- Frank Carlucci em discurso directo pp 1250/1265



In “Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975” de Manuel Amaro Bernardo

Tenente General Sousa Menezes (1)

P: Embarcou para Moçambique apenas depois do 25 de Abril ?

R: Do antecedente estava nomeado para Moçambique, com a finalidade de comandar o Sector B, de Cabo Delgado. Mas não embarquei, para acabar o ano lectivo do IAEM, onde era professor, o que sucedia em Junho / Julho de 1974.

Entretanto ocorreu o 25 de Abril, terminando, então, os cursos do Instituto de Altos Estudos Militares e embarquei, por cerca de 8 ou 10 de Maio. Mas já não fui para Cabo Delgado. Fiquei retido em Nampula, como Chefe do Estado Maior do Comandante-Chefe, que se deslocara comigo, o General Orlando Barbosa.

P: Quer dizer que chegou lá cerca de 15 dias depois do 25 de Abril...

R: Sim. O Barbosa substituiu o General Bastos Machado, e eu, o Brigadeiro João Correia.

P: Qual foi a situação global militar, que foi encontrar nesse território ?

R: Uma situação de confusão e de grande indefinição. De início, não tive tempo para me aperceber se estava melhor ou pior do que a existente, quando saí de lá, em fins de 1971. Havia grandes atropelos na cadeia de comando próprios do período revolucionário, que se devia moderar o mais rapidamente possível. Mas, em breve, pude constatar que, nem de longe nem de perto, a população estava do lado da subversão. Em termos sucintos, a implantação política da FRELIMO continuava forte em Cabo Delgado, fraca no Niassa, activa mas incipiente no distrito de Tete e praticamente inexistente no distrito de Nampula e daí para Sul, da Zambézia até à então Lourenço Marques.

Mas não tive tempo para me aperceber correctamente da realidade da guerra, visto que, quando lá cheguei, já se desenvolviam, em larga escala as agitações do cessar fogo, da paz e dos contactos com a FRELIMO...

Assim toda a atenção das pessoas, combatentes inclusivé, deslocava-se mais no sentido da trégua, da paz, não combater, não morrer..., do que da guerra. No entanto, por exemplo, a situação na área de barragem de Cabora Bassa estava normalizada e com uma defesa bem organizada...

P: Segundo me disseram tinha havido infiltrações a Sul do Zambeze...

R: Sim. Na região de Gaza, mas não tinham qualquer significado. Mesmo as propaladas infiltrações na zona do Rio Zambeze, incluindo as que se queriam atribuir ao Eng.º Jorge Jardim, não passaram de boatos. Na Zambézia, nós tínhamos apenas quatro companhias, para garantir a segurança de tão grande área.

Prisão da PIDE/DGS e actividades partidárias

P: O que se passou com a DGS em Moçambique ?

R: Em relação a essa organização, houve um período de indefinição da parte do poder central. A sensação retida quando ainda cá estava e, depois, lá confirmei, é que a parte militar da revolução do 25 de Abril, os Generais António de Spínola e Costa Gomes, que tinham trabalhado na guerra com o apoio da DGS, estavam com muito medo de a dissolver pura e simplesmente. Na minha opinião, com razão. Até, em Angola, a situação foi mais coerente e nítida, no sentido de mudar algumas pessoas e não de acabar com a DGS.

Quando cheguei a Moçambique, a DGS ainda funcionava. Depois, face à pressão da esquerda do MFA e dos Democratas de Moçambique (brancos, também ligados ao Dr. Almeida Santos e ao então recém-nomeado Governador, Dr. Soares de Melo), acabou por haver uma ordem de prisão a toda aquela gente da DGS.

P: Muitos fugiram e a grande maioria, na altura do 7 de Setembro, evadiu-se das prisões, para o estrangeiro...

R: Sim. Julgo que, quando viemos embora, não ficou ninguém preso nas cadeias da FRELIMO.... Você, como esteve lá, sabe perfeitamente que essa organização foi muito importante em termos de pesquisa de informação de guerra, nomeadamente, nos territórios vizinhos. Até nos interrogatórios dos prisioneiros, a DGS era mais especializada e perita em conseguir informações locais (podendo haver, por vezes, alguns exageros), do que os militares, com os seus rudimentares meios, nesse aspecto.

P: Entretanto passou a haver agitação social e laboral, com greves...

R: Sim. Principalmente em Lourenço Marques e Beira e, nomeadamente, nas zonas portuárias e industriais... A situação até ao Acordo de Lusaca foi um tanto confusa.

Também houve uma certa agitação junto à costa Norte, em António Enes. Pode-se dizer que foi uma reacção dos pretos contra os brancos, mas, sobretudo contra os indianos que, naquela zona, dominavam todo o comércio do cajú e do amendoim. Faziam as compras e trocas através das cantinas e embarcavam, para a Índia, os produtos através do porto de António Enes. Houve uma grande reacção. Chegaram a fazer uma manifestação numa Praça de Nampula, em frente ao Quartel General...

P: Soube que aqueles partidos, em actividade depois do 25 de Abril, como o do Domingos Arouca, chegaram a ir à Tanzânia contactar com a FRELIMO ?

R: Não soube. Apenas sei que me apareceu, em Nampula, talvez em fins de Maio, a Dr.ª Joana Simeão, recomendada pelo Coronel Ferreira da Cunha, do Estado Maior General das Forças Armadas. Chegou a minha casa por cerca das 22H00 a pedir-me apoio. Perguntei-lhe qual.

Dizia ela: Quero fazer aqui uns comícios e umas festas e precisava que nos arranjasse uns caldeiros, mesas e bancos do Exército, para o campo do Ferroviário...

A minha resposta foi negativa, pois, naquela altura, já existindo cerca de dez partidos, era muito complicado satisfazer essa solicitação. Dizia-me que tinha quatro Land-Rover, para fazer a sua propaganda. Depois, ainda me apareceu outra vez, vindo a saber, mais tarde que tinha sido presa na Machava e enviada posteriormente para um denominado campo de reeducação. Julgo que foi morta por lá...(2)

Contactos para a descolonização e problemas militares

P: Entretanto, no início de Junho, Mário Soares e Otelo foram-se encontrar com o Samora Machel, em Lusaka. Deslocou-se alguém de Moçambique ?

R: Oficialmente não. Pelo menos, que eu soubesse.

P: Soube que antes, em 1973, tinha havido já divergências entre o General Kaúlza e o Eng.º Jorge Jardim, em relação à solução do problema moçambicano?

R: Eu não conhecia o plano do Jorge Jardim em pormenor, mas sabia que tinha a ver com a independência de Moçambique. Mais tarde encontrei-o explicitado no seu livro Moçambique Terra Queimada. Jorge Jardim, no encontro do Lago Niassa, disse-me ter apresentado esse plano ao Presidente Kaunda, da Zâmbia, que o tinha apreciado com simpatia, tal como sucedera com o Nierere, da Tanzânia. Apenas faltaria falar com o Samora Machel. Até lhe disse: Eu vou fazer o possível para que isso aconteça. O que não consegui.

P: Essa conversa ocorreu em 21 de Agosto, mas, entretanto, já o Melo Antunes se tinha encontrado secretamente, com Samora Machel, em Dar-es-Salan, acompanhado do Almeida e Costa, de 30 de Julho a 2 de Agosto.(3)

R: Desconheço. Nem dei por isso.

P: Considera que o MFA local fazia pressões para que a tropa se manifestasse em relação ao fim da guerra e que viessem para Portugal o mais depressa possível ?

R: Sim. Houve um problema grave em Mueda. Havia lá um médico cirurgião, no hospital do Sector, o Dr. Furtado de Coimbra, que manobrava e influenciava nesse sentido, juntamente com outros oficiais e sargentos, sendo todos (ou quase) do quadro complemento.

P: E que estavam em ligação com o MFA de Nampula, como o Mário Tomé, o Cuco Rosa e o Aniceto Afonso...

R: Talvez. Nunca dei muito pelo Cuco Rosa, mas devo dizer que o Tomé e o Afonso me foram sempre leais. Diziam que lá havia um intelectual revolucionário, chamado Brederode dos Santos, mas nunca lhe liguei importância.

Em Mueda, a situação estava muito mal e até cheguei a pensar que a guarnição se ia render... Quem aguentava aquilo, com muita dignidade, era o Ten-Coronel Vilhena de Andrade e os velhos 1.ºs sargentos das companhias, que eram poucos.

Em 26 de Julho, ameaçaram fazer um acordo unilateral de cessar-fogo com a FRELIMO. Por acaso, nesse dia, chegou uma delegação do MFA de Lisboa, composta pelo Ten-Coronel Fisher Lopes Pires, pelo Capitão Tenente Vítor Crespo e pelo Major da Força Aérea Fernando Seabra. Fiz-lhes um briefing rápido e depois disse: Se vocês quiserem prestar um bom serviço aqui, à Região Militar, é embarcar amanhã para Mueda e fazer lá umas "banjas" (sessões de esclarecimento). Porque será vergonhoso se aqueles «tipos» resolverem abandonar as suas posições e entregar aquilo à FRELIMO.... De facto, assim foi e aquela situação acabou por acalmar.

A revolução brandia uma arma terrível que quase paralisava a vontade dos quadros permanentes. Sabia-se que essa arma tinha sido decisiva nas revoluções vermelhas dos países do Leste - o saneamento militar, às vezes seguido do fuzilamento, como aconteceu na Rússia, nos anos 20. Tratou-se do esquema mais feroz, montado no consciente dos militares. Toda a gente tinha medo de ser saneada. A disciplina militar e o cumprimento das ordens estavam profundamente afectadas pela desconfiança e pela incerteza.

Portanto, na minha opinião, naquele processo de descolonização ou se avançava rapidamente, à semelhança do que sucedia na Guiné, ou podia cair-se no descalabro. Antes de Lusaka, em Cabo Delgado, já havia contactos locais com a FRELIMO.

P: O que aconteceu com a tropa do recrutamento da Moçambique, como os GE e os GEP ?

R: Acabaram por se diluir no meio daquelas estruturas todas. Isso aconteceu depois de Lusaka. Passou a funcionar uma Comissão Militar Mista, criada pelo Acordo de Lusaka, onde os elementos da FRELIMO iam todas as 4.ªs feiras falar connosco, no sentido de colaborar com eles. Fartei-me de insistir, com os membros FRELIMO dessa Comissão, para aproveitarem aqueles homens, pois não possuíam qualquer formação ideológica. Creio que tentaram aproveitar muita gente.

P: Um alferes dos GE era irmão do Chissano...

R: Sim. Mas julgo que depois se viu aflito, pois os outros camaradas não o aceitaram... Por ter sido colaboracionista...

Retracção do dispositivo e a rendição de Omar

P: Quanto ao tão falado caso de Omar, o que tem a referir ?

R: Tenho o relato do sucedido e o inquérito que mandei fazer. Embora no Museu da Liberdade, em Lourenço Marques, lá esteja bem destacada a grande vitória de Omar, apresentando um móvel com 130 espingardas G 3, capturadas aos portugueses e que nunca quiseram restituir... (julgo terem sido as únicas espingardas G 3 que eles nos capturaram, durante a guerra) o que há a salientar é o seguinte.

Em Nampula já estávamos a mandar recolher tropas. Uma das Unidades que ia ser recolhida, salvo erro, em 8 de Agosto, cerca de um mês antes da reunião de Lusaka, era precisamente Omar. Situava-se num ponto alto, a dominar o Rio Rovuma, em baixo e, do outro lado, via-se a Tanzânia até cerca de 30 Kms, observado-se com binóculo, quando havia condições para tal, duas bases da FRELIMO, perto da fronteira.

Aquele aquartelamento barrava uma linha de infiltração, possuía uma pista de aviação de 600 metros para DO e Cessna e tinha sido reforçada com dois obuses de 14 cm, para impor algum respeito. Esse esquema já vinha do tempo do General Kaúlza de.Arriaga.. No lado Sul existia uma pequena mata.

Tínhamos pensado retirar o pessoal, para o quartel do Batalhão de Nangade, a 30 Km, a Sul, em três vagas de cinco helicópteros cada, com as armas individuais (G 3) e numa anterior primeira vaga, apenas as malas de mão dos homens. A Logística começou a trabalhar no caso e, quando abordámos a existência dos referidos obuses, falámos para o Alferes Miliciano Costa Monteiro, Comandante interino da Companhia, do recrutamento de Moçambique - o efectivo, capitão miliciano, estava doente em Lourenço Marques -, sobre a viabilidade dele destruir esse material. Como o de Porto Amélia não estava em condições de cumprir essa tarefa, ficou previsto deslocarem-se lá dois oficiais, para efectuar a destruição em 4 de Agosto, salvo erro.

Como houve uma ida prévia, para reconhecer o trabalho a realizar, supõe-se que a notícia da destruição dos obuses, a consumar até ao dia 8, tenha sido do conhecimento da FRELIMO e Omar acabaria por se render às 5H00 da manhã, do dia 1 de Agosto.

Ao saberem da prevista retirada, montaram altifalantes poderosos ao nascer do dia e ocorreu um diálogo deste género: A guerra já acabou!. Resposta: Não acabou nada! Retorquiram: Então chama lá o Comandante. Nós somos da FRELIMO e vamos festejar a paz! Também, havia três dias, que o Rádio Clube de Moçambique vinha propagandeando, estar a ocorrer a paz no Norte, tendo Mueda já declarado efectivo o cessar-fogo.

P: O Rádio Clube devia estar controlado pelos designados democratas, ligados à FRELIMO...

R: Parecia que estava tudo montado... No entanto, como aquela actuação foi tão perfeita, até podia ter acontecido por acaso. Mas não. Estaria tudo planeado, no devido timing, para eles...

P: Como já referi, segundo declarações de Melo Antunes, muitos anos depois, ele e Almeida Costa negociavam secretamente o cessar fogo com a FRELIMO desde 30 de Julho, antevéspera dessa acção, tendo a conversa acabado no dia seguinte, 2 de Agosto...

R: Creio que o Comandante Vítor Crespo tem gravações das conversas de Omar. Não as ouvi e apenas tive conhecimento da existência delas, recentemente. O Comandante da força dos guerrilheiros era o Alberto Chipande, o guerrilheiro mais culto deles e que, depois, viria a ser Ministro da Defesa...

Com aquele apelo para irem festejar, com uns copos, fora do quartel, o tal apregoado cessar-fogo, o alferes, com mais dois ou três militares, vieram à frente da porta de armas, enquanto a FRELIMO, com mais de cem homens, entravam pela retaguarda e tomaram conta do quartel. Foi esta a grande acção e a sua grande vitória ... (4)

Ainda fugiram alguns militares nossos, três deles de cor, com quem falei em Nampula...

Esclarecendo o encontro com o Eng.º Jorge Jardim

P: Depois, no Lago Niassa, ocorreu um seu contacto com o Eng.º Jorge Jardim, que tinha sido alvo de um mandado de captura passado pela JSN, ou pelo então General Costa Gomes, e que fugira da embaixada do Malawi, em Lisboa, em 13 de Junho.

R: Sim. Mas havia antecedentes. Em princípios de Julho, a FRELIMO anunciou, pela boca do seu chefe, que tinha aberto uma nova frente de combate na Zambézia. Os nossos responsáveis, não tínham dado por isso e o próprio Governador daquela área, também militar, desconhecia a nova frente.

Paralelamente, dentro do Quartel General, em Nampula, alguns oficiais muito próximos do MFA, começaram a anunciar com insistência que o Eng.º Jorge Jardim ia atacar a Zambézia com os mercenários e com as forças que o seu auxiliar, Orlando Cristina, ainda dispunha.

Estas notícias eram um tanto intrigantes, pois as informações colhidas através de gente ligada ao Eng.º Jardim, diziam que ele pretendia fazer vingar o seu plano, sobre a independência de Moçambique. Como já referi, teria sido apresentado e discutido com o Dr. Banda e com gente dos presidentes da Zâmbia e da Tanzânia. Afirmava-se, igualmente, que esse plano não seria indiferente ao Presidente Samora Machel. Isto, para nós, significava que Jardim queria voltar a Moçambique pela porta da paz e não pela porta da guerra.

Por outro lado, aqueles que conheciam o Eng.º Jorge Jardim, diziam ser ele suficientemente inteligente e astuto, para perceber que o fim da guerra era irreversível. Parecia mais seguro conseguir um encontro, para tentar saber claramente das suas intenções. Não podia ser convidado a vir a Moçambique, porque as nossas autoridades tinham ordem para o prender. Foi escolhido o limite separador das águas do Lago Niassa, onde a lancha de fiscalização portuguesa encontrou a sua congénere do Malawi, que transportava Jorge Jardim. Este encontro vem fielmente reproduzido no livro Moçambique Terra Queimada, escrito por ele, em 1976, desde a página 320 à 330.(5)

Posso referir que a reunião foi realizada sem a autorização das autoridades de Lisboa, resultando dela dois importantes esclarecimentos:

1. Ter a certeza que o plano de Jardim para a paz, em Moçambique era aceite pela Zâmbia e pela Tanzânia e como base de discussão com a FRELIMO.

2. Ter a garantia que Jardim não queria abrir uma frente de combate na Zambézia, o que, para a remodelação do nosso dispositivo, em curso, nos trazia uma grande tranquilidade.

Sobre este homem controverso e discutido, que a morte levou há poucos anos, muitos pensavam que ele seria indispensável a Moçambique independente. Sob o ponto de vista da descolonização, tínhamos a certeza que, se fosse aproveitado pelo novo país, a que se orgulhava sinceramente de pertencer, arrastaria com ele muita gente a ficar e a fazer sair Moçambique das dificuldades, por que passava e ainda passa. O mal foi, e ainda é, uma falta tremenda de elites capazes de pegar naquele monte de fome e de misérias.

P: Como disse não ter havido autorização de Lisboa, de quem foi a ideia de querer negociar, com o Jorge Jardim, a entrega dos documentos e fotos dos massacres de Wiriamu ? Naquelas páginas, que confirmou o seu conteúdo, Jardim afirma: Se aceitasse fazê-lo, toda a minha situação seria revista, cancelando-se o mandado de captura e cessando as campanhas contra mim(...). Como estas afirmações encaixam com o que referiu ?

R: De facto não se pediu autorização a Lisboa. Não pelo prazer da desobediência. O Comandante-Chefe, no seu papel natural, desejava pedi-la. A questão é que era fácil de prever a resposta, dado o mandado de captura existente contra o Eng.º Jorge Jardim. Como era imperioso ir ao Lago Niassa, havia que correr o risco.

Pela primeira vez vou falar sobre o assunto do Wiriamu. Quando este caso aconteceu, já tinha regressado a Lisboa (Novembro de 1971), onde vim frequentar o Curso de Altos Comandos. Considerei sempre Wiriamu e, ainda hoje considero um caso de guerra lamentável, mas compreensível para quem conhece da leitura ou das realidades, o que são estados de psicose colectiva nas guerras - a vingança trabalha como factor decisivo para salvar a honra dos camaradas, que foram emboscados e mortos. Pouco antes de ir ao encontro do Lago Niassa, alguém me falou nas fotografias que estavam na posse do Eng.º Jardim.

Era um bom assunto para iniciar a conversa e inspirar confiança. Tinha a certeza de que Jardim nunca revelaria essas fotografias. Era um homem digno e um patriota e prestara grandes serviços ao Exército. Além disso, as fotografias, existindo ou não, não significavam nada em relação à importância do que nos levou ao Niassa - saber das suas intenções face à nova evolução de Moçambique. Aliás, muitas delas já tinham sido reveladas pelos padres holandeses.

P: Chegou a manifestar a sua opinião, sobre Jorge Jardim, aos dirigentes da FRELIMO ?

R: Por minha livre iniciativa tentei, por várias vezes, convencer os dirigentes da FRELIMO a convidá-lo para colaborar no processo de descolonização. Numa certa altura, afirmei uma frase que, sendo ouvida, alguém lha transmitiu, pois fez a sua transcrição no referido livro: O Eng.º Jorge Jardim sabe mais de Moçambique a dormir, do que vocês, acordados!

Uma vez, Samora Machel perguntou-me se eu queria que ele ficasse em Moçambique. Respondi-lhe: Sei que não será fácil, dada a força dos inimigos, que tem aqui e em Portugal, mas era uma solução inteligente convidá-lo a ficar.

P: Foi o Major Águas Varela a proporcionar-lhe o contacto com Jorge Jardim?

R: Sim, com quem ele estava em permanente contacto. Também se falava sobre as suas ligações ao Pezarat Correia e ao Otelo Saraiva de Carvalho, em tempos recentes.

P: Além do que está publicado no livro, houve mais algo que queira referir ?

R: O descrito nessa obra, foi o que na realidade se passou. No entanto, ele nunca percebeu a razão de fundo que me levou ao encontro...

A certa altura tinha havido uma grande pressão do MFA / Quartel General, lançada pelo Mário Tomé e pelo Aniceto Afonso, no sentido de nos convencer de que o Jorge Jardim se prepararia para entrar pela Zambézia dentro. Como já referi, se isto fosse verdade, era gravíssimo para nós, porque se estávamos na fase de começar a retrair o dispositivo, não queríamos pôr mais nenhuma tropa naquela região. Então, se tal fosse levado a efeito, teríamos Moçambique praticamente dividido ao meio, o que complicaria qualquer sistema de evacuações, já em estudo avançado...

Quando nos encontrámos, acreditei no seu plano para Moçambique e que não pensava em mais guerras... Ia jogar tudo no sentido da paz, para ver se conseguia voltar para lá.

O Acordo de Lusaka e ainda Wiriamu...

P: Entretanto aproximavam-se as negociações de Lusaka, em princípios de Setembro...

R: Dias antes, corriam notícias de que a FRELIMO e Portugal iriam conversar, em Lusaka, sobre as possibilidades de estabelecer um acordo de cessar-fogo e de paz para Moçambique. De Lisboa, ninguém dizia nada para Nampula. Encontrando-me, por cerca das 21H00, do dia 4, no Quartel General apareceu o oficial de informações com uma mensagem, de Lisboa, a informar que, no dia seguinte, se iniciava a discussão de um acordo de cessar fogo, entre uma delegação do Governo português e outra da FRELIMO. Tenho quase a certeza que não falava na necessidade de mandar uma representação militar de Moçambique.

Fui ter com o General Orlando Barbosa, que se encontrava no cinema local, acompanhado do seu 2.º Comandante, Brigadeiro Frade Gravito e, num intervalo, discutiu-se e decidiu-se sobre a necessidade de enviar, a Lusaka, um oficial para defender a posição do Comando-Chefe de Moçambique. Depois de eu não considerar aconselhável a minha indigitação para o efeito, entre os possíveis, Mário Tomé, Aniceto Afonso e Alexandre Lousada, foi nomeado este último. Julgava-se ser um oficial, pertencente ao sector moderado do MFA, que, depois, veio a saber-se que não era. Partiu às 5H00 da madrugada seguinte, num Chessna, alugado de urgência, com a seguinte missão:

- Ser indispensável obter, com urgência, um acordo de cessar fogo, mesmo que houvesse que ceder no campo político.

- Ser necessário dispor de um mínimo, entre os 9 e os 12 meses para poder retirar as forças militares portuguesas de Moçambique.

Não confiávamos muito nos conhecimentos dos nossos negociadores de Lusaka sobre estes problemas, mas acabou por correr razoavelmente bem, pois a duração da transição conseguida foi de cerca de dez meses, até 25 de Junho de 1975. Na minha opinião, deveu-se à presença e aos conhecimentos dos três oficiais presentes, sobre a situação em Moçambique (salvo erro, Vítor Crespo, Almeida Costa e Alexandre Lousada) (6).

Quando o Lousada chegou a Lusaka, ficaram muito admirados, pois estavam à minha espera. Só que eu não lhes fiz a vontade. Ainda há pouco tempo encontrei o Almeida e Costa, que me disse: Nós pensávamos que era o senhor General a ir ter connosco a Lusaka!.

P: Como decorreram as vossas relações com os elementos da FRELIMO ?

R: Foram boas. Falei sempre com total franqueza, no sentido de ajudar Moçambique. Uma vez, em conversa com Samora Machel, disse-lhe: Em cada discurso que você fazia, quando atravessou o Rio Rovuma, eram dois ou três mil portugueses que se iam embora no dia seguinte.

P: Voltemos ainda ao sucedido no caso Wiriamu. Sabe que o Jorge Jardim veio, a Lisboa, fazer a denúncia ao Marcello Caetano do sucedido?

R: Já que quer, volto a dizer o pouco mais que sei sobre o assunto. Isso aconteceu no tempo do General Kaúlza de Arriaga e, depois, até foi determinado um inquérito, promovido por Lisboa e realizado pelo General Nunes da Silva.

Julgo ter ocorrido o seguinte. Wiriamu era um pequeno povoado situado a dois ou três quilómetros da estrada que ligava Tete a Vila Pery. Andava, na área, em patrulhamento, uma das companhias de Comandos, às ordens do Brigadeiro Videira. Não havia problemas nenhuns, até que, em certo dia, quando se deslocava um pelotão, julgo que em duas viaturas de cerca dez homens cada, foi-lhes montada uma emboscada, com accionamento de minas em simultâneo, em que morreram praticamente cerca de metade do efectivo (talvez doze).

Aquilo provocou grande efervescência e rancor na companhia. Vieram por ali abaixo e ao chegar àquela povoação, atiraram sobre tudo o que mexia, como vingança ao que tinham feito aos seus camaradas. Morreram, de facto, homens, mulheres e crianças...

Claro que, uma actuação deste tipo, aos olhos de padres estrangeiros, que nos consideravam como colonialistas, provocou toda aquela confusão, lançada na comunicação social europeia...

A insurreição branca ...

P: Enquanto assinavam os Acordos de cessar fogo em Lusaka, foi desencadeado aquele movimento do 7 de Setembro de 1974 ...

R. Quando se iniciaram os rumores sobre a reunião de Lusaka, começou a sentir-se, sobretudo em Lourenço Marques, um grande mal estar entre a população branca, porque não sabiam qual o seu futuro.

Não se deve esquecer haver, então, segundas e terceiras gerações de brancos, nascidos em Moçambique que, para eles, representava o seu país. Os dirigentes de Lisboa e da FRELIMO anunciavam, por todos os lados, que os brancos eram desejados em Moçambique, não tendo nada a recear.

No entanto, compreende-se o nervosismo daquela gente e a instabilidade das suas atitudes. Devo confessar que, depois de sentir, no aspecto militar, que a descolonização caminhava para um equilíbrio, o que mais me preocupava era o futuro de tantos portugueses, que tinham levado a vida inteira a criar bem estar para si e para as suas famílias. Preocupava-me, também, o futuro dos naturais de Moçambique, a quem previa muitos sacrifícios, fome e miséria,

Logo que se anunciou o acordo de Lusaka, foi fácil agitar as massas brancas contra tal acordo e procurar atacá-lo com forte propaganda contrária. O meio mais rápido e eficaz para o fazer, era tomar conta do Rádio Clube de Moçambique (RCM), uma potente estação de Rádio, de méritos consagrados e que cobria totalmente o país.

A pretexto de uma Bandeira Nacional, desfraldada, descendo uma avenida, apedrejada e vaiada não se sabe por quem..., assaltaram e ocuparam o RCM, para castigar o ultraje feito à Bandeira. Isto tinha sido desencadeado para excitar a população branca...

À frente do grupo assaltante apareceu o Daniel Roxo que, pela força do prestígio adquirido (branco, combatente do Niassa, condecorado três vezes pelo Exército Português), seria uma garantia de êxito.

Assim foi. Durante três dias, o RCM propagandeou sobre o acordo de Lusaka e contra as soluções encontradas para Moçambique ( a tese federalista era a mais defendida ). Devo dizer que essa propaganda incomodava bastante e criava nas populações determinadas esperanças. Nas nossas tropas fazia surgir o síndroma da desconfiança na retaguarda, o que era péssimo para quem reorganizava o seu dispositivo.

Foram estudados e discutidos planos para fazer calar o RCM: ou o ataque directo à sede ou o bombardeamento das antenas. Ambas foram rejeitadas, para evitar o derramamento de sangue. Aquela estação acabou por se render, três dias depois.(7)

O Daniel Roxo foi para a África do Sul e, mais tarde, para o exército de Ian Smith, onde combateu. Morreu em cima de uma mina anti-pessoal, na berma de uma estrada asfaltada. Recordo, com imenso respeito, este grande combatente.

P: Antes do 7 de Setembro, ele contactou consigo ?

R: Sim. Estava previsto fazer a evacuação da companhia de Olivença, nos primeiros dias de Setembro. Então, mandei chamar o Roxo, ao Quartel General, para ele ir fazer um reconhecimento de uma picada, há muito não utilizada, que ligava aquela povoação ao Cobué, no Lago Niassa. Também lhe disse que trataria da sua ida para Portugal, com a família, com o que ele concordou. Referiu também precisar de transferir as suas economias (cerca de 700 contos), que me comprometi a fazer, através dos nossos serviços de contabilidade.

No entanto, depois dessa missão, em vez de aparecer em Nampula, apenas informou o Comandante de Sector de Vila Cabral, da impossibilidade de tal deslocamento terrestre para o Cobué e, meia dúzia de dias depois, apareceu a chefiar o ataque ao RCM, em Lourenço Marques.

Aquela companhia seria evacuada em cinco voos de Nord Atlas, deixando no terreno cinco viaturas pesadas de engenharia.

Ainda o Acordo de Lusaka ...

P: O que resultou do Acordo de Lusaka ?

R: Como já referi, de uma maneira geral, satisfez as exigências fixadas para uma razoável descolonização militar. Na parte referente ao sector da defesa e segurança, salienta-se:

- A criação de um Alto-Comissário, que funcionou como responsável máximo pela defesa e segurança territorial de Moçambique;

- A montagem de uma Comissão Militar Mista, com a missão de controlar o acordo de cessar-fogo;

- A criação de um corpo de Polícia, a partir da existente, que continuava na dependência do Alto Comissário;

- O estabelecimento do cessar fogo, a partir da meia noite do dia 8 de Setembro e a fixação da data de independência para 25 de Junho de 1975, ou seja, dando um espaço de dez meses para que as forças portuguesas se pudessem reagrupar e embarcar de regresso à Metrópole.

O Alto Comissário funcionou em Lourenço Marques, o que obrigou a deslocar para lá o Comando-Chefe. Por avião, foi transportado o pessoal e o material mais crítico e, por estrada, as viaturas e o material pesado.

O Comando da Região Militar, em Nampula, assumiu as responsabilidades directas na condução das operações em Cabo Delgado e Niassa e de orientar e, de certo modo, dirigir as operações em Tete e Beira. Todos os órgãos políticos, portugueses e da FRELIMO ficaram na dependência directa do Alto Comissário e permaneciam onde se encontravam, naquele momento.

A Comissão Militar Mista (CMM) foi uma feliz decisão de Lusaka. Funcionou com intensidade, relativa eficácia e reunia obrigatoriamente uma vez por semana...

Nela foram discutidas e resolvidas questões, como controlo de armamentos, entrega de instalações, continuação de elementos das Forças Armadas Portuguesas para além da independência, reorganização de forças de polícia, detenções de militares portugueses por forças da FRELIMO, etc. Isto é, discutia-se e acordava-se, na CMM, tudo quanto respeitava ao sector militar terrestre, aéreo e naval. Mas também intervinha em conflitos de trabalho ou de fronteira, quando estes tendiam a agravar-se.

P: Depois do 7 de Setembro houve mudança nos comandos militares de Moçambique?

R: Regressaram o General Orlando Barbosa, os Brigadeiros Frade Gravito e Eurico Gonçalves e mais três pedras fundamentais do meu Estado Maior: o Coronel Sá Seixas, Chefe da 3.ª Repartição, o então Coronel Correia da Cruz, Chefe da 2.ª Repartição e o Coronel Passos, Chefe da 5.ª Repartição. Acabei por ficar rodeado de bons rapazes, que tinham boa vontade e muito colaboraram. O então Coronel Melo Egídio foi comandar o CTS (Lourenço Marques), o então Coronel Duarte Silva, o Sector de Tete e o Comando da Região Militar, em Nampula, foi entregue ao Brigadeiro Costa Pinto, vindo da Metrópole.

NOTAS:

(1) Entrevista (1.ª Parte)

Manuel Amorim de Sousa Menezes nasceu em 7-7-1921, em Angra do Heroísmo. Foi deputado à Assembleia Nacional, pelo círculo eleitoral dos Açores, em 1961-68. Fez três comissões em Moçambique, sendo, na última, Chefe do Estado Maior e, depois, Comandante Militar

Em 1975-76, já como brigadeiro, desempenhou as funções de Comandante Militar dos Açores e, depois, Comandante Geral da Guarda Fiscal. Depois da promoção a general foi Director do IAEM

Entre as obras publicadas, destacam-se: “A Política Ultramarina Portuguesa –1963”; “A Defesa dos Açores durante a II Guerra Mundial” (EME) -1988;” Subsídios para o Estudo da Doutrina Aplicada nas Campanhas de África 1961-1974” (EME) – 1990. Estava na reforma quando foi entrevistado em 17-6-1997, em Caxias.

(2) Teria sido presa, na Beira, em 20-10-1974, pelo Capitão Restolho Mateus, da Polícia Militar, por ordem superior, no regresso de uma viagem a Lisboa e metida na Prisão feminina de S. Machilde / Lourenço Marques, dois dias depois. Posteriormente foi acusada pela FRELIMO de desvios ideológicos e aburguesamento (Fonte confidencial n.º 1).

Segundo notícia de José Pinto Sá, no "Público" Magazine de 25-6-1995, não desmentida pela FRELIMO, foi amarrada, regada com gasolina e queimada viva, juntamente com Lázaro Nkavandame, Raul Casal Ribeiro, Arcanjo Kambeu, Júlio Nihia, Paulo Gumane, reverendo Uria Simango e o padre Mateus Gwengere, numa vala próxima da estrada M'telela (ex - Nova Viseu e campo de "reeducação" desde Novembro de 1975) - Lichinga, no Niassa, em 25-6-1977, enquanto os soldados cantavam hinos revolucionários.

(3) Ver Melo Antunes. "A Descolonização Portuguesa: Mitos e Realidades". História de Portugal. Dir. João Medina. Lisboa, Ediclube, Alfragide, 1993.

(4) Segundo "A Província de Angola" de 4-8-1974, o Comando-Chefe de Moçambique difundiu, na véspera, um comunicado, que se transcreve:

«1. Neste momento cessaram as razões dos combates, as forças de um lado e do outro poderão dar-se as mãos, como camaradas de armas de nações irmãs", afirmou S. Ex.ª o Presidente da República, na sua histórica declaração de 27 de Julho passado.

«2. Como é do conhecimento geral, e com essa finalidade, têm-se realizado contactos a nível local entre elementos da FRELIMO e das nossas guarnições militares, com vista ao cessar-fogo, que ambas as partes desejam e sem o qual não é viável arrancar-se rapidamente para a construção do Moçambique novo que todos pretendemos.

«3. Devidos a esses contactos, a paz, em Moçambique, já é uma realidade em várias regiões, embora mantidas de forma precária, dada a inexistência de um acordo formal.

«4. Na noite de 31 de Julho para 1 de Agosto, referiu-se uma emissora moçambicana a um cessar-fogo que a FRELIMO estabelecer em Cabo Delgado, o que foi escutado por várias guarnições.

«5. Na madrugada do dia 1 do corrente, numeroso grupo da FRELIMO entrou em contacto directo, através de megafones, com a guarnição de Omar, junto ao Rio Rovuma, proferindo frases de paz e afirmando que a guerra tinha acabado, solicitando ao alferes comandante da guarnição, que reunisse o pessoal junto porque lhe queriam falar.

«6. Quando o nosso pessoal, confiadamente e desarmado, se reuniu na pista, um grupo de cerca de 300 elementos da FRELIMO, que se encontrava emboscado, entrou no quartel, do qual se apoderou, aprisionando a respectiva guarnição que, supõe-se, está a ser conduzida para uma das suas bases. (...)»

«12. O Comando-Chefe não pode deixar de repudiar firmemente o comportamento desleal adoptado, neste caso, pela FRELIMO, tornando pública a sua intenção de responder enérgica e decididamente a futuras atitudes de traição que, porventura, se venham a verificar.»

(5) Segundo se depreende, do texto publicado neste livro, ambos os intervenientes no encontro, o então Coronel Sousa Menezes e o Eng.º Jorge Jardim, desconheciam as negociações secretas entre Melo Antunes e Samora Machel, realizadas em Dar-es-Salan, nos primeiros dias de Agosto, atrás referidas.

(6) Esteve também presente o Coronel Casanova Ferreira, como delegado pessoal do General António de Spínola, a quem terá sido passada uma guia de marcha, na véspera da partida da delegação portuguesa para Lusaca.

(7) O primeiro relato publicado sobre o 7 de Setembro encontra-se no livro "Aqui Moçambique Livre" de Ricardo Saavedra (Joanesburgo, Livraria Moderna, 1975). Ver também Clotilde Mesquitela. “7 de Setembro”. Lisboa, Ed. A Rua, Lda., 1976 e versões de Glória Belchior e Gonçalo Fevereiro, intervenientes no acontecimento, constantes deste trabalho.

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download