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A resiliência dos sert?es?A Caatinga é o espa?o de luta e identidade, de humanos e n?o-humanos, de sensa??es, de medos, sonhos e vida. Euclides soube resumir numa única frase o que é a Caatinga e o que s?o os que a habitam, pois, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.Caatinga, a majestade branca. N?o confunda sua aridez com morte. Foto: Fabio Origuela de LiraAo receber a incumbência de escrever sobre as Caatingas, tive medo. Como eu, filho do litoral, nascido entre os mares de morros e a exuber?ncia da Mata Atl?ntica, poderia conseguir expressar a “majestade branca” expressada no nome por nós incorporado dos povos Tupi, do?Caa?– traduzido como mato/matas – e?Tinga?tradu??o de branco, relacionado ao aspecto de suas árvores durante o período seco, quando a maioria das árvores perde suas folhas e os troncos esbranqui?ados e brilhantes dominam a paisagem, em contraposi??o as matizes de verde durante o período chuvoso. A Caatinga n?o é sempre branca e nem sempre t?o seca, a Caatinga explode de vida. “Em toda a parte somente se observa o quadro desolador da lenta destrui??o. Assim nós vimos essas caatingas medonhas quando, com numerosos companheiros, as atravessamos nos primeiros meses do ano de 1818, entre o rio Paragua?u e o rio de S?o Francisco. Durante cinco dias nenhuma fonte, nenhum orvalho ofereceu refrigério aos viajantes extenuados; acossados pelo medo e terror da morte, percorremos dia e noite através da solid?o abrasada, e invadida por pressentimentos amea?adores, parecia-nos que a fantástica brenha amea?ava arremessar-se sobre nós: uma estranha assombra??o causada pela miragem.” Esta vis?o desoladora resume a decep??o de alguém que, passando primeiro pela Mata Atl?ntica, apenas atravessava as Caatingas, sem, contudo, lhe dar sua majestade no meio em que se colocou. Entender n?o significa concordar, e eu entendo Martius dois séculos depois, mas suas impress?es iniciais n?o traziam a compreens?o de suas minúcias. Para um lugar majestoso é preciso conhecer os detalhes.Caatinga é resiliênciaCaatinga s?o os primeiros registros humanos nas Américas, é Serra da Capivara no Piauí. S?o os registros do Boqueir?o da Pedra Furada, em S?o Raimundo Nonato, que descrevem ao menos 50 mil anos de história da intera??o humana no ambiente, de um Brasil de superlativos, quando a Caatinga era povoada por gigantes como as pregui?as terrícolas, manadas de mastodontes, tigres-dente-de-sabre, ursos e outros animais fantásticos. Mas n?o só no Piauí, mas em toda extens?o da Caatinga. Seguindo pelo Piemonte da Chapada Diamantina, pelas planícies do rio Jacaré em dire??o a Irecê/BA e ao rio S?o Francisco, com a história registrada nos desenhos da arte rupestre nos pared?es e abrigos rochosos, com até 12 mil anos. S?o os registros de festas, dan?as, sexo, ca?a, animais e outras coisas que, sem entender o pensamento daqueles humanos, perdemos seus significados. Caatinga é vida, é majestade nas mais de 1.000 espécies bot?nicas, sendo mais de 300 exclusivas deste bioma e com 1/4 delas com algum grau de amea?a de extin??o. Caatinga é a imponência do Mandacaru (Cereus jamacaru) e seus largos troncos nas brenhas do sert?o, s?o os cabe?as-de-frades em flor, s?o os campos de bromélias, por vezes únicos locais de reservatório de água para os pequenos animais, s?o as orquídeas e a beleza desvelada por Burle Marx nas suas expedi??es paisagísticas por Morro do Chapéu/BA e em outros sert?es mais. Caatinga é a palmeira de Licuri Caatinga é a árvore sagrada do sertanejo, o umbuzeiro, de sombra e umbus, alimento nos sert?es. Fonte: é bicho. S?o mais de 1.300 espécies e pelo menos uma quarta parte dela exclusiva desses sert?es. S?o os “gatos brabos” do sertanejo, de on?as-pintadas e pretas, jaguatiricas. S?o os pequenos pássaros canoros, camuflados nas cores secas da Caatinga, entre galhos e ramas. S?o as mais de 40 espécies de lagartos, 9 espécies de cobra-cegas, 114 serpentes (11 delas endêmicas do bioma), quatro quel?nios, três espécies de jacaré e 50 espécies de anfíbios. Caatinga também s?o peixes.A Caatinga é o espa?o de luta e identidade, de humanos e n?o-humanos, de sensa??es, de medos, sonhos e vida. Euclides soube resumir numa única frase o que é a Caatinga e o que s?o os que a habitam, pois, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. ................
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