FÓRUM: HIPÓTESES DE LEITURA E SITUAÇÕES DE …
FÓRUM DE DEBATES:
HIPÓTESES DE LEITURA
Maio / 2003
FÓRUM DE DEBATES: HIPÓTESES DE LEITURA
Apresentação
Somos professores de 1a e 2a séries do Ensino Fundamental, participamos do Programa Escola Que Vale há nove meses e já conseguimos avançar muito em relação à nossa prática em sala de aula. No momento, estamos empenhados em aprofundar nossos conhecimentos em relação à leitura do aluno não alfabetizado para poder planejar melhores situações de leitura pelo aluno.
Quais são as idéias que a criança que ainda não lê tem sobre o que está escrito e o que se pode ler?
Fomos em busca de respostas para esta questão e descobrimos que as crianças, no início do processo de alfabetização, mesmo quando ainda não lêem convencionalmente:
✓ Levam em consideração informações do contexto para intuírem o que pode estar escrito em determinado local.
✓ Quando solicitadas a lerem algo, acham que o que está escrito são letras e que as lemos dizendo os seus respectivos nomes;
✓ Acham que o que se pode ler sempre representa o nome de um objeto;
✓ Aos poucos, asseguram-se de que a escrita está relacionada à imagem que a acompanha, porém podem representar não só o seu nome, mas outros nomes ou características que se relacionam com ela.
✓ Pensam que só os substantivos podem estar escritos, aos poucos admitem que os verbos e adjetivos também, e, por fim, percebem que as partes menores das orações também são escritas, como os artigos e as preposições – a idéia de que todas as palavras lidas estão escritas e na ordem da emissão não é tão evidente assim.
Essa evolução não se dá de uma única forma para todas as crianças e não tem relação direta com as faixas etárias. O avanço nas idéias das crianças em relação ao que está escrito e ao que se pode ler depende, em grande parte, das possibilidades que as crianças têm de participarem de práticas sociais de produção e interpretação de textos, mesmo antes de saberem ler e escrever convencionalmente.
Qual a nossa responsabilidade em relação a esse avanço? Como este conhecimento pode nos ajudar no planejamento de boas atividades de leitura? Como considerar estas hipóteses ao intervir em situações de leitura feitas pelos alunos?
Escrito por:
Professores da rede municipal de São Luís do Maranhão, das escolas participantes do Programa Escola Que Vale:
1a série: Maria Helena, Lucimar, Graça, Mônica, Flávia, Cleonildes e Jacymere
2a série: Miriam, Manuel, Cláudia, Tânia, Marinete, Maria José, Conceição, Francisca, Rosário, Jeane, Rosemary e Gilcilene.
Participações
- Josiane Del Corso:
"Aprendemos a ler lendo e a escrever escrevendo..."
Sou coordenadora da Escola Projeto Vida de Educação Infantil - Unidade Esperia, e ao ler o alfabetizado, fiquei feliz em perceber que esse tema tão importante está sendo estudado por educadoras que querem sempre fazer o melhor.
Quanto às perguntas quero contribuir com o meu depoimento, pois aqui na nossa escola também estamos sempre investigando e estudando para que nossas aulas se tornem cada vez mais significativas e produtivas.
Creio que nossa responsabilidade em relação ao avanço dos nossos alunos na leitura é muito grande. Grande porque essa é uma das funções da escola, ensinar o aluno a ler e a escrever. Se esta é a nossa premissa devemos fazê-la da maneira mais intencional e significativa possível. Quando falamos em leitura é sempre necessário fazermos uma retrospectiva de como foi a nossa relação com o ato de ler na nossa infância e como isso refletiu nos nossos atos de leitores adultos de hoje.
Uma professora que não lê ou diz não gostar de ler com certeza não conseguirá passar para os seus alunos a magia da leitura.Ensinar o que não sabemos é muito difícil ou quase impossível. Conhecer as hipóteses de nossos alunos e alunas será fundamental para que possamos ajudá-los a avançar no processo de leitura. Todas as crianças trazem para a escola experiências leitoras, leitura de símbolos (McDonalds, Itaú etc.) Precisamos ampliar nosso olhar para além da decodificação, ajudando o aluno a antecipar, inferir diante do texto dado para que os mesmos possam desenvolver estratégias fundamentais para um leitor competente. E o que seria um leitor competente?
Aquele que faz uso funcional deste ato, podendo refletir sobre sua leitura, apreciá-la pelo puro prazer de ler, viajar por mundos distantes sem precisar sair da cama ou da sala de aula, enfim extrair conhecimentos, transformar-se enquanto cidadão.
Se o aluno ainda não lê convencionalmente ele deverá adentrar no mundo da leitura com o professor que deverá possibilitar essa ação, levando os alunos a sentirem vontade de ouvir novas histórias, novas poesias, novas notícias, curiosidades, enfim abrir as portas do conhecimento leitor significativo em contextos letrados,tornando-os donos do próprio pensamento, das próprias ações. Todos nós precisamos de modelos para ampliarmos nosso repertório leitor.
As hipóteses devem sempre ser consideradas para auxiliá-las na elaboração de boas situações de aprendizagem. Pelo que pude ler, os alunos precisam participar de mais situações de leitura feita pela professora,a professora deverá ler de tudo,é garantir que isso aconteça diariamente. Fazê-los olharem para além da palavra, buscando o sentido maior do texto - ler e fazer uma receita com eles, ler uma história fazendo pausas para compartilhar com eles partes de maiores expectativas, ler uma poesia e ajudá-los a lerem outras memorizando-as podendo assim recitá-las. Compartilhar uma reportagem comunicando um acontecimento e depois socializar as impressões coletivamente.
Acredito que com essas ações vocês conseguirão fazê-los gostar de ler, gostar de ouvir alguém ler (desde que haja entusiasmo e prazer em quem está lendo para eles).
Josiane Del Corso
- Maria Lima:
Queridas colegas,
Sou Maria Lima, professora de História. Trabalho com formação de professores e coordenadores há alguns anos e também com formação de professores alfabetizadores.
Atualmente, curso o Doutorado, investigando as relações entre a construção conceitual e a aprendizagem da língua em adolescentes. Achei muito interessante poder participar deste fórum tão especial e ficarei antenada na discussão para aprender com vocês!
Concordo plenamente com a colega Josiane: é preciso imersão total em situações de leitura. E complemento: também em situações de escrita. Escrever o próprio nome e o dos colegas; bilhetes para outras turmas da mesma escola; histórias (contos de fada, de terror ou suspense) (que a cça. lê para a professora que pode gravar e depois transcrever quando a criança ainda não for alfabética); textos informativos resultado de pesquisas (a profa. pode servir de escriba para os alunos ou solicitar-lhes que escrevam e leiam o que escreveram).
Ou seja, colocá-los em situações de produção de texto que sejam significativas, que possibilitem que a criança vá explicitando suas hipóteses de escrita,confrontando-a, em situações de leitura, com textos escritos convencionalmente. Escrever consultando cartões com palavras aprendidas recentemente pode ser também uma boa estratégia. Os mesmos podem ser confeccionados sob a supervisão dos alunos e afixados em local de fácil acesso. Enfim, o papel da professora é ir fornecendo o máximo de materiais e situações que possibilitem que a criança construa conhecimento, avançando em relação a suas próprias hipóteses.
Abraços a todas.
Maria
- Leda Lóss dos Santos:
Meu nome é Maria Lêda Lóss dos Santos. Trabalho em cursos de formação de professores.
Achei muito pertinente a colocação feita pela colega Maria Lima no sentido de não dicotomizar leitura e escrita. Além disso, julgo que o papel do professor é extremamente relevante na construção de significados,tanto da leitura como da escrita, especialmente em crianças de meios pouco letrados, pois o universo simbólico da criança se constitui a partir das suas experiências, observações e vivências.
Perceber a atividade leitora e escritora no adulto como algo prazeroso e importante encaminha para a construção de significados positivos.
Maria Lêda
- Cleyde de Alencar Tormena:
O ambiente letrado tem que ser priorizado na organização do espaço escolar, principalmente das turmas iniciantes no processo de escolarização.
A convivência e uso de textos diversos e de circulação na comunidade local
favorece os avanços das hipóteses de leitura dos alunos. Faz-se necessário, portanto, que as escolas oportunizem seus alunos o acesso a livros de literaturas, jornais, agendas, propagandas escritas e outros recursos escritos para a familiarização constante com a escrita e leitura.
- Paula Stella:
Concordo que o ambiente letrado é uma condição indispensável para o avanço das crianças quanto a capacidade de ler.
Porém, penso que o papel do professor alfabetizador vai além de providenciar o contato freqüente e sistemático dos alunos com os textos impressos.
Acredito que ele deva conhecer o que cada criança da sua classe sabe sobre a escrita e a partir disso planejar situações de aprendizagem significativas e
desafiadoras para que elas possam pensar sobre a escrita em português e muitas vezes repensar suas idéias a respeito dela.
No caso específico do ensino da leitura, fazer como as professoras de São Luis do Maranhão estão fazendo - buscar conhecer as hipóteses que indivíduos que ainda não sabem ler convencionalmente criam sobre a escrita ao tentar interpretá-la - pode ser muito util para que o professor tenha elementos para bolar situações em que algumas destas idéias sejam colocadas em xeque e, eventualmente, precisem ser substituídas por outras que se aproximam mais da leitura que as pessoas alfabetizadas fazem. É claro que para isso será importante investigar se as hipóteses estudadas são mesmo usadas pelos alunos da classe e identificar que criança faz uso de cada uma delas.
- Ana Maria Correa Ferreira de Abreu
Na minha opinião a criança de 1 e 2 série,precisa estar em contato com texto diariamente na sala de aula,não ficar limitada sílabas e palavras ,porque ela tem que construir seu próprio conhecimento,aquele que esta sempre visível no seu dia a dia, hoje em dia as informações chegam muito rápida na sua telinha e esta criança é capaz de absorver com facilidade estas informações discutir em sala de aula com seus colegas.
- Renata Frauendorf:
Caras professoras antes de mais nada devo parabenizá-las pela iniciativa de colocar num fórum de discussão uma dúvida relacionada a prática de vocês.
No momento estou trabalhando com formação de professores e sinto que um dos grandes receios de alguns educadores é o de justamente compartilhar suas dúvidas e questões num espaço como este e não há nada mais enriquecedor do que a oportunidade em trocar informações, idéias com outros educadores.
Bem quanto a questão levantada por vocês concordo com as respostas que já foram dadas e acrescentaria que além dessas situações, o trabalho com textos que já se sabe de cor é uma forma de trazer essas questões para as crianças pois durante a leitura muitas vezes se deparam com artigos, preposições, verbos e vão precisar ajustar a leitura ao que está escrito.
Nesse momento a intervenção do professor é super importante para ajudar nessa reflexão do que está escrito e o que se pode ler.
- Luciana Sbampato:
Olá Professoras!
Sou coordenadora da Educação Infantil de um colégio na cidade de Guarulhos e sempre entro no site de vocês para apreciar os Projetos que vocês desenvolvem com as crianças.
Quanto à prática de leitura, costumo dizer às minhas professoras que antes de ensinarem as crianças a gostar de ler, elas próprias precisam investir nas leituras pessoais. Não importa o gênero nem o autor (desde que tenha uma boa qualidade literária),mas que se sintam sensibilizadas para este ato. Se pararmos para pensar, a leitura está presente na nossa vida 24 horas por dia! E nunca é tarde para começar!!!
Li uma entrevista com a Ana Maria Machado, na revista Projeto, e ela disse que sorte de quem nunca leu certo livro, pois terá o prazer e sentirá a emoção de lê-lo pela primeira vez! E quem já o leu, com certeza encontrará alguma novidade na segunda leitura. Eu também tenho corrido muito atrás de boas leituras, pois infelizmente, na minha escolaridade, não me foi dada esta oportunidade. E pensem muito sério: O futuro dessas crianças (para que elas se tornem leitoras e produtoras de textos autônomas e independentes) está nas mãos de vocês!
Então meninas, mãos à obra! Introduzam na rotina de vocês a leitura diária feita pelo professor. Leiam um pouco de tudo! Contos, Lendas, Poemas, Aventuras, Mitologia Grega, Histórias de terror... E procurem ir em busca sempre de bons textos...Tenho certeza que o interesse e o envolvimento das crianças será cada vez maior!
No mais, boa sorte à todas e boas leituras!
Até a próxima,
Luciana Sbampato
- Ariana Rocha:
Caras colegas de São Luiz
Somos professores do PEQV no Pará – Município Ipixuna/comunidade Canaã e Fortalezinha. Nós já avançamos muito nas propostas didáticas que estamos desenvolvendo com nossos alunos e temos a consciência que precisamos avançar muito mais .
Para tanto ,estamos sempre em busca de novas idéias, sugestões e opiniões como vocês. Sabemos da importância que a escola tem na formação de bons leitores e escritores,principalmente nas regiões ribeirinhas onde nossos alunos contam apenas com o apoio da escola e de boas intervenções feitas por nós.
Como foi e está sendo difícil fazer boas intervenções e criar esse ambiente
de leitura enquanto que para nós professores, até pouco tempo, bastava-nos ter um livro didático e pronto. Contentávamos com o mínimo de modelos e descartávamos a necessidade de ensinar os nossos alunos respeitando o conhecimento que já tinham e o que precisavam realmente aprender.
Ultimamente o que tem nos ajudado muito foi descobrir que em algum momento do dia temos que nos colocar literalmente ao lado do nosso aluno e acompanhar o seu pensamento. Só assim poderemos conhecê-lo e planejar boas intervenções para que este possa avançar individualmente e em grupo.
Ainda não temos o correio convencional e nem o eletrônico em nossa comunidade, mas já escrevemos e recebemos cartas, convites, e-mails etc. As vendinhas , o posto de saúde e outros locais públicos recebem semanalmente cartazes informativos contendo assuntos de interesse para a comunidade elaborados pelos alunos de todas as séries.
Desenvolvemos também o que chamamos de "bate-rebate" entre classes. Uma classe faz perguntas para outras classes e estes precisam pesquisar para respondê-las num espaço de tempo pré determinado .Assim que conseguem encontrar as respostas, o grupo irá enviá-las por escrito juntamente com uma nova pergunta... e assim por diante. Isso tem nos ajudado também a tornar o aprendizado da leitura e escrita mais significativo e funcional.
Acreditamos com isso estamos conseguindo construir um repertório real de possibilidades gerando várias hipóteses para serem confrontadas, confirmadas e/ou modificadas em nossos alunos mesmo antes de saberem ler e escrever, convencionalmente falando.
Um grande abraço a todas e até a próxima oportunidade.
Grupo de professores da Escola Bom Pastor e Fortalezinha - Ipixuna do Pará
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