RELAÇÕES CULTURAIS SP/RS - FUJ



RELAÇÕES CULTURAIS SP/RS

As relações culturais entre São Paulo e Rio Grande do Sul são mais profundas do que se imagina.

Vários elementos comuns em termos de brasilidade tornam o estudo sobre identidade regional ou nacional mais saboroso. Gastronomia, religiosidade, mitos, lendas, superstições, falares, música, dança, literatura, todos estes temperos, simbolizam e fornecem bases aos estudos antropológicos, sociológicos, históricos, genealógicos e geográficos.

A língua ou o idioma, logicamente são partes desta cultura. As mesmas leis, moeda e há alguns anos, o futebol. Tudo isto, associando-se aos símbolos e conceitos sobre Pátria, Nação, Povo, Bandeira, Hino e a maravilhosa matriz étnica resultando na união entre indígenas, brancos e negros.

Portugueses, açorianos, mamelucos, mestiços, pretos, pardos, índios de várias tribos, com o tempo, foram encontrando outros parceiros como os imigrantes e seus descendentes germanos, italianos, poloneses, japoneses, russos, suecos, espanhóis e um contingente apreciável de outros quadrantes do Planeta.

No caso do Rio Grande do Sul, não há como esconder suas raízes paulistas, considerando o período após a conquista do território pela Coroa Portuguesa a partir do primeiro terço do século XVIII. As terras distribuídas em formato e denominação de “Sesmarias” tiveram em sua grande maioria, como primeiros proprietários, paulistas de diversas cidades daquele Estado: Taubaté, Tietê, Sorocaba, Santana de Parnaíba, Itu, Guarulhos, São Paulo, Itapetininga, Porto Feliz e Itapeva.

Os bandeirantes preadores de índios chegaram um pouco antes (Século XVII) sem intenções de se fixarem ou receber terras no antigo Continente de São Pedro. Os militares e primeiros estancieiros, além dos primitivos Tropeiros iniciaram um processo de povoamento mais intensivo a partir do Tratado de Madrid (1750). Os Tropeiros, atraídos pelas grandes manadas de gado, principalmente de muares, iniciaram uma rota de duas mãos (ida e volta), contribuindo alguns, para a formação de famílias que hoje possuem milhares de descendentes pelo Rio Grande a fora. Além disto, nestes caminhos onde Pousos se transformavam em Capelas, Vilas, Povoados e até cidades, houve o transporte de culturas que somando-se a outras, firmaram base para o dito povo do Sul (incluindo os atuais Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

(...) em outros lugares fora do Continente

estavam sujeitas a um imposto que

era cobrado não no lugar de origem do negócio,

mas sim nos mercados onde os muares

eram revendidos (...[1]).

Assim, diversas regiões deste território gaúcho foram povoadas, inicialmente por um contingente considerável de paulistas (com o tempo também conhecidos como birivas). Muitas cidades foram fundadas por eles em combinação com os açorianos que chegavam como “casais de número”, também em grande quantidade.

O ilustre Escritor, Érico Veríssimo, também colheu e se inspirou nestes “vestígios culturais” paulistas em sua famosa Trilogia “O Tempo e o Vento”. Historicamente, o romance é contextualizado entre 1777 e 1811 período em que os castelhanos foram expulsos do território riograndense.

A personagem ANA TERRA, símbolo hoje do Movimento Tradicionalista Gaúcho, como exemplo da força da mulher campesina foi retratada diversas vezes com laços familiares entre os dois Estados. A descrição era de que ela tinha 25 anos de idade, “uma moça de olhos e cabelos pretos, rosto muito claro, lábios cheios e vermelhos... que não tinha sequer um caco de espelho em casa”. “Descobriu sua imagem no poço fundo, diante do qual ajoelhou-se a fim de mirar-se no espelho das águas...”.

De acordo com a Escritora paulista Sônia Oliveira Cano[2], “Ana Terra, não é apenas a figura de ficção, criada por Veríssimo, mas se torna a própria mulher brasileira. Impondo-se na história, como ser humano, esta mulher-personagem, de raízes profundas fincadas no solo brasileiro, poderia ter vivido desde os campos férteis do Sul à aridez silenciosa e poeirenta do Nordeste... Ana havia nascido na Capitania de São Paulo, mais precisamente em Sorocaba. Daí sua importância para nós. ‘Pra que lado ficava Sorocaba?’ diz ela, nostálgica, para si mesma, e essa indagação melancólica e triste é acompanhada pelo vento que impelia na mesma direção as palmas dos coqueiros e os seus cabelos escuros. Pelos pais Maneco Terra e Henriqueta, é levada para longe da terra natal, juntamente com os três irmãos Antônio, Horácio e Lúcio... Vão como pioneiros, conquistar os campos gaúchos, atrás de outras terras e de melhores condições de vida. Para Maneco Terra, plantar e colher o trigo é a grande realização de sua vida. Mas o desejo dorido de voltar são constantes. A cada momento, nota-se uma profunda nostalgia: - ‘... os rostos da Virgem e do Menino pareciam-se com os das imagens que lá vira na Matriz de Sorocaba’. Ela e a mãe sentiam saudade de Sorocaba, das tropas que por aqui passavam, das feiras de muares, do comércio local, do fandango e do cateretê na praça da Matriz, enfim, de tudo o que lembrava esta terra abençoada ”.

Veríssimo, com sua perspicácia literária, num toque de inspiração mágica, reúne, então, os vestígios (ou relações) culturais de diferentes regiões. Captou a saga dos pioneiros que chegaram e de onde veio sua grande maioria. Também aponta os caminhos do povo brasileiro mestiço quando Ana Terra e o índio Pedro Missioneiro se entregam a uma paixão eterna.

“Se vosmecê é potro que não se doma,

muito bem, é porque não pode

viver no meio da tropilha mansa”[3].

A combinação vivente e cavalo forjava um tipo, um peleador na vida, quem sabe, com a alma dos primeiros desbravadores. A valentia para combater e lidar com gente rebelde e indomável. Os desafios, as guerras, as tropas, a campanha, um quadro do tempo e do espaço percorrido por uma gente que permanece através de várias gerações. Assim, através da Literatura, como outros grandes escritores, o gaúcho é uma combinação de culturas de várias origens étnicas e geográficas.

“E neste momento, no outro lado da vida,

montado num dos teus muitos pingos

de estimação que morreram

antes de ti, imagino-te num trote faceiro

as invernadas da eternidade. Vejo-te

chegar à porteira do céu gritando: ‘Ô de casa!’.

E vejo São Pedro olhar para fora e dizer

aos seus anjos: ‘Abram a porta, meninos, é o

Fandango. Entre, compadre, sente e tome

um mate, faz de conta que a casa é sua’. “[4]

As mulas, importantes para a economia do Sul do Brasil, como mercadoria ou servindo no transporte de produtos mil, em cangalhas, com bruacas, ou ginetes de longa experiência “profissional” com a lida e os desafios das picadas e caminhos distantes, não poderia deixar também de ser representando por Veríssimo:

(...) aparecera por ali um padre carmelita

descalço, homem de barbas pretas e sotaina parda,

que chegara montado numa mula,

contando que tinha estado prisioneiro

dos índios coroados (...)[5]

Nesta pequena passagem pela obra de Érico, muitos elementos envolvidos com a temática adotada nesta modesta apresentação, já conta com o vigor dos índios coroados que defendiam seu território desesperadamente. Os padres, levando as bênçãos celestiais e arrebanhando ovelhas para sua missão, utilizava a mula, valiosa na época para conduzir eles próprios e os altares portáteis e vestimentas de uso.

Não é possível imaginar a figura mitológica do gaúcho[6], espraiada por outras querências (e para outros, ele não era mito, era real) sem sua indumentária que trazia alguns traços dos paulistas e paranaenses: as encilhas, o poncho, os pelegos e cuxunilhos, o lenço, as esporas, a guaiaca e o facão sorocabano. A tecnologia ou artesanato do couro já eram conhecidos em São Paulo. A viola, a dança tropeira e a crença no Divino Espírito Santo também pertenciam ao grupo dos tropeiros birivas.

Vultos importantes ligados à História do Rio Grande do Sul são nascidos em terras paulistas. Entre eles, constam o Brigadeiro Tobias de Aguiar, o General Bento Manoel e o político Pinheiro Machado. Centenas de gaúchos que marcaram presença na vida política e militar têm ascendência (raízes) no Estado de São Paulo[7].

Na fundação de cidades, não poderia esquecer da minha terra onde fui registrado: São Francisco de Paula de Cima da Serra. O casal Pedro da Silva Chaves e Gertrudes de Godoy Leme (também em livro dediquei-lhes História e Genealogia), ele Português e ela paulista, eram sorocabanos de essência. Lá está um monumento dedicado ao povoador pioneiro que ajudou a eregir a primeira capela da região. Também não é possível desconhecer que cidades gaúchas têm nomes de vultos paulistas, como Venâncio Aires, Marques de Souza e Pinheiro Machado.

Naqueles tempos primitivos, entre os soldados que lutaram contra os castelhanos a maioria, que defendia as cores luso-brasileiras era de paulistas. Defendendo presídios (fortes e fortalezas) e fronteiras os militares, milicianos e voluntários surgiam de vários rincões fora do que conhecemos hoje Estado do Rio Grande do Sul.

Algumas imagens são construtivas e outras não, como é comum em todos os grupos sociais: as divergências, conflitos e disputas pelo espaço de sobrevivência. Existe, por exemplo, um termo pejorativo para designar o gaúcho como um pachola, falastrão e gritalhão, que bate na mesa em qualquer discussão. Como existe sempre um contra-ponto, uma resposta, não é de se duvidar de outros boatos e falações de que o paulista é arrogante.

De acordo com o pesquisador Marcelo Bogaciovas “a arrogância dos paulistas atravessou fronteiras e já se fazia notar em meados do século XVIII em Portugal. Assim, em ‘Teatro Novo’, comédia encenada a 22-01-1766, em Lisboa, do poeta e teatrólogo português Pedro Antônio Joaquim Corrêa Garção, glosando a presunção desses luso-brasileiros, fez um de seus personagens declamar: ‘Que podem parecer-me tais loucuras/ Estou tonto de ouvir estes senhores!/ Parece-me que estou entre Paulistas/ Que, arrotando congonha, me aturdiam,/ Co’a fabulosa ilustre descendência/ De seus avós, que de cá foram/ Em jaleco e ceroulas’”. Mostrar que o sangue paulista não é tão azul quanto se diz não diminui a qualidade de sua gente. Porque a sua nobreza não tem por origem fidalgotes portugueses, melancólicos ou sem fortuna que para cá vinham. Ao contrário, tem por origem a classe popular de Portugal, que trazia consigo uma vontade inabalável de melhorar a vida, valendo-se de suas características naturais, como o amor ao trabalho e a intrepidez”.[8]

Em algumas oportunidades, em palestras nos eventos que participo, utilizo de uma brincadeira a respeito de tudo isto. Ao receber críticas sobre “a índole” do gaúcho, sempre respondo que não podemos esquecer que “o gaúcho é um paulista disfarçado...”.

Não aprecio muito este caminho para debates, pois muito difícil fica decifrar a personalidade ou caráter de uma pessoa. Mais complicado quando procuramos entender um povo, um modo de vida de uma região, de uma cidade ou de um Estado. Faz parte, no entanto, do folclore popular, estas assacadilhas[9], por vezes não maldosas, mas picantes. Ironias e hipocrisias a parte, é possível entender que também estes elementos de condução da alma popular podem transportar alguma filosofia (força de expressão) ou modo de tentar interpretar de forma genérica o que pensa e como agem cidadãos, individual ou coletivamente. É um processo social de complicada análise.

Eu e minha esposa Sandra somos descendentes do Cacique Tibiriçá e de casais paulistas, principalmente das regiões de Taubaté e Sorocaba (embora tenhamos outros ancestrais no Arquipélago dos Açores).

Outras várias conexões existem e que cito algumas delas que são atuais: a) em Sorocaba existe o CTG “Fronteira Aberta” fundado também por gaúchos com saudades do pago, quem sabe, muitos deles com ancestrais em São Paulo, numa verdadeira volta às origens (?); b) as Festas do Divino Espírito Santo, vinculadas às tradições religiosas são encontradas no interior do Município de Caxias do Sul (Criúva e Vila Seca). c) as Festas “caipiras” de São João, na cidade de Nova Prata, localizada na típica região de imigração italiana; d) o confrade e amigo, Jornalista e Historiador, Sérgio Coelho de Oliveira tem raízes em Palmeira das Missões e Cruz Alta e é um eminente cidadão sorocabano que estuda com carinho a saga tropeira; e) o Seminário Nacional do Tropeirismo, realizado de dois em dois anos na cidade gaúcha de Bom Jesus; f) a Semana do Tropeiro, realizada anualmente em Sorocaba onde reúnem-se brasileiros de vários Estados, incluindo os do RS; g) um dos mais cohecidos CTGs (Centros de Tradições Gaúchas), o “Lalau Miranda”, foi fundado na cidade de Passo Fundo por um paulista: Estanislau Miranda.

Os poetas nativistas ou gaúchos tradicionalistas demonstram saber e têm consciência deste mosaico genético. O poema “Herança Tropeira” (p.7 deste Tomo) vislumbra o pertencimento de uma população aos vínculos tropeiros e birivas. Diz o poeta “mescla de sangue e origens” para provar que não esquece de sua árvore genealógica. Não esconde que “com o tempo, enraizaram a sua própria cultura” firmando sua posição de que procura uma diferenciação, não uma homogeneização ou imposição de gostos e sonhos que são de outros, distantes de sua querência. Também não desconhece a miscigenação que acompanhou a formação de sua gente: “geravam proles mestiças, misturando a cor da pele, os costumes e o sotaque, herdados das línguas mães”. Assim, outros poetas e artistas do Sul sabem muito bem o que significa Tropeirismo e Biriva. Uma ligação muito clara com suas origens em Sorocaba.

Entenda-se que não há homogeneidade. Apenas restam traços, heranças e vestígios culturais que se encontram de uma forma quase invisível. O Mestre Darcy Ribeiro muito discorreu sobre o assunto e com sabedoria contextualiza: “ A expansão dos antigos paulistas atingiu e ocupou também a região sulina de prévia dominação espanhola e a incorporou ao Brasil. Em interação com outras influências, porém, deu lugar ali a uma área cultural tão complexa e singular que não pode ser tida como um componente da paulistânia. Ao contrário das outras áreas conformadas pelos paulistas, como a de mineração, a de economia natural caipira e a da expansão da cafeicultura, que, apesar de suas diferenciações econômico-social, apresentam uma base cultural comum, na região sulina surgiram modos de vida tão diferenciados e divergentes que não se pode incluí-los naquela configuração e nem mesmo tratá-los como uma área cultural homogênea. A característica básica do Brasil sulino, em comparação com as outras áreas culturais brasileiras, é sua heterogeneidade cultural[10]”.

O incansável pesquisador RIBEIRO deslumbrou uma visão antropológica que afasta um pouco a diretriz deste Memorial. Aqui, a base genealógica com alguns dados concretos de brasilidade comum indica também uma outra reflexão. Cito mais um momento importante desta relação que foi a Era do Rádio. Nas décadas de 30, 40 e 1950, principalmente, no período pré-televisão, no interior gaúcho o que mais se ouvia eram os programas musicais com as “duplas caipiras”. Esta foi uma fase que influenciou fortemente a vida de muita gente. Violeiros como Raul Torres e Florêncio, Tonico e Tinoco, Silveira e Barrinha, Alvarenga e Ranchinho, Cascatinha e Inhana, Inezita Barroso, Serrinha e Mário Zam tinham seu público no Rio Grande. Eram famosos e em muitos lugares os bailes e fandangos eram embalados com esta música caipira, cabocla e paulista do interior.

Nos dias atuais, a chamada música sertaneja com inúmeros artistas conquista velhos e jovens que lotam arenas preparadas para mega-shows.

Em outra área bem diferente, houve uma grande influência no organograma funcional dos trabalhadores. A política sindical forjada no ABC paulista, principalmente pela classe Metalúrgica, preparou novas bases para uma estrutura a nível nacional a partir da CUT e da Força Sindical. Um modelo bem paulista, em se tratando de origem geográfica, industrializada e desenvolvida. As relações econômicas de hoje são importantes até mesmo na importação de plataformas e perfis organizacionais baseados na indústria de São Paulo.

Assim, resumidamente, os elos que constroem uma relação fundamental em termos culturais não podem, de maneira nenhuma, ser esquecidas e excluídas. Aliás, em lugares em que menos se espera existem barreiras, preconceitos e ignorância a respeito deste assunto: alguns setores do jornalismo e do mundo acadêmico de universidades, este assunto não é valorizado e surpreendentemente ignorado.

GENEALOGIA PAULISTA-AÇORIANA

Esta é uma obra que trata de Genealogia. O total de descendentes de açorianos encontrados para montagem deste Memorial é de 284.169 indivíduos.

O inventário relacionado ao casal João de Abreu e Izabel de Proença Varella totalizou 15.691 descendentes. É uma amostragem significativa, pois representa o período de 1585 a 2008, ou seja, encontrados descendentes em dezenove gerações em 413 anos! É um retrato do povo brasileiro, nome por nome, no qual são conhecidas nossas verdadeiras entranhas.

São caminhos percorridos. O encontro de múltiplas relações familiares que de “uma certa forma” podem colidir com conceitos e perfis de distintas posições ideológicas ou filosóficas. Existe um contraponto entre escravocratas e abolicionistas, democratas, republicanos com simpatizantes da monarquia ou de ditaduras.

Com as variáveis tempo e espaço é possível ver a passagem das gerações, iniciando em atividades ligadas ao mundo rural e logo depois, cosmopolitas urbanos. De Tropeiros com descendentes médicos, normalistas, engenheiros, poetisas, militares e profissionais em “design” gráfico-industrial. Inclui Maçons, Presbiterianos, Católicos, Envangélicos, Pastores, Sacerdotes, Guarda-mor, Combatente da FEB na Segunda Grande Guerra, Cisplatina, Paraguay... Mulheres manejando teares e ensinando filhas e netas no artesanato primitivo das fazendas. Homens curtindo couro para fabricar arreios ou montando engenhos de cana ou as primeiras fábricas de fiação e tecelagem.

Não foi possível alinhavar pesquisa de caráter ou personalidades. No entanto, este inventário genealógico trás, numa leitura atenta, dirigida aos Cientistas Sociais, um pouco de nossa gente. Vitórias, derrotas, conquistas, um balanço dos que enfrentaram barreiras (ou quebrar barreiras). Os ricos, pobres, de todas as cores. Todas as faixas sociais são apresentadas. Barões, Coronéis, Cientistas, Empreendedores, Operários, Analfabetos e Letrados. Um conjunto especial de análise.

A temática açoriana encontrou, então, aqueles que aqui chegaram ainda no século XVI. Seus descendentes têm presença em locais diferentes daquele da casa do Patriarca e da Matriarca. Esta linhagem se comunica com outras e dá vazão a prova da miscigenação e dos laços que unem famílias, regiões e culturas. Observando o índice deste Tomo, através dos sobrenomes também se comprova os laços de casamentos entre diversas etnias.

Apenas com o esboço de uma amostragem sobre os descendentes de um casal é possível deslumbrar um imenso fardo de informações. Somando-se aos outros casais açorianos que fazem parte desta obra, realmente é possível apresentar um outro lado da História, pouco conhecido e divulgado.

Os descendentes de João de Abreu e Izabel Proença Varella, são apresentados em variadas posições sociais. A seguir, uma relação de alguns nomes que participaram como agentes construtores e cidadãos deste País[11] e, portanto, com uma “costelinha” no Arquipélago dos Açores:

GENEALOGISTAS:

Pedro Taques, com uma obra importante sobre as primeiras famílias brasileiras;

Adriana Weber, pesquisadora gaúcha;

José de Paula Leite de Barros, de Itú.

Luiz Gonzaga da Silva Leme, autor da Genealogia Paulistana;

Amaury Hércules Ferraz de Camargo, de Jaú.

Maria Celina Exner Godoy Isoldi, de São José do Rio Preto.

David Antonio da Silva Carneiro Jr. Escreveu e publicou diversos livros. Historiador.

ESCRITORES:

Francisco Luiz de Abreu de Medeiros, autor de “Feira de Sorocaba”, em 1862;

Pedro Ari Veríssimo da Fonseca, da cidade de Passo Fundo, trata da temática tropeira;

Manoel José Pacheco. Poeta e Abolicionista em São José do Rio Pardo (SP), com fazenda onde cultivava 38000 pés de café;

Fábio da Silva Prado. Um dos fundadores da Sociedade de Etnografia e Folclore. Membro do IHGSP;

Hélio Jaguaribe. Cientista social. Com obras publicadas;

Pedro Nava. Vários livros publicados.

Moysés Marcondes de Oliveira e Sá. Poemas e teses médicas publicadas;

Aristides de Moraes Gomes. Foi Prefeito em Cruz Alta. Pesquisador sobre fazendas e povoamento da Região das Missões;

Maria Luiza de Ouro Preto. Membro da União Brasileira de Escritores;

Caio da Silva Prado Jr. Publicou várias obras, incluindo “História Econômica do Brasil”;

Jorge Tibiriçá. Um dos fundadores da Estação Agronômica de Campinas. Publicou estudos sobre Geologia e Mineralogia;

Pedro Florêncio da Silveira Camargo. Patrono do IHGG de Sorocaba. Sacerdote.

João Paulo de Arruda Filho. Economista. Publicou diversos livros. Defendia o controle da natalidade.

Newton Isaac da Silva Carneiro. Presidente do IHGSP. Historiador;

Raquel Faria de Oliveira. Poetisa.

Érico Veríssimo. Grande escritor brasileiro com obras publicadas em diversos idiomas;

Luiz Fernando Veríssimo. Filho de Érico. Cronista em diversos órgãos de imprensa do Brasil;

Sérgio Coelho de Oliveira. Sorocabano. Autor de vários livros. Trabalha com pesquisa tropeira;

Antônio Henrique Bittencourt Cunha Bueno. Político. Co-autor do famoso Dicionário das Famílias Brasileiras;

Luiz Antônio de Assis Brasil. Gaúcho. Pós-doutorado em literatura açoriana. Entre outras obras, escreveu “Um quarto de légua em quadro”, com a temática ilhoa;

MULHERES:

Jacintha de Moraes Abreu. Conhecia plantas medicinais e chás que distribuía à população pobre em Porto Feliz e Tietê;

Querubina Rosa Marcondes de Sá. Baronesa. Casada com o Barão de Tibagy, José Caetano de Oliveira (sorocabano);

Yolanda de Ataliba Nogueira Penteado. Responsável pela criação do Museu de Arte Moderna e das primeiras Bienais em São Paulo;

Sophia de Oliveira Barros. Esposa do Presidente Washington Luís;

Ana Carolina de Oliveira. Condessa do Pinhal;

Manoela de Assis Cássia Franco. Baronesa de Araras;

Adelaide Benvinda da Silva Gordo. Esposa do Presidente Prudente de Moraes;

Cely Elizabeth Jùlia Monteiro de Barros. Primeira mulher do ex-Presidente Fernando Collor de Mello;

Maria Antonieta Cintra. Uma das fundadoras do Externato Nossa Senhora das Mercês em São Paulo;

Amália Cintra Ferreira. Esposa do Conde Andréa Matarazzo. Uma das fundadoras da Liga das Senhoras Católicas. Fundou o Instituto Santa Amália. Condecorada com a Ondine della Stella Dela Solidarietá Italiana;

Alice Toledo Ribas. Conhecida como Alice Tibiriçá. Ativista social e feminista. Criou em 1926 a Sociedade de Assistência às crianças Lazaras (hanseníase). Também escreveu “Como eu vejo o problema da lepra”. Foi quem deu a idéia da comemoração ao Dia das Mães;

Maria Cecília Carvalho de Mesquita. Diretora do Suplemento Feminino do jornal “O Estado de São Paulo”;

Rita de Cássia Coelho de Oliveira. Nascida em Sorocaba. Participou da seleção brasileira de vôlei na década de 1960;

Maria Augusta de Toledo Tibiriçá. Médica. Ajudou a organizar a Comissão de Defesa da Indústria Farmacêutica Nacional. Também contribuiu para a fundação do Movimento em Defesa da Economia Nacional;

Marta Suplicy (Martha Theresa Smith de Vasconcellos). Psicóloga. Por muito tempo manteve programa na TV Globo dedicado à mulher e orientação sexual. Política. Foi Prefeita da capital paulista.

Dora Silvia Bittencourt Cunha Bueno. Ativista na área social. Membro fundadora da Casa da Criança em Avaré;

Ignez Dias de Alvarenga. Fundadora do retiro de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja do Mosteiro de São Bento em Santana de Parnaíba;

Clélia Haidée Beltrão. Médica pediatra. Residindo em São Gabriel (RS) onde é considerada cidadã honorária.

TROPEIROS:

José Mariano de Salles. Tropeiro nas regiões de Quarai e Cachoeira do Sul;

Manoel José de Araújo. Tropeiro de mulas. Fundador de Palmeira (PR);

Manoel José da Encarnação. Nascido em São Roque (SP) e proprietário de fazenda em Cruz Alta (RS). Era conhecido como “Maneco Biriva”;

Januário Garcia Leal. Conhecido como “O Sete orelhas”. Apelido motivado por sua ação de vingança contra matadores de seu irmão quando cortou as orelhas dos desafetos. Tropeiro na região de Lages (SC) embora fosse de Minas Gerais de onde fugiu;

Jeronymo Pedroso de Barros. Cônego de Itu que também conduzia tropas para o Sul;

Antonio de Mascarenhas Camelo Júnior. Chegou ao Rio Grande do Sul devido aos seus negócios com animais. Era também produtor de erva-mate. Após, voltou para sua cidade natal, Sorocaba;

Amazonas de Araújo Marcondes. Tropeiro Paranense. Rebelde na Revolução Federalista de 1893.

Joaquim Ferreira da Silva Chaves. Criador de gado bovino e muar em Boa Esperança (MG);

José Gomes Pinheiro Machado. Senador. Um dos nomes mais conhecidos na História Política. Em sua Biografia consta que foi Tropeiro em sua mocidade;

Ernesto Justinano de Araújo. Tropeiro, negociante de animais em Palmas (PR);

Francisco Teixeira de Azevedo. Tropeiro em Carambehy (PR). Faleceu numa viagem ao Sul;

BARÕES, VISCONDES ... :

João de Ataliba Nogueira. Barão de Ataliba Nogueira;

Joaquim Ferreira Penteado. Barão de Itatiba;

José Estanislau de Oliveira. Barão de Araraquara e Visconde de Rio Claro.

Manoel Marques de Sousa. Conde de Porto Alegre. Ganhou medalha pela Campanha Cisplatina. Em sua homenagem existe uma cidade com seu nome;

Antônio de Sá Camargo. Visconde de Guarapuava. Libertou os escravos e ajudou na fundação de cidades.

Manoel Ignácio Marcondes Romeiro. Barão de Romeiro, em Pindamonhangaba;

Luiz de Mello e Oliveira. Barão de Mello Oliveira;

Alexandre Vieira de Carvalho. Barão de Lajes.

Joaquim Pinto de Araújo Cintra. Segundo Barão de Campinas;

Joaquim Marques Lisboa. O Marquês de Tamandaré. Patrono da Marinha brasileira. Tem cidade com seu nome.

OUTROS PERSONAGENS:

Rafael Tobias de Aguiar. Brigadeiro. Um dos revoltosos de Sorocaba em 1842. Tem pelagem de animais eqüinos em sua referência: “tobiano”. Ligações com os rebeldes farroupilhas;

Pedro Gonçalves Meira. Versado em línguas indígenas e conhecedor de plantas medicinais;

Estanislau de Barros Miranda. Nascido em Sorocaba e que fundou um Centro de Tradições Gaúchas na cidade de Passo Fundo e que leva o seu nome;

João Baptista de Almeida Leme. Residente no Rio Grande do Sul e conhecido pela alcunha de “o Sorocabano”;

Venâncio Aires. Nascido em Itapetininga. Jornalista. Tem nome de cidade gaúcha em sua homenagem;

Joaquim de Toledo Piza e Almeida. Libertou, em 1880, os escravos que possuía. Abolicionista. Ministro do STF;

Américo Brasiliense de Almeida e Mello. Nascido em Sorocaba. Depois da Proclamação da República, foi o primeiro Governador de São Paulo;

Mário de Moraes. Radialista tendo narrado jogos de futebol, inclusive aqueles de Copas do Mundo;

Afonso Alves de Camargo. Governador do Paraná. Nascido em Guarapuava. Presidente da OAB;

Tom Jobim. Músico e Compositor. Um dos maiores talentos brasileiros conhecido internacionalmente;

João Rodrigues de Oliveira Simões. Casou quatro vezes. A última esposa era sua enteada;

João Cândido Ferreira. Foi Presidente do Paraná.

Gastão Eduardo Bueno Vidigal. Empresário e Banqueiro paulista. Presidiu a FEBRABAN;

Antônio Ignácio da Cunha Bueno. Político. Instituidor do Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos no Brasil. Na sua época foi o parlamentar que maior número de leis apresentou;

Píndaro Annes. Nascido em Cruz Alta. Um dos fundadores do Hospital de Caridade. Maçon e membro do Rotary Club;

Eduardo Matarazzo Suplicy. Senador. Economista e Professor na Fundação Getúlio Vargas;

Aureliano Chaves. Engenheiro. Foi Vice-Presidente da República.

Jayme Monjardim. Filho da cantora Maysa. Cineasta. Diretor e produtor de novelas para a televisão.

A imensa descendência deste casal (como acontece com outros) teve presença em muitas cidades, entre elas: Campinas, Sorocaba, Tietê, Itu, Dois Córregos, Pindamonhangaba, Santana de Parnaíba, Porto Feliz, Araraquara, São Roque, Tatuí, Itapetininga, Mogi-mirim, Mogi-guaçú, Amparo, Santo Amaro, Araritaguaba, Guarulhos, Descalvado, Atibaia, Bragança, Juqueri, Botucatú, São José do Rio Pardo, Lorena, São Paulo (SP). Curitiba, Paranaguá, Morretes, Castro, Lapa, Guarapuava, Palmas, Palmeira, Ponta Grossa, Tamandaré, Rio Negro, Tamanduá (PR). Lages, Laguna, Florianópolis, Mafra, Campos Novos (SC). Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha, Gravataí, Viamão, Cruz Alta, Santo Ângelo, Tupanciretã, Passo Fundo, Carazinho, Vacaria, São Francisco de Paula, Bom Jesus, Jaquirana, Gramado, Canela, Livramento, Alegrete, Rio Grande, Pelotas, São Vicente, São Martinho, Júlio de Castilhos, São Gabriel, Rio Pardo, Canguçu, Estrela (RS). Belo Horizonte, São João Del Rei, Carrancas, Lavras, Pouso Alegre, Diamantina, Três Pontas (MG). Além disto, encontram-se seus descendentes em outros Estados como o Rio de Janeiro, Goiás, Pará e Bahia e alguns no exterior (EUA e Europa).

Um detalhe que chama a atenção é de que houve muitos casamentos entre parentes, neste tronco que parte de um casal açoriano. Comum o enlace entre tio e sobrinha, primos-irmãos, viúvos que casam com cunhadas (e vice-versa) e até mesmo madrasta casando com enteado. É um extenso enredo de novela.

A caminhada, as rotas percorridas pelas famílias é uma sina que vem da época das Cavernas, certamente. E neste modesto trabalho comprova-se mais esta tese-realidade, pelo menos nestes cincos séculos de Brasil, com a vantagem de conseguirmos citar o nome e sobrenome de cada um...

Luiz Antônio Alves

OBS: na outra página um poema relacionado ao tema.

HERANÇA TROPEIRA

De Sebastião Teixeira Corrêa (*)

A trilha guardou a história.

Daqueles que abriram a trilha,

Desenhando geografias

Pelos rumos dos cargueiros;

Das terras de Santa Fé

À distante Sorocaba

(O mesmo ideal de tropas,

O mesmo instinto de andejos

E anseios de liberdade).

Mamelucos e criollos

Plantaram ranchos, pousadas,

Pra verem nascer estradas,

Vilas, povoados, cidades.

Por mais de duzentos anos

Portugueses, castelhanos,

Ignorando as coroas

Que peleavam por fronteiras,

Tangiam tropas, vendiam,

Compravam, faziam trocas

De mercadorias e de cultura;

Geravam proles mestiças,

Misturando a cor da pele,

Os costumes e o sotaque

Herdados das línguas mães.

O ciclo do tropeirismo

Forjou a estirpe biriva,

Numa saga de civismo

De uma linhagem nativa.

(*) Vencedor do 1° Concurso Literário Cristóvão Pereira de Abreu, promovido pela Estância da Poesia Crioula.

Bom Jesus na rota do Tropeirismo no Cone Sul / org. Lucila Sgarbi Santos; Véra Lucia Maciel Barroso. Porto Alegre: EST, 2004.

Cristóvão traçou a rota

E a tropa seguiu sozinha,

Ao rastro da égua madrinha

Do primeiro madrinheiro;

Digo mal, seguiam junto

Os peões, o cozinheiro,

Batedor e contador,

O patrão e o capataz,

- E todos eram tropeiros –

Hoje tudo é diferente,

Mudou o curso da história,

Já é outra a trajetória:

- É o ciclo do modernismo

Não há mais tropas de mulas

Desbravando continentes;

Daqueles homens valentes

Que habitaram esta querência.

Gaúchos por excelência,

Mescla de sangue e origens,

Resta uma nesga de mundo

Por onde as tropas passaram,

Que, com o tempo, enraizaram

A sua própria cultura.

Me orgulho em ser descendente

Desses tropeiros de outrora,

E carregar, vida a fora,

O gauchismo no gen;

- O meu avô foi biriva,

Meu neto será também!

-----------------------

[1] Érico Veríssimo: Narrador em O Continente: Um certo Capitão Rodrigo (I, 290).

[2] Artigo na Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, Ano 49, n° 11, Julho de 2003, p. 87/92. Sônia é Escritora e Poetisa, membro da Academia Sorocabana de Letras.

[3] Veríssimo: Diálogo entre o Capitão Rodrigo e Ricardo Amaral, em O Continente: Um certo Capitão Rodrigo (I, 210).

[4] Veríssmo: Rodrigo Cambará referindo-se a Fandango em O Retrato (II, 369).

[5] Narrador em “O Continente; Ana Terra (I, 139). De acordo com a antiga Enciclopédia da Globo, sotaina = Veste talar usada pelos eclesiásticos abotoada, pela frente, de alto a baixo. Batina. Nome depreciativo dado aos clérigos.

[6] Apenas um breve comentário: a imagem do mitológico gaúcho está inserida naquela vinculada ao pampa gaúcho, de fronteira, onde “o monarca, o centauro, vivia no lombo de seu pingo na imensidão da campanha...”. No entanto, esta mesma figura simbólica poderia também andar na “imensidão das coxilhas” nos campos de cima da serra!.

[7] Atual Governadora do RS é paulista; Yeda Crucius.

[8] Revista do Colégio Brasileiro de Genealogia, Anais do I Congresso de Genealogia do Rio de Janeiro, Tomo V, 2005, p. 81.

[9] Vide opinião de uma Jornalista do jornal A Folha de São Paulo sobre o gaúcho no Tomo I, pág. 104.

[10] RIBEIRO, Darcy. O Povo brasileiro – A formação e o sentido do Brasil.- São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

[11] Apresentado apenas um rol de alguns nomes escolhidos aleatoriamente para sustentar a tese defendida desde o Tomo I.

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download

To fulfill the demand for quickly locating and searching documents.

It is intelligent file search solution for home and business.

Literature Lottery

Related searches