Primeiro a Morfina - Campinas-SP



Primeiro a Morfina

Em 1710 Selkirk e Dover aportaram em Londres com um precioso carregamento originário da captura de uma fragata espanhola de 32 canhões, e ambos ainda traziam uma riqueza pessoal. Selkirk vinha com a história de suas aventuras, que prontamente vendeu a Daniel Defoe. E Dover, que havia juntado uma enorme quantidade de noz de galha, anunciou a sua passagem de corsário a médico.

- Esplendido! disseram-lhe. E com quem vai estudar?

- Estudar? Deus do Céu! Sou um homem de quarenta anos. Onde tempo para estudar? Vou mas é começar curando os doentes.

Não iria alguém atrapalhá-lo nisso?

O College of Physicians, que era a medicina organizada da Inglaterra, teve essa idéia e chegou a entrar em ação, mas Dover mandou-os passear, e com muito tato desembaraçou-se do que considerava um clã de homens tomados de preconceitos.

Dover declarou guerra aos boticários de Londres e acusou-os de excessivos nos preços cobrados aos fregueses. E tornou-se durante sete anos a maravilha da sociedade londrina.

Depois inventou um novo remédio, combinação de ópio e ipeca que vendeu as barricas com o nome de "Pó de Dover". Esse medicamento por quase dois séculos esteve a venda nas farmácias da Europa. Droga excelente. Em pequenas doses curava todas as dores. Porém, o inventor e distribuidor do "Pó de Dover", não era homem de pequenas doses e logo pensou: "Se um grão faz bem, dois devem fazer um duplo bem", e passou a empregar o pó em doses maciças, de sessenta e até cem grãos. A medicina moderna não se atreve a ir além de cinco grãos. Os boticários londrinos, no entanto, aconselhavam os doentes a fazer o testamento antes de tomar a maravilhosa panacéia de Dover.

Durante sessenta século, tempo demais para a vida útil de um bom remédio, o ópio fez o possível para dar vitórias aos trabalhadores da medicina. Durante todo esse tempo foi a única droga com força para suprimir a dor e produzir sono sem dano a saúde do paciente, porém o capitão Dover acabou com esta segurança.

Tão violentas as suas doses, e os resultados tão terríveis, que os médicos se arrepiavam com a simples pronúncia da palavra ópio. Com isso as novas gerações de médicos criaram, por sugestão de seus professores, verdadeiro horror ao ópio. Já aos pacientes deste período não restou outra alternativa a não ser urrar de dor. Afinal, nunca matou ninguém.

Tio Cramer e seu aprendiz

O velho tio Cramer gemeu ao recolocar o grande frasco de canfora na prateleira.

- Está ficando velho, Cramer! Observou o dr. Schmidt. Precisa de um ajudante.

- Sim, murmurou Cramer passando os dedos pela testa suada. Muito velho sim Já resolvi isso. Amanhã começa a trabalhar aqui um rapaz.

- Ótimo. Quem é?

- O Frederiquinho, lá do Sertuerner - você conhece. Combinei tudo com sua mãe ontem.

O Dr. Schmidt torceu o nariz.

- Aquele? Que grande negócio você inventou! Donde veio essa trágica ideia, Cramer? você precisa aqui dum ajudante, entende? de quem trabalhe - e arranja um paspalhão que vive no mundo da lua! Vai arrepender-se da escolha, tome nota...

Cramer fez cara de concorda.

- Se, sei que é um inútil, mas a mãe está muito necessitada. O pai morreu, o dinheiro foi-se e a casa pulula de crianças. Vem para cá o Frederico... E havemos de nos arranjar.

E foi assim que em 1799 Frederico Wilhelm Sertuerner começou uma aprendizagem de quatro anos na farmácia real da pequena cidade alemã de Paderborn.

- Bom, e agora, Frederico, disse Cramer, vamos tomar a coisa a serio e trabalhar, não é assim?

- Não é.

- Oh! Como me responde dessa maneira? Explique-se.

- Eu não quero ser farmacêutico.

- Muito bem. E quer ser então?

- Engenheiro.

-Sim, engenheiro como seu pobre pai, murmurou Cramer com simpatia. Quer construir pontes, não é? e abrir estradas, levantar fontes. Bem, bem, bem. Aqui na farmácia não temos pontes a construir, mas temos de fazer muitas outras coisas interessantes.Creio que vamos nos divertir muito, meu rapaz.

- Não quero.

Cramer encrespou.

- Pois eu quero! E vai começar já. Pegue a vassoura e varra o chão, ordenou o boticário com voz determinada - e saiu dali a rosnar: Pontes, pontes! Belo serviço. Pontes...

O jovem Sertuerner estava com um plano na cabeça: atropelar o velho Cramer até ser corrido dali. Desse modo punha fim aquele aprendizado e, então, engenharia! Mas o rapaz ignorava com quem se metera.

Dois penosos e desagradáveis meses se passaram, até que um dia, lá dos fundos, Cramer o chamou.

O rapaz foi.

- Frederico, disse o velho, estou numa grande atrapalhação. Veja: esta peça entortou. A chama não dá onde é preciso. Será você é capaz de endireitar isto?

Sertuerner inclinou-se, mexeu aqui e ali, virou, revirou e por fim disse:

- Não está nada estragado. O que o senhor tem de fazer é erguer esta peça, assim, e depois fazer que a pressão se escape aqui, assim...

- Então acha que pode arrumar o aparelho?

- Claro, senhor Cramer. Em minutos deixarei a coisa funcionando.

Cramer deixou-o a lidar naquilo e saiu a sorrir de tanta segurança. Mas o rapaz cumpriu o que dissera. Na semana seguinte quebrou-se um filtro grande e igualmente Frederico o reparou. Logo depois arrumou o almofariz, e quando Cramer achou que a botica necessitava dum destilador, foi Frederico quem o construiu.

- Meu Deus! exclamou Cramer. Nunca supus que você fosse tão habilidoso, Frederico.

- Oh, senhor Cramer, isto não é nada. Deixe aparecer aluma coisa mais seria em que eu possa mostrar-me.

Sob a hábil conduta de Herr Cramer o jovem aprendiz nem sequer suspeitava do que vinha sucedendo. Ele consertava a balança - aprendia a pesar drogas. Rearrumava sob um plano novo as prateleiras - e decorava a longa lista dos nomes das drogas. E aprendia a servir os fregueses, a aviar receitas, e mesmo a tagarelar mexericos do dia e debater pontos teológicos com o padre local. Chegou até a arrasar aquele louco Napoleão que reinava na França, numa cavaqueira como burgomestre.

- O que não posso entender, disse Frederico a sua mãe, é como antigamente Herr Cramer pode arranjar-se sem mim.

Não. Fredrico não conhecia aquele velho. Depois que Cramer viu o aprendiz familiarizado com as tarefas triviais, planejou coisas mais altas.

- Amanhã, Frederico, quero que me ajude num negócio. Estou vendo se descubro o meio de medir o teor de acido benzóico da tintura de funcho. Tem alguma idéia a respeito?...

- Claro que tenho, Herr Cramer. Não ignoro o que é preciso fazer. Esta tarde mesmo cuidarei disso.

E depois da tintura de funcho veio o estudo do bórax, e da noz de galha, e do carvão animal, e do tanino, e da porcentagem de salitre na beterraba. Cramer apanhava essas idéias no ar, como moscas. Era o começo da pesquisa de laboratório, coisa que Cramer nunca fizera antes. E não a estava fazendo agora - apenas a sugeria a Frederico e desse modo o punha no trabalho. E foi assim até que certa manhã o próprio Frederico propôs uma pesquisa.

- Herr Cramer, disse ele, já ouviu falar da pequena Anna Wollenberg?

- A filhinha de Frau Wollenberg? Que aconteceu?

- Oh, algo terrível. Estava brincando perto do fogão e a mãe derramou-lhe uma chaleira de água fervendo em cima. Queimou-se toda, a coitadinha, na cara, nos ombros, nos braços. Passou a noite inteira gritando de dor - e isso é horrível.

- Deus do Céu! Exclamou Cramer. E não chamaram o médico?

- Oh, sim, o Dr. Schmidt esteve lá e deu-lhe ópio, muito ópio, mas de nada adiantou.

- Não fez efeito?

- Nenhum, Herr Cramer. O Dr. Schmidt diz que com certeza nós aqui erramos - demos qualquer outra coisa em vez de ópio.

O queixo de Cramer caiu.

- Impossível! Eu mesmo aviei a receita, disse em seguida. Lembro-me de haver descido da prateleira o frasco de ópio. Não pode haver engano. Oh... aí vem o médico. Espere. Deixe-me falar com ele.

Mortalmente cansado e sombrio, os olhos vermelhos por falta de sono, o doutor foi entrando.

- Frederico acaba de contar-me o caso lá da menina, disse Cramer depois da troca do bom dia. Horrível! Mas quanto ao ópio posso assegurar que não houve engano nenhum. Eu mesmo aviarei a receita...

- Eu sei, interrompeu o doutor, mas há qualquer coisa errada nisso, Cramer, e quero descobrir o que é.

- Errada? Como?...

- No ópio. Há qualquer coisa errada aí e hei de descobrir.

- Mas, eu...

- Escute. O ano passado você me vendeu ópio para Hess Weiss e o coitado padeceu mais com a droga do que com a gota. Três meses depois, o ópio daqui quase matou a criada do Bergmann - deixou-a inconsciente três dias. E agora esta cataplasma de ópio que apliquei na pequena Anna fez o mesmo efeito que nada. Cramer, não estou acusando você, mas o seu ópio não presta. Não posso mais confiar nele.

- Eu sei porque é, murmurou uma voz.

Os dois homens voltaram-se e deram como jovem Sertuerner de pé na porta. O médico, irritado, fez-lhe um gesto de arreda.

- Cuide de sua vida. Isto não é da sua repartição.

Depois que o médico saiu, Cramer chamou o aprendiz.

- Frederico, que quis dizer com aquilo?

Sertuerner tomou o frasco de ópio da prateleira, sacou a rolha e derramou sobre a mesa um montinho de pó, perguntando:

- Que é isto, Herr Cramer?

- Ora que é isso! Ópio, está claro.

- Puro?

- Certamente que puro - o mais puro que há. Mas estou compreendendo o alcance da sua pergunta, Frederico. Quimicamente, não é puro. É uma mistura de coisas. Há aí vários óleos e sais, e talvez alguns ácidos e ainda mais coisas.

- Acha que todas estas coisas são necessárias ao ópio para que ele revele as suas propriedades dormitavas e aliviadoras da dor?

- Ignoro-o, Frederico. Não sei. Não sei. Que é que você pensa?

- Penso, Herr Cramer, que nesta salada de coisas de nome ópio, uma só faz efeito - as outras são enchimento. Logo, se uma cataplasma de ópio não produz efeito, é que não há nela bastante dessa coisa essencial. E se a dose de ópio é forte demais, isso quer dizer que há nela excesso dessa coisa essencial.

Cramer aprovou de cabeça, lentamente, e o rapaz prosseguiu:

- Muito bem. Se pudermos extrair essa coisa essencial e por fora o resto, ficaremos só com o que importa. Ficaremos com a coisa pura. Poderemos então pesa-la com a maior precisão e usá-la de modo a obter os efeitos máximos sem cair na dose que prejudica o doente.

Cuidadosamente Cramer fez voltar ao frasco os grãos de ópio derramados sobre a mesa, espanejou as mãos e olhou para o aprendiz.

- Escute, Frederico, disse ele por fim. Talvez eu saiba o que você está querendo dizer. Talvez não saiba. Você falou na existência de qualquer coisa neste ópio. Como sabe que há qualquer coisa? Já a viu? Já a tocou? Já a provou? Não. Ninguém nunca fez isso. Ninguém nunca extraiu qualquer coisa de droga nenhuma - nunca!

- E não poderíamos tentá-lo, Herr Cramer?

- Não. Eu não vou meter-me nisso. Escute: ainda que haja essa qualquer coisa, não sabemos como descobri-la. Se existe, levará anos para ser descoberta. E, ademais, este meu laboratório só serve para pequenas experiências como as que temos feito, não para uma dessas. Muito perigoso e não sei por que não gosto - e o velho boticário colocou o vidro de ópio em seu lugar. "Mas se por acaso Herr Sertuerner pensa de modo diferente e está disposto a fazer os estudos á noite, das seis ás dez, poderá utilizar-se daquele ópio ali da última prateleira do depósito..."

Cramer previra com muito acerto. Aquele negócio do ópio era coisa muito mais complicada que a tintura de funcho ou o carvão animal. Anos se passaram sem que Sertuerner chegasse a qualquer resultado. E completou o aprendizado, submeteu-se aos exames de farmácia e votou ao ópio, sempre sem nada conseguir.

Noites e noites o novo farmacêutico, ali com Cramer, realizava experiências novas, conforme as idéias lhe iam vindo.

E assim foi até que uma dessas idéias deu resultado. Ao dissolver certa quantidade de ópio num ácido, processo simples que já usara meses antes, ele ponderou sobre o que sucederia se aquela solução ácida fosse neutralizada pela amônia alcalina.

Tomou o frasco de amônia e cuidadosamente despejou-a na solução de ópio, a qual se aqueceu, reação da amônia com o ácido, depois resfriou. Súbito, como se um mágico houvesse entrado em campo, a solução transparente se fez opaca: uma vegetação de cristais havia brotado no fundo do recipiente.

- O ópio é pardo e estes cristais são cinzentos, observou Sertuerner. Logo estes cristais não são de ópio...

Quem sabe? Quem sabe se não era aquilo a tal qualquer coisa que fazia cessar as dores?

Sertuerner tirou a prova, a qual resultou negativa.

- Não importa, aconselhou Cramer. A descoberta pode ter seu valor. Escreva uma comunicação científica e mande-a a alguém, ao professor Trommsdorff, por exemplo.

Sertuerner, então com vinte anos, ia começar a aparecer.

Sentou-se á mesinha e escreveu uma simples carta ao grande Trommsdorff, da Universidade de Erfurt. Descreveu o novo corpo e terminou com excusas: "Não posso determinar se é algo novo ou algum composto já conhecido, porque minhas ocupações comerciais privam-me de mais amplos estudos. Mas acho que o assunto merece a atenção dos especialistas, em vista do grande papel do ópio na medicina..."

Trommsdorff riu-se. "Estes meninos curiosos! Confundem brincadeiras de criança com investigação científica", mas apesar disso publicou a carta em seu jornal.

Nem Trommsdorff, nem Sertuerner, nem ninguém suspeitava da existência naqueles cristais cinzentos duns cristais brancos que iriam operar a maior revolução na medicina.

Meses passou Sertuerner a estudar aquilo antes que a intuição de verdade lhe viesse. Por fim descobriu uma coisa sem sentido, deveras desnorteante: o que havia nos cristais era um álcali!

Nada da amônia alcalina que ele usara em seu processo extrativo. Era alcali que devia existir incorporado ao ópio bruto, embora, de acordo com todos os livros da época, as plantas e os derivados das plantas não contivessem álcalis.Todos os livros, portanto, estavam errados.

E aquele novo composto, aquele álcali, produzia sono, como Sertuerner verificou em ratos, gatos e cães, experiência feita muito escondida, porque Cramer não admitia a prova de substâncias desconhecidas em animais. Certa noite, muita tarde, depois de todos recolhidos, Sertuerner tomou um pouco daqueles cristais, brancos, brilhantes, sem cheiro, e dissolveu-os em xarope para disfarçar o gosto amargo. E obrigou um cão a engolir, depois de algum vacilar sobre a dose.

"Quanto dar?" "Cinco grãos?"

A dose foi de cinco grãos; o cachorro dormiu dois dias e depois morreu. Dose muito alta, Sertuerner reduziu-a á metade, e um segundo cachorro também morreu em estado de coma. Muito alta ainda.

Nova experiência realizou com doses cada vez mais baixas, até que acertou o ponto. Conseguiu assim fazer que os animais caíssem em sono profundo como o do ópio. Logo, aquele cristal branco era o que na massa parda de nome "ópio" fazia dormir. Era a qualquer coisa tão procurada!

E lá foi uma comunicação para Trommsdorff: "Tive a felicidade de encontrar no ópio uma substância até hoje totalmente desconhecida. Não é terra, nem glúten, nem resina o composto que descobri, mas algo inteiramente novo. Essa substância é o elemento narcótico específico do ópio... Princípium somniferum".

Pelos Deuses da Ciência, estava ali uma obra prima!

Um jovem farmacêutico de apenas 23 anos havia revelado o mistério do ópio. Mais que isso:havia descoberto um método, um processo de extrair os princípios essências das drogas brutas.

O Encontro da Morfina

Sertuerner chegara áquele resultado sem nenhum treino, sem auxílio de ninguém, sem dispor de laboratório bem aparelhado, nem de nada á mão dos pesquisadores modernos. Mas Trommsdorff, o grande editor, insultou-o.

Precedeu a publicidade da comunicação com uma nota editorial em que dizia: "A experiência põe em foco muitas sugestões interessantes, embora de nenhum modo possamos concluir que o trabalho sobre o ópio esteja no fim. Esperamos que estas novas alegações sejam comprovadas e muitos pontos obscuros sejam elucidados. tem havido tantos trabalhos sobre o ópio..."

Sertuerner sentiu um frio na espinha.

- Veja o que este homem diz a respeito! gritou para Cramer. Aqui. Veja o que diz aqui este idiota, este velho fanfarrão! Que sabe ele a respeito do ópio? Ah, eu vou... eu vou escrever-lhe. Vou desmascará-lo. Vou mostrar-lhe que...

- Epere, espere! exclamou Cramer. Você não vai fazer nada disso. Atenda-me: deixe passar uns dias. Arrefeça e tudo acabará bem. Faça-o por mim.

- Não! tornou Sertuerner petulantemenete. Não quero saber de mais nada. Nunca mais tocarei no ópio.

Frederico Sertuerner deixou Cramer em 1806 e mudou-se par a cidade próxima de Einbeck, no Hanover. Graças á ajuda do velho conseguiu colocar-se na farmácia local como assistente, resolvido, de muito má vontade, a limitar-se ao simples aviamento de receitas. O mundo havia lançado água gelada em sua fervura. Mas não ficou muito tempo nessa indiferença. O problema da soda caustica o interessou, depois o da potassa, e depois o galvanismo, e lá recaiu ele no experimentalismo.

Fez novas pesquisas, mas como publicá-las? "Existe uma trama não apenas contra mim, mas contra todos os alemães. Não reconhecem o que fazemos, nem mesmo em nosso país!"

E era verdade. A ciência alemã ainda não nascera. Não havia na Alemanha grandes laboratórios, nem grandes mestres de ciência. Os cientistas alemães eram desconhecidos; todas as honrras iam para os franceses, ingleses e suecos.

Desgostoso, abandonou Sertuerner o estudo das drogas e começou a fazer canhões maiores e melhores, e a aperfeiçoar os explosivos para a luta contra Napoleão, o que lhe trouxe grandes honrras. Mas eram honrras que o não honravam, e por mero acidente voltou ao estudo do ópio.

Certa noite acordou com terrivel nevralgia. "Tudo caí em cima de mim!" gemeu ele, e ficou a suportar aquela dor durante horas. Lá pela madrugada pulou da cama, foi ao laboratório, pesou uma dose do Principium somniferum trazido de Paderborn, misturou-a com xarope e bebeu-a dum trago; em seguida voltou para cama. "Se isto faz em mim o efeito que fez no cachorro, daqui a pouco estarei dormindo". E assim foi. Sertuerner só despertou depois de oito horas de sono, e já livre da dor.

Muito bem. Mais uma coisa aprendida, a inocuidade dos cristais para o organismo humano. E o fogo antigo rebrilhou em seu cerebro sobre forma de questões e mais questões. Como operavam nas criaturas humanas aqueles cristais? Quanto tempo levavam para adormecer o paciente? Quais as doses seguras? E como fazer as provas em si mesmo, se dormia em meio da experiência?

Sertuerner foi conversar com três jovens maluquinhos da cidade, que lhe asseguravam não terem medo de coisa nenhuma e convidou-os para uma sessão noturna na farmácia. Quando os rapazes chegaram, Sertuerner já estava com as doses prontas, metido, como um feiticeiro, entre aqueles filtros e frascos, mas a coragem dos moços fraquejava.

- Upa! exclamou um. Isto aqui não está me cheirando bem. Quero ar, ar...

O feitiço impediu-os de fugir.

- Não tenham medo de nada. Tudo está pronto, e teremos algo tremendamente excitante.

- Espere lá, Herr Sertuerner! Eu pensei que...

- Tolice. Não pense nada. Não há coisa nenhuma a temer. Também eu vou ingerir uma dose dos cristais mágicos. E por que não? pensou consigo. Posso acordar antes deles e a tempo de fazer as minhas observações.

Explicou tudo aos rapazes.

- Vamos cada um de nós tomar uma pitadinha deste pó branco. Primeiro, dissolvo-o, assi, no álcool, estão vendo?

E já foi dissolvendo... E agora misturo água, para que não nos queime o estõmago. Juro que não há perigo nenhum, dosezinha fraca, de meio grão. Olhe aqui. Meio grão para cada um, inclusive eu...

Os três pacientes, graves como sacerdotes oficiantes, tragaram as suas respectivas porções.

- Agora, disse Sertuerner, contem-me tudo que forem sentido. Vamos, Otto. Não está assim um tanto não sei como?

- Sinto-me engraçado, respondeu Otto. O rosto, quente.

Mas é bom, muito bom. Sinto-me deliciosamente bem...

Sertuerner tomou nota, e ficou a notar tudo quanto via, sentia ou ouvia aos três pacientes. Foram ficando eufóricos, com a respiração acelerada. Meia hora depois tomaram outra dose de meio grão.

Rapidamente Otto perdeu o ar feliz. Seu rosto empalideceu. Os outros dois, Hermann e Karl, queixaram-se de dor de cabeça e crescente torpor. O próprio Sertuerner sentiu-se tonto, mas sorria e dizia que era assim mesmo, de modo a sossegar os rapazes. E quinze minutos depois tomaram a terceira dose, mais meio grão.

Sobrevieram coisas. Otto estirou-se no chão e começou a roncar. Karl tentou manter-se de pé, mas caiu na cadeira de sono. Hermann sentiu falta de espaço e tomou o rumo da porta, mas não conseguiu alcançá-la, e estendeu-se no chão profundamente adormecido.

- Notável! Murmurou Sertuerner. Eles caem, batem com a cabeça no chão e não dão sinal de dor, e fechando o punho deu um murro na própria cabeça, e quase nada sentiu.

Esforçando-se por conservar os olhos abertos a fim de tomar notas, Sertuerner sorria diante da confirmação das suas experiências com animais. Por fim também ele caiu adormecido, e boiou em nuvens de sonho.

Horas depois. Sertuerner foi voltando a si. Readquiriu a consciência. Olhou em redor e viu que os três moços dormiam. Procurou levantar-se.

- Oh! Minha cabeça meu Deus!

Mesmo assim percebeu que o sono dos rapazes não era normal. Respirava de modo diferente. Tinham a pele como que esverdeada. Evidentemente a última dose fôra excessiva, e a essa idéia, Sertuerner despertou por completo.

- Talvéz estejam envenenados! Talvez não acordem mais, como aqueles dois cães... Tenho de fazer qualquer coisa, dar-lhes um emético, um ácido!

Lutando para manter o equilíbrio, Sertuerner encaminhou-se para a prateleira de drogas e tomou um frasco de vinagre; com esforço fez que Karl ingerisse uma dose; o mesmo com Otto, o qual protestou debilmente; o mesmo com Hermann, e por fim também tomou um gole.

Sem demora Karl voltou a si e começou a vomitar. Os outros também acordaram, fracos e enjoados, e foram para casa como bêbados.

Otto ficou. Sentia-se muito mal par sair. Amedrontado, Sertuerner deu-lhe carbonato de magnésia e o acompanhou até sua casa. A mãe de Otto os recebeu á porta e ouviu de má vontade as atrapalhadas explicações de Sertuerner.

- Ainda ei de fazê-lo amaldiçoar o dia em que veio para Einbeck, foi como a mãe de Otto fechou a conversa.

Mas Sertuerner estava habilitado a escrever a sua sensacional comunicação. Enquanto o povinho da cidade espalhava estórias absurdas sobre aquela noite de experiências na farmácia, cuidadosamente lançou no papel todas as suas descobertas e conclusões, com a descrição das propriedades químicas e médicas dos cristais. E até nome lhes deu: Morfina, em homenagem a Morfeu, deus do sono.

Depois a Quinina

Em 1621 Felipe IV subiu ao pesado e espetacular trono da Espanha apenas para ver que aquilo estava tristemente carunchento. Portugal destacava-se da união e os países baixos lutavam pela liberdade. Em casa a corrupção e o desgoverno eram grandes, e fora o comércio espanhol abatia-se diante da impetuosa impertinência dos franceses, ingleses e holandeses.

Uma possessão espanhola, entretanto, ainda estava intacto, o maior império colonial que o mundo ainda conhecera, pois ia do extremo da América do Sul ao golfo do México.

Em 1628 Felipe havia entregue o governo desse imenso território a Don Luiz Jerônimo Fernandes Cabrera Bobadilha y Munhoz, Alcaide hereditário de Segovia e Conde de Chinchon, além de senhor de dezoito cidades do reino de Toledo.

O novo vice-rei casou-se e navegou para as Américas, onde fez solene entrada em Lima, capital do Peru e centro do poder espanhol no Novo Mundo.

Certa noite, anos mais tarde, o Conde advertiu a condessa ao jantar:

- Olhe, querida, um mosquito no seu pulso.

- Um mosquitinho apenas, respondeu a condessa despreocupada, e espantou o intruso.

Era na realidade um mosquitinho, mas dois dias antes havia ele lanchado no sangue de um indígena malariento e naquela noite ceara no da Condessa, deixando em paga da conta uns tantos germes da malaria.

Uma semana depois a Condessa despertou pela madrugada e pediu água.

- Estou ardendo... Minha pele queima... Quero água!

Mas logo a febre desapareceu, para dar lugar a tal tremura que ela chegava a sacudir o pesado leito.

Chamam apressadamente Don Juan de Vega, médico do vice-rei, o qual não vacila no diagnóstico:

- Malária. Os sintomas são inconfundíveis.

Seis dias de febre se seguem, com a bela condessa a desaparecer. A fraqueza ia se acentuando e os acessos eram cada vez mais fortes e acompanhados de delírio. A notícia espalhou-se. Multidões de nativos ficavam á espera de informações nos pátios do castelo. Em todas as igrejas ardiam círios e murmuravam-se orações pedindo aos céus o restabelecimento da condessa.

Derepente entra no castelo um rapaz indígena, coberto de suor e pó, com qualquer coisa na mão, trazida duma aldeiazinha do norte. Eram bocados de casca de uma árvore e uma carta do magistrado espanhol de Loxa.

"Alteza, humilde e respeitosamente tomo a liberdade de enviar pelo portador certa quantidade de cascas da árvore quina quina aqui deste distrito. Pode tornar-se aceitável ao paladar, se for moída e posta em vinho forte, e queira Deus que esse remédio liberte a infortunada condessa da mortal doença. Anos passados essa casca me salvou de semelhante febre..."

O conde imediatamente chamou o medico.

- Que pensa disto, Don Juan de Vega?

- Alteza, não posso responder com segurança. Esta... Esta casca de quina quina me é de todo desconhecida. Jamais a vi na Espanha. Não vem descrita nas obras em que estudei. Preciso de algum tempo para formar idéia a respeito.

- Mas não há tempo, Don Juan de Vega! A condessa, segundo me disse o senhor mesmo esta manhã, pode vir a falecer mais dia, menos dias. Ora, assim sendo, quero que lhe administrem esta casca, sob a minha responsabilidade.

E a casca da misteriosa quina quina foi reduzida a pó, misturada ao vinho e dada á condessa, segundo a rude prescrição do magistrado de Loxa. Da tantas em tantas horas a paciente tomava uma dose, e no segundo dia o conde e o médico principiaram assistir a um milagre. Os acessos de febre foram se espaçando e enfraquecendo. Não havia duvida: a condessa tinha começado a melhorar.

Dias depois Don Vega jurou que o milagre se realizará: a condessa estava curada! Mas a ilustre dama não quis ficar mais tempo no Perú.

- O doutor acha bom que eu volte para a Espanha, disse ela ao marido. Pensa que minha saúde é muito delicada para resistir aos assaltos desta doença. Também opina que poderei levar uma quantidade da casca milagrosa para a Espanha a fim de curar as febres de Sevilha e Madri, e nas nossas propriedades do tejo e do Tajunha.

A condessa deixou o Peru, mas depois de uns dias foi de novo assaltada pela doença. Dessa vez droga nenhuma pode salvá-la. Morreu à caminho, sendo enterrada perto de Cartagena, na Colombia. Mas as cascas seguiram para a Espanha.

Quer dizer que faz 300 anos que a condessa de Chinchon introduziu na Europa um dos maiores dons da natureza á humanidade: o remédio contra a malária. Era o primeiro específico jamais descoberto contra qualquer doença.

Pelo mundo inteiro o homem lutava sem esperança contra a malária, de modo que a Espanha olhou para a milagrosa droga não só como benção do céu como uma grande riqueza em perspectiva. O primeiro carregamento vindo do Peru foi vendido por valor maior que o seu peso em ouro.

- Por que havemos de escavar a terra em procura de ouro, se uma casca mais valiosa que o ouro abunda nas florestas? E o comércio da quina começou.

Em honra a condessa de Chinchon os botânicos mudaram o nome da árvore da quina quina para Chinchona.

Em meados do século XVIII, uns tantos pesquisadores europeus começaram a atentar na Chinchona. Muito interessante para a ciência saber o que é que tal casca tinha; já o homem da simples pratica só procuravam um meio de distinguir entre a Chinchona pura e a adulterada.

Vieram numerosas alegações, da Suécia, da França, da Alemanha, de Portugal, Rússia e Escócia, sobre o encontro do princípio essencial da Chinchona. Em Paris, um Armand Seguin, negocista e falsificador de drogas já com uma estada na prisão, anunciou a notável, e falsa, descoberta de que a boa casca de Chinchona era rica em gelatina..."É nessa gelatina que está o princípio ativo da casca. É a gelatina que cura a malária!" Mas a gelatina não cura coisa nenhuma, como o próprio Seguin o verificou e também os pobres médicos que a seu conselho se puseram a tratar os malaricos com produtos gelatinosos.

Dois jovens químicos de Paris, Pierre Joseph Pelletier, rapaz de 29 anos, filho de farmacêutico e já professor na Escola de Farmácia, e Joseph Bienaimé Caventou, estudante de farmácia com 24 anos, reuniram-se pela primeria vez em 1817, ano em que apareceu o relatório de Sertuerner sobre a morfina, devorado com avidez pelos jovens cientistas.

- O método deste homem é admirável, disse Pelletier. É simples e eficientíssimo. Se por este processo ele encontrou a morfina no ópio, talvez possamos encontrar outros princípios ativos em outras plantas.

E começaram os estudos com a ipeca, um novo emético vindo da América do Sul, boa para a disenteria, e disso saiu a emetina. Depois se voltaram para a venenosa Strychnos ou noz vômica e dessa planta extraiam um poderoso veneno que causava a morte depois de convulsões, espasmos, espuma na boca, o terrível rictus sardonico, "riso sardonico", provem da Sardenha, pátria da strychnos. Pelletier e Caventou pensaram em dar ao novo produto o nome de "vauqueline", em honrra a um grande amigo Monsieur Vauquelin; mas foram aconselhados a desistirem da idéia. Vanquelin podia não gostar de ver o seu nome ligado a um tão cruel veneno, e o nome adotado foi o de strychnine, ou estriquinina.

As experiências de laboratórios mostravam que tanto a emetina como a estriquinina assemelhavam-se á morfina de Sertuerner. Atuavam como álcalis, regiam como álcalis, tinham todas as propriedades dos álcalis, embora não tivessem a fórmula dos álcalis.

- Surge aqui, proclamou na Alemanha o químico Meissner, toda uma nova família de produtos químicos. Provêm todos das plantas, são orgânicos, mas pelas suas semelhanças com os álcalis podem ser chamados de alcalóides.

Pelletier era acima de tudo um farmacêutico pratico e também um homem prático. "Estes novos alcalóides, disse ele, são muito interessantes, mas de pouca utilidade. Que valores comerciais podem ter? A estriquinina, a brucina, a veratina e o resto não passam de curiosidades científicas, sem interese para ninguém. Precisamos descobrir coisas mais preciosas".

Caventou abriu o caminho. Era um rapaz sempre alerta, muito perguntador, dos que metem o nariz em tudo e não perdem nada. Vivia fazendo cem coisas ao mesmo tempo, e pensando em mil outras.

Embora colaborador de Pelletier naqueles trabalhos, seguia também as lições do professor Thénard a seguinte observação: "Demos com uma coisa interessante. O professor pediu-me ontem que preparasse um extrato de Chinchona para demonstração na aula, e meu extrato me pareceu extremamente alcalino; e fui eu então e..."

Bastou aquilo. Caventou sacou fora o avental e foi voando ao encontro de pelletier.

- Pierre, precisamos começar imediatamente a estudar a Chinchona!...

Pelletier franziu a testa. A ele, como o superior hierarquico naquela dupla, é que competia sugerir os trabalhos a serem feitos.

- Por que precisamos estudar a Chinchona? pergunta irônica e friamente.

- Porque é a mais importante das drogas, respondeu Caventou. Cura a malária, uma doença que mata milhares de criaturas, talvez milhões anualmente.

- Bem, disse Pelletier, se é essa a razão, nesse caso temos de nos voltar para a tuberculose ou a peste, que mata mais gente, mata muito mais milhões.

Caventou não se deu por vencido.

- Pode ser verdade, mas a malária... Olhe: a Chinchona cura a malária. Sabemos disso! E na Chinchona há um alcalóide...

- Espere! Gritou Pelletier. Quem disse que há um alcalóide na Chichona? Onde ouviu isso?

- De monsieur Labillardiere, no laboratório de Thénard. É um dos seus assitentes. Disse-me esta manhã que havia preparado um extrato de Chinchona e o gosto era alcalino...

- Gosto alcalino? Isso não quer dizer nada. Talvez alguma impureza, um pouco de potassa ou soda. Esse gosto não prova que na Chinchona haja alcalóide, mas... Joseph, meu amigo, vamos ler o que há a respeito da Chinchona...

E os dois, lançando-se aos livros e velhos jornais, enfronharam-se do que havia sido feito em diversos países e sobre tudo em Portugal por um Dr. Gomes. Vários estudiosos já tinham encontrado na casca da Chinchona certos produtos químicos, nenhum dos quais, porém, curava a malária, nem parecia alcalóide. O que, aliás, não era de estranhar, porque nenhum deles havia procurado o alcalóide. E se aquelas experiências fossem repetidas segundo o processo de Sertuerner? ou segundo os desenvolvidos por eles mesmos?...

Mas quais, de tantas experiências, deveriam repetir? Depois de muita ponderação decidiram-se pela do Dr. Gomes.

Decoraram o processo, adicionaram melhoramentos e começaram.

A coisa era prodigiosamente simples. Aquilo que a Sertuerner custara anos de trabalho, aos dois franceses só tomou dias. Extraíram por meio do álcool o suco da Chinchona, adicionaram um pouco d'água e em seguida potassa, e nessa solução viram formar-se aglomerados de cristais brancos que, redissolvidos e novamente precipitados, deram um produto branco e brilhante. E os dois extasiados experimentadores tiveram a intuição de que ali estava um puro alcalóide, o específico da malária!

Mas erraram. Aquilo era a mesma coisa que Gomes havia revelado, apesar da modificação da técnica. Se eles tivessem parado naquele ponto teriam alcançado apenas um dos componentes da Chinchona, sem força para a cura da malária. Caventou, entretanto, que era inesgotável, salvou tudo.

- Espere, disse ele, vamos trabalhar mais um pouco antes de preparar a comunicação. A nossa experiência foi feita com a casca parda; façamos a mesma coisa com a casca amarela.

- Ora, ora! Volveu Pelletier. Casca pardas ou amarelas não passam da mesma coisa. Tudo é casca de Chinchona.

- Não é, não! Eu conheço um homem que...

- Bah! exclamou Pelletier. Você anda sempre com essas histórias dum homem que...

- Espera, espera um minuto, insistiu Caventou. Esse homem sabe o que diz. É um médico. Escreveu um livro sobre a malária e diz que... Que é mesmo que ele diz? Ah! Diz que as cascas de Chinchona variam, ou pelo menos não produzem o mesmo efeito na malária. Disse que a amarela é que é a boa. Está vendo?

- Vendo? Vendo que?

- Oh!... E Caventou coçou a cabeça desanimado.

Preste atenção. Eu disse que extraímos o alcalóide da casca escura, está ouvindo?

- Continue.

- Mas a casca escura é pobre, a amarela é que é a boa. E que sabemos nós da casca amarela, responda...

- Nada, está claro, porque não a estudamos.

- Pois é isso! É isso que estou insistindo: precisamos estudar a casca amarela.

E a nova experiência começou. Com a melhor casca amarela existente no mercado repetiram a experiência com grande rigor, e nada de obterem cristais brancos, nada senão um precipitado pegajoso, uma espécie de goma que não se cristalizava de maneira nenhuma. Produto amargo e solúvel em ácidos e no álcool, e, ao contrário do primeiro, solúvel também no éter. Evidentemente era uma coisa nova.

A descoberta foi descrita em 1820, tempo em que Pelletier estava com 32 anos e Caventou com 27; e ao novo alcalóide deram um nome tirado da denominação peruana da Chinchona:quinina.

Estava alí o específico da malária!

Não tinham os dois farmacêuticos, no começo, nenhuma certeza disso. Encontravam-se com dois produtos diferentes, a serem experimentados no organismo humano. E concluíram a comunicação já iniciada manifestando a esperança de que algum hábil médico, "dos que reúnem a paciência á sagacidade", fizesse as indispensáveis aplicações em seus doentes.

Tais provas não tardaram a ser feitas, e o resultado foi que se os primeiros cristais eram inócuos, o segundo produto, a quinina, produzia efeitos notáveis.

Texto adaptado por Mara Danusa do livro: Mágica em Garrafas. A História dos Grandes Medicamentos. Autor: Milton Silverman.

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