XII Jornadas de Cultura Popular



XIII Jornadas de Cultura Popular

Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra

6 de Maio a 10 de Junho de 2010

Programa

Tel/Fax: +351 239 826094 | Email: gefac.uc@ | URL: uc.pt/gefac/jornadas/ XIIIjornadas.htm

1. As Jornadas de Cultura Popular

Em 1966, estudantes da Universidade de Coimbra fundam o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra com o propósito de recolher, analisar e interpretar as manifestações culturais, individuais e colectivas, das populações rurais nas suas diversas vertentes: cantares, música instrumental, danças, teatro, usos e costumes…

Desde há 31 anos foram institucionalizadas em Coimbra as Jornadas de Cultura Popular, uma realização bienal do grupo que tem proporcionado à cidade de Coimbra múltiplos momentos de reflexão sobre a cultura popular, quer através de colóquios e mesas-redondas como também pela realização de exposições, espectáculos de grupos portugueses e estrangeiros, manifestações de rua, etc.

Tem sido propósito destas Jornadas promover o encontro de cada cidadão, não só com a sua própria cultura mas também com a cultura de outros povos. Para isso, o grupo tem apostado em programas de qualidade, escolhendo grupos que trabalhem a cultura popular de uma forma viva pois acreditamos que só desta forma é que é possível afirmar a nossa cultura no mundo.

2. Proposta

Em 2010 comemora-se o centenário do nascimento de Ernesto Veiga de Oliveira, e cumprem-se 20 anos desde a sua morte. Tendo em vista essa efeméride, o GEFAC decidiu, pois, protelar a organização das XIII Jornadas de Cultura Popular a fim de, nesse ano, dedicar, finalmente, a esse grande Mestre da etnologia portuguesa, e nosso estimado sócio honoris causa, uma justa homenagem.

Assim, as XIII Jornadas serão, na verdade, uma comemoração: uma oportunidade para recordar, e para recordar em companhia. Para evocar Ernesto Veiga de Oliveira, a sua vida e a sua obra, e para exaltar a relevância de ambas para a cultura nacional. Mas também para reunir discípulos vários, discípulos gratos, discípulos que se tornaram mestres, discípulos próximos e distantes como nós, sócios do GEFAC, que queremos ainda convidar outros, insuspeitos, a tornar-se a discípulos também. As XIII Jornadas assumirão, pois, como qualquer aniversário, o aspecto de um pretexto: um pretexto para um encontro entre todos nós e uma personalidade única e uma obra ímpar, mas acima de tudo um pretexto para ir ao encontro de Ernesto Veiga de Oliveira.

Mas como começar a homenagear Ernesto Veiga de Oliveira? Que temas eleger, que textos, que legado? A obra é tão vasta, que não pudemos deixar de assumir, desde o início, pouco mais do que uma intenção modesta de homenagear Ernesto Veiga de Oliveira por esse aspecto da sua obra que é a vontade e ânimo que nos dá de ir, de procurar, de crescer de dentro para fora de nós e da nossa cultura, de nos empenharmos activamente em encontrar e reencontrar. Assim, a nossa homenagem modesta é sobretudo este ir ao encontro de Ernesto Veiga de Oliveira, mais do que evocar em toda a extensão a sua vasta obra, ou a importância de um legado, como algo desabitado ou estático. Como diria Lima de Carvalho, “Ernesto Veiga de Oliveira não sumiu do que criou. O seu e nosso problema não é esse – o que de facto, nos tem feito, progressivamente, crescer em dois sentidos: para o interior da obra e de nós próprios e para o exterior, sem fronteiras ou com limites que coincidem com as bermas da Humanidade. Isso, só por si, já é outra obra e, às vezes, um espectáculo de encontros e desencontros surpreendente...”.

O Programa das Jornadas compreende, tradicionalmente, uma vertente mais voltada para a exposição e debate de temas e ideias, e outra, que é a vertente de programação de espectáculos. Esta edição das XIII Jornadas não é excepção, ainda que o programa contenha particularidades, associadas ao objectivo de chamar à obra de Ernesto Veiga de Oliveira entidades e pessoas cuja área de “especialização” (científica, ou artística) não é, tipicamente, a da cultura tradicional portuguesa.

3. Ernesto Veiga de Oliveira

Ernesto Veiga de Oliveira nasceu na Foz do Douro (Porto) em 1910 oriundo pelos quatro costados de famílias nortenhas - do Minho, de Trás-os-Montes, Douro Litoral, e até da Galiza, mas de vivência, educação e hábitos cosmopolitas. Fez o liceu na sua cidade natal, e formou-se em Direito em 1932 - e mais tarde, em 1947, em Ciências Históricas e Filosóficas - em Coimbra. Advogou durante dois anos, mas em breve se compenetrou do seu desajustamento irredutível a qualquer profissão que não viesse ao encontro do que para ele eram os valores essenciais do Homem e contrariasse a livre expansão da sua personalidade; e após sucessivas experiências, ingressa, em 1944, no funcionalismo público. Um versejar juvenil, de fôlego curto; um filosofar fora de escolas; um panteísmo sem deuses - e, a par disso, uma grande independência de espírito, de atitudes, de credos; e o imperativo da verdade, da liberdade, da mais límpida simplicidade -, modelariam o seu pensar, a sua visão do mundo, e a sua maneira autêntica de estar na vida. E aflorariam também num profundo amor pelo povo e no apelo das paisagens e das coisas naturais, que o levariam a calcorrear, a pé, extensas regiões do Pais-uma terra ainda fora do presente, virgem de estradas, de turismo, de poluições: o litoral, do rio Minho ao Tejo; as praias desertas do Algarve; as remotas áreas fronteiriças de Castro Laboreiro ao Gerês e Larouco; a Terra Fria transmontana, de bravios, estevas e lobos; as serras e os rios - atardando-se nas aldeias, empapando-se da sua cultura e assimilando-a. em longa vivência contemplativa participante.

Em 1932 situa-se o seu encontro com Jorge Dias, a quem fica ligado até ao fim por uma profunda e inalterável amizade, feita de entendimento, admiração e confiança; e passam a ser companheiros certos dessas andanças pelo País e dialogantes de todas as aventuras do espírito, juntamente com Fernando Galhano, amigo de longa data, com Margot Dias, e com Benjamim Pereira, que conhece mais tarde. E são finalmente esses elementos que em 1947 o grande mestre chama para formar o grupo pioneiro que deu corpo ao Centro de Estudos de Etnologia, que iria levar a cabo a renovação dos estudos etnográficos em Portugal. Demitiu-se então das suas funções burocráticas, e abraça - definitivamente e profissionalmente - a carreira de investigação cientifica. A partir dessa data, a sua vida identifica-se com os trabalhos desse Centro, e seguidamente, a partir de 1963, também com os do Centro de Antropologia Cultural e sobretudo do Museu de Etnologia, criado segundo uma concepção inovadora da museologia, que restará como a expressão mais acabada da sua obra.

Em 1965 é nomeado subdirector do Museu de Etnologia e, de 1973 em diante após o falecimento de Jorge Dias, toma a direcção do Centro de Estudos de Antropologia Cultural e do Museu de Etnologia, mantendo-se nesse posto até 1980, data da sua aposentação. Naquela mesma ocasião, assumiu a direcção do Centro de Estudos de Etnologia, que ainda conserva.

Em 1984 a Universidade de Évora confere-lhe o titulo de Doutor Honoris Causa. De 1973 a 1978 integrou o corpo redactorial da Revista Ethnologia Europaea.

Fez parte do International Secretariat for Research on the History of Agricultural Implements.

Faleceu a 14 de Janeiro de 1990.

4. Programa

6 a 27 de Maio

Ciclo de conversas “Encontros a Pretexto”

Foyer do TAGV, 18h, Coimbra

Os "Encontros a Pretexto", série de conversas informais, pretendem ser um primeiro momento de partilha de ideias e de experiências entre estudiosos e interessados, acerca de Ernesto Veiga de Oliveira e de temas dispersos e diversos que foram objecto do estudo do etnólogo. Pretendem também ser uma modesta homenagem à diversidade temática da obra de Ernesto Veiga de Oliveira, bem como um meio de evidenciar a relevância dessa obra para a cultura nacional.

 

6 de Maio

À Boleia do Rouquinho - Vida e Obra de Ernesto Veiga de Oliveira

Inserida no programa das XIII Jornadas de Cultura Popular, este primeiro encontro a pretexto de Ernesto Veiga de Oliveira tem como objectivo evocar a vida e obra deste antropólogo, sublinhando o seu contributo para os estudos da etnografia portuguesa. A conversa, com a presença dos antropólogos Clara Saraiva e João Leal, girará em torno do trabalho de Ernesto Veiga de Oliveira, bem como dos estudos desenvolvidos em colaboração com Jorge Dias, Margot Dias, Benjamim Pereira e Fernando Galhano.

Conversa com Clara Saraiva, moderada por Adérito Araújo.

 

20 de Maio

Quantos modos de olhar a música - Perspectivas Sobre a Música Tradicional Portuguesa

Tendo como ponto de fuga a importância dos estudos e das recolhas feitos pelo EVO - ao nível do património áudio e instrumentos musicais populares portugueses - pretendemos promover o confronto de diferentes perspectivas sobre a música tradicional portuguesa. Esta sessão consistirá na projecção do filme Significado - A Música Portuguesa Se Gostasse Dela Própria, do realizador Tiago Pereira (50min), que servirá de mote para um debate com Louzã Henriques e Manuel Pires da Rocha.

Conversa com Tiago Pereira e Louzã Henriques, moderada por Manuel Pires da Rocha.

 

25 de Maio

Levando a Água ao Moinho - EVO e a Tecnologia Tradicional

Esta encontro pretende abordar a evolução histórica, social e económica de algumas tecnologias tradicionais utilizadas nas actividades agrícolas e marítimas em Portugal. Procura-se, aqui, abordar a vertente tecnológica destes sistemas tradicionais, e analisar o paralelismo entre os sistemas contemporâneos de aproveitamento energético de recursos naturais (marés, vento e rios) e os tradicionais métodos de utilização destes recursos.

Conversa com David Gamboa, José Cirne e Pedro Salvado, moderada por Amanda Guapo.

 

27 de Maio

De Telhado em Telhado - EVO e a Arquitectura Popular

Partindo de um enquadramento da obra de Ernesto Veiga de Oliveira no debate sobre a arquitectura popular em Portugal, pretenderemos explorar, além da classificação de tipologias de matriz rural, outras, de cariz mais urbano. A referência a práticas e técnicas actuais, bem como ao contacto de uma perspectiva antropológica na prática e investigação da arquitectura actual serão também temas a abordar, neste encontro com a presença do arquitecto Victor Mestre e do historiador Paulo Varela Gomes

Conversa com Paulo Varela Gomes e Vítor Mestre, moderada por Luísa Correia.

24 a 28 de Maio

Exposição “Viver Assim”

Galeria do Departamento de Antropologia da FCTUC, Coimbra

O que é viver numa República de Coimbra hoje? Qual o seu papel no momento actual? Quem são os repúblicos? De onde vêm? Será que uma República hoje corresponde à imagem de irreverência e boémia que se construiu dessas casas tão particulares? Mantém-se a organização comunitária e a amizade solidária de outros tempos ou, pelo contrário, as Repúblicas estão a perder a identidade e a descaracterizar-se?

Repúblicas de Coimbra

As Repúblicas são organizações sem fins lucrativos que se destinam a albergar estudantes do ensino superior, que aqui habitam em ambiente de auto-gestão e partilha mútua. Segundo alguns autores, o seu nome deriva da simpatia pelos ideais republicanos. No entanto é provável que «República» apenas fizesse eco da expressão latina equivalente a «coisa pública». Independentemente disso, e atestando o carácter irreverente destes espaços, o certo é que a designação de «República» existiu ainda durante a vigência do regime monárquico, e que a expressão «Real República», também ela comum, se manteve após o 5 de Outubro de 1910. Durante os anos sessenta, as repúblicas tiveram um papel importante na formação política de uma geração em ruptura com o Estado Novo, funcionando como autênticas «ilhas de liberdade».

Actualmente existem em Coimbra mais de duas dezenas de casas comunitárias com estas características. Numa comunidade como a estudantil, dotada de constante fluidez, as Repúblicas conseguem preservar de maneira muito particular a memória, através, por exemplo, dos centenários, que servem ainda hoje para manter a ligação entre as gerações passadas e presentes.

Assim sendo, a componente gregária e a forte ligação ao imaginário estudantil mantêm-se como características fundamentais destes espaços. Uma das suas mais antigas tradições relaciona-se com o lema «Um ano vale por cem», e por isso todos os anos cada República celebra o seu «centenário». Os repúblicos são, em regra, oriundos de vários pontos do país ou do estrangeiro, o que promove um ambiente único de originalidade, irreverência e respeito mútuo.

Deste modo, pela mão dos jovens homens e mulheres que as habitaram, as Repúblicas foram construindo as suas histórias e as suas casas, reunindo testemunhos, inscritos pelas paredes, objectos, pinturas, cheiros, momentos, histórias, ideais, mundividências, que lhes conferem aquela sólida identidade.

3 de Junho

Espectáculo de Teatro-Dança “VOID”, de Clara Andermatt

Oficina Municipal de Teatro, 22h, Coimbra

Void

A ligação a Cabo Verde é o ponto de partida para a criação de um espectáculo que, terá como pano de fundo o encontro de culturas. Uma peça sobre pessoas, feita de experiências e de saudade. Inspirada, nas tristezas, nas dificuldades, nos benefícios e numa década de crescimento de dois cabo-verdianos em Portugal. A coreógrafa chamou colaboradores com quem partilha um historial de produções anteriores para desenvolver um universo coreográfico, teatral e musical muito pessoal, que nasce do diálogo real e constante de duas culturas no dia-a-dia de Lisboa.

Clara Andermatt

Considerada uma das pioneiras do movimento da nova dança portuguesa, a carreira de Clara Andermatt revelou, ao longo dos anos, uma identidade artística particularmente singular no panorama artístico nacional e internacional, e um percurso que, indubitavelmente, deixou a sua marca na história da dança contemporânea portuguesa e lhe trouxe o devido reconhecimento público.

Inicia os seus estudos de dança com Luna Andermatt.

Em 1980, recebe uma bolsa de estudo do London Studio Centre em Londres, onde permanece quatro anos, e obtém o respectivo diploma. Obtém igualmente o diploma do curso completo da Royal Academy of Dancing de Londres.

Depois de vários estágios em Inglaterra e nos E.U.A., é convidada pelo professor Mervin Nelson para um curso de teatro em Nova Iorque. Foi bolseira do Jacob’s Pillow (Lee, Massachussets, 1988), do American Dance Festival – I.C.R. (Durham, 1994) e do Bates Dance Festival (Maine, 2002).

Foi bailarina da Companhia de Dança de Lisboa, desde a sua formação até Junho de 1988, sob a direcção de Rui Horta, e da Companhia Metros de Ramón Oller de 1989 a 1991, em Barcelona.

Em 1991, cria a sua própria companhia coreografando um vasto número de obras regularmente apresentadas em Portugal e no estrangeiro.

É em 1994 que inicia a sua colaboração com Cabo Verde, com a criação de várias obras com intérpretes cabo-verdianos, acções de formação e colaborações com artistas de diferentes áreas, que culminaram numa série de residências e projectos: Dançar Cabo Verde (1994), em conjunto com o coreógrafo Paulo Ribeiro, Projecto CV Sabe e Anomalias Magnéticas (1995), Uma História da Dúvida (1997) e o concerto encenado Dan Dau (1999).

Depois de vários workshops orientados por Michael Margotta, professor de teatro e encenador, é convidada a tornar-se membro do Actor’s Centre ROMA, em 2002.

Ao longo da sua carreira, coreografou quatro peças para o Ballet Gulbenkian: Cemitério dos Prazeres e 4 Árias de Ópera em 1996, neatnet em 2000 e O Canto do Cisne em 2004.

Clara Andermatt é regularmente convidada a criar para outras companhias, a leccionar em diversas escolas e a participar como coreógrafa em peças de teatro e cinema.

O seu percurso revela uma evidente predilecção pelo contacto com outras áreas, especialmente nas zonas de fronteira entre géneros e estilos, entre o corpo treinado e não treinado e o desejo de aproximação do outro, procurando sentir e perceber a diferença de cada indivíduo.

São exemplo disso, entre outras, algumas das suas criações, como o espectáculo Natural (2005) criado para a Sadler’s Wells Company of Elders – over 60´s performance group, em Londres; Levanta os Braços como Antenas para o Céu (2005) para o Grupo Dançando com a Diferença – um projecto de dança inclusiva, da Madeira; O Grito do Peixe (2005) que inclui 10 alunos de uma escola de Olhão; e o espectáculo de rua Meu Céu (2008), criado no âmbito do Festival Internacional de Artes de Rua Imaginarius, em Santa Maria da Feira.

Ao longo da sua carreira, Clara Andermatt tem sido distinguida com diversos prémios dos quais destaca: 1982-83 Bolsa Bridget Espinosa – Londres; 1983 The Best Student Award do London Studio Centre e 2º Prémio de Coreografia do London Studio Centre com a peça Cake Walk – Londres; 1989 1º Prémio do III Certamen Coreográfico de Madrid com a coreografia En-Fim; 1992 Menção Honrosa do Prémio Acarte/Madalena Perdigão da Fundação C. Gulbenkian com a coreografia Mel; 1994 Em conjunto com o coreógrafo Paulo Ribeiro, é distinguida com o Prémio Acarte/Madalena Azeredo Perdigão da Fundação C. Gulbenkian com a obra Dançar Cabo Verde; 1999 Prémio Almada, atribuído pelo Ministério da Cultura, pela obra Uma História da Dúvida, também eleita Espectáculo de Honra do Festival Internacional de Almada.

4 e 5 de Junho

“Para que distância, movimento?” - Colóquio de Homenagem a Ernesto Veiga de Oliveira

Casa Municipal da Cultura, Coimbra

Organizado para ser o espaço, por excelência, de reflexão e debate de temas actuais e de ideias, este colóquio em homenagem a Ernesto Veiga de Oliveira pretenderá estabelecer uma ponte entre a obra do etnólogo e a realidade tal como hodiernamente se apresenta aos investigadores, teorizadores e agentes de divulgação da cultura em Portugal.

A questão que nos serve de mote – formulada por Ernesto Veiga de Oliveira, em sede bem diversa – confronta o legado e o projecto, para fazer um balanço a esse movimento, que é o estudo e divulgação da cultura popular portuguesa. Onde começa o movimento, que novas distâncias lhe ofereceu o trabalho da extraordinária equipa que homenageamos, na pessoa de Ernesto Veiga de Oliveira? Que novas distâncias se lhe oferecem, hoje, e que caminhos ficaram pelo caminho?

Este colóquio assenta, enfim, sobre muitas questões para procurar ir ao encontro dessa questão: o que é que a realidade obrigou a mudar nas metodologias e linguagens da investigação e da etnografia? Das primeiras indagações, às recolhas, até aos museus de etnologia: ainda há cultura para este tipo de abordagem? Durante todo este tempo, que fronteiras se derrubaram entre a cultura popular, a cultura culta, a cultura artística, a contemporaneidade? E que fronteiras se podem ainda forjar entre o rural e o urbano como fontes de experiência?

A fim de contribuir para a elucidação de algumas destas dúvidas, procuraremos reunir alguns dos nomes que, seja pelo seu mérito e pela sua experiência, seja pelo interesse da sua obra e dos temas que representam, actualmente mais se destacam no panorama actual da etnologia e etnografia nacionais.

São objectivos principais desta acção:

- Promover a exposição e debate de ideias e temas actuais, de interesse para a compreensão do estado presente da investigação, estudo, divulgação e exposição em etnografia e etnologia;

- Trazer a Coimbra especialistas, estudiosos, investigadores, decisores e interessados, propondo-lhes um programa diversificado, que possa ser exposto de forma clara e acessível mesmo a um público não especializado, e em que haja lugar à colocação de questões e ao debate de ideias;

- Fomentar o encontro entre especialistas e peritos, e o encontro entre estes e um público de interessados não necessariamente especializados nos temas em debate.

Programa:

Sexta-feira, 4 de Junho

10:00 - 12:00 1º Painel – Recolha Etnográfica

(Pausa para Almoço)

14:00 - 16:00 2º Painel – A Cultura Tradicional Hoje

(Pausa para Café)

16:30 - 18:30 3º Painel - Museologia

 

Sábado, 5 de Junho

14:00 - 16:00 4º Painel – Ruralidade/ Urbanidade

(Pausa para Café)

16:30 - 17:30 Antestreia Documentário "Pelos Trilhos do Andarilho"

17:30 - 18:30  Sessão de Encerramento

 

“Para que distância, movimento?" é uma questão colocada por Ernesto Veiga de Oliveira, em missiva dirigida a Jorge Dias, datada de 4 de Junho de 1938 – apud, PEREIRA, BENJAMIM, “Dados biográficos e autobiográficos de Ernesto Veiga de Oliveira”, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Vol. 30, Porto, 1990, p. 11.

5 de Junho

Ante-estreia do documentário “Pelos Trilhos do Andarilho” , pelo GEFAC

Casa Municipal da Cultura, Coimbra

Um documentário-viagem aos caminhos que Ernesto Veiga de Oliveira abriu.

7 de Junho

Concerto musical com Pedro Caldeira Cabral

Teatro Paulo Quintela, 22h, Coimbra

Pedro Caldeira Cabral

Nasceu em Lisboa em 1950. Ainda na infância, inicia o estudo da Guitarra Portuguesa, da Guitarra Clássica e da Flauta doce. Mais tarde estuda solfejo, contraponto e harmonia com o Prof. Artur Santos. A partir de 1970 inicia o estudo do Alaúde, da Viola da Gamba e de outros instrumentos antigos de corda e de sopro, vindo mais tarde a fundar e dirigir os grupos La Batalla e Concerto Atlântico, especializados na interpretação da Música Antiga em instrumentos históricos. Entre 1967 e 1975, frequentou vários cursos de composição de música contemporânea, tendo trabalhado com Karel Goyvaerts, Constança Capdeville, José Alberto Gil e Jorge Peixinho. Sendo um autodidacta na Guitarra Portuguesa, desenvolveu como compositor, um estilo próprio fundado na tradição solística da Guitarra, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa Mediterrânica. Como intérprete tem alargado o reportório solístico da Guitarra, fazendo transcrições de obras de Bach, Weiss, Scarlatti, Seixas, entre outros e apresentado publicamente novas obras originais de autores contemporâneos. Tem realizado investigação na área da música tradicional (Organologia musical), tendo colaborado com o Dr. Ernesto Veiga de Oliveira na segunda edição de "Os Instrumentos Musicais Populares Portugueses" - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,1983 e na 3ª edição (capítulo novo) datada de Janeiro 2001. Fundou e dirige desde 1987, o Centro de Estudos e Difusão de Música Antiga, e no seu âmbito coordena exposições-conferências sobre organologia musical antiga (séc. XIII a XVII), concertos didácticos em escolas e programas musicais para os vários grupos que dirige. Tem também coordenado programas de edição musical e de estudos sobre temas musicais. Desde 1970 tem dado, na qualidade de solista, concertos nas principais salas e festivais da Europa, Estados Unidos da América, Macau e Brasil. Membro do júri do 1º Festival de Música do Mediterrâneo realizado em Antalya, Turquia (1986), Pedro Caldeira Cabral tem efectuado conferências e seminários sobre temas musicais na Europa (França, Inglaterra, Alemanha, Suíça, Suécia e Turquia) e EUA. Fez a pré-produção e a direcção artística do Festival de Guitarra Portuguesa na EXPO'98. Em 1999 foi editado o livro "A Guitarra Portuguesa" de sua autoria, sendo esta a primeira obra monográfica sobre as origens e evolução histórica, estudo organológico e reportório do instrumento nacional. Comissariou as exposições monográficas "Portuguese Guitar Memories" apresentada no Convento de Santa Agnes de Boémia em Praga, República Checa em Setembro de 2000 e "À descoberta da Guitarra" no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, em Maio de 2001.

8, 9 e 10 de Junho

GEFAC e Madalena Victorino apresentam, JÁK-HÁ-VYNHAS

Repúblicas de Coimbra, a partir das 21h, Coimbra

Este projecto apresentar-se-á dentro das próprias Repúblicas, criando-se assim uma relação íntima entre as casas, os seus habitantes e a população da cidade, para quem a vivência nestas casas comunitárias é, muitas vezes, desconhecida ou se apresenta de uma forma mitificada ou deturpada.

O espectáculo será apresentado em três partes de meia hora, nos dias 8, 9 e 10 de Junho, das 21h às 24h . No dia 8 será apresentado a parte “Chão do Bispo”, na República Bota-Abaixo; no dia 9 a parte “Haréns de Papel”, na República Rás-Teparta e no dia 10 a última parte “Trapiros”, na República Prá-Kys-Tão.

Sinopse

Acontecimento sonoro,  paisagem atravessada de poesia que se rompe  nas tuas mãos.  Numa sala inteligente, as chaves do mundo. A procura num mesmo tempo de um naufrágio junto à foz  e de uma tradição em desalinho. Sorrisos desfocados à tua espera nas comunidades  singulares de Coimbra.   

Vem ouvir os outros.

Vem deitar-te com eles.

Vem comer bife sem bife nem cebolada.

Vem dançar num canto de delícias.

Vem treinar para não esquecer.

Um percurso nocturno acompanhado de gansos e galinhas pelas Repúblicas Bota-Abaixo (dia 8 de Junho), Rás-Teparta (dia 9 de Junho) e Prá-Kys-Tão (dia 10 de Junho). Always keep on going a partir das 21h, nas Repúblicas de Coimbra.

Madalena Victorino

Madalena Victorino é uma coreógrafa de grande destaque e que ocupa um lugar único no panorama cultural português. Ao longo dos anos, tem trabalhado nas áreas da coreografia, da pedagogia da dança, das artes na comunidade e na educação assim como das relações entre o teatro e a dança. Tem coreografado extensivamente para lugares não convencionais, como fábricas, museus, parques de estacionamento, florestas, ruas, etc., com actores, bailarinos, cantores e pessoas não profissionais nas artes performativas. Pela sua enorme experiência, o seu contributo é fundamental para a concretização deste projecto na medida em que poderá inspirar novas interpretações da cultura tradicional portuguesa e viabilizar as ligações que pretendemos estabelecer entre “ritmos” aparentemente tão diversos entre si como o são o ritmo da tradição, da urbanidade, do futuro e o da memória.

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