O cru e o cozido - Amazon Web Services

O cru e o cozido

Claude L?vi-Strauss

O cru e o cozido

Mitol?gicas 1

Tradu??o: Beatriz Perrone-Mois?s

Copyright ? 1964 by ?ditions Plon

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortogr?fico da L?ngua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

T?tulo original Mythologiques 1: Le Cru et le cuit

Capa Bloco Gr?fico

Imagem de capa Jaider Esbell, Conhe?a a ti pr?prio, 2013, acr?lica sobre tela, 100 ? 150 cm. Acervo do artista.

?ndice remissivo Probo Poletti

Revis?o Clara Diament Camila Saraiva

Dados Internacionais de Cataloga??o na Publica??o (cip) (C?mara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

L?vi-Strauss, Claude, 1908-2009 O cru e o cozido : mitol?gicas i / Claude L?vi-Strauss ; tradu??o

Beatriz Perrone-Mois?s. -- 1a ed. -- Rio de Janeiro : Zahar, 2021. -- (Mitol?gicas ; 1)

T?tulo original: Mythologiques i: Le Cru et le cuit. Bibliografia isbn 978-85-378-1902-9

1. Antropologia estrutural ? Brasil 2. Folclore ind?gena 3. Ind?genas da Am?rica do Sul ? Lendas ? Brasil 4. Sociedades primitivas i. T?tulo. ii. S?rie.

20-52754

cdd-398.20981

?ndice para cat?logo sistem?tico: 1. Brasil : ?ndios : Lendas : Folclore 398.20981

Cibele Maria Dias -- Bibliotec?ria -- crb-8/9427

[2021] Todos os direitos desta edi??o reservados ? editora schwarcz s.a. Pra?a Floriano, 19, sala 3001 -- Cinel?ndia 20031-050 -- Rio de Janeiro -- rj Telefone: (21) 3993-7510 .br .br .br editorazahar editorazahar editorazahar

Sum?rio

Para embarcar nas Mitol?gicas, Beatriz Perrone-Mois?s7 abertura25 parte i Tema e varia??es67 1. Canto bororo71 2. Varia??es j?109 parte ii125 1. Sonata das boas maneiras127 2. Sinfonia breve191 parte iii203 1. Fuga dos cinco sentidos205 2. Cantata do sarigu?227 parte iv A astronomia bem temperada265 1. Inven??es a tr?s vozes267 2. Duplo c?non invertido289 3. Tocata e fuga319 4. Pe?a crom?tica339

parte v Sinfonia r?stica em tr?s movimentos371 1. Divertimento sobre um tema popular373 2. Concerto de p?ssaros391 3. Bodas413

Nota da tradutora: Traduzir as Mitol?gicas, Beatriz Perrone-Mois?s443 Bibliografia455 Tabela de s?mbolos467 Besti?rio469 ?ndice de mitos477 ?ndice de figuras485 ?ndice remissivo487 Sobre o autor495

Para embarcar nas Mitol?gicas

As Mitol?gicas s?o um projeto extraordin?rio e revolucion?rio. Uma experi?ncia de pensamento em que o pensador deixa-se pensar, executando pensamentos alheios. Em que o cientista ? laborat?rio. O antrop?logo faz-se passador/emissor de vozes outras.1 E as faz soar, movendo ? transforma??o coisas pensadas na e pela cultura que compartilha com suas leitoras e leitores.2 L?vi-Strauss certa vez comentou que sua afirma??o de que os homens n?o pensam os mitos e sim os mitos ? que s?o pensados nos homens (e pensam uns aos outros), t?o criticada por alguns, descrevia para ele a experi?ncia vivida no decorrer das d?cadas consagradas ?s Mitol?gicas: "Minha obra foi pensada em mim ? minha revelia".3

Nos quatro volumes das "grandes" Mitol?gicas,4 L?vi-Strauss descreve e comenta a experi?ncia de aplicar a an?lise estrutural a um material espec?fico: mitos dos ?ndios das Am?ricas, coletados por ele no trabalho de campo, no Brasil, e sobretudo nas ricas bibliotecas norte-americanas

1. Marcel H?naff fala em "passador de sentido(s)" em Claude L?vi-Strauss, le passeur de sens (Paris: Librairie Acad?mique Perrin, Coll. Tempus, 2008). O "passador" ? personagem destacado em mitos que ser?o analisados no volume 3 das Mitol?gicas. 2. Vincent Debaene fala em "tradu??o do choque infligido ?s categorias do pensamento ocidental pelas sociocosmologias amer?ndias" em "Claude L?vi-Strauss aujourd'hui" (Europe 1005-1006, jan-fev 2013, p. 30). 3. Claude L?vi-Strauss, Myth and meaning (Nova York: Schocken Books, 1979, p. 3). 4. O pr?prio L?vi-Strauss chamava de "grandes" Mitol?gicas os quatro volumes publicados entre 1964 e 1971: O cru e o cozido, Do mel ?s cinzas, A origem dos modos ? mesa e O homem nu. Entre 1975 e 1991 seriam publicadas as tr?s "pequenas" Mitol?gicas (A oleira ciumenta, A via das m?scaras e Hist?ria de Lince), que desenvolvem reflex?es esbo?adas no percurso das grandes Mitol?gicas, muitas vezes em notas de rodap?. Entre as duas s?ries, h? diferen?as de escopo e de estilo, mantendo-se os princ?pios da an?lise estrutural de mitos. L?vi-Strauss dedicou ainda v?rios artigos e passagens a an?lises de mitologia amer?ndia.

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que frequentou durante a Segunda Guerra. Embora tenha se tornado um pensador conhecido e reconhecido, n?o s?o poucas as an?lises sobre seu "estruturalismo" que desconsideram esta que ? sua maior obra, aquela em que suas propostas s?o extensamente postas em pr?tica e ? prova. Em entrevista na d?cada de 1980, L?vi-Strauss disse que "a moda do estruturalismo teve todos os tipos de consequ?ncias desagrad?veis; o termo foi aviltado, foi aplicado ilegitimamente, ?s vezes at? de modo rid?culo; n?o posso fazer nada". Quando o entrevistador, Didier Eribon, evocou um "estruturalismo como fen?meno global", que o associava a Foucault, Lacan e Barthes, L?vi-Strauss respondeu: "? um am?lgama infundado: sinto-me membro de outra fam?lia intelectual, a de Benveniste e Dum?zil".5

L?vi-Strauss n?o prop?e e aplica um esquema interpretativo, que teria sucedido no tempo outras "escolas te?ricas", ainda que sempre dialogue com propostas anal?ticas anteriores e contempor?neas. Prop?e um m?todo, apoiado "numa aten??o extremamente escrupulosa aos conte?dos etnogr?ficos", como faz notar Debaene,6 lembrando a "defer?ncia quase man?aca em rela??o aos fatos", reconhecida pelo pr?prio L?vi-Strauss. Aplicado, testado e refinado ao longo dos anos e dos volumes das Mitol?gicas, o m?todo de an?lise estrutural praticado por ele s? pode ser avaliado em opera??o.7

L?vi-Strauss afirma que os mitos t?m v?rias camadas, como massa folhada. As Mitol?gicas, que qualifica de "mito dos mitos", tamb?m s?o multifolhadas, como seria de esperar. Dessa obra mestra pode-se dizer muita coisa -- e sempre haver? mais.8 O fato ? que s? pode ser apreciada

5. Claude L?vi-Strauss e Didier Eribon, De pr?s et de loin (Paris: Odile Jacob, 1988, pp. 101, 105). A respeito dos m?ltiplos sentidos em que o termo foi empregado, ver Mauro W. B. de Almeida, "Structuralism" (in James D. Wright (Org.), International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences, 2? ed., V. 23. Oxford: Elsevier, 2015, pp. 626-31). 6. Debaene, op. cit, p. 17-8. 7. Entre os artigos que L?vi-Strauss dedicou aos mitos de povos nativos das Am?ricas, destaca-se "A gesta de Asdiwal" (in ?cole Pratique des Hautes ?tudes, Section des Sciences Religieuses. Annuaire 1958-1959, 1958, pp. 3-43), que ? como um modelo reduzido das Mitol?gicas. 8. A f?rmula "Isto n?o ? tudo", recorrente nas Mitol?gicas, ? analisada por Eduardo Viveiros de Castro em livro ainda in?dito e aguardado sobre a tetralogia: "Na verdade, o movimento assinalado pela pequena frase ocorre muito mais frequentemente que ela; ela ? opcional, mas o movimento, ao contr?rio, parece-nos necess?rio, intr?nseco ao procedimento l?vi-straussiano

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