JORNALISMO PARECE CORRER PERIGO Uma ameaça deve ... …

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Quinta-feira 21 de Fevereiro de 2019

JORNALISMO PARECE CORRER PERIGO

FERNANDO OLIVEIRA | EDI??ES NOVEMBRO|BENGUELA

cracia e 84% considera-as perigosas, porque podem manipular as opini?es. Mas o coordenador do estudo revela que n?o disp?e de dados que associem as not?cias falsas aos resultados e efeitos na pol?tica, na Alemanha.

Uma amea?a

chamada

"fake news"

O que um dia a equipa de Donald Trump chamou "factos alternativos" parece ganhar espa?o ao jornalismo s?rio e ? credibilidade dos jornalistas,

que s?o o ?ltimo basti?o de uma informa??o ver?dica, sujeita ao contradit?rio e aos processos de verifica??o que regem a profiss?o.

Num mundo onde h? cada vez mais informa??o, os cidad?os est?o, contraditoriamente, cada vez menos bem informados ou mesmo mal informados, com uma torrente de not?cias que surge literalmente do nada. Com a crise dos meios tradicionais de comunica??o social e o desenvolvimento das redes sociais, a dissemina??o das chamadas not?cias falsas (fake news) espalharam-se ao ponto de intervirem directamente em todos os sectores da sociedade, nomeadamente, na pol?tica, seguran?a ou sa?de. O jornalismo s?rio e a credibilidade dos jornalistas ? o ?ltimo basti?o de uma informa??o ver?dica, sujeita ao contradit?rio e aos processos de verifica??o que regem a profiss?o. Os jornalistas est?o conscientes de como ? dif?cil, at? para eles mesmos, detectar uma not?cia falsa ou evitar ser instrumentalizados. As not?cias falsas podem ser crime, mas ainda n?o t?m castigo.

Polariza??o pol?tica no Brasil O investigador Pablo Ortellado, professor da Universidade de S?o Paulo (USP), considera que a situa??o da desinforma??o no Brasil resulta da polariza??o da esfera p?blica e do extremismo dos actores pol?ticos.

"A situa??o das `fake news' no Brasil n?o ? muito diferente das de outros pa?ses que est?o a sofrer um pro-

cesso de polariza??o da esfera p?blica, onde as opini?es pol?ticas est?o concentradas em dois p?los (...) Isto acontece nos Estados Unidos, na Argentina, na Venezuela, no Brasil e tamb?m na Europa, como ? o caso da Fran?a e da Inglaterra", afirmou.

O acad?mico, que desenvolveu projectos de an?lise do debate pol?tico no meio digital nas ?ltimas elei??es presidenciais do Brasil, disputadas em Outubro do ano passado, considera que a express?o `fake news' n?o ? a mais adequada para classificar o fen?meno da desinforma??o.

"O que acontece neste cen?rio ? que estes dois p?los come?am a produzir sites que veiculam opini?o na forma de factos noticiosos. Esse excesso de produ??o de opini?o apresentado como se fosse investiga??o jornal?stica ? a ess?ncia do fen?meno no Brasil como noutros pa?ses", frisou.

O investigador explicou que informa??o enviesada tem uma forte presen?a numa sociedade polarizada como a brasileira, onde as pessoas est?o comprometidas com causas.

"? muito dif?cil saber o que ? causa e o que ? efeito do fen?meno da desinforma??o. As pessoas est?o polarizadas e, portanto, consomem not?cias muito engajadas, que consolidam a sua posi??o j? polarizada. S?o coisas que se retroalimentam. Isto no Brasil ? um sentimento muito forte, baseado

na indigna??o, no ?dio e na n?o aceita??o da posi??o do advers?rio", argumentou.

Ortellado salientou ainda que o fen?meno da desinforma??o ? um desafio muito grande para o jornalismo profissional, porque quanto mais bem feito ? o trabalho jornal?stico, mais dificuldade existe em concorrer com conte?dos que apelam ao sentimento de indigna??o.

"Quando o p?blico est? polarizado, ele ? muito chamado a cumprir um papel de rebaixar o jornalismo", destacou o investigador, considerando que os actores pol?ticos tamb?m n?o t?m interesse em melhorar o ecossistema medi?tico.

As `fake news', comummente conhecidas por not?cias falsas, desinforma??o ou informa??o propositadamente falsificada com fins pol?ticos ou outros, ganharam import?ncia nas presidenciais dos EUA que elegeram Donald Trump, no referendo sobre o `Brexit' no Reino Unido e nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato da extremadireita, Jair Bolsonaro.

O Parlamento Europeu quer tentar travar este fen?meno nas europeias de Maio e, em 25 de Outubro de 2018, aprovou uma resolu??o na qual defende medidas para refor?ar a protec??o dos dados pessoais nas redes sociais e combater a manipula??o das elei??es, ap?s o esc?ndalo do abuso de dados pessoais de milh?es de cidad?os europeus.

O que acontece neste cen?rio ? que

estes dois p?los come?am a

produzir sites que veiculam opini?o na

forma de factos noticiosos. Esse

excesso de produ??o de opini?o apresentado como se fosse investiga??o jornal?stica ? a ess?ncia do fen?meno tanto no Brasil como noutros pa?ses

Alem?es defendem ac??o Um estudo conduzido pela universidade alem? de Darmstadt revela que 81 por cento, num total de 1023 inquiridos, defendem uma resposta r?pida das autoridades para lidar com not?cias falsas, as chamadas "fake news".

O estudo "Percep??o de not?cias falsas na Alemanha: Um estudo representativo das atitudes das pessoas e abordagens para combater a desinforma??o" pretende responder a tr?s perguntas: Que atitude t?m as pessoas perante as "fake news"? J? viram ou j? lidaram com not?cias falsas? Como avaliam poss?veis abordagens para as combater?

Christian Reuter, coordenador do estudo, revelou que quase metade dos entrevistados (48%) j? teve contacto com not?cias falsas. No entanto, apenas um em cada quatro admitiu ter apagado ou reportado not?cias falsas e somente 2% revelou ter criado alguma.

"As respostas mostram que a grande maioria dos participantes admite os riscos das `fake news'. Mais de 80% concordaram que estas representam uma amea?a e que podem ser usadas para manipular a opini?o da popula??o. Mas quase o mesmo n?mero de participantes no estudo acredita que os decisores e actores pol?ticos tamb?m podem ser manipulados", revela o professor e investigador.

A maioria dos participantes neste estudo, realizado na Alemanha, concorda com todas as formas sugeridas para lidar com not?cias falsas: 80% defendem "reac??es r?pidas das autoridades" e 72% gostariam que fossem estabelecidos "centros de defesa de seguran?a inform?tica".

Obriga??es por parte dos operadores ou refor?o dos regulamentos penais tamb?m foram aprovados, "a quantidade de respostas neutras varia entre 14% a 21%, enquanto apenas 3 a 7% dos participantes n?o concordam com as abordagens sugeridas", esclarece Christian Reuter sobre a realidade das `fake news'.

68 por cento dos inquiridos acreditam que as "fake news" prejudicam a demo-

"Bom jornalismo" deve ser a vacina Nuno Artur Silva, da Produ??es Fict?cias, de Portugal, defendeu que ? preciso olhar as 'fake news' como "doen?a da democracia" que amea?a as popula??es e recorrer ao "bom e velho jornalismo" como vacina para proteger a sociedade.

"A maneira de se olhar para as 'fake news' ? como se fosse uma campanha pela sa?de. Temos de olhar para este fen?meno como uma doen?a da democracia, em que as popula??es est?o amea?adas por um v?rus", afirmou.

"Os jornalistas deviam encarar isto como se encara uma epidemia. Tem de haver uma atitude do g?nero 'vacine-se, os v?rus est?o a?'. E a ?nica maneira de proteger a sociedade ? com um sistema de vacina??o que ? o bom e velho jornalismo", argumentou Nuno Artur Silva.

"O que chamamos desinforma??o ? o can?rio na mina de ouro do digital, um sinal de aviso para o ecossistema informativo das nossas democracias", afirmou, no mesmo sentido, o deputado portugu?s Jos? Magalh?es.

O deputado recordou que antigamente o can?rio nas minas de carv?o servia para alertar para a presen?a de um g?s venenoso, da mesma forma que agora as 'fake news' alertam para um perigo iminente.

A prop?sito da necessidade de se recuperar o "bom e velho jornalismo", Lu?sa Meireles, directora da ag?ncia Lusa, frisou que at? se costuma dizer que as ag?ncias de not?cias exercem "o jornalismo can?nico", "o que n?o exclui os chamados erros jornal?sticos, mas que s?o diferentes de 'fake news'", frisou.

A directora da Lusa sublinhou tamb?m a import?ncia que assume a verifica??o da informa??o, "o jornalismo que faz o contradit?rio que vai 'checkar' uma, duas, tr?s fontes para verificar uma not?cia", algo que "muitos n?o fazem na corrida para serem os primeiros a dar a not?cia".

"?s vezes ? preciso perder uma not?cia para dar uma not?cia que ? verdadeira", argumentou Lu?sa Meireles, sublinhando que ? preciso "romper" o que considerou ser a "bolha informativa" das 'fake news', atrav?s do princ?pio do contradit?rio, do questionamento e da verifica??o.

"Vamos contraditar, vamos perguntar, vamos 'checkar'. Se duas fontes dizem a mesma coisa, tem mais for?a do que s? uma o dizer", frisou.

Catarina Carvalho, directora do "Di?rio de Not?cias", sublinhou, por seu turno, que se o objectivo ? "combater as 'fake news' ? preciso perceber que a informa??o n?o ? gratuita", que o trabalho dos jornalistas "tem de ser remunerado e n?o pode deixar de o ser" e que o fen?meno das 'fake news' come?a e acaba no neg?cio.

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"As 'fake news' come?am a existir por uma quest?o comercial e enquanto os jornais estiverem na situa??o periclitante em que est?o, as not?cias gratuitas podem ser falsas ou verdadeiras e a rapidez pode ser falsa ou verdadeira", alertou.

"N?o sermos os primeiros a dar a not?cia ? sin?nimo de perder os cliques e ? perder a publicidade e ? perder a liberdade e o rigor", lamentou Catarina Carvalho.

O deputado Jos? Magalh?es, por sua vez, referiu que estamos perante "um problema intrincad?ssimo", sublinhando que "o problema da desinforma??o ? s? o pico do iceberg", que tem por tr?s, nomeadamente, "problemas de eros?o da confian?a nos media", a perda de rendimentos para os media noticiosos, a crise dos servi?os p?blicos, entre outros.

Neste sentido, Lu?sa Meireles referiu que na "luta das 'fake news' e no combate ?s not?cias falsas ou falseadas os jornalistas est?o na primeira linha como alvos a abater e como v?timas".

DR

Investigador Pablo Ortellado

E a directora da Lusa comentou tamb?m que considera "uma contradi??o o termo 'fake news', porque se ? falsa n?o ? not?cia", mas reconheceu o termo internacional como identificativo.

Fernando Esteves, director do Pol?grafo, comentou, por sua vez, que o c?rebro humano est? feito para acreditar, mesmo quando sabe que n?o ? verdade, antecipando que "a dificuldade de distinguir a realidade da fic??o, que se vai massificar no futuro, vai dificultar a tomada de decis?es informadas".

Para o director do Pol?grafo, cabe ?s redes sociais intervir para evitar a escalada do fen?meno e as suas consequ?ncias negativas, mas tamb?m aos cidad?os, que devem ser "mais respons?veis e n?o podem partilhar conte?dos de qualquer forma".

"Partilhar acriticamente ? mais uma machadada na democracia", considerou Fernando Esteves, acrescentando que os jornalistas, por seu turno, "t?m de ser corajosos e continuar a publicar o que os outros n?o querem que se publique".

O erro jornal?stico e a mentira

Os jornalistas tamb?m cometem erros, mas "uma coisa ? o erro jornal?stico, outra coisa ? uma mentira", distingue o director da r?dio TSF, reconhecendo que "as pessoas n?o t?m capacidade, ainda, para as distinguir".

"Hoje ? frequente ouvir as pessoas dizerem 'n?o, n?o, ? verdade, porque eu ouvi na net', que ? uma coisa muito dif?cil de desmontar. As pessoas acreditam piamente naquilo, n?o percebendo que ler na 'net' no site da TSF ou ler na 'net' num 'post' de Facebook s?o realidades completamente diferentes", real?a Ars?nio Reis.

"O grande problema ? que, de facto, as pessoas n?o t?m capacidade, ainda, para as distinguir", lamenta, assinalando a "iliteracia" medi?tica dos cidad?os.

O respons?vel editorial da r?dio privada detida pelo Global Media Group diz que a discuss?o sobre o assunto "? di?ria" na redac??o, mas tal n?o significa que as empresas e os jornalistas se tenham sabido proteger de "um problema muito complicado de resolver".

Recuando ao passado, Ars?nio Reis n?o tem d?vidas em dizer que o jornalismo perdeu cr?dito e que os pr?prios jornalistas t?m nisso alguma responsabilidade. "Dev?amos ter-nos preocupado h? mais tempo", admite.

Ars?nio Reis assume que prefere falar em "intoxica??o" do que em "fake news" simplesmente, porque ? o mais utilizado, mas que n?o deve ser traduzido como "not?cias falsas", porque uma not?cia n?o pode, por natureza, ser falsa, mas como "not?cias falsificadas", o que j? pressup?e uma inten??o de desinformar ou manipular.

"N?o h? not?cias mentirosas, as not?cias mentirosas s?o mentiras. Nem sequer aceito o conceito e acho que ningu?m na profiss?o o deveria aceitar", contesta o director da TSF.

As "not?cias mentirosas" s?o "perigosas", porque "p?em todos os dias em causa" o trabalho dos jornalistas e das empresas de informa??o, reconhece.

Por?m, importa assinalar que todos cometemos erros, incluindo os jornalistas. "Mas uma coisa ? o erro jornal?stico e outra coisa ? uma mentira ou uma 'fake news'", distingue. No primeiro caso,

quem "for atingido ou lesado" pelo erro jornal?stico tem ao seu dispor instrumentos para se defender, como direito de resposta, entidades reguladoras, tribunais.

"As pessoas hoje confundem, de alguma forma, aquilo que ? a produ??o de trabalho jornal?stico com algumas das informa??es que circulam livremente e sem cumprirem qualquer crit?rio jornal?stico, no mundo 'online', em particular nas redes sociais, como sabemos, mas tamb?m nalguns sites, e em alguns deliberadamente", aponta.

Perante isto, s? h? uma solu??o: "voltar aos princ?pios b?sicos", identifica. "N?o ? verdade que tenhamos mudado (os procedimentos internos). Admito que tenhamos hoje mais cuidado com o contradit?rio do que t?nhamos. Admito que tenhamos hoje mais aten??o a algum tipo de 'not?cias' menos 'normais', prevendo a possibilidade de elas serem, efectivamente, uma anormalidade. Mas a pr?tica que temos, jornal?stica, n?o mudou. E, ali?s, acho que um dos segredos da profiss?o ? voltar aos princ?pios b?sicos. Se conseguirmos respeitar esses, correremos menos riscos", defende.

"O contradit?rio ?, para mim, a grande miss?o do jornalismo. N?s n?o defendemos causas, ou raramente defendemos causas, mas devemos fornecer ?s pessoas as armas para que elas possam tomar as suas decis?es. Isso implica ouvir vers?es opostas, ouvir v?rias opini?es e depois permitir que as pessoas possam, efectivamente, retirar as suas conclus?es", sustenta.

Por outro lado, ? hoje mais dif?cil para os ?rg?os de informa??o "ter os meios essenciais para, em cada um dos casos, (...) apurar a veracidade de uma determinada informa??o", admite.

C?digo de conduta O fundador do Expresso, Francisco Pinto Balsem?o, considerou que as 'fake news' s?o uma amea?a global e n?o apenas para os 'media' e defendeu um c?digo de conduta para os jornalistas nas redes sociais.

Questionado sobre se as 'fake news' amea?am os media, o presidente do Conselho de Administra??o da Impresa afirmou: "Eu acho

que n?o ? apenas para o neg?cio da informa??o, a amea?a ? muito mais global, a amea?a ? para a sociedade onde vivemos e essa amea?a hoje em dia est? organizada".

E explicou: "H? 'hackers' (piratas inform?ticos) profissionais que s?o contratados e bem pagos, quer para atacarem pessoas, empresas e institui??es e tentarem destru?-las, quer para estarem ao servi?o de pol?ticas de grandes pa?ses".

Para o patr?o da SIC e do Expresso, as 'fake news' s?o "uma amea?a global" e uma "amea?a para o jornalismo, porque ? uma concorr?ncia completamente desleal".

"Essa ?, portanto, uma grande amea?a para o jornalismo e tamb?m uma grande oportunidade de separar o trigo do joio e como o joio ? cada vez mais volumoso, mais mal cheiroso, est? por toda a parte, ? pior que as ilhas de pl?stico a serem encontradas cada vez maior n?mero nos oceanos", apontou, salientando que "o joio ? cada mais pestilento" e cresce em Estados que t?m o poder e utilizam as novas tecnologias em campanhas.

Deu o exemplo da Rep?blica Democr?tica do Congo, que cortou o acesso ? Internet para controlar o sistema pol?tico e social, ou "como ? o caso da China, que faz isso quase abertamente", para explicar que a evolu??o tecnol?gica, que at? inclui reconhecimento facial, permite condicionar a actividade pol?tica, a liberdade das pessoas, a liberdade de opini?o e at? o acesso ? informa??o.

No combate ?s 'fake news', o presidente da Impresa teceu ainda cr?ticas ao comportamento dos jornalistas nas redes sociais.

"Os jornalistas t?m de ter um comportamento talvez um pouco diferente e deixar de se apresentarem constantemente nas redes sociais, como se aquilo fosse uma esp?cie de clube de amigos", considerou.

Questionado se considerava necess?rio um c?digo de conduta, Francisco Pinto Balsem?o afirmou: "Penso que sim, cada vez mais acho que os jornalistas n?o devem intervir nas redes sociais, muito menos acerca de assuntos que eles pr?prios tratam nas redac??es. Acho que se devem coibir disso".

ERCA, enfrentar o fen?meno ? um exerc?cio desafiador

A ERCA (Entidade Reguladora da Comunica??o Social Angolana) faz nota que o seu Conselho Directivo entrou em fun??es num per?odo em que se observam novos desafios na Comunica??o Social, com a proemin?ncia da imprensa online e do activismo nas Redes Sociais, nem sempre coerente com os princ?pios ?ticos e deontol?gicos que devem reger a comunica??o social.

Por isso, vemos que ? um exerc?cio desafiador para a ERCA, enquanto entidade reguladora que tem que fazer a supervis?o e a regula??o

da comunica??o no contexto deste fen?meno novo das 'fake news'.

Divisamos a necessidade de um trabalho transversal e profundo que englobe de forma comum todos os sujeitos activos e passivos do trabalho da Comunica??o Social na salvaguarda do respeito escrupuloso e defesa dos direitos de personalidade, nomeadamente o bom nome, a honra, a imagem e intimidade da vida privada, protegidos constitucionalmente e na legisla??o ordin?ria.

Em suma, torna-se necess?rio a aplica??o dos instru-

mentos legais vigentes e a adop??o de legisla??o adequada ao enfrentamento do fen?meno (fake news) .

Tendo em vista contribuir para o conhecimento real do fen?meno 'fake news', mitigando os seus efeitos com a literacia medi?tica do cidad?o comum, a ERCA programou para este ano um col?quio sobre a mat?ria, em que participar?o actores angolanos e dos pa?ses membros da Plataforma das Entidades Reguladoras da Comunica??o Social dos Pa?ses de L?ngua Portuguesa.

AR?O MARTINS| EDI??ES NOVEMBRO

JO?O MELO *

"Hoje, o bom jornalismo implica apurar melhor"

"As chamadas 'fake news' s?o um fen?meno e um problema a que Angola, obviamente, n?o poderia estar imune. Nenhum pa?s escapa hoje a essa realidade, que na verdade sempre existiu, na hist?ria da humanidade, mas hoje ? elevada ? pot?ncia ?ne por for?a das incr?veis altera??es tecnol?gicas em curso, em especial a Internet. A verdade ? que as novas tecnologias de comunica??o, se, como se diz, permitem que o conhecimento esteja hoje ao alcance de um clique, tamb?m fazem com que as falsas informa??es circulem planet?ria e instantaneamente. Recordo aqui Umberto Eco, quando disse que 'patetices' sempre houve, mas, agora, contam com uma audi?ncia global.

A cren?a nas 'fake news' e em todas as 'patetices', invencionices e pervers?es que circulam no mundo virtual ? tanto maior quanto mais fechada e menos educada for uma sociedade. O nosso pa?s est? a viver um per?odo de abertura informativa, inaugurado com a elei??o do Presidente Jo?o Louren?o em Agosto de 2017,

que, por ser recente, explica a ingenuidade de muita gente, que "acredita em tudo o que v? nas redes". O d?fice de educa??o da sociedade tamb?m n?o ajuda. Temos, pois, muito trabalho a fazer para usar correctamente as novas tecnologias de comunica??o.

Concordo com aqueles que dizem que a melhor resposta ?s 'fake news' ? o bom jornalismo. O problema ? que, no mundo inteiro, o jornalismo tradicional ou n?o sabe como enfrentar as redes ou, pior ainda, est? a reboque delas. A tenta??o de concorrer com a velocidade das redes n?o d? certo. Hoje n?o basta noticiar os factos, pois todo o mundo, at? diletantes e mesmo verdadeiros criminosos o fazem, sejam eles verdadeiros ou falsos. Basta, para isso, ter um telem?vel na m?o. Hoje, o bom jornalismo implica apurar melhor, n?o ignorar o contradit?rio, enquadrar e explicar correctamente os acontecimentos. A sociedade tem tempo para isso ou quer viver em permanente estado de euforia e excita??o social?"

*Ministro da Comunica??o Social

TEIXEIRA C?NDIDO

Fake News n?o ? jornalismo

Teixeira C?ndido, secret?riogeral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) come?a por recordar que, antes de tudo, "as fake news n?o s?o not?cias jornal?sticas, mas informa??es diversas, disponibilizadas pelos mais diversos cidad?os, movidos pelos mais diversos interesses. ?, por assim dizer, uma demarca??o necess?ria".

Por outro lado, acrescenta, "o espa?o no qual mais circulam as 'fake news' n?o s?o ?rg?os de comunica??o social (imprensa no sentido lato), mas as redes sociais e outras plataformas digitais". Como terceiro elemento Teixeira C?ndido avan?a que "a not?cia jornal?stica tem caracter?sticas pr?prias, que n?o podem nem devem ser confundidas com as 'fake news'.

Quarto ? intensidade das "fake news", o respons?vel sindical acredita ser uma consequ?ncia da necessidade de maior transpar?ncia dos actos de gest?o dos Estados. "Por

fim, no actual contexto dominado pelas "fake news", a imprensa tradicional tem campo para refor?ar a sua utilidade e servir de 'espelho corrector' das informa??es dispon?veis nas redes sociais".

Acrescenta que o jornalismo n?o devia concorrer com as redes sociais, arriscando por isso o seu capital. "? necess?rio dar a consumir ao cidad?o uma informa??o jornal?stica, quer dizer, devidamente tratada, observando os c?nones deontol?gicos".

MOTA AMBR?SIO| EDI??ES NOVEMBRO

Jornalista pede mais rigor

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