vínculo com seu público leitor, naquela época, ávido por novidades e mensagens positivas e de intensa brasilidade, fazendo ao mesmo tempo papel educacional e de entretenimento leve. O Tico-Tico trazia em suas páginas tanto dicas de moral e civismo como textos ilustrados de clássicos da Literatura mundial, em capítulos semanais, e principalmente lançou uma gama de personagens de quadrinhos que ficaram famosos nacionalmente como Faustina e Zé Macaco, Reco-Reco, Bolão e Azeitona e os já citados Chiquinho e Jagunço em suas estripulias com o negrinho Benjamin, personagem que só foi aparecer em 1915.

No entanto, é importante ressaltar que o público variado e extenso de O Tico-Tico – pois tanto crianças como adultos se deliciavam com suas páginas – era formado basicamente de leitores de poder aquisitivo e que tivessem o raro acesso à educação existente no Brasil do início do século XX.

O Tico-Tico, desta forma, sobreviveu a crises, a duas guerras mundiais, a falecimentos de muitos de seus idealizadores e artistas, mas nunca tendo perdido a essência e de vista a sua principal preocupação, basicamente educacional e recreativa.

Para conseguir tal feito, a revista se valeu de expedientes como as colunas e seções onde muitos de seus leitores colaboravam com fotos, desenhos, poemas, passatempos e textos, garantindo assim a vendagem semanal, e, portanto foi a pioneira ao atingir tal nível de interatividade na Imprensa da América Latina.

Colunas e seções como “A Lição do Vovô” eram lidas com grande interesse, pois nelas os editores tinham espaço para responder aos anseios e questionamentos dos leitores, mirins ou não, com aconselhamentos carinhosos, dicas as mais variadas e todo o tipo de curiosidades. Na revista havia ainda espaço para edições semanais, comemorativas ou simplesmente ligadas a conteúdos programáticos escolares, publicava também partituras, notícias esportivas, entrevistas e anúncios publicitários.

O Tico-Tico também teve a importante e curiosa participação na implantação do movimento escoteiro no Brasil, graças a seu poder de unificação do público no vasto território nacional e até mesmo fora dele, através de exemplares que chegavam a leitores do outro lado do Oceano. A revista lutou contra o analfabetismo de forma prática e lúdica em suas páginas para os pequenos, com material cuidadosamente criado por educadores da época. Entrou com firmeza em campanhas contra o alcoolismo ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, em alguns de seus anúncios publicitários, permitiu que seus famosos personagens Chiquinho e Jagunço fossem garotos-propaganda de marcas de cigarro, o que obviamente incitava o tabagismo.

Nas edições especiais de O Tico-Tico, de caráter essencialmente educativo, a revista tencionava ganhar a simpatia e o apoio de pais e professores. Da mesma forma, parte do sucesso editorial da publicação se deveu à forma folhetinesca de suas seções, como a dos romances – a exemplo de “As Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift e “As Aventuras de Robinson Crusoe”, de Daniel Defoe – todas ricamente ilustradas a cores e que eram publicadas em capítulos.

Sucessos também foram suas colunas femininas para as meninas e suas mães, com receitas, bonecas de vestir, músicas, poemas e toda sorte de instruções para a mulher moderna. As fotos publicadas de seus leitores, os livros da Biblioteca do Tico-Tico, maravilhosamente impressos, os calendários de efemérides, os concursos literários, as histórias-em-quadrinhos com seus personagens queridos e célebres, as páginas de armar e os passatempos e textos enviados pelos leitores garantiam, assim, a vendagem da revista por anos a fio.

De fato, O Tico-Tico marcou uma época, trilhou seu caminho num Brasil em transição, atravessou gerações e criou toda uma tradição na Imprensa Brasileira, de uma forma ou de outra.

3. As Histórias em Quadrinhos no Tico-Tico

Entrar no universo de O Tico-Tico sem a compreensão de como a revista utilizou histórias-em-quadrinhos é entender somente uma parte dela.

Muitas tem sido as definições, ao longo de mais de um século de vida, daquilo que chamamos histórias-em-quadrinhos, desde que podem ser entendidas como uma manifestação da caricatura, a definições como a que diz serem elas um encadeamento entre textos e imagens, sugerindo uma seqüência lógica, utilizando ao mesmo tempo os recursos imagéticos da pintura e estilísticos e narrativos próprios da Literatura, tornando-se, assim, uma técnica narrativa e não propriamente uma linguagem com um fim em si. Portanto, uma técnica em que textos e imagens, colocados de forma complementar e em seqüência, estariam a serviço de uma trama, de um enredo.

Autores importantes como o americano Will Eisner, ao mesmo tempo teórico e autor genial de quadrinhos, atenta para o caráter seqüencial das HQs, delimitando apenas para os quadrinhos o fato de que, ao lê-los, o público dispõe de mais opções e liberdades de leitura e escolhas do que o espectador de cinema, por exemplo, uma vez que detém o primeiro a mera possibilidade física de virar páginas adiante e antecipar o fim da história antes mesmo de chegar a ler.

Ler quadrinhos, portanto, não é considerada tarefa fácil. Tal leitura baseia-se, fundamentalmente, na comunicação visual de elementos pré-estabelecidos e há muito transformados em símbolos compreensíveis, de ligação estabelecida, portanto, entre a página de HQ e seu leitor, através de elementos que aos poucos vão sendo inventariados pelo último, como se fosse um hieróglifo a ser decifrado.

Enfim, trata-se da complementaridade entre texto e imagem, tendo como fundamento principal a presença física do personagem em cena que, dramaticamente colocado, conduz a narrativa, sendo exatamente ele uma interpretação gráfica (e por que não caricatural) de nossas próprias experiências, daí a tradução da palavra personagem, como que significando “a máscara que atua”, pois através dele são mostradas experiências, dramáticas ou cômicas, com as quais nos identificamos e acompanhamos graças aos recursos técnicos da narrativa quadrinística.

O conhecimento e a utilização prática desses recursos narrativos das HQs foram aos poucos sendo apreendidos e compreendidos pelos primeiros realizadores da técnica, como Ângelo Agostini, Topffer, Busch e tantos outros, no início da História da Imprensa ilustrada.

Daí, chegar ao que se produziu de quadrinhos para O Tico-Tico, seria entender todo um raciocínio de desenvolvimento paulatino da arte de contar histórias por imagens e textos, desde quando utilizavam, em seus primórdios, imagens seqüenciadas com legendas em seus rodapés até as quadrinizações pioneiras utilizando já o recurso dos balões – elemento, aliás, criado especificamente para este meio de comunicação, bem como as onomatopéias.

Curioso é saber que, mesmo tendo chegado alguns anos depois da publicação massiva de quadrinhos pelos grandes jornais estrangeiros, O Tico-Tico baseou sua fama primordialmente em seus quadrinhos e os utilizou à exaustão, como diferencial de mercado, enquanto pôde.

Sendo a leitura de O Tico-Tico feita, na época, tanto por adultos quanto por crianças, os editores acharam mais razoável adaptar quadrinhos estrangeiros às nossas necessidades culturais, como foi no caso de Buster Brown, criado por Outcault. O homem-chave da redação da revista, Renato de Castro, passa a Luis Loureiro, entre outros, a incumbência de decalcar o personagem americano para as páginas coloridas de O Tico-Tico, já com o nome abrasileirado de Chiquinho. Desta forma, e acompanhando as alterações industriais da Imprensa e dos costumes, foram diversos artistas da revista que utilizaram seus pincéis e tintas para transcreverem, escreverem, desenharem e redesenharem o personagem Chiquinho ao longo dos 56 anos de O Tico-Tico.

O sucesso estrondoso de Chiquinho e Jagunço nas páginas da revista – e a eles se juntou, como vimos, a simpática figura do negrinho de recados Benjamin, típico personagem presente nas casas de famílias abastadas da época – nunca se abalou, nem mesmo depois da morte de Richard Outcault, nem mesmo sob a batuta de vários desenhistas, nem mesmo sofreu algum tipo de represália reclamando por direitos autorais por parte de seus editores americanos, nem mesmo por causa da Primeira Guerra Mundial.

No período pós-guerra, no entanto, após 1918, com o declínio das importações de produtos americanos, é que Chiquinho e Jagunço ficaram ainda mais brasileiros do que nunca. Eles foram, portanto, personagens testemunhas de um Brasil em transição, principalmente depois da I Guerra Mundial, quando houve a troca da influência cultural francesa pela norte-americana. Chiquinho e seu cão Jagunço acompanharam de perto as mudanças sociais e culturais do Brasil que leu as páginas de O Tico-Tico, e foram contemporâneos de tantos outros personagens que surgiram na revista, bem como de outros que surgiram, importados ou não, nas páginas de outros órgãos de Imprensa da época, tendo chegado à dupla, inclusive, a alcançar as telas de cinema, em filmes próprios de animação, produzidos pelo cineasta Álvaro Marins, o Seth, tal a fama que obtiveram.

4. Panorama das Histórias em Quadrinhos no Brasil

A existência das histórias-em-quadrinhos pela mesma Imprensa (e finalmente, em O Tico-Tico), como meio de veicular mensagem editoriais, publicitárias, autorais ou não, e sua existência como característica de um momento específico na base tecnológica de uma revolução industrial, diga-se, no setor ligado aos meios de comunicação impressos, principalmente em fins do século XIX e no início do século XX.

Desta forma, as HQs caracterizam-se por serem produtos de uma cultura de massas e, portanto, mesmo sem a assinatura presente de alguns profissionais envolvidos em sua produção, tanto na área de cores, desenho, roteiro e arte-final, raramente se sabe com exatidão quem fez o que e quantas pessoas estiveram por trás de suas páginas, aliás, algo bem típico da produção em série, uma das facetas do capitalismo de consumo.

Portanto, além do fator incógnito dos artistas que produzem uma HQ, precisamos considerar a perturbadora invasão de quadrinhos estrangeiros, cuja vendagem a preços irrisórios e em enorme quantidade, acaba por cercear as maneiras pelas quais o material produzido em território nacional precisa chegar aonde mais interessa – no público interno -, fazendo com que muitos desses artistas acabem ganhando suas vidas em áreas outras que não os quadrinhos, propriamente.

Além disso, nota-se a presença cada vez maior do material ilustrado jornalístico de crítica social, política e de costumes bem mais acirrada, portanto, em períodos de crise econômico-financeira. É quando as charges e as caricaturas ganham um exato poder de fogo junto aos leitores, quase como num processo catártico, via posicionamento deste ou daquele órgão de Imprensa perante os mais variados assuntos, como se fossem atuar como porta-vozes do público leitor.

Dentro deste contexto e a partir das características já levantadas aqui sobre os propósitos educativos e de entretenimento de O Tico-Tico, vamos observar que ao longo de sua trajetória de mais de meio século, a revista sofreu influências e também influenciou, fazendo assim uma ponte entre passado e futuro, estabelecendo diálogo editorial e conceitual com publicações as mais diversas, tanto antes como depois dela.

O Tico-Tico acabou trazendo novidades ao seu público leitor, atravessou inovações tecnológicas, viu nascer e morrer um sem-número de títulos de revistas de propostas parecidas, portanto, de possíveis concorrentes. Assim, manteve inabalável, por boa parte de sua História editorial, sua posição no ranking como a mais querida e esperada pelos brasileiros.

Pode-se dizer, inclusive, que a revista sentiu fortemente a entrada de quadrinhos estrangeiros a custos baixíssimos no mercado brasileiro, principalmente vindos dos EUA, por muitos editores concorrentes, nas décadas seguintes ao seu lançamento, enquanto ela mesma mantinha intacta e sempre presente a produção própria de material essencialmente nacional.

Jornais como “A Gazeta” e “O Suplemento Juvenil” trouxeram, cada um em sua década de estréia, diversos personagens americanos em suas páginas como as criações de Pat Sullivan (“O Gato Félix”), Alex Raymond (“Flash Gordon”, “O Agente Secreto X-9”, “Jim das Selvas”), Winsor McCay (“Little Nemo”), entre muitos outros.

As edições “O Cruzeiro” chegaram a levar às bancas quadrinhos nacionais (como os de Ziraldo, por exemplo), enquanto em 1950, a Editora Abril começa a publicar material Disney, em revistas quinzenais próprias.

Finalmente, enquanto algumas manifestações importantes da HQ nacional vão aparecendo no mesmo período em que é publicada O Tico-Tico, inclusive nos mais variados gêneros (como o dos quadrinhos de Terror, nos anos 50, ou o já citado Ziraldo com sua criação “A Turma do Pererê”, pelas edições “O Cruzeiro, ou ainda o início das aparições dos personagens de Maurício de Sousa em jornais - Folha de São Paulo, 1959 - e revistas – como foi o caso de “Bidu”, pela Editora Continental, em 1960 – e mesmo os quadrinhos com os primeiros super-heróis brasileiros), O Tico-Tico ia perdendo gradativamente sua força de venda e leitura perante o seu público, diferentemente de como tinha em suas primeiras décadas de existência. Inclusive, a sua própria periodicidade começava já a sofrer com esse esfriamento dos leitores, tendo que se adaptar aos novos e duros tempos, alterando de sua presença semanal nas bancas para quinzenal, mensal e finalmente bimestral, nos seus últimos tempos.

Assim, mesmo as revistas que vieram na era pós O Tico-Tico, tendo elas sofrido ou não influência direta dela, acabaram por serem herdeiras, de uma forma ou de outra, de todo um modo de produzir quadrinho nacional, com suas dificuldades e descobertas, quase que de uma forma, diríamos, combativa, mas que, de qualquer jeito, sempre na ânsia inabalável de querer perpetuar nossa identidade cultural através do traço, do riso e da sátira tão brasileira.

Conclusão

A revista O Tico-Tico, cujos seus propósitos consistiam numa preocupação e comprometimento entre seus editores, redatores e ilustradores junto ao público infantil. O Tico-Tico foi à primeira revista infantil e em quadrinhos que a princípio privilegiou o caráter recreativo, com seus contos de carochinha, passatempos, páginas de armar, histórias fantásticas, premiações, histórias em quadrinhos com os personagens divertidos e inesquecíveis. Teve uma grande importância como ferramenta pedagógica através das lições e conhecimentos didáticos sobre: matemática, história, geografia, desenho, ciências; recomendações e aconselhamentos formando valores, opiniões e influenciando no comportamento individual de seus leitores, visando para a formação de bons cidadãos sempre com o apoio dos pais e professores incentivando e garantindo o prolongamento da existência da revista. Além de ser um modelo inquestionável de sobrevivência do mercado editorial. O Tico-Tico foi também um retrato dos bons costumes e dos acontecimentos do cotidiano, fatores sociais, econômicos, políticos e culturais da época da publicação. Foi um canal aberto com seus leitores visando sempre suas solicitações e sugestões como uma estratégia para a sobrevivência da revista durante mais de 50 anos.

Houve também períodos de necessidades e dificuldades na sua readaptação aos novos costumes e gêneros de leituras de revistas estrangeiras que começaram a competir o mesmo espaço. Para isso, a revista inseriu estratégias como: lançamento de almanaques, edições especiais e comemorativas, coleções didáticas e outras publicações que fizeram parte da Biblioteca Infantil do Tico-Tico. As histórias eram criadas e ilustradas pelos mesmos desenhistas, contistas e redatores da revista O Tico-Tico. Mesmo com a persistência de sua longa trajetória no mercado editorial, sua continuidade nas abordagens educativas e recreativas como um veículo de comunicação de massa, seus personagens mais populares e o seu conteúdo foram se tornando ultrapassados. Por isso, O Tico-Tico não sobreviveu - devido às combates tecnológicos e competitivos dos comics e seus super poderes.

Podendo-se concluir com esse estudo que a revista O Tico-Tico foi escola e descobrimento de muitos talentos, como: desenhistas, redatores, escritores e colaboradores. Mesmo sendo moldada a princípio no modelo de revistas francesas e americanas durante seu percurso se tornou - e ainda continua - sendo um marco, um exemplo de orgulho para a nossa indústria gráfica e editorial brasileira.

Durante a pesquisa surgiu a necessidade da elaboração de um catálogo dos desenhistas de histórias em quadrinhos que participaram da revista O Tico-Tico, desde 1905 até 1962. Então foi criado um banco de dados onde constam suas participações no decorrer da publicação e trabalhos desenvolvidos em publicações paralelas. Portanto, nesta iniciativa ainda faltaram muitos nomes devido à dificuldade de acesso a essas informações como busca de dados bibliográficos desses autores. A intenção é que este trabalho sirva como uma ferramenta de referências para outros pesquisadores e amantes da arte seqüencial.

Hoje as revistas de histórias em quadrinhos ou os desprezados gibis são considerados publicações de consumo, descartáveis, ou se perdem no lixo das varreduras domésticas, ou são trancafiados a sete chaves nas seções de obras raras, bibliotecas ou sob os olhares vigilantes dos colecionadores. Poucas bibliotecas compreenderam o valor cultural dessas publicações e por isso não lhe reservaram a menor atenção, nem espaço. O Tico-Tico, por exemplo, tem atualmente 98 anos e os seus exemplares, salvo os que existem nas bibliotecas, tiveram o mesmo destino. Talvez por isso mesmo, os desprezam e acreditam que gibi seja coisa para crianças.

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O Tico-Tico de 1905 a 1962.

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Jornais:

A Tribuna, Rio de Janeiro de 11/10/1905, página 3.

Correio da Manhã, Rio de Janeiro de 8/12/1955, página 3.

Coluna: O Ofício mais divertido - Artigo: Virar crianças de novo

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro de 11/10/1975, Caderno B, página 1.

Artigo: O Tico-Tico - Uma revista que se ausentou, não morreu

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro de 18/12/1975, Caderno B, página 10.

 

Sites:

outcault

.br

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[1] MARNY, Jacques. Sociologia da história em quadrinhos, pp. 18-29. Em 1896 foi publicada a história “The Yellow Kid and his new phonograph” (O garoto amarelo e seu novo gramofone). O interessante desta história é que, além da cor amarela, trazia os balões com palavras.

[2] Sodré, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil, p. 300.

[3] Ibid, p. 302.

[4] Arroyo, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira, p.133.

[5] Coelho, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil, p. 204.

[6] Lajolo, Marisa e Zilberman, Regina. Literatura Infantil Brasileira, p. 25.

[7] Arroyo, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira, p.141.

[8] Revista Cinqüentenário de O Tico-Tico, outubro de 1955.

[9] Moya, Álvaro de. Shazam, pp. 108 e 109.

[10] Cultura de massas aqui entendida a partir da abrangência da revista, quando o produto cultural passa a ser mais uma mercadoria a ser consumida socialmente.

[11] Ortiz, Renato. A moderna tradição brasileira, p. 38.

[12] Expressão no idioma inglês traduzida como livro cômico ou a revista em quadrinhos.

[13] É claro que um gênero mais dinâmico como o que foi introduzido pelos gibis deu a conotação de pacato e sem graça ao Tico-Tico, o que não pode ser generalizado ao tempo de sucesso do almanaque que foi precursor dos posteriores com um público habituado e sedento de novidades.

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