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OS ENGENHOS DE AÇÚCAR E A SOCIEDADE AÇUCAREIRA

Vamos conhecer agora o processo de produção e comercialização do açúcar e como a sociedade era organizada nos engenhos.

Plantar cana-de-açúcar não era uma atividade semelhante a cortar árvores de pau-brasil. Enquanto exploraram o pau-brasil, os portugueses vinham, pegavam a madeira e voltavam para Portugal. Para plantar a cana era preciso que os portugueses se fixassem no território, formassem povoados, construíssem engenhos de fabricação de açúcar, além de usar trabalhadores permanentes. Na América a cana era plantada em grandes propriedades. Começava-se pela derrubada da floresta e pela limpeza e preparo do solo, por meio da queimada. Naquela época, não havia preocupação com a preservação, a melhoria ou recuperação do solo. Não se utilizava adubação. Quando uma área de terra não produzia satisfatoriamente, era abandonada e fazia-se nova derrubada de árvores. Com o tempo, esses métodos tornaram-se devastadores para o meio ambiente.

Para o cultivo da cana e a produção de açúcar era também necessário conseguir trabalhadores em grande quantidade. Os portugueses adotaram então o trabalho do africano escravizado.

A escravidão já era utilizada na Europa. Os traficantes enriqueciam com o comércio de escravos. O emprego dessa mão-de-obra ainda ampliava os lucros dos colonizadores, pois diminuía o custo com os trabalhadores. Além disso, a utilização de mão-de-obra escravizada dificultava o acesso de pequenos proprietários à terra, garantindo a concentração e a produção em grande escala. Isso acontecia porque era difícil concorrer com as grandes propriedades.

Além de grandes extensões de terra e de muitos escravos, era necessário que pessoas se dispusessem a vir para a América tomar conta das terras, da plantação de cana e da produção de açúcar. Por ser uma tarefa difícil, o rei de Portugal oferecia algumas vantagens àqueles que aceitassem: eles não pagavam pelas terras, que eram tomadas dos indígenas; podiam receber honrarias, títulos e outros benefícios.

A produção e o comércio do açúcar

O fabrico do açúcar era feito nos engenhos. No começo, a palavra engenho designava apenas as instalações onde era produzido o açúcar. Depois, a palavra passou a ser usada para englobar toda a propriedade, desde as terras cultivadas até as instalações em que se produzia o açúcar.

Depois de cortada, a cana era carregada em carros de boi e transportada até a moenda, onde era esmagada. A moenda podia ser movida por força humana, tração animal ou pela água do rio. Era composta de grossos rolos de madeira, que giravam esmagando a cana colocada entre eles.

O caldo era levado para a caldeira, onde fervia até ficar bem grosso, como uma pasta. Essa pasta era transferida para a casa de purgar, em moldes de barro com o formato aproximado de um cone, com um buraco no fundo. Nesses moldes, descansava por vários dias, até que todo o líquido escorresse pelo furo. O açúcar tomava então o aspecto de um "pão" seco e duro. Os "pães" de açúcar eram enviados à Europa, onde o produto era refinado, isto é, clareado e vendido aos consumidores.

A produção de açúcar na colônia portuguesa começou em 1533, em São Vicente, Depois cresceu rapidamente, principalmente no Nordeste. O solo da Zona da Mata nordestina era muito favorável para o cultivo da cana.

Os holandeses tiveram grande participação na produção e na venda do açúcar produzido no Brasil: em troca do financiamento para a instalação de engenhos, o governo português concedeu a eles o direito de vender o açúcar na Europa. O açúcar era transportado em navios holandeses de Lisboa para Amsterdã, onde era refinado e depois distribuído no mercado europeu.

Em 1580, o rei de Portugal, D. Henrique, morreu sem deixar herdeiros. O rei da Espanha, Filipe 11, que era parente de D. Henrique, tornou-se rei de Portugal também. Ou seja, Portugal e suas colônias passaram para o domínio espanhol.

A Holanda, que também pertencia à Espanha, lutava por sua independência. Proibidos pelo governo espanhol de continuar mantendo relações comerciais com Portugal, os holandeses atacaram e ocuparam o nordeste da colônia portuguesa, onde ficaram de 1630 a 1654, controlando as atividades relacionadas com o açúcar.

Expulsos da colônia portuguesa em 1654, os holandeses foram para as Antilhas, na América Central. Lá fizeram grandes plantações de cana. O açúcar produzido era vendido na Europa por um preço mais baixo do que o dos portugueses.

Com a queda do volume de venda e dos preços, os lucros dos comerciantes portugueses caíram, assim como o lucro dos produtores de açúcar da colônia.

Com isso, novas fontes de riqueza começaram a ser procuradas. Outros produtos de exportação começaram a ser cultivados, como o fumo ou tabaco.

Conhecido pelos indígenas, o tabaco teve grande aceitação na Europa e passou a ser cultivado no início do século XVII, na região do atual estado da Bahia.

Na segunda metade do século XVIII, outros produtos ganharam destaque: algodão, arroz e o índigo, do qual se obtém o anil.

O pacto colonial

As idéias econômicas que nortearam a ocupação das terras americanas por Portugal são conhecidas como mercantilismo. Nessa época, na Europa, acreditava-se que um país deveria acumular em seu território a maior quantidade possível de metais preciosos. Para isso, uma das alternativas era o país manter sempre uma balança comercial favorável, ou seja, exportar mais do que importar.

Portugal procurou, dessa forma, estabelecer com as colônias uma relação comercial sempre favorável. Em terras americanas, as atividades econômicas estavam organizadas para produzir mercadorias que pudessem ser comercializadas pelos portugueses com lucros significativos na Europa; ao mesmo tempo que os colonos deveriam consumir, basicamente, produtos europeus vendidos pelos portugueses.

Essa política ficou conhecida como pacto colonial, sobre o qual se organizou toda a relação entre Portugal e sua colônia por mais de 300 anos. Isso acabou dificultando, por exemplo, o desenvolvimento de uma economia diversificada na colônia, que sempre esteve voltada para atender aos interesses do governo português e do mercado internacional.

A sociedade açucareira

A família dos senhores de engenho na colônia portuguesa tinha uma organização patriarcal. O patriarca era geralmente o homem mais velho da família e exercia um enorme poder sobre todos os outros habitantes da propriedade, desde os seus parentes mais próximos até os escravos.

Nessa organização familiar, as mulheres tinham pouco poder. Para as mulheres livres o espaço reservado era o privado, onde exerciam papéis de esposa e mãe. Casavam-se muito cedo, por volta dos 17 anos, em geral com pessoas escolhidas pelo pai. Tanto as casadas como as solteiras viviam no interior da casa-grande, saindo poucas vezes. Em geral, não eram alfabetizadas.

A vida nos engenhos

Na sociedade açucareira havia dois grupos principais: o grupo da casa-grande, habitação do senhor de engenho, e o grupo da senzala, moradia dos escravos. Em meio a esses dois grupos viviam os trabalhadores livres.

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A casa-grande

A casa-grande era uma construção com grandes salas, numerosos quartos, acomodações confortáveis. Térrea ou assobradada, geralmente era construída num lugar central e um pouco elevado da propriedade, de onde se poderia ter uma visão das demais construções.

Ao lado da casa-grande, como extensão e apêndice dela, havia a capela, onde se realizavam as cerimônias religiosas. Na capela reuniam-se os habitantes do engenho, nos domingos e dias santos, e também nos batizados, casamentos e funerais. Os membros da família do senhor de engenho eram sepultados na própria capela.

A senzala

Na maioria das senzalas havia pouca privacidade; em geral os escravos viviam todos juntos. Em algumas senzalas havia lugares reservados para os casais. Não era incomum as fazendas possuírem pequenas casas para os escravos casados, como uma forma de incentivo para terem filhos.

A alimentação dos escravos era insuficiente e pouco variada: farinha, feijão e, às vezes, algum pedaço de carne. As partes do porco que o senhor não comia, como pé, rabo, orelha etc., eram misturadas ao feijão: foi desse costume que se originou a feijoada.

Os trabalhadores livres

No mundo da casa-grande e da senzala não havia muito lugar para trabalhadores livres. Mesmo assim, existiam uns poucos que eram chamados profissionais do açúcar, pessoas de confiança do senhor e que o ajudavam a administrar o engenho e a produzir o açúcar.

Quanto maior o engenho, maior era o número desses profissionais. Um dos principais era o feitor-mor. Na prática, era ele quem administrava o engenho, chefiava os outros trabalhadores livres, controlava os escravos e, durante a safra, cuidava da produção do açúcar, desde a colheita até o transporte.

No processo de produção do açúcar, que acompanhava em todas as etapas, o trabalhador mais especializado e mais importante era o mestre-de-açúcar. Tinha a ajuda dos banqueiros, que ficavam em seu lugar durante a noite e que, por sua vez, eram ajudados pelos sotobanqueiros, geralmente mulatos ou escravos da casa.

O purgador, subordinado ao mestre-de-açúcar, cuidava da clarificação do açúcar. Quando o produto era transportado por via fluvial, ficava sob o controle do barqueiro, que o encaminhava ao caixeiro da cidade, responsável por sua venda e embarque para o exterior.

Havia ainda o carapina ou carpinteiro, responsável pela manutenção dos equipamentos de madeira, como as moendas, e o escrivão ou despenseiro, que controlava os estoques de ferramentas, tecidos e alimentos.

Fora do chamado “quadrilátero do açúcar” – casa-grande, senzala, engenho e capela - trabalhavam livremente negociantes (em sua maioria portugueses), artesãos e vaqueiros, que, de uma forma ou de outra, também estavam ligados à produção açucareira.

O poder do senhor de engenho

Se o escravo era as mãos e os pés do senhor de engenho, este, por sua vez, constituía-se em uma espécie de juiz supremo não só da vida dos escravos, mas de todas as demais pessoas que viviam nos seus domínios: tanto do padre que rezava a missa dos domingos quanto da própria mulher, filhos e outros parentes.

A casa-grande, residência do senhor do engenho do Nordeste, era, de fato, muito grande. Nos seus muitos cômodos podiam viver setenta, oitenta ou mais pessoas. Reinava sobre todos a autoridade absoluta do senhor de engenho, que decidia até sobre a morte de qualquer pessoa, sem ter que prestar contas à justiça ou à polícia. Fazia ele a sua própria justiça.

Além da mulher e dos filhos do senhor de engenho, na casa-grande viviam os filhos que se casavam, outros parentes, escravos de confiança que cuidavam dos serviços domésticos, filhos do senhor de engenho com escravas e, ainda, agregados, homens livres, que nada possuíam e prestavam algum serviço em troca de proteção e do sustento.

A grande dominação do senhor de engenho sobre tudo se explica pelo isolamento em que viviam e pela quase total ausência de autoridade da polícia e da justiça. As cidades eram poucas e muito pequenas, e não estendiam sua influência aos engenhos. As poucas autoridades que viviam nessas cidades ficavam distantes dos engenhos, que, por sua vez, ficavam muito distantes uns dos outros. Assim, a dominação do senhor de engenho acabava se impondo.

ATIVIDADES

1. Explique por que, para os portugueses, era mais difícil o cultivo da cana-de-açúcar do que a exploração de pau-brasil.

2. Como se organizava a sociedade açucareira?

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