CELEBRIDADE - O Liquidificador



CELEBRIDADE

SINOPSE

de Gilberto Braga

(segundo tratamento - maio de 2002)

escrita com:

Angela Carneiro

Beth Jhin

Filipe Miguez

Leonor Bassères

Márcia Prates

Sérgio Marques

colaboração:

Marília Garcia

direção de núcleo:

Dênis Carvalho

Você pode ser o próximo!

Há décadas são visíveis os primeiros sintomas, os sinais se intensificam. Mas foi sem dúvida o progresso da tecnologia e das comunicações que tornou a caça à CELEBRIDADE um esporte mundial.

Desde que surgiu na terra, o ser humano foi competitivo. Na tribo, na aldeia, na aldeia vizinha, no país, no país dos outros, por mares nunca dantes navegados. E no pequeno mundo de idéias e talento, que sempre agitaram sonhos e ideais. Com a explosão das comunicações, a globalização ilimitada, veio o tiro para a corrida total pelo sucesso e celebridade. Vale-tudo sem tréguas. Os quinze minutos de fama de Andy Warhol se tornaram ainda mais curtos. Que eu seja melhor do que ele enquanto dure, três minutos, dois, um, trinta segundos. Brilhar no mais curto dos lampejos em qualquer campo. De preferência sem precisar de talento, anos de estudo, beleza. Se há tantos e quem elege é a sorte, não basta estar no lugar certo no momento exato? Ver o rosto na revista, os gestos e a voz na TV, o nome urrado por milhares de bocas adolescentes. Mas... quando a vizinha não tiver mais inveja, a colega despeito, ninguém o reconhecer na rua, de que servirão os instantes de glória?

Por isso esta história junta às batalhas de amor, à vilania, ao bem contra o mal, a mais atual e irresistível das personagens: a CELEBRIDADE, suas exigências, desafios, escadas de glória e degraus do inferno. Claro, há sábios e mestres trancados em laboratórios, artistas a criar novas formas de beleza e expressão. Mas a multidão que sonha ver o nome brilhar em quilômetros de néon sem esforço, sem motivo nem explicação, decididamente pesa mais na balança. Como a maioria dos personagens que vamos conhecer. Que querem sucesso a todo custo ou qualquer notoriedade, o close na TV ou a foto no jornal. E até quem já é famoso e por isso pode desejar... o anonimato.

Uma linda produtora de shows bem-sucedida - quase destruída pelo sucesso e a inveja, no amor e no próprio mundo em que trabalha. Uma jovem aventureira ambiciosa disposta a conquistar o mundo como puder. Um executivo notavelmente realizado - e angustiado pela culpa de ter abandonado aqueles que mais ama (mas que não desistiu de ser feliz). Amor, ambição, inveja, decência, falta de escrúpulos, compaixão, insensibilidade. Vaidade e solidão. Em um mundo em que todos querem acima de tudo ser famosos, em que alguns o conseguem, e em que o sucesso parece não ter relação mais do que casual com talento e esforço, se todos os caminhos levam à fama. Ou... não?

Personagens principais em ordem alfabética:

(para facilitar a leitura da sinopse)

Ademar - 48, assistente de Ernesto, pai de Darlene, simpático.

Ana Paula - 35, irmã de Maria Clara, casada com Nelito, 3 filhos.

Beatriz - 36, mulher de Fernando, mãe de Inácio, filha de Lineu Valadares.

Bruno Carvalho - 29, fotógrafo muito bem-sucedido. Encantado por Laura.

Chico Quintela - 61, sai da cadeia depois de 15 anos de pena por homicídio.

Corina - 62, mãe de Maria Clara e Ana Paula.

Darlene - 24, linda, gostosa, triângulo com Vladimir, Jaqueline.

Eliete - 36, irmã de Vladimir, sacoleira, muito amiga de Maria Clara.

Ernesto - 52, administrador da empresa de Maria Clara, falso.

Fernando - 37, casado com Beatriz, o protagonista. Pai de Inácio e Fábio.

Inácio - 16, filho de Fernando e Beatriz, triângulo com Sandra e Paulo César.

Jaqueline - 25, linda, gostosa, triângulo com Vladimir, Darlene.

Laura - 28, linda, a vilã, antagonista de Maria Clara.

Lineu Valadares - 64, pai de Beatriz, dono do poderoso grupo Valadares.

Marcos - 28, bonito, sexy, amante e parceiro de Laura, um crápula.

Maria Clara - 36, linda, a protagonista.

Nelito Moutinho - 39, marido de Ana Paula, profissional problemático.

Noêmia - 39, mãe de Paulo César, assistente de Maria Clara, ama Ubaldo.

Paulo César - 21, filho de Noêmia, triângulo com Sandra e Inácio.

Renato Mendes - 28, colunista inteligente, bonito, cínico e fascinante.

Salvador - 61, pai de Fernando, barbeiro, amigo de Lineu e Chico Quintela.

Sandra - 16, filha de Ana Paula e Nelito, amor com Paulo César e Inácio.

Ubaldo - 45, jornalista decadente, pai de Zeca, ajudado por Noêmia.

Vladimir - 27, irmão de Eliete, bombeiro orgulhoso de sua profissão.

Zeca - 9, filho adorável de Ubaldo.

Hugo - 22, bonito, encantador, apaixonado por Maria Clara (part. especial)

Otávio - 32, bonito, sedutor, namorado de Maria Clara (part. especial)

Sinopse:

Maria Clara Diniz, apesar de muito jovem, 36 anos, é uma extraordinariamente bem-sucedida produtora de shows musicais, brasileiros e estrangeiros, e empresária de artistas do ramo. Linda, inteligente, tornou-se, ironicamente, famosa a partir de uma tragédia. Ainda estudante, namorava um cantor-compositor de sucesso, Wagner Lopes. "Musa do Verão", canção composta para ela, estoura no Brasil e no mundo em 1988, com o título internacional de "Summer Spell". Como "The girl from Ipanema", de Tom e Vinicius, ou "Summer Samba", de Marcos e Paulo Sérgio Valle, a canção é ouvida no mundo todo. Negocia-se licenciamento do perfume e linha de cosméticos "Summer Spell". A linda Maria Clara, para quem a música original foi composta, torna-se conhecidíssima como modelo exclusivo da marca. O namorado cantor-compositor marca o casamento com ela. Uma grande festa é preparada. Chico Quintela, notória figura da boêmia carioca, mais conhecido por suas excentricidades e mitomania, acusa Wagner de ter-lhe

roubado a autoria da música. A acusação não é levada muito a sério, já que Quintela é sabidamente mitômano, começou sua carreira de relativa celebridade processando sem sucesso Chico Buarque de Holanda, que lhe teria roubado nada mais nada menos do que "A Banda". Em 88, ele invade tresloucado a festa de casamento. Quer que Wagner confesse publicamente ter-lhe roubado a canção. Wagner chama a polícia. Chico, armado, o ameaça. Acaba matando o rapaz ali mesmo, diante dos convidados.

Assim, a ascensão de Maria Clara ao mundo dos muito famosos começa com sangue. E, depois de algumas semanas de depressão, cresce como uma bola de neve. Porque Maria Clara é ambiciosa e muito capaz. Não se contenta nem com o rosto lindo divulgando a linha de produtos Summer Spell em revistas e outdoors, nem com os dividendos bastante atraentes que o licenciamento lhe traz. O que a acende, a inflama, é trabalhar e obter o próprio sustento na área artística. Nunca se considerou ela própria uma artista, e sim uma pessoa de especial sensibilidade, sobretudo para a música, com uma grande capacidade de identificar talentos ainda ignorados. A morte trágica de Wagner, na verdade até ajudou a vendagem do disco... e a explosão da também jovem empresária no meio musical. Aos 20 e poucos anos de idade Maria Clara já era uma das principais empresárias musicais do país. Além disso parece ela própria uma estrela. Linda, segura, o protótipo da executiva bem-sucedida, do gênero invariavelmente citado

nas reportagens sobre "histórias de sucesso" ou "a vez das mulheres", inteligente, espertíssima. Sem chegar a ser propriamente dona de grande fortuna, vive bem melhor do que apenas confortavelmente - e com muito, muito glamour. A própria mulher admirada, desejada... e invejada. Sua empresa hoje ocupa um conjunto de salas num elegante centro comercial e emprega algumas dezenas de funcionários, de técnicos em espetáculos e diversões ao piloto do helicóptero que ela recentemente pôde comprar. E tem muitos artistas - cantores, compositores, instrumentistas - sob contrato, entre eles alguns dos principais do país. Maria Clara Melo Diniz e sua firma são dos que mais know-how no Brasil juntaram em produção de espetáculos musicais, dos mais intimistas aos de repercussão mais estrondosa, inclusive no exterior. Nestas últimas quase duas décadas, no mínimo de poucos em poucos anos Maria Clara tem tornado realidade pelo menos um mega-evento noticiado nas principais capitais do mundo, assim como

revelado pelo menos alguns grandes talentos. E, no momento em que se inicia a história, ela está, além de tudo e depois de tanto tempo dedicada quase só ao trabalho... apaixonada.

Maria Clara acha sinceramente que afinal encontrou o homem de sua vida. Otávio Albuquerque, 32, é inteligente, charmoso, bonito. Além disso, alto executivo de multinacional, realizado profissional e financeiramente, é uma pessoa segura, autoconfiante, que tenta enfrentar com desenvoltura o peso da fama da namorada. Não que Maria Clara estivesse à cata de um super-homem. É que até então todos os seus relacionamentos terminavam da mesma forma. Os pretextos eram os mais variados, dependendo da maior ou menor criatividade dos pretendentes. Mas o motivo implícito era sempre a penúria de recursos emocionais e psicológicos que os ajudasse a suportar tudo o que a imagem de mulher fascinante, vitoriosa e independente de Maria Clara provocava em suas vidas. De fato, não é fácil num mundo machista ser o "senhor Maria Clara Diniz". Os poucos homens que ousaram vencer essa primeira barreira sucumbiram diante do ritmo alucinante de sua vida social e profissional, sentindo-se excluídos, carentes,

diminuídos. Otávio, ao menos, se esforça para encarar com o bom humor possível certas situações inevitáveis do dia-a-dia, como convites que chegam só em nome dela, fotos em jornais onde é citado como "acompanhante"...

Até a noite, ao iniciar-se a novela, em que os dois devem ir a uma festa durante a qual Maria Clara será fotografada para longa reportagem da revista mundana Celebrity. Otávio, que trabalhou até mais tarde, chega sozinho e é barrado à porta, só conseguindo entrar porque uma repórter o conhece como "o namorado de Maria Clara Diniz". Nesta noite, Otávio resolve ter com ela uma conversa muito séria e a pede em casamento. Agora, nada esconde de como se sente. É louco por ela, quer se casar, criar filhos, mas está cansado de ser o "senhor Diniz". Ganha bem, Clara tem uma boa renda com os produtos Summer Spell, Otávio quer que ela deixe a carreira para se tornar sua esposa. Clara reage mal, sente-se insultada, o trabalho é tão importante em sua vida quanto a relação afetiva, os dois rompem. Foi lutando muito que ela se tornou a celebridade que é, não provocando escândalos públicos, nem namorando bandidos ou tomando qualquer desses atalhos que hoje asseguram, senão os quinze minutos, pelo

menos uns cinco de fama a qualquer preço. Tornou-se famosa, sim. E ninguém pode dizer que não aprecie a fama, por mais discreto que seja seu comportamento. Mas conseguiu isso pelo trabalho duro - e pelo êxito naquilo em que se empenha, não desdobrando-se para ter o nome e o retrato nas capas de revista sob qualquer, ou até nenhum, pretexto.

Na manhã seguinte ao rompimento, Maria Clara segue para um encontro com a equipe da Celebrity fazendo das tripas coração, muito desiludida, mas disposta a continuar sua vida, mesmo outra vez solitária, concentrada mais do que nunca no trabalho. É, assim, deslumbrante, que a vemos posar para a foto da capa da revista que vai publicar a extensa reportagem sobre ela.

Foto de capa que logo em seguida veremos, já na revista impressa, nas mãos da outra personagem fundamental desta história: Laura, uma também linda jovem, de seus 26 anos, infinitamente mais modesta, humilde até, que examina tensa e atenta a capa da Celebrity enquanto espera justamente o resultado de testes feitos para trabalhar como assistente na empresa de Maria Clara, no meio do intenso movimento enquanto mais um mega-show é preparado. Percebemos, também, a frustração da jovem candidata Laura quando descobre que quem vai entrevistá-la é Noêmia, 39, secretária fiel e de absoluta confiança da proprietária, e não a própria Maria Clara. De qualquer modo, a maior decepção Laura tem ao saber que não conseguiu o trabalho. Nem ela nem as outras candidatas. A empresa vai continuar procurando alguém. Maria Clara passa pela sala de espera, Laura tenta abordá-la, persegue-a até o carro, está certa de que se ficar cara a cara com a estrela consegue o posto, poderá convencê-la de que estava

nervosa quando fez o teste, quer implorar para ser testada novamente. Mas Maria Clara é muito ocupada, não pode lhe dar atenção. Noêmia, com pena da garota, lhe acena com a possibilidade de alguma outra colocação, mais modesta, talvez temporária, lhe diz para voltar em alguns dias...

Enquanto Laura se vai, bastante deprimida, vemos na casa de Maria Clara que ela continua vivendo com a mãe viúva, Corina, e agora também com a irmã mais moça, Ana Paula, 35; o marido desta, o medíocre Nelito Moutinho, 39; a filha do casal, Sandra, de 16 anos; e os dois filhos menores, endiabrados e muito mimados, Guto (Gustavo) e Dudu (Eduardo), numa casa luxuosa do Itanhangá, região nobre do Rio de Janeiro. Quem se encarrega provisoriamente da administração da casa, já que não tem outro trabalho e sua irmã Maria Clara não tem muito tempo para isso, é Ana Paula. Provisoriamente talvez seja modo de dizer, já que Ana Paula e sua família ali se instalaram para superar uma crise financeira de Nelito já faz mais de um ano. E não parecem ter muita pressa em deixar a casa da irmã rica, tão ocupada e mão aberta.

Maria Clara recebe um telefonema tenso. Um homem que se diz seu maior fã diz obscenidades. Nos dias que se seguem, os telefonemas vão-se tornando mais preocupantes. Depois, são bilhetes cada vez mais ameaçadores. Uma peça íntima da empresária desaparece inexplicavelmente de sua casa e volta às mãos de Clara com bilhete assustador. Por mais calma que seja e acostumada ao assédio de admiradores às vezes descontrolados, a própria Clara não consegue evitar certa inquietação. E o clima de sua casa vai ficando progressivamente carregado.

A família e os colaboradores mais próximos insistem que Maria Clara contrate ao menos um segurança. Clara não gosta da idéia, mas promete que vai pensar. Por mais que rejeite a hipótese de viver permanentemente vigiada por um, afinal, estranho, foi, nos últimos anos, acostumando-se, como todos, à realidade do clima violento das grandes cidades e à necessidade de se proteger: é uma pessoa conhecida, provavelmente a julgam por causa da fama mais rica do que de fato é, claro que tem seguranças na empresa, o próprio gerente de produção costuma andar armado. Mas Clara ainda hesita, resiste.

Depois de reunião com um de seus famosos contratados, Clara deixa o escritório sozinha. Vai dirigir ela mesma seu carro para casa, como de costume. Laura a segue, ansiosa, na esperança de ter finalmente o encontro por que tanto espera. Na garagem do prédio, no momento em que abre a porta do carro, Maria Clara é atacada pelo maníaco que a vem ameaçando. O homem, armado de revólver, tem o rosto oculto por uma meia de mulher. Imobiliza Maria Clara por trás, ela não consegue sequer vê-lo direito. Ele garante que ela não vai sofrer nada se for obediente. Vai até gostar... Laura, que a seguia, dá com o criminoso. Enfrenta-o, grita por socorro. O indivíduo lhe dá umas bordoadas, a machuca. Felizmente, Ernesto, 52, o gerente de produção e ex-cunhado de Maria Clara (já que é irmão do cantor assassinado durante a festa de casamento com ela), que trabalha com a jornalista há muitos anos, vem por sua vez chegando à garagem e vê o que se passa. Troca tiros com o seqüestrador, que obriga Clara a

sair com ele da garagem, ela dirigindo seu próprio carro sob mira de revólver. Ernesto os segue. Na garagem, Noêmia socorre Laura. Manda levá-la a um hospital e chama a polícia. Enquanto Clara continua em fuga desabalada a contragosto, nas mãos de um criminoso provavelmente louco, Ernesto sempre atrás, a notícia e a tensão espalham-se pela empresa, na família, na cidade, onde a bela empresária e ex-modelo é conhecidíssima...

Durante a dramática perseguição, Maria Clara compreende que seu seqüestrador está longe de ser um profissional. Nem sexualmente parece estar mais interessado, agora. Seu único objetivo, neste momento em que tudo deu errado, é fugir, escapar à prisão. O que não será fácil, já que, agora, além de Ernesto, dois carros de polícia, avisados pelo gerente, os perseguem. E outras pessoas vão recebendo a notícia de que Maria Clara Diniz foi seqüestrada e está correndo perigo. Logo estações de rádio e noticiários de TV informam o drama em andamento. No carro em fuga, Clara percebe que seu raptor diz a verdade. Está apavorado, não tem a menor experiência de ações como essa, é a primeira vez que se mete numa enrascada assim. Achou que seria fácil - uma mulher sozinha, indefesa... Agora, só pensa em se livrar da polícia. Numa tentativa de enganá-lo, Clara promete que, se realmente não lhe fizer mal, vai ajudá-lo a escapar. Clara manda-o tomar a direção de uma casa à beira-mar, de amigos seus, de

onde garante que o homem poderá fugir de barco.

A casa está sendo preparada para uma festa de São João dali a poucos dias. Como Clara é muito conhecida do vigia, consegue entrar na casa com seu acompanhante. Os dois se dirigem a uma garagem de barcos pouco usada.

Ernesto chega em seguida, com a polícia - nesta altura, já cerca de dez homens, em vários carros, com outros mais chegando a cada momento. Ao entender o que se passa (isto é, que Clara foi seqüestrada pelo homem que está com ela), o vigia tenta, mesmo desajeitadamente, ajudar a captura. Mas não foi treinado para isso, mal e mal sabe montar guarda a uma residência. Vizinhos dos amigos de Clara, das casas das redondezas, ficam intrigados, aproximam-se da casa cercada. Alguns se colocam sem saber na linha de tiro, se expõem. Os policiais tentam, na maioria das vezes em vão, manter os curiosos afastados. Na garagem, o raptor continua nervosíssimo, suspeita estar sendo atraído a alguma armadilha. Clara se obstina em convencê-lo do contrário. O clima, tanto psicológico quanto físico, é pesado: a garagem de barcos, pouco usada, está repleta de fogos de artifício estocados para a festa junina de poucos dias depois; há móveis, tecidos, até papéis velhos empilhados em diversos cantos; o

seqüestrador ameaça explodir tudo, provocar um incêndio. Clara tenta incansável tranqüilizá-lo, ao mesmo tempo em que, nos poucos momentos em que ele lhe permite, grita para os que estão do lado de fora, procura igualmente evitar que tomem qualquer atitude impensada, precipitando um desfecho sinistro... Mas a tensão sobe sem parar.

Aparecem mais curiosos, pois a notícia se alastra. A família de Clara, prevenida pela equipe da produtora e depois acompanhando os acontecimentos pelo rádio, também chega ao local, assim como vários amigos. Entre eles, Otávio, que, com o hábito e a vocação de liderança que tem, praticamente dirige a tentativa de resgatar Clara, ajudado principalmente por Vladimir, um soldado do Corpo de Bombeiros, ligado a Clara por antigos laços de amizade familiar, e ali neste momento como voluntário, tendo também sabido pela TV do que se passava.

Muitos órgãos de imprensa estão presentes. Simultaneamente, nas casas vizinhas, onde há reuniões sociais, até pelo menos uma grande festa bem perto, alguns dos convidados ou moradores, alguns embriagados, encaram tudo como uma grande farra, adrenalina total, bela história para contar depois aos amigos invejosos. E se arriscam cada vez mais, apesar da polícia; querem ver de perto, ter o que contar sobre o sequestro da celebridade, querem detalhes. Clara continua trancada na garagem de barcos com o seqüestrador armado. Que em dado momento se descontrola. Chega a haver troca de tiros. Num esforço desesperado, Maria Clara consegue ainda uma vez administrar a situação. Otávio faz o mesmo do lado de fora e evita, ainda que quase à força, colocando-se à frente das armas, que a polícia e outros auto-designados "justiceiros" transformem a parte externa da casa em campo de batalha.

Mas não conseguem impedir que um dos irresponsáveis arremesse um artefato incendiário improvisado e ateie fogo à garagem, certo de que assim forçará o seqüestrador a render-se. Na confusão e violência generalizadas que se seguem, envolvendo Otávio, Vladimir, a polícia, repórteres, a família de Clara, colegas da produtora, vizinhos, entre gritos, tiros, fumaça abundante, Otávio tem a sensação em certo instante de que nem o seqüestrador, nem talvez a própria Clara, conseguirão escapar com vida. Mas Clara acaba vendo o bandido safar-se num barco, enquanto ela própria, asfixiada pela fumaça, perde os sentidos. Vladimir, arriscando a própria vida, salva a de Maria Clara.

Já vamos reencontrar Clara no hospital, cuidada com carinho por Otávio, pela família e por amigos, fora de perigo. Laura, alguns quartos adiante, também sofreu apenas hematomas superficiais. Otávio, mais apaixonado do que nunca, implora que Maria Clara o perdoe por tê-la pedido em casamento fazendo imposições - a absurda exigência de que ela abandonasse seu trabalho. Clara é o protótipo da mulher moderna, jamais seria feliz como dona de casa. Otávio tem agora certeza de que serão muito felizes casados, sem que ela deixe o trabalho para que é tão dotada. Faz uma declaração tocante. Comovida, Clara aceita a proposta, combinam o casamento, a mágoa é esquecida.

Mas de agradecer à garota que, na garagem da produtora, arriscou a vida por ela, Clara não pode se esquecer. Assim, vai ao quarto de Laura. Esta, muito modesta, diz que teve foi sorte, estava seguindo Clara para importuná-la com pedidos. Para ajudá-la teria feito muito mais do que pedir socorro, ou se expor como se expôs, até ser agredida, não foi nada. Clara é o grande ídolo de sua vida. Laura mal acredita que está ali, agora, diante do mito que vem cultuando há tantos anos. Entre o constrangimento e o orgulho, revela que coleciona há muito álbuns com fotografias e recortes de jornais e revistas sobre toda a vida de Maria Clara. Esta, ao contrário da doce Laura, é em geral fria, aparentemente pouco simpática até, muito objetiva e especialmente avessa tanto a atitudes que considera "demagógicas" quanto ao que chama de "sentimentalismo barato". Laura é sem dúvida a fã número 1 da celebridade, desde que viu uma foto sua em outdoor, ainda criança. Maria Clara garante que Laura exagera,

não tem tantas virtudes. Mas grata sem dúvida sabe ser. A partir daquele momento, Laura pode se considerar a mais nova contratada da produtora.

Dos olhos de Laura, cheios d'água, no momento que diz ser o mais emocionante de sua vida, já cortamos para a discussão muito violenta, no dia seguinte, entre Laura, que só agora revela quem de fato é, e o seqüestrador, Marcos, 28, seu bonito amante. Laura recrimina o rapaz por não ter feito exatamente o combinado. Bastaria ter imobilizado Maria Clara, Laura pediria socorro e Marcos fugiria. A intenção era só dar a Maria Clara uma prova de dedicação para se aproximar de vez da empresária; o comportamento de Marcos quase desencadeia uma guerra civil, foi muita sorte ninguém ter-se machucado seriamente. Marcos, igualmente agressivo, argumenta que não podia prever que Clara recebesse socorro tão imediato - de um homem armado, além de tudo. Perdeu o controle da situação, fez o que foi possível. Fica claro que os dois são amantes e cúmplices em algum plano para prejudicar Clara. Só não sabemos que plano, por quê, com que objetivo, por quê Maria Clara...

Os dois crápulas fazem as pazes. Porque, afinal, seu objetivo foi alcançado. Laura está na produtora, em condições de conquistar cada vez mais completamente a confiança de Maria Clara Diniz.

As investigações do seqüestro não chegam a qualquer conclusão. Clara não sabe descrever o seqüestrador, embora se sinta segura de que não era um profissional. Achou-o até medroso. Sobretudo, não tem receio de que volte a tentar qualquer coisa contra ela: estava morto de pânico, deve ter aprendido sua lição.

Nos dias que se seguem, Laura dedica-se à empresa com empenho incomum. Torna-se, pouco a pouco, indispensável: uma funcionária de sonho.

***

Na vida pessoal, Maria Clara vibra com os preparativos do casamento. Mas é quando se defronta mais uma vez com uma situação em que sua carreira parece ser um empecilho à realização amorosa. Só que agora por obra do destino, à revelia de Otávio. O noivo de Maria Clara recebe uma proposta irrecusável para um alto cargo na Arábia Saudita, numa das subsidiárias do grupo em que trabalha, ligado à exploração de petróleo. Mais do que nunca apaixonado, Otávio prefere recusar a proposta, está disposto a deixar a firma, recomeçar sua vida profissional por baixo, aceitaria até ser sustentado por Maria Clara para que ela não fosse prejudicada no trabalho. Clara passa noites sem dormir e chega à conclusão de que Otávio é mais importante para ela do que a carreira. Aceita deixar a empresa, passar adiante a produtora que construiu e ir com ele para o estrangeiro. Otávio acaba aceitando essa prova de amor. Não será por muito tempo, diz. Talvez dois, três anos. Após esse período, terá condições de

pleitear uma transferência para outro país, até mesmo voltar para o Brasil. Maria Clara decide deixar tudo para trás e se entregar ao amor, com tudo o que o amor exige de renúncia e de compromisso.

Laura e Marcos não se conformam com o casamento. Depois de todo o trabalho que tiveram... Se Maria Clara vai para o estrangeiro, os planos dos dois vão por água abaixo. Precisam de Clara aqui, no Brasil, e bem vigiada. Numa das cenas de tristeza diante do apagar das luzes na produtora, na véspera do casamento de Clara e Otávio, Laura ouve uma conversa deste com um companheiro de trabalho que a faz desconfiar de que Otávio possa estar escondendo alguma coisa. Por meio de subterfúgios, Laura consegue entrar no escritório de Otávio e revistar sua sala. Compreende que a promoção do rapaz para a Arábia Saudita foi não uma surpresa, mas o resultado de campanha há algum tempo efetuada por ele. Otávio pediu a remoção e inventou para Clara que esta lhe foi oferecida de surpresa. Um estratagema para que Maria Clara fizesse o que ele sempre quis: se casasse com ele, com dedicação exclusiva. Laura surrupia uma carta que prova a torpeza de Otávio. Planta-a em local adequado para Clara encontrá-la

momentos antes das bodas. O que acontece. Maria Clara tem mais uma grande decepção. Seu primeiro noivo foi assassinado durante a festa de casamento. O segundo ela descobre ser um manipulador desprezível. Otávio vai sozinho para a Arábia e Maria Clara passa a se dedicar exclusivamente ao trabalho. E a acreditar que provavelmente nasceu para a realização profissional, não para a felicidade amorosa.

Devota-se portanto mais do que nunca ao trabalho, tendo ainda por cima que suportar a repercussão do escândalo provocado pelo cancelamento de seu casamento, a privacidade dos famosos, como acontece com tanta frequência, sendo bem pouco respeitada. O que mais importa a Clara, no entanto, é que cada empreendimento seu seja melhor do que o anterior. Se na vida sofreu derrotas dolorosas, na produtora Clara parece invencível.

Laura dá o primeiro passo, ainda bem modesto, em sua ascensão, já no clima de dissimulação que parece seu traço dominante. O funcionário responsável pelo cadastro de clientes e contatos da produtora, presentes, passados e em perspectiva, foi demitido por incompetência, e seu paradeiro é desconhecido. Laura apaga o cadastro, tendo antes o cuidado de copiá-lo em disquete que esconde com muito cuidado, e joga a culpa no rapaz. A perda desse cadastro é um dos piores contratempos que podem acontecer a uma empresa. Tanto que a própria produtora vem desenvolvendo já há bastante tempo sistemas crescentemente aperfeiçoados de proteção para evitar o roubo do cadastro por algum funcionário desonesto que o venda a um concorrente, como se sabe que não é tão raro acontecer. Laura oferece-se para refazer o cadastro. Garante que alguma coisa deve haver no computador de Clara em sua casa, disquetes, correspondência, certamente trabalho para dias. Que Laura passa - como desejava - na casa de sua

empregadora, ganhando tempo e fingindo pesquisar enquanto corteja a família, porque na verdade tem o disquete com os dados originais que simula estar tentando reconstituir. Durante esse tempo Laura registra que Ana Paula, fria, sonsa, calculista, falsa, apenas encena grande afeição pela irmã mais rica para explorá-la de todas as formas possíveis. Vive, por exemplo, cobrando de Maria Clara que contrate a modestíssima produtora de vídeo de seu marido medíocre para a realização de DVDs dos shows produzidos pela Melo Diniz, ou que use seus contatos e influência para conseguir melhor espaço para o patético Nelito, seu marido, um homem que, com quase 40 anos de idade, ainda não encontrou situação "condizente com seu talento".

Nelito, de fato, desde os 25 anos, quando foi praticamente expulso da casa (com pensão completa) dos pais, já fez de tudo na vida. Como, digamos... Hemingway. Com a diferença de que, no caso de Nelito, nada, nem uma solitária tentativa, deu minimamente certo. Foi pintor sem jamais conseguir um estande na feira hippie, nem nas ruas próximas (os camelôs diziam que sua pintura desprestigiava o ponto). Teve uma banda de rock (banda em termos, só conseguiu reunir a si mesmo e mais dois), que jamais foi autorizada a tocar em qualquer lugar, nem de graça. Tornou-se finalmente produtor cultural. Com tanto êxito que o agora já falecido pai teve de vender o carro para pagar o prejuízo da única montagem. Com as sobras do pagamento (sim, enganou o pai), comprou a mais barata das câmeras de vídeo. Apresenta-se como dono de uma firma de vídeo que registra eventos. Mas o máximo que Nelito consegue produzir são registros de casamentos de amigos, festa de aniversário de filho de amigos (pobres), ou

inauguração de churrascaria modesta. Que em geral consegue, ainda assim, tornar inutilizáveis pela apresentação que faz questão de inserir no vídeo, ele mesmo como mestre-de-cerimônias.

Uma atividade, em suma, pela qual Clara não pode de modo algum interceder sem se desmoralizar. Laura, quieta, só registra o interesse de Ana Paula em empurrar para a frente a "carreira" do marido.

Ao lado disso, Nelito demonstra, logo que põe os olhos em Laura, forte atração pelas qualidades físicas de nossa charmosa vilã. Esconde, lógico, da mulher, dos filhos, da dona da casa. Mas não da própria Laura. Que demonstra mais uma vez sua extraordinária capacidade de "não perceber" aquilo que não lhe convém, e leva "na brincadeira" todas as cada vez mais freqüentes e agressivas insinuações de Nelito. Mas... registra, também. Tudo lhe pode ser útil algum dia.

Sandra, a filha de Ana e Nelito, tem péssimo relacionamento com os pais por ter plena consciência da mediocridade deles. Os irmãos menores são mimados, crianças de convivência penosa. D. Corina, a mãe de Clara e Ana, embora não pareça de todo má pessoa, não prima propriamente pelo caráter, tem nítida preferência pela filha medíocre, que ela ajuda a explorar Maria Clara.

Para facilitar a realização do trabalho, durante a crise Laura dorme num dos quartos da casa de Clara (o que Nelito adora, evidentemente). Depois, claro, de se fazer de encabulada, constrangida por "dar tanto trabalho", mas acabando por aceitar, "para terminar mais depressa..." Enquanto está na casa de Clara mostra-se sempre a todos dócil, prestativa, desinteressada de vantagens pessoais, modesta. Uma encenação que aguça a curiosidade do espectador: afinal, que é que ela quer?

Resolvido o problema do cadastro, tarde daquela mesma noite Maria Clara manda um de seus funcionários, Ademar, 48, levar Laura em casa. Laura consegue com extrema habilidade e pretextos bem arranjados atrair o acompanhante a conhecer de perto o lugar em que mora. Uma vaga em quarto de apartamento de subúrbio, muito mais do que modesto: deprimente. Colchonete entre outros dois das duas moças com quem divide o aposento, banho frio mesmo no inverno porque a proprietária do apartamento economiza o chuveiro elétrico, quarto praticamente nu, as poucas roupas penduradas em cabideiros ou na parede. Ademar, mesmo ele próprio bastante modesto, fica impressionado, até envergonhado diante da mocinha que vive daquele modo e conserva o otimismo. Depois que ele sai, Marcos, o amante de Laura, que esperava, entra. E os dois repõem a cama e o pequeno guarda-roupa, o quarto é só de Laura, que recebe o namorado quando quer, e toma banho quente também quando quer, até porque é a única hóspede e não

trata muito bem a idosa e solitária proprietária, que sem ter a quem recorrer se submete. Todo o resto foi encenação para impressionar Ademar. Que faz exatamente o que Laura queria: conta a Maria Clara as condições precárias em que a garota vive. Clara, com muito tato para não ofender a ajudante a quem cada dia se afeiçoa mais, toca no assunto. Laura acaba "confessando" que seu salário não dá para pagar um lugar mais confortável, mas está feliz, trabalhando num ambiente que ela adora, com a pessoa que ela mais admira no mundo, tem certeza (sempre otimista e conformada) de que as coisas já estão começando a melhorar, pode demorar um pouco mas há de conseguir. Maria Clara convida-a para ser sua assistente pessoal, morando em sua casa, num quarto confortável. Assim, Laura passa a morar com a família - o que sem dúvida era sua meta - mostrando-se a cada dia mais indispensável.

Para Maria Clara, é como se um anjo tivesse baixado em sua vida. Laura parece adivinhar cada desejo ou necessidade de sua empregadora e o satisfaz antes mesmo de que Clara se dê conta de que precisa de alguma coisa. Listas de aniversários de amigos e contatos de trabalho são organizadas por Laura, flores e presentes enviados em todas as ocasiões de praxe, Clara só tem de preencher os cartões. A correspondência que Clara recebeu nos últimos dez anos é organizada e arquivada de forma racional. Investimentos pessoais são investigados, Laura estuda, pede opinião a especialistas e oferece a Clara opções de maior lucro sem riscos. Pouco a pouco, Laura consegue poupar Maria Clara de todos os problemas menores da casa e da empresa, para que sua chefe tenha tempo e ânimo para fazer o que sabe: produzir seus shows e cuidar da carreira de seus contratados. Suave mas irresistivelmente, Laura vai tomando conta da vida de Maria Clara sem que esta sequer perceba.

A presença de Laura, sua eficiência, sua ilimitada devoção começam a preocupar os que cercam Maria Clara. Os parentes se dão conta de que, a continuar assim, Laura vai acabar a única pessoa no mundo em que Clara confia, o que com certeza não lhes interessa. Laura capta no ar as ameaças e se mostra uma mestra na arte da manipulação - quando necessário, ajudada por seu namorado Marcos, com quem jamais deixa de se encontrar às escondidas.

Depois de um dia de trabalho exaustivo, Laura se esforça e fica acordada até altas horas para assistir a um dos constrangedores eventos registrados em vídeo pela produtora de Nelito. E elogia desbragadamente o trabalho dele, faz Nelito sentir-se um profissional de primeira (ao mesmo tempo em que continua fingindo não perceber as tentativas de aproximação dele quando estão sozinhos). Ouve Ana Paula confessar à mãe que seu maior desejo é que a irmã lhe pague determinada viagem, e sugere ela própria a Maria Clara a idéia da viagem (fazendo, naturalmente, Ana saber que foi ela que conseguiu a façanha). Sandra quer permissão dos pais para passar um final de semana em casa de amiga, fora do Rio, mas evita reivindicações e discussões desagradáveis com os pais; Laura consegue ela a permissão sem Sandra se desgastar. Progressivamente Laura se torna imprescindível não só a Maria Clara mas a toda a família. A única pessoa que ela não engana nem por um instante desde que põe os pés na casa é uma

grande amiga de Clara, Eliete, 36, sacoleira protegida de nossa protagonista e fortemente hostilizada por Ana Paula, que não suporta moça tão "vulgar" freqüentando-lhes a casa (Clara está tentando influenciar a amiga a trocar as freqüentes viagens ao Paraguai, para compra de mercadorias, pela carreira de massagista). A Eliete, mulher de pés na terra, poucas mesuras e muito senso comum, cética mas totalmente fiel a Maria Clara, Laura não consegue enganar por um instante. Nada chegada a intrigas, no entanto, Eliete se limita a comentários casuais sobre a arrivista, cuja doçura e subserviência sempre lhe parecem forçadas.

Nos encontros de Laura com Marcos, fica cada vez mais evidente que Laura é mais falsa ainda do que já se sabia, extremamente calculista, e que se prepara para prejudicar Maria Clara em alguma coisa de grande importância. Eliete tenta abrir os olhos de nossa heroína: já surpreendeu Laura tentando imitar Maria Clara em pequenos gestos, é evidente que Laura "estuda" Maria Clara, de quem se declara fã. Como quem estuda um livro.

***

Ernesto, o gerente de produção da firma de Maria Clara, procura alguém de confiança para dividir despesas no apartamento em que mora. Laura vê uma boa oportunidade de trazer seu parceiro Marcos não só para o círculo de relações de Maria Clara, mas também para o interior da própria empresa. Primeiro, Marcos se apresenta a Ernesto e é aceito como morador do apartamento. Finge estar chegando ao Rio à procura de emprego. Em paralelo, Laura urdiu uma trama cruel através da qual consegue (como de hábito, sem que ninguém suspeite de sua participação no assunto) que um velho motorista da firma seja falsamente acusado de alguma irregularidade e conseqüentemente demitido. Como a ligação de Marcos com Laura é mantida em segredo, é preciso esconder de Ernesto que Marcos conhece o perfil do profissional procurado pela empresa, um motorista com prática em direção defensiva, particularmente depois do episódio do seqüestro de Clara. É portanto com a ajuda de Laura e referências falsas que Marcos "se

revela" um motorista altamente especializado, inclusive em segurança e proteção a VIPs, que apareceu por coincidência no momento em que a firma de Ernesto precisa de um. O que até o ajuda a garantir a vaga no apartamento do administrador. Consegue o lugar de motorista, e sua presença será peça importante para que a dupla realize seus intentos. Que continuamos sem saber quais seriam...

Começa nesta fase um forte antagonismo entre Laura e Renato Mendes, 28, um rapaz bonito, de corpo sarado, esculpido por professores de ginástica como dita a moda, e um dos jornalistas mais temidos do Brasil. Com coluna de variedades muito lida, tem o poder de lançar nomes nas mais diversas áreas, assim como de destruir reputações, graças ao humor e elegância que sabe imprimir ao veneno característico de sua coluna - veneno, diga-se de passagem, bastante apreciado pelos leitores. Além da coluna, Renato é editor da revista Celebrity, uma das muitas de propriedade de seu tio, Lineu Valadares, 64, poderoso empresário de comunicação ligado a muitos personagens de nossa história. Sua empresa patrocina os shows de Maria Clara. Viúvo, Lineu tem apenas uma filha que há muitos anos reside fora do Brasil e com quem não tem as melhores relações, como já veremos. Renato, seu sobrinho, ambiciona suceder um dia ao empresário na presidência do grupo Valadares, e não mede esforços para adular o tio.

Sem sombra de caráter, é capaz de pisar em quem quer que seja para manter-se sempre nas boas graças do milionário. Laura e Renato vão se conhecer numa clássica situação leve de mal-entendido. Renato é um conquistador acostumado a ser assediado por jovens lindas, interessadas não só em seus atributos físicos mas também nas vantagens que poderá lhes trazer o poder do editor da revista Celebrity. Uma manhã, Renato está esperando a visita de uma dessas lindas garotas (Jaqueline, personagem desenvolvida numa de nossas histórias paralelas, no final da sinopse) candidatas à fama. Laura, a mando de Maria Clara, vai ao prédio onde mora o poderoso Lineu Valadares (e seu sobrinho Renato) levar uns papéis para Lineu assinar. Nos arredores do prédio, Laura cruza com Renato, que acaba de fazer seus 40 minutos de corrida diária. Está suado, um pouco sujo, e toma Laura pela garota que esperava. Trata-a de forma arrogante, certo de que não precisa gastar muitos charmes para obter os favores da linda

candidata ao estrelato. Que Laura, efetivamente, não é. Diante daquele rapaz tão jovem e tão abusado, nem passa pela cabeça de Laura estar na presença de um homem importante, que poderá algum dia ser útil a seus objetivos, que ainda não sabemos quais sejam. Laura toma Renato por um mauricinho arrogante e o destrata. Como ela também, quando não precisa (nem quer) agradar, sabe ser tão arrogante quanto ele, trata-o realmente mal, exagera, zomba de seu aspecto (que ela resume como "esfarrapado" e "fedido"). Desfeito o mal-entendido, Laura pede desculpas, faz tudo o que pode para apagar a péssima impressão deixada no perigoso Renato Mendes. Mas esta primeira impressão não vai se apagar. Renato sente-se, na verdade, muito atraído por ela. Para não revelar à moça esse desejo irreprimível, vai sempre tratar Laura com hostilidade. Laura, por sua vez, sabe que Renato é perigoso e a presença do rapaz a intimida como a de nenhuma outra pessoa. Esse antagonismo, um jogo de morde-e-assopra entre

Renato e Laura, durará por boa parte da história. Até o dia em que se tornarem aliados. Mas isso já é para daqui a várias páginas.

***

Maria Clara tenta pensar o mínimo possível em Otávio e na forma como foi traída e humilhada. O rompimento foi extremamente doloroso. Ela jura que nunca mais vai ter um relacionamento sério com homem algum. É nessa fase de decepção e ódio pelo gênero masculino, na segunda semana de novela, que ela vai conhecer Fernando Amorim, 37 anos, o herói da nossa história.

Fernando está voltando de férias ao Brasil com a mulher e dois filhos adolescentes, depois de uma bem-sucedida carreira internacional como produtor de cinema. É casado com Beatriz Valadares Amorim, 36, única filha do poderoso Lineu Valadares, dono do Grupo Valadares, uma das empresas de comunicação mais fortes do país, que abrange rádios, emissoras de TV a cabo, algumas das revistas de maior tiragem nacional, produção de programas de TV etc. Lineu é o dono dos produtos Summer Spell. A idéia de tirar partido do sucesso da música foi dele, conhece Maria Clara desde menina, foi amigo de seu falecido pai. Mas não é por isso que Fernando e Maria Clara vêm a se conhecer, embora mais tarde o fato vá ser de suma importância na história que vão viver juntos.

Ao contrário de Beatriz, Fernando nasceu pobre. Seu pai, Salvador Amorim, 61, agora é dono de uma discreta barbearia no bairro de Vila Isabel. Íntegro, trabalhador, ótimo barbeiro, perdeu a mulher bastante cedo e criou o filho com a dignidade que a luta diária contra a pobreza empresta a algumas pessoas. Quando Fernando e Beatriz eram adolescentes e se apaixonaram, Salvador ainda exercia a função de barbeiro de um clube do qual Lineu Valadares era presidente. Pode-se imaginar a perplexidade e em alguns casos a indignação dos sócios mais conservadores do clube diante do namoro da filha do empresário com o filho do barbeiro. Já fazia muito tempo que Lineu, Salvador, Chico e o pai de Maria Clara tinham sido companheiros de competições esportivas: a foto dos quatro como campeões de remo em 1965 não justificava o namoro do filho do barbeiro com a filha de Lineu, que às custas de grande esforço pessoal se tornara um homem rico. Na época, falou-se muito em golpe do baú, Lineu antes de

qualquer outro. A verdade é que o amor de Fernando por Beatriz era sincero e desinteressado, cheio do ímpeto juvenil que desconhece as barreiras mais intransponíveis. Apesar de muito jovem, Fernando já trabalhava como fotógrafo de cinema e sonhava com uma carreira na área. Em vão tentou convencer Lineu de suas boas intenções. Foi humilhado, acusado de aproveitador, proibido de se aproximar da menina. A situação se complicou quando Beatriz descobriu que estava grávida. Cheio de coragem diante da nova responsabilidade, Fernando aceitou um convite para integrar a equipe técnica de um filme de produção francesa a ser rodado no Marrocos. Lineu, influente, já lhe fechara as portas do mercado de trabalho no Brasil. O casal foge para o exterior, o que desencadeia um rancor mortal no empresário. Mas Fernando e Beatriz estão fora de sua linha de tiro. Ela dá à luz um menino lindo, Fábio. Um ano mais tarde, têm um segundo filho, Inácio. Com muita luta, Fernando vai se tornando lá fora um

profissional de sucesso, primeiro como diretor de fotografia e mais tarde como produtor de cinema, trabalhando nos últimos tempos para uma conhecida produtora européia de alcance internacional. Seu último filme, de cuja bilheteria tem boa percentagem, é um dos maiores sucessos do cinema europeu em anos recentes: uma história passada em Natal, durante a segunda grande guerra, quando a cidade foi ocupada por tropas norte-americanas. Mas, mesmo para realizar esse filme, Fernando não esteve no Rio de Janeiro, porque do seu passado - na verdade de Lineu, que o humilhou na juventude - Fernando guardou uma grande mágoa. Nunca mais voltou ao Rio. Desde o momento em que passou a ter condições financeiras, e continuando muito ligado ao pai, Fernando pagou as viagens de Salvador à Europa para conhecer os netos. Lineu, por sua vez, viaja com certa freqüência. Pôde, assim, ver Beatriz e os meninos, mas Fernando e ele não se vêem desde a época em que o agora produtor bem-sucedido foi humilhado e

chamado de aproveitador.

Diante de tudo isso, apesar da tensa relação entre sogro e genro, se poderia pensar que a história de Fernando e Beatriz teve um final digno de conto de fadas. Fernando venceu todos os obstáculos com garra, juntou dinheiro, é reconhecido pela alta capacidade profissional, tem uma bonita mulher, dois filhos de quinze e dezesseis anos saudáveis e inteligentes... mas está longe de se sentir feliz. O convívio com Beatriz tornou-se difícil, chegando às raias do insuportável. A adolescente apaixonada se revela com o passar dos anos uma mulher fútil, egoísta, extremamente dependente e frágil. Sua queixa eterna é que Fernando dá mais importância ao trabalho do que a ela, como se a carreira do produtor fosse uma rival da esposa. De fato, no início da vida do casal, ele se dedicou de forma total ao trabalho. Mas foi o meio que encontrou de sustentar a família e de vencer na vida.

O relacionamento entre os dois está totalmente desgastado. Fernando vai assinar um contrato longo com uma produtora inglesa, e Beatriz vibra com a idéia de morar em Londres. Já tem uma bela casa em vista, em Hampstead, amizades que fez no mundo diplomático a fazem sonhar mesmo com o que, para uma mulher com seus valores, seria a consagração social: fazer parte do pequeno círculo de convidados freqüentes ao Palácio de Buckingham. A obsessão de Beatriz pelo requinte exagerado, pelo mundo dos muito ricos, é, na verdade, uma forma de insegurança. Ela adora o marido. Sente-se intelectual e emocionalmente inferior a ele. Tenta disfarçar esse complexo com dedicação exagerada a frivolidades e um esteticismo pouco condizente com a vida moderna. Conhecer "profundamente" tapetes ou porcelanas orientais a fazem sentir-se, ao menos em algum campo, igual ou até superior ao marido tão admirado por todos. Adora o filho mais velho, Fábio, que chama sempre de alegria da casa. Muito brilhante em

esportes, Fábio não tem grande atração pela viagem ao Brasil porque tem medo de perder uma competição de pólo que, se vencer, o fará entrar com destaque no novo colégio inglês em que já está matriculado. Já Inácio, o caçula, extremamente tímido, tem curiosidade de conhecer o Rio e vontade de rever o avô Salvador, com quem sempre se entendeu melhor do que com a maior parte das pessoas.

A viagem foi programada por ironia do destino. O grupo de Lineu é um dos patrocinadores do Prêmio Cultura, distribuído a cada ano, numa grande festa, às personalidades que mais se destacaram em diversos setores. Fernando foi premiado na categoria especial, pela divulgação de nossa cultura em seu filme mais recente. Lineu patrocina, mas não controla, evidentemente, as decisões de um júri de grande seriedade. A premiação de Fernando é para Lineu um grande estorvo. O genro, naturalmente, será procurado pela imprensa; como Lineu explicará aos amigos que os dois não se falam? Depois de tanto tempo, embora não goste de dar o braço a torcer, o empresário está convencido de que fez um julgamento equivocado de Fernando Amorim. Muitas vezes lamentou seu próprio destempero na época, que lhe custou o afastamento da filha única e muito amada, e o impediu de acompanhar a infância dos netos. Compreende que o genro ainda se mostre ressentido, mas tem pavor de tornar público o drama familiar. Com

Salvador, o barbeiro, pai de Fernando, depois de alguns anos de ressentimento, Lineu já se recompôs; é justamente Salvador o mais empenhado na tentativa de que sogro e genro passem a se entender. Mas Fernando, ao chegar, recusa a hospitalidade de Lineu, que lhe manda oferecimento de hospedagem. O jovem produtor deixa claro aos organizadores da festa que irá receber seu prêmio, mas, por razões pessoais, não aceita sentar-se à mesma mesa que o sogro.

O clima tenso entre Fernando e Lineu é um motivo a mais para que Beatriz e Fábio queiram tornar a estada no Rio o mais curta possível. Inácio, por outro lado, liga-se ainda mais do que antes ao avô Salvador, e passa a ter fascínio pelo calor humano dos amigos e vizinhos de Vila Isabel. A partir da inclinação do filho a valorizar suas raízes, Fernando deixa virem à tona sentimentos há longo tempo sufocados. Depois de participar de uma pelada na praia de Copacabana, a emoção que invade nosso herói é tamanha que ele passa a ver com outros olhos tudo que o cerca. Deixa fluir a saudade do chope no calçadão depois do banho no mar tão especialmente verde, retoma o papo com os amigos, curte a descontração que não sente há tanto tempo, a sensação de calor que está muito além do que os relógios digitais acusam no caminho. E, mais do que tudo, uma conversa franca com seu pai, Salvador, o abraço longo e comovido, lhe dão a certeza de que esta e ali é a sua terra. Fernando desiste de assinar o

contrato com a firma inglesa. Resolve estudar de forma mais palpável um antigo projeto, ou sonho, de fundar aqui uma produtora cinematográfica forte, com estúdios próprios, contratados fixos, tecnologia de ponta, já que considera absurdas as dificuldades que os cineastas brasileiros enfrentam por falta de infra-estrutura.

A empresa é um sonho distante. Fernando começa, portanto, negociações para a realização de um novo filme, agora no Brasil. Se continuar com o sucesso que vem tendo, dentro de alguns anos poderá realizar o sonho da grande produtora brasileira de cinema. Na festa de entrega do prêmio, a expectativa e o temor dos mais íntimos é de uma briga realmente séria, e embaraçosa, entre Fernando e Lineu. Em grande reversão dramática, no entanto, ao final da festa, com os salões quase vazios, os dois se reconciliam, em cena de muita emoção. Fernando entende finalmente que Lineu, embora obedecendo a valores ultrapassados, tenha desejado no passado o bem-estar da filha: agora é pai e está certo de que (mesmo que certamente com outros objetivos de vida) lutaria também como um leão pelo que julgasse ser a felicidade de seus filhos. Lineu, por sua vez, expõe, com dignidade, deixando o orgulho de lado, toda a admiração que há anos já vem sentindo por Fernando. A família fica no Brasil - e agora, ao menos aparentemente, unida.

Para Beatriz, no entanto, a decisão é desastrosa. A mulher de Fernando não gosta do Brasil, sente-se mal de volta a sua terra, acha tudo pobre, mesquinho; como trocar sua sonhada residência em Hampstead pelo terceiro mundo? Já que adora o marido e tem consciência de que qualquer conflito pode terminar de vez com o casamento tão desgastado, Beatriz esconde seus sentimentos, e passa a maquinar com o primo Renato - o ambiciosíssimo e inescrupuloso sobrinho de Lineu, que há anos vem sonhando com a sucessão, algum dia, do tio, na presidência do grupo. Para Renato, as pazes feitas entre Lineu e Fernando e a permanência deste no Brasil são uma grande ameaça. É ele quem traça o plano para que Lineu e Fernando voltem a brigar, desta vez em definitivo.

Lineu reconhece abertamente o valor de Fernando, admira a disposição com que superou as adversidades e gostaria de tê-lo no grupo Valadares, trabalhando ao seu lado. O problema maior é que os dois encaram o mundo dos negócios sob óticas conflitantes. Lineu, apesar de exercer sua ganância veladamente, é o típico capitalista selvagem, que explora os empregados e não se preocupa com a responsabilidade social que sua posição acarreta. Fernando tem idéias liberais, sonha com empregados que efetivamente participem dos lucros das organizações, e que sejam atendidos em suas necessidades sociais e humanas, como já acontece nas empresas mais modernas. Para seduzir o genro, de conluio com Renato e Beatriz, Lineu faz uma proposta tentadora. Mostra-se muito interessado em seu projeto de criação da importante produtora de cinema no Brasil e oferece apoio financeiro e logístico. É a chance de Fernando realizar seu sonho a curto prazo e de forma total, o que o deixa realmente inclinado a aceitar a

oferta.

Mas, como aconteceu com Maria Clara, que ele nem conhece ainda, Fernando está prestes a sofrer a grande decepção. Pouco antes de começar efetivamente a trabalhar com Lineu, Fernando descobre, por intrigas de Renato, que seu sogro, na verdade, nunca teve a intenção de investir em uma produtora de cinema. Queria era cozinhar o genro em fogo brando, tê-lo a seu lado na empresa, para aos poucos ir tentando fazê-lo desistir do cinema e tornar-se seu sucessor na presidência do grupo Valadares. O que não estava nos planos de Beatriz e Renato é que Fernando acaba descobrindo que Beatriz está por trás dessa armação. Por um desses artifícios do destino, Fernando e Maria Clara são portanto vítimas ao mesmo tempo de pessoas inescrupulosas, com quem convivem intimamente, já que, na novela, as histórias dos dois vêm correndo paralelas.

A atitude egoísta e aética de Beatriz é a gota d'água para o casamento desmoronar. O casal tem uma briga terrível, em que anos de mágoas e decepções vêm à tona. Beatriz se desespera, ameaça matar-se, usa de todos os recursos para não perder o marido. Mas dessa vez a decisão de Fernando é inabalável. Reconhece os próprios erros mas se recusa a continuar ao lado de uma mulher capaz de trair sua confiança desse modo. Tenta conversar com os filhos antes de sair de casa, explicar seus motivos, sem em nenhum momento jogar a culpa da separação sobre Beatriz. Lamenta ter sido um pai tão ausente no passado, o que dificulta sua convivência com os filhos, especialmente numa hora de crise. Mas se preocupa especialmente com Inácio, o mais tímido e sensível, que é louco por ele e se sente preterido pela mãe. Beatriz tenta em vão disfarçar sua fascinação pelo outro filho, Fábio. Inácio é talvez mais inteligente, mas se julga uma espécie de cópia desbotada do irmão, e tem um forte sentimento de

inadequação. Agora, sem sua presença, Fernando teme que Inácio sinta ainda mais o desdém de Beatriz. O modo como ela diz "seu filho", sempre que se refere a Inácio, é um termômetro da gravidade do problema.

Fernando muda-se provisoriamente para um apart-hotel, no firme propósito de manter contato constante com os filhos. Não tem capital para montar já sua produtora, mas pretende enquanto isso investir o que juntou na Europa em alguma produção de cinema que considere de bom nível e lucrativa. Quase de imediato surge a possibilidade de uma co-produção franco-brasileira a ser rodada na Amazônia. A idéia do filme é fascinante. Fernando se entusiasma e se engaja. O único senão, de grande peso no momento, é ter de passar alguns meses afastado dos filhos. Mas já os imagina passando férias com ele num resort da floresta amazônica, vivendo uma experiência fantástica para garotos urbanos como eles.

É justamente num momento em que, apesar das dificuldades que vive, Fernando está entusiasmado com o projeto na Amazônia que ele vai encontrar pela primeira vez Maria Clara. Um encontro imprevisto, aparentemente banal, mas que vai mudar para sempre o curso de suas vidas.

Antes de chegar a isso, entretanto, vamos saber um pouco mais sobre importantes acontecimentos do passado que envolvem, especialmente, o pai de Fernando, seu sogro Lineu, pai de Beatriz, e Maria Clara.

Salvador, o pai de Fernando, agora dono de barbearia em Vila Isabel, bairro em que também mora, tem excelente ligação afetiva com o filho. Nas visitas de férias à Europa, Fernando fez tudo para o pai aceitar um apartamento em bairro mais abastado. Salvador não recebeu bem a idéia. Adora a vida que leva, os amigos, os vizinhos, o chope no bar, nunca moraria num dos bairros da Zona Sul do Rio. É excelente pessoa, ótimo coração, e se dá muito bem com todos. Beatriz, sempre muito preocupada com aparências, nunca tolerou Salvador, embora disfarçasse a rejeição diante do marido. Considerava o sogro, em suas visitas, um hóspede inadequado ao ambiente das festas e jantares em sua casa, mesmo nos aniversários dos netos. Nunca disse isso abertamente a Fernando, mas agia de acordo com o que sente, deixando Salvador de lado sempre que podia. Já Lineu Valadares, o poderoso pai de Beatriz, viu sua velha amizade com Salvador bastante abalada na época do casamento da filha com o filho do amigo,

Fernando. Não só se opôs ao casamento como depois fez o que pôde para barrar o progresso profissional do genro. O que acabou por levar Fernando a tentar - e a conseguir com êxito extraordinário - a sorte no exterior. Salvador também era contra o casamento, pobre mas conservador que é, do tipo que acha melhor cada macaco em seu galho. Mas ficou ressentido com Lineu quando este prejudicou seu filho profissionalmente. Depois que Fernando se tornou tão nitidamente um vencedor, contudo, Salvador, tolerante, acabou perdoando Lineu. Já há tempos voltou às boas com o velho amigo e parceiro de esporte na juventude. Às vezes Salvador vai à casa de Lineu para lhe cortar o cabelo ou mesmo fazer-lhe a barba, o que é mais uma desculpa para relembrarem episódios da juventude. Jovens, Salvador, Lineu, o pai de Maria Clara, já falecido, e Chico Quintela, 61, figura da qual falam com tristeza, foram juntos campeões nacionais de remo, os dois conservam carinhosamente os troféus e fotografias daquele período.

Nos últimos meses, Lineu tem estado nervoso, porque depois de muitos anos Chico Quintela vai sair da prisão. Lineu tem medo de ser perseguido pelo antigo companheiro, agora desafeto. Já Salvador mostra carinho pelo amigo preso e garante que depois de tanto tempo Quintela já deve estar convencido de que as acusações que fazia contra Lineu não têm fundamento.

A iminente saída de Chico Quintela da prisão, onde permaneceu por quinze anos, também é o assunto do momento na empresa de Maria Clara. Ainda mais no dia do aniversário de morte de Wagner Lopes, o cantor-compositor que Chico matou em 1988 durante a festa de casamento. Só Laura, dada sua pouca idade, desconhecia os detalhes da história que todos vêem agora pela televisão. Desde que a canção Summer Spell estourou, Chico vinha acusando Wagner de tê-la roubado. Durante a festa de casamento, tresloucado, faz escândalo, grita que o noivo de Maria Clara é um impostor, e que tem de confessar que a canção em destaque nas paradas é de sua autoria e não de Wagner! Ameaça-o com um revólver, seguranças acorrem, Wagner se debate, mas Chico atira e atinge o coração do cantor. Foge e pede ajuda a Lineu. Que lhe promete um pequeno avião para levá-lo para fora do país. Vai ele mesmo conduzir o amigo, de sua casa ao aeroporto, escondido na mala do carro. Mas a polícia chega, vai diretamente a Chico

escondido. Ele é preso, julgado e condenado. Tem certeza de que quem chamou a polícia foi Lineu, traidor covarde. Lineu sempre jurou que não foi ele, não tem idéia de quem o delator possa ter sido. Chico garantia ter mostrado a canção a Wagner e a seu irmão, Ernesto, num bar de Ipanema. Mas Wagner provou que, ao contrário do que dizia seu detrator, a música fora composta na noite seguinte, numa festinha na casa do jornalista Nélson Motta, na frente de Maria Clara. O rosto da namorada lhe teria inspirado a música. Chico alega ter inscrito a canção num festival patrocinado por uma estação de televisão. Mas o registro da inscrição nunca é encontrado. Com o testemunho de Maria Clara em favor de Wagner, Chico Quintela perde o processo. Depois do sucesso crescente da canção, ocorrem a tragédia, o crime. Chico foi condenado e agora vai sair da prisão. Há quem tema que queira se vingar de Maria Clara. Esta permanece calma. Sabe que disse a verdade no tribunal e tem certeza de que tantos

anos terão sido suficientes para que Quintela se cure de suas fantasias. Se o escândalo acabou até fortalecendo sua notoriedade, Maria Clara sabe que não teve culpa. Disse apenas a verdade, não tem do que ter receio. Já Lineu Valadares, embora se garanta inocente, tem medo de que Chico venha atrapalhar sua vida com acusações descabidas. Salvador é o único a visitar Chico Quintela na cadeia. No dia em que este é finalmente libertado, Salvador, ao compreender que não restou qualquer amigo ao condenado, abriga o companheiro em sua casa, tentando tirar-lhe da cabeça qualquer idéia de vingança contra Lineu, de cuja inocência no episódio da denúncia à polícia Salvador não duvida. Diante das súplicas de Salvador, Chico Quintela se mostra apenas enigmático.

***

Na empresa e na casa de Clara, onde agora mora, Laura inventou um passado falso. Conta que foi abandonada bebê pela mãe. Que cresceu num orfanato de freiras, na cidade próxima de Riacho Frio, no estado do Rio de Janeiro, de onde garante nunca ter saído quando era criança. Adolescente foi trabalhar como babá para uma família norte-americana (o que é verdade), por isso fala inglês e tem certo traquejo social. Ficou sozinha novamente quando a família voltou para os Estados Unidos.

Mas um dia Laura se distrai e faz um comentário sobre algum filme que teria visto em Belo Horizonte, quando criança. Maria Clara estranha. Laura não disse várias vezes, enfaticamente, que nunca, na infância, tirou os pés do orfanato? Laura percebe o tropeço e inventa que as freiras tinham permitido que ela fosse certa vez com uma patronesse do orfanato, que tinha filha de sua idade, à fazenda da família, nos arredores de Belo Horizonte, e que uma vez as meninas foram levadas ao cinema. Maria Clara fica com a pulga atrás da orelha. Laura e Marcos sabem que ela escorregou, se expôs. Tentam corrigir o erro. Na verdade Marcos é que foi criado no orfanato citado por Laura. A instituição está em vias de ser desativada, mas algumas freiras ainda residem no velho prédio. Em paralelo, já vimos que Laura sente ciúmes de uma vizinha de Marcos, participação especial para poucos capítulos. Laura manipula a situação para que Maria Clara reviste seu quarto e encontre o endereço do orfanato. E mande

alguém de sua confiança verificar se Laura foi mesmo criada lá. Marcos, avisado por Laura, parte antes, à toda pela estrada, com a vizinha ao lado (confirmando ao público que Laura tinha boas razões para sentir ciúmes), a mulher prometendo fazer tudo o que Marcos lhe pedir. No orfanato, Marcos engana freiras que o adoram e consegue afastá-las todas do local através de um estratagema hábil e inescrupuloso (a ser desenvolvido). De modo que, ao chegar, o emissário de Clara é recebido pela amiga de Marcos, que, vestida como freira e fazendo-se passar por uma, lhe conta maravilhas da história de Laura no orfanato. Depois que o emissário faz o relato a Maria Clara, esta fica envergonhada das suspeitas "infundadas" e passa a ter ainda mais confiança em Laura. E é especialmente bom neste momento estar (ou sentir-se) apoiada em casa e na empresa. Porque, ainda abalada pela separação dolorosa de Otávio, ela vai começar a viver, mesmo sem se dar conta disso logo, uma história ainda bem mais

complicada e envolvente.

O primeiro encontro de Fernando e Maria Clara acontece num momento em que ambos estão enfrentando grandes decepções e reviravoltas em suas vidas. Isso talvez explique o antagonismo com que se encaram, sem se enxergar de fato e sem ter a mais remota suspeita de que chegará um dia em que não poderão viver um sem o outro. Fernando, recém-separado de Beatriz, está morando num apart-hotel e acaba de ter mais uma discussão desgastante com a ex-mulher. Ela o chama a pretexto de conversarem sobre um problema de Inácio mas na verdade quer enredá-lo mais uma vez em suas chantagens emocionais. Fernando se irrita, Beatriz perde o controle e ele acaba saindo furioso de casa. Está atrasado para uma reunião de negócios e dirige com agressividade, o que não é do seu feitio. Maria Clara, por sua vez, perturbada pelo recente rompimento com Otávio, também está ao volante de seu carro, remoendo sua revolta contra o gênero masculino em geral. Daria tudo para não ter que comparecer a um encontro com um de

seus contratados, mas jamais permitiu que seus problemas emocionais interferissem no trabalho. E não vai ser desta vez, por causa de um canalha machista, egocêntrico, sem caráter, que iria fazê-lo. Começa a chover, o que diminui a chance de encontrar uma vaga de carro no centro da cidade. O vai-e-vem do limpador de pára-brisas aumenta sua exasperação. De repente respira aliviada. Enfim, a utópica vaga! Aproxima-se, agradecendo aos deuses, quando percebe que outro carro chegou antes e já se posiciona para ocupá-la. Paralelamente, teremos mostrado Fernando penando para encontrar a mesma vaga. Maria Clara não pensa duas vezes. Manobra rapidamente e, antes que Fernando possa piscar, rouba-lhe a vaga, vitoriosa. Fernando desce do carro, furibundo. Segue-se um bate-boca em que os dois, estressadíssimos, despejam sua indignação pelo oportunismo, machismo, feminismo do sexo oposto, aquela série de "ismos" definitivamente inseridos nos relacionamentos de homens e mulheres do nosso tempo.

Quando se separam, ela pisando duro pela calçada, ele voltando ao carro, apoplético, nem se dão conta de que um grupo de curiosos seguiu toda a discussão e se dispersa tomando esse ou aquele partido. Muito mais tarde Fernando e Maria Clara ainda se enfurecem ao lembrar o incidente, ela satisfeita por ter derrotado aquele machistazinho prepotente, ele furioso com a atitude antiética daquela feministazinha mal-amada.

O destino parece estar se divertindo ao obrigar Fernando e Maria Clara a uma sucessão de encontros casuais, colocando-os sempre em situações de antagonismo e acirrando, dessa forma, tanto a antipatia inicial como, com o tempo, a curiosidade mútua e uma inevitável atração física. Mas a própria freqüência dos encontros acaba baixando um pouco as resistências de ambos, que terminam por achar graça em tanta coincidência. E, após um gesto cavalheiresco de Fernando, que deixa que Maria Clara arremate num leilão o quadro que ambos disputavam, ela resolve aceitar o convite dele para um café. O papo é gostoso e a sintonia entre ambos é inegável, mas é só quando uma fã vem pedir um autógrafo a Maria Clara que ambos se dão conta de que são pessoas conhecidas, sabiam perfeitamente da existência um do outro, e têm muito mais em comum do que supunham - afinal Fernando é ex-genro de Lineu, o patrocinador da produtora dela. É o suficiente para Maria Clara se esquivar e sair, fugindo a uma nova

possibilidade de encontro.

Nos dias que se seguem, Maria Clara pensa em Fernando muito mais do que gostaria. Ele, ao contrário, faz questão de não esquecer um só detalhe do rosto dela, e às vezes se pega sorrindo ao lembrar algum comentário divertido que ela fez. Faz um grande esforço para não procurá-la, mas mais uma vez o destino se encarrega de uni-los. E desta vez Maria Clara não consegue se esquivar. Nessa noite, num romântico jantar em um discreto restaurante, Maria Clara e Fernando já não conseguem mais negar que alguma coisa muito forte está surgindo entre eles. O restaurante tem uma pista de dança, ela diz que há muito tempo não dança, ele diz que é desajeitado mas a puxa, rindo. De repente entra uma música lenta e os dois se colam um ao outro num impulso irresistível, um silêncio pesado de sensações deliciosas, respiração ofegante, lábios dele tocando cabelos dela, depois buscando sua boca. O beijo surge delicado, intenso, fazendo o sangue correr quente pelos corpos unidos. Ela se afasta com enorme

esforço, perdida, diz que tem de ir embora. Ele não quer que ela vá, mas Maria Clara mais uma vez foge, sentindo que se ficar todos os seus propósitos irão por água abaixo. O manobrista demora a trazer o carro dela, Fernando ainda a alcança, e um novo beijo acontece, dessa vez forte, quase desesperado. O manobrista entrega o carro de Maria Clara. Ela se afasta, implorando que ele não volte a procurá-la. Mais do que nunca, dedica-se de corpo e alma ao trabalho.

No qual logo enfrenta novos problemas. Depois de período de total confiança, agradecida pela espécie de anjo que surgiu em sua vida, Maria Clara tem uma nova desconfiança da lealdade de Laura. Nelito continua assediando Laura. Eliete sopra de vez em quando ao ouvido de Clara que com freqüência Laura aparece com roupas que não poderia comprar com seu salário: onde está conseguindo dinheiro? Clara elogia um vestido novo de sua assistente, Laura tem logo uma boa desculpa para a aquisição.

Às vezes, Laura acompanha contratados de Maria Clara em sessões de fotografia, e é numa dessas sessões que vem a conhecer o famoso e premiado Bruno Carvalho, 29, bonito, inteligente, sofisticado, um gentleman conhecido por seu bom caráter, que passa um momento difícil de ruptura de casamento. Casado com linda modelo famosa, esta o traiu, de forma escandalosa, muito explorada pela imprensa, justamente com um famoso desportista irmão de Renato Mendes, um campeão de natação, participação especial de quem falaremos um pouco mais numa das histórias paralelas. Bruno chegou até a mudar-se de cidade, e veio de São Paulo para o Rio porque está penoso continuar a viver num lugar em que é bastante conhecido, nesta situação em que é quase apontado na rua, famoso como o mais notório marido enganado da hora.

Desde que conhece Laura, Bruno, tímido, tenta não demonstrar a atração que tem por ela. Mas Laura logo capta o que se passa, e aguarda o momento em que a inclinação do rapaz possa lhe ser útil. É o que acontece quando Marcos resolve armar um expediente para ganhar dinheiro excuso, vendendo para a revista concorrente fotos exclusivas da Celebrity, e Laura, já amiga de Bruno, é parte ativa de mais essa armação. Embora tenha tomado muitas precauções, Laura acaba deixando uma pista que leva Bruno a desconfiar dela. Bruno leva sua desconfiança a Maria Clara, justamente num momento em que Laura acabou de aparecer com um relógio que, segundo Eliete, está bastante acima de suas posses. (Este relógio dará credibilidade a Laura como empresária famosa num golpe que ela e Marcos estão preparando e que deve atiçar a curiosidade do espectador.) Laura fica sabendo que corre perigo por causa da desconfiança de Bruno e toma providências imediatas. Faz Marcos procurar Nelito às pressas e este salva

Laura, dizendo que o relógio é apenas uma imitação e seria um presente dele para Ana Paula, mas como os dois andaram brigando, o dera a Laura. Clara acredita na história. Como paga pelo favor, Nelito consegue passar uma noite com Laura, que se diverte com a situação. Vai ficando evidente que, apesar da relação forte com Marcos, Laura tem prazer em ver homens aos seus pés.

Em seus encontros furtivos, Laura e Marcos debocham de Nelito. Mas Bruno ficou desconfiado de que Laura tenha realmente traído sua empregadora e vendido as fotos à revista concorrente. Vai ficar atento a ela, e suas suspeitas terão conseqüências.

A Marcos, Laura revela que Renato Mendes a deixa insegura nos poucos contatos que têm. Trata-se de um homem sabidamente vingativo, com quem ela foi agressiva e arrogante. Comenta-se que várias vezes Renato usou chantagem em cima de segredos escabrosos de pessoas de quem fala em sua coluna. Laura tem medo de que Renato tenha descoberto alguma coisa comprometedora em seu passado, de que possua algo contra ela... Por isso, está determinada a lhe revistar o apartamento. Renato e Bruno moram no mesmo prédio de apart-hotéis. Para conseguir ter livre acesso à casa de Renato, Laura resolve tornar-se amante de Bruno, que ela vai usar, sempre se divertindo e tripudiando dele, como gosta de fazer com os homens.

Ana Paula, Corina e Nelito pressionam Maria Clara para conseguir com Lineu uma colocação para Nelito como apresentador de uma rádio de sua propriedade. Clara sente-se muito constrangida, porque sabe que Nelito é um fiasco como apresentador e não consegue pedir pelo cunhado. Acaba sendo acusada pela família de egoísta, "não ajuda os parentes" só porque "deu sorte". Numa discussão muito tensa, Maria Clara acaba explodindo. Não deu sorte, trabalhou muito, e ainda trabalha, isto sim! Joga na cara de Nelito que o cunhado já está mais do que na idade de compreender que não tem o menor talento, deve procurar outra coisa para fazer. O clima familiar fica extremamente pesado.

Maria Clara acaba de abrir uma pequena firma própria de transportes para ter independência na produção dos shows. A firma é basicamente composta de vans para transporte de material, um ônibus e um carro de luxo para conduzir celebridades, um helicóptero e até um pequeno avião. Para mostrar à família e a si própria que é humana, chama Nelito para gerenciar a subsidiária. Nelito, embora se sentindo injustiçado, mostra-se agradecido e passa a trabalhar como gerente da transportadora. Maria Clara, entretanto, logo vai ter que se preocupar com problemas para ela mais sérios.

Fernando tem de ir a São Paulo para dar início à produção do filme que será rodado na Amazônia. Passa pela casa da ex-mulher para dar um beijo de despedida nos filhos. Beatriz tem mais uma de suas crises, não admite que ele entre lá a seu bel-prazer. O juiz é quem vai decidir dias e horários de visitas aos meninos; até lá, ele que se contente em se comunicar por telefone. Fernando sabe que não adianta racionalizar nessas ocasiões e se despede. Inácio, o caçula, é quem mais se anima com a idéia de passar as próximas férias com o pai no meio da selva e Fernando vai embora confortado com essa perspectiva. No aeroporto, Fernando tem a sensação desagradável de estar se afastando dos filhos. E não consegue tirar Maria Clara da cabeça. Ela, por sua vez, também pensa muito em Fernando. Uma mulher independente, centrada, madura, não pode e não deve se sentir tão vulnerável. Nunca seus cabelos foram tão seguidamente lavados. É uma mania que tem toda vez que precisa tirar algum pensamento da

cabeça. Decide ir pessoalmente a São Paulo assinar um contrato. Acha que vai ser a chance de se distrair, encontrar amigos, curtir a cidade que adora. E quase consegue não pensar em Fernando até a noite chuvosa em que tenta pegar um avião em Congonhas para voltar ao Rio. Nunca acreditou em destino. Mas que outra explicação para encontrar Fernando diante do balcão do aeroporto, lutando por um lugar no mesmo vôo? Dezenas de pessoas se acotovelam diante dos balcões, o salão está congestionado por filas imensas, que aumentam à medida que a chuva se torna mais forte. Não há teto, os vôos estão atrasados e lotados, não há a mínima chance de voltarem pelos vôos regulares. Ambos têm compromissos importantes na manhã seguinte. Fernando propõe alugarem um jatinho, ela havia tido a mesma idéia.

O avião levanta vôo em meio à tempestade. Os trovões explodem lá fora, o aparelho joga muito, parece que não vai conseguir sair da nuvem negra em que se meteu. A voz do comandante avisa que há uma pane no motor mas não podem voltar a São Paulo, que está totalmente sem teto. Vão aterrisar no aeroporto de um aeroclube próximo. O avião parece correr sobre uma estrada esburacada. Maria Clara segura a mão de Fernando, alarmada. É impossível distinguir qualquer coisa lá fora. Fernando a abraça forte, protetor. Também sente medo mas adora sentir o corpo dela junto ao seu, o perfume da pele, dos cabelos...

O pequeno avião finalmente toca a pista, corre aos solavancos e pára. Clara, Fernando e os pilotos saltam sob uma chuva forte, há uma velha ambulância a postos mas estão todos bem, apesar do susto. Há táxis disponíveis para levá-los ao Rio ou até um hotel-fazenda nas redondezas. Fernando segura Maria Clara. Os dois viram a morte de perto. Não podem ter medo do que sentem. É evidente que têm vontade de ficar juntos. E se jantassem no hotel-fazenda? Acabaram de ter a prova de como a vida é tênue, por que não aproveitar o que ela está lhes oferecendo agora? Ela assente, com a impressão de estar vivendo uma fantasia, como nas histórias de amor que comprava nas bancas de revistas quando garota...

Depois do jantar, o beijo quente de Fernando, quando a porta do quarto se fecha, a traz de volta à realidade. Pela primeira vez, amam-se com paixão. E que paixão! De manhã, celulares ainda desligados, se demoram na cama, refazendo as juras de amor, prometendo nunca mais se separar. Ao se despedir no Rio, marcam um encontro para o dia seguinte. Maria Clara sabe que está apaixonada, que nunca sentiu nada igual. Fernando não aparece para o encontro. Ela liga para o apart-hotel e lhe informam que ele foi para São Paulo e ainda não voltou. Maria Clara não sabe o que pensar, uma sensação de pânico a invade como nos momentos terríveis no avião. Passa o fim de semana em profunda depressão.

Fernando, ao telefonar para falar com os filhos, ainda a caminho do apart-hotel, recebe uma notícia terrível. Fábio sofreu um acidente durante uma sessão de caça submarina, e está internado em estado muito grave na UTI de um hospital. Fernando chega como um louco e encontra Inácio perambulando pelo corredor. Abraça o filho. O garoto está em choque, estava praticando o esporte com o irmão acidentado mas não consegue explicar o que aconteceu. Beatriz aparece ao lado de um médico e, ao ver o ex-marido, se descontrola, soca-lhe o peito, gritando que o filho vai morrer porque não tem pai que cuide dele. Depois se joga em seus braços, chorando muito, pede perdão, está desesperada. O médico explica que Fábio está em coma profundo, houve comprometimento grande do cérebro. Não devem perder a esperança, é um garoto forte, de boa constituição. As próximas 48 horas são decisivas. Lineu chega, muito abalado. O sofrimento já não deixa lugar para ressentimentos e Lineu abraça Fernando, solidário.

Os dois dias que se seguem são terríveis. O quadro de Fábio se agrava, elevando a angústia a níveis insuportáveis. Fernando se inquieta com as reações de Beatriz. Sem dizer isso claramente, ela culpa Inácio pela morte do irmão. Os dois estavam juntos na hora do acidente. Poucas vezes se aproxima do filho, sempre seca, indiferente a seu estado. No terceiro dia, depois de uma noite de vigília, a família recebe a notícia de que Fábio acaba de falecer. Beatriz, apesar de estar sob efeito de calmantes, perde o controle, se desespera. Fernando tenta consolar Inácio, mas é impossível. Ele próprio não aceita a morte do filho. Lineu o ajuda a tomar as providências práticas para o enterro, que é marcado para o final da tarde. Inácio pede ao pai que não se afaste dele, não vai suportar sua ausência naquele momento.

Maria Clara vai ao enterro e a figura de Fernando abraçado a Inácio e Beatriz a deixa petrificada. Não tem sequer coragem de falar com ele. Depois do sepultamento, Beatriz tem uma crise histérica, ainda diante de alguns conhecidos, em que, aos gritos, acusa Inácio de responsável pela morte do irmão. Maria Clara presencia a cena patética. Quando os grupos estão se dispersando, Fernando vê Maria Clara, deixa Inácio por um instante entregue a Salvador, e a segue. A presença dela no enterro é natural, dada a relação que tem com Lineu Valadares. No próprio cemitério, afastados de todos, logo em seguida à terrível explosão de Beatriz, Clara e Fernando têm uma conversa muito dolorosa. Ela é a primeira a achar que, neste momento, Fernando não pode deixar o outro filho. Abandonam qualquer plano de ficar juntos no momento, decidem afastar-se ao menos temporariamente, já que não podem, como tanto desejavam, unir-se para sempre.

Fernando cogita de voltar para casa por algum tempo, por causa de Inácio. O garoto entra em depressão, não consegue desempenhar suas atividades normais, precisa de ajuda psicológica. Beatriz pede desculpas ao filho pela crise que teve no cemitério, mas se recusa terminantemente a dar a Fernando a guarda de Inácio. Aos dois, diz que adora o filho sobrevivente, nada é mais importante para ela nesta vida. Mas a verdade é que ela rejeita Inácio; sem Fernando na casa, o equilíbrio do menino, já seriamente abalado, estará muito ameaçado. Assim, Fernando se vê obrigado a recompor-se com a mulher. A produção do filme na Amazônia está fora de cogitação; ele não tem como se afastar do filho por oito meses: a única coisa que parece tirar Inácio da prostração é ver o pai de novo a seu lado. O estado de Beatriz não é menos preocupante. Fernando, embora dilacerado, é o esteio emocional da família. Preocupa-se com a frieza com que Beatriz trata Inácio, como se lamentasse não ter ele morrido no

lugar do irmão; confirma que não pode ficar longe do filho de modo algum. Um dia, vendo retratos antigos a seu lado, Fernando conta como conheceu Beatriz, fala sobre a paixão que os fez enfrentar tantos obstáculos, sobre o nascimento dos filhos. O garoto, numa cena muito tocante, pede ao pai para buscar dentro de si um pouco daquele sentimento por Beatriz, dar uma chance aos dois de refazer o casamento. Sem maiores perspectivas de trabalho no momento, Fernando aceita um cargo na empresa do sogro e fica de fato com a mulher.

Maria Clara tenta continuar sua vida, sem Fernando. E logo descobre que Nelito a está fraudando na gerência da subsidiária de transportes, superfaturando em conluio com locadoras o valor dos aluguéis de alguns dos veículos usados pela produtora, e dividindo o lucro pelas costas de Maria Clara com os comerciantes desonestos. Ela despede o cunhado, arrepende-se de lhe ter estendido a mão, diz num acesso de fúria tudo o que Nelito merece ouvir. Ana Paula fica contra o marido, de quem quer se separar. Nelito é posto para fora da casa, mas vai ficar assediando Ana Paula para aceitá-lo de volta, alegando que está arrependido, que nunca mais, aprendeu a lição, ela é a mulher que ama, mãe de seus filhos...

***

Fernando e Maria Clara não vão conseguir ficar separados como se haviam prometido. Ele, decidido a refazer seu casamento, procura em vão tirá-la da cabeça. Ela, consciente de que fizeram a escolha certa, tenta esquecê-lo. Apesar da saudade, não tomam qualquer iniciativa de reaproximação. Porém, algum tempo depois do último encontro, em que decidiram se afastar definitivamente, Maria Clara vai à Editora Valadares tratar com Lineu de um novo empreendimento, um show de música nordestina que ela está preparando para levar à Europa, devido ao sucesso de certos filmes brasileiros que usaram o forró como fundo musical. Animado, Lineu diz que tem uma surpresa para ela. Manda chamar seu genro, e "apresenta" Fernando Amorim a Maria Clara, garantindo que seu passado de produtor cinematográfico na Europa em muito poderá contribuir para a divulgação e o êxito do show. Maria Clara perde a voz quando vê o empresário entrar ao lado de Fernando. A surpresa do rapaz não é menor. Lineu faz elogios

rasgados a ambos. Eles apertam as mãos de modo formal, tentando não denunciar que já se conhecem...

Por um período, portanto, para manter as aparências, Maria Clara e Fernando serão obrigados a trabalhar no mesmo projeto. Maria Clara acha que não vai suportar a convivência. Ele promete que fará tudo para tornar os encontros menos penosos. Não ficarão juntos um minuto além do necessário. Despedem-se secamente, Lineu chega a perguntar a Fernando se não teve boa impressão de Maria Clara. E conta o quanto a admira, fala um pouco de sua história de luta e sucesso. Ela está tão abalada que não volta à produtora, alega que não está bem. Quer ficar sozinha para pensar na situação difícil que está vivendo. Para Fernando é ainda pior. À mesa do jantar sente o olhar de Beatriz pesar sobre ele, perscrutador, cheio de suspeitas, como se conseguisse adivinhar o que aconteceu...

A partir desse dia Fernando e Maria Clara vivem um pesadelo. As palavras que trocam parecem carregar um subtexto, os olhares se desviam sem querer revelar o ardor que sentem. Às vezes as mãos se tocam pela força das circunstâncias e a descarga de emoção os deixa a um milímetro de caírem nos braços um do outro. O desejo reprimido se torna cada vez mais avassalador. Um dia não conseguem resistir, se tocam e se beijam com loucura. Mas voltam à realidade antes que a paixão os leve aonde sabem que não devem ir.

Fernando tenta firmemente dedicar-se ao casamento. Beatriz faz um grande esforço para mudar, está mais suave, mais companheira. A dor pela perda do filho os une mais do que imaginam. Mas o relacionamento dela com Inácio continua pesado, preocupando Fernando cada vez mais. Beatriz é uma dona de casa exemplar, bonita, educada, admirada em sociedade pela gentileza com que trata as pessoas. Mas na vida íntima tem uma dificuldade imensa de lidar com seus sentimentos. Procura disfarçar a rejeição por Inácio. Mas os carinhos soam falsos; a voz, os olhos são frios mesmo quando tenta ser afetuosa. O rapaz se descuida dos estudos, passa horas trancado no quarto, acusa-se por não ter conseguido salvar o irmão.

***

Laura desconfia que Bruno está investigando seu passado e passa a vê-lo com menos frequência. Bruno torce para não descobrir nada de desabonador sobre a mulher por quem continua apaixonado. Investiga, juntamente com Renato. Descobrem que ao menos parte do que Laura conta é verdade: ela começou a trabalhar para uma família norte-americana quando tinha uns 15 anos e continuou com eles por bom tempo, ajudando-os a cuidar da casa e tomando conta das crianças. Laura sempre diz que o casal a tratava como uma filha, a fizeram continuar os estudos, patrocinaram cursos de inglês, informática. Cuidaram, enfim, de aprimorar bastante sua educação. Laura conta que se corresponde sempre com a sra. Thompson, para ter notícias dos rapazes que ajudou a criar. A família ainda estaria morando em Greenwich, onde Laura passou com eles uma longa temporada. Um dia, Bruno a surpreende lendo uma carta surrupiada da correspondência de Maria Clara. Laura diz que é carta da sra. Thompson, com notícias da

família. Logo em seguida, Bruno consegue se apoderar da carta. Que não é de nenhuma sra. Thompson, e sim uma carta pessoal, endereçada a Maria Clara. É evidente que Laura mente. Mas por quê? E com que objetivo? Certos detalhes de suas narrativas mostram que ela não poderia estar inventando tudo. O mais provável é que parte do que conta seja verdadeiro. Bruno volta a conversar com Laura sobre a família americana, com quem teria morado primeiro no Brasil e depois, por dois anos, em Greenwich. Bruno arrisca: "Greenwich, em New Jersey?", e Laura responde que sim, descreve alguns detalhes da casa, que lembra "com bastante saudade, foi muito feliz ali". Bruno leva a Renato a certeza de que Laura está mentindo mesmo, porque não existe em New Jersey uma cidade chamada Greenwich, ele chegou a pesquisar o assunto na Internet. Em Connecticut, sim, existe uma cidadezinha com este nome. Laura não se enganaria em relação ao nome do estado onde morou. Talvez nem mesmo exista uma sra. Thompson. Mas

que há alguma verdade nas narrativas de Laura sobre seu passado parece cada vez mais evidente a Bruno e a Renato. Bruno investiga os menores detalhes ligados aos relatos de Laura. E descobre que seu curso de informática foi pago por um americano, mas não Thompson. Quem bancou o curso foi um homem chamado John Preston Williams. Bruno apura que esse Williams trabalhou no Rio, justamente no período em que Laura tinha 15, 16 anos, no First National Bank of San Francisco (fictício). A família Williams levou Laura para os Estados Unidos quando ela tinha 16 anos. Moraram na costa oeste, donde a confusão feita por Laura quando mentiu a propósito da localização da cidadezinha de Greenwich, onde ela nunca esteve. O sr. Williams não pode ser localizado porque o banco não tem mais sucursal no Brasil. Bruno e Renato tentam se comunicar com a matriz, em São Francisco, na esperança de descobrirem o paradeiro do sr. Williams mas não conseguem, porque já se passou bastante tempo, Williams deve estar

aposentado e de qualquer modo nunca trabalhou em São Francisco, os registros de pessoal do banco são descentralizados, teriam de procurar na região em que ele esteve lotado por último...

Além das investigações que vem fazendo com Bruno, fica claro para o público que Renato também investiga sozinho, chega a contratar um profissional para levantar o passado de Laura. Mas não leva suas descobertas ao amigo Bruno.

Com o passar do tempo, é impossível a Fernando não revelar a Maria Clara o drama por que está passando. Já tem consciência de que é inútil insistir em refazer seu casamento. Por outro lado, uma separação agora está fora de cogitação. Tem grandes esperanças de que o filho consiga se reestruturar. Fernando não pode deixá-lo à mercê de Beatriz, que cada vez menos esconde a rejeição ao garoto. Nas discussões que se tornam de novo freqüentes, Beatriz afirma que em caso de separação jamais cederá a Fernando a guarda do filho. É a forma abominável que encontra para prender o marido como sempre desejou. Sabe que a última coisa que Fernando admitiria seria ver Inácio diante de um juiz, obrigado a dizer publicamente e com todas as letras que prefere viver com o pai porque a mãe não gosta dele. Maria Clara se comove com a situação de Fernando, os dois ficam mais próximos, começam a se encontrar fora do ambiente de trabalho, primeiro pretendendo ser amigos; depois, como não poderia deixar de

acontecer, como amantes. Ela, que tinha como regra de conduta não se ligar a homens casados, passa a ser, pelo menos por um período, o que tanto temia: a outra. Os dois se conformam porque estão certos de que é uma situação temporária. Algum dia Inácio vai se fortalecer psicológica e emocionalmente e Fernando deixará Beatriz. Procuram falar o mínimo possível sobre o assunto e aproveitar os poucos momentos em que podem estar juntos.

Enquanto isso, acompanhamos a vida na empresa de Maria Clara, onde fica cada vez mais claro que Laura e Marcos preparam um grande golpe, algo definitivo. Sem Maria Clara perceber, os dois acompanham a maior negociação para a vinda de uma atração internacional ao Brasil em que a Melo Diniz já se envolveu. O agente de uma grande estrela, empresário de vários grandes nomes do meio artístico internacional, vende antecipadamente todos os espetáculos que a estrela vai dar em diferentes lugares. A venda é de seu interesse porque o agente retém 70% do valor negociado. Maria Clara conseguiu fazer um pré-contrato, como de praxe, garantindo seus direitos sobre o show da estrela internacional no Brasil. Mas não está conseguindo fechar o contrato definitivo porque o agente ganha tempo para tentar subir o valor do ajuste. Lineu, o patrocinador, por sua vez, pressiona Maria Clara. Não quer esperar mais.

Maria Clara descobre por acaso que Laura abriu uma firma de produções artísticas em seu próprio nome. Acha estranhíssimo. Não é nenhuma empresa de porte, Laura efetuou apenas o registro formal da firma, uma operação de baixo custo. Mesmo assim, é bastante estranho. Laura tem uma desculpa convincente: queria empregar uma quantia que conseguiu juntar. Com a pequena firma em seu nome, pode facilitar a terceirização de alguns serviços, evitando vínculos trabalhistas para a Melo Diniz, favorecendo Maria Clara e lucrando ela própria modestamente. Pode ser verdade. Como pode não ser. Desta vez Maria Clara fica menos segura da lealdade de Laura. Não quer ser injusta, sabe que pode estar errada. Mas manter Laura em sua própria casa ela não quer mais. Sua intuição lhe diz que a moça não deve continuar trabalhando para ela, nem morando em sua casa. As suspeitas não chegam, entretanto, a justificar que prejudique Laura. Assim, o que lhe parece mais justo é pedir a Lineu Valadares um trabalho

para Laura em suas organizações. Lineu atende prontamente ao pedido. Como Fernando precisa de uma assistente, Lineu lhe oferece Laura como sua funcionária. Sempre envolvente, Laura conquista Fernando, mostra-se capaz, competente. E passa a trabalhar com ele, sem desconfiar - nem Lineu, naturalmente, desconfia - que Maria Clara e Fernando sequer se conheçam. A aproximação de Laura e Fernando é excitante para Renato Mendes, que cada vez mais vê em Fernando uma grande ameaça a seus planos de ser um dia o sucessor de seu tio Lineu na presidência do grupo. Mas Renato ainda não sabe, por ora, como usar esse fato novo.

Salvador, o pai de Fernando, quer ajudar seu amigo Quintela, o compositor ex-presidiário, a provar que, embora tenha matado o cantor Wagner, crime pelo qual já pagou, foi realmente ludibriado: a canção "Musa do Verão" era mesmo de sua autoria. Salvador acredita que Maria Clara possa ter sido levada a prestar falso testemunho, no processo de 1988, quando afirmou ter visto Wagner compor a canção diante dela. Teria construído sua carreira de modelo dos produtos Summer Spell em cima de um golpe? Poderia também, Salvador acha mais provável, ter sido ludibriada pelo noivo assassinado durante a festa de casamento. Lineu Valadares teria denunciado Quintela à polícia para proteger seus interesses como dono da marca Summer Spell? A verdade poderia vir à tona se fosse encontrada alguma prova da inscrição da música no festival, como sempre alegou Quintela. Mas essa prova de inscrição não foi encontrada na época do processo, nem quando passou a ser um possível trunfo da defesa num julgamento por

assassinato. Por que haveria de ser encontrada agora?

Na empresa, leves toques de mistério mostram que se aproxima o dia do golpe maior que Laura e Marcos estão preparando. Renato foi a Los Angeles, em viagem de trabalho. Promete a Bruno que vai tentar esticar a viagem a São Francisco, para investigar na matriz do banco o paradeiro do sr. Williams.

O agente que vem negociando com Maria Clara chega ao Brasil. Os dois marcam um encontro. Enganando Noêmia e trocando e-mails verdadeiros por falsos no computador da Melo Diniz, Marcos (sempre agindo em conjunto e às escondidas com Laura, que já deixou a empresa) consegue fazer Maria Clara pensar que o encontro ficou marcado para o Rio quando na verdade a combinação com o agente é para um hotel da mesma cadeia e nome, mas em São Paulo. Laura tem esperança de conseguir outro patrocínio, de uma firma (fictícia) de São Paulo, porque sabe que um dos diretores dessa empresa é louco por ela. Partem às carreiras para a capital paulista. Na véspera do encontro marcado com o agente, no entanto, Laura e Marcos descobrem que o diretor que pensavam que decidiria o patrocínio não tem qualquer influência nessa área. Para isso, quem tem poderes é a proprietária, uma senhora. Os dois se vêem perdidos. Até descobrirem que a dona da empresa é altamente desfrutável, muito inclinada a amores mais jovens

e, num encontro "casual" que os dois armam, mostra-se sensível ao charme e sensualidade do jovem Marcos. Que consegue combinar um tête-à-tête com ela para aquela mesma noite. Na manhã seguinte, ainda sem resultados da noitada, Laura corre para o hotel em que ficou marcado o encontro com o agente, onde este já está esperando impaciente por Maria Clara que não aparece. Marcos chega a tempo de dizer que garantiu o patrocínio com a dona da empresa. Laura faz o agente pensar que ela é uma empresária experiente. Irritado com Maria Clara, que ele acha que lhe deu o bolo, o agente conversa com Laura. Que se mostra ladina, negocia bem, oferece quantia maior do que a proposta por Maria Clara e fecha o negócio. Laura consegue portanto assinar o contrato milionário. Foi para isso que abriu a firma em seu nome. Rouba o grande contrato de Maria Clara, mas a protetora de Marcos já se considera satisfeita, não quer continuar patrocinando o jovem amante. Laura acha mais prudente, no momento, ficar

numa posição discreta, usar um testa de ferro na promoção do mega-show. Ao menos até conseguir um patrocinador definitivo para continuar a carreira. Maria Clara tem forte prejuízo financeiro.

***

Laura faz o possível para se aproximar de Lineu, que poderia ajudá-la das formas mais diversas na nova carreira, mas não consegue ainda realizar seu intento. Lineu tem afeição por Maria Clara e é bastante reticente em seus eventuais encontros com Laura. Ela comemora a vitória parcial num jantar íntimo com Marcos, seu cúmplice. Durante o jantarzinho à luz de velas, Renato aparece de surpresa, chegou há pouco dos Estados Unidos. Bruno perguntou-lhe se ele conseguiu informações sobre o sr. Williams em São Francisco. Renato respondeu, apressado, que, infelizmente, não teve tempo de ir a São Francisco. Foi surpreendido com a notícia, para ele terrível, de que Fernando está cada dia mais nas boas graças de Lineu, e foi promovido a vice-presidente do grupo. Diante de Renato, Laura se mostra exultante. Tudo indica que daqui por diante sua vida pode mudar, ela pode conseguir muita coisa com que provavelmente vinha sonhando. Autoritário e enérgico, no entanto, Renato tranca-se com Laura e lhe

passa uma grande descompostura, saboreando as palavras com crueldade, cinismo, arrogância. Garante que descobriu tudo sobre ela. Esteve, sim, na matriz do banco, onde conseguiu o endereço da viúva do falecido funcionário John Preston Williams. E foi procurar a viúva. Que lhe contou toda a verdade sobre a cândida Laura, que desde os 15 anos de idade a tinha "ajudado a criar seus filhos". Muito jovem, Laura tornou-se amante do falecido sr. Williams. Por causa da ambição desmesurada da amante, o sr. Williams deu um golpe no banco em que trabalhava, numa tentativa de roubar milhões de dólares. Descoberto, suicidou-se. Laura saiu fugida dos Estados Unidos. Ao menos, fugida da família Preston Williams. No Brasil, Laura tentou sem sucesso uma posição em diversas empresas, sempre ligadas a show-business, mas nada conseguiu, dada sua pouca idade. Renato garante que ainda poderá descobrir se não foi como golpista que Laura entrou na vida de Maria Clara Diniz. Está convicto de que o seqüestro

de Maria Clara nunca desvendado pela polícia foi armado por ela, para ter a confiança da celebridade e entrar para seu staff. Lineu jamais dará apoio a uma mulher de tão pouco caráter. Ele, Renato, felizmente, é mais maleável. Pode se calar, se Laura aceitar fazer tudo o que ele mandar. Mas, rigorosamente, tudo. Deixa claro que sempre a desejou, e que sabe que satisfazer plenamente a todos os seus desejos não será problema para uma mulher que, adolescente ainda, soube seduzir um homem de 60 anos ao ponto de levá-lo a correr todos os riscos por não poder ficar sem ela. Mas isso é apenas o começo - a diversão antes do trabalho sério. O principal é que Renato a quer trabalhando para ele ao lado de Fernando Amorim. Como espiã, trazendo todas as informações que puderem prejudicar Fernando. Boicotando projetos do chefe, sempre que necessário. Laura argumenta que é absurdo, já chegou a um ponto alto demais para continuar trabalhando como assistente de Fernando. Renato diz, com ar de

deboche, que Laura pode ter um belo futuro pela frente, sim, desde que se submeta a todas as vontades dele. Só resta a Laura dizer que vai fazer tudo o que Renato mandar.

Maria Clara e Fernando continuam sua relação clandestina, tomando grande cuidado para não serem descobertos, o que poderia prejudicar muito o precário equilíbrio de Inácio. A limitada felicidade do casal não dura muito. Seguindo as ordens de Renato, num momento em que está fazendo uma investigação de ordem empresarial, Laura descobre que Fernando e Maria Clara são amantes. Sempre de forma sinuosa, com ares de boa moça, Laura consegue levar a informação a Lineu, que não admite a possibilidade de que sua única filha venha a sofrer. Manipulado por Laura, Lineu não renova o contrato de patrocínio da próxima temporada dos shows de Maria Clara, e - consagração definitiva de nossa vilã - aceita patrocinar um show produzido por Laura, que daí em diante deixa de ser assistente de Fernando.

Mas nada parece ser suficiente a Laura em sua obsessão contra Maria Clara. Consegue se tornar amiga da mulher de Fernando e a faz descobrir o adultério do marido, sem Beatriz se dar conta de que foi manipulada pela nova amizade. A partir daí Laura tem mais uma forte aliada, a filha de Lineu Valadares. Beatriz usa um subterfúgio para atrair a rival Clara a sua casa e a humilha, fazendo toda a sorte de ameaças. Jura que, se não abandonar Fernando, Maria Clara vai ser a culpada pelo desmoronamento psicológico de Inácio, filho de seu amante. Afirma que não hesitará em envolver o garoto na história. Fernando não tem direito de abandoná-la depois de tantos anos de dedicação. Por amor a ele Beatriz deixou pai, pátria, amigos, teve os filhos num hospital horrível, viveu na pobreza durante longo tempo até se equilibrarem financeiramente. Perdeu o filho que adorava, será capaz das piores loucuras se Maria Clara lhe roubar o marido também. Clara responde à altura. Diz que Beatriz está mostrando

de forma muito nítida que Fernando não pode ser feliz ao lado dela. Durante a discussão, Inácio entra na sala e Beatriz disfarça, não quer que o rapaz entenda quem é Maria Clara. Inventa que se trata de uma pessoa que foi desonesta com seu pai, Lineu. Problemas de negócios, mas tudo será resolvido muito breve porque a mulher sabe que se insistir em ser desonesta é só ela que tem a perder. Beatriz sai vitoriosa. Inácio fica um instante sozinho com Maria Clara, sem desconfiar que se trata do grande amor da vida de seu pai. É doce, pede desculpas pela agressividade da mãe, diz que ela é assim mesmo, mas que Maria Clara com certeza resolverá qualquer tipo de problema mais facilmente com seu pai, Fernando Amorim. Não é difícil Maria Clara notar que quando fala do pai os olhos de Inácio brilham, passam nitidamente sua enorme admiração e confiança. Depois de conhecer o menino, Maria Clara começa a pensar cada vez mais em renunciar a Fernando pela felicidade de Inácio.

Uma noite, atingido de forma especialmente aguda pelo desprezo da mãe, Inácio bebe demais, pega o carro do pai às escondidas e sofre um acidente grave. Os pais só então se dão conta do real motivo da atitude do rapaz - esqueceram o aniversário do filho. Inácio completa seus 16 anos num leito de hospital. Tem crises de choro, lamenta não ter morrido também. Quando se recupera dos ferimentos, passa um período numa clínica de repouso. A situação é vivida por Fernando com grande sentimento de culpa. Sempre foi louco pelos filhos, mas Beatriz tinha razão quando o acusava de passar o trabalho à frente da família. Percebe como é doloroso assistir ao sofrimento de um filho e não se sentir capaz de ajudá-lo. Por outro lado, o acidente de Inácio só faz aumentar o rancor de Beatriz contra o marido e sua amante, piorando ainda a situação.

Maria Clara tenta romper a ligação com Fernando mas este não aceita. Ela decide passar algum tempo sozinha e vai para um belo hotel em Búzios ou outra cidade de veraneio. Os dias ensolarados, as caminhadas na praia lhe fazem bem. Uma noite, antes do jantar, passeia pela Rua das Pedras e adjacências, olhando melancólica os casais que passam abraçados. Senta-se, apenas por um instante, em um banco diante do mar. Um rapaz está em um banco próximo, também contemplando o mar. É jovem, bonito, vestido quase pobremente. Quando Maria Clara se levanta e indo embora passa por ele, o rapaz reage. Ela não nota, a partir dali, que é seguida. Maria Clara janta na mesa do luxuoso restaurante de seu hotel, sem apetite, tristonha. A vontade de telefonar a Fernando é imensa, mas ela se contém. Uma discussão na entrada do salão a faz virar a cabeça. E se espanta ao ver o rapaz, que a seguira um pouco antes, tentando entrar para falar com ela, sendo impedido com frieza pelo maître. Maria Clara vai até

eles, toma a defesa do rapaz, indignada pela forma preconceituosa e humilhante com que o jovem é tratado. O maître faz rapapés, não sabia que era um amigo da hóspede. Ela responde que não o conhece mas não suporta que ninguém seja maltratado porque não usa roupas de luxo. O rapaz estende um casaquinho, diz que só veio entregar, ela esqueceu no banco da orla. E já vai indo embora quando ela o chama, convida-o para jantarem juntos. Ele aceita, confessa que ia comer um sanduíche qualquer. Para espanto de Maria Clara, o jovem assimila o incidente com espírito esportivo, não se sente humilhado, faz comentários divertidos sobre a situação. Ela termina rindo. E o rapaz confessa que a reconheceu, adora música, tem grande admiração por seu trabalho, já a tinha visto numa festa em que ele fazia um bico como garçom. Apresenta-se, seu nome é Hugo, tem 22 anos, há algum tempo deixou a família numa cidadezinha do Norte do Estado, e faz artesanato para se manter. Admira muito Maria Clara desde que

leu sua história nas revistas, nunca imaginou que fosse conhecê-la tão de perto. É mais linda assim, acrescenta, fazendo Clara sorrir de seus modos francos. Conversam um pouco sobre banalidades, Hugo é espirituoso, ela se diverte com a descontração dele num ambiente que só freqüenta provavelmente como garçom. Acha-o despretensioso, puro, e se interessa em saber de sua vida e planos para o futuro. Uma das coisas que a intriga em Hugo é a falta de ambição. O rapaz vive apenas o momento presente. Quando voltam para o Rio, Maria Clara lhe oferece carona. Sem perceber nesse primeiro momento o fascínio que causa nele. A partir desse dia, ele procura estar nos lugares que sabe que ela freqüenta, e olha-a de longe. Ela acaba se dando conta da presença dele, percebe que é proposital e se inquieta com aquilo. Agora não pode deixar de notar o encantamento do rapaz. Um dia Hugo toma coragem e confessa que está apaixonado. Maria Clara acha graça, não consegue levar muito a sério, mas fica

comovida. Os dois começam a conviver mais e Maria Clara, amargurada pela impossibilidade de ficar com Fernando, se sente cada vez mais tocada com aquele amor jovem, desinteressado, com a entrega total do rapaz. Fernando não desiste dela, tenta reatar o romance, inconformado. Há nova ameaça de Beatriz, envolvendo Inácio, e o papel de amante se torna definitivamente insuportável para Maria Clara. Entende que não há esperança, Fernando jamais vai poder se desligar daquela mulher. Para afastá-lo de modo convincente, ela finge estar apaixonada por Hugo e só assim Fernando, magoado e sofrido, aceita o rompimento. O rapaz se torna a companhia mais freqüente de Clara, estão sempre juntos em quase todos os lugares e situações.

A família de Maria Clara, especialmente Corina e Ana Paula, começa a ver na ligação de Clara com Hugo uma grande ameaça. Não entendem como ela pode confiar tanto num rapaz que conheceu do nada e que julgam um aproveitador. No dia em que Maria Clara dá a Hugo uma procuração para representá-la num encontro de negócios de vulto, o horror das duas mulheres chega ao auge. Era à irmã que Clara sempre recorria nesse tipo de situação. Aquilo soa a ambas como sinal de que alguma coisa precisa ser feita, e depressa. Ana Paula e Corina há muito vêm sonhando com a idéia de que Maria Clara não se case nunca. A série de insucessos amorosos só as faz acreditar cada vez mais nessa possibilidade. Nesse caso, todo o seu patrimônio pertenceria futuramente aos três sobrinhos. Tentam intrigar Hugo com Maria Clara mas sempre acabam sendo descobertas e passam por momentos embaraçosos. Até que um dia, numa discussão familiar à hora do jantar, em que Hugo dá uma opinião sensata, com a única intenção de

acalmar os ânimos, Ana Paula manda-o se calar, não é da família, não tem onde cair morto, não pode se intrometer, ameaça expulsá-lo da casa. Maria Clara, revoltada, diz que Hugo já é da família, sim: os dois vão se casar. Uma bomba detonada no meio da sala não causaria efeito mais devastador. E ela completa: se alguém vai sair daquela casa são a mãe, a irmã e os sobrinhos. Que tratem de procurar imediatamente outro lugar para morar.

Por algum tempo Maria Clara se deixa levar pelo entusiasmo de Hugo, pelas mudanças na família depois da notícia, pelos preparativos para o casamento. Hugo vem morar na casa, os dois se divertem com os planos para o futuro. Os empreendimentos de Maria Clara não têm o mesmo sucesso que tinham com o patrocínio de Lineu, mas isso não parece torná-la infeliz. Chegam a marcar a data do casamento, mas dias antes Maria Clara cai em si, como se acordasse de um longo torpor. Não pode usar Hugo daquela forma, nenhum dos dois tem a mínima chance de ser feliz assim. Ela não conseguirá amá-lo porque será sempre apaixonada por Fernando. É um amor sem esperanças, mas tem de se conformar que não desaparecerá. Hugo fica arrasado mas entende e sai da vida dela. Clara o leva a aceitar uma viagem para fora do Brasil.

Sempre com medo de ser incomodado por Chico Quintela, o próprio Lineu começa a desconfiar que Maria Clara pode ter prestado falso testemunho no processo de 1988. Salvador acredita totalmente que Chico seja o autor da canção. Por várias vezes, Fernando comentou isso com Clara, confia na intuição do pai, homem de bom senso, justo. Clara não pode deixar de se perguntar: e se Chico estiver dizendo a verdade? Se ela foi enganada por Wagner e realmente prestou falso testemunho? Estaria por todos estes anos recebendo um dinheiro ilícito pelos direitos autorais de Musa do Verão e o lucro dos produtos Summer Spell... Também Lineu começa a pensar mais e mais nesta hipótese. Maria Clara por necessidade de se sentir justa, Lineu mais por medo de ter algum prejuízo financeiro, pois sabe que nada fez de ilegal. Nem a um nem a outro parece haver alguma forma de provar que Chico é autor da canção. Se ele realmente inscreveu a canção no festival da rede de televisão que já não existe, antes de Wagner

registrá-la - como sempre alegou -, por que a documentação de inscrição e a fita demo pedida pelos organizadores teriam desaparecido? Nelito, na época bastante jovem, começava sua vida profissional no canal de tevê depois extinto. No momento, Nelito está tentando fazer com que Ana Paula o aceite de volta, como marido, e tenta uma nova carreira, a de agente de celebridades, na verdade agente de candidatos a celebridades, como as personagens descritas na última de nossas histórias paralelas (ver a seguir). Para tentar ser perdoado por Maria Clara e ter seu apoio, é Nelito quem vem lhe trazer uma possibilidade de pista para a resolução do enigma. Ademar, a mão direita de Ernesto na produtora de Maria Clara, trabalhava na organização do festival de música. Ora, Ademar, embora simpático, nunca demonstrou nenhum talento especial. Por que Ernesto, irmão do falecido cantor-compositor, lhe teria dado trabalho? Nelito acha que pode haver alguma relação entre a amizade de Ernesto e Ademar, e o

desaparecimento da inscrição da música no festival, caso Chico Quintela esteja dizendo a verdade. Nelito traz essa dúvida a Maria Clara. Que admite a hipótese de haver alguma ligação. Clara se obstina em descobrir a verdade. Não é difícil, com suas ligações, descobrir que, pouco antes da morte de Wagner, Ademar deixou seu emprego no festival. É o suficiente para que Maria Clara procure Ademar e o pressione. Relembra-lhe toda a história. Ademar jura que não sabe de nada. Diz-se humilhado, diante da filha, Darlene (personagem desenvolvida em história paralela), não admite que suspeitem que ele tenha feito, algum dia, seja lá o que tiver sido de errado.

Quando Beatriz descobre que Maria Clara e o jovem Hugo se separaram, teme que ela volte para Fernando. Inácio, o filho problemático (ver história paralela), está por fim se tornando mais forte justamente por uma relação de namoro inesperada, com Eliete, a melhor amiga de Maria Clara. É grande a diferença de idade entre os dois. Enorme a diferença de nível social e cultural. Um rapazinho rico e uma mulher do povo, vulgar mesmo, aos olhos de muitos. Eliete e Inácio, a princípio, não têm coragem de enfrentar o meio em que vivem, tornando ostensiva a relação. Eliete se abre com Maria Clara. Que sabe o quanto a amiga é bom caráter, mas teme pelo futuro de Inácio, até então um rapaz tão problemático. Clara não julga, mas o caso dos dois a preocupa. Embora o casal pareça tão positivo, mais fisicamente realizados do que propriamente vivendo um grande amor. Ambos gostariam que Clara os ajudasse a resolver se devem aparecer juntos em público ou não. A própria Clara não sabe o que seria melhor.

Enquanto espera, para facilitar encontros do casal, Clara deixa que usem um discreto apartamento alugado em seu nome. Ajuda-os, por uma fase curta, a manter o romance escondido. E Laura descobre o que está acontecendo. Leva a notícia do romance a Beatriz, que fica mortificada. Seu único filho e uma "sacoleira" de 37 anos, amiga da "vagabunda" que tentou lhe roubar o marido? Juntas, Laura e Beatriz resolvem usar a ligação entre Inácio e Eliete para fazer Maria Clara e Fernando romperem definitivamente. As duas põem em prática um plano diabólico. Se Fernando achar que Maria Clara está seduzindo Inácio jamais a perdoará. Ele já sabe que Clara gosta de homens mais moços, Hugo não é tão mais velho assim que Inácio. Com Maria Clara acobertando o romance, o apartamento alugado no seu nome, é razoavelmente fácil para Laura e Beatriz prepararem uma armadilha de forma tão ladina que Fernando encontra Maria Clara e o filho em situação que o faz ter certeza de que os dois se tornaram amantes.

Fernando é totalmente enganado, presa de uma confusão enorme de sentimentos entre os ciúmes e o medo pelo filho. A briga que tem com Maria Clara é medonha. Fernando é incapaz nesse instante de raciocinar com objetividade. Quando descobre a verdade, cai em si e a procura. E aí é ela que se sente incapaz de perdoá-lo, a suspeita de que foi alvo foi injusta e humilhante demais, não vai conseguir esquecer. Como Beatriz e Laura previam, a separação do casal desta vez parece ser para sempre.

***

O novo show produzido por Laura é extremamente bem sucedido. Ela e Maria Clara passam a ser inimigas declaradas. Apesar de todas as turbulências na vida pessoal, Maria Clara tenta levar sua carreira adiante. Mas, com o patrocínio de Lineu, a ascensão de Laura é agora vertiginosa. Cada novo show é mais bem sucedido do que o precedente.

Como coroamento de sua bem-sucedida carreira de golpista inescrupulosa, Laura vai receber este ano o Prêmio Cultura do setor musical, pela divulgação da música brasileira nos Estados Unidos. No dia da entrega do prêmio, Clara descobre que foi Laura que armou, com a ajuda de Beatriz, a situação que fez Fernando pensar que ela e Inácio eram amantes. Durante a festa, Maria Clara encontra Laura no banheiro e, depois de discussão muito violenta, investe sobre a outra, a esbofeteia, rasga-lhe o vestido no confronto. Laura fica no chão, derrotada e espancada. Maria Clara só quer saber por quê, o que levou Laura a agir da forma como agiu. Laura só lhe responde que ainda não fez nada, Clara merece bem mais...

A Marcos, Laura jura que vai destruir Maria Clara de forma bem mais definitiva, garante que ainda tem muito a fazer. E não fica na ameaça. Consegue com a ajuda do amante colocar uma boa quantidade de cocaína no avião que Maria Clara já pôs à venda e cuja gasolina agora está pagando com grande dificuldade. Faz a denúncia anônima à polícia e Maria Clara é presa. É recolhida a um camburão, momento de glória total para Laura. Clara sabe que só pode ter sido vítima de mais uma armação da inimiga, nem a mala elegante em que a droga é encontrada lhe pertence. Só consegue balbuciar a Laura, antes de entrar no carro da polícia: por quê? E, finalmente, em grande explosão catártica, Laura lhe confessa as razões que a levaram a agir da forma como agiu. Estas razões envolvem outros personagens e fazem a história caminhar para seu epílogo, sempre opondo a cada vez mais cruel Laura à heroína, Clara, que tenta se reerguer.

Clara é indiciada por tráfico de drogas, acusada de usar sua produtora como fachada para a atividade criminosa. Apoiada por Fernando, agora não mais seu amante mas novamente amigo, Maria Clara consegue ser excluída da denúncia em juízo por falta de provas de seu envolvimento pessoal direto. O escândalo, entretanto, praticamente destrói sua carreira.

Maria Clara é procurada por Darlene, a filha de Ademar. Em 88, a garota tinha 9 anos. A mãe ainda era viva, mas brigava muito com o pai. Ademar é um fraco, extremamente simpático mas um fraco, viveu sempre em grande insegurança financeira. Darlene estava presente durante a recente conversa de Clara com Ademar, que jurou não ter nada a ver com história de festival de música no canal de tevê onde trabalhava quinze anos atrás. Dali em diante, cada vez mais Darlene vai lembrando que este foi um assunto de discussões acaloradas entre sua mãe e seu pai, na época. Mais importante do que isso, Darlene se lembra de que, um dia, a mãe saiu com ela, para tirar cópias de um documento e de alguma coisa gravada em fita cassete. Disse a Darlene que no futuro aquelas cópias poderiam ser muito úteis a seu pai. Morreu alguns anos depois. Mas fica claro que Chico Quintela pode, com efeito, ter inscrito "Musa do Verão" num festival - como sempre afirmou. E que Wagner pode ter feito Ademar sumir com a

inscrição, antes do festival se realizar. Neste caso, Ademar teria vendido a documentação a Wagner, e esta teria com certeza sido destruída. Por medo de que alguma coisa pudesse acontecer ao marido, a mãe de Darlene pode ter feito cópia dos documentos e guardado em algum lugar. Maria Clara e seus amigos empenham todo o esforço em encontrar o que a mulher de Ademar teria escondido. E, com a ajuda de Darlene, acabam conseguindo. Na casa de uma irmã da falecida, em Barra Mansa. Pressionado, Ademar tem de confessar o que escondeu por todos estes anos. Foi comprado por Wagner e seu irmão, Ernesto. Sumiu com as provas. Não sabia da importância que a documentação destruída viria a ter. Sua mulher sempre achou que Ademar podia estar fazendo alguma coisa mais grave do que ele próprio pensava. Por isso, fez as cópias, com medo de que Ademar viesse a ser preso. Não disse nada ao marido, que considerava um irresponsável.

Assim, Maria Clara e Lineu ficam sabendo que foram enganados. E, apesar do crime, pelo qual já cumpriu sua pena, Chico Quintela tem direito a bastante dinheiro. Além do reconhecimento da autoria da canção e conseqüente fama. Maria Clara se entende com advogados. Acha justo dar a Chico, naturalmente com correção monetária, todo o dinheiro que ganhou com os direitos autorais de Musa de Verão e com os produtos Summer Spell. Retrata-se com Chico e entra num acordo legal, evitando o penoso processo com que seria ameaçada. Já Lineu acha que Maria Clara está sendo generosa demais. Não aceita sequer ver pessoalmente o ex-amigo de juventude. Manda os advogados lhe oferecerem apenas uma pequena parte do que ganhou com os produtos Summer Spell. Dar tudo lhe parece um exagero. Chico o processa; o antagonismo entre os dois aumenta. E cresce mais ainda quando Lineu se apaixona pela linda jovem Darlene e patrocina a defesa de Ernesto e Ademar. Paga bons advogados, os dois são levados a julgamento

mas condenados a penas leves, que vão poder cumprir em liberdade. Laura emprega Ernesto em sua firma, cada vez mais bem-sucedida.

O acordo financeiro com Chico é um grande baque para as finanças de Maria Clara, já bastante abaladas. E ela agora não vai mais contar com as quantias expressivas que sempre recebeu de royalties dos produtos Summer Spell. Sua empresa terá agora uma sede modesta, e suas possibilidades de voltar ao apogeu parecem bastante reduzidas. Vende seu luxuoso escritório e sua própria casa residencial, pensa ela que a um negociante de São Paulo. Efetuada a transação, descobre que tanto o escritório quanto a casa foram comprados, através de testas-de-ferro, por Laura. Que mostra a cada dia um comportamento mais obsessivo, chegando mesmo a convidar Ana Paula e Nelito, agora reconciliados, a morar com ela. É evidente que Laura quer tudo o que foi de Maria Clara. Até mesmo Fernando. E vai fazer tudo para tê-lo. Mas este não a olha duas vezes.

Corina sente agora quanto foi injusta com Maria Clara, pede perdão à filha em cena comovente e fica do seu lado.

Otávio volta ao Brasil, modificado. Ao ver Maria Clara na difícil situação em que se encontra, jura que vai ajudá-la a se recuperar. Compreendeu que não aceitar uma Maria Clara vitoriosa no trabalho era insegurança de sua parte.

No dia em que consegue comprar a casa, Laura prepara uma comemoração quando é surpreendida por Renato com a revelação de que já tem certeza de que foi ela que deliberadamente destruiu Maria Clara. Tem provas de que foram Laura e Marcos que colocaram a cocaína no avião da produtora. Desconfiado desde que soube que Clara havia negado até mesmo ser sua a mala em que a droga fora encontrada - uma maleta elegante de loja conhecida do Rio -, Renato tinha ido à loja, envolvido uma das vendedoras, até conseguir pôr as mãos no tape da câmera de segurança do estabelecimento. Que mostrava a mala, peça única, sendo comprada... por Laura e Marcos.

Laura e seu amante podem ser presos. Assim, Laura é obrigada a se submeter a todas as vontades de Renato. A continuação desta situação está na trama paralela que envolve Laura, Noêmia e Ubaldo.

***

Maria Clara vai travar ainda uma luta longa e sofrida contra a implacável adversária decidida a liqüidá-la de qualquer maneira. No curso da qual descobrirá, até, pertíssimo de si, o menos provável dos espiões, lá plantado por Laura... Nestas descobertas, será fortemente ajudada por Bruno, que vem há muito tempo investigando as ações inescrupulosas de Laura e, para desmascará-la, vai fingir que voltou a ser um fantoche em suas mãos.

Maria Clara é lutadora, competente, muito mais experimentada do que sua grande inimiga, Laura. E, embora honesta, nada tem de ingênua - menos ainda depois do que passou ultimamente. Laura, porém, tem um grande trunfo sobre Clara: é implacável, absolutamente inescrupulosa, não se deterá diante de nada para destruir a rival que odeia (ou que inveja, ou, mais provavelmente, que inveja e odeia). Além disso, seu atual momento é incomparavelmente mais favorável do que o da outra - desprestigiada, empobrecida, quase sem recursos ou ânimo para continuar lutando. Enquanto Laura é uma empresária em espetacular ascensão, competência sempre mais reconhecida (e com justiça, é preciso dizer; competente, ela é) - juntamente ao quê, se acumulam, como é natural, mais recursos, dinheiro, conhecimentos e relações, numa espécie de torrente. Ou de círculo virtuoso... ou vicioso.

Clara é honesta, joga limpo, luta ferozmente para voltar ao lugar a que chegou pelo próprio esforço, e do qual foi alijada por manobras, calúnias, traições. Laura usa, além da capacidade, a sedução, a mentira, não hesita diante de nada, está sempre com o punhal armado para cravar nas costas de quem se puser em seu caminho. Não receia ser vítima, como Clara, de tramóias, difamação, deslealdade. Porque ela própria manipula por antecipação, calunia antes, trai primeiro. E... será que ainda faz qualquer sentido achar que o bem será recompensado, triunfará no fim, como nas histórias antigas? Ou a verdade de hoje é que o que compensa mesmo é ganhar, de qualquer maneira, ganhar dinheiro, muito, ou poder, ou fama, sem perder um minuto de reflexão ou um espasmo de consciência com coisas tão velhas quanto honra e desonra, dignidade e ridículo, generosidade e egoísmo? Não é sobre isso, em última análise, esta nossa história sobre a celebridade?

Para Maria Clara e Fernando, ainda que a situação do filho dele se modifique muito, ainda que o rapazinho já não seja tão frágil nem sua vulnerabilidade tão pungente (o que em si já não está de forma alguma assegurado, e será de qualquer modo muito difícil), ainda que a culpa esmagadora de Fernando seja ao menos minorada... será que basta? Clara e Fernando estão muito feridos, sofridos. Na verdade, têm muito medo de se envolver de novo. Um com o outro ou cada um dos dois com quem quer que seja. Porque a realidade é que quase nada entre eles, até agora, deu certo (ainda que o que deu certo tenha dado muito certo, arrebatadoramente certo, e vá ser, aconteça o que acontecer, a mais inesquecível das experiências das vidas de ambos). Também neste caso, será que é suficiente amar-se apaixonada e sinceramente, ou o tempo das narrativas em que o amor vencia todos os obstáculos ficou no passado, e a inveja renitente, os ciúmes inconformados, a calúnia impiedosa se tornaram definitivamente as

armas eficazes para ganhar também na competição amorosa? De qualquer forma, se Fernando puder ser feliz ao lado de Maria Clara, será ela capaz de abandonar Otávio, que a está apoiando tão incondicionalmente?

No final de nossa história, Laura será punida por sua falta de caráter ou, como acontece com tanta freqüência, terminará vitoriosa?

Paixão ou vaidade, esforço honesto ou golpes de esperteza, entrega generosa ou frieza calculista diante de qualquer circunstância ou emoção. Em que direção afinal sopram hoje os ventos do mundo - pelo menos nesta história de paixões e de vaidades, de ambição e de fama, de honestidade e de manobras inescrupulosas, de amor e de crueldade? Veremos, em 2003 ainda, se Deus quiser...

***

TRÊS TRAMAS PARALELAS

1) Noêmia, Ubaldo, Laura

Noêmia acompanhou de perto a brilhante ascensão de Maria Clara como empresária. Trabalha há muitos anos na produtora e tornaram-se ótimas amigas. É, com certeza, a única pessoa da firma que consegue se aproximar com serenidade da chefe quando ela está imersa em algum problema de difícil solução. Sua natureza tímida, introspectiva, não impede que profissionalmente seja um modelo de eficiência e equilíbrio. Noêmia ficou viúva muito jovem e dedicou a vida à criação do filho, Paulo César, hoje com 21 anos. Maria Clara tem por ela uma confiança e afeto irrestritos e não se conforma com sua decisão de não se ligar mais a homem algum. Desde que perdeu o marido, Noêmia reprimiu-se de tal modo que é incapaz de perceber o quanto ainda pode ser atraente e desejável como mulher. Paulo César se prepara para o vestibular de medicina, o que é motivo de grande orgulho para Noêmia. Mas a peculiar relação mãe e filho será descrita com detalhes na história de amor dos jovens. O que nos interessa agora

é Noêmia e sua relação com Ubaldo, o homem que surge de repente em sua vida.

Ubaldo tem 45 anos e pode ser considerado uma sombra do que foi até quatro anos atrás: jornalista de grande sucesso na imprensa escrita, editor de segundo caderno de um dos jornais mais importantes do país, colunista conhecido, estudioso da cultura brasileira em geral e da MPB em particular, bonito, charmoso, apaixonado de forma comovente pela mulher, Lavínia. Quando ela morre subitamente, ainda tão jovem, Ubaldo não suporta o golpe e vai se entregando aos poucos de forma doentia ao vício do jogo, freqüentando cassinos clandestinos. É muitas vezes perseguido por marginais porque deve somas altas de dinheiro. Toma emprestado de todos os amigos, num processo de auto-destruição aparentemente irreversível. Se não fosse o carinho que lhe dedica o filho de 9 anos, Zeca, Ubaldo estaria morto também. Zeca é uma criança adorável, esperta, vital, e aprendeu a inverter os papéis, atuando mais como pai do que como filho de Ubaldo. É o garoto que o bota na cama, lhe tira os sapatos, providencia

um café forte quando Ubaldo chega em casa tentando disfarçar o quanto está bêbado ou deprimido. É ele que às vezes faz a barba do pai para que tenha um aspecto apresentável em ocasiões especiais. E se preocupa em deixar um pão fresquinho e uma garrafa de café antes de sair para a escola, sabendo que, se não for assim, Ubaldo não vai se alimentar.

Lavínia era irmã de Renato Mendes, o cínico colunista e editor da revista Celebrity, do Grupo Valadares. A família de ambos, rica e tradicional, não viu com bons olhos seu casamento com Ubaldo. Ao morrer, descobriu-se que Lavínia, por pressão familiar, havia deixado um testamento em que seus consideráveis bens seriam herdados apenas por Zeca e quando este completasse 18 anos. Ubaldo jamais deu a mínima importância ao dinheiro da mulher e, sendo uma pessoa de bom caráter, não lhe passa pela cabeça que Renato esteja planejando tirar-lhe a guarda do filho. Apesar de se dizer alarmado com a situação de abandono moral em que vive o sobrinho, Renato pretende tornar-se seu responsável legal apenas para lhe roubar a herança. É Noêmia quem, por acaso, descobre as intenções de Renato. O azar do colunista, que se julgava acima de qualquer suspeita, foi ter tido um breve namoro justamente com Jaqueline, jovem aspirante à fama que mora na casa de Eliete (ver história de Vladimir, no final).

A trajetória de Noêmia, abnegada, lutando com unhas e dentes para ajudar Ubaldo a se reerguer profissional e moralmente e a não perder a guarda do filho, é fascinante. Tudo começa quando, após ter sido despedido de mais um emprego, um dia Ubaldo consegue a encomenda de uma série de artigos sobre grandes ídolos da MPB para uma das revistas da Editora Valadares. O pagamento é excelente e ele está precisando muito desse dinheiro. Mas bate com o carro depois de uma de suas bebedeiras e machuca sériamente a mão direita. Noêmia, que até então sentia apenas uma grande simpatia por Ubaldo, se oferece para digitar o trabalho. Ubaldo aceita e Noêmia começa a freqüentar o apartamento dele, feliz com a chance de conviverem mais. Animado com o projeto e com a "mão" que literalmente Noêmia lhe dá, Ubaldo se sente criativo e consegue aos poucos parar de jogar. Os serões correm tranqüilos, ele ditando o texto, admirado com a destreza de Noêmia no teclado e com as boas idéias que ela lhe dá. Às vezes

Noêmia improvisa alguma coisa gostosa para comerem, ajuda Zeca com o dever de casa, vai-se tornando aos poucos parte indispensável da vida de pai e filho. Sem se dar conta, aos poucos Noêmia se apaixona perdidamente por Ubaldo. Que não percebe nem corresponde a esse sentimento. Mas a ela por enquanto basta vê-lo recuperar a dignidade, a auto-estima, o prazer de viver. Ubaldo pára totalmente de jogar quando se torna uma celebridade nacional respondendo sobre a vida de Tom Jobim em um programa de perguntas e respostas da televisão. Durante três ou quatro semanas de novela, o espectador vai acompanhar sua participação, torcendo pelo seu sucesso. Ubaldo consegue o prêmio final e sua vida se modifica totalmente. Consegue um bom emprego, editor de uma das revistas do grupo Valadares, começa a escrever um livro sobre Jobim, torna-se o orgulho de Zeca, não parece mais o Ubaldo derrotado do início de nossa história. Noêmia continua a amá-lo cada vez mais, em segredo.

Tudo parece correr bem para Ubaldo até que Laura, a nossa vilã, entra em sua vida. Ela o conhece através de Renato que, cínico e dissimulado, mantém relações muito cordiais com o cunhado. Renato neste momento está chantageando Laura, já que possui as provas que podem levá-la à cadeia. Laura no princípio não dedica a Ubaldo mais do que um olhar distraído. Mas quando descobre que ele pode lhe ser útil, não hesita em empregar mais uma vez seus poderes de sedução. Laura está indo com muita frequência à casa de Renato. Ele percebe que precisa esconder as provas que ela tanto procura em outro lugar. Tenta alugar um cofre de banco mas é informado de que, devido ao clima de violência em que vivemos, não existe mais esse tipo de serviço. Alguns bancos mantêm apenas os cofres pertencentes a clientes antigos. Renato se lembra de que sua irmã Lavínia possuía um desses cofres e confirma o fato com Ubaldo. Pede então que o cunhado guarde ali certos documentos da maior importância, sem dizer,

naturalmente, do que se trata. Ardilosa como de hábito, Laura acaba descobrindo esta ação de Renato e passa a jogar todo o seu charme sobre Ubaldo. Tem certeza de que, seduzindo-o e conquistando sua confiança, vai conseguir as provas e se livrar de uma vez de Renato e da ameaça de ser presa. Ubaldo se deixa envolver e se apaixona por aquela jovem que lhe parece inteligente, modesta e incrivelmente charmosa. E mais, julga-se um privilegiado por ser alvo do interesse de uma mulher tão especial.

Noêmia desconhece a trama que está por trás dessa aproximação entre Laura e Ubaldo. Fascinada por ele e acreditando ser incapaz de despertar seu amor, Noêmia acha que Laura, apesar de toda sua vilania, está realmente apaixonada. É Maria Clara quem lhe abre os olhos e a incentiva a lutar por seu grande amor. Banca, com prazer, o pigmalião da amiga, ajudando-a a descobrir um novo estilo de se vestir, de se maquiar e cortar os cabelos. Decidida enfim a conquistar Ubaldo, Noêmia precisa, acima de tudo, acreditar em si mesma. As duas tentam de várias formas fazer Ubaldo enxergar a verdadeira personalidade de Laura mas esta não se deixa apanhar tão facilmente. É fácil prever a torcida dos espectadores por Noêmia. Mas será que Ubaldo, enredado até a loucura por uma mulher sem escrúpulos, vai acabar compreendendo que a felicidade pode estar ao lado da doce Noêmia que tanto o ajudou?

***

2) Inácio, Sandra, Paulo César

Sandra é linda, tem 16 anos e seus planos e sonhos são muito diferentes dos de sua mãe, Ana Paula. Pretende escolher uma carreira que lhe dê prazer e independência financeira, exatamente como sua tia Maria Clara. E, acima de tudo, quer muito se apaixonar para valer. Quando conta para a mãe que está namorando Paulo César, filho de Noêmia, não imagina o quanto vai se arrepender. É verdade que, conhecendo bem os delírios de grandeza de Ana Paula, que almeja para a filha um pretendente rico, Sandra já devia esperar pelo pior. "Um rapaz sem futuro, filho de uma funcionariazinha de Maria Clara, morador de Vila Isabel e cujo amigo mais célebre é um bombeiro?!" (Ver Vladimir.) Se o drama todo ficasse nesse nível de ridículo e anacronismo, Sandra até conseguiria suportar. Mas quando Ana Paula começa a hostilizar ostensivamente o rapaz, chegando a humilhá-lo e proibi-lo de se aproximar da filha, Sandra se rebela e luta por seu amor, contando dentro de casa apenas com o apoio de Maria Clara.

Mas o que tem Paulo César de tão especial para merecer o amor de uma jovem adorável e surpreendentemente equilibrada como Sandra?

Paulo César tem 21 anos e é o protótipo do que as meninas consideram "um gato". Alto, forte, bonito, musculatura definida, charmoso e, claro, disputadíssimo. Está sinceramente apaixonado por Sandra, o que não o impede de continuar azarando as garotas na ausência dela. Isso e o hábito de mentir de forma contumaz serão os defeitos que Sandra um dia vai descobrir no namorado e que vão magoá-la muito. Mas Paulo César é esperto e durante algum tempo Sandra estará certa de que encontrou o garoto dos seus sonhos. Defeito Noêmia jura que o filho não tem. Dedicou a vida a satisfazer todos os desejos dele, não hesitando diante de pequenos e de grandes sacrifícios. Paulo César acostumou-se de tal forma a essa situação que explora a mãe com toda a naturalidade, sem imaginar que a possa prejudicar de alguma forma. Como acontece muitas vezes com filhos superprotegidos, Paulo César é emocionalmente frágil e no fundo se julga incapaz de tomar decisões quanto a seu futuro. Para reforçar a imagem de

autoconfiança que passa, freqüenta uma academia de ginástica e tem um físico "saradíssimo", o que só aumenta seu sucesso com as garotas. Desde criança Paulo César ouviu Noêmia dizer que seu sonho é vê-lo formado em medicina. Para isso fez questão de matriculá-lo no melhor colégio do Rio e pagar as aulas particulares de que ele sempre precisou, mesmo que para isso tivesse que abdicar de quase todos os supérfluos que dão tanto prazer à vida. O insucesso do filho em dois vestibulares não desanimou Noêmia. Atualmente Paulo César faz um cursinho pré-vestibular considerado excelente e ela não tem dúvidas de que no próximo ano terá sucesso. Nem lhe passa pela cabeça que ele falte às aulas constantemente e que mal abra os livros caros que ela compra. Muito cedo Paulo César descobriu que é mais fácil mentir do que desgostar uma mãe tão dedicada. Jamais teria coragem de lhe dizer, por exemplo, que seu verdadeiro sonho é ter algum modesto negócio próprio, sem depender de patrões e muito menos

de doentes, Paulo César não tem vocação para médico de forma alguma porque odeia doença! E estudo! Com muito sacrifício Noêmia conseguiu comprar um carrinho velho e se admira com a alegria do filho que passa horas consertando as inúmeras avarias que o carro apresenta. Sem entender e morta de pena, Noêmia jura que vai juntar dinheiro para lhe dar um carro zerinho quando entrar na faculdade. No dia em que Ana Paula viu Sandra entrar radiante no velho carro de Paulo César teve uma síncope.

A situação está nesse pé quando Inácio, filho de Fernando, entra na vida de Sandra. Inácio, desde a morte do irmão, passou por fases muito difíceis que culminaram com sua internação numa clínica psiquiátrica. Recusa-se a voltar para o colégio onde ele e Fábio estudaram um breve tempo ao voltarem para o Brasil. Assim que Inácio melhora, Maria Clara sugere a Fernando que o matricule no colégio onde Sandra estuda, a escola tem uma proposta de ensino mais liberal, embora mantendo um alto nível didático. Inácio começa a estudar na mesma turma de Sandra. Esta, desde o início, percebe a timidez do rapaz e fica indignada quando alguns colegas caçoam do seu jeito introvertido. Ele passa as aulas calado e nos intervalos não se aproxima de ninguém. Sandra o olha às vezes de longe, com simpatia, sem imaginar o drama que vive. Até que o péssimo desempenho de Inácio nas provas bimestrais desperta sua solidariedade. Consegue aproximar-se e se oferece para dar-lhe aulas de algumas matérias. Inácio

acaba aceitando a ajuda, meio encantado pelo temperamento alegre e afetuoso de Sandra. Ela diz que pode ir à casa dele depois das aulas, mas o rapaz, constrangido, diz que é impossível. Sandra estranha mas percebe que não deve insistir. Combinam estudar na casa dela, em certos dias e horários. Só mais tarde vai descobrir que a mãe o proíbe de levar amigos em casa.

Ana Paula não vê com bons olhos a presença daquele menino estranho, arredio, até que descobre que é neto único de Lineu Valadares, o poderoso magnata que patrocina Maria Clara. A partir daí, dedica-se de corpo e alma a convencer Sandra a namorá-lo, inclusive afirmando que Inácio está apaixonado por ela. Sandra se revolta e reafirma seu amor por Paulo César e sua amizade cada vez maior por Inácio. Com doçura, Sandra leva-o a falar de si mesmo e se enche de compaixão ao saber da morte do irmão e de tudo que a família vem passando desde então. Pela primeira vez o rapaz se abre de fato com alguém, o que lhe traz um alívio imenso. Percebe que está se apaixonando por Sandra mas esconde o sentimento com medo de perdê-la. Quantas vezes Sandra lhe fala sobre seu amor por Paulo César, sem supor que Inácio sofre com isso... Desabafa com o amigo inclusive sobre a primeira grande crise que o seu relacionamento atravessa: Paulo César a está pressionando para transarem, mas Sandra, ainda virgem,

não confia o suficiente nele, pois a esta altura já o pegou em algumas mentiras.

No seu afã de unir a filha ao rico herdeiro Valadares, Ana Paula decide que a primeira coisa a fazer é afastá-la de vez de Paulo César. Já ouviu escondida conversas de Sandra com o rapaz e com Maria Clara e sabe do horror que ela tem a mentiras. Para botar em prática seu plano malévolo começa a mudar de atitude. "Reconhece" que tem agido de forma errada tentando empurrá-la para Inácio. Afinal, conhecendo Paulo César melhor, está até simpatizando com ele. De agora em diante vai apoiar o namoro. Mas tudo não passa de fingimento, é claro. Ana Paula apenas forja essa aproximação como um meio de conhecer o inimigo. E logo, através de um plano muito bem urdido, consegue fazer com que Sandra pense que Paulo César concede favores sexuais a Darlene em troca de dinheiro. O que era apenas uma relação inconseqüente de Paulo César com Darlene ganha novos contornos, com a intervenção de Ana Paula. Ela se aproveita do fato de Paulo César estar precisando de dinheiro pra consertar o carro - pela

primeira vez Noêmia se recusa a mimar o filho - e planta entre as coisas do rapaz um cheque falsificado, nominal a Paulo César, surrupiado do talão de Darlene, para quem a essa altura Ana Paula está dando aulas de etiqueta, a pedido de Lineu.

Para Sandra não há explicação que justifique o cheque que tem em mãos. Está escrito ali, com todas as letras. Paulo César recebeu o cheque de uma mulher! Explora a mãe, não resta dúvida! Precisa do dinheiro para o conserto do carro! Mas gigolô?! Sandra não se conforma e desesperada vai procurar o namorado. Têm uma briga terrível em que Paulo César acaba admitindo o namoro com Darlene mas jamais que tenha recebido dinheiro dela. Sandra, cega de ódio e decepção, joga-lhe na cara que está acostumado a ser gigolô, primeiro da própria mãe e agora de uma amante. Noêmia, desolada com o rompimento, chega a duvidar do filho diante da reação dele quando lhe negou o dinheiro. Sandra sofre horrivelmente, pela perda de Paulo César e pela dupla traição que acredita que sofreu.

Inácio, triste com o sofrimento de Sandra, oferece-lhe o ombro amigo de que tanto precisa. Paulo César tenta várias vezes se reaproximar de Sandra mas ela não consegue perdoá-lo, apesar de continuar gostando dele. Ver Sandra rompida com Paulo César, sofrendo por isso, e nem assim notar que ele, Inácio, é apaixonado por ela, faz com que o rapaz se sinta mais carente do que nunca. Esta carência, no entanto, vai ser bastante atenuada por uma ligação surpreendente que surge aí. Inácio conhece Eliete, a moambeira sexy e adorável, amicíssima de Maria Clara, e tem com ela um tórrido caso de amor. Não propriamente o amor descrito nos romances que ele se acostumou a ler, ou vivido nos filmes de sucesso, mas uma relação carnal, de grande prazer, cultuado tanto por Eliete quanto por ele. Esta ligação vai ser usada pelas vilãs Laura e Beatriz, tendo uma grande importância na história de amor entre Maria Clara e Fernando, mas isto já foi mencionado na história principal. Para Inácio, o desafio é

impor Eliete, uma mulher simples, franca, sem afetações, ao mundo sofisticado dos ricos em que ele vive, filho da tão convencional Beatriz Valadares Amorim.

Sandra e Paulo César chegam a reatar o namoro mas ela volta a se decepcionar, Paulo César parece não se corrigir nunca da sua mania de azaração. Com o tempo Sandra vai-se afeiçoando cada vez mais a Inácio, em quem descobre uma força interna que desconhecia. Até que um dia descobre que o ama e é amada por ele há muito tempo. Inácio rompe com Eliete. Ana Paula é a última a saber, porque Sandra se recusa a dar o braço a torcer diante da mãe. Sabe que ela vai enchê-la com seus "eu não disse" e derreter-se com o belo futuro que a espera. Mas o amor bonito de Sandra e Inácio ainda tem muitos obstáculos a vencer. O maior de todos é Beatriz, que, quando sabe que a garota é sobrinha de Maria Clara, a mulher "que lhe roubou o marido", faz tudo para afastar o casalzinho. Será que o amor bonito de Sandra e Inácio vai conseguir resistir muito tempo a tantas pressões?

Paulo César, por sua vez, a partir da crise em que foi injustamente acusado de gigolô, começa a amadurecer. Sabe que a acusação injusta teve por base a forma como vem explorando a mãe há muitos anos. Em seu processo de amadurecimento, pela primeira vez na vida procurando causas e tentando entender suas atitudes, Paulo compreende que precisa confessar à mãe que não quer ser médico, nunca quis. Noêmia, inicialmente, tem uma grande decepção, mas aos poucos vai conseguindo compreender o filho, que já não depende dela e aceita emprego num bar de chope do bairro que sempre freqüentaram. Primeiro passo para realizar seu sonho até então mantido em sigilo: ser dono de um barzinho daquele gênero. Só a falta de Sandra entristece, e muito, nosso Paulo César.

A torcida dos espectadores vai ser grande mas, com certeza, uma parte destes vai preferir vê-la ao lado de Paulo César, agora amadurecido. O que complica ainda mais as coisas é que Darlene, apesar de ter tudo que queria ao lado de Lineu, não consegue esquecer os carinhos de Paulo César. Decepcionada com a fama que não lhe trouxe a felicidade que esperava, quem sabe ela não a encontra nos braços sarados do nosso Paulo César...? Vendendo um chopinho bem tirado?

***

3) Vladimir, Darlene e Jaqueline

Vladimir Coimbra, 27 anos, bonito, atlético, irmão mais jovem de Eliete, a grande amiga de Maria Clara, mora com a irmã em Vila Isabel, perto de alguns outros dos nossos personagens. Vamos dizer a verdade: não é muito inteligente. Mas é simpático, bom caráter, despretensioso. As crianças da rua, por exemplo, o adoram. Aliás, quase todos os que o conhecem gostam de Vladimir. Sua única fraqueza (que muitos não consideram fraqueza) é ser mulherengo. Muito. Fora isso, tem ambição praticamente zero e grande orgulho de sua posição de soldado do fogo no Corpo de Bombeiros. Tanto que adora desfilar pela rua exibindo seu uniforme, que tem autorização da corporação para guardar em casa e usar.

Darlene Sampaio, 24, é linda. O que diz a rapaziada da vizinhança, da redondeza da barbearia em que ela trabalha, e de modo geral os rapazes de todos os lugares por onde ela anda, é que ela é mesmo é gostosíssima. É filha de Ademar Sampaio, que trabalha na empresa de Maria Clara. Manicure, apresenta-se, amparada apenas em inscrição feita numa agência, como modelo e atriz, enquanto sonha com a fama. Bem safadinha, enrola o pai antiquado, que pensa que ela é virgem. Trabalha no salão masculino do barbeiro Salvador (ver lista de personagens). Tem verdadeira obsessão por se tornar famosa.

Da mesma forma que Jaqueline, também linda (e também gostosíssima), 25 anos, que vem do interior do Estado do Rio pedir ajuda do tio Ernesto, gerente de produção da firma de Maria Clara. A intenção de Jaqueline é ficar famosa como as moças que ela vê na televisão ou cujas fotos recorta das revistas tipo Celebrity e concorrentes. É um estorvo para o tio, que acaba lhe conseguindo trabalho como manicure na barbearia de Salvador e um quarto alugado na casa de Eliete e Vladimir. Vai-se tornar grande amiga da outra manicure do salão, Darlene, com quem tem grandes afinidades e o objetivo comum de ficar famosa a qualquer custo, mas com quem alimenta uma disfarçada rivalidade.

Vladimir sempre cobiçou Darlene, que não lhe dá bola porque o rapaz é bonito mas não é famoso nem vai ser, do jeito que é, desinteressado dessas coisas. E Darlene quer bem mais encontrar a celebridade do que o amor. Pelo menos por enquanto. No primeiro capítulo, heroicamente, Vladimir salva a vida da heroína Maria Clara no incêndio durante o episódio do seqüestro, e por isso faz jus a uma medalha de mérito. Isso faz com que Darlene pela primeira vez se interesse por ele, por achar que como acompanhante de bombeiro condecorado, estará a um passo das páginas da revista Celebrity. Vladimir vê aí a sua chance de conseguir de Darlene um pouco mais do que alguns arrochos no portão ou no cinema. Mas a cerimônia de entrega da medalha não é pública, repercussão de imprensa nenhuma. O único repórter que se interessa entrevista Vladimir por telefone, e a sede de celebridade de Darlene é tanta que ela avança no aparelho e tenta aos berros no meio do quartel fazer o indiferente repórter anotar

seu nome ("Marlene não, Darlene, D de dar!"). Resultado, Vladimir recebe juntas a medalha por bravura e uma esculhambação em regra do chefe por trazer aquela louca para o ambiente militar. Ou pára-militar. E logo se dá conta de que também vai ter de esperar um pouco pela compreensão de Darlene, que ficou sentida com a ignorância daquele comandante grosso...

Os amigos tentam fazer Darlene entender que não se fica famosa assim, é preciso fazer alguma coisa realmente importante. Para o país. Como dar um jeito de ser fotografada sem calcinha num palanque ao lado de algum político conhecido. Casar com um ricaço pelo menos 30 anos mais velho e pedir o divórcio alegando que ele queria que ela participasse de orgias com 4 ou 5 sexos diferentes. Ser presa fazendo sexo na via pública com alguém muito famoso, de preferência casado com alguma mulher linda. Ficar grávida de um notório homossexual. Ou de um bandido condenado a pelo menos 300 anos de prisão. Visitar insistentemente na cadeia algum corrupto preso até a mulher do corrupto pedir o divórcio (embora não seja coisa fácil encontrar corrupto preso). Interromper uma decisão de campeonato de futebol atirando-se pelada no colo de algum dos principais jogadores. Coisinhas simples mas de impacto. Só com alguma coisa assim especial ela poderá algum dia ter seu retrato a óleo na parede da fama do

Celebrity, "espaço cultural" da revista do mesmo nome, animado pelos celebritos e celebritas, onde há festas maravilhosas com que sonha essa gente toda. Os celebritos(as) são os "animadores culturais" do espaço, escolhidos a dedo para combinar com o ritmo do ambiente. Que não tem nada de convencional, cultura não é só biblioteca, museu. O Celebrity não tem livros (a não ser o de autógrafos de visitantes ilustres) nem quadros (a não ser os retratos de celebridades na parede da fama). Mas cultiva a cultura da gastronomia, da boa bebida, da sensualidade, da beleza sarada e grifada, da boa forma física. E a sua cota de pequenos (ou eventualmente grandes) escândalos, uma briguinha aqui, um flagrante de adultério ali, porque afinal é da celebridade que se trata.

Entre as festas com que sonham os freqüentadores ou aspirantes a freqüentadores do Celebrity, a principal é a badalada coroação a cada seis meses da Garota Celebrity e do Garoto Celebrity. Ser a Garota Celebrity passa a ser a grande obsessão de Darlene. Tomando informações sobre o assunto ela conhece Joel, repórter safo da revista, que ao bater o olho no avião prontamente se interessa em "ajudar" Darlene. E principalmente em que ela o ajude. A sair da saudade. Desinteressadamente. Quer dizer, sem que ele tenha de dar nada em troca da generosidade da moça, que, ele intui, é espontaneamente dadivosa mas um tanto interesseira. Tipo que Joel conhece bem, o repórter está na vida faz algum tempo. Assegura vagamente portanto que um fotógrafo seu amigo pode fazer fotos de Darlene para que ela se inscreva numa agência de modelos de primeira linha. Darlene pede a Vladimir que a acompanhe à sessão de fotos. O rapaz aceita e vai vestido de bombeiro para dar uma força à namorada. Paralelamente,

no estúdio do fotógrafo, Joel espera um jogador de futebol que vai fazer fotos eróticas para uma revista gay. O jogador dá o bolo. Quando Darlene chega com Vladimir, bonitão, musculoso, Joel, pressionado pelo editor, tenta convencer Vladimir a fazer a foto em lugar do jogador. Vladimir nem leva a oferta em consideração, é encabulado, aquela não é a sua mesmo. Ao contrário da maior parte de nossos personagens, Vladimir não sonha com fama nem com o mundo dos ricos. Seu grande orgulho é pertencer ao Corpo de Bombeiros. Joel sente que, usando Darlene, prometendo que publica sua fotografia na revista, pode fotografar Vladimir e não perder o frila que tem lhe dado uma bem-vinda grana extra. Industriada por Joel, Darlene convence o namorado a fazer uma foto apenas para "satisfazer uma fantasia dela". Quer Vladimir de sunga, usando o capacete de bombeiro, para ter a fotografia presa na porta de seu armário, lado de dentro, promete. Convencido de que se trata apenas de um capricho da garota,

Vladimir aceita fazer a foto. Segurando firme uma mangueira rapidamente arrancada por Joel do extintor de incêndio. O ingênuo Vladimir ainda assina autorização para publicação, sempre enganado por Joel e Darlene. Joel faz fotos de Darlene, que fica esperando ansiosa nos dias que se seguem a publicação de uma delas na revista Celebrity. Mas quem tem a foto publicada na revista gay é Vladimir, de sunga, capacete de bombeiro e mangueira na mão. Por causa disso, depois de julgamento interno, Vladimir é expulso do Corpo de Bombeiros. No momento mais triste de sua vida, entrega aos superiores seu uniforme, capacete e identificação.

O caso repercute em alguns jornais. Para grande surpresa de Darlene, quem começa a ficar famoso, odiando aquilo tudo, é Vladimir, agora constantemente assediado por repórteres. Depois do quê, Jaqueline, a outra gostosona meio maluquete já há alguns dias morando na casa de Noêmia, e até agora indiferente às cantadas de Vladimir, começa a se interessar por ele. E Vladimir (que depois de fazer a foto de sunga já conseguiu a compreensão de Darlene) acaba namorando Jaqueline também. Controlar as duas namoradas ao mesmo tempo sem que uma saiba da ligação com a outra enquanto sonha ser aceito de volta pelo Corpo de Bombeiros e vai ficando cada dia mais famoso contra a vontade, sempre entediado pelo mundo dos ricos e famosos, é a história de Vladimir, protagonista deste núcleo cômico de nossa história.

Com a única intenção de ser aceito de volta pelo Corpo de Bombeiros, Vladimir concorda em dar uma entrevista à Celebrity, contando a história de sua vida. A entrevista repercute. Especialmente a autenticidade de Vladimir, sua pureza e sua ligação com crianças que fazem na rua uma passeata mirim para que o amigo seja aceito de volta pelo Corpo de Bombeiros. Nada disso comove as autoridades. Afinal, soldado de sunga, capacete e mangueira em revista gay, haja fogo!

Mas um esperto agente de publicidade vê em Vladimir a figura ideal para estrelar como modelo exclusivo uma campanha da bebida Energia, novo lançamento para crianças, jovens e desportistas. Admirado e invejado pelas namoradas, pouco a pouco Vladimir é convidado a posar para capas de cadernos de colégio, publicidade de iogurtes... Aumenta muito sua renda, torna-se cada vez mais uma celebridade sem jamais buscar a fama. Vai morar temporariamente num apart-hotel de alta renda. Mas logo volta para Vila Isabel porque esse mundo de ricos e famosos não o atrai. Não tem vocação para nada daquilo, entedia-se, sempre encabulado, odiando ser o centro das atenções. À medida que se torna cada dia mais famoso, dono de site na Internet e colunista de jornal, como uma espécie de conselheiro e guru da garotada, Vladimir só quer voltar a ser bombeiro. E anônimo.

Em suas patéticas tentativas para se tornar famosa, Jaqueline, que agora tenta carreira de modelo usando o pseudônimo de Jaqueline Joy, conhece um famoso campeão de natação, um ídolo, por acaso irmão de Renato Mendes (ver lista de personagens), editor da revista Celebrity. Jaqueline encasqueta que tendo um filho do famoso nadador vai alcançar ela o estrelato. Dá em cima do rapaz, passa a noite em seu apartamento, mas nada acontece porque ele já tinha traçado umas três Jaquelines naquela tarde, se embebeda e cai em sono profundo. Frustradíssima, Jaqueline aceita ser levada em casa na caquética lambreta de Tadeu, 29, funcionário de uma clínica que procura o nadador para que ele assine uns papéis. Tadeu fica vidrado em Jaqueline, que não lhe dá pelota porque ele não é famoso. Está mais do que nunca fascinada pelo desportista. E por sua fama, que espera que seja contagiosa. Ou pelo menos sexualmente transmissível. É quando o nadador sofre um acidente e fica entre a vida e a morte. Tadeu

acaba confessando a Jaqueline que mesmo que tivesse transado com o ídolo ela não teria engravidado, porque, muito assediado pelas mulheres, o rapaz fez vasectomia. Não descartando a hipótese de um dia querer ser pai, estocou sêmen na clínica em que Tadeu trabalha. Jaqueline convence Tadeu a trocar o frasco de sêmen do nadador pelo dele próprio, Tadeu. Tomando com a ajuda dele todas as precauções técnicas necessárias à operação, Jaqueline consegue engravidar por inseminação artificial. O nadador morre. Ela fica finalmente famosa, inventando (sempre com riqueza de detalhes) que foi sua namorada, o grande amor de sua vida, e vai ser mãe de seu filho. Luta na justiça pelos bens do nadador, cujo herdeiro natural seria o irmão Renato. Até conseguir o exame de DNA que pode identificar o pai de seu filho e garantir sua independência financeira. Se não tiver havido alguma confusão entre tantas peripécias e pipetas, envolvendo tantos espermatozóides de tantas origens, e Jaqueline não acabar

mãe de algum filho pobre. Por exemplo, do próprio modestíssimo funcionário Tadeu da clínica, que ninguém garante que não tenha se atrapalhado ao produzir, surripiar e trocar tantas amostras... seminais.

Enquanto isso, Darlene vai ao prédio onde moram alguns de nossos personagens ricos fazer as unhas de Lineu Valadares. Lineu emprestou um quarto de sua luxuosa cobertura para um amigo político muito conservador, casado, imagem pública ligada à respeitabilidade, transar com uma linda garota de programa. Durante a transa, embalado por uma overdose de cocaína, o político morre. Lineu pretende divulgar que o amigo morreu de enfarte, a garota de programa quer fugir, com medo de que a repercussão do caso atrapalhe sua carreira, ainda mais que a esposa do político já está a caminho, pode fazer escândalo. Ao ouvir a palavra "escândalo" Darlene tem a idéia de receber esposa e jornalistas dizendo que foi nos braços dela que o político morreu. Na portaria do prédio, recebe da viúva uma bofetada que vai parar na primeira página de todos os jornais do dia seguinte. E fica famosa como a amante do político que sequer a conheceu.

Em certa fase da história tanto Jaqueline quanto Darlene querem faturar em cima da fama que com tanto esforço conseguiram. Serão assessoradas por nosso Nelito, que nesta época estará se dedicando à carreira de agente. Mas é difícil, porque, apesar de serem boas manicures, bonitas e gostosas, não têm nenhum talento especial. As duas descobrem decepcionadíssimas que, mundo injusto, não basta engravidar de nadador, nem castigar político na cama até a morte para conservar a fama. É preciso saber desfilar ou cantar ou dançar ou interpretar, pelo menos um pouquinho, para poder ser modelo, cantora, dançarina, atriz...

No último terço de nossa história, Darlene vai ter esperanças de se tornar uma grande atriz, a partir de uma ligação amorosa justamente com o poderoso Lineu Valadares. Que vai ficar de quatro por ela. E não medirá esforços para que sua jovem protegida receba todos os prêmios teatrais a serem distribuídos, Darlene vai interpretar Ibsen, aos que se opõem ao projeto Lineu ameaça que se Ibsen é pouco ele troca para Shakespeare!

E o namorado das duas garotas, Vladimir, continua sendo repelido nas tentativas de voltar ao Corpo de Bombeiros, seu único objetivo enquanto se entedia entre ricos e famosos. Sua trajetória ao lado de Darlene e Jaqueline será a espinha dorsal da nossa trama de humor.

***

PERSONAGENS:

Maria Clara Melo Diniz - 36 anos, empresária musical e produtora muito bem-sucedida. Desde bastante jovem sempre foi inteligente, forte, lutadora, sustentou a mãe viúva, Corina, e a irmã mais moça, Ana Paula. Linda, teve um casamento trágico, porque seu noivo, cantor e compositor, foi assassinado durante sua festa de casamento, quinze anos atrás. Clara dedicou-se de corpo e alma à carreira e nunca mais se casou. Aos 20 e poucos anos já era modelo conhecido e aos poucos torna-se uma das principais empresárias musicais do país. Algo seca, contida, rejeita sentimentalismo, complacência, intimidade fácil. Não é rica mas vive muito bem e em muito glamour. Admirada, desejada, invejada. Sua empresa ocupa um luxuoso conjunto, emprega dezenas de funcionários. Contrata muitos dos maiores artistas do país. Promove alguns dos mais importantes shows aqui realizados. Ao começar a história está finalmente apaixonada e correspondida (v. Otávio). Sempre teve dificuldade em manter relações duradouras.

A imagem vitoriosa, independente, assusta, por mais fascinante que Clara seja. Mas Otávio enfrenta maduramente o constrangimento de ter namorada famosa. Tudo está portanto bem na vida de Clara. Até agora. Mas, foi dito... é invejada. Muito. E vai passar por muitas e boas (ou más) por isso. A protagonista da novela.

Corina Diniz - 62, mãe viúva de Maria Clara e Ana Paula. Nos anos 60, foi dona de uma das primeiras boutiques do Rio de Janeiro. Frustrada por não ter conseguido seguir uma vida profissional, dependendo, assim, da filha Maria Clara. Embora tente disfarçar, é evidente que prefere a filha que não é famosa nem rica, Ana Paula. Dissimulada, bajula Clara, que a trata com grande carinho e lhe deu todo o conforto. Nunca se sabe ao certo o que pode estar pensando. Ou escondendo.

Ana Paula Moutinho - 35, irmã de Maria Clara, casada com Nelito, com quem tem 3 filhos. Apresentada inicialmente como despretensiosa e simpática, logo vamos notar que é falsa, invejosa, explora o quanto pode a irmã inteiramente mergulhada no trabalho. Faz, quando lhe convém, gênero desapegada. É muito possível que oculte grandes ambições e um elitismo que nada em suas qualidades justifica.

Nelito Moutinho - 39, marido de Ana Paula, três filhos. Mulherengo discreto, tem medo da mulher, cuja personalidade às vezes esmaga a sua. Medíocre simpático, persegue em vão o sucesso, mas nada, rigorosamente, deu certo em sua vida profissional. Considera-se inteligente demais para ter patrão, mas os negócios que abre acabam sempre levando-o ao abismo. No momento, é dono de uma produtora de vídeo. Seu alvo é fazer DVDs dos shows de Maria Clara, mas o que consegue mesmo é filmar casamentos modestos ou festinhas de aniversários de amigos. Terá forte fixação em Laura. Na última parte da novela, ligação afetiva com Eliete.

Sandra (Moutinho) - 16 anos, sobrinha de Maria Clara, filha de Ana Paula e Nelito. Bonita, introspectiva. Conflitos fortes com os pais, de cuja mediocridade tem plena e dolorosa consciência. Adora a tia, Maria Clara. Apaixonada por Paulo César, vai conhecer Inácio, o que mexerá muito com sua vida e suas certezas...

Bruno Carvalho - 29, bom caráter, inteligente, sensível, bonito, elegante, glamouroso, fotógrafo muitíssimo bem sucedido, e como tal reconhecido. Muito requisitado pelo mercado editorial, colabora esporadicamente com a revista Celebrity. Terá romance com Laura, que, totalmente desprovida de caráter, vai se aproveitar da boa índole de Bruno. (Entra depois do capítulo 20.)

Ernesto Lopes - 52, gerente de produção da empresa de Maria Clara. Seu irmão, o cantor e compositor Wagner Lopes, foi assassinado antes de nossa história começar, no dia de seu casamento com Maria Clara. Falso, desprovido de caráter.

Laura - 26, linda. Pobre, humilde, extraordinariamente convincente e sedutora, quase sempre doce, suave, desprotegida, o que desarma mesmo as mulheres mais espertas e envolve os homens num clima de sensualidade "inocente" nem por isso menos efetiva, ao contrário. Quase sempre, porque se necessário Laura é muito agressiva, tanto para seduzir quanto para destruir. Prefere seduzir, até porque é difícil homem que não se renda a seu fascínio. Suas vítimas mais exploradas na trama serão Nelito, Bruno e Ubaldo. Mas Renato Mendes, embora a princípio o esconda, é obcecado por ela e, tão sagaz quanto a jovem, vai montar um esquema tortuoso para atraí-la. Bem no início, Laura engana o público com a aparência irresistível de mocinha muito bonita mas "ingênua", "franca", "vulnerável". Logo, entretanto, tira a máscara (ou a primeira máscara). Amante de Marcos, sua alma gêmea, por quem tem forte atração e desejo dominador, plenamente correspondidos, os dois formam uma dupla de crápulas para ninguém

botar defeito. Laura entra em cena fascinada pela figura forte de Maria Clara, que, apesar de refratária à bajulação e à pieguice, se vai deixando envolver pela jovem tão indefesa e honesta, frágil e candidamente sincera... Até o fim, ou quase, irresistível... e assustadora. A grande antagonista de Maria Clara e a vilã da novela.

Marcos - 28, bonito, atlético, sedutor, amante de Laura, seu parceiro absolutamente inescrupuloso em todas as intrigas e planos para obter vantagens, das miúdas às mais delirantes. Tão completamente aético, tão inteiramente acostumado desde menino a seduzir quem lhe interessa que nem entende se explicam que alguma coisa é imoral. Em momentos chega a parecer puro de tão indiferente à decência, conceito que não alcança, só é capaz de sentir ambição, desejo, prazer, vaidade. Tem com Laura uma relação que talvez nem ele assimile bem, provavelmente acha ou achou que ela é só mais uma mulher gostosa em sua vida, com a grande vantagem de que não precisa fingir com Laura, tão sem vergonha quanto ele. Talvez antes do fim descubra que há algo mais e que o que sente por ela pode ser um surpreendente... amor. Cada um no seu estilo, Marcos e Renato Mendes são os dois grandes vilões da novela.

Chico Quintela - 61, introspectivo, sofrido, misterioso. No início sai da prisão depois de 15 anos de pena por homicídio. É ajudado por Salvador, seu amigo de juventude. Responsabiliza seu ex-amigo Lineu Valadares por sua prisão. Lacônico, reservado, só com o tempo se percebe que ainda tem muito a revelar...

Fernando Amorim - 37, bonito, honesto, inteligente e competente, sedutor mais pela franqueza e grande charme. Bem-sucedido produtor internacional de cinema. Marido de Beatriz, pai de Inácio e Fábio. Genro do rico empresário Lineu Valadares, que se opôs ao casamento da filha a ponto do casal ter tido de sair do país para trabalhar. Fernando nasceu pobre, filho do barbeiro Salvador. Fugiu com Beatriz grávida e foi trabalhar num filme francês. Nasceram Fábio e depois Inácio, hoje com 15 e 16 anos. Lutando com muita dificuldade, Fernando chegou ao sucesso, produtor de êxitos cinematográficos na Europa. Mas seu casamento desmoronou. Beatriz é superficial, egocêntrica, impaciente com a dedicação do marido ao trabalho, ele é um workaholic. Ao começar a novela, casamento desgastado, Fernando e família voltam ao Brasil. Ele quer criar sua produtora de cinema em seu país. Tem saudades da pátria. Beatriz não quer o Brasil nem a produtora. Aceita ambos para salvar o casamento. Mas Fernando

descobre que ela mentiu sobre o interesse de seu pai na produtora, para promover a reconciliação dos dois. Rompe com mulher e sogro, inicia nova vida. Conhece Maria Clara, apaixona-se, muda radicalmente os rumos de sua vida e da dela. São atingidos pela tragédia, a morte do filho preferido de Beatriz. Fernando passará o resto da história entre o amor de sua vida, Clara, e a culpa por ter sido ausente de boa parte da vida dos filhos, o medo de deixar o filho sobrevivente e problemático entregue à mãe rejeitadora, entre a honestidade e paixão básicas de seu caráter e a tentação irresistível de se acomodar, proteger o filho, tocar a vida sem projetos pessoais nem amores arrebatados. O sofrido herói da história.

Beatriz Valadares Amorim - 36, mulher de Fernando, mãe de Inácio e Fábio, filha de Lineu. Apaixonada pelo marido. Charmosa, elegante. Egoísta, dependente, ciumenta até do trabalho dele. Quando Fernando se afasta, tenta manipulá-lo, usando o poder do pai. Ele descobre e se separa. Ela tem forte preferência pelo filho Fábio, que morre em acidente. Rejeita o sobrevivente Inácio, culpa-o. Nunca aceita a separação. Quando surge a rival Clara, odeia-a acima de tudo. E se torna aliada dos grandes inimigos da outra.

Inácio (Valadares Amorim) - 15-16, mais frágil que o irmão morto, apegado ao pai involuntariamente distante. Rejeitado pela mãe, que tenta em vão reconquistar. Autodestrutivo. Desajustado, solitário, carente, mas muito simpático. Apaixona-se por Sandra e forma triângulo com ela e Paulo César. Mais tarde, passa a ter uma ligação bastante forte, mais sexual do que romântica, com a adorável Eliete.

Lineu Valadares - 64, poderoso empresário no campo da comunicação, autoritário, realizador, muito bem-sucedido, desacostumado de ter sua vontade contrariada. Patrocinador dos shows de Maria Clara. Pai de Beatriz. Antagonista do genro Fernando. Força o temperamento para aceitar, após longo afastamento, que se enganou sobre Fernando. Gosta da filha e dos netos. Tenta apaziguar ânimos mas a seu modo, enganando e comprando o genro em conluio com Beatriz, o que os afasta de novo. Outro conflito com Fernando é o conservadorismo de Lineu, capitalista primitivo, explorador, hostil a preocupações sociais. No fim, estará perdidamente apaixonado por Darlene (v.), que tentará transformar em atriz de sucesso, esquecendo toda a objetividade de empresário.

Noêmia (Assunção) - 39 anos, é há muito tempo secretária de confiança de Maria Clara, cuja ascensão seguiu de perto. O caráter, a capacidade profissional e a lealdade de Noêmia a tornaram indispensável na vida de Clara, como funcionária e amiga. Comenta-se que só Noêmia é capaz de se aproximar de Maria Clara em seus momentos de mau humor, o que acontece sempre que a empresária fareja incompetência ou descaso em algum problema da produtora. Mas esse trânsito privilegiado junto à chefe não atrai inveja ou ressentimento dos colegas, como poderia acontecer. É que não há em Noêmia traço algum de presunção ou vaidade pela posição que ocupa junto a Clara, jamais se valendo dela em benefício próprio. Apesar de ser afável com todos na maior parte do tempo, sabe também ser firme e direta quando necessário. Em questões pessoais Noêmia é reservada e mesmo Maria Clara, por quem tem imenso afeto, não consegue ter acesso ao que se passa em seu íntimo. Acha graça quando lhe dizem que ainda é uma mulher bonita e atraente. E se recusa, com veemência, a se envolver com os "bons partidos" que a todo momento querem lhe arranjar. Desde que há 21 anos nasceu seu único filho, Paulo César, quando mal saía da adolescência, Noêmia se dedica inteiramente a ele e nunca pensou em se casar. Ficou viúva muito jovem. Mima o filho de forma exagerada, e se recusa a admitir que é explorada por ele. Alguns amigos mais íntimos desconfiam que no passado de Noêmia exista algo mais sério e doloroso do que a perda precoce do marido que amava. A vida de Noêmia vai sofrer uma reviravolta quando ela finalmente deixa cair suas defesas e se apaixona perdidamente por Ubaldo Sampaio.

Paulo César (Assunção) - 21, filho de Noêmia. Bonito, esportivo, sedutor. Tenta pela terceira vez vestibular de medicina por insistência da mãe que ele explora. Gostaria de ser comerciante, ter um pequeno bar, mas não conversa sobre isso com a mãe. Triângulo com Sandra, que é apaixonada por ele, e com Inácio.

Ubaldo Sampaio - 45, encantador, carismático, jornalista de grande sucesso, querido, respeitado, profundo conhecedor de cultura brasileira e de MPB em particular, assinando artigos e colunas extremamente respeitadas, nos maiores jornais do país. Muito apaixonado pela esposa Lavínia, irmã de Renato Mendes, não suportou vê-la morta ainda jovem, em um desastre de carro, quatro anos atrás. Quase enlouquece, e começa aí seu processo de autodestruição e total desinteresse pela carreira. Ainda pode ser considerado um homem bonito, embora seu grande charme tenha desaparecido depois da tragédia que sofreu. À dor imensa se juntou um sentimento de culpa injustificado. Era ele que estava ao volante e não consegue se perdoar por não ter conseguido evitar o acidente. Torna-se um jogador inveterado, capaz de dissipar rapidamente os bens que mantinha em seu nome. Nem o amor pelo filho Zé Carlos consegue afastá-lo do vício. Com o tempo perde vários empregos, alguns amigos, prestígio. Só a comovente

dedicação do garoto, de apenas 9 anos, evita que ele acabe destruindo a própria vida. Ubaldo continuamente se arrepende de seus desmandos, promete ao filho e a si mesmo que vai deixar o vício mas está mais doente do que imagina. Ainda vai sofrer muito até que o amor de uma mulher, Noêmia, o ajude a sair desse pesadelo, e a recuperar o respeito e dignidade perdidos. Volta com grande sucesso à profissão, sem se dar conta de que é amado por Noêmia. Apaixona-se por nossa vilã Laura, ao ponto de se deixar manipular por ela como se não tivesse vontade própria.

Zeca (Mendes Sampaio) - 9, filho de Ubaldo, menino adorável. E que adora o pai desastrado e angustiado. Amadurece precoce e abruptamente com a morte da mãe e o mergulho do pai no desespero. Sem inclinação a adulto antes do tempo ou sabichão, acaba, pela circunstância trágica em que é jogado, agindo como pai do pai. Em toda a história, seu objetivo é salvar Ubaldo.

Vladimir Coimbra - 27, bonito, atlético, irmão de Eliete, mora com ela, em Vila Isabel. Bronco. Afável, bondoso, simples, desambicioso, querido pelas crianças. Muito mulherengo. Grande orgulho de ser bombeiro. Deseja Darlene, que só liga para famosos. Salva Maria Clara em incêndio, é condecorado, desperta a atenção de Darlene. Que vê que namorar bombeiro herói é pouco para ficar famosa, o faz posar de sunga, capacete e mangueira na mão para um fotógrafo picareta, para conseguir ela aparecer em revista. Para surpresa dos dois a foto dele é a publicada. Arrasado, é expulso dos bombeiros. Fica famoso contra a vontade. Jaqueline (v.) também se interessa, ele namora Darlene e Jaqueline, esconde uma da outra, sonha em voltar para os bombeiros. Acaba famoso, estrelando campanhas publicitárias para pré-adolescentes. Intimidado, detesta ser centro de atenções, só queria ser bombeiro. Protagonista, com as namoradas, do núcleo cômico da história.

Eliete (Coimbra) - 36, bonitinha, divertida, sensual, gostosa, bom astral, extremamente brega, a irmã de Vladimir foi colega de Maria Clara nos primeiros anos do segundo grau do Colégio Pedro II, e desde então, embora tenham seguido caminhos bem diversos, as duas são grandes amigas. Eliete é saudavelmente vidrada em sexo, está sempre namorando, sem estabelecer compromissos românticos mais profundos. Bom caráter, seu traço dominante é a franqueza. Ganha a vida como sacoleira, faz viagens ao Paraguai e vende os produtos a uma freguesia que abrange muitos personagens da novela. Maria Clara gostaria de ver Eliete bem sucedida em algum outro tipo de atividade. Quando a história começa, está-lhe patrocinando um curso de massagista. No meio da novela, Eliete tem com o jovem Inácio uma ligação forte, mais erótica do que romântica. Sempre antagonista de Ana Paula, que a detesta, na parte final da narrativa Eliete vai ter um romance com Nelito. É a única personagem da história a quem a vilã

Laura não consegue enganar nem por um instante.

Jaqueline Joy - 25, linda, gostosíssima, vem do interior para ficar famosa como as moças que vê na TV ou nas revistas glamourosas. Manicure na barbearia de Salvador, vira amiga de Darlene apesar da rivalidade que têm, as duas obcecadas pela fama.

Salvador (Amorim) - 61, pai de Fernando. Barbeiro, dono de salão simples em Vila Isabel. No passado foi campeão de remo com Lineu Valadares, Chico Quintela e o falecido Rubem Diniz, marido de Corina, pai de Maria Clara e Ana Paula. Salvador tem relação de grande afeto com o filho.

Renato Mendes - 28, conhecidíssimo colunista de variedades e quotidiano, grande influência na vida da cidade, todo o mundo já ao menos ouviu falar dele. Intrigante, sarcástico, venenoso, refinado, culto, inteligentíssimo, conhece a vida de todos e usa o conhecimento para manipular quem lhe convém. Capaz de consagrar ou derrubar um espetáculo ou evento com o poder de sua coluna. Várias vezes ameaçado de agressão, consegue hábil e milagrosamente escapar à custa de muito evitar ocasiões ou delas sair apressado ante a presença de um de seus muitos desafetos. Editor da revista Celebrity. Personagem fascinante, sempre surpreendente, desenvolve fixação em Laura, que vai se tornar sua cúmplice na segunda parte da história. Sobrinho do poderoso Lineu Valadares, ambiciona herdar um dia a presidência do grupo, sendo portanto antagonista natural de nosso herói Fernando, que vê como uma ameaça a esse projeto. Disputa com Jaqueline a herança de seu falecido irmão, campeão de natação. É ainda

antagonista do simpático Ubaldo: quer tirar a guarda de seu sobrinho Zeca, para lhe surrupiar o que a falecida mãe deixou para o menino. Vidrado na linda Laura, que consegue ter nas mãos na segunda parte da história.

Joel Cavalcanti - 36, repórter inteligente da revista Celebrity, ambiciona a editoria. Mulherengo, tem grande atração inicialmente por Darlene e mais tarde por Jaqueline.

Ademar Sampaio - 48, assistente de Ernesto na empresa de Maria Clara. Simpático, bem-humorado, pobre mas vai levando, sempre uma piada na ponta da língua. É muito ligado de modo geral às coisas da cultura popular - música, esportes, velhas chanchadas e teatro de revista (e bem informado sobre elas). Pai da linda Darlene, que ele acredita virgem.

Darlene Sampaio - 24, linda. Segundo todos os homens que a conhecem, ainda mais gostosa do que bonita. Filha de Ademar, que trabalha na empresa de Maria Clara. Manicure, sonha com a carreira de modelo e atriz. Mente ao pai que é virgem. Trabalha no salão de Salvador. Louca para ficar famosa. Torna-se grande amiga de Jaqueline, outra manicure do salão, também linda, gostosa e louca pela fama (apesar de certa rivalidade entre as duas). Manipula todos os homens que pode.

***

Tadeu - 29, funcionário de clínica de que vai roubar sêmen congelado de um esportista famoso para Jaqueline, por quem é apaixonado, engravidar da celebridade e ficar famosa. Mais tarde vai trabalhar no bar de chope de Vila Isabel.

Seu Wanderlei - 64, jornaleiro muito conhecido em Vila Isabel. Tem um nível de conhecimento espantoso, é muito procurado por todos os fregueses para dar informações sobre os mais variados assuntos, principalmente tudo o que diz respeito a celebridades.

Gabi - 17, jovem que vai se tornar amiga de Sandra. Irmã de Vitória. As jovens Gabi, Vitória e Zaíra moram juntas num pequeno apartamento em Ipanema, prédio velho.

Guto e Dudu (Gustavo e Eduardo) - 7, 8, os meninos mimados e endiabrados, filhos de Ana Paula e Nelito.

Olga - 36, secretária de Lineu Valadares.

Fabiana - 32, atraente, secretária de Renato Mendes.

Vitória - 22, repórter simpática, bom caráter, da revista Celebrity. Safa e empenhada.

Queiroz - 29, assistente de Nelito na produtora de vídeo.

Zaíra - 23, assistente na Melo Diniz.

Ivan - 28, paparazzo.

Iara - 23, bonita, copeira da casa de Maria Clara.

Xavier - 42, motorista da Editora Valadares.

Kátia - 27, arrumadeira no apart-hotel dos ricos.

Palmira - 33, arrumadeira no apart-hotel dos ricos.

Regina - 34, arrumadeira na casa de Beatriz e Fernando.

***

participações especiais:

Otávio Albuquerque (para o início da novela, retornando na parte final) - 32 anos, namorado, no início, da apaixonada Maria Clara. Inteligente, charmoso, bonito, importante executivo, seguro de si, maduro. Sem receio da imagem triunfante, auto-suficiente de Maria Clara, bem mais famosa e requisitada pela mídia do que ele, o que administra com naturalidade. Par perfeito para ela... não fosse tudo simulado. Ele pede Clara em casamento para irem para a Arábia Saudita, de onde recebeu convite irrecusável. Clara tem de escolher: abandonar sua carreira para ser dona de casa, ou prejudicar seriamente a carreira do homem amado. Até descobrir que Otávio forçou o convite para obrigá-la a deixar o trabalho, ser só sua mulher. Rompem, ela não quer mais se apaixonar. Pouco antes de conhecer Fernando. Otávio volta arrependido, sempre apaixonado, na parte final da história.

Hugo (Soares) - (cerca de 60 capítulos) - 22, bonito jovem desambicioso, muito simpático, que se apaixona por Clara. Rejeitado pela família dela como aproveitador, na verdade não tem interesse na fama de nossa protagonista, ama-a de fato. Clara, primeiro insegura, depois se encanta, enfrenta a família por ele, vivem um envolvimento terno que ela nunca tem certeza de como acabará.

Kléber Mendes - 30, bonito, carismático, famosíssimo campeão de natação, irmão de Renato, participação no início.

Wagner Lopes - 27, jovem cantor assassinado antes do início, participação em flashback.

Fábio (Valadares Amorim) - 16-17, irmão de Inácio, filho de Fernando e Beatriz. Bonito, forte, extrovertido, audacioso, esportivo, a "alegria da casa" segundo Beatriz, que tem preferência por ele e rejeita seu irmão introspectivo e angustiado. Morre em acidente de mergulho submarino. Participação no início.

Teresa Carvalho - 25, lindíssima, modelo famoso, casada com Bruno, de quem se separa quando se apaixona por Kléber Mendes. Participação para poucos capítulos.

***

CENÁRIOS E LOCAÇÕES:

SALAS DE MARIA CLARA

COZINHA MARIA CLARA

QUARTO MARIA CLARA

QUARTO ANA PAULA E NELITO

QUARTO SANDRA

QUARTO DE HÓSPEDES (MODESTO, PARA LAURA)

EXTERNA DA CASA, PISCINA, ETC.

SALA E ANTE-SALA DE MARIA CLARA NA EMPRESA

SALA DE ERNESTO NA EMPRESA (pequena)

SALA DE NOÊMIA NA EMPRESA (pequena, pode ser mutação Ernesto)

COPA NA EMPRESA

EXTERNA: PRÉDIO COMERCIAL DE LUXO, COM LOJAS

EXTERNA EDITORA VALADARES (prédio moderno vistoso)

SALA DE LINEU NA EMPRESA, SALA DE REUNIÕES (pequena)

SALA DE FERNANDO NA EMPRESA

REDAÇÃO REVISTA CELEBRITY, COM SALA DE RENATO À PARTE

PEQUENA COPA À PARTE

(Na segunda parte, o mesmo cenário, com outra figuração, deverá ser usado para redação de outra revista da Editora Valadares, de que Ubaldo vai ser editor. Como acontecia no prédio da Manchete, as redações são iguais.)

ESPAÇO CULTURAL CELEBRITY (grande, vistoso, local para festas, com restaurante, cenário ou locação?)

(Pretendemos dizer que Lineu Valadares construiu um prédio de luxuosos apart-hotéis, na Barra, e mora na cobertura. O fato de que ele tenha construído explica que vários funcionários da Editora Valadares também morem lá):

COBERTURA DE LINEU: SALAS, QUARTO

APART DE BRUNO: SALA, QUARTO

APART RENATO MENDES: SALA, QUARTO (Joel vai praí)

APART PARA DIVERSOS PERSONAGENS: SALA, QUARTO

AREAS COMUNS DO PRÉDIO: SAUNA, PISCINA, QUADRA DE TÊNIS, ETC.

ESTÚDIO DE FOTOS DE BRUNO, COM ANTE-SALA

(vamos dizer que é no prédio da empresa de Maria Clara)

SALAS APTO FERNANDO E BEATRIZ

QUARTO FERNANDO E BEATRIZ

QUARTO INÁCIO

EXTERNA DO PRÉDIO

SALA DO APTO OTÁVIO (luxuosa, pros 10 primeiros capítulos; quando o personagem volta na última parte mora no apart)

SALA DE OTÁVIO NA EMPRESA (só para a primeira semana)

RUA DE VILA ISABEL (cidade cenográfica), com entradas das casas de diversos personagens, BARBEARIA DE SALVADOR, BAR DE CHOPE, BOTEQUIM

SALA DO APTO ERNESTO (E MARCOS) - VILA ISABEL - No início Joel mora aí, depois Joel vai pro Renato e Marcos ocupa sua vaga

QUARTO MARCOS NESTE APTO (modesto)

SALA DO APTO ADEMAR E DARLENE, COZINHA, BANHEIRO

QUARTO DARLENE - VILA ISABEL

BARBEARIA DE SALVADOR - VILA ISABEL

SALA APTO DE SALVADOR, COZINHA - VILA ISABEL

QUARTO NA CASA DE SALVADOR (MODESTO, PARA CHICO QUINTELA)

SALA DA CASA DE ELIETE E VLADIMIR, COZINHA, BANHEIRO

QUARTO DE VLADIMIR

QUARTO DE ELIETE

QUARTO DE JAQUELINE (todos modestos)

EXTERNA DA CASA, QUINTAL, APARELHAGEM DE MUSCULAÇÃO SEM LUXO PARA VLADIMIR E PAULO CESAR - VILA ISABEL - RUA CENOGRÁFICA

SALA APTO UBALDO, COZINHA, BANHEIRO

QUARTO UBALDO

QUARTO ZECA - VILA ISABEL

SALA APTO NOEMIA E PAULO CESAR, COZINHA, BANHEIRO

QUARTO NOEMIA

QUARTO PAULO CESAR

(OS APARTAMENTOS DE UBALDO E NOÊMIA SÃO NO MESMO PRÉDIO)

SALA DE VITÓRIA, GABI, ZAÍRA E IVAN (apartamento de jovens de nível modesto que moram juntos, onde é? lados da Barra)

PRIMEIRO QUARTO DE LAURA (modestíssimo)

ESCRITÓRIO DE NELITO NA PRODUTORA (modestíssimo)

ESCRITÓRIO DE NELITO NA FIRMA DE TRANSPORTES (modesto, para fase curta)

SALA DO APTO DE ANA PAULA E FAMÍLIA QUANDO EXPULSOS (pode ser, por exemplo, uma adaptação da sala de Otávio do início da novela)

APARTAMENTO DE ENCONTROS ELIETE E INÁCIO (pequeno)

QUARTO DE MOTEL (CENÁRIO E LOCAÇÃO)

COLÉGIO DE INÁCIO E SANDRA (externa e figuração)

ESPAÇO PARA MEGA-SHOWS (calculamos que se possa trabalhar com uma média de um mega-show por mês)

ESPAÇO PARA SHOWS DE MÉDIO PORTE (locação)

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CLINICA DE TADEU (locação, para o episódio do roubo do sêmen)

CORPO DE BOMBEIROS

PENITENCIÁRIA, PARA VISITAS A CHICO QUINTELA

TEATRO: PALCO, SAGUÃO, CAMARIM (locação para a fase em que Darlene quer ser atriz)

PRODUÇÃO DE LEILÃO DE LUXO (só para 2 capítulos na fase inicial)

ORFANATO FORA DO RIO (locação, com freiras mas sem crianças), para 2 capítulos

produção na semana primeira transa de Clara e Fernando:

SAGUÃO DO AEROPORTO DE CONGONHAS

PISTA DE PEQUENO AEROPORTO DE AEROCLUBE

INTERIOR DE AVIÃO (PARA POUSO FORÇADO)

HOTEL FAZENDA

QUARTO NO HOTEL FAZENDA

PRODUÇÃO DE PROGRAMA DO GÊNERO O CÉU É O LIMITE PARA UMAS 4 SEMANAS NO MEIO DA NOVELA

BÚZIOS, COM HOTEL DE LUXO, RECEPÇÃO E RESTAURANTE (só para 1 bloco, o da entrada de Hugo, no meio da novela)

epílogo:

SALA E COPA PRODUTORA MARIA CLARA (bem modesta)

+ RESTAURANTES, BOATES, HOSPITAL, QUARTO DE HOSPITAL, CTI, CEMITÉRIO, CAPELA DE VELÓRIO, DELEGACIA DE POLÍCIA COM CELA E SALA DO DELEGADO COMO EM TODAS AS NOVELAS

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