Praia da Rocha (Algarve, Portugal): um paradigma da ... - APRH

Revista da Gest?o Costeira Integrada 12(1):31-42 (2012) Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):31-42 (2012)

DOI:10.5894/rgci317

Praia da Rocha (Algarve, Portugal): um paradigma da antropiza??o do litoral *

Praia da Rocha (Portugal): an anthropization paradigm of the Algarve coast

Joana Gaspar de Freitas @, 1, J. A. Dias 2

Resumo A Praia da Rocha tem pouco mais de um s?culo de exist?ncia no que toca ? sua ocupa??o com vista ? utiliza??o dos banhos mar?timos.

Durante este tempo, a localidade transformou-se radicalmente passando de um pequeno povoado ? beira-mar com meia d?zia de casas a um grande centro urbano que, durante o ver?o, atrai milhares de turistas. Este crescimento urbano desmedido, registado sobretudo nas ?ltimas d?cadas do s?culo XX, mostra-se muito semelhante ao que ocorreu na maioria dos n?cleos costeiros do Algarve Central. O caso da Praia da Rocha, por?m, revela-se paradigm?tico, uma vez que no arranque da expans?o tur?stica, no princ?pio dos anos 70, se procedeu ? alimenta??o artificial da praia, com vista ao alargamento do areal para aumentar a sua capacidade de utiliza??o balnear e para evitar que as vagas atingindo as fal?sias pusessem em risco as constru??es edificadas ali na ?ltima d?cada. O sucesso das opera??es de enchimento (1970, 1983 e 1996) fazem da Praia da Rocha um caso ?nico no pa?s e um magn?fico exemplo de antropicosta. O ?xito alcan?ado na amplia??o do areal na Rocha teve, contudo, um lado perverso no que toca ? ocupa??o humana daquele litoral: possibilitou a expans?o do turismo de massas, ao criar uma praia com maior capacidade de carga e ao permitir ? gra?as ? subtrac??o da arriba aos processos marinhos - um crescimento da volumetria das constru??es, dando origem, a partir dos anos 80, ao aparecimento de uma frente cont?nua de edifica??es de grandes dimens?es adjacentes ? costa. Neste trabalho tra?a-se o perfil hist?rico desta praia, acompanhando a sua evolu??o urbana com base na compara??o de material iconogr?fico, fotografias ?ereas e cartas, tentando perceber de que forma as actividades antr?picas ali desenvolvidas (essencialmente balneares) determinaram a sua configura??o actual. Pretende-se ainda mostrar como a n?vel da gest?o costeira ? essencial compreender a evolu??o diacr?nica das zonas costeiras para se ter uma correcta percep??o de risco, j? que algumas praias aparentemente estabilizadas podem oferecer uma falsa sensa??o de seguran?a. Grande parte das popula??es que ocupam hoje o litoral n?o possuem ? pelo seu desenraizamento face ?quele espa?o ? a no??o da sua instabilidade. Mas, os t?cnicos e autoridades com responsabilidade na gest?o da orla litoral n?o podem ignorar a hist?ria e mem?ria da eros?o costeira, sob pena de num futuro recente enfrentarem graves problemas em consequ?ncia do seu alheamento face ? intensifica??o da ocupa??o humana de zonas de risco e da n?o aplica??o de medidas de adapta??o. Palavras-chave: Algarve, Turismo, Risco, Alimenta??o Artificial de Praias, Antropicosta.

@ - Autor correspondente: joana.gaspar.freitas@ 1 - IELT ? Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, Faculdade de Ci?ncias Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1069-061 Lisboa, Portugal. 2 - CIMA ? Centro de Investiga??o Marinha e Ambiental, Universidade do Algarve, Edif?cio 7, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal. E-mail: jdias@ualg.pt

* Submiss?o: 3 Janeiro 2012; Avalia??o: 2 Fevereiro 2012; Recep??o da vers?o revista: 12 Mar?o 2012; Aceita??o: 30 Mar?o 2012; Disponibiliza??o on-line: 17 Abril 2012

Freitas & Dias Revista de Gest?o Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):31-42 (2012)

Abstract

Praia da Rocha was the first beach resort of the Algarve. For a little more than a century, it has been a tourist destination because of its beaches. During this time, the location changed radically from a small village by the sea with a handful of houses to a large urban centre that attracts thousands of tourists in the summer. During this transformation, small chalets on the top of the cliffs were replaced by apartment buildings and hotels, and family guesthouses gave rise to major hotel chains. Small business commerce and entertainment ? being the most important the casino -, have grown to provide restaurants, cafes, bars, nightclubs, shops, and a new gambling site. This excessive urban growth, which occurred mainly during the last decades of the twentieth century, is very similar to what occurred in most coastal settlements in the Central Algarve. The case of Praia da Rocha, however, is paradigmatic. Since the start of the tourist boom, in the early 70s, major interventions took place. The beach was artificially enlarged in order to increase its use and sun bathing capacity. This change also prevents waves from hitting the cliffs that could endanger the buildings built there in the last decade.

Rocha was never an extensive beach. Its width depended on sedimentary exchange with the submerged delta banks of the Arade River. The construction of a groyne in the western part of the river mouth caused changes in the natural system and contributed to sand loss on the beach. This situation was inverted after the completion of the groyne, which favoured sand accumulation. However, Praia da Rocha could never become a big beach naturally, because in this region the amount of sand available from coastal drift is relatively low. Prior to the 60s, the Rocha was only attended by a few dozen sunbathers who concentrated in two or three specific points of the beach. A problem arose in the late 60s with a strong rise in demand for usable space. The solution was the construction of an artificial coastal system by dredging materials from the port. The successful filling operations (1970, 1983 and 1996) make Praia da Rocha a unique case in the country and a magnificent example of coastal anthropization. The beach profiles measured in 1988 indicated that over 80% of the deposited material was still there. This success is due to: low littoral drift transport, very moderate wave agitation compared with Portuguese west coast, and the beach being an almost closed system (thanks to the tip of Tr?s Castelos and to the port West groyne). On the contrary, on the adjacent West coast, between Tr?s Castelos and Vau, where the operations of 1983 and 1996 took place, there was a rapid and significant loss (about 60% in 1988) of the deposited material because these beaches are not closed systems. The success achieved in expanding this beach has had, nevertheless, a downside when it comes to human coast occupation. In fact, the creation of a beach with a greater load capacity and the protection of the cliffs against maritime erosion allowed the expansion of mass tourism and the increase of building construction. So in the 80s, a continuous front of large buildings emerged adjacent to the coast. The singularity of Praia da Rocha, which was once described as the most beautiful beach of the Algarve, was sacrificed in the name of perpetuation of established interests. Of the thousands of tourists who visit it, only a few know that they are facing a landscape fully transformed and built specifically for them. In addition, the peculiar rocks, shoals, islets, pinnacles and arches, which gave name and fame to the beach, have been mostly destroyed or covered by sand.

This case-study, based on the analysis of the region's historical evolution and how the use of this area has impacted the environment, illustrates very clearly the relationship established over the centuries between human societies and the seashore. Man's capacity and desire to artificially transform landscapes, and the response of the natural system, creates new realities. These new realities lead to new solutions and to an endless cycle of action-reaction which is impossible to ignore.

This article also demonstrates to coastal management the importance of understanding the diachronic evolution of coastal areas to have a better risk perception, since some apparently stabilized beaches may offer a false sense of security. The majority of the population, who nowadays live on the coastline, do not have notion of its instability. However, coastal zones management (technicians and authorities) cannot ignore the history of coastal erosion. Not learning from past events may lead to incorrect adaptation measures in the future. This is especially true in areas that are not currently at risk, but have been in the past due to human intervention.

Keywords: Algarve, Turism, Risk, Beach Artificial Nourishment, Coastal Anthropization.

1. Introdu??o

Primeira est?ncia balnear do Algarve, a Praia da Rocha (Fig. 1) ? assim denominada por causa dos seus in?meros e peculiares rochedos - tem pouco mais de um s?culo de exist?ncia no que toca ? sua ocupa??o com vista ? utiliza??o dos banhos mar?timos. Em finais do s?culo XIX, n?o passava de um pequeno povoado ? beira-mar com meia d?zia de casas agr?colas, tendo-se transformado substancialmente com o advento da vilegiatura1 mar?tima, que favoreceu o aparecimento de pequenos chalets, hot?is, pens?es familiares e alguns escassos espa?os de com?rcio e divers?o ? dos quais

1 - Vilegiatura ? temporada passada fora de casa para recreio, repouso ou tratamento (S?guier, 1961 - Dicion?rio Pr?tico Ilustrado).

o mais importante era o casino. Em Portugal, o jogo esteve desde muito cedo ligado a certas est?ncias balneares, como Espinho, Figueira da Foz e Cascais, primeiro de uma forma clandestina - at? 1899 n?o estava regulamentado e entre 1900 e 1926 esteve proibido por lei -, depois, a partir de 1927, de modo legal com a cria??o de zonas de jogo espec?ficas ? Estoril, Madeira, Espinho, Figueira da Foz, Praia da Rocha, Curia, Sintra e P?voa do Varzim. As receitas do imposto especial do jogo e as obriga??es impostas ?s concession?rias dos casinos tiveram um papel fundamental na promo??o do turismo portugu?s e na dinamiza??o dos n?cleos populacionais onde se instalaram (Pina, 1988; Cunha, 2010).

Com o desenvolvimento do turismo de massas, a Praia da Rocha converteu-se num grande centro urbano que, durante o ver?o, atrai milhares de turistas. Neste processo, os anteriores equipamentos foram substitu?dos por torres de apartamentos, grandes cadeias hoteleiras e uma pluralidade

- 32 -

Freitas & Dias Revista de Gest?o Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):31-42 (2012)

de restaurantes, caf?s, bares, discotecas e lojas, sendo tamb?m criado um novo espa?o destinado aos jogos de azar. Este crescimento urbano desmedido, registado sobretudo nas ?ltimas d?cadas do s?culo XX, mostra-se muito semelhante ao que ocorreu na maioria dos n?cleos costeiros do Algarve Central (por exemplo, Albufeira, Quarteira e Vilamoura). O caso da Rocha, por?m, revela-se paradigm?tico, uma vez que no arranque da expans?o tur?stica de massas, no princ?pio dos anos de 1970, se procedeu ? alimenta??o artificial da praia, aproveitando as areias que tinham sido dragadas do porto com vista ? cria??o de uma bacia de estacionamento e rota??o de navios. O objectivo desta alimenta??o era o alargamento da praia para aumentar a sua capacidade de utiliza??o balnear e para evitar que as vagas atingindo as arribas pusessem em risco as constru??es edificadas ali na ?ltima d?cada. O sucesso da opera??o teve consequ?ncias irrevers?veis na orla costeira e no n?cleo urbano adjacente que se desenvolveu em resultado da cria??o de um sistema totalmente antropizado. O estudo deste caso, com base na an?lise da evolu??o hist?rica desta localidade e no confronto entre os usos dados a este espa?o e o seu impacto sobre o meio envolvente, permite ilustrar com clareza a rela??o que se estabeleceu nos ?ltimos s?culos entre a sociedade e o litoral, baseada numa interliga??o estreita que assenta na capacidade de transforma??o do homem que procura domesticar o espa?o e criar paisagens artificiais que se enquadrem nos seus objectivos e aspira??es - e na resposta dos sistemas naturais a essas altera??es, gerando novas realidades que obrigam os seres humanos a buscar outras solu??es, num ciclo aparentemente intermin?vel de ac??o-reac??o, imposs?vel de ignorar.

2. Materiais e m?todos

A partir da leitura do passado, os historiadores podem fornecer dados indispens?veis para uma reflex?o sobre os litorais numa linha evolutiva ?sem a qual a respectiva situa??o presente nunca poder? ser plenamente compreendida e muito menos poder? ser projecto no seu desenvolvimento futuro? (Ara?jo, 2002). O m?todo utilizado neste trabalho ? aquele habitualmente utilizado pela Ci?ncias Sociais e que se baseia no esquema teoria-documenta??o-reflex?o, ou seja, desenvolvimento de uma ideia, procura de informa??o para sustent?-la ou refut?-la (atrav?s da an?lise cr?tica das fontes dispon?veis e do recurso a bibliografia sobre o tema), e reflex?o a partir dos dados obtidos e da compara??o com outros casos mais ou menos semelhantes.

Em rela??o aos materiais de trabalho recorreu-se sobretudo a fontes prim?rias: corografias, monografias, folhetos/livros de propaganda tur?stica, relat?rios t?cnicos, cartografia antiga e recente e fotografias ?ereas, que assinalam a transforma??o da paisagem durante o s?culo XX. Depois, para dar maior coer?ncia ao trabalho e suportar as teorias explanadas utilizou-se bibliografia actualizada, de car?cter interdisciplinar.

Por ?ltimo, um esclarecimento sobre a utiliza??o dos conceitos "arriba" e "fal?sia": neste artigo os dois termos s?o usados de forma indistinta. Ainda que "fal?sia" seja um galicismo escusado, a sua utiliza??o imp?e-se para facilitar a compreens?o dos leitores brasileiros que raramente se servem do termo "arriba".

Figura. 1. Localiza??o da Praia da Rocha, da praia dos Tr?s Castelos e do rio Arade. Figure 1. Location of Praia da Rocha, Tr?s Castelos beach and Arade river.

- 33 -

Freitas & Dias Revista de Gest?o Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):31-42 (2012)

3. Evolu??o urbana e tur?stica versus as condi??es da barra e da praia

3.1 At? aos anos de 1920: um ambiente rural em condi??es naturais

A) A ocupa??o

Nas corografias e dicion?rios de meados do s?culo XIX, a Praia da Rocha n?o ? mencionada, talvez por n?o existir ainda como lugar digno de nota ou por n?o ser sequer povoada. O ?nico elemento ali situado que oferecia algum destaque era a fortaleza de St.? Catarina, baluarte de defesa da barra e rio de Portim?o, vila j? ent?o com algum relevo pela import?ncia do seu porto mar?timo. A Rocha revestiase ent?o de um pendor essencialmente rural, dominada por terrenos cultivados que se estendiam at? ? orla das arribas e desciam at? ao rio (Leal, 1876). Imagem que perdurou at? ao in?cio do s?culo XX, j? que h? algumas alus?es ?s vinhas e figueirais que povoavam as colinas fronteiras ao mar, formando maci?os de verdura onde alvejavam casinhas brancas (Arruda, 1908; Vieira, 1911). Desta data s?o tamb?m os primeiros relatos sobre as qualidades da Praia da Rocha enquanto esta??o balnear privilegiada pelas suas belezas naturais e clim?ticas e as primeiras not?cias sobre a utiliza??o da praia pelas fam?lias ilustres de Portim?o, Monchique e at? do baixo Alentejo, a quem pertencia o pequeno n?mero de casas que se estendiam sobre as fal?sias. Alguns anos mais tarde, surge not?cia da exist?ncia de uma avenida, um hotel, algumas casas para alugar e um casino, que assegurava aos banhistas, bailes, teatro e outras distrac??es (Vieira, 1911; Mendes, 1916) (Fig. 2 e 3). As condi??es existentes eram consideradas j? na altura como prop?cias ao seu desenvolvimento como "centro de tratamento medicinal e de vilegiatura" (Marrecas, 1915) e a? se organizou, em 1915, o I Congresso Regional do Algarve. Mas, ao contr?rio do que era esperado, daquele n?o resultaram quaisquer consequ?ncias pr?ticas para o incremento do turismo local (Cunha, 2010). Em 1918, a Praia da Rocha aparece inclu?da no guia da Sociedade Propaganda de Portugal (1918), que a descreve como "magn?fica", com um "clima dulc?ssimo" e "paisagens lindas". A localidade possu?a ent?o bastantes constru??es, algumas de boa qualidade, para al?m dos j? referidos casino e hotel.

B) A barra e a praia

Antes da Praia da Rocha se tornar uma est?ncia balnear conhecida internacionalmente, a vila de Portim?o estava ligada ao pa?s e ao mundo atrav?s do seu porto mar?timo. A vida econ?mica desta urbe dependia, desde tempos remotos, do com?rcio que se fazia atrav?s do rio, por onde se escoava a produ??o agr?cola do interior serrano e as conservas de peixe fabricadas nas unidades industriais instaladas na frente ribeirinha desde meados do s?culo XIX. Dada a import?ncia deste tr?fego mar?timo e do perigo a que estavam sujeitos todos aqueles que demandavam a barra por causa do seu assoreamento, a melhoria das condi??es de entrada e de navega??o no rio foi uma preocupa??o constante das autoridades, dando origem a v?rios estudos e interven??es.

Cedo se verificou que o rio era sinuoso e vari?vel, apresentando diversos baixios. Para isto concorriam causas naturais - os sedimentos trazidos pelas cheias - e artificiais,

Figura 2. Reprodu??o de um cart?o postal da Praia da Rocha, chal?ts sobre as arribas, 1913. Figure 2. Reproduction of a postcard of Praia da Rocha, chalets over the cliffs, 1913. (monscicus.)

Figura 3. Reprodu??o de um cart?o postal da Praia da Rocha, in?cio do s?culo XX, atente-se no aspecto r?stico da povoa??o. O edif?cio grande que se v? ao fundo ? esquerda ? o Hotel Viola e ao lado a estrada em direc??o ? fortaleza (futura Avenida Marginal). Figure 3. Reproduction of a postcard of Praia da Rocha in the beginning of the XXth century, note the rural aspect of the settlement. The large building at the bottom left is the Hotel Viola with the road to the fortress at the right side (future Marginal Avenue). (monscicus.)

como as altera??es ?s margens para aumento de campos agr?colas e constru??o de moinhos, a instala??o de represas no leito para irriga??es, o deslastre dos navios que frequentavam o porto, a falta de fiscaliza??o das pr?ticas dos propriet?rios ribeirinhos e a aus?ncia de obras de conserva??o das margens e leito. Os estudos e planos hidrogr?ficos do rio Arade, feitos por diferentes entidades em 1894, 1916 e 1934 (Fig. 4), permitiram verificar que a barra tinha tend?ncia para se deslocar para oeste, em resultado da curvatura do trecho final do estu?rio, do prolongamento da Praia Grande e da incapacidade do rio, perante a ac??o da ondula??o, de

- 34 -

Freitas & Dias Revista de Gest?o Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):31-42 (2012)

dissipar aqueles baixios, formando-se assim um canal de acesso estreito e condicionado, com orienta??o SSW. Em per?odos de temporal conjugados com enchentes do rio, as ?guas rompiam os bancos a SE iniciando-se novo ciclo de caminhamento da barra para Oeste (Loureiro, 1909).

bem expresso no aludido texto em que se afirma que "a sua temperatura durante o Ver?o (m?dia 23?) a p?e num p? de inferioridade em rela??o ?s praias do norte e do centro de Pa?s (...). ? pois como esta??o de Inverno que se imp?e e come?a a ser procurada pelos estrangeiros".

Nesta ?poca, o casario existente ? falava-se em cerca de 100 casas para alugar - dispunha-se sobretudo ? beira da fal?sia, onde por vezes um carreiro ou tosca escadaria talhada na arriba permitiam descer at? ?s pequenas praias. No aspecto geral, a Rocha mantinha o seu car?cter r?stico, com casinhotos dispersos pelos campos, rodeados de pomares e jardins (Proen?a, 1927). Cerca de vinte anos depois, a Rocha parecia j? um pequeno resort com um Grande Hotel (antigo Hotel Viola), o Hotel Bela Vista, uma pens?o, algumas vivendas dos magnatas da ind?stria da sardinha, servi?os de Correios, Tel?grafos e Telefones e um Posto de Turismo. Possu?a uma s?rie de moradias - muitas das quais alugadas a turistas -, campos de t?nis, casino e as ru?nas do Hotel Blitz, que n?o fora conclu?do por falta de verbas nos anos de 1930. Ao longo de toda a fal?sia havia caminhos, bem pavimentados, de acesso ? praia (Stuart, 1942) (Fig. 5).

Figura 4. Plano Hidrogr?fico do porto e barra de Portim?o levantado em 1916, pelo tenente Ernesto d?Almeida Carvalho, ao servi?o da Miss?o Hidrogr?fica da Costa de Portugal. Figure 4. Hydrographic Plan of the Arade river outlet and port, made in 1916, by the lieutenant Ernesto d?Almeida Carvalho, at the service of the Miss?o Hidrogr?fica da Costa de Portugal. (BAHOP - Biblioteca e Arquivo Hist?rico das Obras P?blicas)

3.2 At? aos anos de 1960: a transforma??o progressiva

A) A ocupa??o

Foi com a consubstancia??o das pr?ticas balneares mar?timas que a Praia da Rocha come?ou a ser efectivamente ocupada. No final da d?cada de 1920, o Guia de Portugal (Proen?a, 1927) enumerava os servi?os j? dispon?veis nesta praia: carrinhas em carreiras constantes, correios e tel?grafo, luz el?ctrica e ?gua canalizada (fraca) ? indicando tamb?m que a sua frequ?ncia rondava os 600 a 700 banhistas por ano, predominantemente de origem regional ou do Alentejo. No Inverno, segundo Ra?l Proen?a (1927), a praia era "apenas frequentada por escassos ingleses". Tal revela j? certa voca??o para est?ncia balnear internacional, o que viria a ser plenamente confirmado mais tarde, a partir dos anos de 1960. Todavia, ? interessante relevar que os par?metros de atractividade eram, no in?cio do s?culo XX, contrastantes com os actuais, preferindo-se ent?o as ?guas frias. Isto est?

Figura 5. Praia da Rocha: planta aerofotogram?trica, 1/1000, 1942, Comiss?o de Fiscaliza??o dos Levantamentos Topogr?ficos Urbanos, Levantamento a?reo de SPLA - Sociedade Portuguesa de Levantamentos A?reos. Figure 5. Praia da Rocha: aerophotogrammetric map, 1/1000, 1942, Comiss?o de Fiscaliza??o dos Levantamentos Topogr?ficos Urbanos, Levantamento a?reo de SPLA - Sociedade Portuguesa de Levantamentos A?reos. (BAHOP ? Biblioteca e Arquivo Hist?rico das Obras P?blicas)

Nos anos de 1950, a Praia da Rocha tinha uma popula??o fixa de 200 habitantes, aos quais se juntavam uma popula??o flutuante de 600 indiv?duos durante os meses de Agosto e Setembro. Havia falta de ?gua para abastecimento p?blico, sobretudo no ver?o; n?o existia rede de esgotos; a ilumina??o p?blica e os servi?os de limpeza eram manifestamente deficientes. Os pavimentos das ruas, com excep??o das Avenidas Tom?s Cabreira (que ligava

- 35 -

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download