Relatório técnico das chuvas no estado de São Paulo



RELATÓRIO TÉCNICO DAS CHUVAS EM SÃO PAULO

1 - Caracterização das Chuvas

A climatologia da Região Sudeste do Brasil define o período de dezembro a março como a estação chuvosa. No início do período as frentes frias estacionam mais ao norte da região, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia e a partir do mês de janeiro o volume de chuvas é maior no estado de São Paulo devido à atuação mais intensa dos sistemas frontais.

De um modo geral durante nos meses de verão, em todo o Estado de São Paulo, os totais de chuva mensal oscilam entre 180 e 340 mm, com os maiores valores sendo registrados no Litoral Norte e na Serra da Mantiqueira, enquanto que climatologicamente o sul do Estado é a região em que o acumulado de chuva é menor durante o verão.

As chuvas em São Paulo estão associadas a três fatores: frentes frias, linhas de instabilidade e convecção local (tempestades de verão).

As chuvas associadas às frentes frias normalmente são de longa duração e abrangem grandes áreas. No caso de episódios de frentes frias estacionárias por vários dias sobre o Oceano Atlântico, conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), é quando ocorrem os eventos extremos que podem gerar elevados acumulados pluviométricos, com riscos de inundações e deslizamentos. Enquanto as chuvas associadas com linhas de instabilidades e processos convectivos (aquecimento local), normalmente são de curta duração e tem como conseqüência à formação de alagamentos de vias públicas e transbordamentos de córregos e rios.

2 – Episódios de Chuvas Fortes observados em Janeiro de 2004

No presente verão observou-se um atraso em relação à climatologia. Em boa parte do mês de janeiro uma frente fria se instalou entre o norte da Região Sudeste e sul do Nordeste mantida pelos ventos úmidos e quentes soprando da Amazônia. A atuação deste sistema causou chuvas contínuas na região entre os dias 10 e 18 de janeiro, o que gerou inundações e deslizamentos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e alguns estados do Nordeste.

A partir do dia 24 de janeiro tais ventos passaram a atuar entre o estado de São Paulo e o Paraná e provocaram chuvas contínuas, com intensidade variando entre moderada a forte. As áreas mais atingidas foram o oeste, centro e sul do Estado.

Analisando a Figura 1, observa-se que no mês de janeiro o volume de chuvas foi maior do que 300 mm nas regiões de Sorocaba, Registro, parte de Campinas, Araraquara, Bauru, Ribeirão Preto, Araçatuba e São José do Rio Preto. Destaca-se na região de Sorocaba, a cidade de Itapetininga, onde o acumulado mensal superou os 400 mm. Analisando a figura 2, observa-se que as chuvas foram acima da media climatológica nas regiões citadas anteriormente, com desvios positivos de até 70% entre as regiões de Sorocaba e Registro. Nas figuras 3 e 4 é possível fazer uma análise mais detalhada das regiões mais atingidas pela chuva no período de 25 a 27 de janeiro. Através das quais, observa-se que no período choveu o correspondente a mais de 50% da média histórica entre as regiões de Araçatuba e Franca. Na figura 4 é fácil perceber que a situação foi bem mais grave entre as regiões de Sorocaba e do Vale do Ribeira. Em poucos dias a chuva acumulada em algumas localidades da região superou a média do mês de janeiro. Esse grande volume de chuvas em poucos dias é que foi responsável pelas inúmeras ocorrências registradas na região. Em Minas Gerais, por exemplo, foram acumulados 266 mm em 8 dias de chuvas ininterruptas, já em Itapetininga (região de Sorocaba) choveu 246.5 mm em 24 horas.

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Figura 1: Mapa com as chuvas registradas no mês de janeiro de 2003. Destacam-se as regiões de Sorocaba, Vale do Ribeira, Bauru, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Araçatuba, regiões as quais registraram acumulados superiores a 300 mm. Em Itapetininga o acumulado foi maior do que 400 mm.

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Figura 2: Mapa do desvio da chuva registrada em relação a média climatológica no mês de janeiro. Destacam-se as regiões de Sorocaba, Vale do Ribeira, sul de Bauru, oeste de Campinas, noroeste de Araçatuba e São José do Rio Preto, as quais registraram chuvas de 30 a 90% acima da média histórica do mês.

Figura 3: Chuvas observadas no período de 25 a 27 de janeiro de 2004 no noroeste paulista em comparação com a media climatológica da região que fica em torno dos 254 mm para o mês todo.

Figura 4: Precipitação acumulada no período de 25 a 27 de janeiro de 2004 nas regiões de Sorocaba e Registro em comparação com a media histórica do mês que é de aproximadamente 200 mm.

3 – Divulgação das Previsões de Tempo

O serviço de meteorologia da CEDEC já previa essas chuvas desde o dia 21/01, inclusive na sexta-feira dia 23, o boletim de previsão válido para 5 (cinco) dias, alertava quanto à possibilidade de transbordamentos no Vale do Ribeira. A partir deste dia, inúmeros boletins de alerta foram emitidos prevenindo quanto ao risco de enchentes e deslizamentos.

4 – Tendência para Fevereiro

Os modelos de previsão de tempo indicam que as chuvas devem diminuir de intensidade nos próximos dias sobre o Estado de São Paulo, passando a ter chuvas de caráter isoladas e passageiras. No entanto, uma nova frente fria deve atingir o Estado de São Paulo na primeira semana de fevereiro, quando as chuvas voltam a se intensificar sobre o Estado, porém não há previsão de que se repita episódio de chuvas tão extremas como os observados nos últimos dias.

E a tendência para fevereiro e o restante do verão sobre o Estado, é de chuvas em torno das médias climatológicas, o que significa dizer que as chuvas devem se estender até março, podendo se repetir comportamento semelhante ao observado em janeiro.

Ressalta-se que no momento NÃO se observa nenhum fenômeno climático de grande escala, ou seja, o verão transcorre sobre relativa neutralidade climática (sem El Niño e nem La Niña). Inclusive essas tendências e projeções do clima para o verão foram amplamente divulgadas e debatidas por ocasião dos seminários dos PPDC’s e CAEM’s.

5 – Conclusão

Embora todos os transtornos e prejuízos causados sobre os episódios de chuvas fortes, se observa que as chuvas observadas em janeiro estão dentro do ciclo natural da distribuição das chuvas sobre o Estado de São Paulo, que se caracteriza por apresentar um período chuvoso (verão) e um período seco (Inverno).

Em algumas regiões do Estado, por exemplo, na região da Capital, os totais de chuvas ainda estão abaixo da média climatológica do mês, tanto que ainda se espera que as chuvas se intensifiquem nas áreas dos reservatórios/represas que abastecem a Capital.

No entanto, em outras regiões que foram atingidas por episódios de chuvas em maior volume e concentrados, como no caso do Noroeste e Vale do Ribeira, os acumulados de chuvas já superaram a média climatológica, o que sem dúvida representa um fato atípico e extremo, porém não se configura numa anomalia climática de grandes proporções, já que é um fenômeno comum de se observar durante o Verão, apenas variando a área e o período de atuação.

Portanto, devemos nos manter atentos e mobilizados, pois estamos em pleno período de chuvas, ainda sendo possíveis outros eventos de chuvas extremos e de longa duração, cujas conseqüências e proporções estão diretamente relacionadas com a orografia e a estrutura das eventuais regiões atingidas.

Meteorologia-CEDEC.

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