16 de Junho: Um marco de resistência à dominação colonial



16 de Junho: Um marco de resistência à dominação colonial

MUEDA.  16 de Junho de 1960. Milhares de patriotas “pagaram caro” pela sua coragem e bravura ao exigirem das autoridades coloniais portuguesas, o direito à independência e a auto-determinação. Numa manifestação pacífica de repúdio à colonização, os portugueses usaram e abusaram da sua superioridade militar para massacrar centenas de moçambicanos, de entre homens, mulheres, jovens e crianças. Este massacre marcou de forma indelével a todo o povo moçambicano, marcando mais uma fase da resistência à dominação estrangeira.

Maputo, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2008:: Notícias

 

Estava assim mais do que provável que pela via pacífica o povo moçambicano jamais alcançaria a autodeterminação. E o 16 de Junho fica com uma grande importância na história da luta de libertação. Foi o massacre de Mueda que demonstrou absolutamente que qualquer tentativa pacífica de alcançar a independência  seria inútil e ineficaz: o único caminho era a força, a violência  revolucionária, a luta armada.

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CHIPANDE CONTA COMO TUDO ACONTECEU

Maputo, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2008:: Notícias

 

No livro Datas e Documentos da História da Frelimo – 2ª Edição – 1975 – Alberto Joaquim Chipande, sobrevivente do massacre de Mueda conta como as coisas aconteceram:

Alguns dirigentes trabalhavam connosco. Alguns foram aprisionados pelos portugueses – Tiago Muller, Faustino Vanomba, Kibiriti Diwane – no massacre de Mueda, em 16 de Junho de 1960. Como  sucedeu? Bem, alguns desses homens tinham entrado em contacto com as autoridades e pedido liberdade e melhor salário... Tempos depois, quando o povo começava a apoiar estes chefes, os portugueses mandaram a Polícia às aldeias, convidando as pessoas para uma reunião em Mueda. Vários milhares de pessoas vieram ouvir o que os portugueses iriam dizer. Enquanto isso decorria, o administrador pedia ao governador da província de Cabo Delgado que viesse a Porto Amélia e trouxesse uma companhia de soldados. Mas estes esconderam-se quando chegaram a Mueda. De princípio não os vimos. Então o governador convidou os nossos chefes a entrar no gabinete do administrador. Eu esperei de fora. Estiveram lá durante quatro horas.

Quando surgiram da varanda, o governador perguntou à multidão se alguém queria falar. Muitos quiseram fazê-lo e o governador mandou que todos passassem para o mesmo lado.

Então, sem mais palavras ordenou à Polícia que amarrasse as mãos de todos os que tinham sido separados e a Polícia começou a espancá-los. Eu estava perto. Vi tudo. Quando o povo viu o que estava a acontecer manifestou-se contra os portugueses e os portugueses ordenaram pura e simplesmente aos carros da Polícia que avançassem  e reunissem os presos. Isso desencadeou mais manifestações. Nesta ocasião a tropas estavam ainda escondidas e o povo correu para a Polícia para impedir que os presos fossem levados. Então o governador chamou as tropas e quando apareceram  mandou abrir fogo. Foram mortas mais de 600 pessoas.  

O CAMINHO PARA A AUTODETERMINAÇÃO

Maputo, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2008:: Notícias

 

O POVO moçambicano, cansado da exploração e da humilhação estrangeira, viu a necessidade de desencadear a luta.

O livro Datas e Documentos da História da Frelimo a que nos referimos anteriormente escreve que definida a sua natureza opressora, exploradora e desumana, o ocupante não podia renunciar a partir  de uma lógica racional aos próprios sinais da sua feroz razão de ser: o colonialismo. Daí que o povo moçambicano, depois de séculos de sofrimento, trabalhos forçados, humilhações, torturas, extorsões, encontrasse finalmente o caminho da sua liberdade total, o caminho certo da vitória final por via da Frelimo – única e legítima força revolucionária representativa de todo o povo moçambicano.

E assim coube a Eduardo Mondlane determinar o grande combate, o combate sem tréguas ao colonialismo português – através da proclamação da luta armada.

De acordo com o mesmo documento, a Frelimo quis, por meio de esforços pacíficos, forçar o Governo português a satisfazer as exigências políticas fundamentais do povo moçambicano: a Frelimo expôs constantemente junto das instâncias Pan-Africanas, Afro Asiáticas e mundiais a situação em que se encontrava o povo moçambicano e denunciou os crimes do colonialismo em Moçambique. Apesar de tudo isto, o colonialismo português continuou a exercer a sua dominação sobre Moçambique, as riquezas nacionais e o tratamento do povo continuaram a ser explorados. Todos os dias eram assassinados moçambicanos por causa da sua participação activa na luta pela libertação do país. As prisões andavam cheias de moçambicanos e os que estivessem em liberdade não tinham certeza do amanhã.

A PIDE aumentava o número dos seus agentes e desenvolvia os seus meios de tortura; o Exército português era reforçado e aumentava continuamente os seus efectivos em homens e materiais de guerra.

Face à constante recusa do Governo português em reconhecer o direito do povo moçambicano à independência a Frelimo reafirmou que a luta armada era a única via que permitiria o povo moçambicano realizar as suas aspirações à liberdade, justiça e bem-estar. Nesse sentido proclamou a insurreição geral armada, nos seguintes termos:

“Moçambicanos e Moçambicanas:

Operários e camponeses, trabalhadores das plantações, das serrações e das concessões, trabalhadores das minas, dos caminhos de ferro, dos portos e das fábricas, intelectuais, funcionários, estudantes, soldados moçambicanos no Exército português, homens e mulheres, jovens e patriotas,

Em vosso nome a Frelimo proclama hoje, solenemente a insurreição geral armada do povo moçambicano contra o colonialismo português para a conquista da independência total e completa de Moçambique.

O nosso combate não cessará senão com a liquidação total e completa do colonialismo português”.

MARCO NA HISTÓRIA DA LUTA DE ÁFRICA

Maputo, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2008:: Notícias

 

O DIA 16 de Junho assinala também o marco na história da luta dos povos da África Austral, senão vejamos:

Quando em Mueda, a 16 de Junho de 1960, milhares de moçambicanos se levantavam contra o colonialismo, exigindo a independência nacional, na mesma data, desta feita em Soweto, milhares de jovens, estudantes e trabalhadores saíram à rua em manifestação de repúdio contra o sistema do “apartheid” na África do Sul.

Os estudantes recusavam-se a aceitar a introdução do afrikaans como língua obrigatória no ensino. Não apenas por ser o afrikaans mas sim como todo o sistema de ensino despersonalizador e racista.

Em resultado disso o regime de então respondeu com violência não hesitando em usar as mais cruéis formas de repressão. Deste massacre foram principais vítimas crianças e o Soweto marcou assim não o princípio da luta, mas sim o início da última etapa do combate contra o “apartheid”.

Mueda, em 1960; Soweto, em 1976, mostram que a luta que os povos moçambicano e sul-africano respectivamente travavam tem a mesma natureza: a libertação da pátria.

Mueda e Soweto são em última análise um símbolo da luta comum que os povos de todo o mundo travam contra o mesmo inimigo. Soweto e Mueda são símbolos de luta pelo mesmo objectivo: a paz, a democracia e o progresso social.

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