Apontamentos Para Um Trabalho Em Educação Sexual Nas …



Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária

Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004

Apontamentos para Trabalho em Educação Sexual nas Escolas

Área Temática de Educação

Resumo

O projeto Neuroeduca, que orienta educadores na utilização das neurociências no processo ensino-aprendizagem, identificou “educação sexual” como demanda de participantes do projeto/2003. Estabeleceu-se parceria com profissionais que, voluntariamente, desenvolvem programa de capacitação para Um Trabalho em Educação Sexual nas Escolas. Este pretende promover o desenvolvimento pessoal e social do(a) adolescente através de reflexão sobre sexualidade, propondo aos educadores rever e ampliar conceitos e condutas sobre sexualidade na escola e interferências do tema no ensino-aprendizagem e na vida dos envolvidos, considerando a ampliação da reflexão dos educadores sobre sua própria sexualidade e a escuta detalhada das vicissitudes da sexualidade do(a) adolescente, para estabelecimento de proposta de trabalho, coletiva, com a comunidade escolar, ou individual, desenvolvida pelo professor com seus alunos. Música, poesia, dramatizações, filmes, júri simulado, aliados ao cotidiano dos participantes, subsidiados por material teórico sobre sexualidade e: identidade; processo educacional; educação, gênero; adolescência resultaram em: a) reflexão sobre o tema no coletivo e estreitamento das relações entre educadores; b) avaliação e orientação dos projetos em sexualidade; c) constatação do distanciamento da família do cotidiano escolar; d) necessidade de participação efetiva dos adolescentes no dia-a-dia escolar. A escola se capacita para elaboração de projeto adequado às suas demandas e características.

Autores

Gustavo Batista Chaves (coordenador - psicólogo, psicanalista, consultor em Educação Afetiva – Sexual);

Eliza Queiroz (bióloga e educadora consultor em Educação Afetiva – Sexual);

Leonor Bezerra Guerra (médica doutora em Ciências Morfológicas/UFMG)

Instituição

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Palavras-chave: educação sexual; sexualidade; escola

Introdução e objetivo

A sexualidade é tema frequentemente vivenciado e discutido por alunos e professores nas escolas, se não formalmente, em programas de educação sexual ou em aulas de ciências ou biologia, informalmente, nas conversas e relacionamentos entre estudantes no cotidiano da escola e nas reuniões pedagógicas dos docentes. O interesse sobre sexualidade no contexto escolar reforça a característica multidimensional do processo ensino-aprendizagem, mostrando que o desenvolvimento cognitivo do indivíduo é estreitamente relacionado e, portanto, influenciado por seu desenvolvimento pessoal e social, no qual a sexualidade e afetividade têm papéis fundamentais. O educador, incluindo aqui os profissionais da educação e a família, através do seu relacionamento pessoal e profissional com o aprendiz, proporciona a este, estímulos que contribuem para a reorganização do sistema nervoso em desenvolvimento da criança e do adolescente. É esta reorganização que produz e caracteriza a aquisição de novos comportamentos pelo indivíduo, possibilitando-o desenvolver estratégias para seu viver em sociedade, em bem estar biopsicosocial, objetivo final da educação. No entanto, nem sempre os educadores e a família conhecem e reconhecem a importância da contribuição dos diversos fatores que influenciam o processo ensino-aprendizagem e que podem, portanto, facilitar ou comprometer o desenvolvimento neuropsíquico do indivíduo. A identificação das limitações e demandas dos profissionais da educação e das famílias para a orientação adequada do desenvolvimento da criança e do adolescente pode contribuir para a melhoria desse processo.

O projeto NEUROEDUCA é um projeto desenvolvido em parceria com escolas públicas estaduais e municipais que, a partir da identificação das demandas específicas das instituições, pretende orientar educadores na utilização do conhecimento das neurociências no ensino e na abordagem dos problemas de aprendizagem, visando desenvolvimento de práticas promotoras da aprendizagem e preventivas e terapêuticas das suas dificuldades. No ano de 2003, quando o Neuroeduca foi iniciado na Escola Estadual Afonso Pena (Av. João Pinheiro 450, Lourdes, Belo Horizonte, Minas Gerais), o projeto trabalhou com um corpo docente constituído de 58 professores, dos quais 20 lecionavam para as turmas de 1a a 4a série ( 550 alunos) e 38 lecionavam para as turmas de 5a a 8a. séries (650 alunos), envolvendo crianças e adolescentes na faixa etária de sete a quinze anos. A identificação de demandas através de perguntas por escrito feitas pelos professores não apontou um interesse majoritário no tema sexualidade e afetividade, mas durante as reuniões para discussões de casos e solicitação de orientação para encaminhamento, a educação sexual, o abuso de drogas e a violência na família foram temas relevantes explicitados com frequência pelos docentes que não se sentiam em condições de abordar, com segurança pessoal e profissional, os problemas que envolviam esses assuntos. Assim , dando continuidade ao projeto na Escola Estadual Afonso Pena e atendendo a uma demanda dos professores de capacitação e orientação na área de educação sexual no contexto escolar, o Neuroeduca estabeleceu parceria com consultores em Educação Afetiva – Sexual. A equipe de trabalho, constituída pelo psicólogo e psicanalista Gustavo Batista Chaves e pela bióloga e educadora Eliza Queiroz, acompanhada pela equipe do Neuroeduca, vem desenvolvendo, desde março de 2004, um trabalho voluntário de educação sexual naquela escola, cujos pressupostos teóricos, objetivos, metodologia e resultados parciais são expostos a seguir.

O Trabalho Em Educação Sexual Na Escola é uma oportunidade de expor os educadores a um tema intimamente relacionado e influente do cotidiano escolar e, portanto, da formação do indivíduo. A intenção dessa exposição é propiciar aos professores da escola um espaço de reflexão sobre a sexualidade, partindo de dois eixos fundamentais. Essa reflexão pretende possibilitar o inicio de uma proposta de trabalho, seja ela coletiva (no nosso caso seria o ideal), com o envolvimento de toda a comunidade escolar, ou individual, caracterizada por trabalho desenvolvido pelo professor, dentro de suas possibilidades de atuação dentro e fora da sala de aula com seus alunos. O primeiro eixo fundamental propõe a ampliação do campo de reflexão dos educadores sobre sua própria sexualidade. A relação professor/aluno é palco privilegiado das intervenções positivas para uma educação mais condizente com as demandas do nosso tempo. É importante interrogar seus gestos e posturas frente à sexualidade dos (as) adolescentes. A sexualidade é uma das dimensões fundamentais da condição humana , que se desenvolve e se apresenta sempre influenciada por sentimentos e valores. É um fenômeno multidimensional, não apenas psíquico, mas também biológico e sócio-cultural. Inerente à vida do ser humano, a sexualidade se manifesta desde o nascimento e se constrói ao longo de toda a existência, nas relações interpessoais , no momento sócio-cultural em que estamos vivendo. Isso implica em afirmar que a nossa sexualidade é construída socialmente, dando importância à educação voltada para os(as) adolescentes que inclua os educadores e, na medida do possível, os pais, com suas questões pessoais a respeito da sexualidade. Ao se propor um trabalho sobre sexualidade na adolescência, é de fundamental importância abordar as relações de gênero, seus conflitos e os reflexos nas vivências da sexualidade dos jovens, hoje. É importante abordar a representação e a constituição da família. É importante compreender o processo de construção da identidade, as singularidades, as identificações com grupos ou modelos construídos, o trabalho com a auto-estima e as abordagens das relações interpessoais, envolvendo as diferenças e escolhas. E não poderíamos deixar de falar da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, epidemiologicamente e socialmente importantes na atualidade como as DST e AIDS. O segundo eixo fundamental seria a escuta mais detalhada das vicissitudes da sexualidade desses(as) adolescentes. Esta segunda etapa viabilizaria a oportunidade de determos situações mais específicas do cotidiano escolar relacionadas à sexualidade, problematizando e proporcionando uma construção coletiva para as possíveis soluções ou encaminhamentos das questões levantadas. Esta etapa também implicaria em estratégias de trabalho da escola com projetos na área de sexualidade, enfatizando desde sempre a participação do(da) adolescente na construção destes projetos. Os(as) adolescente devem participar como co-autores de todo o processo.

A sexualidade é uma temática complexa. Esse trabalho tem a intenção de sensibilizar os educadores para esse desafio. O reconhecimento dos seus limites e a ampliação das reflexões que ajudem os educadores a tomar suas decisões de direção, são os objetivos principais dessa capacitação. Essa proposta vem ao encontro de uma demanda real, que demonstra a dificuldade que tem o educador/educadora, em sua maioria, de abordar questões sobre a sexualidade. Dificuldade esta que podemos considerar natural, uma vez que o tema mobiliza as mais variadas questões advindas da cultura, ciência, religião, e muitas vezes da falta de informação. O nosso objetivo maior será o de uma sensibilização, abrindo um espaço para se falar dessas questões cotidianas do mundo escolar, para apontar possibilidades de um trabalho coletivo, amenizando o impacto dessas questões em suas relações de trabalho. Ao trabalharmos com adolescentes, propomos escutá-los, buscar entender o que para eles constitui conflito, suas fantasias, medos, esperanças e a qualidade das informações. Assim, estaremos exercitando, com eles, alternativas para que se posicionem melhor em relação à sua sexualidade, para que construam um projeto de vida, exerçam sua cidadania elaborando e executando ações a partir do que foi aprendido no ambiente escolar.

O objetivo geral do trabalho é promover o desenvolvimento pessoal e social do(a) adolescente através da reflexão e do aprofundamento de questões da sexualidade, propondo aos(as) educadores(as) rever e ampliar conceitos e condutas ao lidar com a sexualidade na escola e com as interferências do tema na relação ensino - aprendizagem e na vida das pessoas envolvidas. Considerando objetivos mais especifícos, o presente projeto de educação sexual nas escolas pretende: a) Sensibilizar educadores(as) para promoverem o desenvolvimento pessoal e social dos(as) adolescentes através de ações de caráter educativo e participativo; b) Criar mecanismos para a incorporação de metodologias participativas que possibilitem a construção do ensino - aprendizagem mais compreensivo, para relações interpessoais mais igualitárias e harmoniosas, educando frente às questões da vida e para a vida; c) Contribuir na formação de pessoas mais autônomas e solidárias, capazes de transformar sua vida pessoal e coletiva; d) Possibilitar que as ações educativas – participativas - preventivas sejam incorporadas nas escolas contribuindo para a valorização da vida, da promoção do auto-conhecimento, da comunicação, de relações interpessoais baseadas no respeito mútuo e no exercício dos direitos e responsabilidades da cidadania; e) Possibilitar a implantação e implementação de projetos que favoreçam ao conjunto dos(as) alunos(as) significar ou ressignificar vivências e posturas no exercício de sua cidadania, na atuação como agentes de mudanças e transformações sociais e na vivência de sua sexualidade adotando comportamentos de prevenção. Esse projeto não pretende transmitir “receitas” sobre educação sexual nas escolas mas sim criar oportunidades de reflexão ampla sobre os diversos aspectos que envolvem a sexualidade e afetividade humanas, instrumentalizando os indivíduos envolvidos no processo de formação e desenvolvimento humanos para elaborarem suas próprias estratégias de acordo com suas possibilidades, com seu contexto sócio-cultural, com participação ativa dos indivíduos envolvidos, considerando a época em que vivemos, tendo como meta maior o desenvolvimento pessoal e social do(a) adolescente, integrantes ativos de nossa sociedade agora e no futuro.

Metodologia

O trabalho com a adolescência se elabora em torno das indagações com que a escola se vê confrontada ao constatar que o(a) adolescente, hoje, encontra fora dela, fora da escola, espaços de aprendizagem de maiores identificações que em seu interior. Portanto, a vivência, o lúdico, o diálogo, a reflexão e a produção são o eixo da proposta metodológica, possibilitando a aquisição de novas posturas e maneiras de atuação, onde os processos de conhecer e intervir no real não se encontrem dissociados. A interação entre o(a) educador(a) com seu(sua) aluno(a) passa por um diálogo contínuo e um redescobrir de quem somos e de como nos relacionamos, oferecendo oportunidades para mudanças internas, provocando o aprofundamento das reflexões e incentivando o desenvolvimento da autonomia e da ação. Para isto, no desenvolvimento da capacitação, são utilizados recursos tais como música, poesia, dramatizações, filmes, júri - simulado, aliados ao cotidiano dos(as) participantes e subsidiados por material teórico apropriado.

O conteúdo da capacitação é dividido em módulos. O módulo I tem como tema Sexualidade e Identidade e é desenvolvido através dos seguintes tópicos: 1- Identificação de necessidades, expectativas e objetivos comuns; 2- Revisando atitudes e valores. O módulo II tem como tema A Sexualidade e o Processo Educacional, tendo como tópicos: 1- O que entendemos por sexualidade?; 2- Ampliando o conceito de sexualidade; 3- Sexualidade e corpo. O módulo III tem como tema Educação, Sexualidade e Gênero e seus tópicos são: 1- Sexualidade, corpo e relações de gênero; 2- Representações sociais da sexualidade. O módulo IV aborda o tema Sexualidade e Adolescência através dos tópicos: 1- Adolescência no contexto atual; 2- Situações de vulnerabilidade: Gravidez , DST/ AIDS, Violência e Drogas; 3- Métodos anticoncepcionais; 4- Paternidade e Maternidade Responsáveis. O módulo V tem como tema Sexualidade e Educação e seus tópicos são: 1- Princípios e Metodologias em Educação e Sexualidade; 2- Perfil e papel do(da) educador(a) para um projeto de Educação Sexual; 3- Elaboração de um Plano de Ação para a implantação e implementação de um Projeto de Educação Sexual para a escola.

O projeto também prevê uma Avaliação. Esta avaliação será processual e contínua, servindo para análise do que está sendo feito em cada módulo vivenciado, o que deve ser modificado e como redimensionar e dar continuidade à ação educativa. A avaliação incluirá: 1- Auto-avaliação individual: O quê aprendi? Como foi a minha participação no grupo?; 2- Co-avaliação entre coordenador(a) e o grupo. Os conteúdos são adaptados às demandas apresentadas e à realidade da escola. O desenvolvimento do conteúdo proposto é feito através de reuniões realizadas no ambiente físico da própria escola, com regularidade mensal, agendadas conforme a conveniência da escola e a disponibilidade das equipes de trabalho. São utilizados equipamentos como televisão, vídeo, retroprojetor, providenciados pela própria escola e vídeos educativos, som, papel ofício, papel metro, giz de cera, hidrocor, tesoura, cola, revista velhas, de responsabilidade da equipe que orienta a capacitação. O projeto não conta com nenhum tipo de financiamento até o momento.

Resultados e discussão

O trabalho vem sendo desenvolvido desde março de 2004. Foram realizados três encontros com os educadores. Durante as reuniões a equipe de capacitação realizou observações que já fornecem subsídios para algumas considerações feitas a seguir. A primeira consideração é que esse trabalho tem apresentado muitos pontos positivos, avanços que, por hora, consideramos pequenos, mas que fazem uma diferença grande. O primeiro deles já se inicia no próprio processo de capacitação dos educadores. A escola não tem momentos para uma discussão coletiva, ainda mais sobre uma temática que remete, não só a questões pessoais de cada um, mas a uma demanda real desses educadores, demanda essa difícil de lidar e que muitas vezes coloca em xeque o trabalho desse profissional, e a função social da escola. Como lidar com a adolescente que ficou grávida? Os adolescentes estão se agarrando no corredor das escolas! Fulano desenhou a mãe nua no trabalho realizado para o dia das mães! Sicrano tem trejeitos de homossexual e a turma pega no pé dele, o que fazer? O que os pais irão falar do trabalho com sexualidade na escola?, etc. Todas essas questões aparecem com muita freqüência ao longo da capacitação, gerando desconforto, e externando um mal estar há muito vivenciado e nunca trabalhado. Esse espaço da fala é muito importante e proporciona uma construção e uma colaboração entre eles. A idéia de um, ajuda o trabalho de outro, a vivência de uma dada situação por um educador vai clarear a vivência individual equivalente para muitos outros.

Esse exercício da reflexão no coletivo é um avanço importante, além de proporcionar um estreitamento das relações entre esses profissionais. Outro ponto a ser considerado é que a sexualidade é uma temática que gera enorme resistência para o trabalho. Todos consideram sua importância, reconhecem a necessidade desse trabalho dentro da instituição, mas na hora da aplicação no cotidiano, as dificuldades que aqui estamos chamando de resistências, aparecem com muita intensidade. Isso fica claro nos projetos elaborados pelos educadores. Em sua maioria são projetos voltados para o trabalho com a auto-estima, a identidade e afetividade. São projetos importantes, mas não passam dessas discussões. O trabalho relacionado á saúde sexual e reprodutiva ficam, ainda, sob a responsabilidade do professor de ciências e/ou biologia que abordam aspectos da anatomia, fisiologia e anti-concepção e, temáticas com uma carga de valor moral grande, como homossexualidade, “o ficar”, transar, sempre ficam para depois, sem que se defina uma oportunidade e responsabilidade para abordagem desses temas. Uma estratégia importante para vencer essa dificuldade é a de incluir o(a) adolescente nos projetos desde o início. Eles “puxam” as discussões que lhes interessam, além de motivar o projeto e exercitar seus direitos. Outra consideração é a de que essa estratégia de incluir o(a) adolescente desde o início é um importante marco de referência para o trabalho com sexualidade nas escolas. Além de ser o objetivo da educação sexual, nos dá um importante retrato da vivência da sexualidade por eles e das possibilidades de atuação desses jovens dentro da escola. Esse retrato é concebido através de um diagnóstico que sustentará o projeto. Montam–se estratégias junto aos professores para colherem dos(as) adolescentes o que eles sabem e gostariam de saber sobre sexualidade.

Apesar da grande possibilidade de informação do mundo de hoje, através da mídia em geral, internet, escola e família, entre outros vários, o que se conclui é que esses adolescentes em geral têm muita pouca informação, e a pouca informação que tem é absorvida ou repassada com mitos ou valores fortes. Como exemplos temos: Pílula evita a AIDS; transar a primeira vez não engravida; o homem tem mais desejo sexual que a mulher; masturbação é prejudicial para a saúde; pode se usar duas camisinhas ao mesmo tempo?, entre outros relatos apresentados pelos alunos. Outro ponto relevante observado nesse trabalho é a dificuldade de aproximação e a distância da família no cotidiano escolar. A escola não está preparada para a inclusão da família e da comunidade. A participação da família e da comunidade geralmente é muito pequena, quando não é difícil. A família, por outro lado, não reconhece na escola um espaço de atuação importante para ela. A reclamação dos educadores é a de que geralmente os pais entregam os filhos às escolas e dizem, “Agora dêem conta dele para mim”. O trabalho com a sexualidade tem que ter a inclusão dos pais, não só pelo receio dos professores em trabalhar a temática sem consultá-los. Há que se considerar também que, para se realizar esse tipo de trabalho, é importante entender o papel da escola, reconhecer o limite do educador e trabalhar também com a família, amenizando o impacto para a escola. Esse reconhecimento da importância da comunidade e da família proporciona essa reflexão de tentativa de inclusão e até de proposta de realização de algumas oficinas sobre sexualidade com os pais interessados. E é importante ressaltar que, na maioria das experiências, os pais têm muito interesse, pois esse espaço de reflexão para eles também é raro. Outro ponto importante é a participação mais efetiva dos adolescentes no dia a dia escolar, e a diminuição do impacto de certas situações específicas nas escolas que conseguiram fazer do projeto de educação sexual uma proposta coletiva, de toda a comunidade escolar. A acolhida de adolescentes grávidas, não só pelos colegas mas pelos professores, é um dos exemplos da participação coletiva num projeto e vivência de educação sexual. Anteriormente essa adolescente grávida, ou mudava de turno ou saía da escola, privando a si de um desenvolvimento mais saudável e aos colegas e professores do aprendizado que essa convivência traz para todos.

Conclusões

O trabalho em educação sexual na Escola Afonso Pena tem apresentado boa receptividade por parte dos docentes. A participação do educador, da família e da comunidade na promoção do desenvolvimento pessoal e social do adolescente passa a ser visto como fundamental para a formação de indivíduos mais autônomos e solidários, capazes de transformar sua vida pessoal e coletiva, atuando como agentes de mudanças e transformações sociais, vivenciando sua sexualidade de forma saudável. A integração deste projeto de Educação Sexual na Escola com o projeto Neuroeduca caracteriza o desenvolvimento humano como um processo multidimensional: as vivências ligadas à sexualidade de uma pessoa, sejam elas cognitivas, emocionais, sociais, contribuem para as transformações neurobiológicas que ocorrem durante o processo ensino-aprendizagem que contribuirá para a formação do indivíduo que cada um de nós é.

Referências bibliográficas

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.; CALLIGARES, Contardo. A Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.; NERY, Eliene (org). Psicanálise, Educação e Sexualidade. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2000.; SERRÕA, Margarida. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD, 1999.; SOUSA, Vilma (Org). Sexualidade do Adolescente, Fundamentos para uma Ação Educativa. Salvador: Fundação Odebrecht e Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, 1999.

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