AS DIFICULDADES DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

 AS DIFICULDADES DE LEITURA E INTERPRETA??O DE TEXTOS MATEM?TICOS: Novas Metodologias

Gremanes Czekster Alexandre1

Adriano Machado2

Resumo: Preocupada com o baixo desempenho dos alunos do Col?gio Antonio Dorigon ? E.F.M.P. na prova Brasil ? 2009 e supondo-se que uma das causas seja a dificuldade de leitura e interpreta??o dos problemas propostos, procurou-se neste trabalho desenvolver uma metodologia que integrasse a leitura e interpreta??o de textos ? resolu??o de problemas matem?ticos. Para isso, utilizou-se uma metodologia diferenciada, na qual a literatura infantojuvenil fez uma ponte com os conceitos matem?ticos a serem trabalhados. O trabalho se deu com base em tr?s textos: A lenda "Negrinho do Pastoreio", a f?bula "A Bruxa Pampolinha" e o conto "O Velho, o Menino e o Burro" desenvolvidos com os alunos do 6? ano A, do Col?gio Estadual Antonio Dorigon ? E.F.M.P. Os textos foram escolhidos respeitando a faixa et?ria dos alunos, despertando dessa forma o imagin?rio infantil e ainda, textos que trouxessem a possibilidade de interdisciplinaridade e o mais importante que desse abertura para explorar conte?dos matem?ticos presentes na matriz curricular daquela turma. O objetivo deste trabalho foi de levar o aluno a ler, interpretar e buscar informa??es num texto e diante das situa??es problemas apresentadas, expressar de forma organizada o seu racioc?nio matem?tico, bem como tra?ar estrat?gias de resolu??o, apresentando uma poss?vel solu??o. Desta forma a metodologia utilizada permitiu ao aluno a leitura, interpreta??o dos textos, o levantamento de hip?teses e tomada de decis?es. Permitiu ainda di?logos relevantes ? forma??o cr?tica do cidad?o e problemas abertos, os quais permitem a investiga??o, a pesquisa e a autonomia. Em observa??es feitas durante o desenvolvimento das atividades, notou-se o grande interesse dos alunos, os quais se envolveram de forma satisfat?ria com as atividades propostas e ainda por depoimentos dos alunos e pais, sobre a relev?ncia desse tipo de encaminhamento metodol?gico.

Palavras chaves: Leitura, interpreta??o e Resolu??o de Problemas.

INTRODU??O

O presente trabalho faz parte do PDE ? Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado pela (SEED) - Secretaria Estadual de Educa??o do Estado do Paran?, que tem como objetivo fomentar as pr?ticas pedag?gicas no ensino p?blico do Estado do Paran?. Para efeito de an?lise, elegemos como eixo central de pesquisa as problem?ticas encontradas no ensinoaprendizagem da disciplina de Matem?tica. Desse modo, tomamos como recorte espacial, o Col?gio Estadual Antonio Dorigon ? EFMP, localizado no munic?pio de Pitanga - Pr.

1 Professora da Rede P?blica Estadual de Ensino do Paran?. 2 Orientador PDE da Universidade Estadual do Centro Oeste ? UNICENTRO.

Preocupados com o desempenho dos estudantes na Prova Brasil ? 2009, a qual foi realizada pelos alunos do 9? em todo pa?s, percebemos, no referido col?gio que o ?ndice de aproveitamento ficou abaixo das porcentagens m?nimas tanto do pa?s como do Estado nas disciplinas de Matem?tica e L?ngua Portuguesa. Por isso, pensando num trabalho de m?dio prazo, concentramos nosso objeto de estudo no 6? ano A do per?odo matutino. Pelo fato de acreditarmos que o trabalho deve ser feito desde as s?ries iniciais, para que essas dificuldades analisadas no in?cio do trabalho, n?o se apresentem quando os mesmos estiverem em s?ries mais elevadas.

Diante disso, temos como objetivo central dialogar de forma elementar com a disciplina de Literatura - com o intuito de promover algumas propostas metodol?gicas no que diz respeito ? leitura, interpreta??o e que contribuam para a constru??o da compet?ncia na resolu??o de problemas.

Para tanto, buscamos estrat?gias (metodologias) que pudessem colaborar com a melhoria da aprendizagem e, ao mesmo tempo, atendendo as recomenda??es das diretrizes curriculares de matem?tica para a educa??o b?sica do Estado do Paran?, de 2008, a qual destaca a import?ncia da articula??o entre os conte?dos a serem trabalhados. Acreditamos que a resolu??o de problemas ? uma tend?ncia metodol?gica pela qual o estudante tem a oportunidade de ampliar seus conhecimentos tanto matem?ticos como lingu?sticos. Pois quando se fala em resolu??o de problemas, refere-se a um tema geral que envolve leitura e interpreta??o, n?o s? de conceitos matem?ticos, mas da pr?pria linguagem.

Uma estrat?gia utilizada no desenvolvimento desse trabalho foi a integra??o da literatura infanto-juvenil ao ensino de matem?tica. Essa articula??o ? defendida por Machado (1993) o qual v? a possibilidade de ensinar a L?ngua Portuguesa a partir de uma media??o intr?nseca com a Matem?tica. Neste mesmo caminho, compartilhamos da concep??o de Azevedo e Rowell (2007) que defendem a ideia de que a resolu??o de problemas ? um recurso capaz de tornar a L?ngua Portuguesa escrita, mais eficaz. Para tanto, e pensando em uma harmonia entre as concep??es acima, tomamos as palavras de Paviani (2008, apud LORENSATTI, 2009) que defende essa rela??o entre as disciplinas trabalhando um texto como "pr?-

leitura", numa proposta de levantamento de hip?teses e sele??o de possibilidades.

Nesse contexto, escolhemos tr?s textos de dom?nio popular: A lenda "Negrinho do Pastoreio", a f?bula "A Bruxa Pampolinha" e o conto "O Velho, o Menino e o Burro". A escolha dos textos foi feita respeitando a faixa et?ria dos alunos e tamb?m levando em considera??o a possibilidade de um trabalho interdisciplinar e logicamente, textos que pudessem ser explorados os conte?dos presentes na matriz curricular da turma a ser trabalhada.

O encaminhamento das atividades foi realizado, objetivando que os mesmos buscassem informa??es contidas nos textos e a partir destas, procurassem resolver as situa??es problemas apresentadas expressando seu racioc?nio matem?tico de forma organizada, tra?ando estrat?gias de resolu??o e apresentando poss?veis solu??es. Na busca de atingir tais objetivos ? relevante planejar as atividades a serem realizadas, as formas de apresenta??o dos textos e das situa??es problemas, para que possam fazer os alunos a terem vontade de resolv?-los e ainda, percebam que a matem?tica n?o s?o somente c?lculos, mas que utilizam de diferentes linguagens. Dessa forma os alunos devem ser estimulados a ouvir, ler e escrever sobre matem?tica, podendo relacionar com seu cotidiano.

REVIS?O DE LITERATURA

Quando nos deparamos com os n?meros e resultados da Prova Brasil de 2009, do Col?gio Estadual Antonio Dorigon ? EFMP do munic?pio de Pitanga ? Pr, e como j? citado acima, ou seja, os ?ndices abaixo dos valores referenciais, observou-se a necessidade de apresentar propostas pedag?gicas que pudessem minimizar as dificuldades. Nesse sentido, pudemos, de antem?o, buscar novas estrat?gias e pr?ticas para viabilizar um melhoramento no ensino/aprendizagem desses alunos. Desse modo, arquitetamos um projeto que contemplasse a supera??o de um problema que consideramos essencial, que ? a leitura/interpreta??o na resolu??o de problemas. Para nos auxiliar nesse processo, nos apropriamos de textos da literatura, para dialogar com as atividades matem?ticas.

Por?m, ? sabido que os estudos relacionando Literatura e Matem?tica possui uma gama importante de pesquisas em suas diversas dimens?es, e por isso, nossa pretens?o n?o ? criar teorias, mas sim dialogar com parte destas para que tenhamos uma interpreta??o s?lida no que se refere a estudo pretendido. Para isso, segundo Machado (1993), a L?ngua Portuguesa e a Matem?tica devem andar juntas, pois o prazer de ler e entender o que leu, e conseguir relacionar o que leu com o seu cotidiano, mostra essa rela??o. A Matem?tica necessita da l?ngua para ler e compreender o texto matem?tico, e a l?ngua, depende da Matem?tica no sentido de resolver o problema, para expressar os resultados.

Passos e Oliveira (2004, p.1), afirmam que:

"o texto nas aulas de matem?tica contribui para a forma??o de alunos leitores, possibilitando a autonomia de pensamento e tamb?m o estabelecimento de rela??es e infer?ncias, com as quais o aluno pode fazer conjecturas, expor e contrapor pontos de vista".

Neste sentido, trabalhar com Literatura Infantil nas aulas de matem?tica ? essencial, pois permite o contato com textos escritos por outras pessoas e, por fazer parte do imagin?rio infantil, constitui-se num instrumento imprescind?vel, n?o s? na matem?tica, mas tamb?m na resolu??o de problemas em outras ?reas do conhecimento, no desenvolvimento da l?ngua escrita.

Para C?ndido et al (1999 apud PASSOS e OLIVEIRA, 2004, p. 13) o professor:

Atrav?s da conex?o entre literatura e matem?tica pode criar situa??es na sala de aula que encorajem os alunos a compreenderem e se familiarizarem mais com a linguagem matem?tica, estabelecendo liga??es cognitivas entre a linguagem materna, conceitos da vida real e a linguagem matem?tica formal, dando oportunidade para eles escreverem e falarem sobre o vocabul?rio matem?tico, enquanto desenvolvem no??es e conceitos matem?ticos.

? necess?rio desmistificar a matem?tica como algo excessivamente abstrato, dif?cil e inacess?vel. Acreditamos que a Literatura Infantil serve como ponte entre o concreto e o abstrato que a matem?tica representa. Por meio dessa conex?o, podemos criar situa??es na sala de aula que encorajem os alunos a compreenderem e se familiarizem mais com a linguagem matem?tica,

estabelecendo rela??es cognitivas entre a linguagem materna, conceitos da vida real e a linguagem matem?tica formal, dando oportunidades para eles escreverem e falarem sobre o vocabul?rio matem?tico, enquanto desenvolvem no??es e conceitos matem?ticos.

No entanto, os textos escolhidos foram importantes para que pudessem ser explorados, de forma interdisciplinar e matematicamente, na resolu??o de problemas, que era nosso maior objetivo. Lorensatti (2009) destaca as diferentes interpreta??es do que ? problema, pois dependendo do n?vel de conhecimento de cada indiv?duo, as situa??es apresentadas podem ou n?o represent?-lo.

Para que haja assimila??o dos conceitos matem?ticos trabalhados, ser? necess?ria a leitura e a compreens?o dessa linguagem verbal escrita. Para isso, Flemming; Luz; Mello (2005) recomenda que seja feita uma segmenta??o do texto e depois uma recontextualiza??o, ou seja, segment?-lo pelas palavras e pela pontua??o utilizada, auxilia na an?lise do texto, contudo, n?o na sua compreens?o. Para que isso ocorra ? necess?ria uma decomposi??o em unidades textuais de informa??o, o que pode ocorrer servindo-se de uma lista de questionamentos que devem ser respondidos a partir do texto, para ent?o fazendo rela??es entre as partes segmentadas, realizar a recontextualiza??o, destacando o sentido, e as infer?ncias matem?ticas.

Outro ponto importante neste processo ? a intera??o entre professor e aluno, durante os questionamentos. George Polya (1995) deixa evidentes as atitudes a serem tomadas pelo professor durante o processo de resolu??o de problemas, o que pode se estender ? leitura e interpreta??o dos textos. O professor deve assumir uma postura de interatividade com o aluno, auxiliandoo, por?m sem dar as respostas, sempre respondendo com outra pergunta. Estimulando o trabalho independente, equilibrando a ajuda. Um fator importante ? o professor se colocar no lugar do aluno, verificando como a interpreta??o do problema est? sendo processada, podendo assim indicar o caminho, que possivelmente seria tra?ado pelo pr?prio aluno.

Outro ponto a considerar na metodologia de resolu??o de problemas est? na escolha dos mesmos. Lorensatti (2009) lembra que o grau de dificuldade n?o deve estar muito acima da capacidade de resolu??o do aluno, nem muito f?cil, mas natural e interessante, planejados a levar o aluno ao

sucesso, pois fracassos sucessivos provocam desest?mulo na busca de solu??o.

Ainda, quanto ? resolu??o de problemas, verifica-se uma forte rela??o entre os esquemas sugeridos por Polya (1995) e os estudos desenvolvidos por Flemming; Luz; Mello (2005) sobre compreens?o de textos na matem?tica, bem como, as ideias apresentadas por Koch e Travaglia (2002, apud LORENSATTI, 2009). Em suma, devemos entender o enunciado do problema, utilizando a retomada dos elementos enunciados (dados do problema), atribuindo significado a esses elementos, traduzindo-os para a linguagem matem?tica; estabelecer planos de resolu??o; aplicar os conhecimentos matem?ticos nesses planos; e verificar a solu??o, retomando ao texto inicial.

Trabalhar essa sequ?ncia, segundo Lorensatti (2009), ? importante para a compreens?o do texto, mas n?o garante a resolu??o do problema matem?tico. Ler e compreender implica decodificar, construir significado e fazer uma intera??o entre o texto e a representa??o mental decorrente dessa intera??o.

Havendo rela??o entre as linguagens matem?tica e natural, utilizamos a literatura infantil de forma integradora procurando explorar t?picos interdisciplinares e na perspectiva de desenvolvimento da compreens?o e gosto pela leitura. Acreditamos ainda, que o trabalho deve ser feito desde as s?ries iniciais, para que as dificuldades analisadas no in?cio do trabalho, n?o se apresentem quando os mesmos estiverem em s?ries mais elevadas.

METODOLOGIAS E RESULTADOS

O balan?o bibliogr?fico, levantamento de dados, escolha dos textos, hip?teses e quest?es a serem trabalhadas ocorreram durante o 1? ano do PDE ? Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado pela Secretaria Estadual de Educa??o do Estado do Paran?. O tempo destinado para o desenvolvimento do programa ? de dois anos, deste modo o trabalho de implementa??o do material did?tico elaborado na 1? fase ocorreu no 1? semestre deste 2? ano, sendo desenvolvida com a referida turma do col?gio.

Apesar dos materiais serem minuciosamente elaborados, a equipe pedag?gica do col?gio revisou-o, juntamente com a professora PDE, fazendo os ajustes necess?rios. Imprimimos o material a ser utilizado, apostilando cada texto com as atividades referentes a ele, e fomos ao trabalho.

A lenda: O NEGRINHO DO PASTOREIO3

Ap?s conversarmos com os alunos sobre a metodologia a ser aplicada e a apresenta??o da lenda "Negrinho do Pastoreio", iniciamos com a leitura individual da mesma, posteriormente, de forma coletiva para atentarmos para aspectos comuns de interpreta??o. Em seguida, ap?s a leitura, questionamos os alunos se j? a conheciam, e se era a mesma vers?o. Dentre os questionamentos, observamos algumas pondera??es comuns, por exemplo: "as atitudes do filho do fazendeiro". Tal aspecto nos levaram a refletir sobre esse tipo de atitude.

Instigamos os alunos a pensarem matematicamente, perguntando como fariam se fossem o Negrinho, ou seja, se n?o soubessem contar e desse modo, como conseguiriam controlar a quantidade de cavalos que teriam que tomar conta, sem perder nenhum deles e n?o serem castigados. Foram v?rias as sugest?es dadas pelos alunos, destacando atitudes como: amarrar uma fita em cada cavalo, relacionando o n?mero de cavalos com o n?mero de pedrinhas em um saco, entre outras. Com esse questionamento trabalhamos com os alunos a imagina??o, fazendo-os refletir sobre a import?ncia dos n?meros e sua hist?ria. Ao t?rmino da aula os mesmos ilustraram os desenhos contidos na capa do material.

Na pr?xima aula os alunos leram novamente o texto, destacando as palavras que n?o conheciam o significado, e em pequenos grupos, procuraram com o auxilio do dicion?rio, sanar tais d?vidas. Tamb?m responderam aos questionamentos levantados no material, o que se referia ? interpreta??o da

3 Ver: acesso ? 09/09/2012.

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download