Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA ...



CEPEA/PERSPECTIVAS DE 2021

Confira neste arquivo:

AÇÚCAR: Preços elevados devem manter mix mais açucareiro em 2021 01

ALGODÃO: Produção será menor, mas setor inicia ano com otimismo 03

ARROZ: Apesar de maior rentabilidade em 2020, incerteza sobre a demanda em 2021 limita investimentos 05

BOI: Demanda externa e oferta ainda enxuta devem seguir sustentando preço em 2021 06

CAFÉ: Menor produção em 21/22 pode manter preço firme em 2021 07

CITROS: Provável baixa produção em 21/22 tende a manter preços firmes 08

ETANOL: Cenário é positivo para preço em 2021; canavial deve registrar menor produção 10

FRANGO: Competitividade da carne de frango deve continuar em alta em 2021 11

LEITE: Baixa oferta deve manter acirrada disputa por matéria-prima 12

MANDIOCA: Menor oferta e retomada da economia poderão alterar a dinâmica do mercado 13

MILHO: Demanda aquecida deve manter os preços firmes em 2021 15

OVINOS: Possível melhora na economia pode sustentar preços 16

OVOS: Consumo deve continuar elevado em 2021 17

SOJA: Menor estoque pode sustentar preços em 2021 17

SUÍNOS: Setor pode ter mais um ano favorável, apesar de alto custo de produção 19

TRIGO: Câmbio e menor oferta argentina serão fatores-chave em 2021 20

HORTIFRÚTI: Setor deve retomar investimentos em 2021 22

AÇÚCAR

Preços elevados devem manter mix mais açucareiro em 2021

Cepea, Piracicaba – A produção de açúcar deve ser menor na safra 2021/22, considerando-se que o Centro-Sul brasileiro atingiu recorde no volume em 2020 (totalizando 38,09 milhões de toneladas, alta de 44,16% em relação ao ano anterior) e que condições climáticas atípicas, como a estiagem entre setembro e outubro de 2020, podem prejudicar o volume de cana e a concentração de ATR (Açúcar Total Recuperável).

Adicionalmente, incêndios em alguns canaviais no período de seca prejudicaram a produção da cana-de-açúcar. Caso as chuvas da primavera e verão ocorram, mesmo que atrasadas, acredita-se que as perdas sejam minimizadas, mas ainda há incertezas quanto à intensidade do La Niña, fenômeno que pode diminuir a ocorrência de precipitações no Centro-Sul do Brasil nos próximos meses.

Por enquanto, espera-se que a quantidade produzida de cana-de-açúcar disponível para moagem em 2021/22 seja de aproximadamente 585 milhões de toneladas, segundo empresas ligadas ao setor sucroenergético. Na atual temporada, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) indica que o Centro-Sul havia produzido 594,88 milhões de toneladas até 1º de dezembro de 2020.

No que tange ao ATR, a estiagem foi favorável à cana-de-açúcar colhida em 2020, mas será prejudicial à cana a ser colhida em 2021. Na parcial da safra 2020/21 (de 1º de abril de 2020 até 1º de dezembro de 2020), foram obtidos 145,13 kg de ATR/tonelada de cana, e para 2021/22, as expectativas apontam para 138 kg de ATR/tonelada.

Os preços favoráveis no mercado interno e a recuperação dos valores internacionais devem estimular a manutenção do mix mais açucareiro. Além disso, boa parte das exportações já está fixada para a próxima safra, o que compromete a flexibilidade para inverter o mix.

Quanto ao dólar, um fortalecimento acelerado da economia pode enfraquecer a moeda norte-americana frente ao Real, reduzindo as vantagens das exportações. Por outro lado, incertezas causadas pela pandemia e o novo ambiente de juros baixos, que não atrai mais o capital externo especulativo, indicam que o dólar pode se manter firme.

Além desses aspectos, não existe sinalização segura de que o consumo de combustíveis aumente com força em 2021. O petróleo tem oscilado bastante, sem tendência definida. Se houver retomada de consumo interno, no entanto, a diferença entre os preços da gasolina e do etanol nos postos deve estimular sobremaneira seu consumo. Em relação ao consumo de açúcar, as mudanças ocorridas no Brasil e no mundo em 2020, especialmente devido à pandemia de coronavírus, podem se estender para 2021.

No geral, a velocidade de transição para uma nova estabilidade econômica definirá os preços relativos dos produtos finais e, consequentemente, a tendência do mix de produção para as próximas safras. Portanto, o que determinará se o mix terá um incremento relativo em termos de açúcar ou de etanol não é o consumo interno do adoçante, mas, sim, as exportações desta commodity. O contrário vale para o etanol, uma vez que o mercado interno é o mais relevante.

Cabe, portanto, a questão: o mundo, e principalmente a China, continuarão a importar o açúcar brasileiro com a mesma intensidade neste ano? Caso positivo, a tendência seria de maior sustentação dos preços internacionais, favorecendo as receitas com exportação de açúcar. Outro aspecto parece ser a questão dos estoques mundiais, que devem ter se reduzido mediante a dificuldade de produção agrícola em diversos países.

De fato, temendo o desabastecimento de açúcar, a China não renovou em 2020 a política de salvaguarda, que limita as importações de açúcar no país. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país asiático tem o menor volume de açúcar estocado das últimas quatro temporadas. Com isso, o açúcar brasileiro poderá encontrar no ano de 2021 um voraz comprador, o que contribui para fortalecer a projeção do mix favorecendo o açúcar.

MERCADO INTERNACIONAL – A Organização Internacional do Açúcar (OIA) prevê déficit na produção mundial de açúcar, de 3,5 milhões de toneladas, com a atual temporada mundial (2020/21) somando 171,1 milhões de toneladas, e o consumo, 174,6 milhões de toneladas.

Já o USDA prevê produção global de 181,86 milhões de toneladas e consumo de 173,76 milhões de toneladas. O USDA ressalta que as boas produções na Índia e principalmente no Brasil são as responsáveis pelo aumento no volume mundial. Na safra anterior, de 2019/20, a produção mundial foi de 165,49 milhões de toneladas de açúcar.

A Índia elevou a área cultivada com cana-de-açúcar em 9%, e, com isso, o maior consumidor mundial de açúcar deverá produzir 31 milhões de toneladas em 2020/21, segundo a Associação das Usinas de Açúcar da Índia (Isma, na sigla em inglês), aumento de 13% frente à temporada anterior. Já a produção na Tailândia foi castigada pela seca e, conforme o USDA, deve totalizar 7,9 milhões de toneladas, queda de 5% em relação ao ciclo anterior.

Pela terceira temporada consecutiva, a União Europeia deverá registrar recuo na produção. De acordo com o USDA, o bloco europeu deverá produzir 16,1 milhões de toneladas em 2020/21, volume 5,32% inferior ao de 2019/20. A queda está atrelada ao clima seco que atinge o bloco europeu por três anos e à incidência do vírus amarelo na beterraba açucareira, principalmente na França.

NORDESTE – Na safra 2020/21 do Nordeste (iniciada oficialmente em setembro/20), o clima favoreceu as lavouras de cana-de-açúcar, que somaram produção de 50,9 milhões de toneladas, 3,6% acima da temporada anterior, segundo dados de dezembro da Conab.

Ainda de acordo com a Conab, em Alagoas, a produção de cana-de-açúcar deve somar 18,134 milhões de toneladas, acréscimo de 4% em relação a 2019/20. O setor apresenta maior direcionamento da cana para fabricação de açúcar, podendo gerar mais de 1,5 milhão de toneladas do adoçante.

Em Pernambuco, a perspectiva é de obtenção na ordem de 12,314 milhões de toneladas de cana-de-açúcar (1,6% inferior a 2019/20), devido à menor área e a oscilações no clima ao longo do desenvolvimento das lavouras. Neste estado, também há expectativa de que unidades mantenham maior direcionamento à geração de açúcar, com projeção de fabricação de 912,8 mil toneladas.

Na Paraíba, a área em produção nesta safra deve ser semelhante à verificada em 2019/20, em 119,8 mil hectares, com perspectiva de conclusão das operações de moagem até abril de 2021. A produção está prevista em 6.726,5 mil toneladas de cana-de-açúcar e em 131,1 mil toneladas de adoçante.

Equipe: Dra. Heloisa Lee Burnquist, Bel. Maria Cristina Afonso, Bel. Silvia C. Michelin, Bel. Augusto Barbosa Maielli e Bel. Vanessa Vizioli.

ALGODÃO

Produção será menor, mas setor inicia ano com otimismo

Cepea, Piracicaba – A queda no consumo no primeiro semestre de 2020 contribuiu para a elevação dos excedentes domésticos e internacionais de algodão em pluma. Entretanto, o ritmo acelerado de consumo no segundo semestre criou um cenário de otimismo aos setores agrícola e industrial. Os preços internacionais são considerados atrativos, e os bons volumes de contratos já realizados apontam que as exportações da pluma podem manter em 2021 o ritmo recorde observado no final de 2020. A grande questão fica por conta da paridade de exportação, influenciada de forma mais intensa pela taxa de câmbio.

No geral, agentes devem continuar monitorando atentamente a pandemia, o avanço das vacinas para a imunização da covid-19 e os desdobramentos da retomada da economia no Brasil e no mundo. Do lado da indústria, a preocupação está atrelada às incertezas quanto à sustentação/crescimento da demanda ao longo de toda a cadeia, dado o alto nível de desemprego, o receio de novas restrições para conter uma “outra onda” de covid-19 no País e o, até então, fim do auxílio emergencial.

Dessa forma, uma diminuição na renda pode levar consumidores a darem preferência aos bens essenciais, limitando a demanda nacional por produtos têxteis. Agentes também devem se atentar aos preços do petróleo e à competividade do poliéster frente à fibra natural.

SAFRA 2020/21 – Depois de subir por quatro safras consecutivas, a produção nacional deve somar 2,67 milhões toneladas na temporada 2020/21, segundo a Conab, queda de 11% frente à anterior, mas, ainda assim, a terceira maior da história. A expectativa é de que a área semeada se reduza em 8,1%, para 1,53 milhão de hectares, e a produtividade caia 3,2% (1.745 kg/ha). Após a queda de 17% no consumo doméstico na temporada 2019/20, influenciado pelo avanço da pandemia no País, a Companhia projeta aumento de 19% em 2020/21, indo para 690 mil toneladas.

EXPORTAÇÃO – Instituições e associações brasileiras têm buscado promover o algodão no mercado internacional, na tentativa de diversificar importadores e aumentar o market share –, fortalecendo relações especialmente com países asiáticos. O Brasil já se mostrou capaz de embarcar bons volumes ao longo de todo o ano, ofertando pluma de qualidade e com rastreabilidade, sustentabilidade e preços competitivos.

Estimativas do USDA apontam que o Brasil pode continuar como o segundo maior exportador mundial de pluma, com 2,18 milhões toneladas na safra 2020/21, atrás apenas dos Estados Unidos, que deve embarcar 3,27 milhões de toneladas.

COMERCIALIZAÇÃO – De acordo com dados da BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias) tabulados pelo Cepea, ao menos 38% da safra brasileira 2019/20 e 20,6% da 2020/21 teriam sido comercializados até o dia 4 de janeiro. Considerando-se que nas últimas cinco temporadas foram registrados, em média, 74% da produção nacional, isso pode indicar que 51,3% da produção atual e 27,8% da próxima já teriam sido negociados. Sendo que a maior parte de ambas as safras é direcionada ao mercado externo.

Para o maior produtor nacional, especificamente, informações divulgadas pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) apontam que 86% da produção 2019/20 em Mato Grosso e 51,83% da próxima já teriam sido comercializados.

INTERNACIONAL – Dados de dezembro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que a produção mundial da safra 2020/21 deve somar 24,8 milhões de toneladas (-6,7% frente à temporada anterior), pressionada pelos Estados Unidos (-20%), Brasil (-13%) e Paquistão (-27,4%). Já o consumo global pode aumentar 13%, para 25,1 milhões de toneladas. A comercialização deve totalizar 9,4 milhões de toneladas, com avanços de 7,4% nas importações e de 5,4% nos embarques frente aos da safra anterior.

O estoque mundial foi estimado pelo USDA em 21,2 milhões de toneladas em 2020/21, recuo de apenas 1,9% sobre a safra anterior. Nesse cenário, a relação estoque/consumo está estimada em 84,3%, sendo que, para o Brasil, a relação estoque/consumo está em 103,28% – a menor em cinco temporadas. Quanto aos preços, a estimativa de dezembro para o final da safra 2020/21 indica média do Índice Cotlook A de US$ 0,694/lp, de acordo com o Icac.

Equipe: Prof. Dr. Joaquim Bento S. Ferreira Filho, Prof. Dr. Lucilio Alves, Ana Luisa Corrêa e Jéssica Caroline Pereira.

ARROZ

Apesar de maior rentabilidade em 2020, incerteza sobre a demanda em 2021 limita investimentos

Cepea, Piracicaba – A safra 2019/20 deve terminar em fevereiro de 2021 com a menor relação estoque/consumo desde a temporada 2015/16 (fevereiro/17). A situação só não será mais complicada porque o consumo doméstico de arroz declinou no período, mesmo contanto com a maior demanda de 2020.

Para 2020/21, mesmo com a maior rentabilidade em 2019/20, a área não teve reação expressiva, tendo em vista que muitos produtores não dispunham de capital para elevar com força os investimentos operacionais. Além disso, incertezas sobre a dinâmica da demanda em 2021 com a retomada da economia também impediu maiores investimentos.

A demanda doméstica, inclusive, se arrefeceu e está caminhando para um ritmo normal de consumo, após o forte aquecimento verificado em 2020. Segundo dados do Irga, o beneficiamento e saída de arroz no Rio Grande do Sul, que, até agosto/20 chegou a ser quase 30% superior ao do mesmo mês de 2019, em novembro/20 já estava 16,2% acima do de novembro/19.

Dados da Conab divulgados em dezembro/20 indicam que a oferta da safra 2020/21 poderá ter queda de 2,1% sobre a anterior, para 10,94 milhões de toneladas de arroz em casca. Adicionando as importações e o estoque inicial, a disponibilidade doméstica deve ficar em 12,48 milhões de toneladas, contra 12,89 milhões de toneladas em 2019/20.

No Rio Grande do Sul, a colheita 2020/21 está estimada em 7,63 milhões de toneladas de arroz em casca, queda de 3% frente à anterior – houve incremento de 2,4% na área semeada, mas retração de 5,3% na produtividade, de acordo com dados da Conab. Em Tocantins, a produção pode aumentar ligeiro 0,8%, atingindo 665 mil toneladas, como resultado da área 3,7% maior, visto que a produtividade caiu 2,8%. Em Mato Grosso, a produção está prevista em 448,8 mil toneladas, alta de 10,9% em comparação ao volume da safra anterior, com aumento na área semeada (+13,9%), mas recuo na produtividade (-2,7%), ainda segundo a Conab.

Em Santa Catarina, a Epagri/Cepa apontou em seu último relatório estabilidade na área de semeio na safra 2020/21, que alcançou 143,45 mil hectares. No entanto, deve haver quedas de 5,67% na produtividade e na produção, indo para respectivos 7,9 toneladas/hectare e 1,18 milhão de toneladas. No ano-safra anterior, a produtividade foi de 8,4 toneladas/hectare e a produção, de 1,25 milhão.

Para o consumo, a Conab ainda estima que possa subir de 10,7 para 10,8 milhões de toneladas entre 2019/20 e 2020/21. Talvez esta seja a variável de maior incerteza, pois a demanda cresceu em 2020 em função da pandemia, com as famílias aumentando o consumo doméstico em detrimento da alimentação fora do domicílio. Ao se estimar demanda ainda maior na temporada seguinte, deve-se levar em consideração que o isolamento social deve continuar e/ou voltar a se acirrar, o que deve estar relacionado com as dificuldades de vacinação em massa.

De qualquer forma, as exportações devem diminuir, pois os preços do arroz brasileiro, mesmo em dólares, estão acima dos valores observados nas transações externas. Assim, deverá haver maior interesse nas negociações domésticas, em detrimento das exportações, a não ser em casos de empresas em amplos excedentes. Por enquanto, a Conab estima exportações e importações equivalente a 1,1 milhão de toneladas entre março/21 e fevereiro/22. Os estoques finais de passagem em fevereiro/22 estão previstos em 581,2 mil toneladas, equivalentes a 5,4% da demanda interna, contra 4,1% previstos para fev/21.

No contexto mundial, dados divulgados pelo USDA também em dezembro/20 indicam oferta global de arroz beneficiado de 501,2 milhões de toneladas na temporada 2020/21, 1,03% a mais que na 2019/20, e consumo mundial de 500,44 milhões de t (+1,14%) – ambos recordes. A oferta segue superior à demanda, elevando a relação estoque final/consumo para 36%. Há expectativa de crescimento de 1% nas transações internacionais no ano-safra 2020/21, para 44,79 milhões de t. O volume a ser transacionado neste ano-safra representa 9% da produção mundial.

Sobre o Mercosul, a tensão quanto ao clima também é notável. Além do Brasil, o Paraguai (maior fornecedor de arroz ao Brasil), por exemplo, também deve ter menor produção na safra 2020/2, com queda de 15,2%, a 670 mil toneladas produzidas na nova temporada. Já para a Argentina e Uruguai, as estimativas iniciais são positivas, com aumentos de 3% e 3,9%, respectivamente, na produção. Nestes três países, a previsão é de queda nas exportações e aumento no consumo doméstico.

Com produção e consumo global apresentando volume relativamente próximos, as cotações futuras de arroz na Bolsa de Chicago operam em patamares firmes, em termos nominais. O contrato Jan/21 foi negociado em torno de US$ 12,18/quintal (US$ 268,52/tonelada ou R$ 13,43/sc de 50 kg) até o dia 31 de dezembro; o de Março/21, US$ 12,30/quintal (US$ 271,17/tonelada ou R$ 13,56/sc de 50 kg); e o de Maio/21, a US$ 12,42/quintal (US$ 273,81/tonelada ou R$ 13,69/sc de 50 kg) – um quintal equivale a 45,36 quilos.

Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Isabela Rossi e Victória Sarah Bernardineli Gaspar.

BOI

Demanda externa e oferta ainda enxuta devem seguir sustentando preço em 2021

Cepea, Piracicaba – Depois de registrar recordes ao longo do ano passado, o setor pecuário nacional inicia 2021 com perspectivas positivas para o mercado. Os principais fatores que fundamentam esse cenário mais otimista estão relacionados à demanda externa e à possível continuidade de oferta restrita de animais para abate neste ano. Ainda que com menor intensidade, outro fator que pode influenciar uma sustentação dos preços internos é a demanda doméstica, que pode se aquecer em 2021, à medida que a economia brasileira se recupere.

No caso da demanda externa, tudo indica que os chineses devem continuar comprando elevados volumes da proteína brasileira, especialmente devido à necessidade de abastecimento do mercado local, tendo em vista que o país ainda se recupera dos prejuízos gerados pela Peste Suína Africana (PSA). Além disso, o custo baixo da proteína brasileira deve fazer com que a China permaneça como grande parceira.

O câmbio também pode favorecer o setor neste ano, já que tende a manter as exportações elevadas. De acordo com o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) nessa segunda-feira, 4, a perspectiva é de que a moeda norte-americana siga na casa dos R$ 5,00.

Se o cenário externo se mostra favorável ao mercado de carne bovina brasileiro, o doméstico ainda deverá passar por um período de ajustes neste começo de ano, devido à redução do auxílio emergencial do governo e à alta taxa de desemprego. Esses fatores, somados à já típica demanda enfraquecida em início de ano, por conta do comprometimento do orçamento das famílias, podem fazer com que o mercado fique pressionado, sobretudo no primeiro trimestre. Já nos meses seguintes, as expectativas são de recuperações na economia e na renda, o que pode trazer um incremento na demanda por carne. O Relatório Focus prevê crescimento de 3,46% da economia brasileira em 2021.

Do lado da oferta, o menor volume de abate de animais já observado ao longo do ano passado deve seguir neste começo de 2021, mas, com a maior retenção de fêmeas para produção, a oferta pode começar a aumentar, especialmente a partir do final da safra, com o início do desmame. Assim, o primeiro semestre ainda pode registrar baixa disponibilidade de animais para abate, com pecuaristas, atentos às condições das pastagens, buscando um equilíbrio melhor dos preços.

Já no segundo semestre, o confinamento de animais dependerá dos preços de reposição e dos insumos, que já começam 2021 em patamares elevados. Assim, muitos pecuaristas tomarão a decisão de confinar com base nos preços da arroba do primeiro giro.

Se 2020 já foi incerto e desafiador para os pecuaristas, o ano que se inicia traz um horizonte de boas notícias, mas que exigirá do produtor atenção em sua tomada de decisão e uma boa gestão produtiva.

Equipe: M.a Gabriela Ribeiro, Dr. Thiago Bernardino de Carvalho, M.a Shirley Menezes, Cristiane Mariano Spadoto, Tayane Gobbi Olivotto, Ariane Sbravatti, Isabela Zavatti e Letícia Bianchi Mantovan.

Colaboração: Alessandra da Paz

CAFÉ

Menor produção em 21/22 pode manter preço firme em 2021

Cepea, Piracicaba – A queda na produção de café na safra 2021/22 frente à atual (2020/21) é dada como certa. Agentes consultados pelo Cepea, contudo, ainda estão incertos quanto ao tamanho desta redução – é preciso esperar um avanço no desenvolvimento das lavouras para realizar uma estimativa melhor. Além de ser ano de bienalidade negativa dos cafezais de arábica (quando normalmente a produção é menor), as lavouras também foram bastante prejudicadas pelo clima quente e seco em boa parte de 2020, em especial durante a abertura das flores no segundo semestre com queda de flores e chumbinhos.

Ainda que as chuvas tenham retornado em maior quantidade em novembro e dezembro nas regiões de arábica (São Paulo, Minas Gerais e Paraná) e de robusta em Rondônia, agentes consultados pelo Cepea acreditam que estas apenas interromperam as perdas. Já no Espírito Santo, o clima tem sido favorável ao robusta desde as floradas, sendo que muitos agentes acreditam em recuperação da produção em 2021/22.

Esse cenário tem resultado em sustentação dos preços do café em patamares próximos dos R$ 600/sc desde os últimos meses de 2020. E um outro fator que deve manter os valores internos elevados até pelo menos o início da colheita da safra 2021/22 é o alto volume de café já comercializado da atual temporada 2020/21.

A produção foi volumosa em 2020/21 – prevista em dezembro/20 em 63 milhões de sacas pela Conab e em 67,9 milhões de sacas pelo USDA –, mas cerca de 70 a 75% do café (considerando-se arábica e robusta) já estava comprometido até dezembro, segundo dados levantados juntos a colaboradores do Cepea. Além disso, muitos produtores aproveitaram as elevações nos valores em 2020 para fixar negócios para 2021, o que restringe ainda mais a disponibilidade de cafés para a safra 2021/22.

Por outro lado, o consumo tem se mostrado mais tímido desde o início da pandemia, podendo limitar os ganhos em 2021. Segundo dados de dezembro do USDA, a pandemia do coronavírus interrompeu o movimento de avanço na demanda de café visto nas últimas temporadas, especialmente devido à queda do consumo fora de casa (fechamento de cafeterias e restaurantes). De acordo com o Departamento Norte-Americano, em 2020/21, o consumo mundial de café deve somar 165,4 milhões de sacas de 60 kg, leve queda de 0,5% frente a 2019/20.

Vale apontar que a queda na demanda foi minimizada pelo aumento do consumo domiciliar, que favoreceu especialmente o café robusta e o arábica de menor qualidade. Alguns agentes apontam que, com a mudança de hábito, também pode haver crescimento na demanda por cafés arábica finos e gourmet dentro dos domicílios no médio prazo, ainda que esse aumento não compense a queda fora dos lares.

Para 2021, ainda é incerto se haverá uma retomada do crescimento do consumo, principalmente fora do lar, porque isso ainda dependerá da eficácia das vacinas, da redução das restrições e da recuperação econômica.

Mesmo com essas incertezas, o dólar em patamar elevado deve manter firme as exportações brasileiras de café em 2021, seguindo o ritmo observado nas duas últimas safras, quando foram embarcadas mais de 40 milhões de sacas.

Equipe: Dra. Margarete Boteon, Laleska Moda, Caroline Ribeiro, Fernanda Geraldini e Renato Garcia Ribeiro.

CITROS

Provável baixa produção em 21/22 tende a manter preços firmes

Cepea, Piracicaba – Após uma temporada de baixa produção em 2020/21, as expectativas iniciais de agentes são de mais uma safra limitada de laranjas em 2021/22 no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro, diante de condições climáticas desfavoráveis. Este cenário, por sua vez, tende a manter firmes os preços da fruta em 2021.

As floradas foram bastante irregulares na temporada 2021/22. Enquanto em parte das regiões as flores se abriram com maior antecedência (em julho), em outras, a abertura ocorreu no final de 2020. Porém, o pegamento das floradas mais precoces foi comprometido em muitas áreas (visto que as aberturas foram seguidas de períodos de clima quente e seco), o que pode novamente limitar a participação da primeira florada no total colhido. Além disso, a temporada tende a ser novamente mais extensa e tardia, já que, em anos usuais, as floradas ocorrem principalmente em agosto e setembro.

A região norte do estado paulista (Bebedouro e arredores) foi a mais prejudicada pelo clima seco e, com isso, deve registrar diferença significativa entre a produção dos pomares irrigados e a dos de sequeiro. Os de sequeiro tiveram forte índice de abortamento de flores, tendo em vista que as plantas estavam bastante debilitadas, enquanto os irrigados devem ter melhor produção, ainda que abaixo do desejado. Vale lembrar que esta é a única praça do cinturão citrícola paulista com maior participação de áreas irrigadas – 63% do total da região em 2020, segundo levantamento do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura).

As outras praças, por terem baixa participação de áreas irrigadas, têm maior dependência do pegamento das floradas tardias. Muitas áreas já tiveram novas aberturas em dezembro, o que traz um alento, mas é importante considerar que as plantas estão bastante debilitadas, contexto que pode prejudicar a fixação dos frutos. Além disso, o cenário dependerá do clima daqui em diante (é preciso umidade no período de pegamento) e de cuidados preventivos à podridão floral.

A primeira estimativa referente à safra 2021/22, divulgada pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em dezembro/20, indica que a colheita do estado de São Paulo e do Triângulo Mineiro totalize 315 milhões de caixas de 40,8 kg, avanço de 17% frente à temporada anterior. Apesar da recuperação, este número não representa uma retomada do potencial produtivo, visto as condições climáticas adversas enfrentadas pelas regiões.

Assim, a safra de 315 milhões de caixas não é considerada alta e, portanto, não deve ser suficiente para recuperar totalmente os estoques de suco de laranja. Por outro lado, deve beneficiar a remuneração aos citricultores por mais um ano, diante da elevada demanda industrial. Ressalta-se que esta estimativa é preliminar, já que é cedo para quantificar a produção, principalmente neste ano. O Fundecitrus deve divulgar uma estimativa apenas em maio de 2021.

ESTOQUES – Dados da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) indicam que os estoques de entrada da temporada 2021/22 podem ficar entre 240 e 280 mil toneladas em julho/21. Ainda que não sejam inferiores ao patamar estratégico, a safra restrita em 2021/22 pode limitar os volumes finais da temporada – em junho de 2022.

CONTRATOS COM A INDÚSTRIA – As negociações para a nova temporada praticamente não ocorreram. Diante das incertezas quanto ao volume produzido, também há dúvidas quanto aos valores que são condizentes com o mercado. Além disso, muitas empresas fizeram, em 2020/21, contratos que comprometiam a safra seguinte. Neste sentido, uma quantidade maior de frutas já está negociada para a próxima temporada. Ainda assim, as expectativas são de que os preços sejam novamente positivos neste segmento, já que a demanda industrial deve ser elevada.

MERCADO DE MESA – A maior demanda industrial deve manter em alta os preços da laranja no mercado de mesa em 2021/22. O fato de 2021/22 estar prevista para ser novamente uma safra tardia deve, inclusive, beneficiar as cotações das precoces, e os valores devem se sustentar, tendo em vista a possível safra tardia da pera.

TAHITI – Após registrar elevados preços em 2020, as perspectivas para os primeiros meses de 2021 são de volumes elevados de lima ácida tahiti em São Paulo, devido ao pico de safra – a disponibilidade, contudo, ainda deve ser inferior à do mesmo período de 2020. Além dos impactos da seca, a colheita antecipada de tahiti miúda, em novembro e dezembro, pode limitar o volume ofertado e evitar quedas expressivas nas cotações, como verificado no início de 2020.

Em relação à qualidade, com as chuvas recentes nas regiões produtoras, o calibre das frutas deve ser recuperado, o que pode beneficiar as exportações, caso a demanda siga aquecida. Já no segmento industrial, a moagem deve ser iniciada na segunda quinzena de janeiro.

Equipe: Dra. Margarete Boteon, Fernanda Geraldini, Caroline Ribeiro e Isabela Gonçalves.

ETANOL

Cenário é positivo para preço em 2021; canavial deve registrar menor produção

Cepea, Piracicaba – Agentes da cadeia sucroenergética brasileira estão otimistas neste início de 2021 em relação à rentabilidade dos segmentos de etanol e açúcar. Isso ocorre a despeito de incertezas quanto às condições dos canaviais da região Centro-Sul no ano safra 2021/22. O clima seco de 2020, que não teve efeito prejudicial na temporada 2020/21, deve atrasar, em alguma medida, o desenvolvimento da cana a ser colhida em 2021, tanto no caso da planta de primeiro quanto no caso dos demais cortes.

Adicionam-se à questão da menor produção média de cana por hectare, prevista para 2021, em função da seca no ano anterior, fatos que são apontados, também, como possíveis responsáveis pela menor quantidade de ATR (Açúcar Total Recuperável) disponível a ser alocada para a produção de açúcar e etanol em 2021, relativamente ao ano de 2020: i) alguns canaviais, por motivos naturais ou não, sofreram queima no ano de 2020, necessitando de tempo para a recuperação; ii) menores tratos culturais dos canaviais no início da pandemia devido à descapitalização do segmento produtor, especialmente pelas quedas da demanda e do preço do etanol; ii) aumento da idade média dos canaviais e uma menor disponibilidade de área a ser colhida que poderá estar em processo de renovação, postergada também em decorrência da pandemia.

Com a finalidade de minimizar os efeitos do clima e da pandemia sobre a produtividade dos canaviais e a qualidade da planta a ser colhida, a moagem na região Centro Sul deve se iniciar em abril, não se prevendo a antecipação da safra como ocorreu em anos anteriores. Os mais otimistas consideram, no entanto, que o clima pode ser favorável nos dois primeiros meses de 2021, permitindo uma recuperação dos canaviais e pouca alteração relativamente a 2020 no ATR disponível.

No ano safra 2021/22, o mix de produção deverá se ajustar às expectativas de preços relativos de etanol e açúcar, da forma como feito em 2020/21. O açúcar deve continuar remunerando mais que o etanol em 2021, considerando-se a conjuntura esperada para cada um desses dois mercados, tanto no âmbito nacional quanto no internacional, e, dessa forma, pode-se inferir que usinas devem privilegiar a fabricação do adoçante, limitadas, no entanto, pela capacidade instalada nessa linha de produção.

Quanto aos preços em 2021, as expectativas atuais dos agentes do mercado de etanol hidratado – refletidas, de certa forma, nos contratos futuros negociados na B3 – são de que estes operem, na maior parte das vezes, acima de R$ 2.000,00/m³. Somente em abril, maio, junho e julho, quando a pressão vendedora esperada é maior, os valores devem ficar apenas um pouco abaixo desse patamar. Na B3, o contrato Dezembro/21 chega a R$ 2.135,00/m³, superior ao de Dezembro/2020, que foi de R$ 2.105,50/m³.

É certo que as cotações do petróleo e derivados devem definir o “preço teto” para o etanol, e, nesse sentido, o cenário é positivo para a competitividade do biocombustível. Instituições financeiras e o mercado, de forma geral, trabalham com um cenário de preços médios para petróleo e derivados em 2021 superiores ao que vigoraram em 2020.

Em relação à demanda de combustíveis, não se espera, em 2021, retração como a que ocorreu no segundo e terceiro trimestres de 2020, mesmo com recrudescimento da pandemia associada à covid-19. Não há mais espaço na atual conjuntura econômica nacional para implementar medidas emergenciais de ajuda financeira à população de baixa renda que permitam a sobrevivência, mesmo tendo vários setores da economia paralisados. Assim, restrições de mobilidade como as vistas em 2020 não devem ocorrer.

Considerando-se que não haja queda significativa da demanda em 2021 e um mix de produção favorável ao açúcar, com estagnação ou queda do ATR, pode-se esperar que os preços de etanol se estabeleçam sempre em patamar muito próximo à paridade com o valor da gasolina.

Equipe: Dra. Mirian R. Piedade Bacchi, Msc. Ivelise Rasera Bragato, Carla Luciane dos Santos, Talita Negri e Ricardo Fleury Sunhiga Filho.

FRANGO

Competitividade da carne de frango deve continuar em alta em 2021

Cepea, Piracicaba – Em 2020, a competitividade da carne de frango bateu recorde, e, para 2021, a expectativa é de que a diferença entre os preços da proteína avícola e os das carcaças bovina e suína continue elevada. A retomada do crescimento econômico tende a ocorrer de forma gradual, e, com isso, o poder de compra dos consumidores deve continuar enfraquecido, o que, por sua vez, pode favorecer as vendas de carne de origem avícola, que é negociada a valores mais baixos que os das concorrentes.

Segundo dados do Boletim Focus publicados no dia 31 de dezembro, a economia brasileira deve crescer 3,4% em 2021. Contudo, fatores como taxa de desemprego ainda bastante elevada e o fim dos repasses emergenciais do governo federal podem limitar a massa de renda familiar, especialmente nas regiões que concentram os maiores índices de pobreza. Cenário que, portanto, pode favorecer as vendas de carne de frango.

De acordo com projeções da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em 2021, a produção nacional de carne de frango deverá crescer cerca de 5,5% frente ao previsto para 2020, atingindo 14,5 milhões de toneladas. O consumo per capita está previsto em 47 quilos, 4,4% a mais do que o estimado em 2020, de 45 quilos.

Quanto às vendas externas, apesar do empenho da China (maior comprador da carne brasileira) em aumentar a produção interna de frango, em 2021, as exportações brasileiras para esse destino devem continuar crescentes.

Além disso, espera-se que outros países também elevem as aquisições, como é o caso do Japão, terceiro maior parceiro comercial do Brasil nesse segmento, que irá sediar os Jogos Olímpicos em 2021 – caso maiores agravamentos sanitários provocados pela pandemia covid-19 não resultem em novo cancelamento do evento. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam crescimento das exportações brasileiras, de 2,1% frente a 2020.

Equipe: Dr. Sergio De Zen (licenciado), Thiago Bernardino de Carvalho, Juliana Ferraz, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Ferdynanda Moreira Silva, Luccas Bavaresco, Matheus do Valle Liasch, Luiz Henrique Melo, Gabriel Brambila Secches, Ernesto Vaughn Ramello e Marcia Verweij.

LEITE

Baixa oferta deve manter acirrada disputa por matéria-prima

Cepea, Piracicaba – A disponibilidade de matéria-prima deve permanecer limitada em 2021, especialmente no primeiro trimestre do ano, com volumes de leite abaixo da média registrada para o mesmo período de 2020. Esse cenário se deve ao clima desfavorável no ano passado (tempo seco e temperaturas elevadas, que prejudicaram as pastagens) e ao aumento contínuo nos custos de produção (os valores dos dois principais componentes da ração, o milho e o farelo de soja, atingiram patamares recordes).

Do lado da demanda, a limitação na oferta deve manter elevada a competição entre laticínios na compra de leite para repor estoques. Nesse cenário, os preços do leite pagos aos produtores, ao menos no primeiro trimestre de 2021, podem se manter firmes e, portanto, bem acima dos verificados no mesmo período de 2020 (quando a média foi de R$ 1,4655/litro, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IPCA de dezembro/20). Vale lembrar que, em dezembro/20, o preço do leite pago ao produtor pela matéria-prima entregue em novembro foi de R$ 2,1262/litros na “Média Brasil” líquida, em valores reais.

Olhando para a ponta final da cadeia produtiva, a redução da demanda agregada e a perda do poder de consumo do brasileiro – devido à pandemia, ao fim do auxílio emergencial e à alta do desemprego – devem continuar desacelerando o consumo de lácteos. Esse cenário, por sua vez, tende a pressionar as indústrias a diminuírem os patamares médios anuais de preços do leite pagos aos produtores.

Contudo, no encerramento de 2020, as cotações dos derivados lácteos ainda registraram médias elevadas em comparação com o mesmo período de 2019. Em dezembro/20, o preço médio do leite longa vida atingiu R$ 3,23/litro, 28% acima do registrado em dezembro/19, em termos reais.

CUSTOS DE PRODUÇÃO – Por mais um ano, os custos de produção devem ser um grande gargalo ao pecuarista leiteiro. Isso porque os preços do milho e do farelo de soja devem se manter altos em 2021, sustentados pelas aquecidas demandas interna e externa por esses grãos. Diante disso, o poder de compra de pecuaristas frente a esses insumos de alimentação pode cair e dificultar possíveis incrementos na produção.

Equipe: M.a Natália Salaro Grigol, Juliana Cristina dos Santos, Munira Nasrrallah, Beatriz Pina Batista e Débora Zanatta Pereira Monteiro.

MANDIOCA

Menor oferta e retomada da economia poderão alterar a dinâmica do mercado

Cepea, Piracicaba – Nos últimos anos, a área ocupada com mandioca no Brasil tem recuado, sem que a produtividade tenha aumentado. Como resultado desse cenário, a oferta tem sido menor, e, pelo menos por enquanto, é o que também se espera para 2021. Nas áreas de mandioca destinada às indústrias, produtores avançaram na colheita e na comercialização de raízes de 1º ciclo ainda em 2020, reduzindo a disponibilidade do produto em 2021.

De acordo com o IBGE, em 2020, a área plantada com mandioca no Brasil deve ser 2% menor que a do ano anterior, com destaque para a queda de 10,4% no Nordeste. Na região Norte, a baixa foi de 1,7%, mas, por outro lado, Sul, Sudeste e Centro-Oeste devem ter avanços de respectivos 9,3%, 6,4% e 4,5% na área. Assim, deve haver restrição de mandioca de dois ciclos em 2021.

Entretanto, a diminuição de área no Nordeste deve ocorrer em estados menos representativos em termos de produção. Portanto, de modo geral, a região deve continuar autossuficiente na oferta de raízes para a industrialização. Já no Centro-Sul, apesar dos acréscimos, os altos volumes comercializados de mandioca mais nova devem manter a produção mais limitada.

Por conta da covid-19, os principais indicadores econômicos recuaram de forma severa em 2020, com efeitos negativos em diversos setores industriais e no varejo. Na cadeia produtiva da mandioca, os impactos foram apenas transitórios, mas, ainda assim, o ano foi marcado pela menor demanda por derivados. Para 2021, há expectativa de retomada da economia, o que poderá elevar a procura pelos derivados da mandioca e a necessidade de processamento de raízes. Com oferta restrita, deve haver maior disputa pela matéria-prima em 2021.

Quanto ao clima, ao menos no 1º trimestre, o fenômeno La Ninã pode se apresentar mais acentuado, com bons volumes de chuvas em parte dos estados das regiões Norte e Nordeste, mas baixo índice de precipitações, principalmente na região Sul, de acordo com as informações do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec).

As consideráveis altas nos preços de diversos produtos agropecuários devem continuar influenciando a disputa por área. Com exceção dos locais em que a mandiocultura já está mais consolidada, outras atividades, especialmente grãos e pecuária, devem tomar parte das áreas com as raízes. Essa decisão também deve estar atrelada ao comportamento dos preços ao longo deste ano.

FÉCULA – A possível consolidação da retomada da economia em 2021 deve influenciar positivamente o mercado de amidos. Considerando-se que a oferta de amido de milho – principal concorrente da fécula de mandioca – deve continuar restrita, há a possibilidade de o derivado da mandioca ter maior participação, sobretudo nos segmentos industriais, que, inclusive, já tiveram maior interesse pelo produto em boa parte de 2020.

Vale destacar que esse cenário dependerá do tamanho da oferta de fécula de mandioca e do comportamento dos preços. Exceto em 2020, nos anos anteriores, a maior utilização do amido de milho se deu em função de preços mais estáveis, ao contrário do que ocorria na cadeia industrial da fécula.

O Boletim Focus do Banco Central do Brasil (Bacen) aponta que, em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 3,49%, resultado satisfatório frente à taxa negativa do ano anterior, de -4,40%. Além disso, a inflação deve estar mais controlada, refletindo em maior demanda. O Bacen aponta, ainda, crescimento de 5% na produção industrial, que é um forte indicativo para o maior consumo de produtos como a fécula de mandioca, que é insumo em um grande número de aplicações. Em setores como o de papel e celulose, já há projeções de alta nos preços.

Em 2021, a expectativa do valor do dólar é de R$ 5,00, o que pode favorecer as exportações de fécula, inclusive pelo fato de que algumas firmas já negociaram lotes com entrega pelo menos até abril. Essas perspectivas dependem do comportamento dos preços e do consumo no mercado interno, o que pode diminuir os excedentes exportáveis.

Como já observado em anos anteriores, a produção deve se manter praticamente estável, uma vez que não tem havido novos entrantes. O setor deve continuar tendo concentração de mercado, sobretudo com o crescimento da produção dos grupos de fecularias.

FARINHA – A demanda por farinha de mandioca esteve firme em 2020, devido à pandemia, e esse cenário pode se manter em 2021, com a menor renda da população. Até então, o consumo vinha recuando, especialmente nas regiões Nordeste e Norte, que acabam substituindo a farinha por outros alimentos, como as farofas semiprontas.

Para 2021, o desafio da indústria de farinha é se manter com preços atrativos em um contexto de restrição de renda. A expectativa é de continuidade das transações regionais, com baixa comercialização entre as mesorregiões brasileiras. Para as farinheiras do Centro-Sul, a negociação deve seguir concentrada nos grandes centros consumidores do Sudeste e Centro-Oeste, com vendas pontuais para o Norte e Nordeste, desde que se tenha excedente.

As farinheiras do estado de São Paulo e do Paraná podem ter dificuldades de manter a moagem, sobretudo se houver melhora na demanda pela fécula de mandioca. Assim, em alguns momentos, a indústria de farinha poderá ter alguma influência no mercado de raízes.

As previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam chuvas regulares nos principais estados produtores de mandioca do Nordeste, com destaque para Pernambuco, Alagoas e Sergipe, que, nos últimos anos, têm aumentado a quantidade produzida. Assim, esses locais devem continuar autossuficientes e, em alguns momentos, até abastecer os demais estados da região.

Equipe: Dr. Lucilio Rogerio Aparecido Alves, Ms. Fábio Isaias Felipe, Jéssica Caroline Pereira e Beatriz Cassiano Grellet.

MILHO

Demanda aquecida deve manter os preços firmes em 2021

Cepea, Piracicaba – Os baixos estoques, a demanda firme e as incertezas quanto ao tamanho da oferta da temporada 2020/21 devem manter em 2021 os preços internos do milho em patamares acima da média de anos anteriores.

As lavouras brasileiras da primeira safra foram prejudicadas pelo clima seco, em especial no Sul do País. Para a segunda safra, o cultivo mais lento e tardio da soja, comparativamente a anos anteriores, traz temores sobre como será a semeadura de milho e se haverá impactos na produtividade. Com isso, a temporada 2020/21 deve se iniciar com incertezas em torno da oferta de milho – por enquanto, as estimativas oficiais indicam produção recorde no Brasil e no mundo.

Do lado da demanda, deve continuar aquecida nos mercados doméstico e internacional. No Brasil, o consumo segue crescente, refletindo o maior interesse do setor pecuário e também de novas usinas de etanol de milho do Centro-Oeste. As exportações devem ser favorecidas pelo dólar valorizado e pela alta nas cotações internacionais. A comercialização antecipada, especialmente para exportação, tende a restringir a oferta no spot nos próximos meses, podendo acirrar a disputa pelo produto. Segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), até meados de dezembro, 62,7% da produção 2020/21 de Mato Grosso havia sido comercializada, um recorde para o período.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a primeira safra de milho 2020/21 some 24,18 milhões de toneladas, 5,8% a menos que na temporada anterior, resultado da redução de 2,1% na área e da expectativa de queda de 3,8% na produtividade. A maior diminuição na produção é esperada para o Rio Grande do Sul, de 9,3%, seguido pelo Paraná, de 8,9%. No entanto, ainda são esperados novos ajustes devidos ao clima seco durante o desenvolvimento das lavouras.

Esta menor produção da primeira safra é preocupante, tendo em vista que dados indicam que, em janeiro/20, os estoques de passagens estejam nos menores patamares desde janeiro/17, sendo equivalente a 15,5% do consumo anual. E o consumo interno segue crescendo, estimado em 71,83 milhões de toneladas em 2020/21, 4,6% superior à temporada passada e 12% acima da média das últimas três safras.

A soma da produção do milho verão ao estoque de passagem resulta em disponibilidade de 34,8 milhões de toneladas para o primeiro semestre, o equivalente a 48% do consumo doméstico no ano, contra 52% na temporada passada – ou seja, na atual safra, o consumo interno deverá absorver quantidade maior da produção de milho da segunda safra.

Para a segunda temporada, por enquanto, a Conab mantém as estimativas de área da temporada anterior, mas prevê aumento de 2,3% na produtividade média nacional. Com isso, a produção do milho segunda safra 2020/21 é estimada em 76,7 milhões de toneladas, crescimento de 2,3% frente à anterior. Caso as estimativas da Conab se concretizem, a produção total de milho deverá atingir 102,59 milhões de toneladas.

Em Mato Grosso, após os problemas enfrentados no início da temporada, a semeadura de soja ganhou ritmo, finalizando acima da média dos últimos cinco anos, segundo o Imea. Apesar disso, a janela ideal de semeadura de milho de segunda safra ainda preocupa parte dos agentes. Até o momento, o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) indica que a área plantada no estado deve crescer 2,38%, mas a produtividade pode cair 2,52%, o que resultaria em produção de 36,3 milhões de toneladas em 2021.

A disponibilidade interna brasileira para a próxima safra – referente à soma de estoques iniciais, importação e produção – pode superar as 114,2 milhões de toneladas, quantidade 0,4% inferior à da temporada passada. Por outro lado, o consumo interno deve crescer em maior intensidade, e, com isso, a diferença entre a disponibilidade interna e o consumo seria de 42,4 milhões de toneladas, volume 6% inferior ao da safra passada. Esta quantidade estará disponível para exportação. Por enquanto, a Conab estima que 35 milhões de toneladas sejam embarcadas entre fevereiro/21 e janeiro/22.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção mundial seja de 1,143 bilhão de toneladas, aumento de 2,4% em relação à anterior, refletindo os incrementos de 6,5% nos Estados Unidos e de 7,8% no Brasil. O consumo deve somar 1,158 bilhão de toneladas, elevação de 2,2%.

Quanto às transações internacionais, o USDA projeta crescimento de 5,5%, indo para 184,6 milhões de toneladas. Por enquanto, a expectativa é de que o Brasil siga como segundo maior exportador, com 40 milhões de toneladas, seguido pela Argentina, com 33 milhões, e pela Ucrânia, com 24 milhões. Para os Estados Unidos, esperam-se que 66 milhões de toneladas sejam embarcadas.

Com perspectivas de aumento na produção e no consumo, o estoque mundial deverá atingir 288,9 milhões de toneladas, quantidade 4,8% inferior à da temporada passada. A relação estoque final/consumo global para a safra 2020/21 está em 25%, a menor desde 2013/14, o que deve sustentar os preços internacionais no médio prazo.

Ainda para 2020/21, o USDA estima que as importações da China atinjam 16,5 milhões de toneladas, 117% a mais que na safra anterior, o que pode favorecer as exportações brasileiras nos próximos meses.

Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Kaline Lacerda, Natália Guimarães, Natália Correr Ré e Thaís Bragion Bertoloti.

OVINOS

Possível melhora na economia pode sustentar preços

Cepea, Piracicaba – As perspectivas para o mercado de ovinos em 2021 são de preços estáveis em relação a 2020, fundamentadas no possível contexto econômico mais favorável para 2021.

Do lado da demanda, a vacinação contra a covid-19, com expectativa de início para o primeiro trimestre de 2021, aliada à estimativa de recuperação econômica para 2021, de 3,49%, segundo dados do Boletim Focus do Banco Central divulgados em 31 de dezembro de 2020, devem favorecer uma recuperação da redução de consumo observada ao longo do último ano. De acordo com dados da OECD/FAO, o consumo per capita dessa proteína deve ser de 0,52 kg em 2021.

Do lado da oferta, segundo agentes de mercado consultados pelo Cepea, diante de um cenário de preços elevados no encerramento de 2020, muitos produtores de ovinos investiram em aumento da produção para 2021. Além disso, as importações também podem crescer neste ano. Vale lembrar que, em 2020, houve queda de 13% nas importações da proteína, segundo dados Secex.

Apesar de alguns fundamentos guiarem o mercado, ainda há muita incerteza, principalmente relacionada aos custos de produção na cadeia. Os valores dos dois principais componentes da ração, o milho e o farelo de soja, devem se manter altos neste ano, tendo em vista as aquecidas demandas interna e externa por esses grãos. Esse cenário, por sua vez, tende a pressionar o poder de compra de ovinocultores. O dólar elevado também pode encarecer – ou ao menos manter elevados – os preços de insumos que são importados.

Equipe: Rodolfo Jordão e Juliana Ferraz.

OVOS

Consumo deve continuar elevado em 2021

Cepea, Piracicaba – Em 2021, a economia brasileira pode iniciar uma recuperação gradual, o que pode favorecer o consumo de ovos, que têm preços mais baixos frente aos das demais proteínas de origem animal. Além disso, a possível vacinação para imunização contra a covid-19 e a consequente redução dos efeitos da pandemia podem permitir o retorno das aulas de forma presencial bem como de outros eventos, o que deve favorecer o consumo.

De acordo com dados do Boletim Focus, publicado pelo Banco Central no dia 4 de janeiro, a economia brasileira deve crescer 3,4% em 2021. No entanto, fatores como a taxa de desemprego ainda bastante elevada e o fim dos repasses emergenciais do governo federal à população devem limitar a massa de renda familiar, principalmente nas regiões que concentram os maiores índices de pobreza. Esse cenário deve beneficiar a comercialização de ovos e de outras proteínas mais baratas, como a carne de frango.

Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indicam que, em 2021, a produção brasileira de ovos pode aumentar 5% frente ao projetado para 2020, passando para 56,2 bilhões de unidades, podendo alcançar um consumo de 265 unidades per capita durante o ano, 6% a mais do que o previsto para 2020.

Por outro lado, os custos de produção devem continuar sendo um grande entrave ao setor em 2021, uma vez que os valores dos dois principais insumos consumidos na atividade, milho e farelo de soja, devem se manter elevados neste ano, tendo em vista os estoques baixos e as aquecidas demandas interna e externa por esses produtos.

Equipe: Dr. Sergio De Zen (licenciado), Thiago Bernardino de Carvalho, Juliana Ferraz, Matheus do Vale Liasch, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Luiz Henrique Alves de Melo, Marcia Verweij e Ernesto Vaughn Ramello.

SOJA

Menor estoque pode sustentar preços em 2021

Cepea, Piracicaba – Mesmo com o baixo índice pluviométrico no início da semeadura da safra 2020/21, as ocorrências de chuvas em volumes mais satisfatórios desde a última dezena de outubro/20 geram expectativas de produção recorde no Brasil, estimada em 134,5 milhões de toneladas pela Conab (+7,7%) e em 133 milhões de toneladas pelo USDA (+5,6%). Ainda assim, a relação estoque/consumo final pode ser a menor das últimas nove temporadas, podendo dar sustentação aos preços domésticos de soja e derivados no decorrer de 2021. Vale observar que o maior custo operacional das aquisições de insumos – especialmente de fertilizantes – pode limitar as margens do produtor em 2021.

Os sojicultores aproveitaram os altos patamares de preços em 2020 e já negociaram mais da metade da safra 2020/21, segundo pesquisas realizadas pelo Cepea. O Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) aponta que 66,45% da temporada 2020/21 já foi comercializada em Mato Grosso – principal produtor nacional de soja.

Grande parte do volume negociado deve ser destinado à exportação. Mas também há expectativas de aumento na demanda doméstica, especialmente por parte do setor pecuário, no caso do farelo de soja. Além disso, a demanda por óleo de soja para a produção de biodiesel deve seguir elevada – e também desafiando indústrias do setor alimentício quanto ao abastecimento do coproduto.

O consumo doméstico de soja é estimado pelo USDA em 48,1 milhões de toneladas na safra 2020/21, sendo 3,46% superior ao da anterior e um recorde. Esse cenário se deve a expectativas de maior demanda doméstica por farelo, que é estimada em volume recorde, de 18,5 milhões de toneladas, 2,8% a mais que na temporada anterior. O consumo brasileiro de óleo de soja também é previsto em volume recorde, de 7,7 milhões de toneladas, 4,19% superior ao de 2019/20. Vale ressaltar que, pela primeira vez, o consumo industrial brasileiro de óleo de soja (3,9 milhões de toneladas) deve superar o uso alimentício (3,8 milhões de toneladas).

Já as exportações devem se desacelerar no próximo ano. Isso porque a China deve adquirir maior parcela de soja dos Estados Unidos, motivada pelo acordo comercial entre ambos os países. Com isso, o escoamento brasileiro de soja é estimado em 85 milhões de toneladas, 7,7% inferior ao da temporada 2019/20. Para o farelo, a queda nas exportações pode ser de 4% e, para o óleo, de 0,52%, com os embarques estimados em 16,8 milhões de toneladas e em 1,15 milhão de toneladas, respectivamente.

FRONT EXTERNO – Com a China demandando mais soja norte-americana, o USDA estima que os Estados Unidos exportem 31,25% a mais na temporada 2020/21, somando recorde de 59,87 milhões de toneladas de setembro/20 a agosto/21. Ressalta-se que mais de 50% desse volume já havia sido embarcado pelos Estados Unidos até a primeira dezena de dezembro/20.

O consumo doméstico de soja nos Estados Unidos também é previsto em volume recorde, de 63,51 milhões de toneladas, puxado pelas maiores demandas por farelo e por óleo de soja, que também devem ser recordes, estimadas em 34,74 milhões de toneladas e em 10,43 milhões de toneladas, respectivamente, pelo USDA.

Na Argentina, mesmo com as expectativas de quebra de produtividade, a produção deve crescer 2,5%, indo para 50 milhões de toneladas, ainda segundo o USDA. Desse volume, 39 milhões de toneladas devem ser destinadas ao esmagamento. As exportações de óleo de soja devem ser as maiores das últimas cinco safras, enquanto os embarques de farelo de soja podem ser os menores das últimas três temporadas. Isso porque o consumo do cereal deve ser recorde na Argentina, de 3,25 milhões de toneladas.

A China, principal importadora mundial de soja, deve adquirir no mercado internacional 100 milhões de toneladas de soja – um recorde. Isso se deve aos consumos de farelo e de óleo também recordes no país asiático, com incrementos de 8,27% e de 9,35%, respectivamente, de acordo com o USDA.

PREÇOS – Os contratos futuros de soja negociados na CME Group (Bolsa de Chicago) operam acima de US$ 11,00/bushel no primeiro semestre de 2021 e de US$ 10,00/bushel no segundo, quando a safra norte-americana é colhida. Vale lembrar que, na maior parte de 2020, os valores estiveram entre US$ 8,00 e US$ 9,00/bushel.

Essa alta externa pode refletir em uma correção nos prêmios de exportação de soja no Brasil, limitando o repasse da valorização externa. Além disso, a relativa oscilação cambial, que tende a operar abaixo dos R$ 5,00 em 2021, pode limitar as valorizações em 2021.

Vale ressaltar, entretanto, que os contratos a termo com vencimentos em janeiro e fevereiro poderão ter dificuldades de serem cumpridos, devido ao atraso na semeadura. Com isso, em dezembro/20, os prêmios de exportação, pelo porto de Paranaguá (PR) com embarque de janeiro a agosto de 2021, foram ofertados próximos a US$ 1,00/bushel – patamar recorde nominal da série do Cepea, quando analisado o mesmo período de anos anteriores.

Para 2021, a paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá (PR) indica preços de R$ 146,92/saca de 60 kg para fevereiro, de R$ 144,00 para março/21, de R$ 144,41/sc para abril/21, de R$ 145,10/sc para maio/21, R$ 146,82 para junho e R$ 147,91 para julho/21 – para este cálculo foi considerado o dólar futuro negociado na B3.

Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Natália Correr Ré, Thaís Bragion Bertoloti, Kaline Lacerda, Natália Guimarães e Maria Clara de Faveri.

SUÍNOS

Setor pode ter mais um ano favorável, apesar de alto custo de produção

Cepea, Piracicaba – Apesar dos reveses provocados pela pandemia de covid-19, a suinocultura brasileira encerrou o ano de 2020 com preços, abate e embarques recordes. Para 2021, a expectativa é de que, mesmo com o custo de produção elevado, o balanço positivo se repita. A demanda externa por carne suína deve continuar firme, sustentada pelas compras chinesas, ao passo que a procura interna deve ser favorecida pela possível retomada econômica.

Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indicam que a produção brasileira de carne suína pode aumentar 3,5% em 2021 frente ao projetado para 2020, passando para quase 4,4 milhões de toneladas. Esse crescimento é similar ao apontado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que estima alta de 3,6% na produção brasileira, totalizando 4,1 milhões de toneladas.

Do lado da demanda, a ABPA estima elevação das exportações em torno de 10% de 2020 para 2021, ao passo que os números apontados pelo USDA indicam aumento um pouco mais conservador, de 4,2%. Além da continuidade do bom ritmo de embarques para a China, há, ainda, a expectativa de incremento nas vendas a outros destinos, especialmente na Ásia.

Ressalta-se que, apesar de a comercialização com os chineses continuar aquecida, o país asiático já sinaliza a retomada gradual da recomposição do rebanho de suínos, que foi dizimado pela peste Suína Africana (PSA). Esse movimento tem deixando produtores brasileiros em alerta, diante das possíveis implicações no médio e longo prazos.

No caso da demanda interna, segundo o Boletim Focus, do Banco Central, de 31 de dezembro de 2020, o PIB deve ter crescimento de 3,4% em 2021. Ainda que essa taxa seja menor do que a projetada anteriormente, esse avanço já é um estímulo para as vendas de carne suína no mercado doméstico, que podem crescer até 2%, de acordo com a ABPA, e cerca de 3,5%, segundo o USDA. A recuperação do mercado de “food-service” tende a ser um dos pilares dessa melhora.

CUSTOS DE PRODUÇÃO – Os custos de produção devem continuar sendo um grande gargalo ao setor em 2021. Isso porque os valores dos dois principais componentes da ração, o milho e o farelo de soja, devem se manter altos neste ano, tendo em vista as aquecidas demandas interna e externa por esses grãos. Esse cenário tende a pressionar, por mais um ano, o poder de compra dos suinocultores.

De acordo com a equipe de Grãos do Cepea, em 2021, a relação estoque/consumo final de soja pode ser a menor das últimas nove temporadas, o que poderá dar sustentação aos preços domésticos tanto da soja quanto de seus derivados no decorrer de 2021. No caso do milho, os estoques também estão baixos. Além disso, a demanda firme e as incertezas quanto ao tamanho da oferta da temporada 2020/21 devem manter os preços internos do milho em 2021 em patamares acima da média de anos anteriores.

Equipe: Dr. Sergio De Zen (licenciado), Thiago Bernardino de Carvalho, Juliana Ferraz, Matheus do Vale Liasch, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Luiz Henrique Alves de Melo, Marcia Verweij e Ernesto Vaughn Ramello.

TRIGO

Câmbio e menor oferta argentina serão fatores-chave em 2021

Cepea, Piracicaba – A produção nacional de trigo, ainda concentrada no Sul do Brasil, é suficiente para suprir apenas uma parte das necessidades da indústria moageira nacional, sendo necessário, portanto, importar mais da metade do volume de trigo a ser consumido internamente. Nesse sentido, agentes brasileiros estão, neste início de 2021, atentos aos principais fatores que influenciam as compras externas, que são a disponibilidade de produto de qualidade no mercado brasileiro, o preço externo do cereal e o dólar.

No geral, o valor internacional depende da relação entre a oferta e a demanda global. No caso da Argentina – sétimo maior exportador mundial –, os valores do trigo têm relação com os parâmetros externos, mas também com políticas comerciais (o governo pode optar por restringir as vendas externas) e tributárias do próprio país.

Como a Argentina é o principal fornecedor de trigo ao Brasil, o dólar é um fator determinante ao importador. Estimativas do Boletim Focus do Banco Central indicam que a moeda norte-americana deve seguir acima dos R$ 5,00 em 2021, o que tende a manter as importações encarecidas. Conforme os dados da Secex, em 2020 (até novembro), o preço médio das importações (Free on Board) foi de R$ 1.132,39, contra R$ 895,35 em 2019.

No mercado brasileiro, com o ligeiro aumento da oferta interna por conta da finalização da colheita, normalmente as cotações se enfraquecem, tendo em vista que muitos precisam liberar armazéns para a safra de verão. Apesar disso, os preços internos em patamares recordes nominais em 2020, a atual baixa oferta de trigo de PH 78 ou maior e a necessidade de indústrias de repor estoques podem manter aquecidas as compras externas.

Dados da Conab estimam que o Brasil deve importar 6,8 milhões de toneladas entre agosto/20 e julho/21, gerando disponibilidade interna de 13,2 milhões de toneladas, acima das 13 milhões de toneladas da temporada passada.

Dessa forma, para auxiliar o suprimento das necessidades do mercado interno e aliviar a indústria moageira, a Camex (Câmara Brasileira de Comércio Exterior) renovou a cota para importação para mais 750 mil toneladas de trigo de fora do Mercosul isenta do pagamento da Tarifa Externa Comum (TEC), que seria de 10%. As compras podem ser realizadas de 18 de novembro de 2020 a 17 de novembro de 2021.

Vale lembrar que, em dezembro de 2020, a greve nos portos argentinos prejudicou a importação. Conforme a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), há preocupação relacionada à oferta para alguns moinhos brasileiros, que podem ficar sem a matéria-prima da farinha no curto prazo.

Quanto à área brasileira com trigo em 2021, por um lado, a possível queda na oferta de trigo argentino, o preço brasileiro elevado e o atraso na janela ideal para semeadura de milho segunda safra no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul podem levar produtores a ampliarem o cultivo de trigo. Por outro lado, o atual mercado atrativo do milho pode fazer com que agricultores produzam este cereal, mesmo em período mais tardio que o considerado ideal, em detrimento do trigo.

INTERNACIONAL – Conforme a Bolsa de Cereales, a produção de 2020/21 da Argentina deverá ser a menor em cinco anos, totalizando 16,8 milhões de toneladas. Conforme o USDA, a Argentina deve exportar 12,5 milhões de toneladas nesta temporada, cerca de 8,1% a menos que em 2019/20. Os baixos volumes de chuvas reduziram a produtividade e a qualidade do cereal argentino.

Em termos mundiais, a produção de trigo na safra 2021/21 está estimada pelo USDA em 773,663 milhões de toneladas, aumento de 1,2% frente ao da temporada anterior. As maiores produções na Austrália, Rússia e Canadá devem compensar as reduções na Argentina e na União Europeia. Já o consumo mundial de trigo está previsto em 757,783 milhões de toneladas, 1,3% maior em relação a 2019/20. O consumo mundial está sendo impulsionado pela maior demanda por parte de Austrália, China e União Europeia. Os estoques mundiais do cereal deverão se elevar em 5,3%, aumentando a relação estoque final/consumo para 41,8%, contra 40,2% na temporada anterior.

Quanto aos preços externos, na Argentina, os valores FOB divulgados pela Bolsa de Cereales para o trigo tipo pão indicam aumento de 18% entre as médias de 2019 e 2020, a US$ 207,77/t. Dados da Bolsa mostram elevação das cotações para março/21, para US$ 232,00/t.

Nos Estados Unidos, tomando-se como base os valores de dezembro/20, o contrato Dez/21 do trigo duro vermelho negociado em Kansas supera em 4,74% o de Dez/20. Na mesma comparação, na Bolsa de Chicago, o trigo mole vermelho de inverno registra valorização de 4,73%.

DERIVADOS – As cotações das farinhas e farelos devem ser sustentadas em 2021, devido aos altos patamares da matéria-prima – muitas indústrias moageiras operam com as margens apertadas. Além disso, alguns colaboradores sinalizam estoques mais curtos para o início do ano. Para o farelo, as valorizações do milho também tendem a sustentar as cotações deste subproduto de trigo.

Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Natália Correr Ré, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Thaís Bertoloti, Natália Guimarães e Kaline Lacerda.

HORTIFRÚTI

Setor deve retomar investimentos em 2021

Cepea, Piracicaba – No grupo das hortaliças, a expectativa é de retomada dos investimentos em área, compensando, em boa parte, as reduções em 2020. Os destaques são os segmentos industriais de batata e tomate. No caso de batata pré-frita, verifica-se, novamente, retomada de crescimento de área em 2021 (em 2020, por conta da atividade parcial do setor de food service, os investimentos foram contidos). Para a indústria de tomate, o aumento dos plantios deve compensar uma parcela da redução nos anos de 2018 e 2019.

Quanto à área de frutas em 2021, os investimentos mais visíveis são na área de manga e uva de mesa no Nordeste. Nas demais, a previsão é de estabilidade. A boa rentabilidade obtida com as exportações em 2020 pode incentivar os investimentos. Outra cultura que deve ter retomada em 2021 é a melancia, visando a recuperação da queda em 2020. Vale lembrar que, como várias frutas analisadas pelo Hortifruti/Cepea são perenes, o efeito da redução de área por conta da pandemia foi menor quando comparado ao observado para as hortaliças.

Equipe: Dra. Margarete Boteon, Daiana Braga, João Paulo Bernardes Deleo, M.a Fernanda Geraldini Palmieri, Marina Marangon Moreira, Marcela Guastalli Barbieri,Ana Clara Buzzetto de Oliveira, Ana Raquel Mendes, André Camarotti,Bárbara Rovina Castilha, Carolina Olivieri Travaglini, Caroline Ribeiro, Daniel Júdice Gonçalves, Deborah Kubo, Felipe Souza Wohnrath, Felipe Spessotto, Isabela Camargo Gonçalves, João Pedro Motta de Paiva, João Victor Silva Pereira, João Victor Vicentin Diogo, Juliana Acácio Toledo Parede, Laleska Rossi Moda, Leonardo Caires de Oliveira, Luana Chiminasso, Luana Maria Martins Guerreiro, Lucas de Mora Bezerra, Maria Giulia Barbosa Marchesi, Maria Julia da Silva Ramos, Mariana Coutinho Silva, Raquel Moreira Sabelli, Victória Ceni e Wharlhey de Cássia Nunes.

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