Pobre corinthiano careca (1995) de Ricardo Azevedo: um ...



POBRE CORINTHIANO CARECA (1995) DE RICARDO AZEVEDO: UM ESTUDO DE PRODUÇÃO E RECEPÇÃO

Mariana Baldo de Gênova

João Luís C. T. Ceccantini - FCL Assis – UNESP

A presente comunicação propõe uma análise da obra Pobre Corinthiano Careca (1995), de Ricardo Azevedo, abordando alguns aspectos relativos à produção e à recepção dessa obra premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte. A pesquisa está em fase inicial e o trabalho aqui apresentado corresponde a uma primeira aproximação da narrativa, sem que ainda o levantamento de bibliografia específica sobre a obra tenha sido realizado (o que será feito num próximo momento) e sem a mobilização de um arsenal teórico de maior envergadura.

Alguns aspectos relativos à produção da obra

A emocionante narrativa de Ricardo Azevedo conta a história de José Pedro, um menino de classe média baixa, habitante de uma grande cidade, apaixonado pelo Corinthians e por Camila, uma colega de escola. Vendo-se obrigado a cortar sua vasta cabeleira, por ele tão prezada, o garoto entra em profunda crise, mergulhando em fantasias, frente à incapacidade de realizar seus desejos materiais e emocionais. Mas, em meio a muitos conflitos e emoções, José Pedro, pouco a pouco, vai descobrindo possibilidades de ser feliz.

A narrativa é delineada por uma série de tensões que envolvem, angustiam e acabam por emancipar José Pedro, no processo que o conduz da baixa auto-estima à gradativa conquista de auto-confiança. Se, no início da narrativa, a personagem sente-se insegura e diminuída, ao imaginar como seria a vida de alguns colegas de classe, especificamente o idealizado Charles Augusto, ao longo do texto, uma série de fatores fazem-se presentes, levando a personagem à reflexão, à mudança de estado e à conquista de soluções para seus conflitos. Esses fatores são de duas ordens: os que levam a personagem à crise e à tristeza, mas não deixam de fazer com que José Pedro cresça, e os que levam a personagem a ser estimulada, vislumbrando soluções para suas dúvidas e incertezas.

Entrelaçadas ao processo de crescimento da personagem, afloram algumas histórias que criam um estimulante intertexto. Primeiramente, há a alusão ao mito de Sansão, a fim de mostrar o momento conflitante por que José Pedro passa, ao ter que se desfazer de seus cabelos. O drama sofrido por Sansão, da perda de sua força, é transferido para a atual situação de José Pedro, mas é a força psicológica da personagem que desaparece com o corte do cabelo. O narrador narra com detalhes a situação dramática da personagem, abordando aspectos relacionados a essa perda por meio de pensamentos sobre “penteados”.

É o motivo “cabelo” que desencadeia todo o conflito. José Pedro lembra-se do que um tio havia dito: “calvície era coisa de gente rica”. A partir da perda de seu cabelo, a personagem começa a pensar no seu pai, no qual nunca pensara antes, relacionando esta lembrança à força perdida pela falta de cabelo. Pensamentos a esse respeito invadiam sua mente, ou pela necessidade do uso do gorro verde que era de seu pai ou, agora careca, pela possibilidade de ficar rico, já que a personagem relacionava seus problemas à falta de dinheiro.

Além da história de Sansão, há outras histórias que levam José Pedro ao desapontamento. O papagaio que canta, configurando e reforçando a incapacidade da personagem, que, apesar de gostar do canto do papagaio, estabelece uma comparação insólita com um animal irracional, que é capaz de decorar um trecho de música, ao passo que ele não consegue tirar notas boas na escola. A música evocada também contribui para o estado de crise de José Pedro. É muito repetido pelo narrador o trecho de Águas de março, de Tom Jobim: É pau, é pedra, é o fim do caminho....

Por outro lado, há fatos que se inserem na narrativa, a fim de dar ânimo e estimular José Pedro. Marão e o seu “milagroso” emagrecimento despertam na personagem a esperança de conseguir o que deseja. O mesmo se passa com o jogo do Corinthians, que, mesmo acabando empatado, provoca no garoto muita alegria, já que ele via o futebol como um grande conforto, era o seu orgulho.

Na construção da personagem de José Pedro, há uma significativa ênfase no sentido dos contrários. Pode-se dizer que há dois momentos na narrativa: os momentos de crise, os quais apresentam José Pedro como um garoto inseguro, com medo. Os conflitos dão-se pelo corte do seu cabelo; pelo uso do gorro verde; pela lembrança de seu pai; pelo mau andamento na escola; pela difícil situação financeira; pela falta de coragem para conversar com Camila e as adversidades com Charles Augusto.

Por outro lado, o personagem passa por situações que conferem a ele segurança, são os momentos de satisfação, que levam José Pedro a refletir sobre sua vida, em que ele vai “aprendendo a gostar de si mesmo” (Azevedo, 1995; 105 – em entrevista). São situações que dão força à personagem: o elogio de sua redação; o aparecimento passageiro de Marão; o empate no jogo do Corinthians; o truque que enganou Charles e a cuspida na mão; e, enfim, a busca de credibilidade e auto-confiança no que sente e fala na conversa com Camila.

Para fugir desses problemas, José Pedro cria um mundo fantástico, tratado com liberdade pelo narrador, que dá espaço para que a personagem crie um ambiente propício para seus desejos se tornarem reais. É um mundo composto de situações perfeitas, idealizadas pela personagem, que dá força para ele acreditar e transferir essa coragem para o seu “mundo real” (na verdade, também ficcional).

Muitos dos pensamentos de José Pedro faziam com que ele se sentisse e se visse como um excluído, reforçando suas diferenças com Charles Augusto. As diferenças apresentadas na narrativa entre os dois dão-se através da visão de José Pedro, acentuando-se quando a personagem imagina como seria a casa, a comida, os pais de Charles. O garoto projeta em Charles todos os seus desejos, de ir bem na escola, de ser rico, de saber falar bem, de ser bonito e de ser um bom jogador de futebol.

Os verbos imaginar, pensar, sonhar e achar estão presentes com muita freqüência na narrativa, mediando toda a história de José Pedro.

No que toca à representação do espaço, particularmente do espaço social, o futebol na vida de José Pedro é muito importante. A narrativa inicia-se com um jogo de futebol na aula de Educação Física, jogo que, de uma certa forma, desencadeia a “crise” da personagem.

Há uma crítica ao sistema escolar, que não conseguia dar conta dos sentimentos do menino. Além disso, o que era ensinado na escola não correspondia à vida e aos seus problemas, todavia, a representação da escola no livro tem dupla face. Por um lado, há um modo de abordar o cotidiano escolar, por parte do narrador e nas situações desenvolvidas, que procura expor o que há de mecânico, rotineiro, pouco criativo, desinteressante e mesmo controlador, na instituição escolar. A escola acaba sendo o espaço onde José Pedro dá vazão aos problemas que agitam seu interior, em função das carências sofridas, fazendo com que se comporte de maneira marginal e pouco dedicada, obtenha via de regra notas baixas e seja visto como um mau aluno pelo corpo de professores, pouco sensível para os problemas do garoto. O próprio conflito inicial que desencadeia toda a ação narrativa ocorre no interior da escola – o acidente sofrido na aula de educação física e a conseqüente imposição de que corte os cabelos, (quando se descobre na enfermaria escolar que José Pedro tem piolhos), para não contaminar os colegas. Por outro lado, a escola é representada positivamente, quando se revela como um saudável espaço de socialização do protagonista, em meio à vida muito limitada e isolada que leva. Se lá há um colega que inferniza seu cotidiano e lhe causa problemas, como Charles Augusto, e há alguns professores ríspidos e pouco compreensivos, é esse mesmo espaço, porém, que propicia ao protagonista conviver com sua amada Camila e mesmo as situações em que se sobressai, para, pouco a pouco, seduzi-la. E, sobretudo, é do espaço escolar, mais especificamente do professor de Português, com seu elogio à redação do protagonista, que vem o estímulo decisivo para que José Pedro lute para superar suas dificuldades e encontre um objetivo que o leve à emancipação afetiva e material.

É muito significativo o espaço criado pelo narrador, mais especificamente a casa onde mora com a mãe, pois é através dessa representação que se observa o incômodo do garoto com seus problemas, sua falta de dinheiro, de espaço, ou seja, todas suas crises. A casa do protagonista é descrita pelo narrador, apresentando ao leitor um cômodo com duas repartições, uma sala e um banheiro. O narrador apresenta um certo “afunilamento” do local onde José Pedro mora: primeiro eram dois quartos, que foram transformados em oito cubículos, num dos quais José Pedro e a mãe moravam; além disso, a mãe divide a sala em duas partes, uma salinha e um quarto e neste quarto há uma cama que José Pedro divide com a mãe.

O personagem vive em um cubículo, anda de ônibus, senta em um sofazinho e divide a cama com a mãe. Com o afunilamento do espaço, ocorre o “sufocamento” da personagem: sua libertação pode-se dar apenas por meio dos sonhos. Ele imagina e pensa em lugares amplos: estádio de futebol, mansão etc.

O espaço da narrativa é o contexto propício para cada ação da personagem. É deitado no sofazinho que José Pedro pensa em seu time, em Camila, na possibilidade de ficar rico. É neste momento que o garoto conversa consigo mesmo, já que amigos ele não tem e não há o registro de diálogos entre José Pedro e outras pessoas conversando sobre seus desejos e problemas. Ele só supera esse “silêncio” no final da narrativa, quando conversa com Camila. Mesmo com a mãe não há esse movimento de um falando para o outro sobre o cotidiano de cada um, sobre seus problemas e seus anseios.

O ambiente familiar não se enquadra nos moldes tradicionais burgueses. O narrador apresenta um espaço familiar sem a presença do pai, onde a mãe sustenta a casa e o filho ajuda nos serviços domésticos, lavando louça. Há, portanto, a representação de uma família realista, próxima dos problemas do ambiente familiar atual.

A representação da família, na obra, dá-se de uma perspectiva crítica. O núcleo familiar de José Pedro é desestruturado: o pai batia na mãe, bebia e abandonou o lar quando o garoto era ainda muito pequeno. A ausência da figura paterna cria uma situação de carência afetiva, que deixa marcas profundas na personalidade do protagonista, que se divide entre o esforço para não pensar nesse pai que não conhece e a obsessão por conhecê-lo. Além da carência afetiva, ocorre também a carência material, já que a mãe é a única provedora econômica na casa. O fato de a mãe trabalhar muito acaba por prejudicar seu relacionamento com o filho, tendo pouco tempo livre para ele e nem sempre podendo entender a extensão de suas necessidades materiais, apesar de seu amor pelo garoto.

O narrador situa-se fora da história (heterodiegético) e conhece os pensamentos e desejos de José Pedro. Todavia, isto não ocorre com a mãe; sobre ela, o narrador não dá informações físicas e psicológicas. Esse narrador é muito bem construído, em muitas situações mostrando seu poder de conhecimento da história e das personagens; por outro lado, quando interessa, omite informações e utiliza o discurso modalizado para não dar ao leitor a certeza esperada: “O casamento dos dois tinha durado pouco. Parece que viviam brigando.” (Azevedo, 1995; 34)

Em Pobre Corinthiano Careca, o narrador não dá muito espaço para diálogos e utiliza ao longo da narrativa o discurso indireto livre, embora não muito freqüente, em que o narrador onisciente cola-se ao protagonista, perdendo-se de vista a voz de quem fala ou pensa – se a do narrador ou a do protagonista.

Dessa forma, este narrador, através da utilização desse tipo de recurso, opina, julga, faz comentários dentro da narrativa, alerta José Pedro e comenta suas qualidades e defeitos.

Essas atitudes do narrador são, indiretamente, percebidas, já que seu discurso, muitas vezes se confunde com os pensamentos da personagem. Percebe-se que o narrador, para atenuar esta diferença entre o seu discurso e da personagem, se vale de uma linguagem jovial, bem simples, de tom bem coloquial, como em “O frio estava de lascar.” (Azevedo, 1995; 07)

O ponto de vista do narrador onisciente, de visão ilimitada, é francamente favorável ao protagonista, sendo que o narrador toma o partido de José Pedro em várias situações: “A falta de dinheiro era a desgraça da vida de José Pedro. O coitado nunca tinha um tostão furado” (p. 43), num processo gradativo, que culmina na presença ocasional do discurso indireto livre. Abre-se espaço, então, para que se explicite o próprio ponto de vista do protagonista e para que se dê a contaminação mais intensa do ponto de vista do narrador pelo de José Pedro. Como José Pedro passa por problemas emocionais que configuram uma certa crise de identidade, o seu modo subjetivo de encarar a realidade e, ao mesmo tempo, dela se evadir, impregna a narração.

O narrador seleciona importantes passagens, as quais narra a fim de relacionar o acontecido à vida e sentimentos do garoto. Uma delas é o jogo entre o Boca Juniors e o Corinthians, o qual tem a presença enfatizada pelo narrador do jogador Chinfrim, que “salva” o time do Corinthians, conseguindo o empate. Há uma relação entre Chinfrim e José Pedro. O garoto tem uma visão desanimadora sobre sua imagem, pobre, careca e feio e a de Chinfrim: franzina, simples, juvenil, reserva do reserva do reserva.

Os nomes, apesar de não serem parecidos, têm a mesma conotação: Chinfrim e José Pedro: “Na lista telefônica, pensava ele, deve ter tanto Silveira que dava a impressão de que se alguém (...) gritasse “Silveira!” metade da cidade ia responder “o quê?”” (Azevedo, 1995; 16)

No entanto, José Pedro muda sua visão sobre Chinfrim, quando este empata o jogo. Observa-se que, com isso, José Pedro vai transformando o modo de ver a si mesmo. Ele acaba conversando com Camila sobre seus problemas e descobrindo de que há problemas semelhantes aos seus, vividos por outras pessoas. A partir disso, José Pedro adquire segurança.

O processo de transformação e o crescimento do protagonista podem ser gradativamente flagrados no discurso de José Pedro: “Não conseguia entender como um bichinho daquele tamanho sabia de cor uma letra de música quase inteira e ele, um ser humano normal, não conseguia decorar nem os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas.” (Azevedo, 1995; 56); “E se fosse verdade? E se ele levasse jeito para escrever?” (Azevedo, 1995; 89) e “Agora tinha certeza de que tudo era possível.” (Azevedo, 1995; 98).

Pobre corinthiano careca trata de uma narrativa de bom nível literário, que tem um de seus maiores trunfos na, não apenas verossímil, mas também muito consistente, construção da personagem José Pedro – esse mal nascido jovem habitante de um grande centro urbano brasileiro do final do século. Destaca-se a capacidade do escritor em equilibrar boas doses de realismo na composição da personagem e seu espaço social e uma carga imaginativa (fundada nas fantasias e devaneios de José Pedro), que situa a narrativa além das fronteiras restritas da crônica urbana ou do realismo verista. É também muito bem construída na narrativa a cadeia de símbolos internos que vêm reiterar significações propostas em níveis mais explícitos do discurso – é o caso, por exemplo, da “careca”, que funciona como símbolo cambiante, podendo oscilar entre os extremos do sentido negativo de castração e enfraquecimento e o da conotação positiva associada à riqueza material. O escritor domina bem, igualmente, o recurso de criar, por meio do discurso, certas expectativas no espírito do leitor, que são, logo em seguida, contrariadas, obrigando-o a reorganizar os significados que tinha elaborado até então para uma dada situação narrativa. Finalmente, vale dizer que, se é possível perceber na base fundante da narrativa um propósito educativo e formador, afinado com a natureza das narrativas de aprendizagem e que tem por intuito auxiliar o jovem a enfrentar as limitações de seu cotidiano, nem por isso o autor cai no pedagogismo rasteiro, preferindo, antes, um protagonista e uma representação da escola que quebram com os clichês do bom comportamento e da modelaridade, caros à tradição da literatura juvenil.

A recepção de Pobre corinthiano careca em contexto escolar

O projeto “De mãos dadas: Leitura e Produção de texto no Ensino Fundamental”, que foi coordenado pelos Professores João Luís C. T. Ceccantini e Rony Farto Pereira, pretendeu investigar a recepção e a produção de textos em contexto escolar, detendo-se particularmente na análise do tipo de contribuição que a leitura de “narrativas longas” de boa qualidade literária, no diálogo com textos de outra natureza (verbal ou não), pode dar para a ampliação das competências de leitura e de produção de textos de alunos do Ensino Fundamental.

A partir desse projeto, pôde-se recolher o material selecionado para a presente comunicação, alguns comentários de alunos da 6ª série do Ensino Fundamental de uma Escola Pública da cidade de Tupã-SP a propósito da obra. É importante salientar que o projeto foi realizado em várias etapas, sendo que os comentários recolhidos estão na primeira etapa, ou seja, não houve nenhuma discussão em sala, com o professor, acerca da obra. Os alunos escreveram suas primeiras impressões sobre o livro lido.

Conforme a solicitação por escrito proposta aos alunos, os comentários voltaram-se para o gostar ou não gostar da obra e o porquê. A leitura de Pobre Corinthiano Careca mostrou a adesão à obra pela maioria dos alunos. Segundo eles, isso ocorreu por diversos motivos: o livro fala de futebol, principalmente pela escolha do time, o Corinthians; os fatos engraçados e o bom humor que se fazem presentes; há “romance”; presença de linguagem simples, com gírias; obra que trata de problemas reais (um aluno relata que ele tem certos pensamentos iguais aos de José Pedro); a existência de uma personagem que resolve seus problemas; e, ainda, como diz um aluno: “a obra é um exemplo para crianças que têm pais separados”.

Outros comentários mostram os motivos pelos quais os alunos gostaram menos da obra (não há relatos de alunos que rejeitaram totalmente a obra): a presença de uma personagem muito “azarada”, que tem piolho, que tem que cortar o cabelo, que não encontra o pai etc.; a opinião de que o livro é “meio infantil”; de que a personagem deveria ser mais segura; o fato de José Pedro não encontrar o pai, mesmo que ele fosse pobre, e não namorar Camila.

Percebe-se, a partir dos motivos dos alunos que gostaram menos da obra, a necessidade de uma personagem “perfeita”, que não tenha problemas, que seja bonita e que se dê bem na história. Verifica-se a busca do “herói”. José Pedro parece que não se enquadra nestes moldes tradicionais, de príncipe encantado, e, para aqueles que se acostumaram a ler livros que apresentam a personagem principal como um super-herói, verifica-se um certo estranhamento ao ler Pobre corinthiano careca.

Sobre o final da narrativa, observa-se que a obra deixa a história em aberto. Alguns alunos não gostaram do final, pelo fato de a personagem “não namorar Camila”, mostrando talvez uma visão e uma leitura menos aprofundada da obra. Além disso, alguns alunos deixaram perceber que, ao ler um livro, esperam que este final seja o do momento em que todos os problemas se resolvem. José Pedro não encontra o pai e continua com alguns de seus problemas; por isso, causa uma insatisfação em alguns leitores, que pretendem chegar ao final da narrativa e ver todos os conflitos resolvidos. Um aluno até comenta que a personagem deveria ter encontrado o pai, “nem que ele fosse pobre”.

Outro resquício da busca de uma narrativa tradicional (e a sua correspondente prática de leitura) é a necessidade de encontrar uma “lição”, uma “moral”, um “exemplo” a ser tirado da obra. É muito significativo o comentário de um aluno sobre o que a obra pode ensinar para os leitores: “um exemplo para crianças que têm pais separados”. Dessa forma, há o estreitamento da obra, concebendo-a como uma leitura capaz de ajudar as crianças, cujos pais estão separados, e levá-las a seguir o exemplo do personagem, agir como ele age.

Desse modo, faz-se necessário um trabalho com crianças e adolescentes e com seus professores, para ampliarem suas visões acerca da obra literária e sua leitura. Tais problemas, comum em alunos e professores, de uma visão tradicional sobre a obra literária, vêm de um processo escolar e depende da experiência de leitura de cada leitor. Contudo, é a partir da leitura de obras como Pobre Corinthiano Careca e do trabalho adequado com esse tipo de obra que se chegará à construção de alunos leitores e, acima de tudo, crianças emancipadas e críticas.

Bibliografia Básica

AZEVEDO, Ricardo José Duff. Pobre Corinthiano Careca. São Paulo: Ática, 1995

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de literatura infantil e juvenil brasileira: séculos XIX e XX. 4. ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.

LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: histórias & histórias. São Paulo: Ática, 1984.

PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone, 1986.

YUNES, Eliana; PONDÉ, Glória. Leitura e leituras da literatura infantil. São Paulo: FTD, 1988.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 4.ed. ver. e ampl. São Paulo: Global, 1985.

ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987.

ZILBERMAN, Regina, LAJOLO, Marisa. Um Brasil para crianças: para conhecer a literatura infantil brasileira: histórias, autores e textos. São Paulo: Global, 1986.

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