COMISSÃO DE SAÚDE E HIGIENE



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|IMPRENSA DE RESISTÊNCIA À DITADURA, JORNAL “O SÃO PAULO”, COM DEPOIMENTO DE DOM ANGÉLICO E DEBATE SOBRE O LIVRO SOMBRAS|

|DA REPRESSÃO: O OUTONO DE MAURINA BORGES, COM A AUTORA MATILDE LEONE. |

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|COMISSÃO DA VERDADE |

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|PRESIDENTE |

|DEPUTADO ADRIANO DIOGO - PT |

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|23/10/2013 |

COMISSÃO DA VERDADE

BK CONSULTORIA E SERVIÇOS LTDA.

23/10/2013

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva 89ª Audiência Pública, 23 de outubro de 2013, Plenário Dom Pedro. Instalação. Está instalada a 89ª Audiência Pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, no dia 23 de outubro de 2013, Assembleia Legislativa, Plenário Dom Pedro I, para oitivas do jornal “O São Paulo”, “Grita Povo” e a “Imprensa Católica na Resistência à Ditadura”. Esclarecemos que a Comissão da Verdade pretende realizar rodas as Audiências abertas só público.

Portanto vamos fazer a formação de nossa Mesa, aqui a minha esquerda, com muito orgulho e muita emoção, Bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino; aqui o grande jornalista e companheiro, jovem na época da resistência, Gilberto Nascimento; o fotógrafo Douglas Mansur ao lado do Gilberto Nascimento; Anivaldo Padilha pelo Conselho Mundial das Igrejas e pela Comissão Nacional da Verdade; Amelinha Teles pela Comissão Estadual da Verdade e de tudo o mais que quiser pôr no currículo dela.

Homenageada ontem a família Teles no Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos.

Bem sem mais delongas, vamos fazer uma retrospectiva de um material que conseguimos de áudio e vídeo recuperando um pouco as imagens e a trajetória de Dom Angélico principalmente no jornal “O São Paulo”. Danilo. Simone dá o contraste, por favor. Padre Naves, Irmã Élide, Padre Adriano e demais companheiros, vamos começar.

(Apresentação de vídeo)

Queria pedir para a Juliana, nossa querida Vereadora Juliana Cardoso, até quero pedir desculpas publicamente, e Ju, ela fica aqui ao lado do Douglas, Presidente da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão da Verdade da Câmara Municipal, obrigado, Ju.

Vamos lá, Dom Angélico nós estamos fazendo aqui uma retrospectiva que o jornal “O São Paulo” mandou das capas, as principais capas de quando o Senhor dirigia o jornal, esses aí são os jornais mais antigos, isso é uma retrospectiva das capas de “O São Paulo” principalmente anteriores a Dom Angélico, e o período que Dom Angélico dirigiu o jornal por muitos anos, e foi importantíssima a presença de Dom Angélico. Só estamos fazendo uma retrospectiva, volta essa que passou rapidamente para ele até acompanhar. As capas, vamos lá.

Aí tem o Santo nessa edição especial, o Santo Dias, Cabo Bruno, Luiz Eduardo na capa, Constituinte, Dom Luciano, novo Presidente da CNBB, Dom Pedro Casaldáliga, Prêmio Vladimir Herzog, esse é o período de Dom Angélico à frente de “O São Paulo”, um jornal importantíssimo para todos nós, para nossa vida, para nossa sobrevivência.

E também conseguimos algumas imagens do “Grita Povo”. Olha que bonita essa, Dom Angélico. Podem acender a luz e ele começa. Obrigada, Simone. Dom Angélico.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Bom dia meus irmãos e minhas irmãs. Eu me sinto verdadeiramente honrado por ter a oportunidade de participar desta Audiência Pública convocada aqui pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, presidida pelo ilustre irmão e amigo, Adriano Diogo. Parabéns! Parabéns!

Sinto-me honrado também por estar cercado de tantas e valorosas pessoas que estão nesse Plenário, digo com imensa sinceridade de coração. Quero saudar a todos aqueles que compõem essa Mesa, também tão significativa, e enfeitada aqui por duas flores ilustres desta cidade, nos extremos.

O convite, meus amigos, e quero já deixar muito claro, mas muito claro, e digo com plena consciência do que estou falando, quando se destaca uma pessoa, no meu caso, é absolutamente indevido esse destaque, porque eu me sinto como cidadão pertencente a um povo a caminho, a um povo em marcha, um povo que avança na medida em que está unido e organizado. Um povo que retrocede ou fica estancado na medida em que suas lideranças estão envoltas em outros problemas e em outros interesses, que aqui não vem agora ao caso analisar.

O convite a mim dirigido pelo ilustre irmão e amigo Adriano Diogo foi para que lhes fale um pouco em linha de testemunho. Ofereço, pois, o testemunho de vivência no campo de comunicações da educação popular que me é muito querida, na utilização de pequenos meios de comunicação, de uma imprensa por alguns chamada nanica, mas de um valor imenso na construção de cidadania. Jornalista integrante do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo desde os idos de 1955 no “Diário de Notícias de Ribeirão Preto” como repórter, depois como chefe de redação e como diretor daquele jornal, jornal diário pertencente então à Arquidiocese de Ribeirão Preto, em que estava inteiramente a serviço, comprometido com a boa nova de Jesus, e se posicionou decididamente na defesa dos trabalhadores da cidade e da roça, defendendo a justiça social, os pobres, os explorados pelo sistema capitalista vigente. Fazia-o firmado unicamente no Evangelho de Jesus e na doutrina social da Igreja. Em sua postura esse jornal foi identificado pelos donos do poder como filo-comunista, como subversivo.

Algumas vezes o jornal foi fechado, edições foram apreendidas, e o seu diretor Celso Ibson de Syllos perseguido e preso; nesta ocasião de sua prisão eu o substituí na direção daquele “Diário de Notícias”. Reinava o Regime Militar com Delegados de Polícia e cidadãos mais preocupados com a subversão do que, naquela cidade e região, os próprios Generais e Marechais. Não poucas vezes fui levado à Delegacia de Polícia defrontando-me com os Delegados: Doutor Renato, Doutor Lamano, para prestar esclarecimentos sobre matérias publicadas; e outras vezes fui convocado ao Segundo Exército aqui em São Paulo com o mesmo fim.

As matérias se referiam aos direitos humanos dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, aos explorados, espoliados, pelo sistema capitalista defendido pelo Regime Militar e seus apadrinhados donos do capital. Queriam saber o que estava por detrás da matéria, sentiam o cheiro de comunismo, de subversão, aos quais de forma alguma estávamos aliados.

O que nos guiava sempre eram a fome e a sede de justiça. O jornal me foi pessoalmente de imensa valia servindo-me de apoio no trabalho que realizava, também, na favela da Vila Carvalho em Ribeirão Preto, favela onde eu residia. E nas ocupações de alguns terrenos onde localizamos moradores sem habitação formando então a Vila Unida naquela cidade; e de maneira especial na ocupação das 120 casas construídas pelo Governo João Goulart, que levou o golpe e as casas então, por serem ainda concluídas estavam vazias. Ocupamos aquelas casas fazendo o translado de moradores da favela, que as casas estavam, repito, abandonadas, e batizamos aquela Vila de Vila Fraternidade.

Passo para São Paulo, capital, onde militei de modo especial nas zonas leste e Brasilândia onde militei, sobretudo em São Miguel Paulista, fui Bispo Assistente da Pastoral Operária e por isso me comovi quando rapidamente ainda contemplei projetada nesta tela imagens do operário, herói desta cidade – Santo Dias. Fui também, como já afirmado, diretor do jornal “O São Paulo”, eram os tempos de chumbo da Ditadura Militar. Como sabemos democracia demanda jornalismo independente e por isso os governos totalitários investem tanto contra uma imprensa de qualidade.

É de conhecimento histórico que nos anos de chumbo a Igreja em São Paulo, com Dom Paulo Evaristo à frente, se colocou decididamente na defesa da justiça social, dos pobres, dos moradores de rua, dos oprimidos, dos direitos humanos pisados contra a censura e a favor de liberdade, incentivando a união e a organização do povo em comunidades eclesiais de base, apoiando movimentos sociais, denunciando a tortura e a Ditadura militar. Destaque especial merecem as Pastorais da Periferia, da Moradia, da Saúde e Educação, dos Direitos Humanos, do Mundo do Trabalho, da Fé e Política. Na construção da cidadania, da união e organização do povo, papel de destaque merecem o jornal “O São Paulo”, jornais regionais como “Grita Povo” em São Miguel, “Voz da Esperança” na Brasilândia, e os subsídios da chamada por nós Universidade do Povo.

Diga uma palavra a respeito de “O São Paulo”, é o semanário da Arquidiocese de São Paulo, sofreu censura prévia e resistiu a essa censura, sobretudo, nos anos de 1971 a 1978. Os comunicados anunciando a censura eram sempre telefônicos, o Departamento da Policia Federal anunciava pelo telefone e simplesmente pelo telefone. Porém no dia 26 de julho de 1976 o comunicado da censura prévia veio por escrito, instituído pelo Ministro da Justiça normatizando como seria a censura. Cito e Decreto emanado, dizia o seguinte:

“Será realizada a partir desta data na Sede da Superintendência Regional do Departamento da Policia Federal de São Paulo, a rua Xavier de Toledo, 280, 3º andar, assim Vossa Excelência deverá...”.

Por favor, leia para mim aqui que você me ajuda que o ceguinho de 80 anos está meio precarizado. Até aqui, por favor.

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – “Será realizada nesta data na Superintendência da Regional do Departamento da Polícia Federal de São Paulo, à rua Xavier de Toledo, 280, 3º andar. Assim Vossa Senhoria deverá providenciar a remessa de matéria relativa a cada edição, inclusive os anúncios, fotografias, vinhetas, capa e contracapa à Sede do Departamento de Policia Federal até, no máximo, às 17h de cada quinta-feira.

Cumpre esclarecer que não será permitida a substituição da matéria vetada, sendo obrigatório o preenchimento de espaços relativos aos vetos que ocorrerem com o material normalmente aprovado, e se não houver, o editor diminuirá o número de páginas da edição.

Após a impressão do semanário, três exemplares deverão ser encaminhados a essa Superintendência, em horário previamente determinado, para a conferência e liberação se for o caso...”.

Olhem preste bem atenção a esse detalhe – “Após a impressão do semanário, três exemplares deverão ser encaminhados a Superintendência, em horário previamente determinado, para conferência e liberação se for o caso.

“Em caso de dúvida Vossa Senhoria deverá solicitar esclarecimentos pessoalment a esta Superintendência.”

A carta trazia assinatura do Superintendente Regional Benedito Félix de Souza, ver ilustração número sete.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Aqui está uma cópia do original desta carta que, por escrito, portanto censurava o jornal “O São Paulo”. E na matéria censurada, como dito, não poderia ser substituída, então ela era publicada, o jornal, em branco, lembram-se, leia e divulgue “O São Paulo”, era o espaço censurado. E assim uma série de matérias que ficavam em branco, simplesmente em branco, e colocávamos então – “Leia e divulgue ‘O São Paulo’”. Era matéria vergonhosamente censurada em nosso jornal.

E não vou continuar a levantar aqui o braço para não me cansar, isso tudo está publicado e a denúncia desse comportamento do Regime Militar e o jornal “O São Paulo” numa tese que foi publicada anos atrás. Aqui está a tese pelo Padre Cido. Padre Cido publicou e ele é o atual diretor do jornal “O São Paulo”, tese de diploma de jornalismo – “A Igreja e a censura política. A imprensa no Brasil, 1968 – 1978” – é apresentada no Centro Internacional para os Estudos de Opinião Pública, em Roma.

Continuo, é importante que se diga, e na minha biblioteca que trouxe aqui, eu não sei onde localizar, mas também não quero ocupar o tempo dos Senhores, é bom que se diga que também um número do jornal “O São Paulo” foi falsificado. Isto daqui é histórico e emblemático, isso aqui é uma das relíquias das safadezas de então. Essa edição de “O São Paulo” ela é da semana de 20 a 26 de agosto de 1982; edição falsificada do jornal. A matéria principal coloca Dom Paulo Evaristo com mea culpa, batendo no peito, “arrependendo-se” daquilo que ele tinha feito até então no governo da Arquidiocese de São Paulo, colocando o jornal, inclusive, como um veículo aliado à subversão e assim por diante. Essa edição falsificada foi distribuída em todas as Paróquias da Arquidiocese de São Paulo, e o povo que se defrontava com essa matéria pensava que era justamente, pensou em primeiro momento, de se tratar de edição legitima do jornal “O São Paulo”, quando na realidade foi uma edição apócrifa. Quando foi essa edição? Foi da semana de 20 a 26 de agosto de 1982, número especial.

A quem atribuir? Nós realmente não temos dados para afirmar, mas é sabido que além do Regime Militar tinha os apaniguados civis que ocupavam Legislativos também, ou os donos do capital que estavam interessados em denegrir a própria linha Pastoral Evangelizadora comprometida com os direitos humanos, com a justiça, numa palavra com o Reino de Deus, que foi o objeto de pregação de Jesus, Reino feito de justiça, de solidariedade, de ternura, de amor e de paz. Em que o quanto é importante porque isso é medular, e quando nós cristãos estamos num ocidente dito cristão, mas que fala em cristianismo pela boca, mas muitas vezes nega na prática. A pregação de Jesus foi sobre o Reino e é impressionante, ele passava de aldeia em aldeia socorrendo os doentes. Como fiquei feliz que o Padilha conhece o Padilha, o Ministro? Com o atual Governo lutou para mandar para as periferias, para os municípios deserdados desse país, que não têm médicos, não têm nada, mandar médicos. Fiquei feliz e lutei contra aqueles que são donos de uma medicina encastelada em centros e cidades privilegiando aqueles que já são privilegiados pelo Poder.

Como quer que seja, naquele tempo, muita gente se arvorava em cristão e queria defender, afinal de contas, a mensagem cristã encastelando-se no Poder, quando Jesus foi de aldeia em aldeia curando os doentes, levantando a cabeça do povo, organizando o povo, alentando o povo para caminhar. Impressionante! Pregou o Reino de Deus, mas nunca chamou a Deus de Rei, e sim de Pai, fazendo da humanidade uma fraternidade. Onde diferenças de cor, de raça, de religião, são em segundo plano, porque o importante é que é gente, é pessoa humana, e se é pessoa humana veio o Mandamento que ele nos deixou – “Amem-se uns aos outros”.

Portanto é esse o ímpeto que levava o jornal o jornal “O São Paulo”, levava a Igreja em São Paulo, leva a mensagem legitima do Evangelho. Abro parênteses para citar um grande libertador da Índia, Mahatma Gandhi, ele se formou na Inglaterra, um país dito cristão, mas que dominava a Índia, e levava no alforje, de pano, três livros, o livro sagrado do mulçumano, o Alcorão, o Gita do Hindu e o Evangelho de Jesus. E em sua luta de união do povo em busca de libertação, ele falava muitas vezes do Sermão da Montanha, perguntaram a ele – “Escuta aqui você fala tanto, de Jesus, do Sermão da Montanha por que não se converte a Jesus?” - e ele disse – “Não, por dois motivos, eu quero ficar fiel à tradição do meu povo, e em segundo lugar não viro cristão porque os cristãos assassinam na prática o Sermão da Montanha, que é um compromisso com os pobres, com a justiça, com a verdade”.

O quanto é importante que realmente nós acordemos e não somemos força com aqueles que ainda hoje oprimem o povo, estou numa casa de liberdade. Oh! Meu Deputado, tenho uma frustração quando eu falo de Ditadura Militar, e tenho que andar pelo Minhocão, qual o nome, o título, a honra que deram para o Minhocão? Como é que se chama? Elevado Costa e Silva. Elevado à dignidade. Eu sempre digo, estou numa Casa de Leis, que numa pista aqui, numa via, deixem o nome dele se quiser, mas na outra coloquem Santo Dias, aqui na rodovia, como é que se chama essa rodovia que vai, que era a antiga Oeste? Ah! Castelo Branco não é? Já sugeri que deem o nome, pelo menos quando passa lá perto de Sorocaba, deem o nome de Alexandre Vannucchi, porque as futuras gerações... Nós estamos fazendo história e relatando história, eles vão perguntar, “mas quem foi esse fulano, quem foi aquele fulano”, e nós devemos dizer – foram aqueles que estiveram à frente da Ditadura militar. Ah, é? Então ser ditador recebe homenagem nesse país, que belos Parlamentos. Não é desabafo não, é clamor de justiça histórica.

Quero falar uma palavrinha ocupando a paciência e a benevolência dos Senhores e Senhoras sobre o jornal “Grita Povo”. O jornal... Eu tenho mania de fundar jornais, quando na Leste, quando eu, eu sempre me coloco dentro de um grupo, de um grupo de intenso valor, de intenso valor! O quanto é importante a gente ter a mística de trabalhar em conjunto, de que nós unidos e organizados somos mais do que nós sozinhos e isolados. Piramidais não, comunitários, essa é a nossa força, é esse o clamor que nós temos que ter dentro de nós. Mas fui fundando jornal, lá na Leste, o “Grita Povo”, na Brasilândia, “Voz da Esperança”, lá em Blumenau onde estive por 10 anos também fundei um jornal e assim por diante, em Ribeirão já existia o “Diário de Noticia”, depois mataram, cessada a Ditadura Militar mataram, porque depois da Ditadura Militar, meu Deputado, reinou a calmaria. Uma calmaria de cemitério, como se tudo estivesse bem organizado, uma esperança e uma utopia que realmente se concretiza não com os compadrios e com os conchavos de Legislativos, mas se conquista com o povo organizado, o povo unido na rua, não há outro caminho, não há outro caminho. As grandes reformas somente advêm, acredito nisso e tenho que proclamar, somente com o povo unido, organizado, caminhando pelas ruas diante de bandeiras, mas voltarei a isto.

Uma palavrinha sobre o “Grita Povo”, foi um jornal de publicação quinzenal, comprometido também com o trabalho de conscientização, união do povo, em sua caminhada de libertação. Foi instrumento de comunicação, de construção de cidadania, dentro da Universidade do Povo, que abarca folhetos, poesia, voltados à educação, à conscientização popular, com tiragem, então na Leste, de 20 a 30 mil exemplares. era coordenado, o grupo esse grupo de publicações, pelo Centro de Comunicação e Educação Popular, o CEMI, na região de São Miguel, Zona Leste da nossa capital.

O jornal “Grita Povo” iluminado como os nossos folhetos também da Universidade do Povo, pela pedagogia de Paulo Freire, que tenho que dizer meu amigo, acordava o povo, dava-lhe confiança, anseio de liberdade, noticiava seus feitos, criticava os desmandos do poder politico e econômico, conclamava o povo à luta pacífica por direitos básicos, à saúde, à educação, moradia, transportes, por trabalho, justiça para todos. Presto a minha homenagem a todo o CEMI de então, ao Carlos Strabelli, meu irmão, que estava à frente deste trabalho. E o quanto é importante também na comunicação, que muitas vezes a gente fala somente de meios, mas tem uma comunicação poderosa na Universidade do Povo que é aquele cidadão, muitas vezes anônimo, a Dona Maria, a Dona Luzia, até analfabeta, mas que se comunica assim uma com a outra, levando a mensagem, levando a noticia, falando, convidando, insistindo, dando as mãos, o quanto isso é importante para um povo que realmente está unido.

Eu tenho aqui já foi publicado, mas eu faço questão ainda de abrir aqui em homenagem àquele tempo de então, “Grita Povo” com manchetes como: “Povo Negro: fome e sede de justiça”; “Um dia essa terra será nossa”; “A luta por terra, por moradia”.

Nós colocamos, colocamos na Praça do Forró lá em São Miguel, até 15 mil pessoas reivindicando por moradia! Era um negócio, Douglas você está lembrado? Ainda bem. (Risos). Pastoral da Terra, da região São Miguel, 25 de julho, dia do Trabalhador Rural, nós sempre fizemos questão de unir a nossa luta, a nossa caminhada, com a luta da terra, da conquista da reforma agrária. “Vitória na luta da terra”, quando a gente tinha uma vitória a gente se reunia, comemorava. Eu me lembro de que depois de uma grande luta, o ininteligível foi convidado para estar aqui também, foi um dos grandes líderes lá da organização do povo em cima da luta pela terra.

Em uma ocasião nós estávamos comemorando a conquista de moradia num bairro, fizemos festa, cantamos, pulamos, louvamos a Deus e nos abraçamos e nos confraternizamos, e aí uma senhora chegou para mim e falou – “Olha Dom Angélico, eu queria que o Senhor fosse lá à minha casa” – e eu digo – Mas a senhora mora onde? – e ela responde – “Nós conquistamos moradia aqui e construímos a moradia também no mutirão, vai visitar” – e eu disse – espera terminar aqui a comemoração que eu vou. Quando terminou a comemoração, ela tinha nascido na Bahia, tinha 86 anos de idade, quando eu estava para entrar na casa dela, conquista da união do povo, ela bateu em meu peito e disse – “Meu filho” – e começou a chorar – “é a primeira vez na vida que eu posso dizer eu estou na minha casa, porque migrante e aqui fui de uma casa para outra, até que, não nossa união, conquistou a moradia para todos nós”.

Assim e a serviço disso estava o “Grita Povo”, nós queremos viver, nós queremos viver! 3 mil na campanha da saúde exigiu solução do Secretário para que todos tenham vida, era o que nós estamos querendo alguns exemplares do “Grita Povo”, a Igreja do Governo não é a Igreja de Jesus Cristo. Então nós não tínhamos papas na língua não, era um jornal a serviço do povo. E todo o jornal de Igreja, em minha opinião, que não queira ser um jornal de sacristia, de assuntos secundários da nossa vidinha, ele deve ter um compromisso claro com a defesa do povo, com a moradia, com o trabalho, com a justiça, com a saúde, com a educação, e colocar as experiências de luta do povo, valorizar os políticos que também estão nessa luta, destacar aqueles que estão a favor do povo, comprometer-se, colocar a cara para bater. Sem o quê será uma publicação que satisfaz hoje a uma clientela a qual eu pertenço, dos 70 anos para cima, (risos) essa que é a verdade.

Quero me referir ainda que rapidamente, aos folhetos, por que na Universidade do Povo além de “O São Paulo”, além do “Grita Povo”, nós tínhamos os folhetos que serviam para as reuniões das comunidades, para as reuniões das Pastorais Sociais. E olhe é somente quem viveu e quem teve esses folhetos na mão é que podem avaliar devidamente. O mesmo se diga, portanto, dos folhetos, dos subsídios animadores das comunidades, das Pastorais Sociais. O povo era incentivado a se unir, a se organizar para a conquista de determinadas bandeiras, reivindicações, que eu cito novamente moradias, trabalho, creches, trabalho de conscientização do povo, e neste trabalho nos formávamos um mutirão, era o povão que estava ali na rua, eram religiosas, e tem uma aqui que eu presto até homenagem, a Irmã Carmem Julieta, que viu lá em uma reivindicação feita o que foi Presidente da República, o Mário Covas também esteve, naquele tempo duro e nós estávamos lutando lá.

E depois dessas reivindicações, uma delas eu tinha convidado o Secretário, era o Secretário da Saúde, e estávamos lá no Jardim das Oliveiras, último bairro lá na Leste, e o povo estava lá na rua, a reivindicação estava, era meio-dia quase e não é que o Secretário tinha se comprometido, aquele que foi médico de coração e tal, o Adib, Adib Jatene, ele tinha se comprometido em comparecer e não apareceu, mas na hora de eu falar eu desci a lenha, (risos) se compromete, mas não estão aqui presentes e tal, mas falei com vibração, acabei de falar vencendo a multidão assim aparece o Adib Jatene. Cá estou – eu falei – uma salva de palmas para ele e tal - com a maior cara de pau (risos) e ao término ele me disse – Agradeço o trabalho de vocês, porque na medida em que vocês estão organizados e reivindicam é que eu terei verbas para socorrer a necessidade da Saúde.

Quantas vezes nós organizados nessas pequenas comunidades, nós saímos às ruas gritando – “O povo unido... (plateia canta jamais será vencido” - muito bem vocês se lembram. Essa é a grande receita, é a grande receita para ontem e é a grande receita que continua a existir.

Falei de pequenas publicações, quero citar o quanto de importância se deu. Tenho aqui alguns, essa aqui é uma tese: “Jornalismo nas comunidades de base – Estudo de Caso do jornal “Grita Povo”, da Região Episcopal de São Miguel” – foi um estudo feito pelo Pedro Gilberto Gomes, na Universidade de São Paulo. Tem outro aqui, permitam-me citar aqui porque é muito importante: “10 Anos de Organização Popular. A Experiência da Região Episcopal de São Miguel”. Aqui também é uma tese da USP do... Maria Alice de Paula Gomes, em que ela apresenta também aqui no trabalho dela o testemunho, fotografias das contribuições em pequenas publicações. Que iam essas pequenas publicações para a mão do povo criando uma consciência nova de participação.

Tenho aqui também esses volumes aqui todos, esses aqui são: “Roteiros para os Grupos de Reflexão”, são os roteiros que fazíamos lá e todos eles firmados na sede e fome de justiça. Esses aqui, esses volumes aqui são dos roteiros então publicados, dos roteiros, aqui também é um outro volume, simplesmente dos roteiros. Eu fiz questão de trazer aqui porque quando a gente fala simplesmente pode não parecer o vigor que isso representou na educação popular daquele povo. E aqui também são roteiros, são os roteiros. E também um papel importantíssimo desempenhou na conscientização do povo, no dar confiança, e dar esperança para o povo, esperança.

Dom Paulo Evaristo, por exemplo, Dom Paulo Evaristo ficava simplesmente dizendo a nós e quando as dificuldades apareciam mais ainda ele dizia: “coragem, vamos avante, de esperança em esperança, na esperança sempre”. E nós usávamos também do recurso poderoso da música, da poesia, no trabalho de conscientização do povo, eu não vou ler tudo aqui porque é muito longo e tenho medo de cansar os Senhores. Olhe, por exemplo essa poesia aqui, o quanto é importante, deixe-me ler essa daqui, é uma poesia religiosa, mas vê o conteúdo:

“Seu nome é Jesus Cristo e passa fome,

E grita pelo caso dos famintos,

A gente quando vê passa adiante...”.

Quem vai me... Por favor, até melhor um pouquinho.

O SR. – “ Seu nome é Jesus Cristo e passa fome

E grita pela boca dos famintos

E a gente quando vê passa adiante

Às vezes para chegar depressa à Igreja

Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa

E dorme pela beira das calçadas

E a gente quando vê apressa o passo

E diz que ele dormiu embriagado

Entre nós está e não O conhecemos

Entre nós está e nós O desprezamos

Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto

E vive mendigando um subemprego

E a gente quando vê, diz : é um à toa

Melhor que trabalhasse e não pedisse

Seu nome é Jesus Cristo e está banido

Das rodas sociais e das igrejas

Por que fizeram Dele um Rei potente

Enquanto Ele vive como um pobre

Seu nome é Jesus Cristo e está doente

E vive atrás das grades da cadeia

E nós não raramente vamos vê-Lo

Sabemos que Ele é um marginal

Seu nome é Jesus Cristo e está sedento

Por um mundo de amor e de justiça

Mas logo que contesta pela Paz

A ordem O obriga a ser de guerra

Seu nome é Jesus Cristo e é difamado

E vive nos imundos meretrícios

Mas muitos O expulsam da cidade

Com medo de estenderem a mão a Ele

Seu nome é Jesus Cristo e é todo homem

Que vive neste mundo e quer viver

Pois para Ele não existem mais fronteiras

Só quer fazer de nós todos irmãos.” (palmas)

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Então é por aí, é essa consciência realmente de que também é poesia, mas uma poesia marca registrada, Jesus Cristo que quer a humanidade toda fraternizada, que quer a humanidade toda com possibilidade de ter vida, e vida em plenitude. E também cantávamos – “Virá o dia em que todos ao levantar a vista veremos nessa terra reinar a liberdade”.

Termino, termino sim. Olhem, meus irmãos devemos dizer, e não sou saudosista, eu gosto do tempo em que estamos vivendo, gosto do tempo, porque é o nosso tempo, é um tempo de desafios. Mas eu devo dizer que tenho umas saudades, ah! Que saudades que eu tenho do tempo em que tínhamos luta, em que unidos nós cantávamos – “O povo unido jamais será vencido” - eu tenho saudades desse tempo. Porque eu tenho a convicção de que realmente o grande trabalho que nós devemos fazer é o trabalho para que o povo se una, o povo se organize, e em bandeiras, em bandeiras, esse povo saia realmente às ruas, pacificamente, ajuizadamente, para conquistar aquilo que ele tem direito. Vale a pena em tempos de alienação, de muitas vezes uma imprensa vendida ao capital, a serviço do poder, voltarmos ao povo em trabalho constante por sua organização, voltada para as mais urgentes e básicas conquistas. Se alguém me disser – “mas isso aqui não é difícil?”. É!

Eu tenho só um testemunho que ainda eu quero dar, deixe-me ver só onde está um livrinho que eu fiz, é esse aqui...

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – É só um pouquinho

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Já vou terminar

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Não, não, eu só queria que antes do Senhor terminar, é muito importante, eu queria pedir ao Padre Júlio Lancellotti vir aqui para Mesa.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Ah! O Júlio está aí?

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Chegou.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – O Júlio merece uma salva de palmas. (palmas)

Porque, inclusive, eu estive agora... Se ele não tiver lugar eu dou o meu lugar. (Risos) Claro. Ele falou lá profeticamente sobre a vergonha que está acontecendo com os pobres moradores de rua, quando morrem,

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – A vala comum.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO olhem, são transformados em... Jovens homens cujos corpos são aproveitados para a ciência, mas cujos restos mortais são jogados covardemente em vala comum, que nós tínhamos no tempo da Ditadura, vergonha! Eu via os pobres jogados lá nas covas comuns do cemitério lá de Perus, de Dom Bosco, eu via os corpos colocados em sacos e ainda a coisa não está resolvida, mais vergonha! Ainda hoje na cidade de São Paulo isso acontece, isso tem que terminar, porque não é possível em nome da vergonha nacional que pessoas vão lá como estão indo. E de políticos inclusive, eu não sei se foi aqui ou se foi na Câmara, eu não tenho nada contra cachorro, nada, e nem contra gato, mas que privilegiem sepultamento de cachorros ao lado de homens e mulheres no mesmo campo, espera um pouco, portanto há uns desvirtuamentos acontecendo.

Mas eu quero ainda citar aqui para ver que as coisas não eram fáceis, aqui eu tenho em mãos um trabalho que é emblemático, esse trabalho aqui é muito importante, ele é muito maior porque tem outros volumes, um volume importante escrito pela Catherine Iffly, o livro é “Transformar a metrópole: Igreja Católica, Territórios e Mobilizações Sociais em São Paulo, 1970 até o ano 2000”. Esse trabalho aqui que é de Universidade lá na França ele traz também uma série de jornais e tal, e de publicações lá no tempo da Ditadura Militar, e também trouxe uma, aqui: “Movimento Católico Brasileiro, vale o retiro Satanás” – e quem é colocado aqui é o Dom Angélico, me colocou aqui como Satanás, com 2 chifres e me deu um título novo, eu me chamo Angélico Sândalo, meu sobrenome, então Dom Satânico Sub não sei o quê aí, “Dom Satânico Sulforoso Angélico Sândalo, um Bispo para a meditação dos católicos verdadeiros”.

Isso repete saiu lá em Paris, e foi traduzido esse livro aqui pela Universidade, a UNESP que traduziu, para dizer que não é fácil, não foi fácil no passado e não continua sendo fácil. Mas é preciso que a gente realmente, decididamente, se coloque na defesa daqueles que são os pobres, os explorados, aqueles que são vítimas do capitalismo liberal, que foi um respeito da Ditadura militar apoiado pelo comunismo, pelos Estados Unidos de maneira especial, e pelos donos do capital.

Naquele tempo, valendo para hoje, Dom Paulo Evaristo continua a dizer aos militantes e nós também continuamos com esse convite que vale para todos nós, vamos avante, de esperança em esperança, na esperança sempre! E que Deus nos ajude a sermos unidos nesse trabalho para o qual vale a pena. Amém! (palmas)

Ele está pedindo uma palavrinha a respeito de uma religiosa que é muito amiga minha, e também o Frei João, que é a Madre Maurina.

A Madre Maurina é uma religiosa lá de Ribeirão Preto, de uma creche que acolhia pobres, meninas, era aquele trabalho de organização, de simplicidade com aquele povo.

Naquele tempo um grupo também fundou que era necessária a libertação do povo. E naquele grupo de jovens, todos jovens, havia um ou dois que também eram do Partido Comunista, mas ela defendia que o povo precisava ser livre, não podia usar da escravidão. Esse grupo foi preso, e a prisão era de bater, era de usar as pessoas realmente, e colocaram a Madre Maurina também como defensora do comunismo. Não tinha absolutamente nada, era uma pessoa simples que queria realmente que aquele povo podia ter a sua alimentação, ter a escola e assim por diante. Foi presa, simplesmente presa, e foi para o presídio, e os jovens foram também para a prisão. Ela defendeu, com o Arcebispo de Ribeirão Preto, que era um evangélico que defendia o povo, ele também defendeu que realmente o que estava havendo era uma injustiça que estava cometendo para com aquela irmã, que ela não tinha nada de subversão. Ela foi valorizada porque os dois delegados de polícia foram decretados fora da comunhão da Igreja, porque eles defenderam as irmãs como responsáveis pela prisão que tinha cometido.

Depois houve a prisão de Deputados que foram colocados como desculpa e foi a prisão de quem foi um, meu Deus do céu, foi um dominador lá que era presença e respondia pelo tratado, e ela foi então colocada como desculpa, ela foi mandada para a política e foi... viveu lá, meu Deus do céu minha memória agora, pelo México, ela ficou lá e trocada por um Cônsul, foi o Cônsul do Japão, e ela foi trocada, ficou um tempo enorme. Eu tive a alegria de escrever para ela, e depois que veio a Anistia ela foi voltada aqui para o Brasil. A última carta que ela escreveu, ela ainda me escreveu e eu escrevi a ela, era uma mulher livre, uma mulher que amava realmente as crianças, e que os militares de Ribeirão Preto realmente cometeram a vergonha da prisão da Madre Maurina.

Então realmente foi... como tantas outras pessoas, tantas outras pessoas! Aqui quando a gente fala, por exemplo, daqueles que eram da Pastoral do Mundo do Trabalho, quanta gente que foi presa. O Waldemar Rossi, por exemplo, quanto sofrimento, quanto apanhar, quanto realmente de lágrima dessas pessoas. Foi um tempo que realmente meu Deus do céu!

E tudo aconteceu num tempo em que havia de um lado Estados Unidos e outros países que se apresentavam como de libertação. E como a Rússia e (ininteligível) aliados também que eram do comunismo, mas nós não estávamos querendo nada disso. Nós estávamos querendo que o povo realmente tivesse simplesmente a libertação para que tivesse moradia, saúde, tudo aquilo que o povo unido saia às ruas de uma maneira extraordinária, e foi um tempo realmente extraordinário.

Assim também aconteceu com essa religiosa, e que o meu irmão que está aí veio aqui também não veio, o Frei João, e outras pessoas também estiveram aqui nesta cerimônia que vocês fizeram aqui prestando todo o trabalho de libertação a estas pessoas que honraram este país e pessoas que ainda continuam a honrar por esse país pelos caminhos da libertação, foi por aí.

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Muito bom, até o Danilo... a Matilde Leone trouxe um pequeno vídeo e o Danilo foi buscar e antes de terminarmos, fazemos uma homenagem à Madre Maurina através deste trabalho que a Matilde trouxe de Ribeirão para que todo mundo que não estava naquela sessão pelo menos tome conhecimento.

Eu queria primeiro convidar uma pessoa para vir para a Mesa, Padre Naves nós constituímos aqui na Comissão da Verdade agora o Grupo da Terra, o Grupo dos Camponeses, você que é uma pessoa que luta há tanto tempo, embora jovem, e tal no Grupo dos Camponeses, vem e fica aqui ao lado do Padre Júlio que é importante que a gente tenha uma pessoa como você da CPT aqui com a gente, Padre Antônio Naves da Comissão Pastoral da Terra. (palmas)

Bem, Padilha dê uma palavrinha, não? Vai falar

Todo mundo vai poder conversar com Dom Angélico, mas o Padilha é uma pessoa muito especial que vai fazer uma saudação, as pessoas talvez não conheçam, não saibam o que... é isso, portanto vamos lá Padilha .

O SR. ANIVALDO PADILHA - Muito obrigado Deputado Adriano Diogo, e agradeço muito o convite para estar aqui, eu creio que depois de Dom Angélico a minha tendência seria ficar mais ou menos calado porque a sua fala exige de nós todos momentos sérios e profundos de reflexão. Mas eu gostaria de não perder o costume de um protestante que não evita falar quando tem a oportunidade, eu gostaria de mencionar o seguinte, o Senhor lembra algo que é muito importante na sua fala, Jesus no seu ministério, na sua prática, no seu movimento, Ele anunciou sempre, constantemente, o Reino de Deus, anunciou o Reino e anunciou que não era algo que estava por vir, mas que já estava entre nós. Esse Reino que se instala e se renova a todo e qualquer momento em que homens e mulheres se unem na luta pela justiça, pela paz e pela dignidade humana.

Infelizmente as igrejas, eu não vou dizer a Igreja porque quando se fala a “Igreja” pensa-se somente na Igreja Católica Romana, mas infelizmente as igrejas pararam de anunciar o Reino e começaram a anunciar-se a si mesmas. E isso me faz lembrar um momento há 3, 4 semanas atrás que eu fiquei bastante triste e preocupado, quando houve na Europa um encontro ecumênico, que para mim não tem nada de ecumenismo, mas um encontro ecumênico para celebrar o papel de Constantino na história do Ocidente, quando todos nós sabemos que foi um momento da chamada “Conversão de Constantino” em que a Igreja cristã formalmente se aliou ao império e desde então as nossas igrejas não deixaram de ser aliadas do império, mas passaram a ser escravas do império, e servidoras do império, e isso acontece até hoje.

Por isso mesmo às vezes me dá saudades, não saudosismo, mas saudades do tempo em que grande parte das nossas igrejas, setores importantes das nossas igrejas, estiveram de forma explícita e abertamente ao lado do povo, na luta pela justiça, na luta pela dignidade humana, na contra opressão, na luta contra um regime de terror que se instalou no Brasil.

Ao ouvir as suas palavras eu diria que nós vivemos realmente talvez um momento, um novo momento eu diria talvez um Kairós em que temos diante de nós oportunidades imensas de a busca que fazemos hoje, a busca do resgate da memória, a busca da verdade, possa realmente nos ajudar a construir as condições para que a justiça seja cumprida em nosso país.

Por isso eu me sinto bastante honrado de estar aqui ao seu lado hoje, porque devo-lhe dizer que o Senhor, o seu trabalho desde lá de Ribeirão Preto, mas vários outros Bispos Católicos, serviram de inspiração principalmente para mim, Protestante, Metodista, na época também jornalista editor de uma revista dedicada à juventude evangélica no Brasil que foi fechada a partir do momento em que fui preso em 1970, portanto nós temos muitas coisas em comum. E acho que uma das outras coisas em comum que temos é que, apesar de nossos cabelos brancos, eu acho que continuamos com um pouco daquele vigor e do destemor e da petulância da juventude, de usar um pouco das oportunidades que temos para levantar a nossa voz em clamor, e em continuidade ao clamor pelos oprimidos e explorados da nossa terra.

Eu gostaria de terminar fazendo um anúncio aqui e um convite a todos e a todas aqui presentes. O Senhor mencionou o cemitério de Perus, das valas comuns, eu quero anunciar que no próximo dia 2, Dia de Finados, nós vamos ter um evento, um Ato Ecumênico, no Cemitério do Araçá ao lado do Ossário do cemitério, onde estão os ossos das pessoas que foram sepultadas clandestinamente em Perus. Vai ser um Ato Ecumênico em memória dos mortos e desaparecidos da Ditadura. Nós vamos lembrar também os mortos e desaparecidos de hoje.

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Que horas, Padilha?

O SR. ANIVALDO PADILHA - Vai ser as 10h30m ao lado do Cemitério do Araçá e é um evento que está sendo organizado e patrocinado por um número enorme de organizações, que são desde o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, várias outras organizações ecumênicas, 3 centrais sindicais, 4 sindicatos, a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, a Comissão Nacional da Verdade, a Secretária de Direitos Humanos da Prefeitura. Queremos contar com a presença lá não confirmados ainda do Prefeito Fernando Haddad e do Cardeal Dom Odilo Scherer, E faço aqui formalmente o convite para o Senhor também estar presente como um dos grandes símbolos da luta que tivemos no passado e que continua sendo também motivo de inspiração para todos os jovens de hoje de São Paulo. Muito obrigado. (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Só para a gente não perder esse... eu sempre gosto de qualificar as pessoas, o Anivaldo Padilha ele é de formação Protestante das igrejas históricas, foi preso politico, barbaramente torturado e permaneceu boa parte da vida dele no exílio organizando a resistência nos Estados Unidos.

Danilo para não perdermos o elo com a fala do Dom Angélico com a prisão da Madre Maurina, a Matilde Leone a escritora, a Matilde Leone a jornalista, fez um pequeno vídeo sobre a... A Matilde Leone para uma feira de livro de Ribeirão só para contextuar e nós vamos fazer uma breve memória aqui na presença do Dom Angélico uma homenagem da Matilde Leone.

** (apresentação do vídeo) (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – A gente pede para Matilde dar uma palavrinha ao final.

Vamos lá, Gilberto Nascimento, jovem jornalista na época que Dom Angélico dirigiu o “Grita Povo”.

O SR. GILBERTO NASCIMENTO – Eu vou falar bem rápido porque acho que o importante aqui é o testemunho do Dom Angélico, do Padre Júlio, do Padilha, da Amelinha, de todas as pessoas que resistiram bravamente no período da Ditadura, no período da repressão muito mais dura, mais terrível, mais difícil. Eu e o Douglas e um outro grupo de jovens jornalistas nós pegamos o final, o finalzinho da Ditadura e eu fico até emocionado de estar aqui hoje, de estar participando desse processo, de relembrar toda uma atuação, uma participação, uma mobilização muito grande tivemos principalmente lá na Zona Leste de São Paulo, lá na região de São Miguel Paulista, bairro onde eu nasci, um bairro operário, bairro de imigrantes nordestinos e eu também sou filho de imigrantes nordestinos.

Nasci ali, cresci ali e lá por volta dos nossos 20 anos, não é Douglas? Estávamos engajados nesse processo, na construção do CEMI do Centro de Comunicação e Educação Popular. Então assim foi com muito orgulho que eu participei da equipe da fundação do “Grita Povo” e também da equipe do jornal “O São Paulo” no período de 1982 a 1985, e eu era estudante ainda de jornalismo, estava iniciando a profissão, mas foi dentro desse processo que eu me criei e me formei. Posteriormente eu fui trabalhar na “Folha de São Paulo”, no “Estadão”, no “O Globo”, na “Isto É”, na “Carta Capital”, na TV Record, passei por um monte de grandes veículos aí, mas nunca deixei de ter uma ligação com os movimentos sociais, com a luta pelos Direitos Humanos, com o compromisso por ter melhores condições de vida para população, para o povo brasileiro.

Quem viveu ali numa região como São Miguel Paulista conhece os problemas da maioria do povo sofrido de perto e não só de ouvir falar, e foi também graças a isso que depois ao longo do tempo, em outras publicações, na “Isto É”, em outros lugares aí, a gente pode fazer trabalhos falando sobre trabalho infantil, sobre todo quanto é tipo de situação de opressão, de exploração, de miséria.

Eu desde aquela época lá em São Miguel tinha aquele ideal, você achava que jornalista ia resolver os problemas do mundo, ia denunciar tudo, isso a gente não conseguiu e obviamente a gente não consegue, mas a vida inteira foi uma batalha contínua assim. O Padre Júlio que está aqui se lembra do período na “Folha de São Paulo” em que a gente brigava e lutava para denunciar as violências contra os meninos de rua aqui da Praça da Sé, de toda a São Paulo. Então é uma eterna batalha que temos na chamada grande imprensa também para poder denunciar as injustiças que acontecem em nosso país, as desigualdades. E tudo isso, acho que essa tentativa de fazer o trabalho cada vez melhor até hoje foi tudo graças a essa escola nossa dentro da redação de “O São Paulo,” dentro da redação do “Grita Povo”.

Portanto eu fico até emocionado, e tenho muito orgulho de ter participado de todo esse processo, e acho que outras pessoas que viveram aquele período mais duro de quando a censura, os censores estavam dentro da redação poderiam também estar aqui contando, mas como Dom Angélico já brilhantemente colocou. E é isso eu agradeço a essa grande escola que eu tive no “Grita Povo” e na redação do “O São Paulo”, e obrigado. (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Padre Douglas.

O SR. PADRE DOUGLAS – Eu também assim agradeço o seu convite e agradeço de... eu sempre falo que sou um repórter privilegiado de ter um pastor como Dom Angélico, e de ter outro pastor querido também que foi Dom Paulo Evaristo, depois Dom Cláudio, e a convivência também do lado evangélico do Anivaldo, o Sedin, e também o Gilberto Nascimento esqueceu que ele foi também editor da revista “Tempo e Presença”, que ele é muito humilde então ele esquece, quando ele era jovem não lembrava e agora está meio de idade está esquecendo.

A revista “Tempo e Presença” ela foi um marco também muito histórico. Outro jornal também foi o jornal “Porantim” que até hoje existe, o “Vai e Vem” que falava do imigrante, a (ininteligível) que era o Dermi Azevedo, o Braguetto que hoje era para estar aqui, mas acho que por alguma dificuldade não pode vir, desde 1988, então essa caminhada da comunicação , como o Gilberto falou, foi uma caminhada para nós.

Fora isso também foi a organização popular. Eu sempre falo que aprendi muito na região Leste, toda aquela região acho que foi para mim a maior escola, de ter convivido com pessoas que acreditavam num mundo melhor. Eu sempre falo assim que a fotografia é um instrumento pedagógico, porque dá coragem para gente criar escola, porque a história não começou conosco e nem vai terminar conosco também, pode ser que termina conosco como muitos terminaram lutando por isso, Santo Dias e outros mais.

A gente vê que também... Eu estava conversando ali com o Luiz lá da Junta, o jornal O São Paulo” sempre presente lá na Junta, que foi baleado o Luiz, conversando com ele lá, e outras pessoas. E a gente vendo também assim vê hoje adultos, assessores, que na época eu vi criança e já estavam lá militando. Tem duas pessoas aqui, Eliane e Vanilda, que desde o ventre de sua mãe ela já estava lá lutando. E isso que é uma coisa gostosa, a história ela é bonita, mesmo com o Anivaldo, com Adriano, Amelinha, e tantos outros que lutaram, que sofreram, outros foram assassinado como Santo Dias, a gente vê esse ânimo por saber que tem essa geração que está aqui presente, acho que isso que é o ânimo para nós. É a fotografia e o exemplo dessas pessoas aqui tão queridas e corajosas.

E na região de São Miguel que foi mais assim “O São Paulo “e o “Grita Povo” não só estava presente na nossa gloriosa São Paulo, mas O São Paulo conseguia abranger a todos, as Romarias da Terra lá em Goiânia que desde 1982, 1983, a Caminhada dos Mártires quando foi feita lá em Goiânia com 300, 500 caixões de pessoas do campo e da cidade que foram assassinadas, “O São Paulo” estava sempre presente, coisas que os outros meios de comunicação não davam.

Eu acho que a importância desses meios de comunicação é que dá as coisas que os grandes jornais não dão muitas vezes. Tem aquele nosso boletim que a gente tinha, “Avante Povo” também, são coisas assim que para gente foi um privilegio, eu o Gilberto, o Bascchera, Bernardete, Miriam, e outras pessoas que conviveram no Grita Povo, a Regina Vilela, a Jô Azevedo, o Rivaldo Ximenes, são pessoas que foram acreditando, Edmilson Zanetti, tantos outros que foram passando por nós e grandes jornalistas, e continuam hoje, continuam nessa escola e nesse testemunho de levar adiante que não foi em vão que Amelinha, Anivaldo, Santo Dias, e muitas outras pessoas acreditavam nisso.

Eu vou passar algumas imagens, assim, só para nós vermos como era a redação do jornal “O São Paulo”, se ele puder apagar a luz?

Essa aqui foi a reunião da CNBB, quando era antigo... Olhe o Padre Cido novinho e tem também o Frei Ismael que foi um dos... Depois do Dom Angélico foi o Frei Ismael, a tem Jan Rocha aquela que está com o bebezinho no colo, que era uma jornalista da BBC de Londres, essa menina hoje é jornalista está com 30 e poucos anos, a Jan está com aquele nenê no colo, ela é a Jan Rocha.

Outro é o (ininteligível), essa outra menina da Globo que cobria, que era o Dermi “Folha” aqui embaixo; olhe o Gilberto novinho, gente, como diz o Boris Kossoy, para gente deixar registrado, o Boris Kossoy é um grande pesquisador de fotografia, ele fala que a foto é maldita mesmo, novinho e depois vê hoje acabado. (risos) Aqui Dom Pedro Casaldáliga, Padre Cido, nosso querido Padre Cido, isso aí tudo em Itaici, na reunião da CNBB.

Isso também na hora do almoço lá, essa a Ana que fazia na TV 30 segundos, Ana Elidia, que não estou me recordando o nome do programa, que foi um grande sacrifício porque todos os dias de manhã passava para se evangelizar, “Palavra Viva”, muitos artistas da Globo que na época estavam começando deram a sua contribuição. Lá é o Frei Sérgio Calixto que também essa homenagem nesse dia de hoje da resistência, que era um dominicano Frei Sérgio merece a nossa... No final a gente dá esse aplauso para todos que conviveram.

Esse aqui é uma equipe de jovens, é o Rubens, na região do Belém que tinham outras pessoas que estavam incentivando também a comunicação, exemplo a outras gerações. Essa aqui é onde era o “São Paulo”, Roberto Bascchera, eu na frente sempre bonito ali no meio, a Bernadete e a outra que está no “Estadão”. Essa foi uma das secretárias do São Paulo, não estou recordando o nome, mas foi do São Paulo também. Ali no 1º Congresso da CUT a Jô Azevedo entrevistando um camponês. J Jô Azevedo foi uma jornalista também e que fez um trabalho bonito sobre as crianças.

Aqui como era o... E a gente pegava... O “Grita Povo” também era um instrumento pedagógico, era só a gente como o Dom Angélico, íamos e fazíamos a reportagem e depois fazíamos reflexões em nossas comunidades, portanto todas as nossas vias sacras, encontro de rua, quando está formando a comunidade, nós levávamos o jornal “Grita Povo”, “O São Paulo”.

Essa é uma reunião sobre... Esta o Nivaldo Ximenes lá, o Gilberto, porque fazíamos um trabalho do papel da comunicação no meio de nossas comunidades. Essa aí é a Rosa Aleluia uma das jornalistas novas do “Grita Povo”. Ali está o Henfil discutindo sobre comunicação na Casa de Cultura do Itaim Paulista. Esse aí era o Eduardo do Jornal “Porantim” também que era um dos jornalistas que apoiava o “Grita Povo” e depois passou a trabalhar no Jornal “Porantim”, e hoje está no Senado e cuida da imprensa no Senado.

Esse aqui era em frente à Igreja de São Miguel, Padre Zaca, Carminha e Pedro (ininteligível), padre que apoiava também a... esse aqui era onde o CEMI, que Dom Angélico falou, quem passar hoje na Catedral de São Miguel, aqui era antiga casa onde funcionava o “Grita Povo”. Aqui também onde era a nossa querida e maravilhosa e corajosa redação, nos andares da Igreja de São Miguel Paulista. Lá está a Raílda e a Rosa Aleluia ali também, esse aqui é o João Caetano que hoje é jornalista lá em Mogi. Essa aqui é outra reunião também, o Beraldo que fazia os nossos cartuns. Todos eram voluntários ali que a gente tinha uma.... Acho que na outra que tem o jornal “O São Paulo”.

Eu coloquei algumas fotos só para termos numa noção. Aí nós íamos cobrir, esse aqui é o primeiro Tribunal Santo Dias lá na Vila Remo, como passou naquele filme, formada a Praça Santo Dias, foi um Tribunal, ali está o Gushiken, o Greenhalgh, um era advogado, era testemunha. Aqui a praça onde foi formada, a Praça Santo Dias na Vila Remo. Esse aqui foi um ano do falecimento, do assassinato do Santo Dias, ali estava o Lula e outras pessoas presentes, em frente à Praça da Sé.

A nossa presença também nos quilombos porque a gente era meio amplo e começaram a documentar essas coisas, o quilombo lá em Registro, aí a Bernardete Toneto fazendo a reportagem, essa aqui o Dom Paulo Evaristo, que hoje essa casa no Jardim Conquista na Zona Leste, então procurávamos ir fazendo a reportagem, o Jardim Conquista como era antes, eram todos crianças na época.

Aí o Santo Dias, 10 anos de luta, e a gente tentava contemplar o teatro, “União e Olho Vivo” sempre presente, o “Galo de Briga”, sempre presentes também.

Dentro dos presídios a gente tentava procurar dar as notícias e sempre junto. Aqui a (ininteligível) em 1988, aqui o Padre Braghetto já fazendo, vendendo tem a (ininteligível) de 1988 junto com a Agência de Notícias Ecumênicas. Essa aqui é a Fátima que falou que estaria aqui hoje, mas também não, isso é uma das Caminhadas de Promissão que está fazendo 26 anos no próximo dia 2 também, quando eles chegaram a São Paulo ali no Seminário Santo Cura d’Ars, que foi recebida pelo Dom Angélico, e Dom Angélico lá em cima abençoando, novinho.

Outra coisa também isso aqui é da Verbo Filme que é outro também que foi um grande das comunicações que faziam os filmes para divulgar, dos Verbitas. Isso aqui é o Angélico dando entrevista para a Rádio Bandeirantes num despejo na Zona Leste. Isso aqui como foi citado o Paulo Freire em uma das caminhadas e a Anita, esposa dele.

Aqui uma das grandes manifestações na Sé e a gente sempre presente também, o jornal “O São Paulo”, o “Grita Povo”. Isso aqui é MPA – Movimento Popular de Arte de São Miguel Paulista, na Zona Leste é um aglutinado, e ali o Grupo Tarancon, os deficientes físicos que eram o grande... no início... Essas conquistas hoje do deficiente foi há 26 anos onde essas pessoas estavam lutando. Por isso que a foto é bonita, ela é pedagógica para nos mostrar que a história não começou conosco, há muitos anos, e para nos dar coragem e continuar em frente.

Esse aqui em São Felix, esse Padre é o Padre Cavazzuti que ficou cego por um tiro pelo jagunço e aquelas outras pessoas que foram todas assassinadas, Santo Dias e outros. Isso é uma das manifestações em São Miguel Paulista, sobre saúde, educação, sobre a juventude, e nós fizemos a grande caminhada que até hoje tem, da ressurreição, saímos da Igreja da Penha e fomos até São Miguel Paulista, a noite inteira caminhando. Aqui apoiando a Nicarágua. Essa aqui é a Lourdes Guarda que era uma deficiente física e passou 30 anos nessa cama no Hospital Matarazzo e ela caminhava esse Brasil inteiro organizando os deficientes, a Lourdes Guarda.

Esse aqui é outro despejo na Zona Leste. Esse aqui é o Padre Ticão quando estava saindo da prisão quando ele foi preso, aí é ele saindo da prisão. Aí outro despejo. Uma das fotos jornal “O São Paulo”, poder ver que hoje os policiais não podem carregar mais os instrumentos, em uma matéria nossa, pelo jornal “O São Paulo”, nessa foto o Roberto Gouveia que era na época Deputado entrou com uma Lei reivindicando que os policiais... o dono do terreno que tinha que fornecer os caminhões para... então essa Lei foi numa das fotos de uma matéria do jornal “O São Paulo.”

Esse aqui é a grande nossas ....da Terra, Dom Angélico lá e o nosso povo querido. Esse aqui é uma formação de comunicação da Igreja, está o Padre Zezinho, esse de barbichinha é o Padre Pedro que fez a tese sobre o “Grita Povo”. Essa aqui as grandes manifestações que o Angélico também citou. Essa aqui nós documentamos a chegada do Betinho ali no Largo São Francisco. Aí um ato pela ética na politica. Essa aqui é a primeira caminhada de Sumaré, que hoje é um assentamento, a Cida Segura ali, que também faleceu. Esse aqui é o Tribunal Tiradentes.

Então isso é só um pouco para sabermos que a história ela é rica. (palmas) E nos enriquece sempre. Portanto eu agradeço a atenção também e passo para o Júlio.

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Vamos lá, foi bonito, maravilhoso o trabalho, Douglas. Padre Júlio.

O SR. PADRE JÚLIO LANCELLOTTI – Eu não cheguei na hora porque como disse o Dom Angélico e queria que cantasse eu tinha encontrado Jesus Cristo caído lá no centro e tive que parar. E hoje nós não cantamos isso muito porque só fazemos muitas Aleluias de mão levantada, e não somos capazes de ver e as nossas comunidades esqueceram de cantar tudo isso.

Mais saudando Dom Angélico que é para nós sinal de resistência e de esperança eu queria repetir o que eu disse outro dia lá em São Miguel numa festa parafraseando Leonardo Boff que diz, sobre Jesus: “que sendo tão humano assim só podia ser divino” – e parafraseando eu disse: “sendo tão humano assim só podia ser Angélico”. (palmas)

Então esse é o nosso Dom Angélico que colocou o povo dessa Arquidiocese de joelhos no Largo de São Francisco para pedir perdão da morte do Joílson de Jesus que era um menino de rua que foi morto por um Procurador do Estado na Sé e depois foi absolvido. Essas histórias são muito longas e a memória só vale se muda o presente e não o repete. E infelizmente nós estamos vivendo um presente que repete o passado, embora toda a resistência do passado parece que esteja um pouco tímida no presente.

Então eu queria até aproveitar e convidar que amanhã às 13h teremos uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal para tratar da violência contra a população em situação de rua, e onde será lido um manifesto do Movimento Autônomo dos Trabalhadores Sociais denunciando o higienismo da Prefeitura do Senhor Fernando Haddad, que está varrendo e limpando a cidade, jogando o povo da rua como lixo de um lado para o outro. E a GCM que está agindo de maneira bastante truculenta e com o apoio do Governo Federal que colocou, vai colocar aqui em São Paulo, e já começou, 5 ônibus, cada um custando 2 milhões de reais, com nove câmeras que é o Big Brother do crack. Então eu queria aproveitar para dizer tudo isso para dizer às contradições que nós vivemos.

O Gilberto Nascimento lembrou de quando ele estava na “Folha de São Paulo” e nós conversávamos muito sobre a violência na FEBEM e das crianças de rua, e quando ele me avisou em tempos da democracia da “Folha de São Paulo” que eu estava censurado na “Folha de São Paulo” e ele não podia pedir mais informações para mim porque uma das editoras da Folha, diz que o povo da Folha, e ela tem um sobrenome que é melhor eu nem dizer qual é, queria só figuras de gente bonita e feliz na primeira página, principalmente nos finais de semana e não queria saber de povo e nem de gente sofrida e nem molambenta, nem menor infrator e nem abandonado, muito menos gente fedorenta da rua. Então a própria “Folha de São Paulo” censurava, aliás, fazia jus a sua memória de ter carregado os presos políticos e de ter justificado a Ditadura, mesmo em seus tempos de democracia.

Eu lembro, Amelinha, que quando fui com você numa manhã muito fria, que garoava muito lá na vala de Perus, e queria lembrar, Padilha, que agora quando tiver essa celebração do dia 2 ao mesmo tempo nós vamos celebrar a Missa lá em Perus e nós começamos a celebração na sepultura dos 5 moradores de rua do massacre de 2004, e depois passamos na sepultura do Queixada que está lá sepultado, e depois temos a celebração lá.

E é triste de saber que dessas ossadas que estão ainda sem identificação, lá no Columbário do Araçá, muitos são indigentes, muitos são moradores de rua, muitos são os pobres da cidade; e há quem diga, e a Amelinha deve saber bem disso, que as condições como ossos que estão lá depositados perderam a possibilidade de identificação porque eles ressecaram e não há mais possibilidade, nem por DNA, de saber quem são essas pessoas.

Queria dizer, Adriano, que como Presidente dessa Comissão e da Comissão da Verdade eu queria lembrar e a mim emociona muito estar aqui com o nome de Rubens Paiva por que foi por causa do programa do Rubens Paiva Filho que eu fui processado pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Secretário famoso do massacre do Carandiru, como era o nome dele? O Pedro Campos, eu fui processado pelo Pedro Campos com autorização de 5 Bispos do Estado de São Paulo, que foram avisados previamente pelo Secretário da Segurança Pública e pelo Governador que eu iria ser processado, e os 5 Bispos do Estado de São Paulo me avisaram, eles mesmo me avisaram – “E nós autorizamos que você seja processado” – por causa da minha declaração no programa do Rubens Paiva na TV Cultura, quando eu disse que o esquadrão da morte de São Paulo era oficial e se chamava Polícia Militar do Estado de São Paulo, e que o comandante do esquadrão da morte era o Pedro Franco de Campos. Isso foi dito no Programa do Marcelo Rubens Paiva e por isso eu fui processado e graças a Deus não sei porque não fui condenado.

Em termos de processos que eu peguei lá na FEBEM por causa dos transportes dos jovens e depois das rebeliões foram coisas bastante difíceis e quem sofre na mão da imprensa sabe o que significa ser espoliado, despojado de tudo, e como me disse o Padre Comblant: triturado e viver a tribulação. Por isso eu queria também homenagear uma pessoa que está aqui é uma mulher, e a gente tem que homenagear essas pessoas pelo trabalho popular que sempre fizeram e fazem, a Irmã Élide é para mim um exemplo de luta, de persistência, de perseverança e de coragem. (palmas)

Levanta, Irmã Élide, é uma missionária comboniana, que significa para nós e para padres que como eu, que já estou velho, um exemplo de uma mulher lutadora, corajosa e valente e que não teme e que está sempre junto com o povo e vive pobre como o povo. Parabéns, Irmã Élide!

E terminando, palmas para Irmã Élide. (palmas.) E terminando, Adriano, eu queria dizer que essa Comissão, viu Amelinha, e eu tenho reclamado muito disso, não sei no que vai dar, é conseguir finalmente o número dos indigentes da cidade de São Paulo sepultados como indigentes desde 2008 até o início deste ano são 4.500 indigentes sepultados em São Paulo. Na Vila Formosa I, na Vila Formosa II, e a maioria no Cemitério de Perus. Eu falei isso ao Vereador Mário Covas Junior que junto com a Comissão da Verdade da Câmara tem um Projeto de Lei de fazer um banco de DNA das pessoas que são indigentes. Só que eu disse a ele não adianta o DNA do indigente se eles estão em covas comuns, você pode saber que está lá, mas você não acha mais. Eu me lembro da Dona Helena, que tinha a ilusão, o sonho e a poesia de que ela ia encontrar os restos de seu filho e ia identificar. Dona Helena da “Tortura Nunca Mais”, é uma das figuras ícones da nossa caminhada e de nossa luta, mas não vai identificar mais.

Eu sugeri à Comissão Municipal e quero sugerir também a Comissão Estadual que se faça uma visita ao Cemitério de Perus sabendo do serviço funerário quando há sepultamento coletivo, viu Amelinha, eu já falei isso para o Adriano porque e essas pessoas vão despidas numa meia canoa de madeira e são jogadas todas juntas numa cova comum. Essas pessoas, a gente não sabe o que é feito dos órgãos delas, o que é feito com a hipófise dessas pessoas, o que é feita com retina dessas pessoas. E o que é muito grave é de que não há no Estado de São Paulo um cruzamento de dados hoje dos desaparecidos com os indigentes. São Paulo tem 40 desaparecidos por dia, a cidade, o Estado todo chega a mais de 1000 por mês e não se cruzam os dados, embora muitos dos casos dos desaparecidos seja elucidado, não se sabe se algum daquele desaparecido foi sepultado como indigente.

E temos o dado e isso fica gravado aqui também que já está gravado na Câmara, que alguns hospitais de São Paulo, como a Santa Casa, quando chegam moradores de rua em situação muito precária de saúde todos se chama João e as mulheres todas se chamam Maria, e mesmo que você tenha a cédula de identidade dessas pessoas para a identificação todos são João e todas são Maria. O que é feito com os corpos dessas pessoas, e como Dom Angélico lembrou, e outro dia Dom Angélico também falou isso, há um comércio em cima dos corpos dos pobres. E se nós temos a memória da resistência feita de forma tão valente e corajosa por tantos heróis e tantas pessoas que marcaram a nossa vida e a nossa caminhada, em homenagem a essas pessoas nós não podemos permitir que isso continue com os mais pobres, com os mais esquecidos, por que todo aparato da Ditadura Militar de tortura, de violência e desaparecimento e de morte não foi desativado, ele mudou dos presos políticos para os pobres. E isso continua, os pobres hoje são os presos políticos condenados à morte, ao degredo, ao desaparecimento, à sepultura como indigente nos dias de hoje, e isso é uma vergonha que clama por justiça.

Eu acredito que e fica aqui minha homenagem ao Dom Angélico, a tantas pessoas como a Amelinha, o Padilha, a Irmã Élide que estão aqui e há tantos que cujos nomes estão na nossa memória e no nosso coração. E pedindo a você, Adriano, que a gente tenha esse grande empenho de buscarmos, em homenagem a todas essas pessoas, elucidar essas questões, disciplinar, o IML não pode continuar sendo da Segurança Pública, os dados do Serviço Funerário do Município de São Paulo têm que ser públicos e transparentes. As Comissões devem receber os dados dos indigentes, quantos devem ser sepultados por mês e todos esses dados têm que vir a público para que a nossa história seja passada a limpo, para os presos políticos e para os refugiados urbanos de hoje, que são os pobres, os moradores de rua, aqueles que morrem pelas ruas da nossa cidade. Obrigado. (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Só deixa falar uma coisa, Dom Angélico acordou cedíssimo e veio para cá, então o que estou pensando, fala o Padre Naves que ele vai fazer uma saudação e falar da questão da terra, dos camponeses, e aí 3 mulheres vão fazer as últimas falas antes da fala do fechamento que o Dom Angélico vai fazer. Vou pedir, na ordem, após o Padre Naves falar, a Irmã Élide que foi citada pelo Padre Júlio com muita justiça, faz uma fala sobre a beleza da vida dela, da trajetória dela aqui no Brasil, há tantos anos lá em Sapopemba na Fazenda da Juta, e uma pessoa da resistência, a Matilde Leone que veio de Ribeirão, que veio para a Audiência da Madre Maurina, que escreveu o livro, vai fazer uma fala, Amelinha e Dom Angélico fecha tudo bem? Você quer falar alguma coisa não é Douglas, importante. Só para as pessoas se organizarem, porque a coisa mais desesperadora é você estar terminando uma reunião e começa a dar aquela fuga. Às 13hs nós terminamos, tudo bem? Vamos combinar, todos podem ficar até às 13hs, então vamos liberar a Giba, Douglas vai lá.

O SR. PADRE DOUGLAS - A revista “Sem Fronteira” que eu tinha marcado aqui dos combonianos que foi também um símbolo da resistência, o editor era o João Pedro Baresi, portanto uma salva de palmas para a revista “Sem Fronteira” também, e os combonianos.

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Giba, você vai ter que sair, então vai. Padre Antônio Naves com a palavra.

O SR. PADRE ANTÔNIO NAVES – Então de forma brevíssima, Adriano muito obrigado pelo convite e em nome da Comissão Pastoral da Terra a gente manifesta aqui duas palavras apenas.

A primeira palavra é dizer que o jornal “O São Paulo”, Dom Angélico, eu era estudante no Paraná na década de 1970 e as primeiras romarias da terra que nós fazíamos no Paraná e encomendávamos pelo correio ou de ônibus os exemplares de “O São Paulo” para podermos fazer análise de conjuntura, lembra-se? Naquela época a gente fazia análise de conjuntura, então ajudou muita gente no Paraná, a Comissão Pastoral da Terra. A minha escola foi na década de 1970 junto com a nascente Pastoral Operária, Comissão Pastoral da Terra, e a luta contra a Ditadura que já assassinava também no Paraná tanta gente. Vim para São Paulo em 1984, portanto a gente começou a acompanhar aqui também a partir de 84.

Eu gostaria de dizer também que a questão da terra, Adriano, você colocou tão corretamente, porque o assassinato no campo é enorme, todos nós sabemos. E hoje dia 23, hoje é 23 não é? Nós estamos lembrando aqui pela Agenda latino-americana o nome de 2 camponeses, e é bom a gente citar o nome por que acaba passando despercebido, Vilmar José de Castro, Pastoral das Comunidades CEB’s em Goiás, foi assassinado pela UDR no dia de hoje em 1986, você lembra? Outro nome importante da terra, 1987, João do Pará. E a cada dia do ano nós queremos fazer memória dos que foram assassinados pela Ditadura, Adriano, nessa década de 1970 até recentemente.

Então fica o compromisso de participar da memória, da verdade e da justiça desta Comissão. Parabéns pelos trabalhos até agora. Parabéns, Dom Angélico, por tudo que nos ensinou mesmo não estando aqui em São Paulo. (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Quero pedir uma coisa que Padre Júlio sempre fala. Danilo, Lia se vocês puderem pedir lá na Liderança do PT o Projeto de Lei do Deputado Hamilton Pereira exigindo o banco de dados de DNA, que foi vetado pelo Senhor Governador, porque é importante que o Júlio tenha esse documento em mãos porque como ele trabalha... Faz uma cópia para todos da Mesa, para que o pessoal tenha uma cópia do Projeto de Lei do Hamilton que foi vetado, porque o Hamilton faz um estudo sobre desaparecidos comuns e ele fez esse Projeto do Banco de Dados e foi vetado.

Então Irmã Élide, não precisa sair daí, levo o microfone, a Amelinha leva, a Senhora fala daí mesmo, Irmã.

A SRA. IRMÃ ÉLIDE – Eu tenho somente que agradecer tudo que vivi hoje aqui porque foi um reviver da minha vida. Desde que cheguei ao Brasil, eu cheguei já com 39 anos. Nasci na Itália, mas aqui eu me identifiquei tanto com o trabalho, comecei em Rondônia organizando os lavradores, sei que um dia na preparação ao Dia do Lavrador, dia 25 de julho, nós fizemos uma caminhada, organizávamos os lavradores que vinham da roça, de longe, 70 quilômetros no meio da roça e aí então nós junto com outra Irmã organizamos a caminhada do centro social até a Igreja que se terminava com a Missa.

Então nós caminhávamos com esse grupo de pobres, eu na frente e a outra irmã atrás junto com eles, e eu na frente e veio a Policia Federal nos parar, era um amigo, quer dizer ele queria casar, este policial queria casar com uma jovem, nós erámos também da Secretaria da Paróquia e ele veio ali – “Mas vocês estão fazendo revolução aqui, para com isso!” – Ah nós descei Divina Luz (cantando), eu que estava na frente, A Nós Descei Divina Luz (cantando), e a irmã falou – “Mas você vê que é uma procissão, nós estamos cantando ‘A Nós Descei Divina Luz’, e olhe se você vai nos acusar não vai casar com aquela jovem”. E nos deixou andar e terminamos assim. E foi ali que vivemos tudo isso e que culminou com o assassinato da morte do Padre Ezequiel, e estava eu trabalhando com ele naquela época.

Depois vim para São Paulo em 1988 e ali continuou a minha luta junto com os pobres da Juta, que todos conhecem a nossa caminhada e ainda estou aqui na minha idade, com muita felicidade de estar aqui e ter vivido está época. Agora estou me perguntando, “como vai ser daqui para frente”? Que Deus nos ajude. (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Matilde Leone.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Ai que gente linda. Maravilha.

A SRA. MATILDE LEONE – O Senhor também é lindo. Olha eu agradeço, em primeiro lugar quero agradecer profundamente o convite que eu recebi do Adriano Diogo para participar dessa Comissão, para dar o meu depoimento que foi feito já na segunda-feira. Hoje eu tive um prazer imenso de estar novamente aqui assistindo e não dando meu depoimento, pelo meu encontro com, na época era o Cônego Angélico, que conheci e hoje Bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino, e todas as pessoas que deram esses depoimentos, depoimentos tão ricos que eu me sinto assim até... Eu gostaria ter participado um pouco mais desse trabalho do qual vocês falam vocês tiveram uma opção, uma opção pelos pobres.

Mas a minha vinda aqui foi para falar sobre a Madre Maurina, e eu já fiz o meu depoimento, mas eu quero hoje deixar novamente assim o meu agradecimento e a minha homenagem à Irmã Maurina, que de uma forma ou de outra ela também fez essa opção pelos pobres no trabalho que ela realizou no Lar Santana com os órfãos, com as crianças órfãs. E também pela consciência política dela, pela sensibilidade, pelo fato de ela ter suportado tudo o que ela suportou, da forma como ela suportou, as torturas, os interrogatórios, e não ter delatado ninguém, não ter comprometido ninguém que ela poderia ter comprometido.

E é isso, na verdade a gente fica até emocionada diante de tantas situações que o país viveu que as pessoas viveram, e nosso desejo realmente é que o trabalho dessa Comissão seja para impedir de alguma forma, ou trabalhar para isso, para que esse estado de coisas horrorosas que nós passamos não se repita no Brasil. (palmas).

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – A Editora Vozes finalmente divulgou que eles acharam, depois de uma profunda pesquisa, que tem 300 livros no estoque. Nós já vamos providenciar um para o Senhor. Tem a capa do livro pelo menos para mostrar? Portanto nós vamos pedir os livros, vamos pedir para a Editora pelo menos uns 100 livros para deixar à disposição, são 2 livros sobre a Madre Maurina. Da Matilde e da Denise. “Sombras da Repressão”, então a Vozes vai entregar uma parte dos livros que pedimos e nós vamos disponibilizar o livro da Matilde aqui na Comissão da Verdade, está bem? “Sombras da Repressão” e o da Denise como chama? “Imaculada”. Denise Assis, “Imaculada”. E Matilde Leone, “Sombras da Repressão”. E Amelinha Teles.

A SRA. AMELINHA TELES - Bom dia, eu também quero fazer aqui o meu agradecimento, e o meu agradecimento é assim, eu sou dessa luta, eu fui presa politica, eu fui da imprensa clandestina. E por ser da imprensa clandestina estou pensando aqui, eu fui condenada na Primeira, na Segunda e na Terceira Instância, a Ditadura me condenou, condenou a minha família, tem o sequestro dos meus filhos, a Janaína e o Edson que na época tinham 5 e 4 anos; portanto a imprensa para mim é algo muito caro, muito caro. E eu fiquei muito... E eu queria agradecer muito por estar aqui nesta Comissão da Verdade, eu não queria estar, e o Adriano sabe disso, eu não queria estar nesta Comissão, mas eu agradeço muito de estar aqui.

Porque nós fizemos várias Audiências com vários, tratando das questões das mulheres e continuamos tratando, e quando a gente ouve uma Audiência da Madre Maurina nós, enfim, nós fizemos várias Audiências da Imprensa de resistência, essa imprensa que nos ajudou a suportar, digamos assim, a sobreviver à Ditadura.

E muitas vezes as pessoas perguntam, muitas vezes as pessoas querem o nosso depoimento de sobrevivente e as pessoas perguntam – “puxa, mas passou por tudo isso e como é que você ainda continua?”. Mas é porque nós tivemos... Quem foi dessa imprensa alternativa, dessa imprensa do jornal “O São Paulo” não tem, acho que quem escreveu eu queria que estivesse ouvindo, as pessoas que escreveram, as pessoas que nos receberam em muitos momentos, em muitos momentos nem conheciam a gente, nós vivíamos na clandestinidade, o papel que essa imprensa teve para que a gente conseguisse se fortalecer, conseguisse acreditar que aquela luta era possível. Essa imprensa trouxe essa mensagem para nós, e acho que isso a gente não pode deixar de registrar aqui.

Logo que eu saí da Ditadura, da prisão, porque a Ditadura temos muito ainda a enfrentar, ela ainda está muito presente em várias instituições de hoje. Mas logo que eu saí da prisão as primeiras pessoas que me ouviram foram pessoas da Igreja, da Comissão de Justiça e Paz da Margarida Genovois, nunca vou me esquecer disso. A Margarida Genovois foi a mulher que me disse assim – “Fale, fale tudo o que você estiver sentindo, fale e nunca deixe de falar, se possível “– e eu digo sempre isso eu falo e estou falando há 40 anos esses acontecimentos, porque este ano está fazendo exatamente 40 anos que eu saí da cadeia e eu nunca deixei de falar. Ela foi uma pessoa que me deu esse apoio, e me deu esse apoio junto à organização.

Portanto eu acho que essa imprensa, com toda essa dificuldade, muita coisa que estava escrito ali eu não entendia, eu não sou da igreja, eu não participo desse ritual religioso, mas ali acho que ensinou para nós da esquerda que tínhamos outra politica, o nosso negócio era politica. Ensinou a nós o sentido dessa expressão “Direitos Humanos” que a Ditadura proibiu o uso dessa palavra, dessa expressão “Direitos Humanos”, está escrito lá nos arquivos do DOPS - Direitos Humanos significa proteção aos terroristas, esse pessoal que fala em Direitos Humanos estão querendo proteger os terroristas. Está escrito, isso está escrito no documento assinado pelo Delegado do DOPS de São Paulo, Edsel Magnotti, ele assina esse documento. Essa expressão, melhor dizendo, era proibida. E nós, na clandestinidade, com pouca luz, muito na sombra, muito na escuridão, no obscurantismo, nós vamos aprender o significado de Direitos Humanos via essa imprensa de resistência.

A solidariedade nós vamos aprender e, vocês não imaginam o que é você sair da cadeia, você estar totalmente isolado, você está sem emprego, você está sem casa, você não tem absolutamente nenhum suporte e você encontrar uma palavra dessa, “você tem direito a falar porque você é uma pessoa humana”. Você encontrar isso nesse momento, talvez vocês não entendam, parece muito pouco, mas é muito, e garantiu a nossa sobrevivência politica, afetiva, emocional, social, entendeu? Portanto eu acho assim eu estou aqui graças a essa imprensa, então eu não posso esquecer disso.

E queria pensar aqui que Dom Angélico veio para falar da imprensa, mas ele tem história, ele é uma pessoa que... E eu falo do Dom Angélico um momento que eu tenho contato com essa figura, anos e anos muito difíceis, logo depois do Ato AI-5, Ato Institucional nº 5. É 1970, 1971, em que nossos companheiros são assassinados, eles falam que foram mortos em tiroteios e estão sendo mortos lá na tortura. Então o Dom Angélico... Eu saí da prisão, mas meu marido continuou no presídio do Barro Branco que era onde ficava, em determinado momento da história, ficavam os presos políticos e eles fizeram um documento muito importante que é uma lista de 233 torturadores que eles conheceram nas torturas, nas prisões, no DOI-CODI, no DOPS, nas Delegacias, então esse documento, ele até hoje é uma preciosidade histórica que nós temos que recuperar aqui nesta Comissão, porque a gente não pode esquecer lembrar é resistir sempre. E quando eles assinaram, e eles assinaram, eu não me lembro agora o número de presos políticos que assinou, mas teve assinatura, e todos eles começaram a receber ameaças de morte da AAB, que era Associação Anticomunista do Brasil ou Brasileira, e nós... As famílias também começaram a receber.

E nós buscamos apoios das pessoas que ainda tinham a voz, que ainda tinham espaço na sociedade, e uma das pessoas que procuramos foi o Dom Angélico. O Dom Angélico, ele e meu marido foram correspondentes, eles escreviam cartas, e essas cartas... Tenho as cartas respostas de Dom Angélico e Dom Angélico recebia as cartas do César Teles que foi um dos signatários da denúncia desses 233 torturadores.

E eu quero aqui, de público, agradecer ao Dom Angélico. Talvez, Dom Angélico, o Senhor não saiba o quanto isso curou feridas, o quanto isso nos deu força, porque muitas vezes a gente não sabia se ia desaparecer no dia seguinte, porque ali as pessoas começaram a desaparecer, as pessoas começaram a desaparecer e você não sabia, você sabia que estava sendo seguido o tempo todo, a gente via que tinha carro seguindo a gente, pessoas mesmo, policiais à paisana, ou vestidos de civil, e a gente tinha assim uma certeza, uma esperança, uma força que vinha naquelas cartas, era assim: eu tenho apoio, eu posso sair na rua, eu tenho apoio, eu posso ir para luta.

Então eu vejo assim, muita gente fala assim – nossa, “mas como você lutou esse tempo todo?” – eu lutei e não lutei sozinha como muito bem lembrou Dom Angélico, a nossa luta não é sozinha, nós temos um coletivo, nós temos muito mais gente do que às vezes a gente tem oportunidade de conhecer e conversar. E Dom Angélico, muito obrigada, muito obrigada por tudo, que a sua força, aquela força, aquela energia que deu a nós, nós estamos aqui sobrevivendo até hoje graças a você, obrigada. (palmas)

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Muito bem, então vamos para a fase final do encerramento, a fala do Dom Angélico. E eu só queria dizer, Dom Angélico, ah primeiro eu queria falar que o ininteligível não veio, mas veio a Deise que está ali representando, ela é a que faz o fechamento do jornal “Voz da Comunidade,” nossa querida Deise, que emite e-mails para o Brasil inteiro para fazer o SOS da Luta do Povo. Dom Angélico, dê um abraço em Dom Angélico, Deise.

Dom Angélico, o Projeto de Lei que eu estava falando e que o Padre Júlio está lutando que haja no município é esse Projeto de Lei 463/2011 e define diretrizes para política estadual de busca a pessoas desaparecidas e cria o banco de dados, que é o banco de DNA, de pessoas desaparecidas. Porque desses desaparecimentos, tem um dado aqui, de 1º de janeiro de 2008 a 9 de fevereiro de 2011 existe uma média de 11 pessoas desaparecidas por dia no Estado de São Paulo, entre crianças e idosos, mulheres e adultos. Nesse mesmo período de 3 anos, parentes e amigos comuns comunicaram às Delegacias o sumiço de 63.150 pessoas, sendo que 19.445 somente desses casos foram identificados, o restante está desaparecido até hoje. Então é um Projeto muito importante do Deputado e infelizmente, porque custa muito caro fazer um banco de DNA e outras justificativas que não me cabe aqui, porque não fui eu que vetei, evidentemente e nem nós que queríamos que vetasse, mas foi uma... O crime que era perpetrado na ditadura no IML a mesma prática continua, e esse projeto deu continuidade a esse crime, continuar na ditadura que permanece até hoje no IML Paulista porque ninguém que desaparece é procurado ou identificado.

Dom Angélico, suas palavras finais.

O SR. DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO – Antes da palavra final eu quero realmente pegar a carona naquilo que o Padre Júlio acabou de dizer aqui e já disse lá na Câmara Municipal. É preciso acabar com o escândalo do comércio em cima das lágrimas de pessoas que veem entes queridos partindo, vale de maneira especial para homens pobres de rua, mas vale para outros também. O Serviço Funerário Municipal, o que é isso? Como que é tratado? Há realmente, e desculpe o termo, uma verdadeira gangue atrás disso tudo e já vem de longe, não é de agora. Só vou dar um exemplo, eu trabalhei 10 anos em Blumenau, na bela Santa Catarina, à época o município tinha 280.000 pessoas mais ou menos e trabalhei e apoiei inclusive um crematório. Quantos crematórios tem a cidade de São Paulo? Um crematório público, onde é que nós estamos? Não tem cabimento, o Serviço Funerário Municipal eu tenho me encontrado com pessoas que são exploradas, e para pagar isso, paga aquilo, mais aquilo e aquilo, na hora que um ente querido está aí, a família está nocauteada. Então apelo, palavra de terminar, parabéns Deputado, parabéns para Comissão da Verdade, parabéns de coração, mas parabéns, e continue nesse trabalho, continue. (palmas)

Quando eu acabei de chegar aqui, que o Edmilson foi pegar lá com a Irmã Carmem também, eu me encontrei com uma judia, você conhece com quem foi? Sabe o nome? Claro que você sabe, fale, por favor. A Chaia. Então eu quero terminar simplesmente com um Salmo que a comunidade judaica há centenas de anos vem levantando para Deus e a comunidade cristã também o faz. É uma poesia, é um Salmo, que fala para que cada um e todos nós que continuemos na luta, no trabalho. Salmo 125: “Aquela vez que Deus mudou os nossos caminhos, parecíamos sonhar, nosso rosto brilhou de alegria, nossos lábios de canções. Entre os pagãos se dizia, grandes coisas fez o Senhor com eles. Na verdade o Senhor fez maravilhas conosco. Ah! Muda também agora, Senhor, os nossos caminhos, à semelhança dos rios do sertão, despertados pela chuva repentina. Quem vai, vai chorando a lançar as suas sementes, ao voltar, voltará cantando a colher os seus feixes”.

Valeu a pena de estarmos unidos na luta! Valeu a pena o povo unido, organizado, sair em bandeiras reivindicatórias, na certeza de que virá sim o dia em que todos ao levantar a vista, veremos nessa terra reinar a liberdade. (palmas)

** a plateia canta.

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO – PT – Danilo, tem uma imagem fixa para encerrar a cerimônia e deixar um retratinho da Irmã Maurina?

Eu só queria dizer uma coisa, Dom Angélico, é muito importante que o Senhor veio aqui hoje, com essa turma maravilhosa, que é o seguinte, quando nós começamos a Comissão da Verdade nós tínhamos 3 capítulos, 3 degraus, 3 estágios para percorrer: memória, que é a memória das vitimas; a verdade que é a historia do poder, dos torturadores, dos assassinos, dos financiadores da repressão, dos donos da mídia; e finalmente a justiça. Nós estamos ainda no degrau da memória, se fosse possível nos mudávamos o nome da Comissão da Verdade, nos mudávamos para Comissão da Memória. Porque quando nós começamos a gente falava que nem o Silva da oposição sindical metalúrgica falava – Agora vai, vamos para justiça - e nós não saímos da memória, Dom Angélico. A verdade que é o segundo capítulo ainda está muito longe, nós não chegamos à curva onde está a verdade e a justiça nós não sabemos se vai chegar.

Agora como nós somos católicos, cristãos, e a nossa religião adotou a cruz, como símbolo máximo da resistência do povo que foi crucificado, os macabeus, e 300 anos depois nós adotamos a cruz como símbolo da resistência, a cruz é o nosso pau de arara. Porque não tinha método mais cruel do que matar uma pessoa, que era pendurar ele numa cruz e deixar vivo. Porque o Fernando Altemeyer me deu uma aula de crucificação e disse que não punha na mão, punha no pulso, e ainda punha um banquinho para o cara aguentar mais um pouco para ir apodrecendo, apodrecendo, e consumindo. Então há 2 mil anos a Igreja Católica faz a Comissão da Verdade. E com essa força, com essa palavra, e olha que o Senhor já foi perseguido por tantas ditaduras, e o Senhor resistiu e está aqui conosco hoje nos dando esperança. Muito obrigado, Dom Angélico, muito obrigado. Abaixo a ditadura, abaixo a inquisição, e que haja justiça a todos os povos. Muito obrigado. Amém! (palmas)

A Sessão está encerrada, por enquanto.

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