História



HistóriaA a??o das Transmiss?es na guerra colonial em Mo?ambiqueViegas NunesTCor Tm (Eng)No conjunto dos territórios ultramarinos administrados por Portugal até 1974, Mo?ambique foi a Província que mais tarde veio a sofrer a a??o dos movimentos independentistas que, motivados pelo ideal da autodetermina??o, lan?aram uma guerra subversiva generalizada.Durante o período em que decorreu a Guerra Colonial neste território (1964-74), as Transmiss?es desempenharam um papel decisivo na atividade militar conduzida pelas For?as Armadas Portuguesas. O reconhecimento da sua import?ncia, levou muitas vezes os Comandantes a chamarem a si o tratamento dos assuntos que lhes diziam respeito, evitando atribuir miss?es e iniciar opera??es sem se assegurarem de que as transmiss?es funcionavam.A orografia do território, a distribui??o geográfica dos núcleos populacionais e as características das vias de comunica??o existentes, refor?aram a import?ncia das comunica??es tanto ao nível da coordena??o das atividades das For?as Armadas e de Seguran?a do território Mo?ambicano como da própria a??o administrativa civil do território.Dentro deste contexto, procurou-se neste artigo reunir alguns dados e elementos, julgados de interesse, passíveis de virem a contribuir para melhor documentar a história da participa??o das Transmiss?es nas Campanhas do Ultramar, nomeadamente, no que se refere à sua a??o no território da Regi?o Militar de Mo?ambique (RMM).“Durante o período em que decorreu a Guerra Colonial (1964-74), as Transmiss?es desempenharam um papel decisivo na atividade militar conduzida pelas For?as Armadas Portuguesas...”O estudo e a análise pormenorizada deste assunto, justificaria por si só a publica??o de um volume próprio. No entanto, face ao enquadramento e à estrutura??o deste artigo, teremos necessariamente de enfrentar o difícil desafio de realizar uma análise abreviada dos aspetos mais salientes da a??o das Transmiss?es neste e?aremos assim por realizar um breve enquadramento histórico e geoestratégico da presen?a das Transmiss?es em Mo?ambique. Partindo deste enquadramento, procuraremos também analisar este Teatro de Opera??es, caracterizando o dispositivo militar e a organiza??o das Unidades de Transmiss?es.Caracterizaremos depois as principais envolventes do Sistema de Comunica??es de Campanha, do Sistema de Comunica??es Permanentes e do seu sistema de Sustenta??o Logística.Tendo por base a sincroniza??o dos diversos sistemas de comunica??es e os aspetos operacionais da atividade das Transmiss?es, procuraremos no final, extrair os aspetos doutrinários mais relevantes da utiliza??o das Transmiss?es neste o base bibliográfica, para além das obras editadas pelo Estado-Maior do Exército e da valiosa bibliografia da autoria do Sr. Coronel de Engenharia Bastos Moreira, existente no Museu das Transmiss?es, recorremos a alguns textos do Sr. Tenente-General Pereira Pinto que, pelas altas fun??es de Dire??o da Arma de Transmiss?es e pelas fun??es que desempenhou no território ultramarino de Mo?ambique, durante o período da guerra colonial, se afirmou ao longo dos anos como um especialista na temática em análise. Para além dos agradecimentos devidos a estes Oficiais de reconhecida import?ncia para a história das Transmiss?es, aqui fica também o nosso respeito e sentida homenagem à sua saudosa memória.Enquadramento históricoAo longo do século XIX, realizaram-se em Mo?ambique explora??es e reconhecimentos no interior deste território, tendo como principal objetivo a ocupa??o e pacifica??o dessa regi?o e a confirma??o da soberania portuguesa. Durante este período, as Transmiss?es de Campanha utilizavam meios muito precários existindo poucas referências históricas que nos permitam descrever, de forma convenientemente documentada, a sua presen?a e a??o no território mo?ambicano.A presen?a registada de militares de Transmiss?es no território de Mo?ambique remonta a 1914, momento em que, na Europa, deflagrava a 1? Guerra Mundial. Nesse ano, foi enviado um Destacamento Misto Expedicionário de 1500 homens para este território (Moreira, 1983). Esse Destacamento, foi posteriormente refor?ado com pessoal de Sapadores Militares, de Administra??o Militar e de Telegrafistas.Até 1917, ao longo das 3 expedi??es militares organizadas a Mo?ambique, participou pessoal de Telegrafistas de Campanha, Telegrafistas de Pra?a e de Telegrafistas sem Fios, refletindo uma necessidade de especializa??o crescente dos militares de telegrafistas, decorrente da evolu??o técnica dos meios de transmiss?o.Em 1917, ano em que Portugal, fruto da sua participa??o na 1? Grande Guerra, já possuía tropas em Fran?a, organizou-se, com alguma dificuldade, uma nova expedi??o a Mo?ambique. Esta expedi??o, incluía uma Companhia de Engenharia que integrava uma subunidade composta por pessoal de Transmiss?es, possuindo como material org?nico 4 Postos Rádio (Moreira, 1983). No período entre Guerras Mundiais e durante o período da 2? Guerra Mundial (1939-45), n?o existem registos de envio de novas for?as expedicionárias a Mo?ambique, sendo as comunica??es militares com a Metrópole e no interior do território asseguradas pelas tropas de telegrafistas, integradas na Companhia de Engenharia aí colocada.Constatada a necessidade de ajustar a especificidade do apoio de Transmiss?es à evolu??o tecnológica dos equipamentos de comunica??es e à altera??o da sua doutrina de emprego, tornou-se premente a existência de uma Arma de Transmiss?es independente da Arma de Engenharia. Decorrente desta situa??o, o Servi?o de Telecomunica??es Militares, criado em 1951 a partir de uma renova??o do anterior Servi?o Telegráfico Militar, regista, no final da década de 50, um notável desenvolvimento. No entanto, só em 1961, o Servi?o de Telecomunica??es Militares (STM) foi estendido a toda a ?frica, permitindo a comunica??o entre a metrópole e os três Teatros de Opera??es (Mo?ambique, Angola e Guiné). Dentro destes, os sistemas disponíveis entre os Comandantes das Regi?es Militares e as Unidades consistiam em redes radiotelegráficas guarnecidas e equipadas por pessoal das Companhias de Transmiss?es existentes na Unidade de Engenharia de cada uma destas regi?es (UC, 2003).Dentro deste contexto, cria-se no Quartel-General em Louren?o Marques (atual Maputo), uma Sec??o para apoio do Comandante das Transmiss?es do território de Mo?ambique, uma Delega??o do Servi?o de Telecomunica??es Militares e o respetivo Destacamento (Moreira, 1983). Nessa altura, é também constituída uma Companhia de Transmiss?es com Sede em Louren?o Marques. Esta Companhia, veio posteriormente a integrar-se no Batalh?o de Transmiss?es N?2 que, após uma localiza??o inicial em Louren?o Marques, viria mais tarde a ser transferido para Nampula em 1970. No Quartel-General em Nampula, passou ent?o a estar sediado o Comandante das Transmiss?es que, para além de exercer o cargo de Chefe da Delega??o do Servi?o de Telecomunica??es Militares, acumulava também o cargo de Oficial de Comunica??es do Comando Chefe. O Comando do Batalh?o, contrariamente ao que sucedeu na Guiné e em Angola em que se formou um Agrupamento, n?o era exercido pelo Comandante das Transmiss?es mas sim por um Oficial para tal designado (Moreira, 1983). No entanto, no que se refere à sua organiza??o e estrutura genérica, podemos dizer que na Regi?o Militar de Mo?ambique a Arma de Transmiss?es se organizou de forma idêntica à Regi?o Militar de Angola, sendo o apoio logístico também organizado de forma semelhante. Enquadramento geoestratégicoNo segundo semestre de 1964, momento em que os primeiros incidentes da subvers?o violenta se verificaram em Mo?ambique, o dispositivo das for?as militares encontrava-se já em parte implantado. Antecipadamente estudado para este território, o dispositivo das for?as militares n?o se encontrava ainda completo devido essencialmente ao facto de os problemas de Angola e da Guiné terem imposto a prioridade na atribui??o de meios a estas duas últimas províncias ultramarinas. O território de Mo?ambique, beneficiando em termos de surpresa estratégica pelo facto de ter sofrido mais tarde o início das hostilidades, foi, pelo contrário, prejudicado por esta situa??o na prioridade de atribui??o de meios. O dispositivo militar, levantado para assegurar tanto a cobertura das zonas afetadas como do restante território, foi estruturado a partir de um dispositivo de quadrícula, baseado em Unidades tipo Batalh?o de Guarni??o (e de refor?o) e algumas Unidades de interven??o, à ordem dos Comandos Territoriais, da Regi?o Militar e, mais tarde, do Comando-Chefe. Situa??o Geopolítica e o Papel das Comunica??es face aos Fatores Ideológicos e Culturais em Presen?aAs autoridades, conscientes que a essência da guerra subversiva era a conquista das popula??es, iniciaram, desde muito cedo, uma vasta campanha educativa e de a??o psicológica, dirigida às popula??es. Para esse efeito, procuraram reuni-las, sempre que possível, em aldeamentos que permitissem assegurar o seu progresso social, a sua prote??o contra bandos armados e o contacto fácil entre elas e as autoridades. Dentro deste contexto, foram refor?adas as liga??es telegráficas e telefónicas com os principais núcleos populacionais (Arriaga, 1984). Esta decis?o, veio a revelar-se acertada, uma vez que na regi?o de Cabo Delgado, onde, conforme o previsto, a guerrilha eclodiu, a implanta??o de aldeamentos permitiu dificultar a expans?o do movimento subversivo. Pelo contrário, no Niassa, onde essa implanta??o se encontrava muito mais atrasada, a subvers?o foi alastrando rapidamente até novas áreas, só sendo finalmente contida em 1967 (EME, 1989). As comunica??es telegráficas e telefónicas de Mo?ambique desempenhavam, já em 1955, um papel determinante na interliga??o das popula??es, constituindo um fator de desenvolvimento da economia e da a??o administrativa do território. A rede telegráfica urbana apresentava, na altura do eclodir do conflito, 223 Km e a n?o urbana 13.805 Km, interligando cerca de 223 esta??es telegráficas (Castro, 1980). As linhas telefónicas, por seu turno, dispunham de um tra?ado de aproximadamente 45.000 Km, funcionando cerca de 7.721 telefones (6.174 particulares, 309 postos públicos e 1.246 em servi?os oficiais) em Mo?ambique (Castro, 1980).O facto de os principais núcleos populacionais se encontrarem longe das zonas de conflito onde decorriam as principais opera??es, tiveram uma influência importante no comportamento das popula??es. As comunica??es internas e com a metrópole, davam às popula??es uma relativa tranquilidade, fazendo com que vivessem numa paz aparente, esta sensa??o era refor?ada pela proximidade geográfica do território da ?frica do Sul.Caracteriza??o do Teatro de Opera??esAs principais vias de comunica??o (estradas e linhas de caminho de ferro) ligavam preferencialmente as regi?es situadas na orla marítima ao interior, orientando-se no sentido Este-Oeste. Os transportes terrestres existentes no sentido Sul-Norte, tornavam muito difícil viajar a partir da Capital Louren?o Marques (atual Maputo) ou mesmo da Beira até Nampula. Os movimentos de tropas e de abastecimentos para as zonas de opera??es estavam assim dependentes do transporte marítimo até aos portos de Nacala e da Beira, seguindo depois por terra para a regi?o interior através de “picadas” ou por caminho-de-ferro, enfrentando nesse percurso diversos ataques e minas.Esta situa??o tornava evidente a necessidade de uma coordena??o permanente entre o Exército e os outros Ramos das For?as Armadas, quer ao nível do transporte marítimo, quer na evacua??o e apoio aéreo das for?as terrestres em opera??es. A desejável interoperabilidade dos meios de comunica??es, que equipavam as for?as dos três Ramos, assumiu ent?o um papel crítico e determinante para o sucesso das opera??es.Por outro lado, as condi??es climatéricas do território de Mo?ambique exigiam que os diferentes meios de transmiss?es possuíssem características especiais. Os meios de transmiss?es tinham assim que possuir alcances muito maiores, ser estanques e resistirem à humidade (ME, 1963).Atividade operacional das Transmiss?esEm Mo?ambique, como tivemos a oportunidade de referir anteriormente, o conflito armado decorreu em três teatros distintos: Cabo Delgado, Niassa e Tete. A configura??o física diferenciada das regi?es que constituíam estes teatros, exerceu uma grande influência sobre a condu??o das diferentes linhas de opera??es. Dentro deste contexto, podemos dizer que a dist?ncia e as más vias de comunica??o condicionaram toda a manobra militar em Mo?ambique, assumindo as comunica??es um papel determinante para o seu sucesso.As opera??es militares desenrolaram-se inicialmente no Norte e, posteriormente, na regi?o de Tete (extremo Oeste), longe das zonas mais densamente povoadas e da Capital, que se situavam no extremo Sul do território. A grande extens?o das linhas de comunica??es entre as bases de apoio e as zonas de guerra, associada à própria configura??o do território, foram fatores determinantes na condu??o das opera??es tanto ao nível estratégico como tático.O apoio de transmiss?es às principais linhas de opera??es era da responsabilidade do Comando das Transmiss?es. Esta coordena??o, ao mais alto nível, tornava-se necessária devido à natureza mais complexa de algumas opera??es, relativamente ao que era habitual (COFI, 1972). As Opera??es “Nó Górdio”, “?guia”, “Zeta” e “Fronteira”, constituem bons exemplos do que aqui se refere. Dada a grande dispers?o em que tinham em regra, de atuar, as Unidades necessitavam de uma maior quantidade de sobressalentes, aparelhos de rádio e até de um certo número destes últimos em reserva. Dentro deste contexto, mesmos os baixos escal?es tinham, de uma maneira geral, necessidade de ser dotados com meios de transmiss?es.A complexidade das redes de comunica??es a montar e a explorar, bem como a quantidade e especificidade técnica dos materiais a distribuir e a utilizar, obrigava à utiliza??o de pessoal qualificado e especializado para operar os sistemas de comunica??es. Esta situa??o era muitas vezes agravada devido à existência de deficiências de instru??o de algum pessoal.Os complexos sistemas de apoio logístico e o Comando e Controlo (C2) das for?as no terreno, obrigavam a uma necessidade constante de garantir permanentemente comunica??es fiáveis entre todas as Unidades militares e órg?os da administra??o civil do território, de forma a garantir a necessária articula??o de esfor?os e a sincroniza??o das opera??es.A existência de um adequado sistema de controlo dos meios de transmiss?o, em todo o território mo?ambicano, assumia também particular import?ncia para fazer face a altera??es da ordem, dada a proje??o assumida por estes meios de difus?o, n?o só para evitar a utiliza??o dos mesmos pelo Inimigo como também para permitir a sua utiliza??o pelas For?as Armadas (ME, 1966).Dispositivo Militar e Organiza??o das Unidades de Transmiss?esA estrutura da Arma de Transmiss?es, na Regi?o Militar de Mo?ambique, encontrava-se essencialmente orientada para uma atua??o como Servi?o Logístico. Esta estrutura, apresentada na figura seguinte, incluía um ?rg?o de Dire??o e os necessários ?rg?os de Execu??o. O seu ?rg?o de Dire??o, o Comando das Transmiss?es, possuía uma dupla fun??o de Comando da Arma e de Chefia de Servi?o (EME, 1990).Organiza??o da Arma de Transmiss?es na Regi?o Militar de Mo?ambiqueA execu??o do Servi?o de Transmiss?es (ME, 1963a), contemplava os seguintes tipos de Unidades: Unidades de Reabastecimento e Manuten??o de Material de Transmiss?es, destinadas a assegurar o funcionamento de ?rg?os de reabastecimento e a executar a manuten??o de material de transmiss?es; Equipas de Informa??es Técnicas, destinadas a examinar, sob os aspetos técnico e de informa??es, o equipamento apreendido ao Inimigo.Do Comando das Transmiss?es, em Nampula, dependia, tal como em Angola, uma Companhia de Reabastecimento e Manuten??o de Material de Transmiss?es (CReabManMatTm), localizada na mesma cidade, com um pelot?o em Louren?o Marques. Esta Companhia, acionava diretamente os Destacamentos de Reabastecimento e Manuten??o de Material de Transmiss?es (DestReabManMatTm) que apoiavam os setores operacionais ou Comandos Territoriais na Beira, Porto Amélia, Marrupa, Vila Cabral, Tete e Louren?o Marques (EME, 1988).A CReabManMatTm tinha a responsabilidade (EME, 1990) de: Assegurar a obten??o, armazenamento e distribui??o do material de transmiss?es de campanha a toda a Regi?o Militar de Mo?ambique; Realizar o 3? escal?o de manuten??o de todo o material de transmiss?es, na sua oficina fixa; Garantir o apoio direto aos Sectores Operacionais e aos Comandos Territoriais com órg?os de reabastecimento e manuten??o destacados, fornecimento de sobressalentes e realiza??o do 2? escal?o de manuten??o. Estes órg?os estavam autorizados a realizar o 3? escal?o de manuten??o desde que as suas limitadas oficinas tivessem capacidades técnicas para o efeito; realizar, a título eventual, trabalhos de 4? escal?o nas suas oficinas fixas, de acordo com as respetivas possibilidades técnicas e dos recursos locais existentes.Fonte: Relatório Logístico 1970 – QG/RMM – 4? Rep in (EME, 1990)Dispositivo do Servi?o de Transmiss?es na Regi?o Militar de Mo?ambiqueA partir de determinada altura (meados dos anos 60), reconheceu-se a necessidade de levar a descentraliza??o do servi?o o mais longe possível e para isso se criaram oficinas de radio-montador ao nível de cada batalh?o ou companhia independente.O dispositivo associado ao Servi?o de Transmiss?es na RMM, conforme aqui é referido, era o que se apresenta na figura anterior.A responsabilidade das Transmiss?es Permanentes estava cometida ao Servi?o de Telecomunica??es Militares (STM), cujo chefe de delega??o era também o Comandante das Transmiss?es. A Delega??o do STM na RMM era constituída pelo Destacamento do STM de Mo?ambique.De forma a possibilitar um melhor entendimento das altera??es verificadas na estrutura do dispositivo da Arma de Transmiss?es em Mo?ambique, apresenta-se, um quadro de evolu??o temporal do número de Unidades e Subunidades de Transmiss?es no Território Mo?ambicano.Sistema de Comunica??es PermanentesTanto as Comunica??es Permanentes do interior do Território como as respeitantes às liga??es com o exterior, estavam a cargo do STM. As instala??es do STM, após sucessivas obras de melhoria em toda a regi?o foram, a partir de 1970, consideradas como excelentes (Moreira, 1983). As cidades de Louren?o Marques, Beira e Nampula dispunham de redes telefónicas permanentes.Fonte: Relatório Logístico 1970 – QG/RMM – 4? Rep in (EME, 1990).Comunica??es Rádio do Sistema de Comunica??es Permanentes da Regi?o Militar de Mo?ambiqueQuanto às comunica??es rádio do Sistema de Comunica??es Permanentes (Figura 3), o território mo?ambicano encontrava-se coberto por redes rádio em fonia, em grafia e em rádio-teleimpressor (RATT), conforme refere o Coronel Bastos Moreira (1983). Com base nestas redes, estabeleceram-se liga??es rádio telefónicas entre: Louren?o Marques, Beira e Nampula; Nampula Porto Amélia e Mueda; Nampula, Marrupa e Vila Cabral; Louren?o Marques, Boane e Xefina; Beira, Tete e Vila Perry.Nampula encontrava-se ligada ponto a ponto em fonia, grafia e RATT com Tete, Mocuba, Beira e Louren?o Marques. Relativamente ao exterior, estavam asseguradas diversas liga??es em grafia e fonia, sendo consideradas prioritárias as seguintes liga??es: Nampula – Lisboa; Louren?o Marques – Lisboa; Louren?o Marques – Luanda.Relativamente ao equipamento de comunica??es utilizado nas redes permanentes, foram desenvolvidos estudos prévios dos sistemas de cobertura do território de Mo?ambique e adquiridos alguns equipamentos rádio HF. Inicialmente, foi adquirido material Marconi de boa qualidade tendo, posteriormente, sido adotados os Standard 300 e 75 Watts no decurso do desenvolvimento e expans?o do STM, essencialmente ao longo dos anos 60.Na área do material telefónico, foram inicialmente utilizados os antigos telefones e comutadores S-33 e D Mark V. Progressivamente, estes equipamentos, foram sucessivamente sendo substituídos por aparelhos telefónicos EE-8, BLC-63, OB-ZB e por comutadores BL-10 (Moreira, 1983).O material telegráfico utilizado era constituído essencialmente por teleimpressores Olivetti.Sistema de Comunica??es de CampanhaAs redes que asseguravam as Comunica??es de Campanha, eram instaladas e operadas pelas Unidades que se encontravam em situa??o de quadrícula ou em opera??es. O Batalh?o de Transmiss?es N?2 (BTm2) apoiava também essas Unidades, contribuindo para assegurar a sua liga??o aos Comandos de Sector e a interliga??o dos principais Comandos do dispositivo operacional da Regi?o Militar de Mo?ambique. O apoio do BTm2 assumia um papel determinante no refor?o dos meios de Transmiss?es org?nicos das Unidades, nomeadamente, durante a condu??o de opera??es de alguma envergadura.Os equipamentos rádio inicialmente utilizados apresentavam algumas limita??es técnicas e operacionais tendo sido mais tarde as Unidades reequipadas com equipamentos tecnologicamente mais desenvolvidos e adequados às características do terreno, clima e ambiente operacional. Especialmente importantes na defesa perimétrica das povoa??es e na organiza??o das atividades das bases de opera??es e das bases logísticas, foram instaladas redes telefónicas de campanha, dentro do possível, com o recurso ao material distribuído às Unidades, composto essencialmente por telefones BLC-63 e por comutadores BL-10.Sustenta??o Logística do Sistema de Comunica??esNo respeitante à Logística, as Unidades e ?rg?os de Transmiss?es eram apoiadas inicialmente pela 2? Sec??o do Depósito Geral de Material de Engenharia (DGME), transformada posteriormente em Depósito Geral de Material de Transmiss?es (DGMT). Este Depósito, inicialmente apenas com a fun??o de reabastecimento, acabaria por ter a necessidade de concentrar, rever e reparar os equipamentos a enviar para o Ultramar, sendo para esse efeito refor?ado com a fun??o de manuten??o que lhe passou a pertencer a título definitivo.As campanhas do Ultramar vieram impulsionar este órg?o de reabastecimento para a din?mica da manuten??o, levando-o a constituir, num curto espa?o temporal, uma importante Unidade Logística no ?mbito da Arma de Transmiss?es.O início do levantamento de sistemas logísticos nos territórios ultramarinos, só veio a surgir a partir de 1961 em Angola, com o aparecimento de um Pelot?o de Reabastecimento e Manuten??o de Material de Transmiss?es que viria a ser incluído na estrutura do Batalh?o de Transmiss?es N?3. No entanto, este modelo n?o foi adotado em Mo?ambique, uma vez que este Pelot?o n?o apresentava ainda uma plena articula??o com o DGMT de Linda-a-Velha pois a sua atividade estava essencialmente orientada para a satisfa??o das necessidades locais (Moreira, 1983). Este sistema, viria mais tarde a alargar a sua dimens?o e estrutura tanto em Angola como em Mo?ambique.No Teatro de Opera??es de Mo?ambique, o apoio logístico garantido pela Arma de Transmiss?es, obrigou ao levantamento de uma estrutura territorial que permitisse assegurar a sustenta??o dos Sistemas de Transmiss?es de Campanha e Permanentes aí existentes. Em Mo?ambique, a cadeia logística do equipamento de Transmiss?es (Reabastecimento e Manuten??o) escalonou-se a partir da Sede do Comando da Regi?o Militar (3? e 4? escal?es), nas sedes dos Comandos de Sector (2? e 3? escal?es), onde foram instalados Destacamentos da Unidade de Reabastecimento e de Manuten??o, e nas Unidades de escal?o Batalh?o (1? e 2? escal?es) empregando as suas próprias dota??es org?nicas.O Depósito Geral de Material de Transmiss?es, embora sem constituir um escal?o hierárquico relativamente aos órg?os logísticos incluídos nas Unidades de Transmiss?es, passou a funcionar como o ?rg?o logístico de Base e como coordenador fundamental de toda a cadeia logística, atuando sobre direto controlo da Dire??o da Arma de Transmiss?es.Sistema Logístico das Transmiss?esComo já tivemos a oportunidade de referir, o Reabastecimento e a Manuten??o do material de transmiss?es no Teatro de Opera??es de Mo?ambique, eram garantidos pela CReabManMatTm, sediada em Nampula, que acionava, diretamente, os DReabManMatTm em apoio dos Sectores Operacionais ou Comandos Territoriais na Beira, Nampula, Porto Amélia, Marrupa, Vila Cabral, Tete e Louren?o Marques.De uma forma geral, pode dizer-se que o sistema de sustenta??o logística do Sistema de Transmiss?es funcionava da seguinte forma (Moreira, 1983): As Unidades requisitavam diretamente os meios e os servi?os ao Comando das Transmiss?es; O Comando das Transmiss?es dava ordem para fornecimento à Companhia de Reabastecimento e Manuten??o de Material de Transmiss?es (CReabManMatTm), que o executava, fazendo chegar os equipamentos ou servi?os solicitados diretamente às Unidades ou através dos Destacamentos de Reabastecimento e Manuten??o de Material de Transmiss?es; Os artigos críticos eram controlados pela 4? Reparti??o/QG.O abastecimento dos equipamentos de transmiss?es bem como da maioria dos sobressalentes à RMM processava-se, principalmente, a partir do DGMT em Lisboa, como já tivemos a oportunidade de referir. No mercado local, embora bastante limitado, faziam-se, por vezes, algumas aquisi??es de sobressalentes para repara??es urgentes. Quanto à manuten??o, até ao 2? escal?o, esta era realizada nas oficinas de radio- montadores das Unidades tipo batalh?o. Parte do 3? escal?o era realizado nas oficinas móveis, sendo o grosso deste escal?o efetuado na oficina regional (fixa) que pertencia à CReabManMatTm. Sempre que estas oficinas n?o tinham capacidade para recuperar o material este era evacuado diretamente para a CReabManMatTm.O Destacamento do STM, continha em si mesmo a sua própria logística pelo que n?o se apoiava na cadeia logística da CReabManMatTm do Batalh?o de Transmiss?es N?2. Esta situa??o dual, foco de acesas discuss?es, assentava na altura no velho princípio de que as transmiss?es do tempo de paz n?o se deviam confundir com as do tempo de opera??es por aquelas serem permanentes e estas eventuais.Sincroniza??o dos Sistemas de Comunica??es do Exército e Inter-Ramos? semelhan?a do que se verificava com grande parte do restante equipamento e armamento que as for?as militares dispunham para conduzir a guerra de contraguerrilha, alguns dos equipamentos de transmiss?es n?o eram os mais adequados para o clima e o terreno de Mo?ambique.Quer devido a problemas estruturais, associados à dire??o e coordena??o da estrutura de topo das For?as Armadas, quer devido à falta de capacidade de produ??o e obten??o dos meios mais adequados para o combate, o apoio de comunica??es teve que enfrentar algumas dificuldades tanto ao nível da opera??o como da sustenta??o logística dos meios.De facto, ao nível do Governo Central, o Ministério do Exército, o Ministério da Marinha e a Secretaria de Estado da Aeronáutica, geriam os seus or?amentos e recursos como se cada um estivesse empenhado de forma independente no conflito, resultando que os equipamentos dos vários Ramos eram muitas vezes incompatíveis entre si (Afonso et al, 2000). O exemplo mais grave destas incompatibilidades foi, sem dúvida, o das comunica??es. A maioria dos equipamentos rádio da Marinha e da For?a Aérea e as frequências em que estes podiam operar n?o permitiam a liga??o com os do Exército. Este facto, obrigava a trocar equipamentos sempre que se conduziam opera??es conjuntas, procurando-se criar, de forma expedita, “relés” e códigos de comunica??es que permitissem assegurar a liga??o entre os Ramos durante a condu??o das Opera??es. O relato elaborado pelo TCor PQ Bragan?a Moutinho (1986), após a realiza??o da Opera??o “Penada” (06-30 Abril de 1972), constitui um bom exemplo dos problemas logísticos, registados ao nível da inexistência de sobressalentes e da falta de interoperabilidade dos equipamentos de transmiss?es dos diferentes Ramos, que afetavam o apoio de transmiss?es. A esse propósito refere, “A opera??o iniciou-se sem que houvesse pilhas em quantidade suficiente para todos os E/R TH-766. Os DO-27 utilizados para PCV (Posto de Comando e Vigil?ncia) tinham, como já é hábito, o ARC-44 em muito mau estado de funcionamento, sendo difíceis as comunica??es ar – terra. Com os helis n?o houve qualquer dificuldade na mesma comunica??o. Refira-se ainda a inexistência dum segundo par de auscultadores no avi?o o que acarretou dificuldades e grande demora nos contactos com as FT (For?as Terrestres) e liga??o piloto - comandante.”Embora algumas destas incompatibilidades apenas dificultassem o apoio mútuo e tivessem import?ncia menor, o facto é que prejudicavam a coopera??o inter-for?as. Esta situa??o, causava alguns problemas, nomeadamente, quando se tornava necessário transportar for?as terrestres em meios aéreos ou navais, ou em as fazer operar em conjunto. Estas dificuldades, foram, no entanto, frequentemente resolvidas com base na experiência e na capacidade de adapta??o das nossas for?as, à custa de maiores ou menores riscos, ou de trocas e adapta??es de equipamentos inopinadas (Aniceto et al, 2000).Ultrapassada a fase inicial da guerra, depois de as for?as portuguesas terem substituído o material NATO da II Guerra Mundial por outro predominantemente alem?o e francês, o seu equipamento ficou razoavelmente adequado tanto ao nível da guerra como ao próprio clima e terreno da RMM.As Transmiss?es no apoio à condu??o da a??o contra subversivaDevido à sua especificidade, a campanha de Mo?ambique permitiu testar novas doutrinas e táticas de guerra contra subversiva. Tendo por base as li??es aprendidas, decorrentes da utiliza??o das Transmiss?es, aos níveis estratégico, operacional, tático, logístico e organizacional, foi possível retirar importantes orienta??es para a condu??o do apoio de Comunica??es.De entre os aspetos relevantes a extrair, do ponto de vista doutrinário, gostaríamos de referir os seguintes:As normas de funcionamento do Sistema de Transmiss?es em guerra subversiva revelaram-se, na prática, semelhantes às seguidas em guerra convencional;A sincroniza??o dos diversos sistemas de comunica??es intra e inter Ramos, constitui um elemento essencial ao sucesso das opera??es, impondo a necessidade de garantir a compatibilidade e a interoperabilidade dos meios de transmiss?es utilizados pelos três Ramos das For?as Armadas;A defini??o e utiliza??o de equipamentos apropriados às condi??es climatéricas dos territórios ultramarinos e à guerra subversiva, assume particular import?ncia para garantir a fiabilidade e disponibilidade dos Sistemas de Comunica??es:A descentraliza??o, deve ser levada o mais longe possível na atua??o do servi?o de transmiss?es dadas as características da guerra e a grande dispers?o das Unidades. Durante todo o período de dura??o do conflito, revelou-se sempre aconselhável atribuir às Unidades sobressalentes e aparelhos de rádio em quantidades superiores às normais e, ainda, constituir reservas de equipamento rádio nas Unidades mais isoladas;Ao longo do conflito, constatou-se também que os mais baixos escal?es tinham necessidade de ser dotados com aparelhos rádio, possibilitando uma maior flexibilidade e coordena??o do seu emprego tático.Da análise efetuada ao longo do presente artigo, poderemos constatar que as Transmiss?es tiveram um papel determinante para o relativo sucesso da a??o das nossas for?as no Teatro de Guerra de Mo?ambique. Mais do que afirmar a “ubiquidade” herdada das suas raízes na Arma de Engenharia, a a??o das Transmiss?es nesta campanha, permitiu “cimentar” e “consolidar” o dispositivo militar, apoiando a condu??o de uma eficaz a??o contra subversiva. 3289300BibliografiaAFONSO, Aniceto et al. (2000). Guerra Colonial, 2? Edi??o, Editorial Notícias, Lisboa.ARRIAGA, General Kaulza de (1983). A Luta em Mo?ambique: 1970/ 1973, Biografias – Kaulza de Arriaga, Lisboa.ARRIAGA, General Kaulza de (1984). Mo?ambique: Presen?a Portuguesa, in Revista Mais Alto, N? 232, p. 22-31, Lisboa.CASTRO, Armando (1980). O Sistema Colonial Português em ?frica (meados do século XX), 1? Volume, Editorial Caminho, Lisboa.COFI (1972). Opera??o “Nó Górdio”, Relatório de A??o N?07/72, Regi?o Militar de Mo?ambique, Nampula.EME (1988). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de ?frica (1961-1974), 1? Volume – Enquadramento Geral, Estado-Maior do Exército, Comiss?o para o Estudo das Campanhas de ?frica, Lisboa.EME (1989). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de ?frica (1961-1974), 4? Volume – Dispositivo das Nossas For?as em Mo?ambique, Estado-Maior do Exército, Comiss?o para o Estudo das Campanhas de ?frica, Lisboa.EME (1990). 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Volume, Regimento de Transmiss?es, Lisboa.MOREIRA, Coronel Bastos (1983). Notas sobre as Transmiss?es Militares em Portugal, 2? Volume, Regimento de Transmiss?es, Lisboa.UC (2003). Site da Universidade de Coimbra referente à Guerra Colonial, 22H54. ................
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