Trabalhando a poesia em sala de aula - FACCAT



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FACULDADES INTEGRADAS DE TAQUARA

CURSO DE LETRAS

PROJETO LER É SABER

2009

ABORDAGEM DE TEXTOS

FASCÍCULO III

POEMAS

ELABORADO POR:

DAIANA CAMPANI DE CASTILHOS

JULIANA STRECKER

LIANE FILOMENA MÜLLER

LUCIANE MARIA WAGNER RAUPP

VERA LÚCIA WINTER

taquara, outubro de 2009.

Trabalhando a poesia em sala de aula[1]

Talvez por ser considerada de pouca “utilidade” num mundo cada vez mais pragmático e utilitarista, a poesia tenha sido relegada a um segundo plano, excluída das “áreas ditas ‘sérias’ do conhecimentos” (AVERBUCK, 1982, p. 65). Mas não é apenas esse preconceito que exclui a poesia dos programas escolares: há quem afirme que ele também é fruto da formação do professor, que se sente inseguro e despreparado para trabalhar com um texto que, por sua própria natureza, transgride as normas objetivas e racionais, exigindo um roteiro de aproveitamento de leitura que busque o desenvolvimento da sensibilidade, o despertar das emoções, numa atmosfera lúdica, cujas peças do jogo são as palavras. É nelas que se observa o trabalho da linguagem, fortemente próxima da fantasia, sobre si mesma, cuja leitura deve ser incentivada. E isso deve partir dessa sensibilização; tratando-se, pois, de uma vivência que se realiza não pela leitura literal dos signos lingüísticos, mas pela recriação da realidade a que são conduzidos, professor e aluno, por meio do texto poético. Segundo Averbuck (1982, p. 70), “A poesia não pode ser ensinada, mas vivida: o ensino da poesia é, assim, o de sua ‘descoberta’”.

Embora a criança seja, sobretudo nos primeiros anos, bastante sensível a esses jogos verbais, ao ritmo, à cadência, à sonoridade das palavras, é fundamental que lhe seja proporcionado o contato com a poesia, sob a orientação de um professor que também se sinta encantado com esse gênero de texto e com as imagens que ele produz. Trabalhar com o poema consiste em descontruí-lo e reconstruí-lo, “brincando” com as palavras e seus sentidos.

Alves (2005), observando a utilização desses textos em manuais escolares, conclui que, se por um lado, houve uma mudança quanto ao caráter dos poemas selecionados (agora não mais de cunho moralista, patriótico, pedagógico, etc.), por outro, eles ainda não receberam o seu merecido valor. Para provar isso, tem como dados que, enquanto o romance obtém 80,6% da preferência dos alunos, a poesia fica com apenas 17% dessa preferência. O problema, segundo ele, é que muitos desses poemas são utilizados aí para explorar aspectos gramaticais, interpretar texto ou sugerir uma produção textual, sem qualquer preocupação com seu valor estético. Segundo Alves (2005, p. 66), perguntas semelhantes às apresentadas abaixo desencantam os leitores em formação:

1. Aponte todos os substantivos presentes no texto.

2. Aponte um substantivo abstrato presente no texto.

3. Aponte um substantivo concreto presente no texto.[2]

4. Há, no texto, algum substantivo próprio? Em caso afirmativo, aponte-o.

Em nenhum momento de suas análises, explica o autor, observou uma preocupação com a “apreciação do poema – suas imagens, seu ritmo, sua inventividade e seu caráter social e até mesmo o contexto em que foi escrito.”(p. 66). Nada, segundo ele, que se relacionasse à dimensão lúdica e poética do poema. Esses procedimentos não garantem a formação de leitores capazes de “reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e profundidade das construções literárias.” (LEMOS apud ALVES, 2005, p. 72).

Como trabalhar, então, poesia?

A linguagem poética é carregada de sentidos e imagens, além de outros elementos como rimas, ritmo e sonoridade das frases. E se ela é tudo isso, não podemos esquecer que é também mito, entendendo-se aí, conforme Huizinga (apud AVERBUCK, 1982, p. 79), o mistério injetado em cada uma das palavras “de tal modo que cada imagem passa a encerrar a solução de um enigma.” Assim, para desvendar essas imagens, é necessário refazer o percurso trilhado pelo poeta, o que não é, como se poderia pensar, parafrasear o poema, mas buscar equivalências de sentidos, os significados possíveis; analogias e associações através das quais os (pequenos) leitores estabelecem diálogos com o texto e consigo mesmos, ligando entre si “o imaginado e o vivido, o sonho e a realidade como partes igualmente importantes da nossa experiência de vida”, o que define o valor da poesia, conforme José Paulo Paes (apud ALVES, 1982, p. 62)

O trabalho com textos desse gênero em sala de aula deve se preocupar, já de início, com a leitura oral do poema, tarefa nada fácil, apesar de sua importância, já que, do mesmo modo como uma leitura inexpressiva pode “matar” o texto, uma leitura que ressalte o ritmo, a sonoridade, o andamento do poema, é capaz de despertar nesse mesmo ouvinte os mais nobres e verdadeiros sentimentos, cativando-o e conquistando, de vez, o seu gosto pela poesia, objetivo a que se deve propor todo professor de língua materna.

Depois disso, é necessário que o professor fique atento a outras características do poema: a musicalidade realçada nos diferentes momentos do poema; a inventividade do poeta; as repetições, que sustentam o ritmo; os elementos lexicais, cujas escolhas transferem ao texto os efeitos de sentido pretendidos (tristeza, alegria, nostalgia, etc.)

Observemos, no que se refere a esse último aspecto, o poema Quando, que consta nesse fascículo, do poeta Sérgio Caparelli.

Quando

Sérgio Caparelli

Quando você me clica

quando você me conecta, me liga

quando entra nos meus programas, nas minhas janelas,

quando você me acende, me printa, me encompassa,

me sublinha, me funde e me tria:

meus caracteres esvoaçam,

meus parágrafos se acendem,

meus capítulos se agrupam,

meus títulos se põem maiúsculos,

e meu coração troveja.

Partimos da ideia de que a escolha lexical do autor foi determinada pelo universo que o poema irradia, ou seja, o campo da informática, retirando-as desse campo semântico – clica, conecta, liga, printa, caracteres, etc. No entanto, há um desvio do seu significado padrão, tendo sua expressividade relacionada às associações que despertam e aos efeitos de sentido que criam. É o que chamamos de linguagem figurada, segundo Ullmann (apud CARDOSO, 2009, p. 71) “o mais potente artifício lexical utilizável com propósitos emotivos e expressivos.” Desse modo, utilizando um vocabulário do campo da informática, como se viu antes, o poeta reproduz uma cena, por meio de uma linguagem “computadorizada”, em que se evidenciam as emoções do eu-lírico diante da atenção e da presença da amada (ou suposta amada). E verbos como clicar, conectar, entrar em (minhas) janelas, triar... podem ser “reconfigurados” em seus sentidos, assumindo outros possíveis (quando você me procura, vem para perto de mim, se interessa por mim, participa da minha vida, dos meus problemas, me abraça, me envolve, me beija, etc), buscando a compreensão do objetivo do enunciador. Da mesma forma, caracteres, parágrafos, capítulos, títulos podem ser polissêmicos, e tentar descobrir-lhes os possíveis significados é que se constitui o fundo mágico, lúdico e criativo que envolve a leitura do poema. Parte-se, assim, de uma forma simbólica de expressão de uma realidade, para uma imagem particular, fruto da capacidade do leitor de aproximar realidades aparentemente distantes.

Martins (2006) reitera que a escola, quando visa à leitura do texto literário, deve promovê-la como uma atividade lúdica, de construção e reconstrução de sentidos, que não estão no texto, mas são constituídos pelos leitores nesse processo de interação que é a leitura. Sendo assim, pode-se concluir que esse processo envolve não só o conhecimento da língua, como o de outras áreas que se relacionam no momento de produção do texto. Por isso, Martins (2006) sugere que sejam consideradas também, numa análise do texto literário, as noções de intertextualidade (relações dialógicas com outros textos), interdisciplinaridade (integração de educadores visando a um conhecimento crítico e global), transversalidade (conjunto de temas que aparecem permeando o texto) e intersemiose (relações entre diferentes linguagens).

Observemos, para terminar, o poema Paraíso, de José Paulo Paes, também do fascículo. Nele, encontramos claramente uma intertextualidade com a canção infantil Se essa rua fosse minha. É claro que, para que ela possa ser percebida pelo aluno leitor, há necessidade de que ele conheça o texto que é absorvido e transformado pelo autor. Também pode-se perceber a presença da intersemiose, já que o poema vem de uma canção popular infantil: o poema dialoga com a música. Quanto à transversalidade, parece-nos que é pródiga no texto. Nessa análise, podem ser enfatizados os seguintes temas transversais: a violência no trânsito, a devastação do meio ambiente, a poluição, as más condições de vida, sobretudo das crianças, dos animais e das plantas.

Para concluir, vale reiterar a importância de se trabalhar com poemas em sala de aula, sendo, para isso, necessário ao professor conhecer todas as formas de arte e comunicação que podem entrar nesse “jogo poético”. O texto, sobretudo o literário, não foi escrito para que se descubra quantos substantivos há nele, quantos adjetivos, como se classificam gramaticalmente. Todo texto é interação. Sendo assim, há, por trás dele, um enunciador que busca dizer algo a alguém, ainda que transgredindo a ordem. Ao trabalhar com a poesia, com o corpo da poesia (sons e imagens), o leitor (aluno) vai perceber que essa transgressão a imposições normativas tem por objetivos atingir sua maior eficácia. Ou seja, a língua “artesanalmente” (AVERBUCK,1982, p. 73) trabalhada diz mais coisas.

Referências:

ALVES, José Helder Pinheiro. Abordagem do Poema: Roteiro de um Desencontro. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p. 62-74.

AVERBUCK, Ligia Morrone. A poesia e a escola. In: ZILBERMAN, Regina (orgs). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1982, p.63-83.

CARDOSO, Elis de Almeida. A poesia: escolha lexical e expressividade. In: GIL, Beatriz Daruj; CARDOSO, Elis de Almeida; CONDÈ, Valéria Gil (Orgs.) Modelos de análise linguística. São Paulo: Contexto, 2009, p. 67-77.

MARTINS, Ivanda. A literatura no ensino médio: quais os desafios do professor? In: __BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (Orgs.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 83-102.

1 ABORDAGEM DO POEMA “DUAS DÚZIAS DE COISINHAS À TOA QUE DEIXAM A GENTE FELIZ”, DE OTÁVIO ROTH

1.1 Atividade de motivação/pré-leitura:

O professor pode pedir, na aula anterior, que, de tema de casa, os alunos tragam um objeto que lembre algo que os deixa muito feliz. Cada aluno poderá apresentar seu objeto e, em seguida, o professor poderá propor outras questões:

• O que mais deixa cada um de vocês feliz?

• Quais são as coisinhas simples do dia a dia que deixam cada um de vocês feliz?

Talvez os alunos mencionem coisas grandiosas ou materiais, mas é importante que o professor conduza a reflexão no sentido de que cada um mencione coisas simples, do cotidiano.

1.2 Atividades de pós-leitura:

O professor poderá apresentar para seus alunos o poema abaixo. Ele pode ser apresentado em um projetor.

Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz

Otávio Roth

Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado, cheirinho de mato molhado, disco antigo sem chiado.

Pão quentinho de manhã, dropes de hortelã, o grito do Tarzan.

Tirar a sorte no osso, jogar pedrinha no poço, um cachecol no pescoço.

Papagaio que conversa, pisar em tapete persa, eu te amo e vice-versa.

Vaga-lume aceso na mão, dias quentes de verão, descer pelo corrimão.

Almoço de domingo, revoada de flamingo, herói que fuma cachimbo.

Anãozinho no jardim, lacinho de cetim, terminar o livro assim.

ROTH, Otávio. Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz. São Paulo: Ática, 1994.

O professor poderá colocar, dentro de balões (sem encher), papéis contendo cada um dos elementos que formam essas duas dúzias de coisinhas que deixam o eu-lírico feliz à toa. É necessário que, em cada balão, haja um dos seguintes elementos. O professor não deverá colocar o verso inteiro!

Passarinho na janela,

pijama de flanela,

brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado,

cheirinho de mato molhado,

disco antigo sem chiado.

Pão quentinho de manhã,

dropes de hortelã,

o grito do Tarzan.

Tirar a sorte no osso,

jogar pedrinha no poço,

um cachecol no pescoço.

Papagaio que conversa,

pisar em tapete persa,

eu te amo e vice-versa.

Vaga-lume aceso na mão,

dias quentes de verão,

descer pelo corrimão.

Almoço de domingo,

revoada de flamingo,

herói que fuma cachimbo.

Anãozinho no jardim,

lacinho de cetim,

terminar o livro assim.

Após, ao dar o sinal, pedirá que todos os alunos da sala encham e estourem seus balões. Os alunos precisarão procurar os colegas com os quais consigam formar um verso da poesia. Por exemplo, o aluno que tirar o balão que contém “anãozinho no jardim” precisará encontrar o colega que tirou “lacinho de cetim” e o que tirou “terminar o livro assim”. Os três alunos que primeiro formarem um verso serão os vencedores da brincadeira. Não é necessário que haja 24 alunos na turma. Podem ser tirados ou repetidos elementos. Nesse caso, o aluno precisa de sorte para pegar algum elemento que possa ser complementado por outros dois.

1.3 Trabalhando com o texto:

Após a brincadeira, os alunos podem realizar as seguintes questões:

1) As rimas são um dos recursos do poema. Diga, em cada verso, quais são as palavras que rimam.

2) Que outra(s) palavra(s) poderia(m) ser colocada(s) nas lacunas dos versos abaixo, de modo que a rima seja mantida?

a) Gato andando no telhado, cheirinho de mato ________, disco antigo sem chiado.

b) Vaga-lume aceso na mão, dias ________, descer pelo corrimão.

3) Acrescente, em cada um dos versos do poema, mais um elemento que possa ser colocado, de modo que a rima seja mantida.

4) Por que, no título, o autor utilizou a expressão “coisinhas” (no diminutivo) à toa?

5) Por que encontramos no título a expressão “duas dúzias”?

6) O que Otávio Roth sugere com esse poema?

7) Qual o significado da expressão “eu te amo e vice-versa”?

8) No fascículo, também encontramos outro poema que fala sobre felicidade, de Mário Quintana:

DA FELICIDADE

Quantas vezes a gente, em busca de ventura,

Procede tal e qual o avozinho infeliz:

Em vão, por toda parte, os óculos procura,

Tendo-os na ponta do nariz.

Podemos estabelecer uma relação entre essas duas poesias. Qual?

1.4 Atividades de produção textual:

1- A turma poderá produzir um texto coletivo com as coisinhas à toa que a deixam feliz. Os alunos deverão formar trios, e esses trios deverão compor um verso, com três elementos que rimem. Ao final, todos os trios escrevem os seus versos, formando um texto coletivo. Não há necessidade de o texto conter “duas dúzias de coisas”. É possível que ele contenha um número de coisinhas conforme a quantidade de alunos na sala. A turma também deverá dar um título ao poema.

2- Individualmente, os alunos poderão criar um poema em que haja coisinhas à toa (não necessariamente duas dúzias) que o deixem:

• com sono;

• irritado;

• com fome;

• com sede;

• cansado, etc.

Poderá escolher uma dessas propostas e dar um título ao poema.

JOGO DA RIMA

Uma técnica que o professor poderá fazer com seus alunos para exercitar a criação de rimas é o “Jogo da Rima”. Ele providenciará estrofes de poemas que o aluno provavelmente não conheça e criará uma competição. Lerá a estrofe para a turma sem o último verso (ou a última palavra, conforme a idade dos alunos). Aquele aluno que conseguir completar a rima ganhará um prêmio.

Exemplos de estrofes que podem ser utilizadas.

U macacu ca macaca

Num pareci qui si ama:

Ela pedi um abraçu

Ele dá uma banana.

(Elias José)

Afinal, quem é que eu sou?

Ou eu sou muito pequeno,

Ou sou grande até demais!

Ora, tenham paciência!

Deixem-me crescer em paz!

(Pedro Bandeira)

Prestem atenção no que eu digo

Pois eu não falo por mal

Os adultos que me perdoem

Mas ser criança é legal.

(Pedro Bandeira)

Era uma vez

Uma menininha

Que por não ter par

Dançava sozinha

(Sérgio Caparelli)

O tatu cava um buraco

À procura de uma lebre,

Quando sai pra se coçar,

Já está em Porto Alegre

(Sérgio Caparelli)

Lá no fundo do quintal

Tem um tacho de melado

Quem não sabe cantar verso

É melhor ficar parado.

(Ricardo Azevedo)

Ô seu moço inteligente

Faça o favor de dizer

Em cima daquele morro

Quanto capim pode ter?

(Ricardo Azevedo)

Minha gente, venha ver

Esse mundo como é

Sapo nasceu sem cabelo

Cobra nasceu sem pé

(Trova popular)

Você me chamou de feio

Sou feio mas sou dengoso

Também o tempero é feio

Mas faz o prato gostoso

(Trova popular)

Lá do céu caiu um cravo

Pintadinho de nobreza

Quem quiser casar comigo

Não repare na pobreza

(Trova popular)

2 ABORDAGEM DO POEMA “PLANETA AO CONTRÁRIO”, RICARDO SILVESTRIN.

2.1 Motivação: o professor caminhará de costas pela sala e solicitará que os alunos verifiquem, embaixo de suas classes, se encontram uma tira de papel na qual haverá um verso do poema “Planeta ao contrário”, de Ricardo Silvestrin.Os versos estarão numerados de 1 a 10, mas em ordem inversa a dada pelo poeta.Os alunos que encontrarem a tira com o verso, serão convidados a colá-lo num painel afixado no quadro-verde. Quando todos tiverem colado seus versos, será feita uma leitura em voz alta e, depois, o professor apresentará, através da projeção de uma lâmina, o poema na ordem em que o poeta o escreveu.

2.2 Atividades de pré-leitura: (atividades realizadas oralmente pelo professor numa conversa informal com seus alunos)

1) Você gosta de ler poemas?

2) Você já escreveu algum poema?

3) Você já imaginou se o mundo, de repente, se transformasse exatamente no contrário do que ele é?

4) O que gostaria que ficasse contrário ao que é na realidade?

5) Se você pudesse mudar algo em si mesmo, transformando no contrário, o que mudaria?

Depois das atividades de pré-leitura, o professor distribui o poema “Planeta ao contrário”, de Ricardo Silvestrin, aos alunos e faz uma leitura bem expressiva em voz alta.

Planeta ao contrário

No planeta ao contrário,

Os velhos dormem em berçário,

Os bebês ganham salário,

Quem se confessa é o vigário.

A piscina fica no vestiário,

O banho é dentro do armário,

Só tem um número no dicionário.

Com toda essa inversão,

Lá é tudo uma confusão?

Ao contrário.

SILVESTRIN, Ricardo. Pequenas observações sobre a vida em outros planetas. São Paulo: Salamandra, 2008.

2.3 Atividades de pós-leitura:

1) Ilustre, nos quadros abaixo, os seguintes versos da 1ª estrofe:

“os velhos dormem no berçário” “os bebês ganham salário”

| | |

2) Você sabe o que é rima?

3) Pinte, no poema, as palavras que rimam entre si. Não esqueça de mudar a cor quando o som da rima mudar.

4) Escolha dois pares de palavras e escreva uma terceira palavra que rime com elas:

_________________________________ ______________________________

_________________________________ ______________________________

_________________________________ ______________________________

5) Ilustre a rima de que mais gostou:

6) Substitua, na 2ª estrofe e mantendo a rima, a palavra “armário”:

o banho é dentro.........................................................

7) Liste atividades que um bebê executa e que pudessem render-lhe um salário.

8) Por que o poeta afirma, na 2ª estrofe, “só tem um número no dicionário.”?

9) Imaginando um planeta realmente ao contrário, como seria:

a) uma escola:_________________________________________________________

b) uma lancheria:______________________________________________________

c) uma rua movimentada:________________________________________________

d) uma praia:__________________________________________________________

e) uma quadra esportiva:_________________________________________________

10) Segundo o poeta, há confusão no planeta ao contrário? Comente.

11) Crie outro título para o poema.Coloque-o em destaque no círculo abaixo:

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Além do poeta Ricardo Silvestrin, outro escritor também explorou a ideia de situações contrárias.Que tal ler um outro texto cujo nome é ”O inventor de imaginações”? Seu autor chama-se Rogério Borges.

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O Gastão é um menino meio tímido, quieto, magrinho. Adora hambúrgueres e jogos de computador.

Mas o Gastão é bom mesmo numa coisa: na imaginação! Imagina e imagina sem parar.

Na aula de Ciências Gastão ouvia, com sono, o velho professor gaguejando teorias científicas sobre o surgimento do universo.

E não precisou muito para Gastão começar a sua própria teoria sobre um universo só seu.

Um universo onde houvesse um planeta quadrado, cubo cósmico girando no espaço, como um dadinho sobre uma grande mesa.

E ali acontecia tudo ao contrário.

As pessoas andavam para trás, tomando muito cuidado, pois a luz do sol era negra e os dias eram escuros como a nossa noite.

Em compensação a noite era muito clara, e todo mundo precisava de óculos escuros para dormir.

Nesse planeta chovia de baixo para cima, e as pessoas tinham que usar guarda-chuvas presos nos pés e pedacinhos de algodão no nariz para não se afogarem.

Mas bom mesmo é que os pensamentos podiam ser vistos e ouvidos, e assim as pessoas de lá não mentiam umas pras outras e por isso se davam muito bem.

Os velhinhos davam grandes shows de rock e as mães pediam para os filhinhos irem dormir tarde, enquanto os pais faziam as tarefas escolares.

Sem dúvida esse planeta quadrado era avançadinho, e Gastão continuaria nele se não fosse o sinal que tocou avisando que era hora do recreio.

BORGES, Rogério. O inventor de imaginações. São Paulo: Melhoramentos,1988.

12) Estabeleça as semelhanças e diferenças entre o poema “Planeta ao contrário” e o texto “O inventor de imaginações”:

13) No poema não havia personagens. No texto “O inventor de imaginações”, o personagem principal é Gastão.Marque com um X as características do personagem:

( ) tímido ( ) comilão ( ) imaginativo ( ) despreocupado

( ) alegre ( ) quieto ( ) esportivo ( ) magro

14) Dentre as características acima assinaladas, qual a que mais se destaca? Retire do texto a passagem onde isso aparece:

15) Escolha a figura adequada para nela desenhar como era o planeta imaginado por Gastão.

16) Ordene as frases de acordo como aparecem no texto:

( ) “Nesse planeta chovia de baixo para cima, e as pessoas tinham que usar guarda-chuvas presos nos pés e pedacinhos de algodão no nariz para não se afogarem,”

( ) Os velhinhos davam grandes shows de rock e as mães pediam para os filhinhos irem dormir tarde, enquanto os pais faziam as tarefas escolares.”

( ) “ Em compensação a noite era muito clara, e todo mundo precisava de óculos escuros para dormir.”

( ) “ Sem dúvida esse planeta quadrado era avançadinho, e Gastão continuaria nele se não fosse o sinal que tocou avisando que era hora do recreio.”

( ) “”Mas o bom mesmo é que os pensamentos podiam ser vistos e ouvidos, e assim as pessoas de lá não mentiam umas pras outras e por isso se davam muito bem.”

( ) “As pessoas andavam para trás, tomando muito cuidado, pois a luz do sol era negra e os dias eram escuros Omo a nossa noite.”

17) De tudo o que acontecia no planeta imaginado por Gastão, havia, para ele, algo que se destacava.Transcreva a frase que o expressa.

18) Explique a expressão do texto”Sem dúvida esse planeta quadrado era avançadinho,...”:

19) Qual a relação que há entre o título e o texto?

2.4 Produção textual:

1) Imagine um planeta onde os animais vivessem em lugares trocados.Crie uma história na qual essa situação fique evidenciada.

2) Você é um jornalista. Escreva uma reportagem descrevendo a vida das pessoas nesse planeta ao contrário.

3) Agora o poeta é você. Crie um poema que explore uma situação incomum. Não esqueça da rima!

4) Você está cansado de sempre dar os mesmos nomes aos objetos; tem vontade de mudar alguma coisa.Crie algumas quadrinhas nas quais você dará novos nomes a objetos conhecidos. É importante lembrar que, na quadrinha, a rima é muito importante.

5) Você vai fazer um viagem numa nave espacial e, de repente, chega num “planeta ao contrário”. Como você imagina que seja um habitante desse planeta? Desenhe-o e escreva um diálogo entre você e esse habitante.

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3 ABORDAGEM DO POEMA “A PRIMAVERA ENDOIDECEU”, DE SÉRGIO CAPARELLI

3.1 Ativação dos conhecimentos prévios/ sensibilização

• Audição de “A primavera”, de Vivaldi.

• Pedir que os alunos, enquanto ouvem a música, desenhem/rabisquem livremente o que sentiram, pensaram, imaginaram durante a execução da música.

• Apresentação e comentário sobre os desenhos/ rabiscos, verbalizando o que imaginaram.

• Variação: com os menores, pode-se afastar as classes, deixá-los em pé e executar a música, pedindo que façam movimentos aleatórios. Depois, conversar sobre o que sentiram. Registrar esses sentimentos sob forma de desenhos

• Explicar a origem da música e apresentar seu nome.

• Explosão de ideias sobre a primavera: estação das flores, clima agradável, antecipa o verão, preparação para os frutos.

3.2 Trabalhando com o texto

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Sérgio Caparelli

• Apresentação do título do poema: “a primavera endoideceu”.

• Levantar hipóteses sobre o conteúdo do poema, questionando aos alunos: como pode a primavera endoidecer? O que pode ter acontecido?

• Apresentar o poema, pedindo que o observem bem.

• Questionar aos alunos:

- Por que o poema está em formato de uma flor?

- O que está escrito em suas pétalas?

- Vocês conhecem a brincadeira do bem-me-quer?

- O que está escrito em seu miolo?

- Qual é o animal que faz zumzum?

- Por que o barulho desse animal foi colocado no miolo da flor?

- O que está escrito no caule?

- Realmente “zumbiam mil abelhas nos olhos do eu-lírico”?

- Qual era o sentimento que tomava conta do eu-lírico para dizer que “nos meus olhos zumbiam mil abelhas”?

- Por que se pode dizer que os cílios são cercas?

- Afinal, qual era a “doidice” da primavera?

3.3 Atividades de produção textual

• Acrescente uma folha ao caule da flor. O que estaria escrito nele?

• Acrescente uma abelha a esse desenho. O que estaria escrito em suas asas?

• Se a flor fosse despetalada, qual seria o resultado da brincadeira: mal me quer ou bem me quer? Por quê?

• Imagine a resposta da pessoa amada a essa declaração de amor. Que forma teria? O que escreveria?

• Escreva a história de amor desse(a) apaixonado(a) do poema. Ele(a) conquistou seu amor? O que aconteceu?

3.4 Atividades interdisciplinares

• Estações do ano: pode-se apresentar as outras partes de “As quatro estações de Vivaldi”. A partir disso, trabalhar as características das estações do ano.

• Ecologia: o que leva a primavera endoidecer de fato? Falar sobre o desequilíbrio ecológico, a falta de definição das estações do ano, o aquecimento global. Observar com os alunos o frio que tem feito, o excesso de chuvas e as enchentes, florações fora da época tradicional.

• Botânica: trabalhar as partes da flor (pétalas, sépalas, estames, gineceu, androceu – a azaleia é ótima para isso!)

• Zoologia: estudar as abelhas.

• Organizar uma exposição de flores na escola.

• Convidar uma pessoa da comunidade que goste de jardinagem para falar sobre o cultivo de flores, as flores da estação, cuidados (ver núcleo de orquidófilos da cidade).

• Passear pelo(s) parque(s) da cidade, fazer piquenique e observar as flores, desenhá-las e conscientizar para a preservação do patrimônio público.

3.5 Relações intertextuais

Outros poemas de Sérgio Caparelli[3]

Primavera

Pára a chuva,

A terra acorda

E arruma a casa.

Acende rosas,

Abre dálias

E pinta hibiscos.

Atrás do morro

O céu desponta,

É madrugada.

Cores

Sérgio Caparelli

No fim do dia, cansadas,

As borboletas penduram as asas,

Pra não amarrotar as cores.

Bem-me-quer

Sérgio Caparelli

Bem-me-quer

Mal-me-quer,

Será o Luís?

Será o José?

Bem-me-quer

(Talvez José)

Mal-me-quer

(Talvez Luís)

Mal-me-quis

Bem-me-quis:

Foi o José?

Foi o Luís?

Quem me diz

Que me quer

Seja o José

Seja o Luís,

Será meu bem

Pelos séculos dos séculos

Amém.

O namorado da Joaninha (versão completa)

Luciane Maria Wagner Raupp

Uma borboleta sabor leite,

Um cachorro sabor baunilha,

Um gato só para enfeite,

Um ninho de sabiás na forquilha:

Esse era o zoológico do João

- seus bichinhos do jardim!

Tinha também um leão

Feito de barro e capim!

Um dia, uma joaninha – que surpresa!

Vermelha, pingada de preto nas asinhas.

Um bichinho sabor framboesa

Pousou nas folhagens verdinhas.

“ - Que bicho é esse?” – o menino perguntou.

Nunca vira coisa tão bonita e curiosa.

“- Joaninha” - a mamãe ao menino apresentou.

O bichinho perdia-se nas pétalas de uma rosa.

Na palma da mão esquerda do João

O bichinho passeou, fez cocegazinha.

Caminho direto para o coração:

Ela era sua namoradinha.

“- Posso me casar com ela?”

Foi o que o guri perguntou.

A mãe deu uma risada amarela.

Meio sem jeito, logo falou:

“- Gente com gente se casa;

Joaninha não se casa não.

Já viu menino com asa?

Já viu joaninha no salão?”

João nem se importou: estava apaixonado.

Tão quietinha, tão delicada, tão indefesa:

Faz-de-conta que era seu príncipe-namorado,

Faz-de-conta que ela era uma encantada princesa.

A mãe não sabia

Da bruxa malvada,

Da negra magia

Que atingiu sua amada.

Uma bruxa muito malvada

Transformou a princesa em joaninha

Ela precisava ser beijada

Para ser sua namoradinha.

João seus lábios aproximou

Do frágil animalzinho.

A joaninha com paixão beijou,

Bateu forte seu coraçãozinho.

Eis que a coisa mais maravilhosa aconteceu:

Do outro lado do muro alguém apareceu.

“-Olá, eu sou a Joana, sua nova vizinha!”

Será ela a sua princezinha?

Filme: O jardim secreto.

4 ABORDAGEM SOBRE O POEMA “SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS”, MARIO QUINTANA

4.1 Atividades de pré-leitura:

1) Você concorda com a idéia de que o tempo passa muito rápido?

2) Você se preocupa com o passar do tempo?

3) Ao lembrar do tempo que passou, do que você tem saudade?

4) Se tivesse oportunidade, o que mudaria no seu passado?

Seiscentos e sessenta e seis

Mario Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, passaram 60 anos...

Agora, é tarde demais para ser reprovado...

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

Eu nem olhava o relógio

Seguia sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

4.2 Atividades de pós-leitura:

1) Explique o primeiro verso do poema:

2) O que representam as reticências que aparecem no final de alguns versos?

3) Nos poemas, a repetição de palavras ou expressões é um recurso de que se vale o poeta para dar ênfase a determinadas significações. Em três versos do poema, Quintana faz uso de repetições. Nos três versos, ela tem o mesmo significado? Relacione-as à ideia de fugacidade do tempo.

4) “Quando se vê” (versos 2, 3 e 4) e “Agora” ( verso 5) referem-se ao tempo.

4.1 A ideia de tempo que ambos transmitem é a mesma?

4.2 Se não for, caracterize cada uma delas:

5) O poeta afirma no verso 5 que “Agora é tarde demais para ser reprovado...”Você concorda com a afirmação do poeta? Justifique

6) No verso 6, está destacada por travessões a expressão “um dia”. O “um” que antecede a palavra “dia” lhe confere que sentido? Justifique.

7) Por que o poeta afirma “eu nem olhava o relógio/seguia sempre em frente...”?

8) O texto poético apresenta, na maioria das vezes, uma linguagem conotativa, simbólica.Considerando essa afirmação, explique o último verso do poema.

9) No início do poema, o eu-lírico é representado por...., ao longo do poema ele se transforma para a pessoa .......O que essa transformação confere ao poema?

10) Mario Quintana afirma que “Ao escrever, estou mais perguntando do que respondendo.”.De que maneira se pode relacionar essa afirmação ao conteúdo do poema?

4.3 Produção textual:

1) Muitas vezes, as pessoas preocupam-se com o tempo que passou, sem lembrarem do tempo que está por vir. Crie um poema cuja temática seja o tempo futuro. Não esqueça da rima.

2) Escreva um texto narrativo cuja personagem principal seja uma pessoa :

2.1. muito preocupada em cumprir seus compromissos pontualmente;

2.2 não tenha preocupação nenhuma com a pontualidade.

3) Estamos acostumados com a divisão do dia em 24 horas, o ano em 365 dias. Se você fosse dono do tempo e pudesse modificar o que já está estabelecido, como o faria? Escreva um texto argumentando sua modificação.

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[1] Elaborado por Vera Lúcia Winter – Projeto Ler é Saber, 2009, FACCAT-RS.

[2] As questões apresentadas referem-se à proposta de análise do poema de Vinícius de Moraes, O operário em construção, retiradas do livro de José de Nicola e Ulisses Infante, Português: palavras e idéias. São Paulo: Scipione, 1997, v.5-8.

[3] IN: CAPARELLI, Sérgio. 111 poemas para crianças. Porto Alegre: LPM, 2003.

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