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25/10/2006

Cara Arai Megumi, tudo bem?

Seguem as nossas respostas ao seu questionário.

Qualquer dúvida, favor entrar em contato, pois teremos grande prazer em atendê-la.

Um grande abraço,

Renato Motha e Patricia Lobato

1. Como é que surgiu a idéia de regravar as canções de "domínio popular" e de valsas e modinhas?

Desde criança, eu, Renato, ouvia na voz de minha mãe as canções de domínio popular (valsas e modinhas), e só mais tarde pude perceber a riqueza daquelas canções que povoaram minha infância.

Em 1998, elaborei um projeto com o objetivo de registrar juntamente com Patricia, em disco, parte desse repertório numa leitura pessoal, preservando-lhe a essência.

2. Sua mãe, a senhora Zaíra, também está participando do disco.

Ao ver seu release no site oficial, parece que a influência da mãe também foi o motivo de fazer este disco. Estou certa? Se for, poderia me dar mais detalhes?

Certamente a influência de minha mãe foi marcante para gravarmos este disco. Ela nunca teve um estudo formal de música, mas sempre teve uma bela voz e canta com muita emoção. Hoje está com 74 anos de idade e ainda atua efetivamente como cantora em todos os eventos da igreja de sua comunidade.

3. Poderia me explicar sobre "modinha"? Esse gênero musical como é que nasceu e agora como é que o povo brasileiro aceita hoje?

A modinha é um estilo musical originário de Portugal e muito usado pelos seresteiros (músicos e cantores que costumavam tocar às altas horas da noite pelas ruas das cidades), principalmente nas cidades do interior do Brasil.

Algumas modinhas datam de quatrocentos anos atrás! É uma tradição popular, em que a maioria das músicas é de domínio público.

Por ser um estilo musical tradicional, os brasileiros tendem a considerar as modinhas como uma relíquia, algo precioso que fez parte do passado musical e está sendo redescoberto nos dias de hoje, servindo de matéria-prima para a produção da música brasileira contemporânea.

4. E a "modinha" tem qual relação com Minas Gerais? Será que no fundo dos músicos mineiros tem influência da modinha?

As cantigas, temas folclóricos, cirandas, serestas, valsas e modinhas são parte do inconsciente coletivo mineiro e brasileiro.

Acreditamos que a influência da modinha está na essência musical de Minas, até mesmo pelo fato dos músicos mineiros possuírem vocação natural para serem cancioneiros, um estilo que muito privilegia a melodia e a harmonia.

5. Qual é o seu sentimento acabando de produzir este disco?

Sentimos grande alegria por resgatar e levar ao conhecimento das novas gerações parte do enorme, mas pouco difundido manancial de jóias existentes na cultura musical do nosso país, através de um trabalho simples e delicado, que promove um contato direto com a emoção.

6. Tem algumas coisas que deu mais importância comparando com outros discos que já produziram?

Foi a primeira vez que produzimos um álbum com obras enraizadas na cultura popular, que possuem caráter perene e por isso mesmo nunca perdem o viço do novo. Além disso, foi o primeiro disco em que atuamos exclusivamente como intérpretes.

7. Quanto ao repertório, as músicas são as quais vocês conheciam há muito tempo? Ou escolheram para produzir este disco?

Como falei anteriormente, a maioria das músicas do repertório fez parte da minha vida desde a infância. Para a gravação do disco, fiz a seleção do repertório junto à Patricia, e escolhemos uma amostra do que consideramos mais bonito e representativo naquele momento.

8. E as músicas são bem conhecidas pelos brasileiros, especialmente pelos mineiros?

A metade das músicas são conhecidas sim, mas a outra metade não. Algumas fazem parte do período conhecido como “Época de Ouro”, que corresponde à primeira metade do século XX, principalmente nos anos 30, quando essas canções faziam parte do contexto musical daquela época. Outras são ainda mais antigas, e também menos conhecidas, mas nem por isso menos bonitas.

9. Para os japoneses, as músicas do repertório não são muito conhecidas. Poderia me dar as informações de cada música concisamente?

1) MORENA MORENA – domínio popular

Pequena canção com uma linda melodia tocada em ritmo de bossa.

2) PRENDA MINHA – domínio popular

Canção folclórica brasileira oriunda do estado do Rio Grande do Sul. Essa música foi gravada por Miles Davis por volta dos anos sessenta. Há poucos anos atrás, foi gravada também por Caetano Veloso.

3) EU SONHEI QUE TU ESTAVAS TÃO LINDA – Lamartine Babo e Francisco Mattoso

Belíssima valsa da “Época de ouro”. Essa música é muito conhecida, tendo feito grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves.

4) BODAS DE PRATA – Roberto Martins e Mário Rossi

Mais uma valsa, com as mesmas características da anterior, também de sucesso na voz de cantores como Orlando Silva e Sílvio Caldas, composta no mesmo período.

5) TIM TIM - domínio popular

Cantiga folclórica oriunda do cancioneiro popular de Minas Gerais.

6) SABIÁ LÁ NA GAIOLA – Hervê Cordovil e Mário Vieira

Essa delicada cantiga é amada pelas crianças, e por isso, todos pensam que se trata de uma cantiga de domínio público, mas não é.

7) É A TI FLOR DO CÉU – Teotônio Alves Pereira e Modesto A Ferreira

Canção tradicional nas rodas de seresta em Minas Gerais. Esta foi a música escolhida por mim para a participação de minha mãe Zaira no disco. Foi sua primeira gravação em CD.

8) RÓSEAS FLORES D’ALVORADA – domínio popular recolhido por Mário de Andrade

Essa é uma modinha imperial. Estima-se que seja do século XVIII.

9) ADEUS SARITA - domínio popular

Cantiga de domínio popular do centro-oeste brasileiro.

10) PINGO D’ÁGUA - domínio popular

É também uma cantiga folclórica originária do Rio Grande do Sul.

11) CASINHA PEQUENINA - domínio popular

Um fato bastante curioso ocorreu durante a gravação de “Casinha Pequenina”. A canção foi gravada ao vivo, “de primeira”, voz e piano por Patricia e Robério, com um belíssimo arranjo escrito por Radamés Gnatalli.

Ao término, encantado por aquele momento, Otávio Bretas (designer gráfico do álbum), que estava presente no estúdio conosco, nos perguntou quem era o compositor daquela música, e prontamente respondemos-lhe que se tratava de um autor desconhecido. Exatamente nesse momento, tocaram simultaneamente o telefone do estúdio e o telefone móvel de Otávio, e para a surpresa de todos, não havia ninguém do outro lado, de ambas as linhas... ou havia?

12) QUEM SABE? – Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio

Tráta-se de uma lindíssima e muito conhecida modinha de Carlos Gomes, um dos maiores compositores clássicos do Brasil.

13) Na Bahia tem – Domínio popular

Um pout- pourri de antigas cantigas em ritmo de samba.

10. Se já tiverem as idéias que vocês queiram realizar nos próximos discos, poderiam me contar?

No início do próximo ano estaremos lançando um trabalho inédito na nossa carreira, o CD Shabads – sons para a paz, em que interpretamos mantras da tradição indiana revestidos pelos ritmos, melodias e harmonias mineiras.

Faz parte de nossos projetos futuros gravar o volume II de “Antigas Cantigas Brasileiras”, e aqui vai uma relação de músicas que possivelmente farão parte do repertório do próximo volume:

1) Azulão – Jayme Ovalle e Manuel Bandeira

2) Balaio / Alecrim – Domínio popular

3) Santa Clara – Domínio popular / Sereno – Antônio Almeida / Sereno da Madrugada – Domínio popular

4) A Roseira / Esta Noite / Rosa Amarela – Domínio popular

5) Você gosta de mim? – Domínio popular / Amo-te muito – João Chaves – Domínio popular

6) Luar do Sertão – Catullo da Paixão Cearense

7) Nesta rua – Domínio popular

8) Modinha – Sérgio Bittencourt

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