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O SAPOTIZEIRO NO BRASIL1

Josu? Francisco da Silva Junior2, Jo?o Emmanoel Fernandes Bezerra3 Ildo Eliezer Lederman3, Roberto Jos? Mello de Moura4

Resumo-O sapotizeiro ? uma esp?cie frut?fera com grande potencial para explora??o econ?mica no Brasil, possuindo sistemas de produ??o definidos que podem auxiliar no desenvolvimento do seu cultivo. As pesquisas t?m sido conduzidas com maior frequ?ncia na Regi?o Nordeste, onde tamb?m se encontram as principais ?reas produtoras. O presente trabalho consiste em uma colet?nea atualizada sobre a cultura do sapoti no pa?s, contendo informa??es baseadas em trabalhos de pesquisa de institui??es brasileiras e estrangeiras, bem como em observa??es nas regi?es produtoras. As informa??es abrangem a cadeia produtiva do sapoti, envolvendo desde um breve hist?rico at? a comercializa??o, destacando-se temas como o manejo agron?mico, recursos gen?ticos e melhoramento, colheita e p?s-colheita. Termos para indexa??o: Manilkara zapota, fruticultura tropical, produ??o, recursos gen?ticos.

SAPODILLA TREE IN BRAZIL

Abstract-The sapodilla is a fruit species with great potential for economic exploitation in Brazil, having established production systems that can assist in the development of their culture. Research has been conducted with greater frequency in the Brazilian Northeast, where are also the main producing areas. This work is an updated compilation of sapodilla crop in the country, containing information based on research studies of Brazilian and foreign institutions, as well as observations in the producing regions. The information covers the production chain of sapodilla, ranging from a brief history to commercialization, highlighting topics such as agronomic management, genetic resources and breeding, harvesting and post-harvest. Index terms: Manilkara zapota, tropical fruit crop, production, genetic resources.

Introdu??o

O sapotizeiro [Manilkara zapota (L.) P. van Royen] ? a esp?cie frut?fera mais conhecida da fam?lia Sapotaceae. Intimamente relacionado com a cultura das civiliza??es pr?-colombianas do M?xico e Am?rica Central, foi, por muitos anos, uma importante mat?ria prima para fabrica??o do chiclete, a partir da extra??o do l?tex do tronco. Atualmente, gomas sint?ticas substitu?ram as naturais e, na maioria dos pa?ses produtores, o sapotizeiro ? cultivado, principalmente, para produ??o de frutos consumidos in natura. A sua casca ? fina e a polpa ? tenra e muito doce, contendo uma subst?ncia gelatinosa que lhe d? um aroma singular.

Dentre as frutas tropicais ainda subutilizadas no Brasil, segundo Lederman et al. (2001), o sapoti ? uma das que apresenta maior potencial para explora??o econ?mica, o que fez com que, nos

?ltimos anos, a expans?o do seu cultivo aumentasse de maneira acelerada, n?o s? nas regi?es ?midas do litoral, mas tamb?m nas ?reas irrigadas do semi?rido nordestino. Al?m disso, alguns avan?os nas pesquisas dessa fruta no mundo tamb?m podem ser notados, por?m, no Brasil, projetos de pesquisa e desenvolvimento dedicados ao sapoti ainda s?o muito escassos.

Origem e Centros de diversidade gen?tica

De acordo com Popenoe (1920), a palavra sapoti ? derivada de "tzicozapotl" (goma zapote) na l?ngua nahuatl. Segundo Braga (1960), vem do azteca "tzapotl", que originou zapota e sapota, que, no Brasil, foi incorporada a part?cula i do tupi, resultando no voc?bulo sapoti.

O sapotizeiro ? uma esp?cie frut?fera origin?ria das regi?es quentes e ?midas da Am?rica Tropical, que v?o do Sul do M?xico ?s Am?ricas Central

1(Trabalho 449-13). Recebido em: 20-09-2013. Aceito para publica??o em: 15-12-2013. Palestra II Simp?sio Internacional de Fruticultura- Frutas Ex?ticas, 21 a 25 de outubro de 2013. Jaboticabal-SP. 2Embrapa Tabuleiros Costeiros, Unidade de Execu??o de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife-PE, Brasil. E-mail: josue.francisco@ embrapa.br 3Instituto Agron?mico de Pernambuco (IPA), Recife-PE, Brasil. E-mail: joao.emmanoel@ipa.br, roberto.moura@ipa.br 4Embrapa/IPA, Recife-PE, Brasil. E-mail: ielederman@

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e do Sul (Venezuela e Col?mbia) (POPENOE, 1920). Segundo Zohary (1970), o seu centro de diversidade corresponde ao centro Sul do M?xicoAm?rica Central (centro Meso-americano), conforme classifica??o de Vavilov. Acredita-se que a regi?o do Yucat?n, Norte de Belize e Nordeste da Guatemala seja o seu verdadeiro centro de origem (FOUQU?, 1972; MORTON, 1987).

A partir da?, o sapotizeiro foi disseminado por todas as regi?es de clima tropical e subtropical do Caribe, Am?ricas do Sul e do Norte (Fl?rida, Calif?rnia e Bermudas), ?sia (sobretudo ?ndia, Sri Lanka, Israel e Sudeste Asi?tico) e Oceania (principalmente Hava? e Austr?lia) (POPENOE, 1920; HAYES, 1960; MORTON, 1987; MICKELBART, 1996; HEATON, 1997).

Segundo Campbell et al. (1997), o sapoti foi levado para as Filipinas pelos espanh?is no s?culo XVIII, e da? foi introduzido na Mal?sia e ?ndia. Na Fl?rida, foi possivelmente trazido a partir das Bahamas no in?cio do s?culo XIX.

No Brasil, Pio-Corr?a (1969) afirma que foi introduzido das Antilhas. Uma das mais importantes introdu??es deu-se no in?cio dos anos 1800, a partir da Guiana Francesa, juntamente com diversas esp?cies ex?ticas, com o envio de mudas para os jardins bot?nicos de Bel?m e, posteriormente, Olinda e Rio de Janeiro (SANJAD, 2010). Ocorre desde o Estado de Roraima at? o Rio Grande do Sul, no entanto ? nas regi?es Norte e Nordeste, onde o sapotizeiro encontra as melhores condi??es para o seu desenvolvimento.

Essa planta era conhecida desde muito tempo antes da chegada dos europeus ao Novo Mundo. As civiliza??es pr?-colombianas j? consumiam os seus frutos e utilizavam a sua madeira, que ? bastante resistente ao apodrecimento (HEATON, 1997). A extra??o do l?tex ainda hoje ? feita por popula??es tradicionais denominadas "chicleros".

Import?ncia econ?mica

Embora n?o se disponham de dados estat?sticos mundiais com rela??o ? produ??o e comercializa??o do sapoti, sabe-se que os pa?ses produtores est?o distribu?dos nos tr?picos. O sapoti ? explorado comercialmente, sobretudo na ?ndia, Filipinas, Sri Lanka, Mal?sia, M?xico, Venezuela, Tail?ndia, Indon?sia, Brasil e pa?ses da Am?rica Central e Caribe. Nessas regi?es, a produ??o ? quase que totalmente voltada para o consumo nos pr?prios pa?ses de origem, no entanto existe uma demanda crescente pela fruta em outros pa?ses, principalmente da Europa, Am?rica do Norte, Oriente M?dio e

Sudeste Asi?tico. No Brasil, a maior parte da produ??o dessa

fruta se d? no Nordeste, onde Pernambuco (Zona da Mata, Agreste e Subm?dio S?o Francisco) se sobressai como o maior produtor nacional. Outros estados produtores s?o a Bahia (regi?o Cacaueira e Extremo Sul), Cear? (Regi?o Metropolitana de Fortaleza, Baixo Acara?, Baixo Jaguaribe), Par? (Nordeste Paraense e Regi?o Metropolitana de Bel?m), Para?ba (Zona da Mata e Brejo Paraibano), Rio Grande do Norte (Zona da Mata e algumas ?reas irrigadas nos p?los Mossor?/A?u) e Sergipe (regi?o Centro-Sul, sobretudo Lagarto e Boquim).

A maioria da produ??o ocorre em pequenas propriedades e ? exclusivamente para abastecimento do mercado local, por?m tem-se observado um crescimento na procura pela fruta em outras regi?es do pa?s. Em alguns per?metros irrigados do Nordeste, a introdu??o da cultura j? apresenta resultados positivos. Os frutos oferecidos no mercado ainda s?o de baixa qualidade, no entanto, a disponibiliza??o de cultivares com caracter?sticas bem definidas e o cultivo racional poder?o incrementar a qualidade do produto final.

Com rela??o ? comercializa??o em Pernambuco, dados do Centro de Abastecimento e Log?stica de Pernambuco (Ceasa-PE), a quantidade da fruta ofertada na Ceasa do Recife, em m?dia, 39,8 t/ano (m?dia de 2008 a 2012). Desse total, mais de 70% foi proveniente dos munic?pios de Vit?ria de Santo Ant?o e Igarassu, e 28% de Alhandra, PB. Al?m desses, s?o munic?pios produtores em Pernambuco: Alian?a, Condado, Abreu e Lima, Bom Jardim, Amaraji e Carpina. No maior entreposto comercial da Am?rica Latina, a Companhia de Entrepostos e Armaz?ns Gerais de S?o Paulo (Ceagesp), foram comercializados em 2012, 34 t de sapoti, provenientes em sua maior parte do Munic?pio de Canavieiras, BA, mas tamb?m de Boquim, SE, Atibaia, SP, Santa Isabel, PA, Una e Eun?polis, BA. Na Ceasa-CE, foram comercializados tamb?m em 2012, 7,5 t, provenientes do Litoral de Cascavel, Baixo Jaguaribe e Grande Fortaleza. Dados das centrais de comercializa??o do Nordeste indicam que os frutos atingem um pre?o m?dio de US$ 2,70/ kg ao longo do ano.

Bot?nica

O sapotizeiro est? agrupado na fam?lia Sapotaceae e ap?s muitas incertezas taxon?micas, pertence atualmente ? esp?cie Manilkara zapota (L.) P. van Royen. A diferen?a entre as denomina??es sapoti e sapota ? somente devida ao formato do

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fruto. Aqueles apiculados/ovalados s?o chamados de sapoti, j? os arredondados, de sapota. Coletas de germoplasma e observa??es realizadas nas ?reas de produ??o t?m constatado em todas as partes do mundo a exist?ncia de ambas as formas, assim como diferentes tamanhos, numa mesma planta. N?o se deve confundir, no entanto, com algumas frutas da mesma fam?lia, que tamb?m s?o chamadas sapotas, mas pertencem a outras esp?cies (LEDERMAN et al., 2001).

As informa??es a seguir sobre as partes da planta do sapoti foram obtidas das descri??es de Popenoe (1920), Braga (1960), Pio-Corr?a (1969), Fouqu? (1972), Lakshminarayana (1980), Morton (1987) e Heaton (1997). O sapotizeiro ? uma ?rvore de crescimento lento, grande longevidade e porte elevado, podendo atingir at? 20 m de altura, embora se tenha observado em florestas plantas com at? 45 m. Apresenta exsuda??o de l?tex branco em todas as suas partes. O tronco ? normalmente curto e de cor cinza-claro a marrom-escuro, com di?metro de 1,25 a 3,50 m, apresentando muitas fissuras. A sua madeira ? densa e dura. Os ramos s?o fortes e numerosos, saindo do tronco quase em ?ngulo reto e n?o se quebram com facilidade, sendo resistentes aos ventos muito fortes. A copa ? muito frondosa e densa, arredondada, piramidal (principalmente quando jovem) ou irregular.

As folhas s?o simples, alternas, cori?ceas, inteiras, el?ptico-ovaladas ou el?ptico-lanceoladas, com limbo de 5 a 14 cm de comprimento por 5 a 7 cm de largura, agudo ou obtuso no ?pice, agudo na base, verde-brilhante. S?o agrupadas principalmente nas extremidades dos ramos novos. Quando novas apresentam pequenos p?los que desaparecem ? medida que a folha adquire colora??o verde-escura.

A infloresc?ncia ? fasciculada com flores pequenas, axilares, hermafroditas, com pedicelos de 1 a 3 cm de comprimento, pubescente, c?lice com cinco a seis s?palas, corola tubular gamop?tala de 8 a 10 mm, branca, ligeiramente rosada ou creme, com seis estames f?rteis e seis est?reis, chamados estamin?ides. O ov?rio ? s?pero, viloso e cont?m de oito a 12 l?culos.

O fruto ? uma baga de tamanho variado (45 a 200 g em m?dia, e 4 a 10 cm de di?metro), formato c?nico, ovalado ou arredondado, fixado por um longo pedicelo de 6 a 10 cm de comprimento. A casca ? muito fina, rugosa, de colora??o castanho-amarelada ou marrom-escura, tendo a superf?cie coberta por uma descama??o que forma um p? e que larga facilmente ao se esfregar as m?os no fruto. Quando ainda verde ? duro, com muito l?tex e tamb?m muito adstringente devido ao tanino. A polpa ? suculenta,

de colora??o marrom-escura, avermelhada ou amarelada, de textura macia ou granular, sem acidez ou fibras. O seu sabor doce e agrad?vel ? atribu?do a uma subst?ncia gelatinosa presente na polpa. Quando n?o est? maduro esse material, juntamente com os gr?nulos grudam nos dentes e d?o a sensa??o de "goma de mascar com areia fina".

O fruto possui de tr?s a 12 sementes ov?ides com cerca de 2 cm de comprimento e 1 cm de di?metro, facilmente separadas da polpa. S?o marrons ou pretas, brilhantes, lateralmente comprimidas, com uma testa dura e margem branca. Alguns frutos n?o apresentam sementes, mas a partenocarpia ? invariavelmente rara.

Poliniza??o e dispers?o

A poliniza??o ?, sobretudo, entom?fila e a dispers?o das sementes ? feita por animais maiores como as aves e, principalmente, por morcegos, que tamb?m atuam como polinizadores (HEATON, 1997). Alguns relatos afirmam que o vento tamb?m ? agente polinizador do sapotizeiro. Segundo Balerdi e Crane (2000), plantas isoladas de sapoti podem n?o produzir frutos porque algumas variedades s?o autoincompat?veis. Nessas variedades, as flores requerem a poliniza??o cruzada com outra planta. Outras cultivares podem n?o necessitar de poliniza??o cruzada, mas produzem mais quando polinizadas dessa forma.

Mulla e Desle (1990), em um estudo realizado na ?ndia com cinco cultivares de sapoti, encontraram que a autopoliniza??o resultou em uma produ??o muito baixa ou n?o houve "pegamento" dos frutos. Esses autores afirmaram que o sapotizeiro ? uma esp?cie cuja produ??o ? normalmente origin?ria de poliniza??o cruzada, com p?len de outros indiv?duos.

Ecologia

O sapotizeiro ? origin?rio de regi?es tropicais de clima quente e ?mido, no entanto pode at? suportar temperaturas baixas, particularmente plantas adultas. Tem se mostrado tolerante ? seca, por?m o seu desenvolvimento ? maior em regi?es com pluviosidade entre 1.250 e 2.500 mm (MORTON, 1987; HEATON, 1997). Se irrigado, pode produzir bem em regi?es onde a umidade relativa do ar ? baixa. Por?m, as regi?es costeiras s?o onde tem tido seus melhores desempenhos.

A planta tamb?m n?o necessita de ambiente estritamente tropical para sobreviver, podendo produzir bem em regi?es de clima subtropical. A faixa prefer?vel de temperatura est? entre 11?C

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e 34?C, sendo a ?tima situada em torno de 28?C (MOURA; BEZERRA, 1982). Temperaturas acima de 41?C, durante o florescimento ou frutifica??o podem causar aborto de flores ou queimadura nos frutos. O sapotizeiro n?o sobrevive em longos per?odos de frio, assim como per?odos noturnos frios s?o considerados fatores limitantes para a cultura (MORTON, 1987).

Desenvolve-se em altitudes que v?o desde o n?vel do mar at? mais de 2.500 m, embora produza melhor sob baixas altitudes (menos de 400 m) (HAYES, 1960; FOUQU?, 1972). O sapotizeiro desenvolve-se bem em quase todos os tipos de solo, mesmo aqueles considerados pobres.

Recursos gen?ticos

Uma grande variabilidade tem sido observada em M. zapota, por?m muito poucos trabalhos t?m sido realizados no sentido de coletar ou conservar o germoplasma de sapotizeiro existente no mundo. De um total de 710 acessos conservados ex situ atualmente no mundo (Figura 1), 94% est? no Brasil, Costa Rica, M?xico, Filipinas, Venezuela, Estados Unidos, ?ndia, El Salvador e Guatemala.

Segundo Moura e Silva Junior (1999), a quantidade de acessos da maioria das cole??es ainda ? bastante pequena. No Brasil, o IPA mant?m o maior banco ativo de germoplasma de sapoti do pa?s, com 270 acessos (Figura 2).

Muitas popula??es remanescentes no M?xico e Am?rica Central constituem o germoplasma in situ de sapotizeiro (LEDERMAN et al., 2001). De acordo com Heaton (1997), na pen?nsula do Yucat?n, no M?xico, popula??es revelaram enorme varia??o gen?tica, ressaltando a necessidade de se coletar, preservar e catalogar a diversidade encontrada nessa esp?cie na sua regi?o de origem.

Composi??o e Valor nutricional do fruto

Normalmente, o sapoti possui elevados teores de s?lidos sol?veis totais (SST) e a??cares, e reduzida acidez total dos frutos, conforme observado por Alves et al. (2000) (Tabela 1), embora possa haver grande varia??o nessas caracter?sticas, dependendo da cultivar. Com rela??o ? quantidade de nutrientes presente na polpa do sapoti, Silva et al. (1984b) obtiveram os seguintes valores (mg/100 g de polpa) em frutos colhidos em Pernambuco: P ? 9; K ? 173; Ca ? 28; Mg ? 17; S ?21 e Fe ? 0,6. Quanto ? distribui??o percentual dos componentes do fruto (polpa, casca e sementes), Alves et al. (2000) encontraram que em m?dia o sapoti possui 10,36%

de casca, 2,13% de sementes e 87,51% de polpa. Cultivares

Na maioria das regi?es produtoras distinguemse dois tipos de sapoti, de acordo com o formato e tamanho do fruto -- o redondo e o oval. No entanto, j? existem in?meras variedades disseminadas por todas as ?reas de cultivo do mundo. A propaga??o realizada por sementes pode de fato, ter originado muitas sele??es com caracter?sticas particulares (LEDERMAN et al., 2001).

No Brasil, um dos trabalhos pioneiros em sele??o de gen?tipos foi realizado pelo IPA e constitui-se, juntamente com o da Embrapa Agroind?stria Tropical, nos poucos programas em opera??o existentes no pa?s.

Do trabalho do IPA, foi obtida a cultivar Itapirema-31 (Figura 3), que ? a mais difundida no Nordeste, estando presente na maioria dos plantios racionais da regi?o. Pertence ao grupo das sapotas, ? altamente produtiva (209 kg/planta) e seus frutos arredondados e de polpa avermelhada s?o de ?tima qualidade, possuindo peso m?dio de 187 g. Outra cultivar recomendada para plantio em Pernambuco ? a `Chocolate' (Figura 4), que pertence ao grupo dos sapotis e foi obtida tamb?m por meio de sele??o massal no BAG Sapoti do IPA. Possui frutos ov?ides de polpa avermelhada com peso m?dio de 101 g. Atinge uma produ??o m?dia de 111 kg/ planta distribu?da nos meses de junho e julho, n?o se mostrando suscet?vel ?s brocas do caule e dos ramos (IPA, 2009).

A Embrapa Agroind?stria Tropical lan?ou as cultivares de sapoti BRS 227 Ipacuru (Figura 4) e sapota BRS 228 Tropical (Figura 5), resultado de dez anos de pesquisas em melhoramento sobre gen?tipos selecionados pelo IPA. Um dos diferenciais em rela??o ?s cultivares j? existentes ? o maior tamanho dos frutos. A `Ipacuru' possui um peso m?dio de 134 g e, a `Tropical' de 194 g. Outra caracter?stica muito importante est? nos seus altos rendimentos. Durante os experimentos realizados no Campo Experimental do Curu, utilizando o espa?amento 6 m x 6 m, chegou-se a uma produtividade de 7.800 kg/ha/ano (`Ipacuru') e 8.000 kg/ha/ano (`Tropical') no oitavo ano. Ambas as cultivares produzem durante todo o ano, por meio do uso de fertirriga??o e poda (BANDEIRA, 2003, s.d.).

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Propaga??o

A propaga??o do sapotizeiro pode ser feita por sementes e pelo processo vegetativo da enxertia (MOURA; BEZERRA, 1982). N?o se obteve sucesso utilizando-se a estaquia como m?todo de propaga??o vegetativa (ALMEIDA e MARTINS, 2010). Atualmente, a propaga??o por sementes ? utilizada apenas para a produ??o de porta-enxertos. O plantio das sementes deve ser feito em sacos pl?sticos a uma profundidade de 2 cm, pois estudos realizados em Pernambuco, por Bezerra et al. (1992) revelaram que o vigor e o desenvolvimento da muda foram maiores a essa profundidade.

Em Pernambuco, o m?todo de enxertia que tem apresentado o maior percentual de pegamento de enxerto ? o de encostia em porta-enxertos com 12 e 24 meses de idade, alcan?ando-se m?dias da ordem de 80,4% e 96,3%, respectivamente. No entanto, esse m?todo n?o ? recomendado para produ??o comercial de mudas enxertadas, em raz?o das dificuldades de se levar os porta-enxertos at? as matrizes-copa, al?m de apresentar um custo de produ??o mais elevado (MOURA et al., 1978). O processo de enxertia mais recomendado e que tem alcan?ado um bom percentual de pegamento (80%) ? a garfagem lateral em porta-enxertos com 18 meses de idade e com di?metro aproximado de 0,5 a 0,8 cm (Figura 6) (LEDERMAN et al., 1993).

Diversas esp?cies t?m sido estudadas como porta-enxertos para o sapotizeiro. No Brasil, e particularmente no Nordeste, tem-se utilizado unicamente o pr?prio sapotizeiro com essa finalidade. Apresenta a vantagem da boa compatibilidade entre enxerto e porta-enxerto e a grande disponibilidade de sementes para forma??o da muda (LEDERMAN et al., 2001).

Manejo agron?mico

No Nordeste do Brasil, tem-se utilizado os espa?amentos de 8 m x 8 m ou 8 m x 7 m (LEDERMAN et al., 2001). Nos per?metros irrigados e com manejo adequado t?m sido usados o 6 m x 6 m, 7 m x 6 m e 7 m x 7 m. Em raz?o do sapotizeiro apresentar um crescimento lento, mesmo quando cultivado em regime de irriga??o, pode-se, nos primeiros anos, ap?s a implanta??o da cultura, utilizar os espa?os entre as plantas com culturas tempor?rias ou mesmo com outras esp?cies frut?feras, como abacaxizeiro, mamoeiro, maracujazeiro, entre outras. Embora n?o existam estudos sobre aduba??o e a calagem de sapotizeiro no pa?s, a planta responde bem ? aplica??o de fertilizantes minerais e org?nicos.

A maioria dos pomares de sapotizeiro existentes no Brasil e em outros pa?ses produtores ? cultivada sem o uso de irriga??o; mesmo porque as principais ?reas de cultivo e de ocorr?ncia espont?nea situam-se em regi?es tropicais com altas precipita??es pluviom?tricas, como na Zona da Mata e Litoral de Pernambuco (>1.500 mm), e nas demais ?reas correspondentes das regi?es Norte e Nordeste. Contudo, isso n?o significa que o sapotizeiro seja uma esp?cie resistente ? seca e, como tal, dispensa o suprimento de ?gua adequado para produzir (LEDERMAN et al., 2001).

Estudos sobre a morfologia do sistema radicular do sapotizeiro realizados por Avil?n et al. (1981) e Bhuva et al. (1991) mostraram que a planta possui ra?zes superficiais, com mais de 80% delas localizadas nos primeiros 75 cm do solo. Devido a isso, plantios novos e plantas jovens necessitam de irriga??o, especialmente durante longos per?odos de estiagem, ao passo que sapotizeiros com mais de quatro anos de idade apresentam uma certa toler?ncia ? seca.

Nos ?ltimos anos, novos plantios t?m sido implantados no Nordeste por meio de projetos de irriga??o, especialmente aqueles localizados no Vale do Rio S?o Francisco (Pernambuco e Bahia) e nos per?metros irrigados do Cear?. Por estarem situados na regi?o semi?rida, onde al?m da baixa precipita??o anual, o regime de chuvas restringe-se a apenas 3 a 4 meses ao ano, a maioria desses plantios faz uso sistem?tico da irriga??o localizada por microaspers?o (Figura 6) ou gotejamento. No entanto, ainda n?o existe entre os produtores um consenso sobre a quantidade de ?gua, a freq??ncia e os intervalos de regas mais eficientes para o sapotizeiro cultivado sob aquelas condi??es (LEDERMAN et al., 2001).

Nutri??o mineral

No Brasil, os trabalhos realizados por Silva et al. (1984a) e Silva et al. (1984b) t?m sido as fontes mais informativas sobre os teores e extra??o de nutrientes nas diferentes partes do sapotizeiro. As an?lises realizadas mostraram muitas varia??es nesses teores. Silva et al. (1984a) encontraram que nas folhas, tanto de ramos com frutos como sem frutos, o c?lcio (Ca) foi o nutriente com teor mais elevado (1,92 e 1,71%, respectivamente), seguido pelo nitrog?nio (N) - 0,59 e 0,60%, magn?sio (Mg) - 0,51 e 0,43%, pot?ssio (K) - 0,40 e 0,36%, enxofre (S) - 0,24 e 0,26% e f?sforo (P) - 0,17 e 0,15%.

Em rela??o aos micronutrientes na folha, Silva et al (1984a) encontraram que o ferro (Fe) foi aquele absorvido em maior quantidade (130

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