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|LISTA DE EXERCÍCIOS PARA RECUPERAÇÃO |

|Nome: __________________________________ Nº____Série: 9° ___ |[pic] |

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|Data: ___ / ___ / 11 | |

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|Nota: ______________ 4° Bimestre | |

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Memórias do cárcere

1Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos − e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, 16com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. 2Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, 9dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de 5utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas?

(...)

O receio de cometer indiscrição exibindo em público pessoas que tiveram comigo convivência forçada já não me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaram-se.

10Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa ausência, alteram-se, completam-se, avivam recordações meio confusas − e não vejo inconveniência em mostrá-los.

(...)

E aqui chego à última objeção que me impus. 13Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. 6Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. 17Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? 15Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las.

7Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...)14Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. 3Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: 4conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa. 18Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas, 12às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, convencemo-nos de que a minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a causa dela, 8desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que variássemos também, apresentássemos falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo ter-me revelado com frequência egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível.

GRACILIANO RAMOS

Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002.

1. (Uerj) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. (ref.13)

O fragmento acima poderia ser reescrito com a inserção de um conectivo no início do trecho sublinhado. Esse conectivo, que garantiria o mesmo sentido básico do fragmento, está indicado em:

a) porque

b) embora

c) contudo

d) portanto

2. (Uerj)

[pic]

A pergunta da personagem Mafalda, no segundo quadrinho, inicia-se com a palavra “então”, que estabelece uma relação de sentido com a situação anterior.

Identifique a relação de sentido estabelecida e reescreva a pergunta, substituindo o vocábulo “então” por outro conectivo.

3. (G1 - ifsc) Relacione as colunas, com relação à coesão textual.

Coluna 1

(1) O conectivo empregado indica progressão.

(2) O conectivo empregado estabelece adição, soma, acréscimo.

(3) O conectivo empregado indica tempo.

(4) O conectivo empregado indica explicação.

(5) O conectivo empregado estabelece conclusão.

(6) O conectivo empregado estabelece contradição, oposição.

Coluna 2

( ) “Desde que o programa foi implantado, ...” (ref.12)

( ) “De uma historinha que muita gente já ouviu, mas que sempre vale a pena repetir.” (ref.13)

( ) “... o Post-It já rendeu uma fortuna para a 3M e pouco mudou:..” (ref.14)

( ) “... aquela folhinha amarela que gruda mas não gruda.” (ref.15)

( ) “E azar das empresas que não aproveitam a força criativa de seus Fernandos.” (ref.3)

( ) Seu projeto foi recusado, porque as explicações não foram convincentes.

( ) À medida que trabalhava, conquistava mais prestígio.

( ) Meus amigos felicitaram-me quando fui aprovado no concurso.

( ) Todos trabalharam muito, por isso foram promovidos.

( ) Sempre teve boas ideias e boas intenções, dessa forma será bem sucedido no seu trabalho.

A alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo é:

a) 3, 4, 2, 6, 4, 5, 1, 3, 4, 4

b) 1, 6, 3, 6, 2, 4, 1, 3, 5, 6

c) 1, 6, 6, 6, 5, 2, 4, 1, 4, 5

d) 3, 6, 2, 6, 2, 4, 1, 3, 4, 5

e) 3, 5, 2, 5, 2, 4, 1, 3, 4, 3

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Como e porque sou romancista

Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, 2passava-se à leitura e era eu chamado ao lugar de honra.

Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um folguedo querido; 3já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.

Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se em recriminações contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido.

Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, 4lia com expressão uma das páginas mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos momentos depois não puderam conter os soluços 8que rompiam-lhes o seio.

Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e suas amigas.

Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já assustado com o choro que ouvira ao entrar – 6Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais perturbou-se:

- Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente.

As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus 1remoques, não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:

7- Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.

Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a natureza o dotara.

Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção?

1Não me animo a resolver esta questão psicológica, 5mas creio que ninguém contestará a influência das primeiras impressões.

JOSÉ DE ALENCAR

Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.

1remoque: zombaria, caçoada

4. (Uerj) Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, (ref. 6)

O fragmento acima poderia ser reescrito, com o emprego de um conectivo.

A reescritura que preserva o sentido original do fragmento é:

a) caso nos visse a todos naquele estado de aflição.

b) porém nos viu a todos naquele estado de aflição.

c) quando nos viu a todos naquele estado de aflição.

d) não obstante nos ver a todos naquele estado de aflição.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Ler e crescer

1Com a inacreditável capacidade humana de ter ideias, sonhar, imaginar, observar, descobrir, constatar, enfim, refletir sobre o mundo e com isso ir crescendo, a produção textual vem se ampliando ao longo da história. As conquistas tecnológicas e a democratização da educação trazem a esse acervo uma multiplicação exponencial, que começa a afligir homens e mulheres de várias formas. Com a angústia do excesso. A inquietação com os limites da leitura. A sensação de hoje ser impossível abarcar a totalidade do conhecimento e da experiência (ingênuo sonho de outras épocas). A preocupação com a abundância da produção e a impossibilidade de seu consumo total por meio de um indivíduo. O medo da perda. A aflição de se querer hierarquizar ou organizar esse material. 3Enfim, constatamos que a leitura cresceu, e cresceu demais.

4Ao mesmo tempo, ainda falta muito para quanto queremos e necessitamos que ela cresça. Precisa crescer muito mais. Assim, multiplicamos campanhas de leitura e projetos de fomento do livro. Mas sabemos que, com todo o crescimento, jamais a leitura conseguirá acompanhar a expansão incontrolável e necessariamente caótica da produção dos textos, que se multiplicam ainda mais, numa infinidade de meios novos. Muda-se então o foco dos estudiosos, abandona-se o exame dos textos e da literatura, criam-se os especialistas em leitura, multiplicam-se as reflexões sobre livros e leitura, numa tentativa de ao menos entendermos o que se passa, já que é um mecanismo que recusa qualquer forma de domínio e nos fugiu ao controle completamente.

Falar em domínio e controle a propósito da inquietação que assalta quem pensa nessas questões equivale a lembrar um aspecto indissociável da cultura escrita, e nem sempre trazido com clareza à consciência: o poder.

Ler e escrever é sempre deter alguma forma de poder. Mesmo que nem sempre ele se exerça sob a forma do poder de mandar nos outros ou de fazer melhor e ganhar mais dinheiro (por ter mais informação e conhecer mais), ou sob a forma de guardar como um tesouro a semente do futuro ou a palavra sagrada como nos mosteiros medievais ou em confrarias religiosas, seitas secretas, confrarias de todo tipo. De qualquer forma, é uma caixinha dentro da outra: o poder de compreender o texto suficientemente para perceber que nele há várias outras possibilidades de compreensão sempre significou poder – o tremendo poder de crescer e expandir os limites individuais do humano.

Constatar que dominar a leitura é se apropriar de alguma forma de poder está na base de duas atitudes antagônicas dos tempos modernos. Uma, autoritária, tenta impedir que a leitura se espalhe por todos, para que não se tenha de compartilhar o poder. Outra, democrática, defende a expansão da leitura para que todos tenham acesso a essa parcela de poder.

Do jeito que a alfabetização está conseguindo aumentar o número de leitores, paralelamente à expansão da produção editorial que está oferecendo material escrito em quantidades jamais imaginadas antes, e ainda com o advento de meios tecnológicos que eliminam as barreiras entre produção e consumo do material escrito, 2tudo levaria a crer que essa questão está sendo resolvida. Será? Na verdade, creio que ela se abre sobre outras questões. Que tipo de alfabetização é esse, a que tipo de leitura tem levado, com que tipo de utilidade social?

ANA MARIA MACHADO

dubitoergosum..br

5. (Uerj) Com a inacreditável capacidade humana de ter ideias, sonhar, imaginar, observar, descobrir, constatar, enfim, refletir sobre o mundo e com isso ir crescendo, a produção textual vem se ampliando ao longo da história. (ref. 1)

O trecho destacado acima estabelece uma relação de sentido com o restante da frase.

Essa relação de sentido pode ser definida como:

a) simultaneidade

b) consequência

c) oposição

d) causa

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O que sonhei ser e não fui

Aos sete anos, projetava que minha vida estaria resolvida aos 37. Administraria somente a felicidade. Dei o prazo de três décadas para não me preocupar. Talvez o paraíso naquela época fosse cabular temas, não ir à escola, muito menos ser submetido às provas. Não mirabolava encargos, superações e dificuldades. Até porque a vida adulta é distante, uma velhice para criança.

Recordo a atmosfera do que imaginava. A sensação de alívio do futuro. A felicidade seria estável e permanente. Era uma fórmula que deveria encontrar e adotá-la no restante dos dias. Algo como a receita de galinha recheada da avó.

Uma vez feito o prato, ele se repetiria eternamente. Não enxergava o estado provisório e fugaz do sentimento, um clarão que nos ajuda a suportar depois o escuro. Hoje entendo que a felicidade é rara, relampeia, olhamos onde estão nossas coisas e seguimos tateando com mais facilidade.

Não sou sinônimo de sucesso. Moro provisoriamente na residência materna, tenho duas separações, sequer possuo algum imóvel. Deixei duas vidas, duas casas, tudo que construí e acumulei ficou para trás. Caso não tivesse me divorciado, estaria confortável e poderia investir na Bolsa de Valores. Guardo a biblioteca em centenas de caixas na garagem, não há como consultar os livros. Os rendimentos são subjetivos, provados pelos extratos bancários.

Mas não pretendo ser diferente, não entrarei no apartamento de amigos ricos e fingirei igualdade. Não peço emprestados outros mundos para aliviar o meu. Estou contaminado das manias para mudar.

Apesar da fragilidade, não me coloco como um coitado, uma vítima de decisões erradas. A cada mês, sou obrigado a inventar um salário. É assustador e delicioso. Eu perco meu emprego todos os dias. Enviúvo compromissos e caso com expectativas. A rotina não é interrompida por finais de semana. Domingo e terça-feira são iguais. Não me formei em medicina para justificar plantões, ocupo a família com minhas desocupações.

Espumo águas paradas. Qualquer desastre não é trágico. Qualquer desmemória não é o fim. 1Sou rápido o suficiente para me digitar de novo. Desde o início. Não desmereço as frases porque já foram escritas.

Os filhos não se acostumaram com a atmosfera instável, acham que sofro à toa e que me alegro ainda mais à toa. A namorada tenta esclarecer as extravagâncias. Na casa dela, não consigo relaxar. Passo aspirador, lustro mesas, lavo a louça e dobro as roupas para brincar que é minha casa. Ela enlouquece, mas sua ternura atrapalha a raiva. Sinto saudade de varrer a rua. Saudade não é arrependimento.

Há gente que se gaba em dizer que cumpriu o sonho dos sete anos. Seguiram à risca a ambição de pequenos.

Eu fico com dó da coerência. Desse jogador de futebol que não admitiu a confusão vocacional. Dessa bailarina que não desobedeceu ao contexto. Desse cantor que não reparou na encruzilhada.

Nossa cultura valoriza demais o planejamento. Como se a linha reta fosse uma virtude.

Eu não fui o que minha infância traçou. Aquilo era fantasia. O que sei fazer é recomeçar e frustrar condicionamentos.

Para um escritor, seria uma enorme falta de criatividade ser o que imaginei quando criança.

(CARPINEJAR, Fabrício. Mulher perdigueira: crônicas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.)

6. (Ufrj) Na elaboração de um texto, é possível explorar os mecanismos da coordenação e da subordinação na estruturação discursiva com o intuito de conferir vigor à expressão.

Explique de que modo a estruturação do sétimo e do décimo parágrafos da crônica de Fabrício Carpinejar, transcritos abaixo, está em sintonia com o conteúdo.

(7º parágrafo) “Espumo águas paradas. Qualquer desastre não é trágico. Qualquer desmemória não é o fim. Sou rápido o suficiente para me digitar de novo. Desde o início. Não desmereço as frases porque já foram escritas.”

(10º parágrafo) “Eu fico com dó da coerência. Desse jogador de futebol que não admitiu a confusão vocacional. Dessa bailarina que não desobedeceu ao contexto. Desse cantor que não reparou na encruzilhada.”

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

O chefe da estação me olhou de cara feia, e me deu a passagem e o troco. Bateu com a prata na mesa. Se fosse falsa, estaria perdido. Guardei o cartão com ganância no bolso da calça. A estação se enchera. Um vendedor de bilhete me ofereceu um. Não desconfiava de mim. O chefe foi que me olhou com a cara fechada. Já se ouvia o apito do trem. Cheguei para o lugar onde paravam os carros de passageiros. E o barulho da máquina se aproximando. Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender. Ninguém saberia. E o trem parado nos meus pés. Tomei o carro num banco do fim, meio escondido. O Padre Fileto me viu. Tirava esmolas para a obra da igreja.

– Não foi para a parada?

– Não senhor, vou ver o meu avô que está doente.

A mesma mentira saída da boca automaticamente. Os meninos passavam vendendo tareco1. Quis comprar um pacote, mas estava com receio. Qualquer movimento de minha parte me parecia uma denúncia. O homem do bilhete voltou outra vez me oferecendo. Num banco da minha frente estava um sujeito me olhando. Sem dúvida, passageiro do trem. E me olhando com insistência. Levantou-se e veio falar comigo:

– Menino, que querem dizer estas letras?

– Instituto Nossa Senhora do Carmo.

– Pensei que fosse “Isto não se conhece”...

Ri-me sem querer. E as outras pessoas acharam graça. Pedi a Deus que o trem partisse. Por que não partira aquele trem? Meu boné me perderia. Podia ter vindo de chapéu. Nisto vi Seu Coelho. Entrei disfarçando para a latrina do trem. E não vi mais nada. Só saí de lá quando vi pelo buraco do aparelho a terra andando. Sentei-me no mesmo lugar. Vi a cadeia, o cemitério.(...)

E o Pilar chegando. O Recreio do Coronel Anísio, com a sua casa na beira da linha. E a gente já via a igreja. O trem apitava para o sinal. Passou o poste branco. Saltei do trem como se tivesse perdido o jeito de andar. Escondi-me do moleque do engenho. O trem saía deixando no ar um cheiro de carvão de pedra. Lá se ia Ricardo com os jornais para o meu avô. Faltava-me coragem para bater na porta do engenho como fugitivo.

E fui andando à toa pela linha de ferro. Que diria quando chegasse no engenho? Lembrei-me então que pela linha de ferro teria que atravessar a ponte. E desviei-me para a caatinga. Pegaria mais adiante o mesmo caminho. Estava pisando em terras do meu avô. O engenho de Seu Lula mostrava o seu bueiro pequeno, com um pedaço caído. Que diabo diria no Santa Rosa, quando chegasse? Era preciso inventar uma mentira.

Fiquei parado pensando um instante. Achei a mentira com a alegria de quem tivesse encontrado um roteiro certo. Sonhara que meu avô estava doente e não pudera aguentar o aperreio do sonho. E fugira. Achariam graça e tudo se acabaria em alegria. Mas cadê coragem para chegar? Já me distanciava pouco da minha gente. O bueiro do Santa Rosa estava ali perto, com a sua boca em diagonal. Subia fumaça da destilação. Com mais cinco minutos estaria lá. Era só atravessar o rio. Fiquei parado pensando. O rio dava água pelos joelhos. O gado do pastoreador passava para o outro lado. E cadê coragem para agir? E o tempo a se sumir. E a tarde caindo. A casa-grande inteira brigaria comigo. No outro dia José Ludovina tomaria o trem para me levar. E o bolo, e os gritos de Seu Maciel. Vou, não vou, como as cantigas dos sapos na lagoa.

Um trem de carga apitou na linha. Tirei os sapatos, arregaçando as calças para a travessia. A porteira do cercado batia forte no mourão2. E no silêncio da tarde, tudo aumentava de voz. (...)

JOSÉ LINS DO RÊGO

Doidinho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.

Vocabulário:

1 tareco - biscoito

2 mourão - estaca

7. (Uerj) Os trechos transcritos abaixo exemplificam o emprego do mesmo conectivo “e” para exprimir diferentes relações temporais entre dois fatos.

E o barulho da máquina se aproximando. (...) E o trem parado nos meus pés. (1º parágrafo)

E o tempo a se sumir. E a tarde caindo. (11º parágrafo)

Aponte o significado desse conectivo. Em seguida, explicite a relação temporal dos fatos em cada um dos trechos.

8. (Uerj) Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender. (1º parágrafo)

No trecho acima, há duas orações subordinadas.

Transcreva essas orações e classifique sintaticamente cada uma delas.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

Véspera de um dos muitos feriados em 2009 e a insana tarefa de mover-se de um bairro a outro em São Paulo para uma reunião de trabalho. Claro 11que a cidade já tinha travado no meio da tarde. De táxi, pagaria uma fortuna para ficar parada e chegar atrasada, 6pois até as vias alternativas que os taxistas conhecem estavam entupidas. De ônibus, nem o corredor funcionaria, tomado pela fila dos 1mastodônticos veículos. Uma dádiva: eu não estava de carro. Com as pernas livres dos pedais do automóvel e um sapato baixo, nada como viver a liberdade de andar a pé. Carro já foi sinônimo de liberdade, mas não contava com o congestionamento.

Liberdade de verdade é trafegar entre os carros, e mesmo sem apostar corrida, observar que o automóvel na rua anda à mesma velocidade média que você na calçada. É quase como 2flanar. Sei, como motorista, 12que o mais irritante do trânsito é quando o pedestre naturalmente te ultrapassa. Enquanto você, no carro, gasta dinheiro para encher o ar de poluentes, esquentar o planeta e chegar atrasado às reuniões. E ainda há quem pegue congestionamento para andar de esteira na academia de ginástica.

Do Itaim ao Jardim Paulista, meia horinha de caminhada. Deu para ver que a Avenida Nove de Julho está cheia de mudas crescidas de pau-brasil. E mais uma 3porção de cenas 13que só andando a pé se pode observar. Até chegar ao compromisso pontualmente.

Claro 14que há pedras no meio do caminho dos pedestres, e muitas. 7Já foram inclusive objeto de teses acadêmicas. Uma delas, Andar a pé: um modo de transporte para a cidade de São Paulo, de Maria Ermelina Brosch Malatesta, sustenta que, 8apesar de ser a saída mais utilizada pela população nas atuais condições de esgotamento dos sistemas de mobilidade, o modo de transporte a pé é tratado de forma inadequada pelos responsáveis por administrar e planejar o município.

As maiores reclamações de quem usa o mais simples e barato meio de locomoção são os

“obstáculos” que aparecem pelo caminho: bancas de camelôs, bancas de jornal, lixeira, postes. Além das calçadas estreitas, com buracos, degraus, desníveis. E o estacionamento de veículos nas calçadas, mais a entrada e a saída em guias rebaixadas, aponta o estudo.

Sem falar nas estatísticas: atropelamentos correspondem a 14% dos acidentes de trânsito. Se o acidente envolve vítimas fatais, o percentual sobe para nada menos 15que 50% - o que atesta a falta de investimento público no transporte a pé.

Na Região Metropolitana de São Paulo, as viagens a pé, com extensão mínima de 500 metros, correspondem a 34% do total de viagens. Percentual parecido com o de Londres, de 33%. Somadas aos 32% das viagens realizadas por transporte coletivo, que são iniciadas e concluídas por uma viagem a pé, perfazem o total de 66% das viagens! Um número bem 4desproporcional ao espaço destinado aos pedestres e ao investimento público destinado a eles, especialmente em uma cidade como São Paulo, onde o transporte individual motorizado tem a 5primazia.

A locomoção a pé acontece tanto nos locais de maior densidade – caso da área central, com registro de dois milhões de viagens a pé por dia –, como nas regiões mais distantes, onde são maiores as deficiências de transporte motorizado e o perfil de renda é menor. A maior parte das pessoas que andam a pé tem poder aquisitivo mais baixo. Elas buscam alternativas para enfrentar a condução cara, desconfortável ou lotada, o ponto de ônibus ou estação distantes, a demora para a condução passar e a viagem demorada.

9Já em bairros nobres, como Moema, Itaim e Jardins, por exemplo, é fácil ver carrões que saem das garagens para ir de uma esquina a outra e disputar improváveis vagas de estacionamento. A ideia é manter-se fechado em shoppings, boutiques, clubes, academias de ginástica, escolas, escritórios,10 porque o ambiente lá fora – o nosso meio ambiente urbano – dizem que é muito perigoso.

(Amália Safatle. ,

15/07/2009. Adaptado.)

9. (Ita) Assinale a opção em que o termo grifado não indica a circunstância mencionada entre parênteses.

a) [...] pois até as vias alternativas que os taxistas conhecem estavam entupidas. (Causa) (ref. 6)

b) Já foram inclusive objeto de teses acadêmicas. (Tempo) (ref. 7)

c) [...] apesar de ser a saída mais utilizada pela população [...]. (Concessão) (ref. 8)

d) Já em bairros nobres, como Moema, Itaim e Jardins, por exemplo, [...]. (Tempo) (ref. 9)

e) [...] porque o ambiente lá fora – o nosso meio ambiente urbano – dizem que é muito perigoso.

(Causa) (ref. 10)

10. (Ita) A palavra QUE remete a um antecedente em:

a) Claro que a cidade já tinha travado no meio da tarde. (ref. 11)

b) Sei, como motorista, que o mais irritante do trânsito é quando o pedestre naturalmente te

ultrapassa. (ref. 12)

c) E mais uma porção de cenas que só andando a pé se pode observar. (ref. 13)

d) Claro que há pedras no meio do caminho dos pedestres, e muitas. (ref. 14)

e) [...] o percentual sobe para nada menos que 50%. (ref. 15)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Por causa do assassinato do caminhoneiro Pascoal de Oliveira, o Nego, pelo – também caminhoneiro – japonês Kababe Massame, após uma discussão, em 31 de julho de 1946, a população de Osvaldo Cruz (SP), que já estava com os nervos à flor da pele em virtude de dois atentados da Shindô-Renmei* na cidade, saiu às ruas e invadiu casas, disposta a maltratar “impiedosamente”, na palavra do historiador local José Alvarenga, qualquer japonês que encontrasse pela frente. O linchamento dos japoneses só foi totalmente controlado com a intervenção de um destacamento do Exército, vindo de Tupã, chamado pelo médico Oswaldo Nunes, um herói daquele dia totalmente atípico na história de Osvaldo Cruz e das cidades brasileiras.

Com o final da Segunda Guerra Mundial, o eclipse do Estado Novo e o desmantelamento da Shindô-Renmei, inicia-se um ciclo de emudecimento, de ambos os lados, sobre as quatro décadas de intolerância vividas pelos japoneses. Do lado local, foi sedimentando- se no mundo das letras a ideia do país como um “paraíso racial”. Do lado dos imigrantes, as segundas e terceiras gerações de filhos de japoneses se concentraram, a partir da década de 1950, na construção da sua ascensão social. A história foi sendo esquecida, junto com o idioma e os hábitos culturais de seus pais e avós.

(Matinas Suzuki Jr. Folha de S.Paulo, 20.04.2008. Adaptado.)

* Shindô-Renmei foi uma organização nacionalista, que surgiu no Brasil após o término da Segunda Guerra Mundial, formada por japoneses que não acreditavam na derrota do Japão na guerra. Possuía alguns membros mais fanáticos que cometiam atentados, tendo matado e ferido diversos cidadãos nipo-brasileiros.

11. (Unifesp) No texto, as orações (...) que já estava com os nervos à flor da pele em virtude de dois atentados da Shindô-Renmei na cidade (...) e (...) que encontrasse pela frente (...) são exemplos, respectivamente, de oração subordinada adjetiva explicativa e subordinada adjetiva restritiva, porque:

a) a primeira limita o sentido do termo antecedente (a população de Osvaldo Cruz), enquanto a segunda explica o sentido do termo antecedente (qualquer japonês).

b) a pausa, antes e depois da primeira oração, revela seu caráter de restrição e precisão do sentido do termo antecedente, tal como se dá com a segunda oração.

c) na primeira, a oração é indispensável para precisar o sentido da anterior, enquanto, na segunda, a oração pode ser eliminada.

d) a primeira explica o sentido do termo antecedente (a população de Osvaldo Cruz), enquanto a segunda limita o sentido do termo antecedente (qualquer japonês).

e) o sentido do termo “qualquer japonês”, explicado na segunda oração, é determinante para a compreensão da primeira.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A identidade e a diferença: o poder de definir

A identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva. (...) A identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Isso significa que sua definição - discursiva e linguística - está sujeita a vetores de força, a relações de poder.

Elas não são simplesmente definidas; elas são impostas. Não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; são disputadas.

Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a definição da identidade e da diferença seja objeto de disputa entre grupos sociais simetricamente situados relativamente ao poder. Na disputa pela identidade está envolvida uma disputa mais ampla por outros recursos simbólicos e materiais da sociedade. A afirmação da identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes.

Podemos dizer que onde existe diferenciação - ou seja, identidade e diferença – aí está presente o poder. A diferenciação é o processo central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas. Há, entretanto, uma série de outros processos que traduzem essa diferenciação ou que com ela guardam uma estreita relação. São outras tantas marcas da presença do poder: incluir/excluir ("estes pertencem, aqueles não"); demarcar fronteiras ("nós" e "eles"); classificar ("bons e maus"; "puros e impuros"; "desenvolvidos e primitivos”; “racionais e irracionais”); normalizar (“nós somos normais; eles são anormais”).

A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Como vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que não somos". A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído.

Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre "nós" e "eles". Essa demarcação de fronteiras, essa separação e distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de poder. (...)Os pronomes "nós" e "eles" não são, aqui, simples categorias gramaticais, mas evidentes indicadores de posições-de-sujeito fortemente marcadas por relações de poder: dividir o mundo social entre "nós" e "eles" significa classificar. O processo de classificação é central na vida social.

Ele pode ser entendido como um ato de significação pelo qual dividimos e ordenamos o mundo social em grupos, em classes. A identidade e a diferença estão estreitamente relacionadas às formas pelas quais a sociedade produz e utiliza classificações.

As classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade. Isto é, as classes nas quais o mundo social é dividido não são simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar significa, neste caso, também hierarquizar. Deter o privilégio de classificar significa também deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos grupos assim classificados.

A mais importante forma de classificação é aquela que se estrutura em torno de oposições binárias, isto é, em torno de duas classes polarizadas. O filósofo francês Jacques Derrida analisou detalhadamente esse processo. Para ele, as oposições binárias não expressam uma simples divisão do mundo em duas classes simétricas: em uma oposição binária, um dos termos é sempre privilegiado, recebendo um valor positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa. "Nós" e "eles", por exemplo, constitui uma típica oposição binária: não é preciso dizer qual termo é, aqui, privilegiado. As relações de identidade e diferença ordenam-se, todas, em torno de oposições binárias: masculino/feminino, branco/negro, heterossexual/homossexual. Questionar a identidade e a diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam.

Fixar uma determinada identidade como a norma é uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças. A normalização é um dos processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença. Normalizar significa eleger - arbitrariamente - uma identidade específica como o parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a essa identidade todas as características positivas possíveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser avaliadas de forma negativa. A identidade normal é "natural", desejável, única. A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista como uma identidade, mas simplesmente como a identidade. Paradoxalmente, são as outras identidades que são marcadas como tais. Numa sociedade em que impera a supremacia branca, por exemplo, "ser branco" não é considerado uma identidade étnica ou racial. Num mundo governado pela hegemonia cultural estadunidense, "étnica" é a música ou a comida dos outros países. É a sexualidade homossexual que é "sexualizada", não a heterossexual. A força homogeneizadora da identidade normal é diretamente proporcional à sua invisibilidade.

Na medida em que é uma operação de diferenciação, de produção de diferença, o anormal é inteiramente constitutivo do normal. Assim como a definição da identidade depende da diferença, a definição do normal depende da definição do anormal. Aquilo que é deixado de fora é sempre parte da definição e da constituição do "dentro". A definição daquilo que é considerado aceitável, desejável, natural é inteiramente dependente da definição daquilo que é considerado abjeto, rejeitável, antinatural. A identidade hegemônica é permanentemente assombrada pelo seu Outro, sem cuja existência ela não faria sentido. Como sabemos desde o início, a diferença é parte ativa da formação da identidade.

SILVA, Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org. e trad.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.

Petrópolis: Vozes, 2000. p. 73-75.



12. (Ufjf) Releia o trecho:

“A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder”. (2° parágrafo)

a) Explique o trecho acima, tomando como base o termo destacado.

b) Reescreva o trecho, substituindo o termo destacado por um outro marcador discursivo que mantenha a relação sintático-semântica por ele estabelecida.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Pais estão reavaliando sonhos de maternidade e paternidade

Não é de hoje que o brasileiro dá sinais de que está diminuindo a resistência em adotar crianças que não sejam a sua imagem e semelhança.

No estado de São Paulo, desde 2007, os pretendentes já não fazem mais tanta questão de que o filho adotivo seja uma menina recém-nascida e branca. Os estudos também mostram que tem aumentado a aceitação para a adoção de irmãos, respeitando-se os vínculos afetivos existentes.

A boa notícia é que, a partir de dados expressivos do Conselho Nacional de Justiça, essa tendência parece ser nacional. No entanto, se há uma verdadeira mudança em curso na cultura de se querer adotar a criança idealizada e não a real, ainda é cedo para saber.

É possível, por exemplo, que o aumento da preferência por crianças negras esteja relacionado de alguma forma ao comportamento de famosos (Madonna, Angelina Jolie, Sandra Bullock), mas não é só isso. Na avaliação de profissionais que atuam no campo da adoção, as pessoas começaram a reavaliar seus sonhos de maternidade e paternidade ao perceber que aquele bebê loiro e de olhos azuis não existe nos abrigos. Talvez estejam compreendendo melhor as verdadeiras motivações da adoção e superando a ideia de que um filho adotivo deva ser a cópia do que a biologia negou.

Não existem pessoas sem desejos ou preferências, mas iniciativas de grupos de adoção e de integrantes dos Juizados da Infância, no sentido de desmistificar certas ideias equivocadas sobre a adoção, podem estar surtindo efeito.

Mas ainda há outros mitos a serem derrubados, como a indiscutível preferência dos pretendentes por meninas.

A adoção tardia também é outro desafio. Oitenta por cento dos pretendentes buscam crianças com até três anos de idade. Às mais velhas, resta uma eventual adoção por casais estrangeiros ou a permanência nos abrigos até se tornarem adultas, vivendo sem laços familiares e abandonadas à própria sorte.

(Cláudia Collucci, Folha de S. Paulo, 08.08.2010. Adaptado)

13. (Ifsp) Assinale a alternativa em que se desenvolveu a oração reduzida em destaque de forma coerente com o sentido do texto.

Na avaliação de profissionais que atuam no campo da adoção, as pessoas começaram a reavaliar seus sonhos de maternidade e paternidade ao perceber que aquele bebê loiro e de olhos azuis não existe nos abrigos.

a) ... depois que percebessem...

b) ... quando perceberam...

c) ... ainda que tenham percebido...

d) ... embora houvessem percebido...

e) ... à medida que perceberão...

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

5Com o advento da internet, criam-se novos mecanismos para quem busca ser uma celebridade ou tornar-se, pelo menos, conhecido. Um exemplo disso é a utilização das redes sociais – o Facebook, Twitter e o Orkut, entre outros – pelos aspirantes a famosos, que desejam alcançar os seus quinze minutos de fama – previstos por Andy Warhol em 1960 –, por meio da utilização dessas ferramentas. 12Essas redes, que surgiram prioritariamente como um agente para a integração social, criam um ambiente propício para o exibicionismo e o voyerismo (prática que consiste no prazer a partir da observação de outras pessoas), onde ser contemplado é o que importa.

Sobre essa prática, Paula Sibília, professora do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comenta que a rede tem proporcionado uma espécie de democratização na busca pelo estrelato. 9“A internet oferece um outdoor com espaço para todos: nessas vitrines mais populares, qualquer um pode ser visto como tem direito. As opções são inumeráveis e não cessam de se multiplicar: blogs, fotologs, Orkut, Facebook, MySpace, Twitter, Youtube e um longo etcétera”.

O temor da chamada “invasão de privacidade”, segundo a professora, dá espaço para o quase oposto: o aparecer, ser visto, contemplado e admirado. Para ela, o exibicionismo na rede ocorre a partir da necessidade que as pessoas têm de serem vistas, e como uma forma de confirmação de que existem e estão vivas. 8As pessoas mostram-se como um personagem, saciando a voracidade e a curiosidade de outras. “Tudo aquilo que antes concernia à pudica intimidade pessoal tem se ‘evadido’ do antigo espaço privado, transbordando seus limites, para invadir aquela esfera que antes se considerava pública. 6O que se busca nessa exposição voluntária, que anseia alcançar as telas globais, é se mostrar, justamente: constituir-se como um personagem visível. 2Por sua vez, essa nova legião de exibicionistas satisfaz outra vontade geral do público contemporâneo: o desejo de espionar e consumir vidas alheias”.

10Cláudia da Silva Pereira, professora do Centro de Ciências Sociais, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, também acredita que 7na internet se cria um espaço para que as pessoas vivam outros personagens e consigam, deste modo, uma espécie de autorrealização pessoal. 17“Podemos ser ali o que desejarmos, construindo perfis de acordo com o que projetamos ser o ideal. Ou não. 3Afinal, a internet abre ainda mais espaço para condutas sociais desviantes que raramente poderiam se concretizar na vida off-line. Aderir a comunidades politicamente incorretas, criar perfis falsos ou transitar por comunidades que consideramos ‘exóticas’ pode ser uma ótima maneira de buscar a experimentação e, consequentemente, a realização, da mesma forma”, conclui.

Sibília aponta ainda para a ruptura de um padrão de vida em que os muros já não protegem mais a privacidade individual. “Das webcams até os paparazzi, dos blogs e fotologs até YouTube e MySpace, das câmeras de vigilância até os reality shows e talk shows, a velha intimidade transformou-se em outra coisa. E agora está à vista de todos.16Ou, pelo menos é isso o que conseguem aqueles afortunados: os famosos”. 1Já Pereira lembra que a “espetacularização” do cotidiano atinge a todos, invariavelmente, ao utilizarem essas ferramentas sociais, levando a uma maior permissividade com relação ao que é restrito ou irrestrito, ao que é público e ao que é privado. “A própria ideia de fronteira é imprecisa em se tratando de internet. É evidente que existe a opção de se compartilhar ou não da intimidade na internet, 15existe até mesmo a opção de não participar de redes sociais on-line, mas esta já parece ser uma escolha que limita o trânsito em diversos espaços sociais. 11A superexposição nas redes sociais on-line tem seus reflexos na vida off-line, assim como a simples ausência”.

Outra rede social em que a exposição está presente e nem sempre de maneira benéfica é o Youtube. 13Inúmeros são os casos de pessoas que se tornam famosas por meio da utilização dessa ferramenta, sem se importarem em ser reconhecidos por postarem vídeos de gosto duvidoso ou grotesco, confirmando a obsessão de muitos na busca pela fama a qualquer custo. “Esses sujeitos têm fortalecido o hábito de serem reconhecidos pelo que fazem de transgressão e não por respeitarem a ordem social. Em toda prática de desvio de conduta, sempre podemos acreditar que o meio ou a ferramenta apenas facilitou o ato, que na verdade já havia no sujeito que o praticou uma predisposição para fazê-lo. Infelizmente, 14os valores de determinados grupos sociais são refletidos nessas práticas e as consequências podem ser a banalização desses atos, aumentando as probabilidades de legitimá-las”, lembra Khater. Para ela, as pessoas não devem permitir que o virtual se sobreponha ao real. “Nós, seres humanos, precisamos da realidade, pois somos seres eminentemente sociais. Quando o virtual se sobrepõe ao real, nos sentimos vazios, pois sabemos da nossa necessidade de real aprovação em nosso meio social”.

Ainda, na contramão dos que buscam o reconhecimento, muitos famosos e celebridades encontram nas redes sociais uma forma de se aproximar das pessoas comuns, do seu público, de seus fãs. Artistas, jornalistas, músicos e público interagem de uma maneira mais natural. “É praticamente imperativo que uma celebridade mantenha um perfil no Twitter ou no Facebook, caso contrário ela simplesmente não existe no ambiente on-line. Desta forma, o público se aproxima daqueles que o sociólogo e filósofo Edgar Morin um dia chamou de ‘olimpianos’, aqueles que se veem obrigados a descer de seus altares dos meios de comunicação de massa para interagir em 140 caracteres com as pessoas ‘comuns’. O fã torna-se íntimo do ídolo, o que retira dessa relação grande parte de sua magia”, defende Pereira.

Para Francisco Rudiger, docente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as celebridades, ao migrarem para as redes sociais, têm seus carismas submetidos a testes cotidianos e banais. “As redes sociais abriram aos fãs a possibilidade de articular, mais ampla e cotidianamente, o culto de seus ídolos mas, por outro lado, atraíram estes últimos para um terreno onde sua capacidade de gerenciar a própria imagem e influência é muito mais fraca ou instável. As celebridades não podem ficar fora das redes, se quiserem continuar sendo celebridades, mas a redução da distância que assim se instala, converte-se em fonte de perigo para sua condição”, acredita.

Ferrari aponta para o fim do antigo esquema celebridade-mídia-público. 4Pois, agora, os fãs podem interagir diretamente com seus ídolos (e vice-versa), sem precisar de intermediário. “As mídias sociais tiraram os intermediários, ou seja, a grande mídia. Hoje uma celebridade interage diretamente com seus fãs pelo Twitter, Facebook, MySpace etc. O feedback é instantâneo”, conclui.

Disponível em: .

Acesso em: 12 de set. 2010. (Texto modificado)

14. (Ufu) A internet oferece um outdoor com espaço para todos: nessas vitrines mais populares, qualquer um pode ser visto como tem direito. (ref. 9)

Assinale a ÚNICA alternativa, que substitui os dois-pontos sem alteração das relações de sentido.

a) apesar de

b) entretanto

c) embora

d) pois

15. (Ufu) Cláudia da Silva Pereira [...] também acredita que na internet se cria um espaço para que as pessoas vivam outros personagens e consigam, deste modo, uma espécie de autorrealização pessoal. (ref. 10).

A expressão em destaque pode ser substituída, sem mudança de sentido, por:

a) por sua vez

b) assim

c) consequentemente

d) na verdade

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Quando a rede vira um vício

Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: "Estou muito dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. Isso é muito sério". Logo obteve resposta de um colega de rede. "Estou na mesma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao computador. Preciso de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do tormento provocado pela dependência em Internet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo Centro de Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa, nos vários países estudados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com concentração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga americana: "O viciado em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num universo paralelo — e completamente virtual".

Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao longo desta reportagem. Em todos os casos, a internet era apenas "útil" ou "divertida" e foi ganhando um espaço central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido. Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a gravidade do que ocorria. "Como a internet faz parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao controle", diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De saída, o tempo na internet aumenta — até culminar, pasme-se, numa rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo americano. As situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda um ganho de peso relevante, resultado da frequente troca de refeições por sanduíches — que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se extinguindo. Alerta outra psicóloga: "Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas não vão bem".

Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso da internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas pesa também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual uma recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevistados (viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de "aliviar os sentimentos negativos", tão típicos de uma etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem-se ainda mais à vontade para expor suas ideias. Diz um outro psiquiatra: "Num momento em que a própria personalidade está por se definir, a internet proporciona um ambiente favorável para que eles se expressem livremente". No perfil daquela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em geral, uma combinação de baixa autoestima com intolerância à frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia social ou algum transtorno de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o vicio, a maior adoração é pelas redes de relacionamento e pelos jogos on-line, sobretudo por aqueles em que não existe noção de começo, meio ou fim.

Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a dependência em internet é reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram grupos especializados por toda parte. "Muita gente que procura ajuda ainda resiste à ideia de que essa é uma doença", conta um psicólogo. O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se mantivessem totalmente distantes dela, como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adolescentes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, melhor. Na avaliação de uma das psicólogas, "Os pais não devem temer o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de forma útil e saudável". Desse modo, reduz-se drasticamente a possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje pelos jovens viciados.

Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado.

16. (G1 - col.naval) Assinale a opção em que o conectivo interliga adequadamente as orações "Estou muito dependente da web. Não consigo mais viver normalmente". (1° parágrafo), mantendo o sentido expresso.

a) Logo.

b) Porém.

c) Consoante.

d) Porquanto.

e) Entretanto.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

Como prevenir a violência dos adolescentes

“(...) Quando deparo com as notícias sobre crimes hediondos envolvendo adolescentes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e Liana Friedenbach, fico profundamente triste e constrangida. Esse caso é consequência da baixa valorização da prevenção primária da violência por meio das estratégias cientificamente comprovadas, facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que a recuperação de crianças e adolescentes que comentem atos infracionais graves contra a vida.

Talvez seja porque a maioria da população não se deu conta e os que estão no poder nos três níveis não estejam conscientes de seu papel histórico e de sua responsabilidade legal de cuidar do que tem de mais importante à nação: as crianças e os adolescentes, que são o futuro do país e do mundo.

A construção da paz e a prevenção da violência dependem de como promovemos o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo das nossas crianças e adolescentes, dentro do seu contexto familiar e comunitário. Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas ou desestruturadas (...)”

“(...) Em relação às crianças e adolescentes que cometeram infrações leves ou moderadas – que deveriam ser mais bem expressas – seu tratamento para a cidadania deveria ser feito com instrumentos bem elaborados e colocados em prática, na família ou próxima dela, com acompanhamento multiprofissional, desobstruindo as penitenciárias, verdadeiras universidades do crime. (...)”

“(...) A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um tecido social saudável e promissor, que começa antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil, principalmente propiciando o desenvolvimento e o respeito à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o jogar; uma educação para a paz e a nãoviolência.

A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, forma redes de ação para multiplicar o saber e a solidariedade junto às famílias pobres do país, por meio de mais de 230 mil voluntários, e acompanhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão de crianças menores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades de 3.696 municípios do país.

O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infantil nos últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado da organização e universalização dos serviços de saúde pública, da melhoria da atenção primária, com todas as limitações que o SUS possa ainda possuir, da descentralização e municipalização dos recursos e dos serviços de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil, a desnutrição e a violência intrafamiliar contou com a contribuição dessa enorme rede de

solidariedade da Pastoral da Criança. (...)”

“(...) A segunda área da maior importância nessa prevenção primária da violência envolvendo crianças e adolescentes é a educação, a começar pelas creches, escolas infantis e de educação fundamental e de nível médio, que devem valorizar o desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música, a arte, o esporte e a prática da solidariedade humana.

As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter dois turnos, para darem conta da educação integral das crianças e dos adolescentes; deveriam dispor de equipes multiprofissionais atualizadas e capacitadas a avaliar periodicamente os alunos. Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação, com atividades em larga escala e simples, baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o território nacional. (...)”

“(...) Com relação à idade mínima para a maioridade penal, deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e conforme orientações da ONU. Mas o tempo máximo de três anos de reclusão em regime fechado, quando a criança ou o adolescente comete crime hediondo, mesmo em locais apropriados e com tratamento multiprofissional, que urgentemente precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã. (...)”

Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.)

17. (G1 - ifal) Observe o nexo que a locução conjuntiva destacada estabelece no fragmento.

“Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas...” (3º parágrafo).

Todas as alternativas abaixo expressam uma correta correspondência entre esse nexo estabelecido pela locução conjuntiva do fragmento de texto acima, exceto:

a) Embora não entendendo a proposta, sorriu.

b) Saiu da sala, ainda que a explanação da jovem não tivesse chegado ao fim.

c) Receberam-na bem, posto que os telespectadores manifestassem insatisfação.

d) Posto que não assistiram à participação da família, viajaram cedo.

e) Evoluímos muito em nossas escolhas, ainda assim a comunidade surpreendeu-se com o resultado.

18. (G1 - ifal) No período: “Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação...” (9º parágrafo), temos, respectivamente.

a) uma relação de coordenação, com orações coordenadas assindética e sindética, respectivamente.

b) uma relação de subordinação, com orações coordenadas.

c) orações subordinadas, sendo uma principal e outra subordinada substantiva.

d) orações subordinadas substantivas completivas nominais.

e) orações subordinadas, sendo uma principal, outra subordinada adverbial.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Viver não dói

Por que sofremos tanto por amor?

(...)

Porque automaticamente esquecemos

o que foi desfrutado e passamos a sofrer

pelas nossas projeções irrealizadas,

por todas as cidades que gostaríamos

de ter conhecido ao lado do nosso amor

e não conhecemos,

por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e

não tivemos,

por todos os shows e livros e silêncios

que gostaríamos de ter compartilhado,

e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

(...)

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente

conosco, mas por todos os momentos em

que poderíamos estar confidenciando a ela

nossas mais profundas angústias

se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela

euforia sufocada.

(...)

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o

desperdício da vida está no amor que não damos, nas

forças que não usamos, na prudência egoísta que nada

arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos

também a felicidade...

A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

Fonte: .br

19. (G1 - ifal) Como recurso de coesão textual, Carlos Drummond utiliza, reiteradamente, os conectivos: por e porque para responder à pergunta “Sofremos por quê?” E, com esse uso, o autor explicita coerência das ideias, gerando relações semânticas de:

a) causa ou medida, conformidade.

b) causa ou motivo, instrumento.

c) causa ou motivo, explicação.

d) conformidade, modo ou substituição.

e) medida, modo ou explicação.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Lucas Melgaço

Historicamente as cidades nunca foram locais igualmente acolhedores a todos. Elas nascem justamente do encontro e identificação entre um grupo de “iguais” interessados em se enriquecer e se defender da presença indesejada do “outro”. Os outros na cidade grega clássica eram, por exemplo, os estrangeiros e os prisioneiros de guerra. Na cidade medieval europeia, doentes como os leprosos eram os detentores dessa alcunha de “indesejáveis”.

Atualmente, os imigrantes latinos nos Estados Unidos, os árabes e os negros africanos na Europa Ocidental e os nordestinos, homossexuais, negros, prostitutas, usuários de drogas, portadores de necessidades especiais, mendigos e desempregados no Brasil, são aqueles mais comumente considerados como os outros. 1A principal mudança em relação ao passado é que, mais do que questões de raça, credo, saúde ou nacionalidade, no atual período de globalização neoliberal, tem sido a pobreza o principal atributo de diferenciação.

Muitas vezes a negação do outro não se dá apenas no âmbito das falas e das ações, mas se materializa em formas urbanas voltadas a separar e afastar os indesejáveis. Um exemplo muito presente na arquitetura das casas e apartamentos brasileiros são as dependências de empregada e as entradas e elevadores de serviço. Tais formas têm a função de demarcar os espaços de circulação e presença dos empregados e de lhes assinalar sua condição de outro.

Mais do que o interior das casas, porém, grandes complexos urbanísticos têm sido construídos como resposta a esse desejo de segregação. Os condomínios fechados, por exemplo, sejam horizontais ou verticais, têm no argumento da exclusividade o seu principal apelo publicitário. O ideal de felicidade vendido pelos agentes imobiliários passa pelo conceito de que é bom aquilo que pode ser usufruído de modo individual ou no máximo por um grupo de “semelhantes”. Muitas campanhas reforçam, por exemplo, o privilégio de se ter áreas verdes e praças de lazer exclusivas e sem a incômoda presença de “estranhos”. Em vez de ter de lidar com o outro em uma praça pública de esportes, prefere-se o privilégio de se ter um campo de futebol particular, mesmo que ele passe a maior parte do tempo subutilizado por falta de jogadores.

Talvez seja, porém, um pouco demasiado dizer que os condomínios sejam totalmente intolerantes aos outros. Algumas dessas pessoas podem se tornar “desejáveis” quando úteis para o cumprimento de serviços pouco nobres, como a limpeza ou a vigilância. Sem faxineiros, empregadas domésticas e porteiros, funções geralmente delegadas a nordestinos, negros e pobres, seria inviável a existência dos condomínios fechados nos moldes em que foram pensados. Contudo, basta um furto dentro de um condomínio para que, de desejáveis, essas pessoas retornem à condição de indesejáveis. Na ocorrência de um crime, os primeiros suspeitos são sempre os outros, e nunca, por exemplo, um jovem morador do condomínio que faz pequenos furtos internos para manter seu vício em drogas.

A mesma lógica de criminalização do outro está presente também nas recentes estratégias de monitoramento das cidades através de câmeras de vigilância. Os suspeitos ali apontados são na maior parte das vezes aqueles que se enquadram no estereótipo do “marginal”, ou seja, cujos traços físicos, modo de vestir e de se comportar não estão dentro dos modelos considerados “normais”. As câmeras também são usadas como instrumentos de repulsa dos indesejáveis, como ocorre em São Paulo, onde elas foram instaladas no entorno do Jóquei Clube com o objetivo de inibir a presença de prostitutas.

O uso de instrumentos de vigilância também tem sido cada vez mais frequente em escolas brasileiras, especialmente nas privadas, muitas vezes com o curioso argumento de que são estratégias contra o chamado bullying: um tipo de violência em que um grupo de estudantes promove humilhações e violência psicológica a colegas que não se enquadram nos padrões de estética e comportamento considerados normais. O bullying é uma violência de não aceitação da diferença, ou seja, de intolerância ao outro. As câmeras, porém, por serem instrumentos que primam pela homogeneização de comportamentos, surtirão efeito contrário ao esperado, pois reforçarão a intransigência a tudo que for excêntrico.

A intolerância ao outro se faz ainda mais evidente em formas urbanas que são explicitamente construídas para impedir a presença dos indesejáveis. Em diversos lugares da cidade de Campinas podem ser vistos objetos pontiagudos cuja função é a de evitar que pessoas “estranhas” se sentem e ali permaneçam. Tais arquiteturas são muito comuns em frente a estabelecimentos comerciais, mas podem também ser encontradas em lugares mais inusitados, como nas escadarias da Catedral de Campinas.

Até mesmo a prefeitura da cidade, que deveria ser a principal representante do interesse público, tem o seu exemplar de arquitetura anti-indesejáveis. Na reforma de um viaduto em um bairro nobre, pedras pontiagudas foram instaladas com o intuito de afugentar moradores de rua e pedintes. Essas são, obviamente, políticas que combatem o pobre, como ser indesejável na paisagem, e não exatamente a pobreza.

Esse tipo de arquitetura voltada à expulsão dos indesejáveis não é, contudo, exclusividade de Campinas, mesmo que nessa cidade a sua concentração seja incrivelmente alta.

Há, assim, uma deliberada adaptação das cidades para que elas se tornem receptivas para alguns e repulsivas para os indesejáveis. Mais do que uma questão estética, porém, essas arquiteturas carregam uma profunda carga simbólica. Quando uma prefeitura chega ao ponto de construir formas urbanas para expulsar os pobres, ela revela que suas preocupações não são coletivas, mas direcionadas a servir aos interesses de uma pequena classe hegemônica.

Por fim, é importante que não nos esqueçamos da forma espacial que mais claramente revela o objetivo de negar e segregar os indesejáveis: a prisão. Independentemente do local onde tenham sido construídas, as prisões são sempre majoritariamente povoadas pelos outros, o que no caso brasileiro são, sobretudo, os pobres. Além disso, há muito, a preocupação da Justiça brasileira não é a de recuperar seus presidiários e trazer esses outros para perto dos iguais, mas sim mantê-los o maior tempo possível isolados e na eterna condição de outro. Assim como os espetos anti-indesejáveis, as prisões não resolvem os problemas estruturais e profundos da sociedade, mas se contentam em promover uma “limpeza da paisagem”, tirando da vista dos iguais a incômoda presença dos “diferentes”.

Pode-se, então, concluir que a cidade de hoje, mais do que aquela do passado, nega ao outro a condição de cidadão, negação esta que tem na pobreza o seu principal argumento. E, como pôde ser visto, essa intransigência não se restringe aos atos, pois se concretiza em formas urbanas repulsivas e segregadoras. Com a existência dessas formas, as cidades passam a criar as condições para que a intolerância seja não só mantida como também reproduzida. Confirmando-se essa tendência, chegará certamente o momento em que as cidades de poucos “iguais” se tornarão insuportáveis para uma grande maioria de “outros”.

Disponível em: . Acesso em: 15 de agosto 2010.

20. (Ufu) Retire do texto orações ou períodos que exemplifiquem as seguintes relações entre as proposições:

a) Comparação

b) Finalidade

c) Condição

d) Oposição

e) Exemplificação

Obs.: para cada relação, apresente pelo menos um exemplo.

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