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O Brasil continuou um só país enquanto a América espanhola se dividiu em vários. Sabe porquê?8 set 2018 Artigo escrito em português do Brasil. BBC News Brasil conversou com historiadores para entender causas que levaram à unifica??o do Brasil e à fragmenta??o de seus vizinhos.Há exatos 196 anos, em 7 de setembro de 1822, o Brasil ganhava sua independência de Portugal.Mas por que a América portuguesa se tornou um único país, enquanto a América espanhola se fragmentou em outros tantos?N?o há apenas uma única raz?o, mas várias, segundo historiadores com quem a BBC News Brasil conversou. E, para quem busca respostas fáceis, um alerta. N?o há unanimidade nas conclus?es.Ilustra??o: Cecilia Tombesi -?BBCMaiores dist?ncias, diferentes estilos de administra??oUma das causas tem a ver com a dist?ncia geográfica entre as cidades das antigas col?nias e a forma como as duas possess?es eram administradas por suas respectivas metrópoles.Ainda que a col?nia portuguesa tivesse dimens?es continentais, a maior parte da popula??o se concentrava em cidades costeiras, enquanto o interior permanecia praticamente inexplorado, lembra à BBC News Brasil o historiador mexicano Alfredo ?vila Rueda, da Universidade Nacional Aut?noma do México (UNAM).“? verdade que, hoje, o Brasil é um país enorme, com mais de 8 milh?es de km?. Mas, na prática, na época da independência, as principais cidades se concentravam no litoral. As dist?ncias entre as cidades eram, assim, menores do que na América Espanhola. O interior era praticamente território que n?o era controlado pela Coroa portuguesa”, diz.Já a América Espanhola era formada por quatro grandes vice-reinados: Nova Espanha, Peru, Rio da Prata e Nova Granada, com poucos vínculos – sen?o comerciais – entre si. Cada um deles respondia à Coroa e tinha vida própria.Ou seja, eram administrados localmente. Além disso, foram criadas capitanias que tinham governos independentes desses vice-reinados, como as da Venezuela, Guatemala, Chile e Quito, acrescenta ?vila Rueda.“A administra??o espanhola se deu em torno de duas ‘sub-metrópoles': México e Peru. Isso n?o aconteceu no Brasil, onde a administra??o era muito mais centralizada”, explica o historiador mexicano.A longa viagem de Dom Pedro 1? que culminou na Independência do BrasilIlustra??o: Cecilia Tombesi -?BBCDiferen?as entre as elitesOutra causa está relacionada à forma??o e à representatividade das elites nas duas col?nias, na opini?o do historiador brasileiro José Murilo de Carvalho.No Brasil, a elite era muito mais homogênea ideologicamente do que a espanhola, diz ele.Carvalho argumenta que isso se deveu à tradi??o burocrática portuguesa. Portugal nunca permitiu a cria??o de universidades em sua col?nia. Escolas superiores só foram criadas após a chegada da corte, em 1808. Assim, os brasileiros que quisessem e pudessem ter forma??o universitária tinham que viajar a Portugal, sobretudo à cidade de Coimbra.“Diante de um pedido para se criar uma escola de Medicina em Minas Gerais, no século 18, a resposta da Corte foi: agora pedem uma faculdade de Medicina, daqui a pouco v?o pedir uma faculdade de Direito e, em seguida, v?o querer a independência”, exemplifica o historiador brasileiro.Quando se formavam, esses ex-alunos voltavam ao Brasil e acabavam ocupando cargos importantes na administra??o da col?nia. Ou seja, um desembargador em Pernambuco formado em Coimbra tinha grandes chances de conhecer um desembargador do Rio de Janeiro também diplomado na mesma universidade, ou de ter conhecidos em comum, o que, na opini?o de Carvalho, favoreceu um sentimento de unidade na col?nia.“Esses estudantes luso-brasileiros em Coimbra tinham organiza??o própria. Envolveram-se no mesmo ensino que os portugueses e foram absorvidos pela burocracia da Corte, sendo enviados a todos os pontos do império português – do Brasil à ?frica. Portugal tinha uma popula??o muito pequena à época e n?o havia gente suficiente para administrar seu império. Acabou dependendo dos brasileiros treinados lá”, diz.“Eles formaram grande parte da elite política brasileira até cerca de 1850, como ministros, conselheiros de Estado, deputados e senadores”, acrescenta.Segundo Murilo de Carvalho, essa forma??o da elite brasileira em Portugal acabou por favorecer a obediência à figura real e a cren?a nas virtudes do poder centralizado.Entre 1772 e 1872, passaram pela Universidade de Coimbra 1.242 estudantes brasileiros.Por outro lado, na América Espanhola, durante esse mesmo período, 150 mil estudantes se formaram em universidades locais, diz Carvalho. Havia pelo menos 23 universidades na col?nia, três delas apenas no México. Só a Universidade do México formou quase 40 mil estudantes.Dessa forma, argumenta o historiador, quando os movimentos de independência na América Espanhola come?aram a ganhar for?a, no século 19, eles surgiram coincidentemente nos locais onde havia universidades. E praticamente todos esses locais com universidades acabaram dando origem a um país diferente.?vila Rueda contesta, contudo, essa última hipótese. “Essas universidades eram, em sua maioria, reacionárias…aliadas à Coroa espanhola”, diz.“A Universidade do México, por exemplo, era muito reacionária, a tal ponto que, em 1830 (após a independência do México), o governo mexicano decidiu fechá-la porque acreditava que n?o seria possível reformá-la”, acrescenta.Neste sentido, o historiador mexicano diz acreditar que a livre circula??o de impressos (jornais, livros e panfletos) na América espanhola, que n?o era permitida na América portuguesa (a proibi??o só foi revertida em 1808, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil), teve papel muito mais importante na constru??o de identidades regionais do que propriamente as universidades.“Já na América portuguesa, tudo o que era consumido vinha de Portugal, o que gerava esse vínculo muito forte com a metrópole”, lembra.Mas fato inconteste era que, na América espanhola, os nascidos na col?nia, os chamados criollos, a elite local (grandes proprietários de terras, arrendatários de minas, comerciantes e pecuaristas) eram desprezados em rela??o aos nascidos na Espanha, os Peninsulares.Até 1760, quando a Espanha era governada pela dinastia dos Habsburgo, as col?nias tinham bastante autonomia.Mas tudo mudou com as reformas borb?nicas feitas pelo rei espanhol Carlos 3?. Naquele momento, a Espanha precisava aumentar a extra??o de riqueza de suas col?nias para financiar a manuten??o de seu império e guerras nas quais estava isso, a Coroa decidiu expandir os privilégios dos peninsulares – colonos nascidos na Espanha -, que passaram a ocupar os cargos administrativos anteriormente destinados aos criollos.Ao mesmo tempo, as reformas realizadas pela Igreja Católica reduziram os papéis e os privilégios do baixo clero, que também era formado em sua maioria por criollos.Família real portuguesa fugiu de Portugal rumo a Brasil por causa de Napole?o Bonaparte -?C?mara Municipal de LisboaNapole?o invade Portugal…e a família real portuguesa foge para o BrasilOutro motivo que explica a manuten??o da unidade do Brasil, sen?o o mais importante, foi a fuga da família real portuguesa para sua ent?o maior col?nia, de acordo com os historiadores.Em 1808, com a invas?o de Portugal por Napole?o Bonaparte, o príncipe regente Jo?o fugiu para o Rio de Janeiro, transferindo n?o somente a corte, mas toda a burocracia do governo: arquivos, biblioteca real, tesouro público e cerca de 15 mil pessoas. O Rio de Janeiro virou, ent?o, a sede político-administrativa do império. A presen?a do rei em território brasileiro serviu como fonte de legitimidade para que a col?nia se mantivesse unida.“O rei era um herdeiro legítimo do poder. Temos dificuldade de entender a import?ncia disso hoje, mas naquela época a figura de Dom Jo?o 6? como monarca tinha muita for?a”, diz à BBC News Brasil o historiador americano Richard Graham, professor emérito da Universidade do Texas e considerado um dos maiores especialistas em história da América Latina nos Estados Unidos.Carvalho explica que a “transferência trouxe para o Brasil toda a burocracia portuguesa. Portugal passou a ser uma dependência. Desenvolveu-se, portanto, um foco de legitimidade política no país”.“Se Dom Jo?o n?o tivesse vindo para o Brasil, o país teria se dividido em cinco ou seis países. Os lugares de maior desenvolvimento econ?mico, como Pernambuco e Rio de Janeiro, teriam conseguido sua independência”, assinala.Enquanto isso, o rei espanhol é for?ado a abdicar do trono…Na Espanha, contudo, essa fonte de legitimidade foi questionada após a invas?o de Napole?o. Ele for?ou o rei espanhol, Carlos 4? e seu filho, Fernando 7?, a abdicar do trono a favor de seu irm?o, José Bonaparte (mais tarde José 1? da Espanha).Na col?nia, a notícia caiu como uma bomba. Aqueles que viviam na América Espanhola já n?o sabiam mais a quem obedecer. Surgiram juntas administrativas, muitas das quais no come?o governavam em nome de Fernando 7?, recusando-se a receber ordens de juntas semelhantes formadas na Espanha (após a invas?o de Napole?o, o governo espanhol foi dividido em inúmeras juntas administrativas).Quando Napole?o foi derrotado, esses líderes locais já tinham experiência de autogoverno. Reconduzido ao trono em 1814, Fernando 7? n?o garantiu a autonomia deles e tentou usar a for?a para restabelecer a submiss?o das col?nias.Esse fato aliado à política discriminatória por parte da Coroa Espanhola em rela??o aos nascidos nas Américas fez com que eles se rebelassem, inspirados pelos ideais iluministas espalhados pelas revolu??es americana e francesa.Dom Jo?o VI chegou ao Brasil em 1808 -?MNBACom o apoio de outras castas, eles travaram lutas sangrentas contra a Espanha por independência, entre 1809 a 1826.Por outro lado, quando Napole?o foi derrotado, Dom Jo?o 6? elevou o Brasil à condi??o de Reino Unido a Portugal. Também permaneceu no Rio de Janeiro até que as cortes exigissem seu retorno a Lisboa, em 1820, e aceitasse uma constitui??o liberal.Dom Jo?o 6? deixou seu filho, Pedro, como príncipe regente no Brasil, e em 1822, Pedro tornou o Brasil independente, coroando a si mesmo como Dom Pedro 1?. O Brasil ganhou ent?o a independência como uma monarquia constitucional.Temor socialPreocupa??es econ?micas e sociais também contribuíram fortemente para assegurar a unidade do Brasil.Segundo Graham, fazendeiros e homens ricos das cidades acabaram aceitando uma autoridade central por dois motivos: a amea?a de desordem social e o apelo de uma monarquia legítima.Um possível desmembramento do Brasil em diferentes países poderia colocar em xeque o firme controle social desejado pelos proprietários de terras e escravocratas. Inicialmente, eles achavam que conseguiriam manter o respeito e a obediência, mas revoltas populares provaram o contrário, na prática. No Haiti, por exemplo, a independência significou o fim da escravid?o.Embora o Brasil tenha conseguido sua independência de Portugal sem recorrer à luta militar generalizada, os líderes regionais procuravam maior liberdade em rela??o à capital, o Rio de Janeiro, diz Graham.Mas, com o tempo, eles perceberam que essa vontade de reivindicar um autogoverno regional ou a independência completa do governo centralizado poderia enfraquecer sua autoridade, n?o somente sobre os escravos, mas também sobre as classes inferiores em geral. Ou seja, temiam a desordem social.“? importante lembrar que o Brasil era um país de escravos. Eles compunham grande parte da popula??o. Era muito perigoso que as classes dominantes come?assem a brigar entre si e colocassem em risco sua legitimidade”, destaca Graham.“Essa classe dominante temia que esses escravos pudessem aproveitar-se de suas divis?es internas para se rebelar”, acrescenta.Na América Espanhola, por outro lado, diz o historiador americano, “as elites (…) aprenderam que poderiam lidar muito bem com uma popula??o irrequieta. Todos os países hispano-americanos tomaram medidas que objetivavam terminar com a escravid?o, possivelmente para diminuir o perigo da revolta escrava. Mesti?os (e alguns mulatos, como na Venezuela), tinham o comando de for?as militares e eram frequentemente recompensados com posse de terras tomadas dos monarquistas”, diz.Estatísticas sobre o comércio de escravos embasam tal hipótese.Ilustra??o: Cecilia Tombesi -?BBCEntre 1500 e 1866, a América Espanhola recebeu 1,3 milh?o de escravos trazidos da ?frica. No mesmo período, desembarcaram no Brasil 4,9 milh?es, segundo dados da The Trans-Atlantic Slave Trade Database, um esfor?o internacional de cataloga??o de dados sobre o tráfico de escravos – que inclui, entre outros, a Universidade de Harvard.O levantamento foi possível porque os escravos eram uma mercadoria, registrada na entrada e saída dos portos, sobre a qual incidia cobran?a de impostos. Nenhum outro lugar do mundo recebeu tantos escravos.Fragmenta??o em vários paísesMas por que as fronteiras dos países recém-independentes na América Espanhola n?o se mantiveram as mesmas das dos quatro vice-reinados? Ou seja, por que houve tanta fragmenta??o?Explica ?vila Rueda: “Na época colonial, o conceito de fronteira era distinto do dos Estados modernos. O que havia era um sistema de jurisdi??o, n?o de fronteiras. E as diferentes jurisdi??es às vezes se sobrepunham umas às outras”.Ele cita o caso do vice-reinado de Nova Espanha (território que compreende parte dos Estados Unidos, México e América Central).“Em termos de governo, o vice-rei tinha controle sobre praticamente todo o território, salvo as regi?es mais ao norte, que eram independentes neste sentido. Mas, a nível fiscal, o governo do México tinha controle sobre essas regi?es. Já em rela??o a quest?es jurídicas, a gest?o era totalmente diferente”.“Assim, houve conflitos bélicos muito fortes para delimitar essas fronteiras no século 19, inclusive após a independência”, acrescenta.?vila Rueda lembra que, com a abdica??o de Fernando 7?, ocorre um processo em que os territórios provinciais passam a lutar por “mais autonomia”.“Julgamos o passado a partir do nosso ponto de vista atual. Achamos que o vice-reinado de Nova Espanha se manteve como um país unido, que é o México atual. Mas nos esquecemos que depois da independência, surgiu o império mexicano, que incluía a atual América Central. Posteriormente, com a dissolu??o do império mexicano, se estabeleceram a federa??o mexicana e a federa??o centro-americana, que mais tarde se desintegraria em outros países”, diz.Argentino José de San Martín é também conhecido como o libertador de Argentina, Chile e Peru -?Museu Histórico Nacional da Argentina“Houve um processo de fragmenta??o na América Espanhola. Eventualmente, algumas dessas províncias formam confedera??es para ter for?a militar e se defender de outros inimigos. Ou s?o unidas à for?a, como fez Simón Bolívar”, acrescenta.Graham concorda. “Se você vai se tornar independente da Espanha, por que continuaria a se submeter aos mandos e desmandos de Buenos Aires, por exemplo? A divis?o por vice-reinos era burocrática. E as fronteiras atuais dos países da América Latina demoraram para ser consolidadas. N?o era possível prevê-las antes de 1810, pois resultaram de disputas internas após a independência”, explica.Mas é importante lembrar que também houve na América Espanhola planos de unifica??o, que n?o avan?aram.Em 1822, Simón Bolívar e José de San Martín, duas das figuras mais importantes da descoloniza??o da América Espanhola, reuniram-se na cidade de Guayaquil, no Equador, para discutir o futuro da América Espanhola.Enquanto Bolívar era partidário da unidade das ex-col?nias (ele for?ou a unifica??o da Col?mbia e da Venezuela) e a forma??o de uma federa??o de repúblicas, San Martín defendia a restaura??o da monarquia, sob a forma de governos liderados por príncipes europeus. A ideia de Bolívar voltou a ser discutida no Congresso do Panamá, em 1826, mas acabou rejeitada.E se Fernando 7? tivesse feito o mesmo que D. Jo?o 6? e transferido a corte às Américas, o mapa da América Latina seria diferente do que é hoje?Em um artigo, o historiador americano William Spence Robertson, já falecido, cita a frase de um observador espanhol em 1821: “O México n?o aceitaria as leis que fossem sancionadas em Lima; nem Lima aceitaria as leis que fossem sancionadas no México”.Agustín de Iturbide foi declarado imperador do México como Agustín I após independência da Espanha -?“A principal pergunta, portanto, é onde ele escolheria se estabelecer. N?o acredito que o México permaneceria leal a um rei estabelecido em Lima e n?o em Madri”, diz Graham.“Mas certamente (se Fernando 7? tivesse se transferido às Américas) haveria menos divis?es do que, na verdade, ocorreu”, acrescenta.Isso porque os reis oferecem legitimidade.Tanto é que, na Argentina, quando um congresso em 1816 declarou a independência das “Províncias Unidas”, Juan Martin de Pueryrredón, nomeado diretor dessa entidade, tentou, nos três anos seguintes, em v?o buscar alguém na Europa com vínculo real para se tornar rei das Províncias Unidades do Rio da o uma princesa austríaca ajudou a articular a Independência do Brasil – e o que isso tem a ver com o Museu Nacional“A própria mulher de Dom Jo?o, Dona Carlota Joaquina, tinha vontade de se tornar rainha do Prata”, lembra Murilo de Carvalho.Já no México, quando as cortes espanholas se recusaram a reconhecer a independência mexicana e a permitir que um membro da realeza aceitasse o trono do império mexicano, Agustín Iturbide, um dos mentores da independência, forjou uma elei??o ao fim da qual foi coroado imperador, como Agustín 1?.No Peru, também foi aventada a possibilidade de um príncipe espanhol liderar uma monarquia independente.Militar liberal e líder político venezuelano, Simón Bolívar foi um dos primeiros a lutar pela descoloniza??o da América Espanhola -?Cole??o do Banco Central da VenezuelaRebeli?es no BrasilMas o processo de unifica??o territorial no Brasil tampouco foi totalmente pacífico. Houve movimentos de caráter emancipacionista em Minas Gerais (1789), na Bahia (1798), em Pernambuco (1817).No entanto, essas revoltas foram mais fomentadas por um sentimento de autonomia do que propriamente por um desejo de ruptura entre a col?nia e a metrópole.Um exemplo emblemático disso foi a chamada Inconfidência Mineira, liderada por Tiradentes em Minas Gerais (1789). N?o havia nessa conspira??o antimetropolitana nenhum desejo de liberta??o de todo o território.Quando Dom Pedro 1? declarou a Independência do Brasil, em 1822, por exemplo, a maior parte das províncias do norte foram contra e permaneceram leais a Portugal, até defrontarem-se com uma for?a vinda do Rio de Janeiro.Ainda assim, como lembra Graham, “mesmos os grupos do sul que declaram sua alian?a a D. Pedro 1?, em meados de 1822, n?o significavam o triunfo do nacionalismo. Ao contrário, eles simplesmente preferiam o domínio dele, com a promessa de autonomia local, ao domínio das cortes portuguesas, que amea?ava essa autonomia”.?vila Rueda acrescenta ainda que, “como na América portuguesa n?o houve uma guerra de independência e sim uma continuidade com a transferência da corte, o governo do Rio de Janeiro tinha mais for?a para suprimir essas rebeli?es”.“Em contrapartida, o governo do México n?o tinha for?a suficiente para evitar o desmembramento da América Central. Tampouco o governo de Buenos Aires em rela??o a Uruguai ou Paraguai”, acrescenta.‘Acordo de interesses’Segundo a historiadora brasileira Lilia Schwarcz, “a independência do Brasil foi uma solu??o de compromisso entre as elites, no sentido de primeiro evitar uma mudan?a estrutural na ent?o col?nia que se tornaria um país e evitar grandes conturba??es sociais”, diz.“Houve um ajuste entre as várias elites locais no sentido de preservar a escravid?o, evitar o formato de uma revolu??o, inclusive sabendo do que havia ocorrido na América Espanhola e conseguir manter o país unificado”, acrescenta.Graham concorda. “O governo central n?o foi imposto às pessoas influentes ou até mesmo “vendido” a eles. Eles (a elite brasileira) o escolheram”, assinala.“Eles procuravam legitimidade porque, sem ela, sua autoridade local permanecia relativamente fraca. Eles desejavam fortalecer a hierarquia porque ela validaria a sua própria posi??o local predominante. Para alcan?ar esses objetivos, eles construíram um estado central, simbolizado no imperador. A monarquia tinha sua utilidade”.Senten?a contra líderes da Inconfidência Mineira - Arquivo Nacional do Brasil“A presen?a do imperador foi fundamental. As elites pretendiam que o imperador fosse uma espécie de símbolo a unificar as diferentes províncias e que, de alguma maneira, ele fizesse uma passagem n?o t?o convulsionada como no restante da América Espanhola. Sabemos que a história n?o foi bem assim, mas foi o que aconteceu no momento da independência”, diz Schwarcz.Por fim, a op??o por um governo central, além de afastar o espectro de uma anarquia social, também favorecia estender o poder dessas elites, uma vez que cabia a elas as indica??es aos cargos públicos, como oficiais da Guarda Nacional, delegados de polícia e juízes.“Eles vieram a considerar o governo central como apropriado e útil para fins pessoais”, diz Graham.Já no fim do século, com a unidade do Brasil já assegurada e a escravid?o abolida, as elites já n?o precisavam mais “de um símbolo vivo do estado” para estabelecer sua legitimidade.O império acabou destronado pelo Exército, que proclamou a república quase sem disparar um único tiro.*Com ilustra??es de Cecilia Tombesi e Kako AbrahamIn ................
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