PAPA FRANCISCO .com



PAPA FRANCISCOAUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 29 de maio de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos: 1.Amados irm?os e irm?s, bom dia!Come?amos hoje um percurso de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos. Este livro bíblico, escrito por S?o Lucas evangelista, fala-nos da viagem — de uma viagem: mas de qual viagem? Da viagem do Evangelho no mundo e mostra-nos a maravilhosa liga??o entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangeliza??o. Os protagonistas dos Atos s?o precisamente um “casal” vivaz e eficaz: a Palavra e o Espírito.Deus ?envia a sua mensagem à terra? e ?a sua palavra corre veloz? — diz o Salmo (147, 4). A Palavra de Deus corre, é din?mica, irriga todo o terreno sobre o qual cai. E qual é a sua for?a? S?o Lucas diz-nos que a palavra humana se torna eficaz n?o gra?as à retórica, que é a arte de falar bem, mas gra?as ao Espírito Santo, que é a d?namis de Deus, a din?mica de Deus, a sua for?a, que tem o poder de purificar a palavra, de a tornar portadora de vida. Por exemplo, na Bíblia há histórias, palavras humanas; mas qual é a diferen?a entre a Bíblia e um livro de história? Que as palavras da Bíblia s?o tiradas do Espírito Santo o qual dá uma for?a muito grande, uma for?a diversa e ajuda-nos a fim de que aquela palavra seja semente de santidade, semente de vida, seja eficaz. Quando o Espírito visita a palavra humana ela torna-se din?mica, como “dinamite”, isto é, capaz de acender os cora??es e de fazer saltar esquemas, resistências e muros de divis?o, abrindo caminhos novos e dilatando os confins do povo de Deus. E veremos isto no percurso destas catequeses, no livro dos Atos dos Apóstolos.Aquele que confere sonoridade vibrante e incisividade à nossa palavra humana t?o frágil, capaz até de mentir e de se subtrair às próprias responsabilidades, é unicamente o Espírito Santo, por meio do qual o Filho de Deus foi gerado; o Espírito que o ungiu e amparou na miss?o; o Espírito gra?as ao qual escolheu os seus apóstolos e que garantiu ao seu anúncio a perseveran?a e a fecundidade, como as garante também hoje ao nosso anúncio.O Evangelho conclui-se com a ressurrei??o e a ascens?o de Jesus, e a narra??o dos Atos dos Apóstolos come?a precisamente por aqui, pela superabund?ncia da vida do ressuscitado infundida na Sua Igreja. S?o Lucas diz-nos que Jesus ?apareceu vivo depois da Sua paix?o e deu-lhes disso numerosas provas com as Suas apari??es, durante quarenta dias, e falando- lhes também a respeito do Reino de Deus? (At 1, 3). O Ressuscitado, Jesus Ressuscitado realiza gestos humaníssimos, como partilhar a refei??o com os seus, e convida-os a viver confiantes na expetativa do cumprimento da promessa do Pai: ?sereis batizados no Espírito Santo? (At1, 5).Com efeito, o batismo no Espírito Santo é a experiência que nos permite entrar numa comunh?o pessoal com Deus e participar na sua vontade salvífica universal, adquirindo o talento da parresia, a coragem, ou seja, a capacidade de pronunciar uma palavra “comofilhos de Deus”, n?o só como homens, mas como filhos de Deus: uma palavra límpida, livre, eficaz, cheia de amor a Cristo e aos irm?os.Portanto, n?o é preciso lutar para conquistar ou merecer o dom de Deus. Tudo é concedido gratuitamente e no devido momento. O Senhor dá tudo de gra?a. A salva??o n?o se compra, n?o se paga: é um dom gratuito. Diante da ansiedade de conhecer antecipadamente o tempo no qual acontecer?o os eventos por Ele anunciados, Jesus responde aos seus: ?N?o vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma for?a, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo? (At 1, 7-8).O Ressuscitado convida os seus a n?o viver com ansiedade o presente, mas a fazer alian?a com o tempo, a saber esperar o desvendar-se de uma história sagrada que nunca se interrompeu mas que progride, que vai sempre em frente; a saber aguardar os “passos” de Deus, Senhor do tempo e do espa?o. O Ressuscitado convida os seus a n?o “fabricar” sozinhos a miss?o, mas a aguardar que seja o Pai a dinamizar os seus cora??es com o Seu Espírito, a fim de se poderem engajar num testemunho missionário capaz de se irradiar de Jerusalém até à Samaria e de ultrapassar os confins de Israel e alcan?ar as periferias do mundo.Os Apóstolos vivem juntos esta expetativa, vivem-na como família do Senhor, na sala de cima ou cenáculo, cujas paredes ainda s?o testemunhas do dom com o qual Jesus se entregou aos seus na Eucaristia. E de que modo aguardam a for?a, a d?namis de Deus? Rezando com perseveran?a, como se n?o fossem muitos mas um só. Rezando em unidade e com perseveran?a. Com efeito, é com a ora??o que se vence a solid?o, a tenta??o, a suspeita e se abre o cora??o à comunh?o. A presen?a das mulheres e de Maria, a m?e de Jesus, intensifica esta experiência: elas foram as primeiras que aprenderam do Mestre a testemunhar a fidelidade do amor e a for?a da comunh?o que vence qualquer receio.Pe?amos também nós ao Senhor a paciência de aguardar os Seus passos, de n?o querermos “fabricar” a sua obra e de permanecer dóceis rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunh?o eclesial.PAPA FRANCISCOAUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 12 de junho de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos: 2.Amados irm?os e irm?s, bom dia!Come?ámos um percurso de catequeses que seguirá a “viagem”: a viagem do Evangelho narrada pelo livro dos Actos dos Apóstolos, pois este livro mostra certamente a viagem do Evangelho, como o Evangelho foi além, além, além... Tudo parte da Ressurrei??o de Cristo. Com efeito, ele n?o é um evento entre outros, mas é a fonte da vida nova. Os discípulos sabem-no e — obedientes ao mandamento de Jesus — permanecem unidos, concordes e perseverantes na ora??o. Estreitam-se a Maria, a M?e, e preparam-se para receber o poder de Deus n?o de maneira passiva, mas consolidando a comunh?o entre eles.Aquela primeira comunidade era composta por mais ou menos 120 irm?os e irm?s: um número que contém o 12, emblemático para Israel, pois representa as doze tribos, e emblemático para a Igreja, devido aos doze Apóstolos escolhidos por Jesus. Mas agora, depois dos eventos dolorosos da Paix?o, os Apóstolos do Senhor já n?o s?o doze, mas onze. Um deles, Judas, já n?o existe: matou-se esmagado pelo remorso.Já antes se tinha come?ado a separar da comunh?o com o Senhor e com os demais, a fazer sozinho, a isolar-se, a apegar-se ao dinheiro chegando a instrumentalizar os pobres, a perder de vista o horizonte da gratuidade e da doa??o de si, chegando a permitir que o vírus do orgulho contaminasse a sua mente e o seu cora??o transformando-o de ?amigo? (Mt 26, 50) em inimigo e em ?guia dos que prenderam Jesus? (Act 1, 16). Judas tinha recebido a grande gra?a de fazer parte do grupo dos íntimos de Jesus e de participar do seu ministério, mas a um certo ponto pretendeu “salvar” por si a sua vida com o resultado de a perder (cf. Lc 9, 24). Deixou de pertencer com o cora??o a Jesus e afastou-se da comunh?o com Ele e com os seus. Deixou de ser discípulo e colocou-se acima do Mestre. Vendeu-o e com o ?pre?o do seu crime? comprou um terreno, que n?o deu frutos mas ficou impregnado com o seu próprio sangue (cf. Act 1, 18-19).Se Judas preferiu a morte e n?o a vida (cf. Dt 30, 19; Eclo 15, 17) e seguiu o exemplo dos ímpios cuja via é como a obscuridade e cai em ruínas (cf. Pr 4, 19; Sl 1, 6), ao contrário os Onze escolhem a vida e a bên??o, tornam-se responsáveis em fazê-la fluir por sua vez na história, de gera??o em gera??o, do povo de Israel para a Igreja.O Evangelista Lucas mostra-nos que diante do abandono de um dos Doze, que causou uma ferida no corpo comunitário, é necessário que o seu cargo passe para outro. E quem o poderia assumir? Pedro indica uma exigência: o novo membro deve ter sido um discípulo de Jesus desde o início, ou seja, desde o Batismo no Jord?o, até ao final, isto é, à ascens?o ao Céu (cf. Act 1, 21-22). ? necessário reconstruir o grupo dos Doze. Inaugura-se a este ponto a praxe do discernimento comunitário, que consiste em ver a realidade com os olhos de Deus, na ótica da unidade e da comunh?o.S?o dois os candidatos: José Barsabás e Matias. Ent?o toda a comunidade reza assim:?Senhor, Tu que conheces o cora??o de todos, indica-nos qual destes dois escolheste para ocupar... o lugar abandonado por Judas? (Act 1, 24-25). E, através do destino, o Senhor indica Matias, que é associado aos Onze. Reconstrói-se assim o corpo dos Doze, sinal da comunh?o, e a comunh?o vence as divis?es, o isolamento, a mentalidade que absolutiza o espa?o do particular, sinal de que a comunh?o é o primeiro testemunho que os Apóstolos oferecem. Jesus tinha dito: ?Por isto é que todos conhecer?o que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros? (Jo 13, 35).Os Doze manifestam nos Actos dos Apóstolos o estilo do Senhor. S?o as testemunhas acreditadas da obra de salva??o de Cristo e n?o manifestam ao mundo a sua suposta perfei??o mas, através da gra?a da unidade, fazem sobressair Outro que já vive num mundo novo no meio do seu povo. E quem é ele? ? o Senhor Jesus. Os Apóstolos escolhem viver sob o senhorio do Ressuscitado na unidade entre os irm?os, que se torna a única atmosfera possível da doa??o autêntica de si.Também nós temos necessidade de redescobrir a beleza de testemunhar o Ressuscitado, abandonando as atitudes autorreferenciais, renunciando a reter os dons de Deus e n?o cedendo à mediocridade. A recomposi??o do colégio apostólico mostra que no adn da comunidade crist? existe a unidade e a liberdade de si mesmo, que permitem n?o temer a diversidade, n?o apegar-se às coisas nem aos dons e tornar-se martyres, ou seja, testemunhas luminosas do Deus vivo e activo na história.PAPA FRANCISCOAUDI?NCIA GERALPra?a S?o PedroQuarta-feira, 19 de junho de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos: 3.Bom dia, caros irm?os e irm?s!Cinquenta dias depois da Páscoa, naquele Cenáculo que já é a casa deles e onde a presen?a de Maria, M?e do Senhor, constitui o elemento de coes?o, os Apóstolos vivem um evento que supera as suas expetativas. Reunidos em ora??o — a prece é o “pulm?o” que dá f?lego aos discípulos de todos os tempos; sem ora??o n?o se pode ser discípulo de Jesus; sem ora??o n?o podemos ser crist?os! Ela é o ar, o pulm?o da vida crist? — s?o surpreendidos pela irrup??o de Deus. Trata-se de uma irrup??o que n?o tolera o fechamento: escancara as portas através da for?a de um vento que recorda a ruah, o sopro primordial, e cumpre a promessa da “for?a” feita pelo Ressuscitado antes da sua despedida (cf. At 1, 8). Chega inesperadamente, do alto: ?De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde eles estavam? (At 2, 2).Depois, ao vento acrescenta-se o fogo que evoca a sar?a ardente e o Sinai, com o dom das dez palavras (cf. ?x 19, 16-19). Na tradi??o bíblica, o fogo acompanha a manifesta??o de Deus. No fogo Deus concede a sua palavra viva e enérgica (cf. Hb 4, 12) que abre ao futuro; o fogo exprime simbolicamente a sua fun??o de aquecer, iluminar e testar os cora??es, a sua cura na prova??o da resistência das obras humanas, na sua purifica??o e revitaliza??o. Enquanto no Sinai se ouve a voz de Deus, em Jerusalém, na festa de Pentecostes, quem fala é Pedro, a rocha sobre a qual Cristo quis edificar a sua Igreja. A sua palavra, frágil e capaz até de renegar o Senhor, atravessada pelo fogo do Espírito, adquire for?a, torna-se capaz de trespassar os cora??es e de impelir à convers?o. Com efeito, Deus escolhe aquilo que é fraco no mundo para confundir os fortes (cf. 1 Cor 1, 27).Por conseguinte, a Igreja nasce do fogo do amor e de um “incêndio” que arde no Pentecostes e que manifesta a for?a da Palavra do Ressuscitado, imbuída de Espírito Santo. A Alian?a nova e definitiva já n?o está fundamentada numa lei escrita em tábuas de pedra, mas na a??o do Espírito de Deus, que renova tudo e é gravado em cora??es de carne.A palavra dos Apóstolos impregna-se do Espírito do Ressuscitado e torna-se uma palavra nova, diferente, que no entanto é compreensível, como se fosse traduzida simultaneamente em todas as línguas: com efeito, ?cada um os ouvia falar na própria língua? (At 2, 6). Trata-se da linguagem da verdade e do amor, que é a língua universal: até os analfabetos podem entendê-la. Todos compreendem a linguagem da verdade e do amor. Se te apresentares com a verdade do teu cora??o, com sinceridade, com amor, todos te h?o de entender. Mesmo que tu n?o possas falar, faz uma carícia que seja verídica e amorosa.O Espírito Santo n?o só se manifesta mediante uma sinfonia de sons que une e comp?e harmoniosamente as diversidades, mas apresenta-se como o maestro que faz executar as partituras dos louvores pelas ?grandes obras? de Deus. O Espírito Santo é o artífice da comunh?o, é o artista da reconcilia??o que sabe remover as barreiras entre judeus e gregos, entre escravos e livres, para fazer de todos um só corpo. Ele edifica a comunidade dos crentes, harmonizando a unidade do corpo e a multiplicidade dos membros. Faz crescer a Igreja, ajudando-a a ir mais além dos limites humanos, dos pecados e de qualquer esc?ndalo.O assombro é grande, e alguém pergunta se aqueles homens est?o embriagados. Ent?o, Pedro intervém em nome de todos os Apóstolos e volta a ler aquele acontecimento à luz de Joel 3, onde se anuncia uma nova efus?o do Espírito Santo. Os seguidores de Jesus n?o est?o inebriados, mas vivem aquela que Santo Ambrósio define ?a sóbria embriaguez do Espírito? que, através de sonhos e vis?es, acende a profecia no meio do povo de Deus. Esta dádiva profética n?o está reservada apenas a alguns, mas a todos aqueles que invocam o nome do Senhor.Dali por diante, a partir desse momento, o Espírito de Deus impele os cora??es a acolher a salva??o que passa através de uma Pessoa, Jesus Cristo, Aquele que os homens pregaram no madeiro da cruz e que Deus ressuscitou dos mortos, ?libertando-o dos grilh?es da morte? (At 2, 24). Foi Ele quem infundiu aquele Espírito que orquestra a polifonia de louvores e que todos podem ouvir. Como dizia Bento XVI, ?o Pentecostes é isto: Jesus, e através dele o próprio Deus, vem a nós e atrai-nos para dentro de si? (Homilia, 3 de junho de 2006). O Espírito realiza a atra??o divina: Deus seduz-nos com o seu Amor e deste modo envolve-nos, para mover a história e encetar processos através dos quais Ele filtra a vida nova. Com efeito, só o Espírito de Deus tem o poder de humanizar e fraternizar cada contexto, a partir de quantos o recebem.Pe?amos ao Senhor que nos deixe experimentar um novo Pentecostes, que dilate os nossos cora??es e sintonize os nossos sentimentos com os de Cristo, para anunciarmos sem vergonha a Sua Palavra transformadora e testemunharmos o poder do amor que chama à vida tudo o que encontra.PAPA FRANCISCOAUDI?NCIA GERALPra?a S?o PedroQuarta-feira, 26 de junho de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos: 4Bom dia, prezados irm?os e irm?s!O fruto do Pentecostes, a poderosa efus?o do Espírito de Deus sobre a primeira comunidade crist?, foi que muitas pessoas sentiram o próprio cora??o trespassado pelo alegre anúncio — o querigma — da salva??o em Cristo e aderiram livremente a Ele, convertendo-se, recebendo o batismo em seu nome e aceitando por sua vez o dom do Espírito Santo. Cerca de três mil pessoas come?am a fazer parte daquela fraternidade, que é o habitat dos crentes e constitui o fermento eclesial da obra de evangeliza??o. O fervor da fé destes irm?os e irm?s em Cristo faz da sua vida o cenário da obra de Deus, que se manifesta com prodígios e sinais através dos Apóstolos. O extraordinário faz-se ordinário e o dia a dia torna-se o espa?o da manifesta??o de Cristo vivo!O Evangelista Lucas narra-nos isto, mostrando-nos a Igreja de Jerusalém como o paradigma de todas as comunidades crist?s, como o ícone de uma fraternidade que fascina e que n?o deve ser mitificada, nem sequer minimizada. A narra??o dos Atos permite-nos olhar para dentro das paredes da domus onde os primeiros crist?os se reúnem como família de Deus, espa?o da koinonia, ou seja, da comunh?o de amor entre irm?os e irm?s em Cristo. Perscrutando no seu interior, podemos ver que eles vivem de uma forma muito específica: s?o ?assíduos no ensinamento dos Apóstolos, na uni?o fraterna, na fra??o do p?o e nas ora??es? (At 2, 42). Os crist?os ouvem assiduamente a didaqué, ou seja, o ensinamento apostólico; praticam relacionamentos interpessoais de alta qualidade (inclusive através da comunh?o dos bens espirituais e materiais); fazem memória do Senhor mediante a “fra??o do p?o”, isto é, a Eucaristia, e dialogam com Deus na ora??o. S?o estas as atitudes do crist?o, as quatro caraterísticas de um bom crist?o.Contrariamente à sociedade humana, onde se tende a perseguir os próprios interesses, prescindindo ou até em detrimento do próximo, a comunidade dos crentes afasta o individualismo para favorecer a partilhae a solidariedade. N?o há lugar para o egoísmo na alma do crist?o: se o teu cora??o for egoísta, n?o és crist?o, és um mundano, que só procuras a tua vantagem, o teu benefício. E Lucas diz-nos que os crentes permanecem juntos (cf. At 2, 44). A proximidade e a unidade s?o o estilo dos crentes: próximos, preocupados uns pelos outros, n?o para falar mal do outro, n?o, para ajudar, para se aproximar.Portanto, a gra?a do Batismo revela a íntima uni?o entre os irm?os em Cristo, que s?o chamados a compartilhar, a identificar-se com os outros e a dar, ?de acordo com as necessidades de cada um? (At 2, 45), ou seja, a generosidade, a esmola, preocupar-se pelo próximo, visitar os doentes, ir ao encontro dos necessitados, de quantos precisam de consola??o.E precisamente porque escolhe o caminho da comunh?o e da aten??o aos carentes, esta fraternidade que é a Igreja pode levar uma vida litúrgica verdadeira e autêntica. Lucas diz: ?Frequentavam diariamente o templo, partiam o p?o em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de cora??o. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo? (At 2, 46-47).Enfim, a narra??o dos Atos recorda-nos que o Senhor garante o crescimento da comunidade (cf. 2, 47): a perseveran?a dos crentes na alian?a genuína com Deus e com os irm?os torna-se for?a atrativa que fascina e conquista muitas pessoas (cf. Evangelii gaudium, 14), um princípio gra?as ao qual a comunidade de crentes de todos os tempos vive.Oremos ao Espírito Santo a fim de que fa?a das nossas comunidades lugares onde receber e praticar a vida nova, as obras de solidariedade e de comunh?o, lugares onde as liturgias sejam um encontro com Deus, que se torna comunh?o com os irm?os e irm?s, lugares que sejam portas abertas para a Jerusalém celestial.Quarta-feira, 7 de agosto de 2019Bom dia, amados irm?os e irm?s!Nos Atos dos Apóstolos, a prega??o do Evangelho n?o é confiada unicamente às palavras, mas também a gestos concretos, que d?o testemunho da verdade do anúncio. Trata-se de?prodígios e milagres? (At 2, 43) realizados pelos Apóstolos, confirmando a sua palavra e demonstrando que eles agem em nome de Cristo. Acontece, pois, que os Apóstolos intercedem e Cristo atua, agindo ?com eles? e confirmando a Palavra com os sinais que a acompanham (cf. Mc 16, 20). Muitos prodígios, numerosos milagres que, realizados pelos Apóstolos, eram precisamente uma manifesta??o da divindade de Jesus.Hoje deparamo-nos com a primeira narra??o de cura, diante de um milagre, que é a primeira narra??o de cura do Livro dos Atos. Ela tem uma clara finalidade missionária, que visa suscitar a fé. Pedro e Jo?o v?o rezar no Templo, centro da experiência de fé de Israel, à qual os primeiros crist?os ainda est?o fortemente ligados. Os primeiros crist?os rezavam no Templo de Jerusalém. Lucas indica a hora: é a hora nona, ou seja, três da tarde, quando o sacrifício era oferecido em holocausto, como sinal da comunh?o do povo com o seu Deus; e também a hora em que Cristo morreu, imolando-se a si mesmo ?uma vez para sempre? (Hb 9, 12; 10, 10). E à porta do Templo chamada “Formosa” — a porta Formosa — veem um mendigo, um paralítico de nascen?a. Por que raz?o aquele homem estava à porta? Porque a Lei mosaica (cf. Lv 21, 18) impedia a oferenda de sacrifícios por parte de quem tivesse deficiências físicas, consideradas como consequências de alguma culpa. Recordemos que diante de um cego de nascen?a, o povo tinha perguntado a Jesus: ?Quem foi que pecou para que este homem nascesse cego, ele ou os seus pais?? (Jo 9, 2). De acordo com essa mentalidade, existe sempre uma culpa na origem de uma malforma??o. E em seguida foi- lhes negado até o acesso ao Templo. O coxo, paradigma dos numerosos excluídos e descartados da sociedade, está ali a pedir esmolas como todos os dias. N?o pode entrar, mas está diante da porta. E eis que acontece algo inesperado: chegam Pedro e Jo?o, e desencadeia-se um jogo de olhares. O aleijado fita os dois para pedir uma esmola; os Apóstolos, ao contrário, olham para ele, convidando-o a fitá-los de maneira diversa, para receber outro dom. O coxo olha para eles e Pedro diz-lhe: ?N?o tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e caminha!? (At 3, 6). Os Apóstolos estabeleceram uma rela??o, porque este é o modo como Deus gosta de se manifestar, na rela??o, sempre no diálogo, sempre nas apari??es, sempre com a inspira??o do cora??o: trata-se de rela??es de Deus connosco; através de um encontro real entre as pessoas, que só pode verificar-se no amor.Além de ser o centro religioso, o Templo era inclusive um lugar de interc?mbios económicos e financeiros: a esta redu??o opuseram-se várias vezes os profetas e até o próprio Jesus (cf. Lc 19, 45-46). Mas quantas vezes penso nisto, quando vejo alguma paróquia onde se considera que o dinheiro é mais importante que os sacramentos! Por favor! Igreja pobre: pe?amos isto ao Senhor! Quando se depara com os Apóstolos, aquele mendigo n?o recebe dinheiro, mas encontra o Nome que salva o homem: Jesus Cristo, o Nazareno. Pedro invoca o Nome de Jesus, ordena ao paralítico que se levante, que se ponha da posi??o dos vivos: de pé, e toca aquele doente, ou seja, pega-lhe pela m?o elevanta-o, gesto no qual S?o Jo?o Crisóstomo vê ?uma imagem da Ressurrei??o? (Homilias sobre os Atos dos Apóstolos, 8). E aqui aparece o retrato da Igreja, que vê quantos est?o em dificuldade, n?o fecha os olhos, sabe encarar a humanidade para criar rela??es significativas, pontes de amizade e de solidariedade em vez de barreiras. Manifesta-se o rosto de ?uma Igreja sem fronteiras que se sente m?e de todos? (Evangelii gaudium, 210), que sabe dar a m?o e acompanhar para levantar, n?o para condenar. Jesus estende sempre a m?o, sempre procura levantar, fazer com que as pessoas sarem, sejam felizes, encontrem Deus. Trata-se da ?arte do acompanhamento?, que se distingue pela delicadeza com a qual nos aproximamos da ?terra sagrada do outro?, dando ao caminho ?o ritmo salutar da proximidade, com um olhar respeitoso e cheio de compaix?o, mas que ao mesmo tempo cure, liberte e anime a amadurecer na vida crist?? (ibid., n. 169). E é o que estes dois Apóstolos fazem ao coxo: fitam-no, dizem “olhe para nós”, estendem-lhe a m?o, fazem-no levantar e curam-no. Assim faz Jesus com todos nós. Pensemos nisto, quando enfrentarmos maus momentos, situa??es de pecado e de tristeza. Jesus diz-nos: “Olhai para mim: estou aqui!”. Peguemos na m?o de Jesus e deixemo-nos levantar.Pedro e Jo?o ensinam-nos a n?o confiar nos meios, que também s?o úteis, mas na verdadeira riqueza que é a rela??o com o Ressuscitado. Com efeito — como diria S?o Paulo— ?somos julgados pobres, porém enriquecemos a muitos; sem posses, nós que tudo possuímos? (2 Cor 6, 10). O nosso tudo é o Evangelho, que manifesta o poder do Nome de Jesus que realiza prodígios.E nós, cada um de nós, o que possuímos? Qual é a nossa riqueza, qual é o nosso tesouro? Como podemos enriquecer os outros? Pe?amos ao Pai o dom de uma memória grata, recordando os benefícios do seu amor na nossa vida, para dar a todos o testemunho do louvor e da gratid?o. N?o nos esque?amos: a m?o sempre estendida para ajudar o outro a levantar-se; é a m?o de Jesus que, através da nossa, ajuda o próximo a erguer-se!CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (SEXTA)PAPA FRANCISCOAUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 21 de agosto de 2019A comunidade crist? nasce da superabundante efus?o do Espírito Santo e cresce gra?as ao fermento da partilha entre irm?os e irm?s em Cristo. Há um dinamismo de solidariedade que constrói a Igreja como família de Deus, onde a experiência da koinonia é central. Que significa esta palavra estranha? ? uma palavra grega que significa ?p?r em comum?, ?partilhar?, ser uma comunidade, n?o se isolar. Esta é a experiência da primeira comunidade crist?, isto é, p?r em comum, ?partilhar?, ?comunicar, participar?, n?o isolar- se. Na Igreja das origens, esta koinonia, esta comunidade refere-se sobretudo à participa??o no Corpo e Sangue de Cristo. Por esta raz?o, quando fazemos comunh?o declaramos, “comunicamos”, entramos em comunh?o com Jesus e desta comunh?o com Jesus chegamos à comunh?o com os nossos irm?os e irm?s. E esta comunh?o com o Corpo e Sangue de Cristo que se faz na Santa Missa, traduz-se em uni?o fraterna, e portanto também com o que é mais difícil para nós: partilhar os bens e recolher dinheiro para a coleta a favor da M?e Igreja de Jerusalém (cf. Rm 12, 13; 2 Cor 8-9) e para as outras Igrejas. Se quiserdes saber se sois bons crist?os, deveis orar, procurar aproximar-vos da comunh?o, do sacramento da reconcilia??o. Mas o sinal de que o vosso cora??o se converteu é quando a convers?o chega aos vossos bolsos, quando toca o vosso interesse: é nisso que se vê se alguém é generoso com os outros, se alguém ajuda os mais débeis, os mais pobres: quando a convers?o chegar lá, tendes a certeza de que é uma verdadeira convers?o. Se permanecer apenas em palavras, n?o é uma boa convers?o.A vida eucarística, as ora??es, a prega??o dos Apóstolos e a experiência de comunh?o (cf. At 2, 42) fazem dos crentes uma multid?o de pessoas que têm — diz o Livro dos Actos dos Apóstolos — ?um só cora??o e uma só alma? e que n?o consideram sua propriedade aquilo que possuem, mas conservam tudo em comum (cf. At 4, 32). ? um modelo de vida t?o forte que nos ajuda a ser generosos e n?o avarentos. Por isso, ?entre eles n?o havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras — diz o Livro — ou casas vendiam- nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, ent?o, a cada um conforme a necessidade que tivesse? (At 4, 34-35). A Igreja sempre teve este gesto dos crist?os que se despojavam das coisas que tinham a mais, das coisas que n?o eram necessárias para dar aos necessitados. E n?o apenas dinheiro, mas tempo. Quantos crist?os — vocês, por exemplo, aqui na Itália — quantos crist?os s?o voluntários! Mas isto é lindo! ? comunh?o, partilhar o meu tempo com os outros, ajudar os necessitados. E assim o voluntariado, as obras de caridade, as visitas aos doentes; devemos sempre partilhar com os outros, e n?o apenas procurar o nosso próprio interesse.A comunidade, ou koinonia, torna-se assim o novo modo de relacionamento entre os discípulos do Senhor. Os crist?os experimentam um novo modo de estar entre si, de se comportar. E é o modo próprio do crist?o, a ponto de os pag?os olharem para os crist?os e dizerem: ?Vede como se amam?! O amor era o caminho. Mas n?o amor de palavras, n?o amor falso: amor de obras, de ajuda mútua, amor concreto, concretude do amor. O vínculocom Cristo estabelece um vínculo entre irm?os que converge e se expressa também na comunh?o dos bens materiais. Sim, essa forma de estar juntos, esse amor que vai até aos bolsos, chega a despojar-se do dinheiro para o dar aos irm?os, indo contra o próprio interesse. Ser membros do Corpo de Cristo torna os crentes co-responsáveis uns pelos outros. Ser crentes em Jesus torna-nos todos co-responsáveis uns pelos outros. ?Mas olha para aquele, o problema que tem, n?o me interessa, que se arranje?. N?o, entre crist?os n?o podemos dizer: ?Pobre homem, tem um problema em casa, está a passar por esta dificuldade familiar?. Mas, devo rezar, levo-o comigo, n?o fico indiferente?. Isto é ser crist?o. Por isso os fortes sustentam os fracos (cf. Rm 15, 1) e ninguém experimenta a pobreza que humilha e desfigura a dignidade humana, porque vivem esta comunidade: ter o cora??o em comum. Eles amam-se. Este é o sinal: amor concreto.Tiago, Pedro e Jo?o, os três apóstolos que s?o as ?colunas? da Igreja de Jerusalém, estabelecem de modo comum que Paulo e Barnabé evangelizem os pag?os enquanto evangelizam os judeus, e perguntam apenas a Paulo e Barnabé qual é a condi??o: n?o esquecer os pobres, recordar os pobres (cf. Gl 2, 9-10). N?o só os pobres materiais, mas também os pobres espirituais, as pessoas que têm problemas e precisam da nossa proximidade. Um crist?o parte sempre de si mesmo, do seu próprio cora??o, e aproxima-se dos outros como Jesus se aproximou de nós. Era assim a primeira comunidade crist?.Um exemplo concreto da partilha e da comunh?o dos bens vem-nos do testemunho de Barnabé: ele possui um campo e vende-o para entregar os proventos aos Apóstolos (cf. At 4, 36-37). Mas, ao lado do seu exemplo positivo, aparece outro, infelizmente negativo: Ananias e a sua esposa Safira, venderam um peda?o de terra, decidiram entregar apenas uma parte aos Apóstolos e guardar a outra para si mesmos (cf. At 5, 1-2). Este engano rompe a cadeia da partilha livre, da partilha serena, altruísta e as consequências s?o trágicas, fatais (At 5, 5.10). O apóstolo Pedro desmascarou a má conduta de Ananias e de sua esposa e disse-lhe: ?Por que é que Satanás invadiu o teu cora??o, a ponto de te levar a mentir ao Espírito Santo e subtraíres uma parte do terreno? N?o foi aos homens que tu mentiste, mas a Deus? (At 5, 3-4). Poderíamos dizer que Ananias mentiu a Deus por causa de uma consciência isolada, uma consciência hipócrita, isto é, por causa de uma perten?a eclesial “negociada”, parcial e oportunista. A hipocrisia é o pior inimigo desta comunidade crist?, deste amor crist?o: aquele fingir que se amam uns aos outros, mas procurar apenas o próprio interesse.Falhar na sinceridade da partilha, de facto, ou falhar na sinceridade do amor, é cultivar a hipocrisia, distanciar-se da verdade, tornar-se egoísta, apagar o fogo da comunh?o e destinar-se ao gelo da morte interior. Aqueles que se comportam assim passam pela Igreja como turistas. Há muitos turistas na Igreja que est?o sempre de passagem, mas nunca entram na Igreja: é o turismo espiritual que os faz acreditar que s?o crist?os, enquanto s?o apenas turistas nas catacumbas. N?o, n?o devemos ser turistas na Igreja, mas irm?os uns dos outros. Uma vida baseada unicamente em tirar proveito e vantagem de situa??es em detrimento de outros, provoca inevitavelmente a morte interior. E quantas pessoas dizem que frequentam a Igreja, que s?o amigos de sacerdotes, bispos, mas procuram apenas o seu próprio interesse. Estas s?o as hipocrisias que destroem a Igreja!O Senhor — pe?o-o para todos nós — derrame sobre nós o seu Espírito de ternura, que supera qualquer hipocrisia e p?e em circula??o aquela verdade que alimenta a solidariedade crist?, a qual, longe de ser uma actividade de assistência social, é a express?o indispensável da natureza da Igreja, a terna m?e de todos, especialmente dos mais pobres.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (S?TIMA)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 28 de agosto de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom dia!A comunidade eclesial descrita no livro dos Actos dos Apóstolos vive das muitas riquezas que o Senhor p?e à sua disposi??o — o Senhor é generoso! — experimenta crescimento numérico e muita efervescência, apesar dos ataques externos. Para nos mostrar esta vitalidade, Lucas, no Livro dos Actos dos Apóstolos, indica-nos também lugares significativos, por exemplo o pórtico de Salom?o (cf. At 5, 12), ponto de encontro dos crentes. O pórtico (stoà) é uma galeria aberta que serve de abrigo, mas também de ponto de encontro e testemunho. Lucas, de facto, insiste nos sinais e maravilhas que acompanham a palavra dos Apóstolos e no cuidado especial dos doentes aos quais eles se dedicam.No capítulo 5 dos Atos, a Igreja nascente é mostrada como um ?hospital de campo? que acolhe os mais débeis, isto é, os doentes. O sofrimento deles atrai os Apóstolos, que n?o possuem ?nem prata nem ouro? (At 3, 6) — assim diz Pedro ao coxo — mas sentem-se fortes pelo nome de Jesus. Aos seus olhos, como aos olhos dos crist?os de todos os tempos, os doentes s?o destinatários privilegiados da boa nova do Reino, s?o irm?os nos quais Cristo está presente de modo especial, para que sejam procurados e encontrados por todos nós (cf. Mt 25, 36.40). Os doentes s?o privilegiados para a Igreja, para o cora??o sacerdotal, para todos os fiéis. N?o devem ser descartados, pelo contrário, devem ser curados, devem ser cuidados: s?o objeto de preocupa??o crist?.Entre os apóstolos, sobressai Pedro, que tem preeminência no grupo apostólico por causa do primado (cf. Mt 16, 18) e da miss?o recebida do Ressuscitado (cf. Jo 21, 15-17). ? ele que inicia a prega??o do querigma no dia de Pentecostes (cf. At 2, 14-41) e que no Concílio de Jerusalém desempenhará uma fun??o diretiva (cf. At 15 e Gl 2, 1-10).Pedro aproxima-se das macas e passa entre os doentes, tal como fizera Jesus, assumindo sobre si enfermidades e doen?as (cf.Mt 8, 17; Is 53, 4). E Pedro, o pescador da Galileia, passa, mas deixa que seja Outro a manifestar-se: que seja o Cristo vivo e ativo! A testemunha, de facto, é aquela que manifesta Cristo, tanto por palavras como com a presen?a corpórea, que lhe permite relacionar-se e ser um prolongamento do Verbo feito carne na história.Pedro é aquele que realiza as obras do Mestre (cf. Jo 14, 12): olhando para ele com fé, vê-se o próprio Cristo. Cheio do Espírito do seu Senhor, Pedro passa e, sem que ele fa?a nada, a sua sombra torna-se uma “carícia”, reparadora, uma comunica??o de saúde, uma efus?o da ternura do Ressuscitado que se inclina sobre os doentes e restaura a vida, a salva??o e a dignidade. Deste modo, Deus manifesta a sua proximidade e faz das feridas dos seus filhos?o lugar teológico da sua ternura? (Medita??o matutina, Santa Marta, 14.12.2017). Nas chagas dos doentes, nas doen?as que impedem o avan?o da vida, há sempre a presen?a deJesus, as chagas de Jesus. Há Jesus que chama cada um de nós a cuidar deles, a sustentá- los, a curá-los.A a??o curadora de Pedro despertou o ódio e a inveja dos saduceus, que aprisionaram os apóstolos e, perturbados com a sua misteriosa liberta??o, proibiram-nos de ensinar. Estas pessoas viram os milagres que os apóstolos fizeram n?o por magia, mas em nome de Jesus; mas n?o quiseram aceitar isso e aprisionaram-nos, castigaram-nos. Foram depois libertados milagrosamente, mas os cora??es dos saduceus eram t?o duros que n?o queriam acreditar no que viam. Ent?o Pedro respondeu oferecendo uma chave da vida crist?: ?Obedecer a Deus e n?o aos homens? (At 5, 29), porque eles — os saduceus — dizem: ?N?o deveis prosseguir com estas coisas, n?o deveis curar? — “Eu obede?o a Deus e n?o aos homens”: é a grande resposta crist?. Significa ouvir a Deus sem reservas, sem atrasos, sem cálculos; aderir a Ele para poder fazer alian?a com Ele e com aqueles que encontramos no nosso caminho.Pe?amos também ao Espírito Santo a for?a para n?o nos amedrontarmos diante daqueles que nos mandam calar, nos caluniam e até atentam contra a nossa vida. Pe?amos-lhe que nos fortale?a interiormente para termos a certeza da presen?a amorosa e reconfortante do Senhor ao nosso lado.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (OITAVA)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 18 de setembro de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom dia!Continuamos a catequese sobre os Atos dos Apóstolos. Diante da proibi??o dos judeus de ensinar em nome de Cristo, Pedro e os apóstolos respondem com coragem de quem n?o podem obedecer àqueles que desejam interromper a viagem do evangelho no mundo.Os Doze mostram, assim, que eles possuem aquela ?obediência da fé? que desejam despertar em todos os homens (Cf, Rm 1,5). Na verdade, a partir do Pentecostes, n?o s?o mais homens "sozinhos". Experimentam aquela sinergia especial que os faz descentrar e dizem: ?nós e o Espírito Santo? (At 5,32) ou ?o Espírito Santo e nós? (At 15,28). Eles sentem que n?o podem dizer "eu" sozinhos, s?o homens descentrados de si mesmos. Fortalecidos por esta alian?a, os apóstolos n?o se deixam intimidar por ninguém. Tiveram uma coragem impressionante! Pensávamos que eram cobardes: todos fugiram, fugiram quando Jesus foi preso. Mas, de cobardes tornaram-se t?o corajosos. Porquê? Porque o Espírito Santo estava com eles. O mesmo acontece connosco: se tivermos o Espírito Santo dentro, teremos a coragem de seguir em frente, a coragem de vencer muitas lutas, n?o por nós mesmos, mas pelo Espírito que está connosco. Eles n?o recuam na sua marcha como testemunhas intrépidas de Jesus ressuscitado, como os mártires de todos os tempos, incluindo o nosso. Os mártires d?o a vida, n?o escondem que s?o crist?os. Pensemos, alguns anos atrás - ainda hoje existem muitos -, mas pensemos que, há quatro anos, os crist?os ortodoxos coptas, verdadeiros trabalhadores, na praia da Líbia: foram todos massacrados. Mas a última palavra que eles disseram foi "Jesus, Jesus". N?o largaram a fé, porque neles estava o Espírito Santo. Estes s?o os mártires de hoje! Os apóstolos s?o "megafones" do Espírito Santo, enviados pelo Ressuscitado, para espalhar prontamente e sem hesita??o a Palavra que dá a salva??o.De facto, essa determina??o faz tremer o "sistema religioso" judeu, que se sente amea?ado e responde com violência e senten?as de morte. A persegui??o aos crist?os é sempre a mesma: as pessoas que n?o querem o cristianismo sentem-se amea?adas e, assim, levam a morte aos crist?os. Mas, no meio do Sinédrio, surge a voz diferente de um fariseu que decide conter a rea??o deles: o seu nome era Gamaliel, um homem prudente, ?doutor da lei, estimado por todo o povo?. Na sua escola, S?o Paulo aprendeu a observar "a lei dos pais" (Cfr At 22, 3). Gamaliel toma a palavra e mostra aos seus irm?os como exercitar a arte do discernimento diante de situa??es que v?o além dos padr?es habituais.Ele demonstra, citando alguns personagens que declararam ser o Messias, que todos os projetos humanos podem primeiro receber elogios e depois naufragar, enquanto tudo o que vem de cima e carrega a "assinatura" de Deus está destinado a durar. Projetos humanos falham sempre; eles têm um tempo, como nós. Pensemos em tantos projetos políticos, e como mudam de um lado para o outro, em todos os países. Pensemos nos grandes impérios, pensemos nas ditaduras do século passado: sentiam ser muito poderosos, pensavam que dominavam o mundo. E todos eles entraram em colapso. Aindahoje, pensai nos impérios de hoje: entrar?o em colapso, se Deus n?o estiver com eles, porque a for?a que os homens têm em si mesmos n?o é duradoura. Somente a for?a de Deus permanece. Pensemos na história dos crist?os, incluindo a história da Igreja, com tantos pecados, tantos esc?ndalos, tantas coisas más nestes dois milênios. E por que é que n?o entrou em colapso? Porque Deus está lá. Somos pecadores, e tantas vezes motivo de esc?ndalo. Mas Deus está connosco. E Deus salva-nos primeiro, e depois a eles; mas o Senhor salva sempre. A for?a é "Deus connosco". Gamaliel demonstra, citando alguns personagens que haviam falecido como Messias, que todo o projeto humano pode primeiro receber elogios e depois ver-se naufragar. Por isso, conclui Gamaliel, se os discípulos de Jesus de Nazaré acreditavam num impostor, eles estavam destinados a desaparecer no nada; mas se, em vez disso, seguem alguém que vem de Deus, é melhor desistir de combatê-los; e adverte: ?n?o corrais o risco de entrardes em guerra contra Deus?. (Atos 5,39). Ensina-nos a fazer este discernimento.S?o palavras calmas e perspicazes, que nos permitem ver o acontecimento crist?o com uma nova luz e oferecer critérios que "s?o do Evangelho", porque nos convidam a reconhecer a árvore pelos seus frutos (Cfr. Mt 7,16). Tocam cora??es e alcan?am o efeito desejado: os outros membros do Sinédrio seguem a sua opini?o e renunciam às inten??es de morte, ou seja, matar os apóstolos.Pe?amos ao Espírito Santo que atue em nós para que, tanto pessoalmente como em comunidade, possamos adquirir o hábito do discernimento. Pe?amos a gra?a de saber ver a unidade da história da salva??o através dos sinais da passagem de Deus nos nossos dias e nos rostos daqueles que nos rodeiam, porque aprendemos que o tempo e os rostos humanos s?o mensageiros do Deus vivo.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (NONA)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 25 de setembro de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom dia!Através do livro de Atos dos Apóstolos, continuamos a seguir uma viagem: a viagem do Evangelho para o mundo. S?o Lucas, com grande realismo, mostra tanto a fecundidade desta jornada quanto o surgimento de alguns problemas na comunidade crist?. Desde o início sempre houve problemas. Como harmonizar as diferen?as que coabitam dentro dela sem que ocorram contrastes e divis?es?A comunidade n?o acolheu apenas os judeus, mas também os gregos, que s?o pessoas da diáspora, n?o-judeus, com a sua própria cultura e sensibilidade e com outra religi?o. Hoje dizemos "pag?os". E estes eram bem-vindos. Esta coexistência determina o equilíbrio frágil e precário; e diante das dificuldades aparece o joio, e qual é o pior joio que destrói uma comunidade? O joio da murmura??o, o joio da coscuvilhice: os gregos murmuram por causa da desaten??o da comunidade às suas viúvas.Os apóstolos iniciam um processo de discernimento que consiste em perceber bem as dificuldades e procurar solu??es de conjunto. Encontram ent?o uma maneira de dividir as várias tarefas de modo a que possa existir um crescimento sereno de todo o corpo eclesial e evitar negligenciar tanto "a essência" do Evangelho quanto o cuidado dos membros mais pobres.Os apóstolos est?o cada vez mais conscientes de que a sua principal voca??o é a ora??o e a prega??o da Palavra de Deus: orar e proclamar o Evangelho; e resolvem a quest?o estabelecendo um núcleo de ?sete homens de boa reputa??o, cheios de espírito e sabedoria? (Atos 6, 3), que, depois de receberem a imposi??o das m?os, cuidar?o do servi?o das mesas. Trata-se dos diáconos que s?o criados para isto, para o servi?o. O diácono na Igreja n?o é um padre de segunda, é outra coisa; n?o é para o altar, mas para o servi?o. Ele é o guardi?o do servi?o na Igreja. Quando um diácono gosta muito de ir para o altar, erra. Este n?o é o caminho dele. Esta harmonia entre o servi?o à Palavra e o servi?o à caridade representa o fermento que faz o corpo eclesial crescer.E os apóstolos criam sete diáconos, e entre os sete "diáconos" destacam-se Estev?o e Filipe. Estev?o evangeliza com for?a, mas a sua palavra encontra a resistência mais teimosa. N?o encontrando outra maneira de detê-lo, o que fazem os seus oponentes? Escolhem a solu??o mais mesquinha para aniquilar um ser humano: isto é, a calúnia ou o falso testemunho. E sabemos que a calúnia mata sempre. Este "cancro diabólico", que surge do desejo de destruir a reputa??o de uma pessoa, também ataca o resto do corpo eclesial e danifica-o seriamente quando, devido a interesses mesquinhos ou para encobrir os seus próprios padr?es, há uma coliga??o para difamar alguém.Conduzido ao Sinédrio e acusado por falsas testemunhas - o mesmo que eles fizeram com Jesus e o mesmo que far?o com todos os mártires através de falsas testemunhas e calúnias- Estev?o proclama uma releitura da história sagrada centrada em Cristo, para se defender.E a Páscoa de Jesus que morreu e ressuscitou é a chave para toda a história da alian?a. Diante desta superabund?ncia do dom divino, Estev?o denuncia bravamente a hipocrisia com a qual os profetas e o próprio Cristo foram tratados. E lembre-as da história dizendo:?Qual dos profetas os vossos pais n?o perseguiram? Qual foi o profeta que os vossos pais n?o tenham perseguido? Mataram os que predisseram a vinda do Justo, a quem traístes e assassinastes? (Atos 7, 52). Ele n?o usa meias palavras, mas fala claramente, dizendo a verdade.Isto provoca uma rea??o violenta nos ouvintes, e Estev?o é condenado à morte, condenado ao apedrejamento. Ainda assim ele manifesta o verdadeiro "estofo" do discípulo de Cristo. N?o procura brechas, n?o apela a personalidades que podem salvá-lo, mas coloca a sua vida nas m?os do Senhor e a ora??o de Estev?o é linda naquele momento: ?Senhor Jesus, recebe o meu espírito.? (At 7,59) - e morreu como filho de Deus, perdoando: ?Senhor, n?o lhes imputes este pecado? (At 7,60).Estas palavras de Estev?o ensinam-nos que n?o s?o os bons discursos que revelam a nossa identidade como filhos de Deus, mas apenas o abandono da própria vida nas m?os do Pai e o perd?o para aqueles que nos ofendem para que assim vejam a qualidade da nossa fé.Hoje existem mais mártires do que no come?o da vida da Igreja, e os mártires est?o por toda parte. A Igreja de hoje é rica em mártires, é irrigada pelo sangue que é ?semente de novos crist?os? (Tertuliano, Apologético, 50,13) e garante crescimento e fecundidade ao povo de Deus. Os mártires n?o s?o "santos", mas homens e mulheres em carne e osso que - como diz o Apocalipse - ?lavaram as suas vestes, tornando-as brancas no sangue do Cordeiro? (7,14). Eles s?o os verdadeiros vencedores.Pedimos também ao Senhor que, olhando os mártires de ontem e de hoje, possamos aprender a viver uma vida plena, acolhendo o martírio da fidelidade diária ao Evangelho e da conforma??o a Cristo.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (D?CIMA)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 2 de outubro de 2019Queridos irm?os e irm?s!Após o martírio de Estev?o, o "curso" da Palavra de Deus parece sofrer um revés, pelo surgimento de ?uma violenta persegui??o contra a Igreja de Jerusalém? (Atos 8, 1). Depois disto, os apóstolos permanecem em Jerusalém, enquanto muitos crist?os se dispersam em muitos outros lugares na Judeia e Samaria.No livro de Atos, a persegui??o aparece como o estado permanente da vida dos discípulos, de acordo com o que Jesus disse: ?Se eles me perseguiram, também vos h?o-de perseguir a vós? (Jo 15, 20). Mas a persegui??o, em vez de extinguir o fogo da evangeliza??o, alimenta- o ainda mais.Ouvimos o que o diácono Filipe fez quando come?ou a evangelizar as cidades de Samaria, e s?o numerosos os sinais de liberta??o e cura que acompanham a proclama??o da Palavra. Neste ponto, o Espírito Santo marca uma nova etapa na jornada do Evangelho: leva Filipe a seguir em dire??o a um estranho com o cora??o aberto a Deus. Filipe levanta-se e parte com entusiasmo e, numa estrada deserta e perigosa, encontra um alto funcionário da rainha da Etiópia, administrador dos seus tesouros. Este homem, um eunuco, depois de estar em Jerusalém para a adora??o, está de volta ao seu país. Ele era um proselitista judeu da Etiópia. Sentado numa carruagem, lê o pergaminho do profeta Isaías, em particular o canto quarto do "servo do Senhor".Filipe aproxima-se da carruagem e pergunta: ?entendes o que estás a ler?? (Atos 8,30). O etíope responde: ?E como poderia eu entender se ninguém me guia?? (Atos 8,31). Aquele homem poderoso reconhece que precisa de ser guiado para entender a Palavra de Deus. Ele era um grande banqueiro, ele era o ministro da economia, ele tinha todo o poder do dinheiro, mas sabia que sem uma explica??o n?o podia entender, era humilde.E este diálogo entre Filipe e o etíope também nos faz reflectir sobre o facto de que n?o bastar ler as Escrituras, precisamos entender o seu significado, encontrar o "sumo" que vai além da "casca", para atingir o Espírito que anima a letra. Como o Papa Bento XVI disse no início do Sínodo sobre a Palavra de Deus, ?a exegese, a verdadeira leitura da Sagrada Escritura, n?o é apenas um fenómeno literário, [...]. ? o movimento da minha existência? (Medita??o, 6 de outubro de 2008). Entrar na Palavra de Deus é estar disposto a sair dos próprios limites para encontrar e conformar-se com Cristo, que é a Palavra viva do Pai.Ent?o, quem é o protagonista daquilo que o etíope lia? Filipe oferece ao seu interlocutor a chave da leitura: aquele servo sofredor, que n?o reage ao mal com o mal e que, mesmo considerado falhado, estéril e finalmente eliminado, liberta o povo da iniquidade e dá fruto para Deus, é precisamente aquele Cristo que Filipe e a Igreja anunciam! Que nos redimiu todos na Páscoa. Finalmente, o etíope reconhece Cristo e pede o baptismo, professando a fé no Senhor Jesus. ? uma história linda, mas quem levou Filipe a ir ao deserto para encontrar este homem? Quem levou Filipe a aproximar-se da carruagem? ? o EspíritoSanto. O Espírito Santo é o protagonista da evangeliza??o. "Padre, eu vou evangelizar" - "Sim, o que fazes?" - "Ah, anuncio o evangelho e digo quem é Jesus, tento convencer as pessoas de que Jesus é Deus". Querido, isso n?o é evangeliza??o, se n?o há Espírito Santo, n?o há evangeliza??o. Isto pode ser proselitismo, publicidade... Mas evangelizar significa deixar-se guiar pelo Espírito Santo, que ele seja o único a empurrar-te para o anúncio, para o anúncio com através do testemunho, mesmo com martírio, mesmo com a palavra.Depois de reunir o etíope ao Ressuscitado - o etíope encontra Jesus ressuscitado porque entende esta profecia - Filipe desaparece, o Espírito leva-o e envia-o para fazer outra coisa. Eu disse que o protagonista da evangeliza??o é o Espírito Santo e qual é o sinal de que tu, crist?, crist?o, és um evangelizador? Alegria. Mesmo no martírio. E Filipe cheio de alegria foi para outra parte para pregar o Evangelho.Que o Espírito fa?a homens e mulheres batizados que anunciam o Evangelho para atrair outros, n?o para si mesmos, mas para Cristo, que sabe abrir espa?o para a a??o de Deus, que sabe tornar os outros livres e responsáveis perante o Senhor.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (11?)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 9 de outubro de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom diaA partir do episódio do apedrejamento de Estev?o, aparece uma figura que, ao lado da de Pedro, é a mais presente e incisiva nos Atos dos Apóstolos: “um jovem, chamado Saulo” (At 7, 58). ? descrito no início como alguém que aprova a morte de Estev?o e quer destruir a Igreja (cfr At 8, 3); mas depois se tornará o instrumento escolhido por Deus para anunciar o Evangelho aos gentios (cfr At 9, 15; 22,21; 26,17).Com a autoriza??o do sumo-sacerdote, Saulo persegue os crist?os e manda-os prender. Quem vive neste momento situa??es de persegui??o e de ditaduras entende bem o que significa ser perseguido e preso. Assim fazia Saulo pensando estar a servir a Lei do Senhor. Diz Lucas que Saulo “respirava” “amea?as de morte contra os discípulos do Senhor” (At 9,1): nele há um sopro de morte e n?o de vida.O jovem Saulo é retratado como um intransigente, isso é, que manifesta intoler?ncia para com quem pensa de maneira diferente de si, absolutiza a própria identidade política ou religiosa e reduz o outro a potencial inimigo a combater. Um ideólogo. Em Saulo a religi?o se transformou em ideologia: ideologia religiosa, ideologia social, ideologia política. Só depois de ser transformado por Cristo, ensinará que a verdadeira batalha “n?o é contra a carne e o sangue, mas contra […] os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal” (Ef 6, 12). Ensinará que n?o se deve combater as pessoas, mas o mal que inspira as suas a??es.A condi??o raivosa – porque Saulo era raivoso – e conflitual de Saulo convida cada um a interrogar-se: como vivo a minha vida de fé? Vou ao encontro dos outros ou sou contra os outros? Perten?o à Igreja universal (bons e maus, todos) ou tenho uma ideologia seletiva? Adoro Deus ou adoro formula??es dogmáticas? Como é a minha vida religiosa? A fé em Deus que professo me torna amigável ou hostil a quem é diferente de mim?Lucas narra que, enquanto Saulo tem a inten??o de acabar com a comunidade crist?, o Senhor está no seu caminho para tocar seu cora??o e convertê-lo a si. ? o método do Senhor: tocar o cora??o. O Ressuscitado toma a iniciativa e manifesta-se a Saulo no caminho de Damasco, evento que é narrado por três vezes no Livro dos Atos (cfr At 9, 3-19; 22, 3-21; 26, 4-23). Através do binómio “luz” e “voz”, típico de teofanias, o Ressuscitado aparece a Saulo e pede-lhe contas da sua fúria fratricida: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9, 4). Aqui o Ressuscitado manifesta o seu ser um só com quantos acreditam Nele: atingir um membro da Igreja é atingir o próprio Cristo! Também aqueles que s?o ideólogos porque querem a “pureza” – entre aspas – da Igreja, atingem Cristo.A voz de Jesus diz a Saulo: “Levanta-te e entra na cidade e te será dito o que deves fazer” (At 9, 6). Uma vez de pé, porém, Saulo n?o vê nada, tornou-se cego, e de um homem forte, com autoridade e independente torna-se fraco, necessitado e dependente dos outros, porque n?o vê. A luz de Cristo o deslumbrou e cegou: “Aparece assim também exteriormente aquilo que era a sua realidade interior, a sua cegueira nos confrontos da verdade, da luz que é Cristo” (Bento XVI, audiência geral, 3 de setembro de 2008).Deste “corpo a corpo” entre Saulo e o Ressuscitado tem início o caminho de uma transforma??o que mostra a “páscoa pessoal” de Saulo, a sua passagem da morte à vida: aquilo que antes era glória torna-se “lixo” a rejeitar para conquistar o verdadeiro ganho que é Cristo e a vida Nele (cfr Fil 3, 7-8).Paulo recebe o Batismo. O Batismo marca assim para Saulo, como para cada um de nós, o início de uma vida nova, e é acompanhado por um novo olhar sobre Deus, sobre si mesmo e sobre os outros, que de inimigos se tornam irm?os em Cristo.Pe?amos ao Pai que fa?a experimentar também a nós, como a Saulo, o impacto com o Seu amor que pode fazer de um cora??o de pedra um cora??o de carne (cfr Ez 11, 15), capaz de acolher em si “os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fil 2, 5).CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (12?)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 16 de outubro de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 12Amados irm?os e irm?s, bom dia!A viagem do Evangelho no mundo, que S?o Lucas narra nos Atos dos Apóstolos está acompanhada pela máxima criatividade de Deus que se manifesta de maneira surpreendente. Deus quer que os seus filhos superem qualquer particularismo para se abrirem à universalidade da salva??o. Esta é a finalidade: superar os particularismos e abrir-se à universalidade da salva??o, pois Deus deseja salvar todos. Quantos renasceram da água e do Espírito — os batizados — s?o chamados a sair de si mesmos e a abrir-se aos outros, a viver a proximidade, o estilo do viver juntos, que transforma qualquer rela??o interpessoal numa experiência de fraternidade (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 87).Pedro, protagonista nos Atos dos Apóstolos juntamente com Paulo, é a testemunha deste processo de “fraterniza??o” que o Espírito deseja introduzir na história. Pedro vive um evento que assinala uma mudan?a decisiva para a sua existência. Enquanto reza, recebe uma vis?o que serve de “provoca??o” divina, para suscitar nele uma mudan?a de mentalidade. Vê uma grande toalha que desce do alto, dentro da qual há vários animais: quadrúpedes, répteis e aves, e ouve uma voz que o convida a alimentar-se com aquelas carnes. Ele, sendo bom judeu, responde afirmando que nunca comeu nada de impuro, como exigido pela Lei do Senhor (cf. Lv 11). Ent?o a voz insiste vigorosamente: ?O que foi purificado por Deus n?o o consideres tu impuro? (At 10, 15).Com este facto o Senhor quer que Pedro deixe de avaliar os eventos e as pessoas segundo as categorias do puro e do impuro, mas que aprenda a ir adiante, a fim de considerar a pessoa e as inten??es do seu cora??o. Com efeito, o que torna o homem impuro n?o vem de fora mas só de dentro, do cora??o (cf. Mc 7, 21). Jesus disse isto claramente.Depois daquela vis?o, Deus envia Pedro a casa de um estrangeiro n?o circuncidado, Cornélio, ?centuri?o da corte itálica [...] Piedoso e temente a Deus? que dava largas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus (cf. At 10, 1-2), mas n?o era judeu.Naquela casa de pag?os, Pedro anuncia Cristo crucificado e ressuscitado e o perd?o dos pecados a todo aquele que crê n’Ele. E enquanto Pedro fala, sobre Cornélio e os seus familiares efunde-se o Espírito Santo. E Pedro batiza-os em nome de Jesus Cristo (cf. At 10, 48).Este acontecimento extraordinário — é a primeira vez que se verifica uma coisa deste género — difunde-se em Jerusalém, onde os irm?os escandalizados com o comportamento de Pedro, o reprovam asperamente (cf. At 11, 1-3). Pedro fez algo que ia além dos costumes, que ia além da lei, e por isso o censuraram. Mas depois do encontro com Cornélio, Pedro sente-se mais livre de si mesmo e mais em comunh?o com Deus e com os demais, pois viu a vontade de Deus na a??o do Espírito Santo. Portanto, pode compreender que a elei??o de Israel n?o é a recompensa devido a méritos, mas o sinal do chamamento gratuito a ser media??o da bên??o divina entre os povos pag?os.Queridos irm?os, aprendamos do príncipe dos Apóstolos que um evangelizador n?o pode ser um impedimento para a obra criadora de Deus, o qual ?quer que todos os homens sejam salvos? (1 Tm 2, 4), mas alguém que favorece o encontro dos cora??es com o Senhor. E nós, como nos comportamos com os nossos irm?os, sobretudo com aqueles que n?o s?o crist?os? Somos impedimento para o encontro com Deus? Criamos obstáculos ao seu encontro com o Pai ou favorecemo-lo?Pe?amos hoje a gra?a de nos deixarmos impressionar com as surpresas de Deus, de n?o impedir a sua criatividade, mas de reconhecer e favorecer as vias sempre novas através das quais o Ressuscitado infunde o Seu Espírito no mundo e atrai os cora??es fazendo-se conhecer como o ?Senhor de todos? (At 10, 36). Obrigado.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (13?)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 23 de outubro de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 13Queridos irm?os e irm?s, bom dia!O livro dos Atos dos Apóstolos diz-nos que S?o Paulo, depois daquele encontro transformador com Jesus, é acolhido pela Igreja de Jerusalém gra?as à media??o de Barnabé e come?a a anunciar Cristo. No entanto, por causa da hostilidade de alguns, ele foi for?ado a transferir-se para Tarso, sua cidade natal, onde Barnabé se juntou a ele para o envolver numa longa viagem da Palavra de Deus. O Livro dos Atos dos Apóstolos, que comentamos nestas catequeses, pode ser considerado o livro do longo caminho da Palavra de Deus: a Palavra de Deus deve ser anunciada e proclamada em toda parte. Esta viagem come?a depois de uma grande persegui??o (cf. At 11, 19); mas ela, em vez de causar uma estagna??o da evangeliza??o, torna-se uma oportunidade para ampliar o campo onde lan?ar a boa semente da Palavra. Os crist?os n?o se assustam. Eles têm que fugir, mas fogem com a Palavra, e espalham a Palavra por toda parte.Paulo e Barnabé chegaram primeiro a Antioquia, na Síria, onde ficaram durante um ano inteiro para ensinar e ajudar a comunidade a criar raízes (cf. At 11, 26). Eles anunciaram à comunidade judaica, aos judeus. Antioquia torna-se assim o centro de propuls?o missionária, gra?as à prega??o com que os dois evangelizadores — Paulo e Barnabé — incidem no cora??o dos crentes, que aqui, em Antioquia, s?o chamados pela primeira vez ?crist?os? (cf. At 11, 26).O Livro dos Atos revela a natureza da Igreja, que n?o é uma fortaleza, mas uma tenda capaz de alargar o seu espa?o (cf. Is 54, 2) e de dar acesso a todos. A Igreja ou é ?em saída? ou n?o é Igreja, ou está a caminho, alargando sempre o seu espa?o para que todos possam entrar, ou n?o é Igreja. ?Uma Igreja com portas abertas? (Exorta??o Apostólica Evangelii gaudium, 46), sempre com as portas abertas. Quando vejo alguma pequena igreja aqui, nesta cidade, ou quando a vejo na outra diocese de onde venho, com as portas fechadas, isto é um mau sinal. As igrejas devem ter sempre as portas abertas porque este é o símbolo do que éuma igreja: sempre aberta. A Igreja é ?chamada a ser sempre a casa aberta do Pai [...] Assim, se alguém quiser seguir uma mo??o do Espírito e se aproximar à procura de Deus, n?o esbarrará com a frieza duma porta fechada? (Ibid., 47).Mas esta novidade das portas abertas para quem? Para os pag?os, porque os Apóstolos pregavam aos judeus, mas também os pag?os vieram bater à porta da Igreja; e esta novidade das portas abertas aos pag?os desencadeia uma controvérsia muito animada. Alguns Judeus afirmam a necessidade de se tornarem Judeus através da circuncis?o para se salvarem e depois receberem o batismo. Eles dizem: ?Se n?o vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, n?o podereis ser salvos? (At 15, 1), isto é, n?o podereis receber sucessivamente o batismo. Primeiro o rito judaico e depois o baptismo: esta era a posi??o deles. E para resolver a quest?o, Paulo e Barnabé consultam o conselho dos Apóstolos e dos anci?os em Jerusalém, e tem lugar aquele que é considerado o primeiro concílio na história da Igreja, o concílio ou assembleia de Jerusalém, ao qual Paulo se refere na Carta aos Gálatas (2, 1-10).? tratada uma quest?o teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: isto é, a rela??o entre a fé em Cristo e a observ?ncia da Lei de Moisés. Decisivos no decorrer da assembleia s?o os discursos de Pedro e Tiago, as?colunas? da Igreja-m?e (cf. At 15, 7-21;Gl 2, 9). Eles convidam a n?o impor circuncis?o aos pag?os, mas apenas a pedir-lhes que rejeitem a idolatria e todas as suas express?es. Do debate surge o caminho comum, e esta decis?o é ratificada com a chamada carta apostólica enviada a Antioquia.A Assembleia de Jerusalém oferece-nos uma vis?o importante sobre como lidar com as divergências e procurar ?a verdade na caridade? (Ef 4, 15). Recorda-nos que o método eclesial para a resolu??o dos conflitos se baseia no diálogo feito de escuta atenta e paciente e no discernimento realizado à luz do Espírito. ? o Espírito, de facto, que ajuda a superar os fechamentos, as tens?es e trabalha nos cora??es para que alcancem, na verdade e no bem, para que alcancem unidade. Este texto ajuda-nos a compreender a sinodalidade. ? interessante como escrevem a Carta: os Apóstolos come?am por dizer: “O Espírito Santo e nóspensamos...”. ? próprio da sinodalidade, a presen?a do Espírito Santo, caso contrário n?o é sinodalidade, é parlatório, parlamento, outra coisa...Pe?amos ao Senhor que fortale?a em todos os crist?os, especialmente nos bispos e sacerdotes, o desejo e a responsabilidade da comunh?o. Nos ajude a viver o diálogo, a escuta e o encontro com os irm?os na fé e com aqueles que est?o distantes, para saborear e manifestar a fecundidade da Igreja, chamada a ser em cada época ?m?e jubilosa? de muitos filhos (cf. Sl 113, 9).C CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (14?)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 30 de outubro de 2019atequese sobre os Atos dos Apóstolos - 14Bom dia, estimados irm?os e irm?s!Lendo os Atos dos Apóstolos vê-se que o Espírito Santo é o protagonista da miss?o da Igreja: é Ele quem guia o caminho dos evangelizadores, mostrando-lhes a vereda a seguir.Vemos isto claramente no momento em que o Apóstolo Paulo, ao chegar a Tróade, tem uma vis?o. Um Macedónio suplica-lhe: ?Vem à Macedónia e ajuda-nos!? (At 16, 9). O povo da Macedónia do Norte é orgulhoso disto, muito orgulhoso de ter chamado Paulo, para que ele anunciasse Jesus Cristo. Lembro-me muito bem daquele bonito povo, que me recebeu com tanto entusiasmo: oxalá conserve a fé que Paulo lhe anunciou! O Apóstolo n?o hesita e parte para a Macedónia, certo de que é o próprio Deus que o envia, e chega a Filipos, ?colónia romana? (At 16, 12) na Via Egnácia, para pregar o Evangelho. Paulo passa ali vários dias. S?o três os acontecimentos que caraterizam a sua permanência em Filipos, naqueles três dias: três acontecimentos importantes. 1) A evangeliza??o e o batismo de Lídia e da sua família; 2) a pris?o que sofreu, com Silas, depois de ter exorcizado uma escrava explorada pelos seus senhores; 3) a convers?o e o batismo do seu carcereiro e da sua família. Vemos estes três episódios na vida de Paulo.O poder do Evangelho visa sobretudo as mulheres de Filipos, em particular Lídia, uma comerciante de púrpura, na cidade de Tiatira, uma crente em Deus a quem o Senhor abre o cora??o ?para aderir às palavras de Paulo? (At 16, 14). Com efeito, Lídia acolhe Cristo, recebe o Batismo com a sua família e hospeda aqueles que pertencem a Cristo, acolhendo Paulo e Silas na sua casa. Aqui temos o testemunho da chegada do cristianismo à Europa: o início de um processo de incultura??o que continua até hoje. Ele veio da Macedónia.Depois do entusiasmo experimentado na casa de Lídia, Paulo e Silas têm que enfrentar a dureza da pris?o: passam da consola??o da convers?o de Lídia e da sua família para a desola??o do cárcere, onde foram lan?adospor terem libertado, em nome de Jesus, ?uma serva que tinha um espírito de adivinha??o? e que ?dava muito lucro aos seus senhores? com o trabalho de adivinha (At16, 16). Os seus senhores ganhavam muito dinheiro e aquela pobre escrava fazia o que os adivinhos fazem: adivinhava o futuro, lia as m?os — como diz a can??o, “prendi questa mano, zingara” [“pega nesta m?o, cigana”] — e as pessoas pagavam por isto. Prezados irm?os e irm?s, ainda hoje há pessoas que pagam por isto. Lembro-me que na minha diocese, num parque muito grande, havia mais de 60 mesinhas, diante das quais estavam sentados os adivinhos e as adivinhas, que liam as m?os e as pessoas acreditavam nessas coisas! E pagavam. E isto acontecia também na época de S?o Paulo. Por retalia??o, os seus senhores denunciam Paulo e conduzem os Apóstolos perante os magistrados com a acusa??o de desordem pública.Mas o que acontece? Paulo está na pris?o e, durante a sua deten??o, verifica-se algo surpreendente. Está desolado, mas em vez de se queixar, Paulo e Silas cantam louvores a Deus e este louvor desencadeia um poder que os liberta: durante a ora??o, um tremor de terra abala os fundamentos da pris?o, as portas abrem-se e as correntes de todos caem (cf. At 16, 25-26). Como a ora??o de Pentecostes, também a prece recitada na pris?o provoca efeitos prodigiosos.Julgando que os prisioneiros tinham escapado, o carcereiro estava prestes a suicidar-se, pois quando um prisioneiro escapava, os carcereiros pagavam com a própria vida; mas Paulo brada-lhe: ?Estamos todos aqui!? (At 16, 27-28). Ent?o, ele pergunta: ?Que devo fazer para ser salvo?? (v. 30). A resposta é: ?Acredita no Senhor Jesus, e assim tu e os teus sereis salvos? (v. 31). ? neste ponto que se verifica a mudan?a: no meio da noite, o carcereiro e a sua família ouvem a palavra do Senhor, acolhem os Apóstolos, lavam as suas feridas — porque tinham sido espancados — e, com a sua família, recebem o Batismo; ent?o, ele ?entrega-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus? (v. 34), prepara a mesa e convida Paulo e Silas a permanecer com eles: o momento da consola??o! No meio da noite deste carcereiro anónimo, a luz de Cristo brilha e vence as trevas: as correntes do cora??o caem e, nele e na sua família, floresce uma alegria nunca experimentada. ? assim que o Espírito Santo cumpre a miss?o: desde o início, do Pentecostes em diante, Ele é o protagonista da miss?o. E leva-nos adiante; devemos ser fiéis à voca??o que o Espírito nos impele a abra?ar. Para anunciar o Evangelho!Pe?amos também nós hoje ao Espírito Santo um cora??o aberto, sensível a Deus e hospitaleiro para com os nossos irm?os, como o de Lídia, e uma fé arrojada, como a de Paulo e de Silas, e inclusive um cora??o aberto, como o do carcereiro que se deixa tocar pelo Espírito Santo.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (15?)PAPA FRANCISCO AUDI?NCIA GERALQuarta-feira, 6 de novembro de 2019Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 15.Queridos irm?os e irm?s, bom dia!Continuamos nossa "viagem" com o livro dos Atos dos Apóstolos. Depois das prova??es que viveu em Filipos, Tessalónica e Bereia, Paulo chegou a Atenas, bem no cora??o da Grécia (cfr Atos 17,15). Esta cidade, que vivia à sombra de glórias antigas, apesar da decadência política, ainda mantinha o primado da cultura. Aqui o apóstolo ?fervia de indigna??o, ao ver a cidade repleta de ídolos? (Atos 17,16). Este "impacto" com o paganismo, no entanto, em vez de o fazer fugir, empurra-o à cria??o de uma ponte para o diálogo com esta cultura.Paulo decide familiarizar-se com a cidade e, assim, come?a a frequentar os lugares e as personagens mais significativas. Vai à sinagoga, símbolo da vida de fé; vai à pra?a, símbolo da vida da cidade; e vai para o Areópago, símbolo da vida política e cultural. Conhece judeus, filósofos epicuristas e estoicos entre muitos outros. Conhece todas as pessoas, n?o desiste, vai e conversa com todas as pessoas. Desta maneira, Paulo observa a cultura e observa o ambiente de Atenas ?a partir de um olhar contemplativo? que descobre ?aquele Deus que mora nas casas, nas ruas e nas pra?as? (Evangelii gaudium, 71). Paulo n?o olha para a cidade de Atenas e o mundo pag?o de modo hostil, mas com os olhos da fé. E isso faz-nos questionar a maneira como encaramos as nossas cidades: Observámo-las com indiferen?a? Com desprezo? Ou com a fé que reconhece os filhos de Deus no meio de multid?es anónimas?Paulo escolhe o olhar que o leva a abrir um sulco entre o evangelho e o mundo pag?o. No cora??o de uma das institui??es mais famosas do mundo antigo, o Areópago, ele realiza um exemplo extraordinário de incultura??o da mensagem de fé: ele anuncia Jesus Cristo aos adoradores de ídolos, e n?o o faz atacando-os, mas tornando-se ?pontífice, construtor de pontes?. (Homilia em Santa Marta, 8 de maio de 2013).Paulo inicia o seu discurso a partir de um altar da cidade dedicado a ?um deus desconhecido? (Atos 17, 23) – era um altar onde se havia escrito "ao deus desconhecido"; sem imagem, nada, apenas aquela inscri??o. A partir desta "devo??o" ao deus desconhecido, para entrar em empatia comaqueles que o escutam, proclama que Deus ?vive entre os cidad?os? (Evangelii gaudium, 71) e ?n?o se esconde daqueles que o procuram com um cora??o sincero, embora o fa?am tateando? (ibid.). ? precisamente esta presen?a que Paulo procura revelar: Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio? (Atos 17,23).Para revelar a identidade do deus que os atenienses adoram, o apóstolo parte da cria??o, isto é, da fé bíblica no Deus da revela??o, para alcan?ar a reden??o e o julgamento, ou seja, a mensagem propriamente crist?. Ele mostra a despropor??o entre a grandeza do Criador e os templos construídos pelo homem, e explica que o Criador sempre se deixa encontrar por aqueles que o procuram. Desta maneira, Paulo, de acordo com uma bela express?o do Papa Bento XVI, ?anuncia Aquele que os homens ignoram, mas, no entanto, pressentem: o Desconhecido? (Bento XVI, Encontro com o mundo da cultura no Collège des Bernardins, 12 de setembro de 2008). Em seguida, convida todos a ir além dos ?tempos da ignor?ncia? e a decidir pela convers?o tendo em conta o julgamento iminente. Paulo chega assim ao kerygma e alude a Cristo, sem citá-lo, definindo-o como ?o Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de O ter ressuscitado de entre os mortos.? (Atos 17,31).E aqui está o problema. A palavra de Paulo, que até agora mantinha os interlocutores com a respira??o suspensa - porque foi uma descoberta interessante - encontra uma rocha: a morte e a ressurrei??o de Cristo parecem ?tolices? (1 Cor 1,23) e provocam o ridículo e o escárnio. Paulo ent?o afasta-se: a sua tentativa parece ter falhado e, em vez disso, alguns aderem à sua palavra e abrem-se para a fé. Entre eles, um homem, Dionisio, um membro do Areópago, e uma mulher, D?maris. Também em Atenas, o Evangelho se enraíza e pode correr em duas vozes: a do homem e a da mulher!Hoje, também nós pedimos ao Espírito Santo que nos ensine a construir pontes com a cultura, com aqueles que n?o crêem ou com aqueles que têm um credo diferente do nosso. Sempre construamos pontes, sempre de m?o estendida, sem agress?o. Pe?amos a ele a sua capacidade de inculturar delicadamente a mensagem da fé, colocando sobre os que est?o na ignor?ncia de Cristo um olhar contemplativo, movido por um amor que aquece até os cora??es mais endurecidos.CATEQUESE DO PAPA SOBRE OS ATOS DOS AP?STOLOS (décima sexta) PAPA FRANCISCOAUDI?NCIA GERALPra?a S?o Pedro - Quarta-feira, 13 de novembro de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom dia!Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo, como incansável evangelizador que ele é, após a estadia em Atenas, continua o percurso do evangelho no mundo. A nova etapa da sua viagem missionária é Corinto, capital da província romana da Acaia, uma cidade comercial e cosmopolita, gra?as à presen?a de dois portos o lemos no capítulo 18 de Atos, Paulo experimenta a hospitalidade de um casal, ?quila e Priscila (ou Prisca), for?ados a mudar-se de Roma para Corinto depois do imperador Cláudio ter ordenado a expuls?o dos judeus (cfr At 18, 2). Eu gostaria de fazer um parêntese. O povo judeu sofreu muito na história. Ele foi expulso, perseguido ... E, no século passado, vimos tantas brutalidades que foram feitas com o povo judeu e todos estávamos convencidos de que isto tinha terminado. Hoje, porém, o hábito de perseguir judeus come?a a renascer aqui e ali. Irm?os e irm?s, isto n?o é humano nem crist?o. Os Judeus s?o nossos irm?os! E eles n?o devem ser perseguidos. Perceberam? Estes c?njuges provam ter um cora??o cheio de fé em Deus e generoso para com os outros, capaz de abrir espa?o para aqueles que, como eles, experimentam a condi??o de estrangeiro. Esta sua sensibilidade leva-os a descentrarem-se para praticar a arte crist? da hospitalidade (cfr Rm 12, 13; Hb 13,2) e abrir as portas da sua casa a receber o apóstolo Paulo. Assim acolhem n?o apenas o evangelizador, mas também a proclama??o que ele traz consigo: o Evangelho de Cristo, que é ?o poder de Deus para a salva??o de quem crê? (Rm 1,16). E a partir deste momento, o seu lar é imbuído da fragr?ncia da Palavra ?viva? (Hb 4:12) que vivifica os cora??es.?quila e Priscila também compartilham a atividade profissional com Paulo, que é a constru??o de tendas. Paulo, de facto, valorizou muito o trabalho manual e considerou-o um espa?o privilegiado do testemunho crist?o (cfr 1 Cor 4:12), e um modo justo para se manter sem ser um fardo para os outros (cfr 1 Ts 2, 9; 2 Ts 3, 8) para a comunidade.A casa de ?quila e Priscila em Corinto abre as suas portas n?o apenas para o apóstolo, mas também para os irm?os e irm?s em Cristo. De facto Paulo pode falar da ‘comunidade que se reúne na sua casa? (1Cor 16,19), que se torna uma "casa da Igreja", uma ?domus ecclesiae?, um lugar para ouvir aPalavra de Deus e celebrar a Eucaristia. Ainda hoje em alguns países onde n?o há liberdade religiosa nem liberdade para os crist?os, os crist?os reúnem-se num lar, por vezes escondido, para rezar e celebrar a Eucaristia. Ainda hoje existem estas casas, estas famílias que se tornam um templo para a Eucaristia.Depois de um ano e meio em Corinto, Paulo deixa a cidade com ?quila e Priscila, que permanecem em ?feso. Ali também o lar deles se torna um local de catequese (cfr Atos 18,26). Finalmente, os dois c?njuges retornar?o a Roma e receber?o um esplêndido elogio que o apóstolo insere na carta aos romanos. O seu cora??o estava agradecido, e assim Paulo escreveu sobre estes dois c?njuges na carta aos romanos. Vede:?Saudai Priscila e ?quila, meus colaboradores em Cristo Jesus, 4pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabe?a. N?o sou apenas eu a estar- lhes agradecido, mas todas as igrejas dos gentios. 5Saudai também a igreja que se reúne em casa deles.? (16,4). Quantas famílias em tempos de persegui??o arriscam as suas cabe?as para manter escondidos os perseguidos! Este é o primeiro exemplo: hospitalidade familiar, mesmo em tempos difíceis.Entre os muitos colaboradores de Paulo, ?quila e Priscila emergem como?modelos de vida conjugal responsavelmente comprometidos com o servi?o de toda a comunidade crist?? e lembram-nos que, gra?as à fé e ao compromisso com a evangeliza??o de tantos leigos como eles, o cristianismo chegou até nós. De facto, ?a fim de criar raízes na terra do povo, desenvolver-se fortemente, era necessário o comprometimento destas famílias. Mas pensai que desde o início o cristianismo foi pregado pelos leigos. Também vós, os leigos, sois responsáveis, pelo vosso batismo, de levar adiante a fé. Foi o compromisso de muitas famílias, destas esposas, destas comunidades crist?s, de fiéis leigos que ofereceram o "húmus" ao crescimento da fé? (Bento XVI, Catequese, 7 de fevereiro de 2007). Esta bela frase do Papa Bento XVI é linda: os leigos d?o o húmus ao crescimento da fé.Perguntemos ao Pai, que escolheu fazer dos c?njuges a sua a verdadeira?escultura? viva (Exorta??o Apostólica Amoris Laetitia, 11) - Creio que aqui existem novos c?njuges: escutai a vossa voca??o, que deve ser lá verdadeira escultura viva - para derramar o seu Espírito sobre todos os casais crist?os, para que, seguindo o exemplo de ?quila e Priscila, possam abrir as portas dos seus cora??es a Cristo e aos seus irm?os e transformar os seus lares em igrejas domésticas. Bela palavra: uma casa é uma igreja doméstica, onde viver a comunh?o e oferecer o culto à vida vivida com fé, esperan?a e caridade. Devemos orar a estes dois santos, ?quila e Priscila,para que ensinem as nossas famílias a serem como eles: uma igreja doméstica onde existe húmus, para que a fé cres?a.Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos (décima sétima)CATEQUESE DO PAPA FRANCISCOPra?a S?o Pedro – Vaticano Quarta-feira, 4 de dezembro de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom dia!A viagem do Evangelho no mundo continua sem parar no Livro dos Atos dos Apóstolos e atravessa a cidade de ?feso manifestando toda a sua a??o salvífica. Gra?as a Paulo, cerca de doze homens recebem o batismo em nome de Jesus e fazem a experiência da efus?o do Espírito Santo que os regenera (cfr At 19, 1-7). Diversos s?o, depois, os prodígios que acontecem por meio do Apóstolo: os doentes s?o curados e os possuídos s?o libertos (cfr At 19, 11-12). Isso acontece porque o discípulo se assemelha ao seu Mestre (cfr Lc 6, 40) e O torna presente comunicando aos irm?os a vida nova que Dele recebeu.O poder de Deus que irrompe em ?feso vem desmascar quem quer usar o nome de Jesus para fazer exorcismos mas sem ter a autoridade espiritual para fazê-lo (cfr At 19, 13-17) e revela a fraqueza das artes mágicas, que s?o abandonadas por um grande número de pessoas que escolhem Cristo e abandonam as artes mágicas (cfr At 19, 18-19). Uma verdadeira reviravolta para uma cidade como ?feso, que era um centro famoso pela prática da magia! Lucas destaca assim a incompatibilidade entre a fé em Cristo e a magia. Se escolhes Cristo n?o podes recorrer ao mago: a fé é abandono confiante nas m?os de um Deus confiável, que se faz conhecer n?o através de práticas ocultas, mas por revela??o e com amor gratuito. Talvez algum de vós me dirá: “Ah, sim, isso de magia é algo antigo: hoje, com a civiliza??o crist? isso n?o acontece”. Mas fiquem atentos! Eu pergunto-vos: quantos de vós v?o fazer tar?, quantos v?o ler as m?os em cartomantes ou ler as cartas? Também hoje nas grandes cidades crist?os praticantes fazem essas coisas. E à pergunta: “Mas como, se tu acreditas em Jesus Cristo, vais ao mago, à cartomante, a essas pessoas?”, respondem: “Eu acredito em Jesus Cristo mas para dar sorte vou também a eles”. Por favor, a magia n?o é crist?! Essas coisas s?o feitas para adivinhar o futuro ou adivinhar tantas coisas ou mudar situa??es de vida, n?o s?o crist?s. A gra?a de Cristo traz tudo: reza e confie no Senhor.A difus?o do Evangelho em ?feso prejudica o comércio dos vendedores de prata – outro problema – que fabricavam as estátuas da deusa ?rtemis, fazendo de uma prática religiosa um verdadeiro e próprio negócio. Pe?o que pensem sobre isso. Vendo diminuir aquelaatividade que dava muito dinheiro, os vendedores de prata organizam uma revolta contra Paulo e os crist?os s?o acusados de ter colocado em crise a categoria dos artes?os, o santuário de ?rtemis e o culto desta deusa (cfr At 19, 23-28).Paulo, ent?o, parte de ?feso direto para Jerusalém e chega a Mileto (cfr At 20, 1-16). Quem manda a chamar os idosos da Igreja de ?feso – os presbíteros: seriam os sacerdotes – para fazer uma passagem de entrega “pastoral” (cfr At 20, 17-35). Estamos no final do ministério apostólico de Paulo e Lucas apresenta-nos o seu discurso de despedida, uma espécie de testamento espiritual que o Apóstolo dirige àqueles que, depois de sua partida, dever?o guiar a comunidade de ?feso. E esta é uma das páginas mais belas do Livro dos Atos dos Apóstolos: aconselho-vos a tomar hoje o Novo Testamento, a Bíblia, o capítulo XX e ler esta despedida de Paulo aos presbíteros de ?feso, em Mileto. ? um modo de entender como se despede o Apóstolo e também como os presbíteros de hoje devem despedir-se e também como todos os crist?os devem se despedir. ? uma belíssima página.Na parte exortativa, Paulo encoraja os responsáveis pela comunidade que sabe ver pela última vez. E o que lhes diz? “Vigiai sobre vós mesmos e sobre todo o rebanho”. Este é o trabalho do pastor: fazer a vigília, vigiar sobre si mesmo e sobre o rebanho. O pastor deve vigiar, o pároco deve vigiar, fazer vigília, os presbíteros devem vigiar, os bispos, o Papa, devem vigiar. Fazer a vigília para proteger o rebanho e também fazer a vigília sobre si mesmo, examinar a consciência e ver como se realiza este dever de vigiar. “Vigiai sobre vós mesmos e sobre todo o rebanho, ao qual o Espírito Santo vos constituiu como custódios para ser pastores da Igreja de Deus, que nasce do sangue do Seu próprio Filho” (At 20, 28): assim diz S?o Paulo. Aos epíscopos é pedida a máxima proximidade com o rebanho, resgatado através do sangue precioso de Cristo, e a prontid?o em defendê-lo dos “lobos” (v. 29). Os bispos devem ser próximos ao povo para protegê-lo, para defendê-lo; n?o se cansem do povo. Depois de ter confiado esta tarefa aos responsáveis de ?feso, Paulo coloca-os nas m?os de Deus e confia-os à “palavra da Sua gra?a” (v. 32), fermento de todo o crescimento e caminho de santidade na Igreja, convidando-os a trabalhar com as próprias m?os, como ele, para n?o ser peso aos outros, para socorrer os frágeis e experimentar que “se é mais bem feliz em dar do que em receber” (v. 35).Queridos irm?os e irm?s, pe?amos ao Senhor para renovar em nós o amor pela Igreja e pelo depósito da fé que ela conserva, e para nos tornar todos corresponsáveis na prote??o do rebanho, apoiando na ora??o os pastores para que manifestem a firmeza e a ternura do Divino Pastor.Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos (décima oitava)CATEQUESE DO PAPA FRANCISCOSala Paulo VI – Vaticano Quarta-feira, 11 de dezembro de 2019Queridos irm?os e irm?s, bom dia!Na leitura dos Atos dos Apóstolos, continua a viagem do Evangelho no mundo e o testemunho de S?o Paulo é sempre marcado pela marca do sofrimento. Mas isto é algo que cresce com o tempo na vida de Paulo. Paulo n?o é só o evangelizador cheio de ardor, o missionário intrépido entre os pag?os que dá vida a novas comunidades crist?s, mas é também testemunha do Ressuscitado (cfr At 9, 15-16).A chegada do Apóstolo a Jerusalém, descrito no capítulo 21 dos Atos, desencadeia um ódio feroz em rela??o a ele, que lhe reprovam: “Mas, este era um perseguidor! N?o confiem nele!”. Como foi para Jesus, também para ele, Jerusalém é a cidade hostil. Tendo ido ao Templo, é reconhecido, conduzido para fora para ser linchado e salvo in extremis pelos soldados romanos. Acusado de ensinar contra a Lei e o Templo, é preso e inicia a sua peregrina??o de encarcerado, primeiro diante do sinédrio, depois diante do procurador romano em Cesareia e, por fim, diante do rei Agripa. Lucas evidencia a semelhan?a entre Paulo e Jesus, ambos odiados pelos adversários, acusados publicamente e reconhecidos inocentes pelas autoridades imperiais; e assim Paulo é associado à paix?o do seu Mestre e a sua paix?o torna-se um Evangelho vivo. Eu venho da basílica de S?o Pedro e ali tive uma primeira audiência, nesta manh?, com os peregrinos ucranianos, de uma diocese ucraniana. Como foram perseguidas essas pessoas; quanto sofreram pelo Evangelho! Mas n?o renegaram a fé. S?o um exemplo.Hoje, no mundo, na Europa, tantos crist?os s?o perseguidos e d?o a vida pela própria fé, ou s?o perseguidos com luvas de pelica, isso é, deixados de lado, marginalizados…O martírio é o ar da vida de um crist?o, de uma comunidade crist?. Sempre haverá mártires entre nós: é este o sinal de que estamos a seguir o caminho de Jesus. ? uma ben??o do Senhor que exista entre o povo alguém que dê este testemunho do martírio.Paulo é chamado a defender-se das acusa??es, e no fim, na presen?a do rei Agripa II, a sua apologia transforma-se em eficaz testemunho de fé (cfr At 26, 1-23).Depois Paulo conta a própria convers?o: Cristo Ressuscitado o tornou crist?o e lhe confiou a miss?o entre os gentios, “para que se convertam das trevas à luz e do poder de Satanás a Deus, e obtenham o perd?o dos pecados e a heran?a, em meio àqueles que foram santificados pela fé” em Cristo (v.8). Paulo obedeceu a esta miss?o e n?o fez outra coisa se n?o mostrar como os profetas e Moisés preanunciaram aquilo que agora anuncia: que “o Cristo havia de padecer e seria o primeiro que, pela ressurrei??o dos mortos, havia de anunciar a luz ao povo judeu e aos pag?os” (v. 23). O testemunho apaixonado de Paulo toca o cora??o do rei Agrippa, a quem falta só o passo decisivo. E diz assim, o rei: “Por pouco n?o me persuades a fazer-me crist?o!” (v. 28). Paulo é declarado inocente, mas n?o pode ser liberto porque apelou a César. Continua assim a viagem da Palavra de Deus a Roma. Paulo, acorrentado, terminará aqui em Roma.A partir deste momento, o retrato de Paulo é de prisioneiro cujas correntes s?o o sinal da sua fidelidade ao Evangelho e do testemunho dado do Ressuscitado.As correntes s?o certamente uma prova humilhante para o Apóstolo, que aparece aos olhos do mundo como um “malfeitor” (2 Tm 2, 9). Mas o seu amor por Cristo é assim t?o forte que também estas correntes s?o lidas com os olhos da fé; fé que para Paulo n?o é “uma teoria, uma opini?o sobre Deus e sobre o mundo”, mas “o impacto do amor de Deus sobre o cora??o, […] é amor por Jesus Cristo” (Bento XVI, Homilia em ocasi?o do Ano Paulino, 28 de junho e 2008).Queridos irm?os e irm?s, Paulo ensina-nos a perseveran?a na prova??o e a capacidade de ler tudo com os olhos da fé. Pe?amos hoje ao Senhor, por intercess?o do Apóstolo, reavivar a nossa fé e ajudar-nos a ser fiéis à nossa voca??o de crist?os, de discípulos do Senhor, de missionários. ................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download