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Falando com as paredes

Este livro fala de espaços de escolas. Bom, podemos falar de espaços de um monte de maneiras, e pretendemos mostrar todos esses jeitos aqui, para que as pessoas que usam e usufruem do espaço das escolas passem a olhá-lo com... outros olhos. E possam conversar com eles.

Bom, vamos começar falando com... com...

Com as paredes?

Embora, “aparentemente”, as paredes não falem, se pensarmos bem, descobriremos coisas bem interessantes. As paredes falam, sim. E muito. E não só elas que falam. Os espaços encerrados dentro das paredes também falam. Tagarelam sem parar, no entanto, não conseguimos ouvi-los.

Os espaços não falam como nós falamos, assim, com vozes. Nunca entramos num lugar e ouvimos uma voz dizendo “olá, você está numa sala. Sala de aula. Entre. Fui construída há dez anos, com tijolos de barro. Encaixaram em mim aquela janela e uma porta que me comunica com o corredor...”. Os espaços falam, mas de outra maneira. Falam com o volume que encerram, com os acabamentos que têm, com os móveis que comportam, com o modo como circulamos dentro deles.

Alguns espaços já nos avisam, de cara, quem são, mesmo sem entrarmos neles. Por exemplo, um supermercado, uma loja. São fáceis, chamam a atenção. Avisam de longe: “ei, olhe para cá.” E você olha, vê e lê, em letras bem grandes na porta: “supermercado”. Mas nem todos os espaços berram nos nossos ouvidos dessa maneira.

Entramos em algum lugar. Onde? Só conversando para saber. Entram em ação os nossos olhos, o olfato, a pele, os ouvidos. Temos uma leitura quase instintiva dos espaços. Alguém, por acaso, já confundiu um banheiro com uma biblioteca? Um refeitório com uma sala de aula? Um pátio com um corredor? Claro que não. Se o lugar tem azulejos na parede, piso frio, pia, torneira, privada, claro que é um banheiro. Se virmos carteiras enfileiradas, uma mesa maior e um grande quadro-negro, ah, claro, é uma sala de aula. Parece bobo falar assim, não? Mas, se pensarmos bem não é não. Isso é saber “olhar e conversar”.

Mas antes de olhar tanto, saiba que alguém já fez isso. Sim, porque atrás de todo edifício existe um projeto, uma intenção, um desejo de alguma coisa. O projeto é o desenho que o arquiteto fez do prédio. O primeiro “olhar” dado para aquele espaço, um olhar inventado, mágico, que se enche de vida quando utilizado, e começa, então, a falar conosco. E para que a construção seja concluída, são necessários muitos outros olhares, de outros profissionais. Projetos de engenharia, de instalações, projetos de estrutura, ou seja, projetos, muitos projetos.

O tempo passa, o mundo passa por muitas transformações, inclusive na educação e, muitas vezes, precisamos alterar os espaços que nos rodeia. Numa escola, ele deve sempre trabalhar junto com o aprendizado. Mais do que isso: o espaço de uma escola deve estar além, incentivando a criação, o sonho, o desejo dos alunos. Lembre-se sempre de que, atrás de cada parede levantada, existiu trabalho e pensamento. E é preciso, respeitando esse trabalho e esse pensamento, planejar em como será o espaço da escola que desejamos, e, se for necessário, pedir ajuda aos arquitetos, aos engenheiros, aos pedreiros...

É simples como escolher que roupa colocar de manhã. Temos usar o que possuímos no nosso guarda-roupa. Fadas madrinhas, roupas deslumbrantes e mágicas de Cinderela não existem. Resta-nos criar e modificar o que temos, mesmo que sejam pequenas as intervenções, aparentemente mínimas, mas ao longo do tempo, grandiosas.

A memória de cada um de nós é muito particular, muito íntima. E as impressões que temos das nossas escolas são sempre lembranças de infância, recheadas de sonhos, fantasias, além de muito remotas.

Então, mãos à obra. É nisso que temos que acreditar. Na nossa memória e no nosso guarda-roupa. E, assim, tentar tornar o espaço escolar o mais mágico possível, pois ele é a memória do futuro de todos nós.

CENTRO DE EDUCAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO PARA A AÇÃO COMUNITÁRIA. O Falando com as paredes. In: Livro do diretor: espaços & pessoas. São Paulo: CEDAC/MEC, 2002, p.8.

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