CAXIAS (RJ) DOS ANOS 1950 AOS 70: PASSAGEM DE UMA …



CAXIAS (RJ) DOS ANOS 1950 AOS 70: PASSAGEM DE UMA CIDADE DORMITÓRIO À CIDADE URBANO-INDUSTRIAL

Karoline Bueno (PIBIC/Unicentro)

Pierre Costa (Professor e pesquisador do DEGEO da Unicentro)

Palavras chaves: Urbanização, industrialização, Duque de Caxias.

Resumo: A presente pesquisa tem como intento principal avaliar os indicadores sócio-econômicos inseridos nos processos de urbanização e industrialização de Duque de Caxias (DC), nos decênios de 1950, 60 e 70; sendo uma relevante temática para os cientistas sociais, economistas, historiadores e geógrafos.

Introdução

A estrutura metropolitana do Rio de Janeiro tende, segundo M. Abreu (1987, p. 15), a ser de núcleo hipertrofiado, concentrador da maioria da renda e dos recursos urbanísticos disponíveis, rodeado por estratos urbanos periféricos sempre mais necessitados de serviços e de infra-estrutura à medida que se distanciam do núcleo, e sendo útil para moradia e local de funcionamento de algumas outras atividades às grandes massas de população de baixa renda.

Podemos dizer que é a partir de fins dos anos 1920 e nos anos 1930, que Caxias passa realmente a ser atingida pela expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro. Os projetos implantados pelo Estado nas décadas de 1930 e 40 proporcionaram a sobrevivência de um campesinato nas áreas periféricas do terceiro e quarto distritos, a ocupação urbana e a incorporação da cidade ao projeto de desenvolvimento industrial do Estado Novo. A cidade passou a ser conhecida como a cidade do motor, do trabalho e do trabalhador. A crescente movimentação de pessoas que trabalhavam na cidade carioca e residiam em Caxias produziu uma outra imagem da cidade, a de dormitório (M. SOUZA, 2002).

Materiais e Métodos

Para o estudo destas temáticas na Baixada Fluminense e em Caxias, usaremos M. Abreu (1987), S. Lacerda (2001), M. Souza (2002), S. Lemos (1980). A respeito da análise das fontes, utilizaremos V. Alberti (2005), M. Moraes (2006) e C. Pinsky (2006).

A pesquisa constou das seguintes etapas: revisão bibliográfica, levantamento de fontes (escritas e orais) e dados, saídas a campo, análise dos dados e das fontes e redação.

Resultados e Discussões

O crescimento populacional de Caxias foi ainda maior nos anos 1950, alcançando 161% – 241.026 habitantes em 1960, sendo o maior índice da baixada. Diversos fatores contribuíram para este crescimento, como: construção de rodovias, baixo preço dos lotes oferecidos, mínima ou total ausência de exigências burocráticas, tarifas do transporte ferroviário unificadas e subsidiadas pelo governo, eletrificação total das linhas. Some a isso, a atração de trabalhadores para dar conta da construção e funcionamento de mais duas empresas estatais que se instalaram em Caxias: a Refinaria Duque de Caxias (REDUC), com a construção iniciada em 1958 e concluída em 1961; e a primeira empresa petroquímica brasileira – FABOR (Fábrica de Borracha Sintética), em 1962.

Em relação à infra-estrutura urbana, a situação era de abandono. Conforme os dados da Agência de Estatística do Município de DC, em 1957 havia 10 mil crianças em idade escolar fora da escola. Das 20.152 crianças de 5 a 14 anos, apenas 7.761 sabiam ler e escrever. Dos 92.459 habitantes, aproximadamente 14.048 homens e 17.741 mulheres eram analfabetos. A maioria das escolas públicas foi instalada em residências ou prédios alugados, sem a menor infra-estrutura.

Na área da saúde, a situação era ainda pior. Existia apenas o Posto Médico do Sandu e os consultórios médicos particulares. A alternativa era buscar atendimento no Distrito Federal. A obtenção de água potável continuava a ser um grande problema. Existiam apenas bicas e carros pipas. Conforme Lemos (1980, p. 59), a água era insalubre, imprestável para beber, obrigando que fosse apanhada em locais privilegiados e na maioria das vezes, distante das residências. Outra alternativa era a compra nos carros pipas, o que, representava uma fonte de renda para os funcionários da prefeitura.

Em 1970, dentre os municípios da Baixada, Caxias era o que apresentava maiores reservas em áreas livres, possibilitando várias alternativas para localização da atividade industrial. Configura-se, no município com o mais rápido avanço industrial, não apenas na Baixada, mas em todo o antigo estado do Rio de Janeiro.

Em 1950 era facilmente comprovável sua situação de cidade dormitório, em relação ao expressivo mercado de trabalho do Rio de Janeiro. Entre 1950 a 1965, com a instalação da REDUC e outras pequenas fábricas, ou seja, com o surto industrial que sofreu, passou Caxias à nítida posição de subcentro metropolitano, com área de influência que lhe extravasa os limites municipais e alcança até mesmo certos bairros da Guanabara; o que gerou conseqüentemente um mercado de trabalho cujo crescimento tende a aproximar-se do demográfico, mas que ainda não acompanha a expansão da oferta de mão-de-obra, proporcionando pelo célere crescimento populacional.

O crescimento industrial de DC, caracterizou-se por duas etapas de implantação: a primeira, representada por fábricas tradicionais que se instalaram ao longo do eixo da antiga Rio - Petrópolis e Estrada de Ferro Leopoldina; a segunda após a abertura da BR-135 (Rio-Brasília) que, deslocando o eixo de atração, permitiu a localização de novas fábricas, influenciadas pela instalação do Complexo REDUC-FABOR.

No final da década de 1960, o parque industrial era constituído, na sua maioria, por pequenas e médias empresas. As três grandes empresas presentes nessa época são: REDUC, FABOR e a Fábrica Nacional de Motores (FNM).

Conclusões

Podemos dizer que a FNM representou pouco para o destino industrial de DC, comparada com a REDUC – que é a maior unidade industrial localizada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). A instalação do complexo REDUC-FABOR era visto na época (anos 1960) como fator indutor da implantação de indústrias químicas, de artefatos de borracha e congêneres; ou seja, de indústrias de alta produtividade e, por isso, consideradas como das mais dinâmicas.

O trabalho aponta para a relevância da geohistória no estudo dos fenômenos da urbanização e industrialização. As transformações sócio-econômicas sofridas por Caxias revelam que a cidade perdeu a característica de tão somente “subúrbio dormitório” do Rio de Janeiro; desenvolvendo uma economia própria e passando a se constituir também numa cidade industrial. Nas décadas de 1970 e 80 começa a se consolidar o Pólo Petroquímico de Duque de Caxias; e, no início deste século, Caxias recebe o Pólo Gás-Químico. Porém, apesar de todo este crescimento econômico, verificado principalmente a partir dos anos 1960, Caxias continua com graves problemas sociais.

Fontes:

Jornal do Brasil (Arquivo CPDOC JB)

22/1/1961, 14/9/1961, 6/7/1962, 4/8/1969, 26/5/1974, 9/2/1975, 9/3/1975, 11/3/75, 15/2/1976, 1/8/1976, 28/3/1977, 18/2/1978, 12/10/1978, 21/7/1979, 8/10/1981, 13/12/1981, 11/10/1982, 18/12/1981, 28/7/1982

Jornal O Globo (Arquivo Jornal O Globo)

27/8/72, 3/6/1974, 25/5/1975, 31/12/1978, 3/7/1979, 26/1/1980, 11/9,1980

Jornal Diário de Notícias (Arquivo CPDOC JB) - 30/8/1973; 31/8/1974; 24/8/1975;

Revista Tendência (Arquivo CPDOC JB) - 1/3/1975

Entrevistas

Marlúcia Souza – Historiadora caxiense e professora da FEUDUC.

Rogério Torres – Historiador caxiense e professor da Rede Pública de Caxias.

Referências

ABREU, Maurício de A. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ZAHAR, 1987.

ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 2005 (3º ed.).

LACERDA, Stélio. Uma passagem pela Caxias dos anos 60. Duque de Caxias: ed. do autor, 2001.

LEMOS, Santos. Os donos da cidade. Rio de Janeiro: Caxias Recortes, 1980.

MORAES, Marieta (org.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2006 (8ª ed.).

PINSKY, Carla (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006.

SIMÕES, Manoel R. A cidade estilhaçada: reestruturação econômica e emancipações municipais na baixada Fluminense. Mesquita: entorno, 2007.

SOUZA, Marlúcia S. de. Escavando o passado da cidade: Duque de Caxias e os projetos de poder político local (1900-1964). Orientadora: Virgínia Fontes. Niterói: Programa de Pós-Graduação em História/UFF. 2002. Dissertação (Mestrado em História).

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