Proposta pedagógica para acompanhamento, produção, …



Antônio Vieira Júnior

Uma pedagogia para

o jornal-laboratório

Tese apresentada ao Departamento de Jornalismo

e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo, como requisito parcial à

obtenção do título de doutor em Ciências da

Comunicação, área de concentração

Jornalismo, sob orientação do

prof. Dr. Dirceu Fernandes Lopes.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Jornalismo e Editoração

São Paulo

Janeiro de 2002

Antônio Vieira Júnior

Uma pedagogia para

o jornal-laboratório

Tese apresentada ao Departamento de Jornalismo

e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo, como requisito parcial à

obtenção do título de doutor em Ciências da

Comunicação, área de concentração

Jornalismo, sob orientação do

prof. Dr. Dirceu Fernandes Lopes.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Jornalismo e Editoração

São Paulo

Janeiro de 2002

Resumo

O objetivo deste trabalho é propor diretrizes pedagógicas para o ensino de jornal-laboratório espelhadas em critérios de abrangência humanística que sejam determinantes na valorização da reportagem e na formação de um jornalista crítico, consciente da responsabilidade que terá na condução de um jornalismo ético, preciso, verdadeiro. Caracteriza-se como parte de um projeto de ensino de Jornalismo que não se esgota nele próprio, mas que visa ordenar o processo ensino-aprendizagem para que sirva de instrumento didático-pedagógico ao professor.

Abstract

The objective of this paper is to propose pedagogic guidelines for the journal-laboratory teaching based on humanistic approach, determinative to improve the reporting and to develop a critical and conscious of responsibility journalist toward an ethical, accurate and true journalism. It is characterized as part of a journalism teaching project, that never ends, but purposes to order the teaching-apprenticeship process in order to serve as didatic-pedagogical tool for the teacher.

Dedicatória

Dedico ao meu filho Antônio Vieira Neto, de 10 anos, que vive à luz dos sonhos de criança e mesmo no Natal e Ano Novo, no sufoco do fechamento, não me deixou só; ao meu pai Antônio Vieira que me ensinou os mandamentos da justiça social; à minha mãe Elvira Moraes Vieira que lutou pela vida com dignidade; ao amigo dos meus pais e padrasto José Bernini pela acolhida de três meninos, educados com maestria; aos irmãos José Frederico Pires de Lima e Paulo de Tarso de Sousa que fizeram da infância um estilo de vida; ao meu orientador prof. Dr. Dirceu Fernandes Lopes por sua colaboração contínua e inesgotável; ao professor Sebastião Squirra pelo alerta da importância do estudo científico; aos primos Squirra e Moraes pela presença constante na minha vida e aos tios e tias Moraes e Vieira que sempre estiveram ao lado dos meus pais.

Agradecimentos

Em especial aos professores responsáveis pelos jornais-laboratório que responderam ao questionário, aos professores Valderez Helena Gil Junqueira (Fafica/Catanduva), Paulo Nápoli (Ceuv/Votuporanga) e Arthur Magon Whitacker (Unirp/Rio Preto) que compreenderam os meus momentos de tensão e a correria no fechamento da minha tese; aos amigos, inúmeros, que vivenciaram o meu sonho e ouviam com paciência as minhas explanações jornalísticas; aos padrinhos e avós do meu filho Ilcon e Janete; a Carlos Costa pelo exemplo de pai-adotivo; os alunos que contribuiram na pesquisa.

Sumário

1 – Introdução 10

1.1 – O papel acadêmico 12

1.2 – Mudanças no ensino de Jornalismo 13

1.3 – Metodologia 15

1.4 – Fases da pesquisa 17

1.5 – Notas e referências bibliográficas 19

2 – Ensino de jornalismo (história e reflexão) 21

2.1 – Propostas e tentativas 23

2.2 – Expansão desenfreada 27

2.3 – Regulamentação e currículo 29

2.4 – Desvinculação e autonomia 32

2.5 – Exigências de laboratórios 41

2.6 – Diretrizes curriculares 45

2.7 – Perfil do jornalista 47

2.8 – Tópicos de estudo 50

2.9 – Estrutura geral do curso 52

2.10 – Prazo para implantar laboratórios 55

2.11 – Processo ensino-aprendizagem 58

2.12 – Provão e qualidade 65

2.13 – Condições de oferta 68

2.14 – Escola itinerante da Fenaj 70

2.15 – Mercado seletivo 72

2.16 – Notas e referências bibliográficas 77

3 – Jornal-laboratório 88

3.1 – Profissão regulamentada 91

3.2 – Conceitos de jornal-laboratório 92

3.3 – Perfil do Jornal-laboratório 98

3.4 – Notas e referências bibliográficas 102

4 – Subsídios para um curso de jornal-laboratório 104

4.1 – Jornalismo e atualidade 105

4.2 – Função social 110

4.3 – Ética é fundamental 115

4.4 – Ombudsman é o representante do leitor 119

4.5 – Gêneros jornalísticos 121

4.6 – Texto jornalístico 124

4.7 – Ineditismo da notícia 128

4.8 – Entrevista é básica na apuração 130

4.9 – Reportagem aprofunda a notícia 136

4.10 – O aluno-repórter 143

4.11 – Pauta serve de guia 145

4.12 – Lead não dispensa criatividade 148

4.13 – Título leva à leitura 150

4.14 – Edição seleciona e hierarquiza 151

4.15 – Linha editorial define características 153

4.16 – Cronograma de atividades 156

4.17 – Orientação bibliográfica 158

4.18 – Notas e referências bibliográficas 162

5 – Manual de Redação para Jornal-Laboratório 166

5.1 – Conceitos de manual de redação 169

5.2 – Objetivos do manual de redação 170

5.3 – Regras 175

5.4 – Definições 214

5.5 – Siglas 229

5.6 – Presidentes da República 242

5.7 – Estados, capitais e regiões 249

5.8 – Países, capitais e continentes 251

5.9 – Notas e referências bibliográficas 260

6 – O olhar do professor 262

7 – Conclusão 292 7.1 – Propostas abertas 294

7.2 – Notas e referências bibliográficas 297

8 – Bibliografia 298

9 – Anexos 307

1

Introdução

Na era da globalização, o mercado, idéias e informações estão redefinindo seu papel e o caminho a percorrer, transformando cada vez mais o mundo num espaço cosmopolita. Por isso, a troca de conhecimento precisa ser renovada ininterruptamente. Nessa busca, o jornalismo passa a ser o principal veículo de transição. Essa busca requer uma crescente qualidade na análise dos fatos, revelada pela capacidade de neutralizar a interferência política na cobertura jornalística e aprofundar os assuntos de interesse público sem perder a vivacidade jornalística. A proposta de uma pedagogia para o jornal-laboratório é fruto desse processo de redefinição da sociedade e do ensino de jornalismo. A finalidade é colaborar no enriquecimento e na qualidade do jornal-laboratório que serve de instrumento prático ao aluno.

O projeto de elaborar uma proposta pedagógica para jornal-laboratório nasceu da minha experiência na coordenação de projetos laboratoriais em algumas faculdades brasileiras. O objetivo é auxiliar o professor de Jornalismo na produção e difusão de jornal-laboratório, mas a intenção não é criar um modelo padronizado, pronto e acabado. Na verdade, ele se justifica porque servirá ao professor e também ao aluno, que o terão como referência na elaboração de uma pauta, na preparação e realização de uma entrevista, na redação uma notícia ou reportagem e na edição. A proposta pedagógica, que contém teoria e prática, é fundamental para o processo ensino-aprendizagem. O projeto não pretende, contudo, uniformizar a produção e difusão do jornal-laboratório.

O registro de dar harmonia ao texto jornalístico e ao exercício profissional teve como um dos principais incentivadores o norte-americano Fraser Bond, quando elaborou o livro Introdução ao jornalismo. O trabalho do professor preencheu um vazio que existia na década de 50, pela escassez de literatura que esclarecesse as diretrizes do jornalismo. Fraser Bond, já naquela época, se preocupava em valorizar e conceituar o jornalismo. Ou seja, entendia que para se fazer jornal e exercer a profissão não bastava ser jornalista, era fundamental o respeito aos princípios éticos e que a disciplina regesse o bom profissional. Fraser Bond não se preocupou apenas com regras e normas de conduta, mas em lembrar aos futuros jornalistas e aos profissionais que informar o público requer honestidade, exatidão e isenção.

Um dos objetivos da minha proposta é orientar o aluno a refletir sobre a importância do espírito crítico e análitico no relato do fato jornalístico. Mostram que o exercício profissional requer cuidados e zelo e que o trabalho é coletivo e o tempo é fundamental na prática jornalística.

A proposta visa também indicar caminhos para o aluno fugir do padrão mecanicista que alguns jornais brasileiros usam como instrumento de informação. Não se resume a direcionar o futuro jornalista no relato do imediato, mas fazê-lo entender a importância da prática jornalística em defesa do interesse público.

A proposta pedagógica não é uma cartilha institucional com informações meramente administrativas ou uma bula com prescrições e contra-indicações. Ela se caracteriza por sensibilizar o aluno a captar e noticiar de forma diferenciada, mas sem perder a imparcialidade, a clareza, a exatidão, a originalidade e se preocupar com a narrativa ao sintetizar o fato jornalístico. Visa também aguçar o futuro jornalista a pesquisar e se adequar aos hábitos de leitura que devem e precisam fazer parte do seu cotidiano.

1.1 – O papel acadêmico

A universidade desempenha funções importantes na sociedade contemporânea e enfrenta desafios que vão além do campus. A universidade, para bem cumprir o seu papel de multiplicadora de idéias, precisa estar atenta ao processo social e, além de formar profissionais para atender às necessidades do mercado, deve fundamentalmente aprimorar e ampliar o seu relacionamento com a comunidade na qual está inserida. Na verdade, a universidade precisa participar de forma produtiva do processo de desenvolvimento econômico e social, fundamental para que a sociedade brasileira supere suas desigualdades.

Para prestar bons serviços e competir com sucesso, tem de dinamizar a busca da melhoria da qualidade de ensino capaz de formar profissionais não só críticos de sua realidade, mas cidadãos identificados com sua comunidade e que saibam interpretar, analisar, explicar e contextualizar os fatos jornalísticos. Para isso, a universidade deve aperfeiçoar o corpo docente que é responsável em produzir conhecimento e capacitar profissionais.

Professores e técnicos de apoio bem preparados consolidam a diferenciação mercadológica e estimulam o futuro universitário a se integrar ao seleto grupo de cidadãos qualificados intelectualmente e tecnicamente vinculados à realidade do mercado. A universidade deve produzir idéias que possam contribuir de forma prática no equilíbrio sócio-econômico.

O jornalismo é peça indispensável deste processo de integrar a universidade à comunidade, porque, além de informar, assume o papel formativo. Ou seja, ele vai além das fronteiras do jornalismo preocupado apenas em colocar nas páginas os últimos acontecimentos que foram transformados em notícias. Ele deve reportar em suas linhas que o sujeito não é somente coadjuvante, mas faz parte da história. Em verdade, o jornalismo é real e ativo porque, ao mesmo tempo em que reconstitui de forma minuciosa, criteriosa e verídica o fato jornalístico, possibilita ao leitor a enriquecedora e oportuna reflexão.

1.2 – Mudanças no ensino de Jornalismo

As mudanças no ensino de Jornalismo foram várias até a chegada da LDB e as críticas também foram se incorporando a essas experiências de implantação de currículos. A história curricular dos cursos de Comunicação Social demonstra como foram se desenvolvendo e se articulando as tendências burocráticas e administrativas, fragmentando a formação humanística do aluno, a linguagem jornalística e a própria escola.

Nesse impasse para definir o currículo que se adequasse ao melhor estilo de ensinar Jornalismo no Brasil, jornalistas, intelectuais e professores reivindicavam o direito a uma escola que unisse teoria e prática, mas que não afetasse o processo ensino-aprendizagem e muito menos os veículos laboratoriais.

Antes mesmo do antigo Conselho Federal de Educação baixar as resoluções 631/69, que exigia, e 2/84, que tornava obrigatória a implantação de equipamentos e o funcionamento pleno de veículos laboratoriais em todas as escolas, o professor José Marques de Melo, da ECA/USP, já comentava e solicitava as atividades laboratoriais como extensão da prática jornalística. Em 1967, o professor ao propor diretrizes para jornal-laboratório fez a seguinte observação: “Constitui o instrumento básico de um curso de Jornalismo no sentido de integrar os estudantes na problemática da futura profissão”.1 Já o professor Dirceu Fernandes Lopes, também da ECA/USP e da Facos/UniSantos, disse: “Precisamos considerar que o jornal-laboratório é uma prática jornalística, mas não esquecer que é um laboratório de aprendizagem fundamentado em diretrizes pedagógicas e estruturas didáticas.”2 No entanto, o professor Francisco Torquato do Rego, da ECA/USP, advertia: “A ênfase na morfologia do jornal reflete, aliás, um corriqueiro erro de visão dos cursos e professores de jornalismo, certamente ainda estribados na tradicional maneira de ver o jornalismo sob a ótica exclusiva do grande jornal diário.”3 Ele dizia que o jornalismo especializado concentrava experiências mais ricas e diversificadas que o jornal diário, mas questionava: “Por que se pensar em propostas grandiosas, caras e que, a maioria dos casos, não permitem uma sistematização do conhecimento jornalístico?”4 Nota-se que a preocupação do professor era com o uso exclusivo da técnica no ensino de Jornalismo, porque no jornal diário emprega-se mais a técnica e exige-se pouca teoria. Enquanto que no jornalismo laboratorial o cuidado deve-se voltar ao teórico-reflexivo.

1.3 – Metodologia

O presente trabalho é um estudo exploratório que nasceu da proposta de estruturar um curso de jornal-laboratório, que se torna uma contribuição fundamental no momento em que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e as Diretrizes Nacionais Curriculares superaram a camisa-de-força imposta pela Resolução 02/84. Para Antônio Carlos Gil, pesquisa exploratória é “desenvolvida com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato”.5

De acordo com as exigências do trabalho, foram empregados, para coleta dos dados, os seguintes instrumentos:

1) Pesquisa bibliográfica. “A pesquisa bibliográfica é meio de formação por excelência. Como trabalho científico original, constitui a pesquisa propriamente dita”, ensinam A. L. Cervo e P. A. Bervian.6 Houve levantamento de:

a) livros dos diferentes setores relacionados à área de comunicação, em particular ao ensino de Jornalismo e jornal-laboratório;

b) grade curricular, Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Diretrizes Nacionais Curriculares;

c) artigos científicos públicados em jornais e revistas, relatórios de pesquisas.

2) legislação voltada ao ensino de Jornalismo no Brasil.

3) Estudo da documentação. Este ítem é apontado por Ezequiel Ander-Egg7 como um dos aspectos principais, nos estudos formulativos, ao lado do contato direto com a problemática a estudar.

4) Questionários. Segundo Roberto Jarry Richardson, o questionário cumpre pelo menos duas funções: descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo ou individual.8

5) Entrevistas. “A entrevista – observa Roberto Jarry Richardson – é uma técnica importante que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas.”9 Optei em elaborar um roteiro de 15 perguntas abertas voltadas exclusivamente ao curso de Jornalismo, em particular, ao jornal-laboratório. Quem caberia respondê-las era o professor responsável pelo veículo laboratorial. Cerca de 80% das entrevistas foram feitas por e-mail, algumas delas agendadas por telefone. Os professores que receberam as perguntas tinham conhecimento da minha pesquisa. A escolha dos entrevistados foi aleatória, mas com o devido cuidado de não selecionar professores de uma mesma cidade ou que coordenassem mais de um jornal-laboratório.

6) Observação participante. Para Antônio Carlos Gil, observação participante “consiste na participação real do observador na vida da comunidade, do grupo em uma situação determinada. Daí por que se pode definir observador participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo.”10 Gil também comenta que a observação constitui elemento fundamental para a pesquisa, na formulação do problema, construção de hipóteses, na coleta, análise e interpretação de dados. “Observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano.”11 Como jornalista e professor de jornal-laboratório tenho condições de atuar como observador participante do ponto de vista científico e técnico. A minha observação foi estruturada e planejada. E foi se transformando com o desenvolver da pesquisa e em decorrência de fenômenos que surgiam. Ou seja, nos contatos com alunos do jornal-laboratório, com professores de outras disciplinas, de outros cursos e escolas, na produção de difusão de jornal-laboratório. No dia a dia da vida acadêmica, a observação me ajudou a conhecer e compreender a importância do jornal-laboratório na formação do futuro profissional.

7) Análise dos dados, assim definida por Antônio Carlos Gil: “A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados.”12 Os dados foram classificados por capítulos, para atender à proposta pedagógica.

1.4 – Fases da pesquisa

A pesquisa está dividida em nove capítulos.

O primeiro é a Introdução.

O segundo capítulo, Ensino de Jornalismo (história e reflexão), faz um relato histórico e reflexivo desde as primeiras idéias (1908) de se criar um curso de Jornalismo no Brasil até a implantação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB). A primeira iniciativa foi do jornalista Gustavo Lacerda, presidente da então Associação de Imprensa. Quase duas décadas depois, em 1935, o educador baiano Anísio Teixeira tentou implantar o curso de Jornalismo na Universidade do Distrito Federal, mas fracassou. Em 13 de maio de 1943, o presidente Getúlio Vargas assina o decreto-lei 5.480 criando o curso de Jornalismo, mas vinculado à Faculdade Nacional de Filosofia, outro fracasso. Foi pelas mãos de Cásper Líbero que nasce o primeiro curso de Jornalismo, mas que começou a funcionar em convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São mais de 50 anos de críticas, de várias mudanças curriculares e de uma expansão desenfreada.

O terceiro capítulo, Jornal-laboratório, faz uma análise do conceito, objetivo, perfil, isenção e da importância desse veículo na formação do jornalista. Até a homologação da Resolução 2/84, que torna obrigatória a difusão e produção do jornal-laboratório, o aluno praticava jornalismo quando conquistava alguma vaga em uma redação. Como o MEC não fazia uma vigilância rigorosa, as escolas não adotavam o jornal-laboratório como exercício de rotina, e algumas o usavam como veículo institucional, prejudicando o processo ensino-aprendizagem.

O quarto capítulo, Subsídios para um curso de jornal-laboratório, é o alicerce da tese. Nele se concentra o resumo da história do jornalismo, da sua ligação com a classe burguesa, da sua função social e o direito à informação. Registra a ética jornalística, gêneros jornalísticos, a notícia, a entrevista, a reportagem como aprofundamento da notícia e sua importância no enriquecimento do exercício jornalístico, o papel do jornalismo como interprete do leitor no relato do imediato, o significado da pauta na apuração do fato jornalístico. Na verdade, o capítulo enfoca as várias fases do fazer jornalístico como parte do processo ensino-aprendizagem.

O quinto capítulo aborda a utilização do Manual de redação no jornal-laboratório. Além de dar unidade ao texto produzido pelo aluno, o manual é dirigido aos projetos laboratoriais do curso. Ou seja, se diferencia dos manuais adotados pelos grandes jornais brasileiros. Por ser acadêmico, não se restringirá a normas de estilo e técnicas. Além de determinar a unidade do projeto laboratorial, o manual terá conceitos sobre determinados temas, como, por exemplo, ética, responsabilidade social do profissional, gêneros jornalísticos.

O sexto capítulo, O olhar do professor, contém depoimentos de professores de jornal-laboratório de escolas brasileiras. Eles relatam a metodologia de trabalho, as dificuldades, o conhecimento abrangente de humanidades no enriquecimento do aluno, a importância do jornal-laboratório como exercício prático, quem define a linha editorial do jornal-laboratório, o método que adotam para motivar o aluno, o conceito de fazer jornalismo com critério ético. Eles foram unânimes quanto a importância do jornal-laboratório na formação do jornalista.

O sétimo capítulo, Conclusão, contém propostas abertas para o enriquecimento do curso de jornal-laboratório. Na verdade, são idéias que podem ser colocadas em prática pelo professor no sentido de dar harmonia, independência e qualidade na produção e difusão do jornal-laboratório. Não é uma proposta fechada, porque o fazer jornalístico não se finda no encerramento de cada edição. É um processo contínuo como são os acontecimentos que se transformam em fatos jornalísticos.

1.5 – Notas e referências bibliográficas

1 – MELO, José Marques de. In: MEDITSCH, Eduardo e BRAGANÇA, Aníbal. A questão curricular: do impasse à reinvenção. In: Ensino de Comunicação no Brasil: impasses e desafios. São Paulo, ECA/USP, 1988.

2 – LOPES, Dirceu Fernandes. In: SILVA, Luiz Custódio. Órgãos laboratoriais: da resistência aos novos caminhos experimentais. In: Ensino de Comunicação no Brasil: impasses e desafios. São Paulo, ECA/USP, 1988.

3 – REGO, Francisco Torquato. In: SILVA, Luiz Custódio. Órgãos laboratoriais: da resistência aos novos caminhos experimentais. In: Ensino de Comunicação no Brasil: impasses e desafios. São Paulo, ECA/USP, 1988.

4 – REGO, Francisco Torquato. In: SILVA, Luiz Custódio. Órgãos laboratoriais: da resistência aos novos caminhos experimentais. In: Ensino de Comunicação no Brasil: impasses e desafios. São Paulo, ECA/USP, 1988.

5 – GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas, 1989.

6 – CERVO, A. L. e BERVIAN, P.A. Metodologia científica. São Paulo, McGraw-Hill, 1983.

7 – ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social. Buenos Aires, Humanitas, 1974.

8 – RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo, Atlas, 1989.

9 – RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo, Atlas, 1989.

10 – GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas, 1989.

11 – GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas, 1989.

12 – GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas, 1989.

2

Ensino de Jornalismo

(história e reflexão)

O ensino de Jornalismo no Brasil é criticado desde a sua implantação em 16 de maio de 1947, quando começou a funcionar o Curso de Jornalismo Cásper Líbero, em convênio com a PUC São Paulo. São mais de 50 anos de reclamações feitas pelas empresas jornalísticas que até montaram cursos para reciclar estudantes e recém-formados – Editora Abril, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, são exemplos. O diretor da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, Erasmo de Freitas Nuzzi, diz que a crítica ao ensino de Jornalismo “é contemporânea de seu próprio nascimento”.1

A polêmica sobre a qualidade do ensino de Jornalismo gerou preocupação mas também descaso, principalmente após 1964 quando a educação foi abandonada pelo regime militar. Existem escolas que optaram em formar profissionais para o mercado de trabalho, mas sem a preocupação de estimular o futuro jornalista a refletir sobre a atividade que irá desempenhar e a compreender os mecanismos envolvidos no processo de produção e difusão da mensagem jornalística e seu impacto sobre a sociedade. Algumas contrataram profissionais do mercado, que, embora com uma indiscutível carreira, não tinham vivência acadêmica; outras recrutaram recém-formados para ministrar aulas. O resultado foi a formação de uma mão-de-obra desqualificada e um quadro docente não compatível com o que o curso propunha: integrar teoria e prática.

A valorização do tecnicismo e do mercado de trabalho em detrimento à formação teórica-humanística é explicada por Nancy Nuyen Ali Ramadan, doutora em Jornalismo na ECA/USP e que desenvolveu projeto de pesquisa sobre o tema: “São esses os docentes que normalmente estão preocupados em adestrar os estudantes, tecnicamente falando, sem preocupações com o papel do Jornalismo enquanto atividade social. Em geral, esses docentes estão voltados para os fins das empresas: vender.”2

Victor Gentili, doutorando na ECA/USP, diz que a escola de Jornalismo é esquizofrênica porque ensina teoria da comunicação e não Jornalismo. “Muitas vezes mostram os meios como meros instrumentos de manipulação das massas ao mesmo tempo em que oferecem uma prática acrítica e meramente reprodutora do jornalismo como hoje é praticado.” O jornalista afirma ainda que isso significa que a relação com o mercado de trabalho ou não existe, ou, quando existe, “é marcada pela cópia de práticas velhas, viciadas, antigas do Jornalismo que os cursos devem superar e não reproduzir de forma caudatária.”3

Em conseqüência, houve uma atrofia no perfil profissional. O recém-saido da faculdade não atende, muitas vezes, às exigências do mercado por não ser um polivalente.

2.1 – Propostas e tentativas

Em 1908, 100 anos após a instalação da imprensa no Brasil, o jornalista Gustavo Lacerda, ao assumir a presidência da Associação da Imprensa, hoje Associação Brasileira de Imprensa (ABI), estabeleceu como meta a criação de um curso de Jornalismo. Dez anos mais tarde, em 1918, quando da realização, no Rio de Janeiro, do 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), sob a presidência de João Guedes de Melo, foi levantada novamente a idéia de criar o curso de Jornalismo.4 Já a primeira tentativa foi do educador baiano Anísio Teixeira, quando criou, no Rio de Janeiro, em 1935, a Universidade do Distrito Federal e incluiu o curso de Jornalismo. Anísio Teixeira convidou o jornalista Costa Rego, então redator-chefe do Correio da Manhã, para organizar o curso, que não saiu do papel.5

Entre 1928 e 1929, Assis Chateaubrind escrevia artigos publicados nos Diários Associados defendendo a criação da escola de Jornalismo. O pioneiro do jornalismo em rede de jornais, argumentava que a Itália e Estados Unidos já tinham as suas escolas funcionando bem.6 Mas só foi em 1943, quando Getúlio Vargas assinou Decreto-Lei, nº5.480, de 13 de maio de 1943, criando o curso de Jornalismo, que deveria ser ministrado na Faculdade Nacional de Filosofia.7 A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), sindicatos das categorias dos empregadores e empregados cooperariam no projeto.8

Mas a preparação do jornalista na universidade começou em 1947, com a instalação da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, em São Paulo, através de convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, vinculada à Faculdade de Filosofia. No ano seguinte, foi criado o curso de Jornalismo da Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro. “Na verdade, a trajetória apresentada não está dissociada de um conjunto de lutas e batalhas que vem sendo travadas desde o início da criação dos cursos de Jornalismo no Brasil, em defesa de melhores condições de ensino, de aperfeiçoamento e de novas perspectivas pedagógicas para o processo de aprendizagem das atividades profissionais relacionadas com a comunicação social no país”, disse Luiz Custódio da Silva.9

Na avaliação do professor Luiz Beltrão, ambas as escolas se inspiraram nas correntes pedagógicas norte-americanas de Pulitzer e Elliot. “Mais humanísticas do que técnico-profissional, e isso não somente pela falta de equipamento nas escolas como pela própria inexperiência dos professores, a maioria dos quais sabia fazer jornalismo mas não sabia ensinar teoricamente a fazê-lo.”10

Filho adotivo do ensino superior brasileiro (o termo foi usado porque a escola de Jornalismo nasceu acoplada às faculdades de Filosofia e não tinha autonomia), o ensino de Jornalismo não foi diferente de outros cursos que “exprimiam a concepção do mundo das classes dominantes”.11

O passado aponta as ações ilimitadas e infrutíferas, na maioria das vezes, por parte do governo na escolha do currículo ideal para o ensino de Jornalismo, mas sempre privilegiando a elite brasileira.

O diagnóstico do ensino de Jornalismo registra a complexidade na busca de soluções para superar a constante crise. No geral, as reformas curriculares são recursos paliativos adotados pelo governo. “Mera ilusão, pois os currículos constituem apenas uma variável secundária da questão principal, que é a própria estrutura do ensino brasileiro e seus fundamentos sociais e ideológicos”, disse José Marques de Melo.12

A idéia de formar jornalistas na academia nasceu dos próprios profissionais da Imprensa, mais precisamente do então presidente da ABI, Gustavo Lacerda. Mas foi após o decreto 972, de 17 de outubro de 1969, período de conturbação política com a promulgação do AI-5, que estabeleceu o exercício profissional somente aos jornalistas diplomados, que o movimento se consolidou. Os contrários ao ensino de Jornalismo alegavam que a profissão se aprende nas redações e não nos bancos universitários e criticavam a baixa qualidade do ensino. No primeiro semestre de 1982, quando os principais jornais de São Paulo atacavam em seus editoriais, artigos e notícias a tese da reserva de mercado de trabalho, o jornalista Carlos Chagas defendia o ensino de Jornalismo: “as escolas são ruins, não há dúvida, como péssimo está sendo todo o ensino superior brasileiro, mas o caminho não é o fechamento das escolas e sim o seu aperfeiçoamento”.13

Não foi a batalha decisiva porque novos episódios aconteceriam. O mais polêmico e combativo foi durante a elaboração da Constituição de 1988 quando a Folha de S. Paulo encabeçou um lobby, para pôr fim à obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional. Em agosto de 1999, o professor Nilson Lage, da Universidade Federal de Santa Catarina, em palestra no 2º Encontro Latino-americano de Professores de Jornalismo, realizado na capital paulista, usou o seguinte argumento para defender o aprender jornalístico na universidade: “A responsabilidade envolvida no tráfego de informações, a sofisticação tecnológica e a relevância do direito dos cidadãos indicam a necessidade de estudos demorados para a prática do Jornalismo – estudos que, como acontece com as demais profissões de nível superior, deverão estender-se por toda a vida.”14

A decisão da juíza substituta Carla Abrantkoski Rister, da 16ª Vara Cível de Justiça Federal em São Paulo, no dia 23 de outubro de 2001, de derrubar a exigência de diploma para a função de jornalista em todo território brasileiro, colocou novamente em debate a função da escola na formação do futuro profissional. Para justificar a liminar suspensiva, Carla Rister alegou que o curso universitário de Jornalismo não é essecial para a formação do jornalista, “por não apresentar qualificações profissionais específicas, diferentemente de profissões técnicas como engenharia.”15

Segundo Carla Rister, o decreto-lei 972/69, que exige o diploma para o exercício profissional, “contraria parâmetros da Constituição de 1988.”16 Já o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Frederico Barbosa Ghedini, diz que a juíza citou apenas parte desse mesmo artigo, confundindo liberdade de expressão com regulamentação profissional com qualificação. “A regulamentação, em seu formato atual, é fundamental para garantir o direito à informação qualificada, ética, democrática e cidadã para toda a população”.17

A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) teve um papel fundamental em defesa da obrigatoriedade do diploma, promovendo debates entre professores, alunos, entidades, sindicatos, cursos e publicações referenciando a importância do curso de Jornalismo na formação do profissional.

Já nos Estados Unidos o ensino de Jornalismo foi criticado por profissionais que entendiam que o cotidiano de uma redação era o suficiente para formar um jornalista responsável, ético e compromissado com o leitor.

Carlos Rizzini, em seu livro O Ensino de Jornalismo, publicado pelo Departamento de Imprensa Nacional (DIN), de 1953, faz um relato do surgimento da escola de Jornalismo nos Estados Unidos e reforça que o jornalismo é uma atividade em que a vocação pode expandir-se pelo processo ensino-aprendizagem. “Cabe ao ensino universitário instruir, educar, orientar e ilustrar as vocações, para que maiores sejam aqueles efeitos e, para que, de modo geral se eleve o nível da imprensa.” Na avalição de Carlos Rizzini, os contrários ao ensino de Jornalismo terão de reconhecer a superioridade de um jornalista culto.18

2.2 – Expansão desenfreada

O Brasil tem mais de 110 cursos de Jornalismo, entre escolas públicas, confessionais, municipais e particulares e mais de 22 mil alunos do primeiro ao quarto ano. (Os dados são estimativos, baseados no número de estudantes que fizeram o Provão 2000, mais de 5.271 mil. Na estimativa foram incluídos cursos que ainda não formaram jornalistas. O MEC não dispunha do número de escolas que começaram a funcionar entre 1998 e 2000.) A explosão dos cursos de Jornalismo aconteceu no final da década 70, na década de 80 e se consolidou nos anos 90.

Os números são preocupantes: levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, publicado na edição de 24 de dezembro de 2000, página A10, caderno Geral, registra que entre as 50 piores universidades do Brasil, 10 têm o curso de Jornalismo. O professor Sinval Freitas Medina, da ECA/USP, em 1972, já alertava para o perigo que poderia trazer a criação indiscriminada de cursos. “Foi reconhecida a necessidade de se criarem mecanismos que impeçam o surgimento indiscriminado de escolas. Essa tendência, que se tem acentuado nos últimos anos, provocará pressões insustentáveis sobre o mercado de trabalho em futuro próximo.”19 Diante da instabilidade pedagógica de dezenas de escolas, o Governo precisou tomar medidas para conhecer na essência a realidade dos cursos e o conhecimento jornalístico e humanístico do aluno. Em função disso nasceram o Exame Nacional de Cursos (Provão) e a Avaliação das Condições de Oferta dos cursos de Jornalismo como balisadores do ensino de Jornalismo.

Um dos pontos mais discutíveis é a criação da escola sem uma análise criteriosa para a instalação na sociedade em que será inserida. A superlotação ocupacional de escolas superior à capacidade de absorção do mercado desvaloriza a mão-de-obra especializada, torna o curso ineficiente. Esta afluência aos cursos de forma desordenada inflacionou o mercado e descaracterizou o profissional. O ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marques, também vê deficiência na formação profissional das escolas de Jornalismo e lembra que não existem critérios na instalação de escolas. O escritor diz que a criação das escolas de Jornalismo foi uma reação “escolástica contra o fato de o ofício precisar de respaldo acadêmico”. Ele afirma ainda que a proliferação das escolas “não é alentadora” e que a maioria dos graduados “chega com deficiências flagrantes”.20

Já o jornalista e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Antônio Carlos Fon, é mais crítico quanto à instalação de cursos de Jornalismo sem uma avaliação. “A maioria não passa de arapucas que cobram pedágio dos alunos durante quatro anos.”21

É claro que existem disparidades regionais acentuadas e com problemas ainda não superados. Por ser a região mais rica da Federação, o Estado de São Paulo concentra o maior número de escolas de Jornalismo. São mais de 30. São José do Rio Preto, com 350 mil habitantes, a 450 quilômetros da capital paulista, tem três escolas de Jornalismo que formam anualmente mais de 60 jornalistas. Tem dois jornais diários (Diário da Região e Folha de Rio Preto), dez rádios e três emissoras de televisão (Globo, Record e TV da Cidade) e duas sucursais (SBT e Band). Já Porto Velho, capital de Rondônia, isolada dos centros mais desenvolvidos, com mais de 334 mil habitantes, tem quatro jornais diários (Alto Madeira, O Estadão do Norte, Folha de Rondônia e Diário da Amazônia), três emissoras de televisão, dezenas de assessorias de Imprensa (municipal, estadual, federal), cinco emissoras de rádio, 217 jornalistas filiados ao sindicato da categoria (33 são diplomados) e uma universidade federal que não tem curso de Jornalismo.

2.3 – Regulamentação e currículo

Regulamentado pelo Decreto 22.245, de dezembro de 1946, assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, o curso de Jornalismo foi oficializado e ganhou sua grade curricular. Com duração de três anos, a grade estava dividida em três seções: Seção de Formação, Seção de Aperfeiçoamento e Seção de Extensão Cultural. A Seção de Formação era estruturada em três séries e tinha as seguintes matérias: Francês ou Inglês, Geografia Humana, História da Civilização, Técnica de Jornalismo (exigia também estágio em uma empresa jornalística), Ética e Legislação de Imprensa, Sociologia, Português e Literatura, Política, História do Brasil, História da Imprensa, Psicologia Social, Economia Política, Noções de Direito e Organização e Administração de Jornal. Para completar uma das séries, o aluno optava em cursar duas outras disciplinas, tendo a possibilidade de escolher entre as seguintes: Introdução à Filosofia, História Contemporânea, História da América, Histórias das Artes, História da Música, Direito Administrativo, Direito Constitucional, Educação Comparada e Estatística. A Seção de Aperfeiçoamento consistia em conferências e trabalhos práticos. Oferecida a qualquer interessado, a Seção de Extensão continha Filosofia, Geografia Humana, Psicologia e Sociologia, Teoria do Estado e Administração Pública, Direito (Constitucional, Internacional, Civil, Comercial e Criminal), História da Civilização, História da Cultura (Literatura, Belas-Artes, Teatro, Música, Ciências, Religiões, Esportes, Indústria e Comércio), Economia e Política, Finanças, Educação, Organização do Trabalho e Estatística.

Sem autonomia, o curso de Jornalismo se pautava em disciplinas teóricas na formação profissional. “O perfil curricular centrava-se nas disciplinas humanísticas das ciências sociais, com embasamento teórico-cultural, até porque o próprio curso estava subordinado à Faculdade de Filosofia”, registra Maria Elisabete Antonioli Laurenti.22

Embora tivessem o caráter profissionalizante, os cursos de Jornalismo também assumiram características de formação humanística, criando uma dicotomia entre teoria e prática que persiste até hoje em muitas escolas. Em mais de meio século de existência, o currículo de Jornalismo passou por várias transformações que vão do humanístico ao tecnicismo profissionalizante.

Nesse período de mutação e adaptação do currículo à realidade brasileira e aos interesses dos donos das escolas, milhares de novos jornalistas sairam dos bancos acadêmicos para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo e seleto.

O primeiro currículo de ensino de Jornalismo foi o da Cásper Líbero e tinha duração de três anos, dois básicos e um de especialização. O primeiro ano tinha as seguintes disciplinas: Técnica de Jornal; Ética, História e Legislação de Imprensa; Administração de Jornal; História da Civilização; Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa; e Geografia Humana. Segundo ano: Técnica de Jornal; Publicidade; Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa; História do Brasil, História Contemporânea; e Geografia do Brasil. Das dez disciplinas, quatro eram técnicas. E o terceiro ano, o da especialização, era dividido em três grupos, o aluno poderia escolher um deles. 1) Rádiojornalismo; Técnica de Jornal; Sociologia; Economia; Política e Administração Pública; 2) Rádiojornalismo ou Técnica de Periódico; Técnica de Jornal; História das Artes; Literatura de Língua Portuguesa e Literatura Contemporânea; 3) Rádiojornalismo; Técnica de Jornal; Introdução à Educação; Psicologia Social e Criminologia.

A complexidade da grade curricular levou Carlos Rizzini a fazer a seguinte observação: “O plausível é que o aluno, terminados os dois anos básicos, escolhesse uma especialização técnica, de redação, de reportagem, de publicidade, de administração, em vez de preferir um grupo de disciplinas de cultura geral”.23

Contrário a esse critério de formação jornalístico, Carlos Rizzini propunha um currículo em que a teoria fosse transformada em prática. Ou seja, disciplinas que estivessem relacionadas com a atividade jornalística, mas não abandonando algumas de cultura geral.

Em março de 1948, o presidente Eurico Gaspar Dutra assina decreto, número 24.719, autorizando a primeira alteração na grade curricular do curso de Jornalismo. Mantendo o perfil humanístico, foi incluída a disciplina Radiofusão, principalmente porque o rádio, naquela época, era o marco da informação brasileira. Outra modificação foi a substituição da disciplina Organização e Administração de Jornal pela Publicidade, Organização e Administração de Jornal. A inclusão da Publicidade foi porque o mercado brasileiro se expandiu após a 2ª Guerra Mundial.24

Ainda no governo Dutra, em março de 1949, um novo decreto, número 26.493, mexe novamente na grade curricular do curso de Jornalismo. Na Seção de Formação, as disciplinas Francês e Inglês passaram a ser facultativas. A Seção de Aperfeiçoamento foi dividida em dois módulos: Aperfeiçoamento em Técnica e Aperfeiçoamento em Cultura geral. A proposta era intensificar a qualificação técnica do futuro jornalista.25

O decreto nº 28.923, de 1º de dezembro de 1950, faz mais uma alteração na grade curricular do Jornalismo. A estrutura curricular foi dividida em duas partes: uma de duas séries e outra de uma série. A primeira era oferecida a todos os alunos. A segunda tinha três modalidades: A, B, C. A escolha era livre. As disciplinas Radiojornalismo e Técnica de Periódico, por exemplo, eram oferecidas aos alunos das modalidades A e B. Eram compreendidas como atividades práticas, de preferência em organizações jornalísticas ou radiofônicas. O artigo 6º determinava a titulação em Bacharel em Jornalismo no diploma expedido a partir de 1950. Já o parecer 453, de 31 de agosto de 1953, expedido pelo então Conselho Nacional de Educação, direcionou o curso ao perfil intelectual e cultural, voltado às ciências humanas e ignorando a parte profissional.26

2.4 – Desvinculação e autonomia

Com a autonomia conquistada em 6 de junho de 1958, por meio do decreto 43.839, desvinculando os cursos das faculdades de Filosofia27, a luta pela qualidade do ensino superior se desencadeou no início da década de 60. Até então o movimento estudantil e a própria universidade cumpriam rigorosamente o chamado pacto paulista esboçado pela Revolução de 1930. “O pacto paulista, com a implantação de um estado de compromisso entre as forças sociais brasileiras, significava, então, o esquecimento de interesses de classe ou mesmo interesses sociais mais amplos. Tudo para o fortalecimento do Estado. Os interesses da sociedade eram limitados aos estreitos interesses do Estado.”28

Essa efervescência social incentivou a organização do 1º Seminário Latino-Americano de Democratização do Ensino Superior, realizado em Salvador, Bahia, em 1960. Dois anos depois, em Curitiba, no 2º Seminário, sai a Carta do Paraná, “que viria a se transformar na orientação política do movimento estudantil”.29 A carta incluia seis propostas: a) que a universidade seja a expressão do povo; b) que assuma uma perspectiva crítica, perdendo seu caráter dogmático; c) que seja uma frente efetiva do processo revolucionário brasileiro (democrático-burguês, mais uma vez); d) que os cursos de conteúdo tecnizante incluam uma perspectiva social; e) que se estruture racionalmente (luta pela introdução dos institutos e departamentos, contra as faculdades isoladas, pela extinção da cátedra); f) pela autonomia universitária em todos os níveis (didática, admininistrativa, financeira e política).30

No momento histórico da configuração da Aliança Operária-Estudantil-Camponesa e na democratização da universidade, acontece a primeira alteração significativa no currículo de Jornalismo. Naquela época, João Goulart no poder, a preocupação do Governo foi montar um currículo mais profissionalizante, embora sem esquecer a área humanística. Em 16 de novembro de 1962, foi aprovado o Parecer 323, do Conselho Federal da Educação (CFE), estabelecendo um currículo com as disciplinas divididas em três categorias: Gerais, Especiais e Técnicas. A categoria Gerais se concentrava numa base cultural; a categoria Especiais era voltada para o domínio da linguagem e postura de valores; a categoria Técnicas se destinava ao fazer jornalístico. “Os relatores também recomendavam um entrosamento entre os programas. Assim, pela primeira vez nos estudos de programas curriculares para o curso de Jornalismo, chamava-se a atenção para a interdisciplinaridade.”31

Em 19 de abril de 1966 sai o Parecer 984, do CFE, também assinado pelo relator Celso Kelly, cujo conteúdo se baseava nas diretrizes do Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para a América Latina (Ciespal), órgão mantido pela Unesco, com sede em Quito, Equador. Em 2 de setembro de 1966 foi publicada a Resolução s/nº, complementando o Parecer, que recomendava que o conceito de Jornalismo compreendia todas as formas de transmissão de notícia: jornalismo impresso, radiofônico, televisivo, cinematográfico e ainda publicitário e relações públicas; e a formação do jornalista polivalente. A Resolução fixou 2.700 horas-aula, ministradas em quatro anos, e incluia as disciplinas Teoria da Informação, Jornalismo Comparado, Redação de Jornalismo.32

Em 1969, o conselheiro Celso Kelly recomenda a criação do curso de Comunicação Social, o currículo mínimo e a duração do curso, por meio do Parecer 631, aprovado em 2 de setembro de 1969. Celso Kelly propunha ainda a formação de um profissional polivalente, ou seja, um especialista em técnicas de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. A idéia gerou polêmica na academia e no mercado. As delegacias do Ministério do Trabalho não tinham como enquadrar essa habilitação no registro profissional da carteira de trabalho: “Isso criou uma celeuma muito grande no País, porque, na verdade, tratava-se de uma tendência que contrariava o rumo mundial do ensino de Comunicação. Quer dizer, a comunicação vivia um período de superespecialização e o Brasil adotava uma solução que, eu diria, era uma solução andina, porque vem dos países andinos, de regiões pequenas, querendo criar a figura do comunicador polivalente”, criticava José Marques de Melo.33

O professor Luiz Beltrão também criticou a iniciativa de Celso Kelly dizendo que a escola preparava o aluno a exercer pelo menos quatro habilitações e também confiria o esdruxulo título de comunicador polivalente. Segundo Luiz Beltrão, o título universitário qualificava o seu portador para ser jornalista, relacionista, redator de serviço público, publicitário, pesquisador em comunicação, “tudo quanto não estivesse enquadrado em qualquer profissão regulamentada”.34

Com Celso Kelly recuando, mas mantendo a polivalência, entrou em vigor a Resolução 11/69 determinando que as escolas de Jornalismo fossem transformadas em faculdades de Comunicação Social com as seguintes habilitações: Polivalente, Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda e Editoração. Oficialmente, pela primeira vez eram exigidos órgãos laboratoriais para todas as habilitações e, para o Jornalismo, o curso deveria dispor de um jornal-laboratório e estúdios-laboratório de rádio, televisão e cinema. Ficou determinado que caso as faculdades não tivessem os órgãos laboratoriais, poderiam manter convênios com entidades públicas e privadas. A formação do profissional polivalente ou do comunicador polivalente, era o aprofundamento das Técnicas de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. A proposta foi condenada por instituições acadêmicas que a excluíram dos currículos subseqüentes.35

Com uma carga horária de 2.200 horas-aula, com duração de três a seis anos, Celso Kelly dividiu o currículo em três aspectos: a) fenomenológico – pelo conhecimento da natureza dos efeitos psico-sociais devidos à sua atuação; b) instrumental – pelo manejo mais seguro da linguagem e pelo treinamento especial na redação; c) cultural – por uma formação básica extremamente atualizada, com fundamentos nas humanidades.36 O currículo-mínimo estabeleceu, no ciclo introdutório, disciplinas cujo conhecimento considerou comuns e fundamentais a todas as áreas da comunicação. Uma segunda parte da carga horária foi reservada a formar profissionais para as áreas específicas: Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda. Editoração, Documentação e Divulgação Oficiais e Pesquisa em Comunicação. Para as quatro primeiras ficou estabelecido o aprofundamento de suas técnicas e mais quatro disciplinas relacionadas na Resolução 11/69. “Não houve – ao nosso ver – um aprofundamento dos estudos sobre a realidade dessas atividades e do que o mercado de trabalho exigia dos relacionistas (era uma das qualidades do jornalista polivalente) e publicitários. Em conseqüência, apesar daquela preocupação do CFE com os profissionais da informação, estes foram prejudicados em sua formação específica, pela introdução de técnicas inteiramente diversas daquelas que teriam de usar no exercício do jornalismo”, avaliava Luiz Beltrão.37

O currículo mínimo tinha a seguinte estrutura: 1) Parte Comum a todas as modalidades de habilitação de comunicadores a ser ministrada em 1.100 horas-aula, a metade estabelecida de 2.200 horas-aula. A Parte Comum era constituída de matérias básicas mais Sociologia, integrante dos currículos de formação Social. São as seguintes: 1) Fundamentos Científicos da Comunicação; 2) Ética e Legislação dos Meios de Comunicação; 3) Pesquisa de Opinião e Mercadologia; 4) Introdução às Técnicas de Comunicação, compreendendo prática de: a) Jornalismo Impresso, radiofônico, televisionado e cinematográfico; b) Teleradiofusão, Cinema, teatro; c) Relações Públicas; d) Publicidade e Propaganda; e) Editoração; 5) Jornalismo Comparado; 6) História da Cultura e, especialmente dos meios de comunicação; 7) Problemas Sociais e Econômicos Contemporâneos; 9) Cultura Brasileira. Duas inseridas no currículo a escolher numa lista de treze, entre elas Cibernética, Filosofia, Paginação e Revisão e Psicologia; e as disciplinas de aprofundamento nas cinco áreas de habilitações. O Jornalismo tinha Prática de Jornalismo Impresso, Radiofônico, Televisado e Cinematográfico, Telerradiodifusão, Cinema e Teatro, e mais quatro disciplinas entre as de livre escolha, não estudadas anteriormente. O aluno ainda escolhia duas disciplinas entre 13 relacionadas, que são as seguintes: 1) Biblioteconomia e Bibliografia, 2) Cibernética, 3) Direito Usual, 4) Documentação (introdução), 5) Economia, 6) Estatística, 7) Idiomas Estrangeiros (não específica), 8) Filosofia (incluindo Lógica), 9) Paginação e Revisão, 10) Política e Administração, 11) Produção e Emissão, 12) Psicologia Social, 13) Redação e Edição.

Luiz Beltrão explica que as matérias práticas não podiam ser oferecidas em bloco devido à peculiaridade de cada habilitação e também à dificuldade de um mesmo professor ser especialista em diferentes técnicas. Assim, elas foram desdobradas. A relação foi a seguinte: 1) Introdução às Técnicas do Jornalismo Impresso, 2) Introdução às Técnicas do Jornalismo Radiofônico, 3) Introdução às Técnicas do Jornalismo Televisado, 4) Introdução às Técnicas do Jornalismo Cinematográfico, 5) Introdução às Técnicas da Teleradiodifusão; 6) Introdução às Técnicas do Cinema, 7) Introdução às Técnicas do Teatro, 8) Introdução às Técnicas das Relações Públicas, 9) Introdução às Técnicas da Propaganda, 10) Introdução às Técnicas da Editoração. O aluno escolhia ainda mais quatro disciplinas entre as não estudadas anteriormente. Apesar de criticar o currículo-oficial, Luiz Beltrão entendia que as disciplinas práticas reforçavam o processo ensino-aprendizagem e exigia da escola a instalação de duas oficinas laboratoriais. “A formação do jornalista na universidade estaria incompleta se não incluisse o treinamento e a experimentação da atividade profissional.”38

Em 1978, o Conselho Federal da Educação fixou para o ano seguinte, 1979, o currículo mínimo para o curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e Televisão, Cinematografia e Relações Públicas. A novidade era que o conteúdo das disciplinas tinha que ter a aprovação do Ministério da Educação e como exigência a instalação de laborátorios de rádio, telecinejornalismo e fotográfico, redação, oficina de diagramação. De acordo com o artigo 2º, da Resolução 3/78, as matérias que integravam o currículo mínimo foram divididas em três módulos: a) Fundamentação Geral Humanística, b) Fundamentação Específica, c) Natureza Profissional. O primeiro módulo tinha as disciplinas Problemas Sócio-Culturais e Econômicos Contemporâneos, Sociologia, Psicologia Social, Antropologia Cultural, Cultura Brasileira, Língua Brasileira. O segundo módulo tinha as disciplinas Teoria da Comunicação, Comunicação Comparada, Sistemas de Comunicação no Brasil, Estética e Comunicação de Massa. O terceiro, já profissionalizante, tinha Técnicas de Codificação, Técnicas de Produção e Difusão, Deontologia da Comunicação Social, Técnicas de Administração, Técnicas de Mercadologia.

O parágrafo 1º estabelecia que as matérias mencionadas nos dois primeiros módulos eram comuns a todas as habilitações e as constantes no terceiro módulo deveriam ser aplicadas no respectivo campo profissional. Ou seja, não havia liberdade para a escola montar o seu currículo de acordo com a sua característica e necessidade. Na época, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, em editorial no Cadernos de Jornalismo, número 3, de setembro de 1978, recriminou a medida do Governo Federal, usando o seguinte argumento: “O novo currículo não está em discussão. É mais um pacote, decretado de cima para baixo, mais um ente biônico encravado em nossa sociedade.” Os adjetivos pacote e biônico são uma referência irônica ao pacote de março de 77, decretado pelo General Geisel, que colocou o Congresso em recesso e estabeleceu, entre outras medidas, o senador biônico.

Uma outra crítica feita pela direção do Sindicato de Porto Alegre dizia que a maioria das aulas era expositiva e o professor não era jornalista. Já os alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontaram como uma das principais deficiências do currículo a falta de abordagem maior dos problemas humanísticos no programa. Eles justificaram que “sem isso se torna quase impossível ter uma visão crítica da realidade, dado essencial à função do jornalista”.39

O professor José Marques de Melo, que participou da elaboração do currículo de 1979, cujo estudo começou em 1977, considerava inviável o currículo mínimo. “É uma espécie de interferência centralizante na orientação do ensino de Comunicação, num país que tem realidades inteiramente diferentes em seu território e cujos problemas de treinamento do profissional de comunicação na minha opinião, não podem ser resolvidos de modo centralizado.”40

Além disso, o último semestre era reservado à atividades profissionais supervisionadas, sob a forma de projetos experimentais na própria escola e de treinamento nas empresas ou órgãos públicos, este sob forma de estágios supervisionados. A carga horária não deveria exceder a 10% da carga mínima de 2.200 horas-aula. Embora defendesse os objetivos do novo currículo, o professor Jaci C. Maraschin, da ECA/USP, questionou a viabilidade do estágio supervisionado: “A legislação de um órgão como o Conselho Federal de Educação não pode se imiscuir na área da empresa pública ou particular, ficando, portanto, na dependência da boa vontade e da capacidade de compreensão dos homens de empresas.”41 Ele entendia que não competia ao Conselho Federal de Educação estabelecer normas de conduta onde o aluno deveria praticar o jornalismo, mas a iniciativa deveria ser das escolas e do próprio aluno.

O professor José Marques de Melo criticava a possibilidade da escola manipular o elenco de disciplinas e apontava como problema a obrigatoriedade da implantação de laboratórios: “A formação universitária do jornalista deve ser a que lhe dê bagagem humanística, conhecimentos técnicos e uma visão crítica para saber colocar nas técnicas o conteúdo básico que é o que interessa ao público leitor. Então, quando a gente fala da ênfase da luta pelos equipamentos é porque sabe-se que historicamente a cultura de um jornalista desenvolve-se na maior parte na sala de aula profissional, porque tem giz e quadro negro”.42

Já o professor Wilson da Costa Bueno, ECA/USP, apontava como positivo o novo currículo (79) a extinção da polivalência, a redução do número de disciplinas, mas lembrou que não previa a iniciação às técnicas de pesquisa em Jornalismo.43 No anterior, conhecido como currículo de Celso Kelly, de 1969, o aluno se habilitava em cinema, rádio, televisão, jornal.

2.5 – Exigência de laboratórios

Em 1984 saia a Resolução 2/84, que dava outras diretrizes e características ao currículo do curso de Jornalismo. Uma das medidas foi reforçar a exigência dos laboratórios, mas preservando as disciplinas do tronco comum, o chamado básico: Filosofia, Sociologia, Teoria da Comunicação (obrigatórias), entre outras, e as disciplinas eletivas. Fixou também que as disciplinas práticas deveriam corresponder a 50% da carga horária do curso, sem contar os projetos experimentais (jornais-laboratórios, por exemplo). “O resultado é que a Resolução serviu para que muitas escolas obtivessem um amparo legal para não oferecer nada além do que a legislação exige.”44

O curso deveria ter uma carga mínima de 2.700 horas-aula, incluídas as 270 de atividades de projetos experimentais. Além das disciplinas obrigatórias e as que acrescentariam ao currículo de uma lista oferecida pelo MEC, o aluno, para se habilitar em Jornalismo, precisaria fazer as seguintes disciplinas específicas da profissão: Língua Portuguesa: Redação e Expressão Oral; Fotojornalismo, Planejamento Gráfico em Jornalismo; Radiojornalismo; Telejornalismo; Técnica de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística; Preparação e Revisão de Originais, Provas e Videotexto; Edição; Legislação e Ética em Jornalismo.

O professor José Marques de Melo criticou, na época, a nova Resolução porque tinha alterações aceitáveis e outras injustificáveis e que pouco inovava. “A esperança que muitos depositaram ingenuamente nesse novo currículo, como solução para a crise atualmente vivida pelos cursos de Comunicação, certamente logo se dissipará, pois o texto aprovado pelo CFE só contribuirá para manter as ambigüidades e os impasses vigentes.”45 O professor comentou que 18 disciplinas obrigatórias significam currículo máxino e não mínimo46 e que “agora é trabalhar para que tais exigência não se tornem letra morta, como tantas vezes tem ocorrido em nosso país”.47 Ele afirmou que os professores e alunos do curso de Jornalismo estavam conscientes de que sem ter um laboratório, “as atividades didáticas permanecerão no terreno da improvisação e do amadorismo.”48

Com a proposta de fiscalizar a aplicação dos dispositivos do novo currículo mínimo, principalmente quanto à implantação dos laboratórios e ao cumprimento das exigências relacionadas com a habilitação profissional dos docentes, foi eleita, no 2º Encontro Nacional de Órgãos Laboratoriais dos Cursos de Jornalismo, realizado de 1º a 4 de abril de 1985 em Uberaba (MG), a Comissão Nacional de Luta pela Melhoria da Qualidade do Ensino de Jornalismo (Conej), composta por professores, jornalistas e alunos. Neste mesmo encontro, a comissão decidiu, entre outras tarefas, fazer um levantamento da situação dos cursos de Jornalismo, criar mecanismos para assessorar as instituições, avançar no debate das questões conceituais e pedagógicas sobre laboratórios.49 Após uma década, o resultado não foi o esperado se comparado ao da Avaliação das Condições de Oferta dos cursos de Jornalismo, monitorado pela Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC). O diagnóstico registra que a resolução 2/84 e a comissão não conseguiram vencer a crise no processo de formação de jornalista no país.

Os tempos difíceis do regime totalitário, principalmente pós-68, prejudicaram, não só a liberdade política, também a consolidação da universidade brasileira como uma instituição do saber e o curso de Jornalismo foi colocado à margem como atividade profissional. A formação do jornalista se resumia a um embasamento teórico e desprovida de qualquer técnica. “Fracassaram, portanto, as iniciativas destinadas a superar o ensino livresco e discursivo e a trazer para a escola situações similares àquelas que ocorrem nas instituições jornalísticas. A formação dos jornalistas pautava-se pelo ouvi-dizer e não pelo saber-fazer”, lembra José Marques de Melo50

Apesar de ser criticada por entidades sindicais, professores e alunos, a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 20 de dezembro de 1996, em seu Capítulo IV, nos artigos 43 e 57, garante plena autonomia às instituições de ensino superior e extingue a obrigatoriedade do currículo mínimo. Esta autonomia possibilita que a escola tenha a liberdade de formular propostas curriculares que atendam às expectativas do aluno e na formação de um profissional crítico e cidadão, mas de olho nas transformações do mercado.

A reforma no ensino tem como meta a democratização, favorecer a competição em pé de igualdade e não contribuir para manter a desigualdade das chances. O desiquilíbrio sócio-econômico contempla a escola particular que nasce para cobrir o deficit da escola pública, onerando a classe mais pobre da sociedade brasileira. “A melhor das reformas permanece no papel, se ela não se ajustar às condições de vida e aspirações dos indivíduos para os quais é feita. A análise sociológica justamente procura revelar o abismo entre intenção e realidade”, disse Bárbara Freitag.51

Aproveitando a autonomia estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), sob a orientação das professoras Graça Caldas e Mônica Caprino, professores e alunos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), depois de vários debates, reelaboraram o currículo de Jornalismo direcionando-o a formar um jornalista como sujeito e agente da transformação social. “Conhecimento téorico geral e específico de sua área de atuação e cultura humanística para fazer a necessária contextualização e articulação histórico-crítica dos fatos de interesse público, relacionando-os com o passado para possibilitar uma análise prospectiva do futuro é o que se deseja dos egressos do Curso.”52

O novo currículo visa acabar com a dicotomia entre teoria e prática. Matérias, como, por exemplo, Preparação e Revisão de Provas e Originais em Videotexto absoleta e que nada acrescentava ao currículo, foram retiradas da grade curricular. Foram incluídas disciplinas que façam o aluno do 1º semestre praticar o fazer jornalístico. Novos veículos laboratoriais foram criados com a participação de outros cursos da Universidade Metodista. “As Oficinas de Jornalismo foram criadas para levar ao aluno à prática jornalística desde o primeiro semestre. Foram organizadas em uma perspectiva de que fosse introduzido na prática de maneira gradativa em relação ao grau de dificuldade, começando a produzir pequenas notícias até chegar às grandes reportagens”, revelam Graça Caldas e Mônica Ciprino.53

Com objetivo de tornar o curso mais dinâmico e voltado para a prática jornalística em tempo integral, formar um profissional consciente do seu papel social e aliar teoria e prática à iniciação científica, o 8º semestre do curso, o último, foi reservado aos projetos experimentais: vídeo-reportagem, jornalismo digital, revista, jornal impresso, radiojornalismo, telejornalismo, assessoria de comunicação, livro-reportagem. Para orientar o aluno a definir a bibliografia ideal a ser consultada, as fontes de informação que vão complementar o seu projeto, a escolher o professor-orientador e também a assessoria metodológica, foi incluída no 7º semestre a disciplina Introdução ao Projeto Experimental.

A nova grade curricular do curso de Jornalismo da Metodista começou a vigorar em 2000. O ano anterior, 1999, serviu para experimentos. Na verdade, a reforma do currículo da Metodista atende à posição do professor José Marques de Melo. Ele defende que cada escola produza o seu currículo que atenda aos interesses local/regional mas sem se esquecer da macro-economia, do jornalismo universal e das mudanças sócio-política.

2.6 – Diretrizes curriculares

Contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico, assegurar ampla liberdade na composição da carga horária, indicar tópicos e campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendizagem e estimular a prática de estudo independente. Estes são alguns dos princípios que as Comissões de Especialistas de Ensino da Secretaria de Ensino Superior (Sesu/MEC) de cada área adotaram como parâmetro no sentido de elaborar propostas de Diretrizes Curriculares. O processo de discussão, que envolveu centenas de instituições de ensino, organizações profissionais, docentes e discentes que enviaram 1.200 propostas, começou em 1997, quando da publicação do edital 4/97. Para consolidação das propostas, a partir de dezembro de 1998, foram realizados seminários, fórum e encontros. Depois de inúmeros debates promovidos em cada área, as comissões redigiram propostas para avaliação do Conselho Nacional de Educação (CNE).54

A Comissão de Especialistas de Comunicação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), embasada na LDB, enriquecida com sujestões apresentadas por instituições universitárias, entidades sindicais e estudantis, Intercom, depois de vários debates, reuniões e seminários enfocando as habilitações em Jornalismo, Relações Públicas, Editoração, Rádio e Televisão, Cinema, Publicidade e Propaganda, e tendo como referência documento específico ao ensino de Jornalismo, apresentado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), pelo Fórum de Professores de Jornalismo, pelo Observatório da Imprensa e pelo GT de Jornalismo da Intercom, elaborou texto contendo propostas de Diretrizes Curriculares da Área de Comunicação e suas Habilitações.

O texto foi redigido procurando atender a três objetivos: a) flexibilizar, b) recomendar, c) estabelecer. O primeiro objetivo buscou a diversificação de experiências de formação para atender a variedades de circunstâncias geográficas, político-sociais e acadêmicas, viabilizando o surgimento de propostas pedagógicas inovadoras e eficientes. Ou seja, a escola, livre da exigência de um currículo mínimo obrigatório, estruturará a grade curricular de acordo com as características da comunidade onde será inserida. O segundo objetivo busca a qualidade do ensino e a sintonia com posições majoritariamente defendidas pelas instituições e entidades nas reuniões, debates, seminários realizados no primeiro semestre de 1999. Na verdade, visa funcionar como um padrão de referência. O terceiro determina critérios mínimos de exigência quanto à formulação e à qualidade da formação do currículo e profissional. Funciona como parâmetro de adequação e pertinência para os cursos de cada área.55

Algumas premissas foram recomendadas, entre elas estão os três objetivos, no sentido de nortear as Diretrizes Curriculares. Elas orientam sobre a importância de manutenção de todas as formações da área em um mesmo texto para o enriquecimento pedagógico; o cuidado na elaboração do Projeto Acadêmico para não se tornar uma mera listagem de disciplinas e solidificar a troca e realimentação entre as escolas no campo da experimentação pedagógica e organizacional, de pesquisa, de desenvolvimento profissional; elaborar um currículo que possibilite ao aluno realizar atividades optativas, estimulando-o a construir o seu currículo pleno e de sua formação acadêmica.56 O que se busca com estas premissas é estimular o aperfeiçoamento constante da formação, da qualidade do ensino, mas o alcance do sucesso depende de um trabalho coletivo, também ininterrupto, entre as escolas, comunidades, mercado e entidades.

Para sistematizar as diretrizes curriculares, a comissão adotou alguns critérios classificatórios. Eles são os seguintes: Perfil Comum e Perfil Específico, Competências e Habilitações Gerais e Específicas, Tópicos de Estudo e Estrutura Geral do Curso. O objetivo foi contribuir na caracterização do curso, das habilitações profissionais, descrever o egresso do curso de Comunicação e de cada habilitação, como a instituição desenvolverá os conteúdos básico e específico, e para ajudar na elaboração do Projeto do Curso, do Projeto Acadêmico e o Projeto Pedagógico foi desenvolvido um um roteiro didático.

O perfil do egresso está dividido em Perfil Comum e Perfis Específicos. O primeiro corresponde à formação genérica e universalista, específica e particularizada57 do candidato a uma vaga em uma das habilitações do curso de Comunicação. O segundo está relacionado a habilitação que o candidato almeja e o seu grau de conhecimento sobre diferentes meios, linguagens e práticas profissionais e de pesquisa. São os Perfis Específicos por Habilitação.

2.7 – Perfil do jornalista

Além dos conhecimentos genérico e universalista, o perfil do egresso de Jornalismo ficou assim caracterizado: 1) pela produção de conhecimento e cultura voltada para seleções factuais sobre a atualidade e para a estruturação e disponibilização de informações que atendam a necessidades e interesses sociais no que se refere ao conhecimento dos fatos, das circunstâncias e dos contextos do momento presente; 2) pelo exercício da objetividade na apuração, interpretação, registro e divulgação dos fatos sociais; 3) pelo exercício da tradução e disseminação de conhecimento sobre a atualidade em termos de percepção geral e de modo a qualificar o senso comum; 4) pelo trabalho em veículos de comunicação e instituições que incluam atividades caracterizadas como de imprensa e de informação jornalística de interesse geral ou setorizado e de divulgação de informações de atualidade; 5) pelo exercício de relações entre as funções típicas de jornalismo e as demais funções profissionais ou empresariais existentes na área de Comunicação, e ainda com outras áreas sociais, culturais e econômicas com as quais o jornalismo faz interface; 6) pelo exercício de todas as demais atividades que, no estado vigente da profissão, sejam reconhecidas pelo bom senso, pelas entidades representativas ou pela legislação pertinente, como características do jornalista.58

As competências e habilidades também estão dispostas em dois níveis: um geral para todas as profissões e formações do campo da Comunicação e outro especializado por habilitação.

O primeiro nível, válido para todas as habilitações, além de cobrar do egresso um grau de conhecimento generalista e iniciativa que ultrapasse as competências do campo da Comunicação, tem ainda os seguintes requisitos: 1) assimilar criticamente conceitos que permitam a apreensão de teorias; 2) usar tais conceitos e teorias em análises críticas da realidade; 3) posicionar-se segundo ponto de vista ético-político; 4) deter um conjunto significativo de conhecimentos e informações sobre a atualidade; 5) dominar as linguagens habitualmente usadas nos processos de comunicação, nas dimensões de criação, de produção, de interpretação e da técnica; 6) experimentar e inovar no uso destas linguagens; 7) refletir criticamente sobre as práticas profissionais no campo da Comunicação; 8) tratar problemas teóricos da Comunicação e problemas profissionais de sua área de atuação, estabelecendo relações factuais e conceituais de questões concretas e pertinentes à área; 9) desenvolver competências para formação e estímulo à aprendizagem na área da Comunicação em geral, e das especialidades incluídas em sua experiência; 10) ter competência no uso da língua nacional para escrita e interpretação de textos gerais e especializados na área.59

O segundo nível, o campo profissional, requer do egresso uma identificação com a habilitação que escolheu. No campo do jornalismo as recomendações são as seguintes: registrar fatos jornalísticos, apurando, interpretando, editando e transformando-os em notícias e reportagens; interpretar, explicar e contextualizar informações; investigar informações, produzir textos e mensagens jornalísticas com clareza e correção e editá-los em espaço e período de tempo limitados; formular pautas e planejar coberturas jornalísticas, formular questões e conduzir entrevistas; relacionar-se com fontes de informação de qualquer natureza; trabalhar em equipe com profissionais da área; lidar com situações novas, desconhecidas e inesperadas; compreender e saber sistematizar e organizar os processos de produção jornalística; desempenhar funções de gestão e administração jornalística; desenvolver, planejar, propor, executar e avaliar projetos na área de comunicação jornalística; avaliar criticamente produtos, práticas e empreendimentos jornalísticos; compreender os processos envolvidos na recepção de mensagens jornalísticas e seus impactos sobre os diversos setores da sociedade; identificar e equacionar questões éticas de jornalismo; buscar a verdade jornalística, com postura ética e compromisso com a cidadania; manter-se crítico e independente, no que diz respeito às relações de poder e às mudanças que ocorrem na sociedade; dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e expositivas aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se leitura, compreensão, interpretação e redação; dominar a linguagem jornalística apropriada aos diferentes meios e modalidades tecnológicas de comunicação; assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das práticas e teorias jornalísticas, repercutindo-os sobre sua prática profissional; ter as demais competências e habilidades que caracterizam o trabalho nas circunstâncias em que o jornalismo é normalmente inserido.60

2.8 – Tópicos de estudo

Os Tópicos de Estudo estão divididos em Conteúdos Básicos e Conteúdos Específicos. O primeiro envolve o conhecimento teórico e prático, as reflexões e as aplicações relacionadas ao campo da Comunicação e à área configurada pela habilitação específica. Ou seja, a formação do graduando também passa pelo campo geral da Comunicação, além da habilitação específica. O que se busca é a formação crítica do graduando em todas as áreas do conhecimento relacionados ao campo da Comunicação.

Isso significa permitir ao aluno aprender e lidar com teorias gerais e específicas; propiciar ao graduando um estoque de informações sobre variados aspectos da atualidade; assegurar ao aluno o domínio e reflexão das linguagens das técnicas e tecnologias nos processos e nas habilitações de comunicação; fortalecer a cidadania, os direitos humanos, a liberdade de expressão, a pluralidade de idéias, a justiça social, a democracia e o saber posicionar sobre o exercício do poder da comunicação. Estes conhecimentos são assim categorizados: conteúdos teórico-conceituais; conteúdos analíticos e informativos sobre a atualidade; conteúdos de linguagens, técnicas e tecnologiais midiáticas; conteúdos ético-políticos.61

Os Conteúdos Específicos são aqueles que a instituição elege, livremente, para organizar o seu currículo pleno. É recomendado que a instituição defina como meta as reflexões e práticas da habilitação específica, mas tendo como referencial básico o perfil comum do egresso, as competências e habilidades gerais e por habilitação e os conteúdos estabelecidos nas diretrizes curriculares. A meta é sempre atingir os objetivos estabelecidos no projeto pedagógico.62

A duração mínima estabelecida é de 2.700 horas-aula. A oferta não deve ser inferior a quatro anos ou oito semestres letivos. Já o estudante terá a possibilidade, na medida de sua competência, de fazer o curso em tempo inferior a quatro anos, se a estrutura de oferta for por créditos. A duração máxima fica a critério da instituição.

Fica livre à instituição incluir no currículo o estágio supervisionado – observadas as disposições e restrições legais de cada habilitação. O jornalismo é uma delas – e atividades complementares. O texto estabelece que o estágio supervisionado é o estudo e prática de atividades externas à escola. Já as atividades complementares são instrumentos que a escola pode usar no sentido de incentivar o estudante a se relacionar com a realidade social, econômica e cultural, de orientá-lo à iniciação científica e ao ensino e ampliando a autonomia do estudante para organizar seu horário, objetivos e direcionamento. Na verdade, é a flexibilidade de carga horária para fugir do padrão turma/docente/horas-aula semanais. As atividades devem ser orientadas e supervisionadas por professores para melhor atendimento dos objetivos pedagógicos.

O número máximo de horas dedicadas à atividades complementares não pode ultrapassar 20% do total da carga horária do curso, não incluídas nesta porcentagem as horas dedicadas ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ou Projetos Experimentais. “Para que isto não seja mera antecipação do futuro ingresso no mercado de trabalho, é fundamental que o estágio seja orientado por objetivos de formação do futuro profissional; e que seja supervisionado criticamente, o docente supervisor interagindo efetivamente com os aportes recebidos pelos estudantes nas circunstâncias concretas do Estágio.”63

2.9 – Estrutura Geral do Curso

A estrutura geral define as características pedagógicas, a qualidade do curso: docente, administrativo e técnico, as condições do prédio, equipamentos, o tipo de serviço a ser prestado, a integração com o mercado e sociedade e procedimentos de auto-avaliação. Viabiliza as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Sem ela, o espaço de reflexão e disseminação do conhecimento torna-se inviável. Para concretização da realidade projetada, a estrutura do curso deve ser expressa em um Projeto Acadêmico.

O Projeto Acadêmico deve evidenciar a necessária articulação entre as concepções gerais, os conteúdos curriculares e os diversos formatos pedagógicos (aulas preletivas, laboratórios, oficinas, estudo orientado, trabalhos de conclusão de curso e outras atividades). Deve ainda prever e expor todas as características de estrutura e de funcionamento do curso, os padrões e métodos para garantir a qualidade do curso.

No Projeto Acadêmico é preciso constar a estrutura de oferta que pode ser seriada anual, seriada semestral, por créditos ou módulos. Por exemplo, se a estrutura de oferta for por créditos, o projeto deve prever a integração das várias disciplinas e atividades para evitar uma mera acumulação dispersa de créditos. Ou seja, ao final do curso, o aluno somou disciplinas e não adquiriu conhecimentos necessários à sua formação profissional e humanística. O mesmo cuidado e zelo deve ser dado à estrutura de oferta seriada ou módulos.

O Projeto Acadêmico deve expressar o perfil do corpo docente que deseja, estabelecer a titulação mínima; definir o regime de trabalho (horista, integral); orientar e estimular a capacitação didático-pedagógica, pós-graduação em níveis de especialzação, mestrado e doutorado do professor; e organizar um plano de carreira profissional para os professores.

O Projeto Acadêmico deve prever e divulgar a dimensão, a diversidade de especialidades e a qualificação do corpo técnico-administrativo responsável pelas atividades de apoio; o número, tamanho, sempre compatíveis com a quantidade de alunos e docentes, das salas de aula e sala de professores; espaços físicos destinados às atividades de pesquisa e extensão; laboratórios voltados para as habilitações específicas, levando em consideração os diferentes suportes tecnológicos necessários à prática; produtos de uso laboratorial para formação prático-profissionalizante; um sistema de dados englobando: biblioteca e hemeroteca, acervo com arquivo de som, imagens e fotografias; as condições físicas de cada compartimento do prédio, assegurando os níveis de claridade, ventilação, conforto e adequação à saúde coletiva.

O Projeto Acadêmico deve assegurar uma efetiva interação com a sociedade, cumprindo sua responsabilidade de fornecer recursos humanos qualificados ao mercado de trabalho e de aperfeiçoar o próprio funcionamento social através de suas perspectivas inovadoras e críticas. Para isso se consolidar, é importante manter atividades regulares de extensão; a integração das atividades de formação com os veículos e estruturas de serviço e produção de comunicação da própria instituição (jornal impresso, emissora de rádio e televisão, agências de notícias etc); promover e adequar o curso às condições sócio-econômicas e culturais da região em que estiver localizado, valorizando as habilitações frente às demandas sociais da região.

O Projeto Acadêmico deve prever ainda as linhas pertinentes aos procedimentos de acompanhamento e avaliação. Para viabiliar o processo de qualidade da formação, é preciso descrever os instrumentos e processos que a própria instituição utilizará para corrigir problemas ou redirecionamento do curso, em busca do aperfeiçoamento qualitativo; manter estreito contato com o mercado de trabalho com o objetivo de observar seu funcionamento e encaminhar avaliações e propostas de melhoria da qualidade de ensino; divulgar o seu projeto pedagógico no sentido de receber sugestões e críticas externas à escola que possam oferecer novos rumos ao curso; formar, pelo voto direto, uma comissão representativa com participação de todos os setores da escola; definir os parâmetros de auto-avaliação como estímulo didático-pedagógico e político para o exercício da cidadania.

No Projeto Acadêmico deve constar também: Proposta Pedagógica, Corpo Docente, Estruturas de Serviço e Infra-estrutura Material, Modos de Integração com a sociedade e mercado de trabalho e procedimentos de acompanhamento e avaliação.

A Proposta Pedagógica envolve os conceitos e objetivos que dão organicidade ao curso e demais indicadores que explicitem o projeto de formação. Para expor com clareza a Proposta Pedagógica, alguns requisitos devem ser especificados. Entre eles estão as disciplinas e atividades da Parte Geral para qualquer habilitação; as disciplinas de caráter obrigatório e optativo; a adequada integração teoria e prática para evitar o exagero teórico ou prático; a abertura do currículo para incorporação de novas disciplinas; o efetivo envolvimento de discentes em atividades curriculares de pesquisa; projetos de pesquisa previstos como atividades curriculares; formas de distinção, valorização e divulgação do Trabalho de Conclusão de Curso (com esta denominação ou como Projetos Experimentais), caracterizando-o como conclusão da formação profissional.64

2.10 – Prazo para implantar laboratórios

A Resolução 2/84 do Conselho Federal da Educação (CFE) fixou o prazo de três anos para implantar os laboratórios para a prática profissional durante o período de aprendizagem jornalística. A medida governamental não foi colocada em prática pela maioria das escolas de Jornalismo porque não oferecem ao aluno laboratórios em condições de uso que satisfaçam a necessidade técnico-pedagógico. A confirmação desta realidade é o resultado do processo de avaliação dos cursos de Jornalismo promovido pelo MEC/Sesu em 1999. Boa parcela das escolas não dispunha de laboratórios para a prática jornalística, principalmente as federais. “Ninguém aprende a fazer reportagem ou entrevista fora do caso concreto, por devaneio ou imaginação. E fazendo-as, a rigor, ao vivo, delas não tirará fruto apreciável se as não vir publicadas”, ensina Carlos Rizzini.65

A Resolução 2/84 determinou às escolas publicar no mínimo oito edições do jornal-laboratório ao longo do ano letivo, com no mínimo oito páginas, em formato tablóide ou estandard e que corresponda às características do veículo jornalístico regional. Mesmo assim, a determinação do governo não é levada em consideração. Não muitas as escolas que mantém um jornal-laboratório em atividade permanente e com periodicidade regular. Entre elas, por exemplo, estão o Entrevista (UniSantos), Jornal do Campus (ECA/USP) e Rudge Ramos Jornal (Umesp).

Estipulou também que a redação laboratorial deveria ter uma máquina de escrever para cada aluno, no máximo 45 alunos por redação, um ramal telefônico por redação e um teletipo de agência de notícias. Requisitos que ainda prevalecem mas os esquipamentos foram substituídos pelo computador e pela Internet.

Considerada uma das melhores faculdades de Jornalismo do Brasil, a Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), fundada em 1967, serviu de exemplo para registrar a precariedade da infra-estrutura laboratorial brasileira. Depois de 16 anos de funcionamento, em 1983, o projeto laboratorial impresso foi colocado em prática, denominado Jornal do Campus. “Nesse intervalo, o aprendizado prático das noções teóricas de Jornalismo, disseminadas pelos professores, em sala de aula, se fez através de um outro projeto laboratorial estruturado de forma alternativa: a Agência Universitária de Notícias.”66

O aluno da ECA tem como atividade prática no 1º semestre do curso a produção e difusão do Mural do Campus. Nos dois semestres seguintes, ele se integra à equipe responsável pelo funcionamento da Agência Universitária de Notícias. Com noções básicas do fazer jornalístico, o aluno tem no 4º e 5º semestres o Jornal do Campus.67

A escola de Jornalismo não pode permanecer a reboque do mercado. Na verdade, ela deve ser o espaço de criação, da inovação e o banco de idéias. Hoje ainda se observa que há um descompasso entre a escola e a mídia. Enquanto a primeira não consegue estimilar no aluno o processo jornalístico, a segunda continua atraindo cada vez mais cedo o futuro jornalista. Esta falta de sintonia acaba prejudicando a formação cultural e acadêmica do estudante que ao enfrentar o cotidiano de uma redação, quase que exclusivamente participando da produção em massa, não tem tempo para reflexão. Por isso, foi implantado nos cursos de Comunicação Social o Projeto Experimental (PE), de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Educação (CFE), número 3, de 12 de abril de 1978.

Mas num estudo feito entre abril e junho de 1997, Samantha Viana Castelo Branco Rocha, mestranda em Jornalismo ECA/USP, trabalho apresentado na Intercom em Recife/98, conclui que a maioria das escolas desvaloriza a produção e pesquisa científica.68 O estudo teve como parâmetro três instituições: uma pública, uma particular e outra confessional. As selecionadas foram a Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP) e Pontíficia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP). Duas estão localizadas na capital paulista e outra no interior de São Paulo.

Uma das conclusões da autora é que as três escolas pesquisadas não cumpriram as normas estabelecidas pela Resolução do CFE número 2/84, no tocante aos Projetos Experimentais. “É necessário colocar que essa desobediência às normas do CFE é decorrente da ausência de fiscalização criteriosa e contínua dos cursos de Jornalismo pelo MEC, bem como da necessidade de atualização permanente dos currículos.”69 Ela também observou que a desinformação dos alunos do último ano é preocupante quando comprova-se que não há, nas escolas, um compromisso de divulgação sistemática e esclarecimento das normas do CFE e das próprias instituições. Outra dificuldade, mas levantada pela professora Sonia Aguiar, cinco anos antes do trabalho de Samantha, é a “falta de instrumental teórico para fundamentar as análises que os alunos se propõem a fazer.”70

É preocupante porque a cidade de São Paulo concentra 6 cursos de Jornalismo, já avaliados pelo Provão, formando anualmente mais 800 jornalistas, e é a região mais rica e desenvolvida do Brasil. Só as Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam) formam anualmente entre 300 e 320 jornalistas.

O trabalho de Samantha sobre Projetos Experimentais aponta os problemas e apresenta algumas sugestões e recomendações com o objetivo de melhorar a qualidade das pesquisas nas escolas de Jornalismo. Uma delas é a fiscalização criteriosa e contínua das condições laboratoriais e recursos técnicos dos cursos de Jornalismo pelo MEC. Uma outra é a reciclagem permanente do corpo docente.

As direções das escolas, principalmente as particulares, ainda estão atreladas aos antigos conceitos de formação profissional e de baixo custo operacional. A implantação dos Projetos Experimentais, com certeza, exige investimentos e requer professores titulados. O resultado do Programa de Avaliação das Condições de Oferta dos Cursos de Jornalismo, versão 1999, organizado pelo MEC, do qual participei, confirma as deficiências das faculdades.

2.11 – Processo ensino-aprendizagem

Eduardo Medistch, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, observa que “o homem não deve apenas ser colocado como o sujeito de seu ato de conhecimento, mas deste como momento da transformação do mundo”.71 Na verdade, o que também ocorre é que o ato de conhecimento é o momento de transformação do aprendiz. Ou seja, é a atividade prática exercida pelo futuro jornalista na academia. Ou melhor, neste caso expecífico, o ensino e aprendizado se integram e formam as atividades educativa e produtiva. É o pensar e o fazer.

O sentido do processo ensino-aprendizagem é a construção, modificação, organização, utilizados pelo aluno para analisar e interpretar o conhecimento acadêmico. “A vida universitária caracteriza-se pela descoberta, recepção, manuseio, introjeção e assimilação de informações novas, que possibilitam o desenvolvimento intelectual do indivíduo e oferecem recursos para o domínio – mesmo que parcial – de uma ou mais áreas do conhecimento.”72 Neste processo, destacam-se e se interagem, o aluno e o professor, cada um cumprindo o seu papel. E a disciplina? Ela é “um componente da estrutura curricular. Sua função é tratar com especificidade um determinado tema, corroborando o processo ensino-aprendizagem e pautando a ação do docente.”73 Na verdade, é na aula ou numa redação laboratorial que o professor expõe ao futuro jornalista uma visão mais completa possível de uma área do conhecimento. “O espaço compreende a relação pedagógica no processo educacional, portanto é físico, é intelectual, é cultural, é ideológico, é emocional, é conteudista, é sistêmico, é comunicativo.”74 Enfim, é o processo ensino-apredizagem, cuja ação teórica e prática deve apontar uma formação acadêmico-profissional consciente e consistente.

A aprendizagem significativa e participativa depende de uma motivação. Isto é, o futuro jornalista precisa tomar para si a vontade de aprender e colocar em prática o conhecimento recebido ao longo do curso. Para oferecer condições favoráveis ao processo ensino-aprendizagem e que ele se manifeste e prevaleça “é necessário que o professor proponha situações didáticas com objetivos e determinações claros, para que o aluno possa tomar decisões pensadas sobre o encaminhamento das suas atividades acadêmicas”.75

Não se deve acreditar que a ausência de erros na produção jornalística na escola é a manifestação do aprendizado e que a experiência foi um sucesso porque o aluno se mostrou eficiente ao repassar o conhecimento, mas sem interpretá-lo. Assim não ocorre o momento da transformação. “A superação do erro é resultado do processo de incorporação de novas idéias e de transformação das anteriores, de maneira a dar conta das contradições que se apresentam ao sujeito para que ele possa alcançar níveis superiores de conhecimento.”76

Agora, para que se estabeleça caminhos de mão-dupla entre a ação e reflexão que também compõem o processo ensino-aprendizagem, principalmente porque aprender é uma dura tarefa, na qual se convive o tempo inteiro com o que não é conhecido, é importante que exista uma relação de confiança e respeito mútuo entre professor e aluno. “Se, ao contrário, for uma experiência de fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a ousadia necessária se transformará em medo e ocorrerá a manifestação de desinteresse.”77

A viabilidade do processo ensino-aprendizagem não se resume ao esforço concentrado do aluno, da oralidade e organização do professor, dos recursos didático-pedagógicos, de bons laboratórios, se não houver um projeto educacional que valorize e contemple a interdisciplinariedade. Já os projetos práticos, além de um incentivo ao aluno, são uma peça importante no processo ensino-aprendizagem. Às vezes, podem transmitir muito mais do que uma aula puramente expositiva. O prático torna o aprendizado mais efetivo e o contato com o aluno é individualizado.

Mesmo com a implantação da LDB, a maioria dos professores de escolas particulares ainda é horista. Um exemplo são as Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam) da qual fui coordenador do curso de Jornalismo de 1998 a 1999. Em quatro anos, de 1996 a 1999, período em que fui professor responsável pelo jornal-laborátório, a escola formou aproximadamente 1200 jornalistas. Todos os professores do Departamento de Jornalismo eram e continuam sendo horistas e alguns com outras atividades como primeira instância, sem ser a academia.

Se o MEC, ou qualquer outra entidade acadêmica não fizer um acompanhamento corpo-a-corpo, dificilmente o inciso 3 do artigo 52, que determina que 1/3 do corpo docente deveria estar em regime de tempo integral, e muito menos o inciso 2 que recomenda 1/3 do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado serão cumpridos. Independente da LDB, os donos de escolas não deveriam pagar o professor por hora-aula. É um mecanismo que não exige do professor uma responsabilidade fora da sala de aula. O professor se sente desvalorizado e não se entusiasma em estudar e desenvolver projeto de pesquisa individual ou que envolva alunos. A iniciação científica nunca acontece, principalmente quando o professor horista tem uma outra fonte de renda, sem ser a escola. “A primeira constatação é de que os professores de Jornalismo não encaram o ensino como atividade econômica-prioritária. Devido à baixa remuneração que propiciam e as escassas recompensas que oferecem, os cursos de Jornalismo têm sofrido o assédio de biscateiros, isto é, de pessoas que, em troca de salários aviltantes, se dispõem a preencher as lacunas nos horários, ministrando quaisquer disciplinas.”78

Na avaliação do professor Wilson da Costa Bueno, ECA/USP, em um texto de 1978, o docente em regime de hora-aula nada faz a não ser ministrar aulas. Diante deste quadro que continua atual em muitas escolas particulares, o resultado é o individualismo. Ou seja, cada um faz o seu papel, reduz a interdisciplinariedade a zero e esvazia a integração com outros colegas. Outra deficiência apontada por Wilson da Costa Bueno é o despreparo do professor que, segundo ele, não tem condições de auto-financiar o seu aperfeiçoamento e a escola não dispõe de verba para pagar mais do que o tempo em que o professor permance na sala de aula.79

Independente da dedicação do professor ou do tempo disponível ao processo ensino-aprendizagem, o seu esforço não pode ser medido pelo número de horas-aula. “Ele precisa estudar e preparar conteúdos, elaborar materiais, corrigir trabalhos. Além disso, o magistério exige do professor um constante aperfeiçoamento, a compra de livros e periódicos diversos, participação em econtros e promoções culturais que representam custos financeiros e disponibilidade de tempo”, observa Iára de Almeida Bendati.80 Diante deste quadro, o professor é obrigado a se desdobrar para manter a qualidade das aulas.

Outro empecilho é que a maioria das disciplinas profissionalizantes ainda são ministradas por jornalistas que atuavam em redações. Esse fenômeno trouxe alguns problemas à formação de jornalista. Como ganhava muito mais como jornalista, o esforço profissional se concentrava na produção jornalística em detrimento da vida acadêmica. Por outro lado, sem uma estrutura bibliográfica e desvinculado da pesquisa científica, o professor da disciplina técnica, recrutado no meio profissional, não conseguia ir além da transmissão de sua própria experiência. Sonia Aguiar aponta que este profissional se comporta como chefe de reportagem irado ou como editor autoritário e cheio de técnica jornalística. Segundo Sonia, este jornalista-professor propõe uma pauta “para a próxima aula e depois devolve o texto todo rabiscado, dizendo iradamente que está uma porcaria, sem explicar por quê”.81

Ele é um profissional do jornalismo e não do magistério, consequentemente não tem compromisso com os ideais da categoria e muito menos com o aperfeiçoamento didático-pedagógico. “O professor de Jornalismo precisa ser um pesquisador do processo ensino-aprendizagem, pois o campo de conhecimento que pretende transmitir envolve problemas de pedagogia que só ele próprio, através da experiência, do estudo e da reflexão poderá resolver. Jornalismo é criatividade, ou seja, solução de situações não programadas, que exigem, de cada vez, respostas particulares.”82

É público que a graduação representa o início da acumulação de conhecimentos especializados e de reflexão teórica. Eles só serão consolidados pelo exercício profissional ou pelo aprofundamento dos estudos. Formalmente serão legitimados com a conclusão de uma tese de doutorado.83

Anualmente mais de cinco mil novos jornalistas saem dos cursos. São 97 escolas no território brasileiro que têm alunos no último ano de Jornalismo, dados do Provão 2000. E ainda são mais de 10 cursos que não têm alunos no último ano. A maioria dos alunos que chega ao ensino de Jornalismo tem dificuldades variadas, entre elas, a falta do hábito de leitura. “Ele foi habituado a reagir a estímulos que conduzem sua ação a assinalar com cruzadinhas uma resposta convincente, sem percorrer os caminhos necessários à aprendizagem.”84 O ideal seria o aluno com conhecimentos e habilidades que permitissem o seu preparo específico para o jornalismo.

Segundo Iára de Almeida Bendati, o aluno é dominado pela crença de que a escola tudo deve e ele nada precisa dar em troca. “Ele está disposto a receber idéias prontas, com ampla margem de visibilidade de uso imediato. Ele desgasta seu entusiasmo inicial pela coisa nova.”85 Ela cita também que o aluno se sente desmotivado pela disciplina teórica que não esteja diretamente vinculada à sua formação profissional. Revoltado com a realidade acadêmica e rebelde com a metodologia de ensino, o futuro jornalista se convence de que a prática não está fundamentada na teoria. “Idealista, romântico, ele prefere minguar na vivência cotidiana, apático ou rebelde, semestre a semestre, até conseguir – e sempre consegue – o seu diploma.”86 O aluno não admite a importância do seu papel no sucesso do processo ensino-aprendizagem e transfere para a escola, professor, currículo e até mesmo à sociedade, os motivos de suas ineficiências.

O aluno tem de ser atuante, dinâmico, resistente às barreiras da profissão. Mas não é isso que acontece na realidade. Há uma outra face que preocupa os professores empenhados na capacidade reflexiva e técnica do jornalista: a visão dos profissionais do mercado. “O que é grave é a falta de memória e de informação geral. Por aqui passaram pessoas que não sabiam o que foi o AI-5”, espanta-se Fernando Molina, da Folha de S. Paulo, no Rio.87 Evaldo Costa, do Jornal do Commercio, de Recife, aponta “a falta de clareza nos textos e os erros ortográficos.”88

O professor Bernardo Kucinsky, ECA/USP, diz que a escola não pode preparar o aluno somente para o mercado e nem criticá-lo. “Nós devemos criar um aluno que estabeleça o que eu chamo de um conflito produtivo com o mercado, isto é, se ele não aceita o mercado como é, deve ter condições para mudá-lo.”89 Para o professor José Marques de Melo, o aluno que desejar ter uma formação mais abrangente deveria fazer mais cursos fora da escola de Jornalismo. “Se ele quer ser repórter político, por que não fazer um curso de política na Faculdade de Ciências Sociais?”90

Diante da impasse e a crise constante das escolas de Jornalismo e com a pretensão de “moldar” o futuro jornalista ou o recém-formado à realidade empresarial, os principais jornais brasileiros criaram cursos complementares. Entre eles estão o jornal O Estado de S. Paulo que criou o Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado e seu coordenador Francisco Ornellas reconhece que é preciso propor alternativas e não apenas combater a qualidade da escola.91 Nesta mesma linha e aberto aos jornalistas da casa, o jornal gaúcho Zero Hora tem o seu curso de jornalismo aplicado.92 A Editora Abril mantém o Curso Abril de Extensão em Jornalismo e a Folha de S. Paulo tem o projeto Trainee.

2.12 – Provão e qualidade

O Ministério da Educação e Desporto (MEC) com o objetivo de certificar o que o aluno aprendeu e verificar a qualidade da biblioteca, dos professores, laboratórios e equipamentos e projeto pedagógico criou o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior e, implantou, em 1996, o Exame Nacional de Cursos, o Provão. “O Provão oferece um indicador importante sobre a formação do aluno. Mas, para avaliar com precisão a universidade, usamos outros instrumentos compatíveis com o grande número de atividades desenvolvidas por ela”, comenta o secretário de Ensino Superior do Mec, Abílio Baeta Neves.93

Em 1998, as escolas de Jornalismo também participaram do Provão. O objetivo era oferecer subsídios para a melhoria de qualidade dos cursos de graduação em Jornalismo no Brasil, mas a iniciativa do MEC gerou polêmica e protestos de alunos contrários ao critério de avaliação. Acreditando na validade do Provão no sentido de elevar a qualidade do ensino superior brasileiro, o ministro da Educação, Paulo Renato, faz a seguinte análise: “Independente da profissão, todo cidadão precisa ter um nível geral de conhecimento e condições para ampliar seus horizontes, seu campo de ação na nova concepção mundial do exercício profissional.”94

O Provão tem como características forçar as escolas e reavaliar o currículo. Neste aspecto, o professor de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, Victor Gentilli, afirma que a “esquizofrenia dos cursos terá que ser quebrada na marra”.95 Ele argumenta que as escolas ensinam teoria da comunicação e não de jornalismo. Sendo avaliada regularmente, segundo Victor Gentilli, “a universidade não perde sua função essencial: a crítica”.96

O coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp (Labjor), Carlos Vogt, entende que o Provão propicia ao futuro jornalista cenários favoráveis para reflexão crítica e a uma revisão e qualificação dos cursos de Jornalismo, mas faz um alerta: “Isso é bom, porque cria o hábito da avaliação contínua e sistemática do nosso ensino superior; pode ser ruim se, desaparecendo a novidade, restar apenas a rotina de mais uma prova que, embora em ão, fique confinada somente ao exercício anual de um teste de capacidade profissional sem agregar outras modalidades mais amplas de avaliação institucional.”97

O jornalista e coordenador do Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado de O Estado de S. Paulo, Francisco Ornellas, alega que o ministro Paulo Renato tem outros métodos de avaliação. Ele cita exemplos inglês, francês, alemão, onde não há exigência para o exercício da profissão e os sindicatos da categoria mantém programas de treinamento. Segundo Ornellas, nada impediu que o número de detentores de diploma de Jornalismo crescesse nos últimos 30 anos.98

Na mesma linha de raciocínio de Ornellas está Luiz Paulo Horta, coordenador de treinamento do jornal O Globo. Ele lembra que a Oxford, universidade inglesa, e Harvard, universidade americana, não construiram os seus prestígios por acaso e, por isso, fazem o próprio controle de qualidade. “O problema, aqui, é um pouco mais complicado, a partir da definição (se é que existe) do que seja um bom ensino de jornalismo…Não se consegue ver muito bem, examinando os currículos, em que é que um desses cursos se diferencia do outro; em que é que eles se habilitam, realmente, a oferecer profissionais bem formados.”99 Luiz Paulo Horta diz que é preciso estabelecer padrões mínimos de qualidade.

Para o professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Elson Faxina, o Provão trouxe a preocupação com a qualidade de ensino nas universidades. “Antes, elas eram uma grande caixa fechada, um verdadeiro feudo, que agora passa a ser exposto ao público.”100 Nilson Lage, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e membro da comissão de Jornalismo que estabeleceu parâmetros e diretrizes para a prova de Jornalismo, é céptico quanto ao Provão como salvador do ensino de Jornalismo. “Definiria o Provão como um sistema de avaliação que só terá sentido se complementado com outros critérios, como a titulação de professores, contratação com tempo corrido, instalação de laboratórios e autonomia acadêmica.”101

Já o também professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Eduardo Meditsch, opõe-se ao Provão como instrumento de avaliação dos cursos de Jornalismo. No seu entender, a categoria dos jornalistas, os empregadores e a sociedade civil deveriam ser os avaliadores porque têm independência e real interesse na qualidade da formação profissional. “A avaliação pode ser um instrumento extraordinário para a melhoria deste ensino, mas também pode ser apenas um argumento falacioso para o partido eventualmente no poder impor o seu programa de governo à sociedade. Vai depender da grandeza e da competência de quem a conduzir.”102

O coordenador geral da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos), Vitor Fraga, diz que é preciso fazer uma discussão ampla do papel do ensino de comunicação, dos projetos pedagógicos dos cursos, que, segundo ele, muitos deles são apenas um amontoado de disciplinas desconexas. “Não adianta fazer um ranking das escolas e continuar permitindo a abertura indiscriminada de cursos que desde o início não têm a menor condição de estar funcionando.”103 Vitor Fraga afirma ainda que a entidade quer é uma avaliação permanente e que respeite as diferenças regionais.

2.14 –Condições de Oferta

Visando diagnosticar a qualificação do corpo docente, organização didático-pedagógico e instalações dos cursos de Jornalismo, a Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC) implantou o programa de Avaliação das Condições de Oferta. A primeira avaliação ocorreu entre outubro e novembro de 1999 e fevereiro de 2000. A segunda estava prevista para o segundo semestre de 2001. Professores de Jornalismo de várias escolas foram os avaliadores. Convidados da Sesu, eles foram treinados para o exercício de avaliador. A comissão era formada por dois docentes que não pertenciam à escola que seria avaliada e, na maioria das vezes, não eram da mesma cidade ou Estado.

Em 1999 foram avaliadas 86 escolas de Jornalismo e em 2000 três, mas não foram computadas no relatório final da Sesu de 25 de janeiro de 2001. O conjunto de resultados, fruto de uma investigação feita por comissões de professores, não é plausível com as propostas de Diretrizes Curriculares e a maioria das escolas não atendeu às determinações da Resolução 2/84 que pede, por exemplo, laboratórios equipados para a produção e difusão de veículos laboratoriais. O três quadros apresentados neste tópico (Organização Didático-Pedagógica, Corpo Docente e Instalações) comprovam que o ensino de Jornalismo no Brasil nunca recebeu a merecida atenção por parte do governo e muito menos pelos donos das escolas.

O que chama mais atenção dos três quadros são os números do quadro estatítico Instalações. 70.9% das escolas tiraram Condições Insuficientes (CI); e 63.4% das escolas particulares (52) não tinham instalações ou não eram adequadas ao curso de Jornalismo. É preocupante porque não há teoria sem prática. Em verdade, o aluno ganha conhecimento mas não o transforma em prática num veículo laboratorial. Nenhuma escola tirou nota Condições Muito Boas (CMB) nesse item. O que deveria ser uma obrigação passou a ser uma virtude. Os requisitos que compõem as Instalações são pertinentes ao projeto acadêmico e ao exercício de Jornalismo: número e adequação de salas de aula, ventilação, iluminação, equipamentos didáticos, acesso e acústica, salas para professores, um computador por aluno em sala para disciplinas técnicas, estúdio de rádio e televisão, biblioteca, acesso à Internet e outros.

Os números da Organização Didático-Pedagógica também não são animadores. 42 escolas tiram nota CI, representando 48.8% do total. Índice alto se considerarmos os itens observados: grade curricular, interdisciplinaridade, integração entre teoria e prática, disciplinas teóricas vinculadas ao Jornalismo, correspondência do currículo às habilidades e ao perfil profissional, núcleo de apoio, fomento e acompanhamento da pesquisa, mínimo de 10% dos professores envolvidos em projetos de pesquisa, produção científica e técnica, produtos jornalísticos gráficos de circulação periódica. A única escola particular com CMB foi uma confessional: Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Já o Corpo Docente está mais homogêneo. Há um equilíbrio entre as escolas, prevalecendo as Condições Boas (CB), representando 44.1% do total. O professor foi avaliado obedecendo às seguintes qualificações: dedicação ao curso, titulação acadêmica de disciplinas não técnicas e disciplinas técnicas (stricto sensu), formação específica, disciplinas ministradas em pós-graduação, produção científica, especialização completa, critérios para progressão do docente, qualificação e regime de trabalho do coordenador do curso de Jornalismo, atividade acadêmica extra-classe, programa de capacitação do docente, experiência profissional como jornalista, produção jornalística, experiência de magistério superior e relação média aluno/docente.

Os dados e números deste tópico foram retirados do site WWW..Br.

Organização Didático-Pedagógica

| |CMB |CB |CR |CI |SC |Total |

|Federal |2 |5 |4 |13 |0 |24 |

|Estadual |0 |1 |2 |3 |1 |7 |

|Municipal |0 |1 |2 |0 |0 |3 |

|Privada |1* |13 |12 |26 |0 |52 |

|Total |3 |20 |20 |42 |1 |86 |

Corpo Docente

| |CMB |CB |CR |CI |SC |Total |

|Federal |4 |15 |2 |3 |0 |24 |

|Estadual |1 |3 |1 |1 |1 |7 |

|Municipal |0 |2 |1 |0 |0 |3 |

|Privada |2 |18 |22 |10 |0 |52 |

|Total |7 |38 |26 |14 |1 |86 |

Instalações

| |CMB |CB |CR |CI |SC |Total |

|Federal |0 |1 |1 |22 |0 |24 |

|Estadual |0 |1 |1 |4 |1 |7 |

|Municipal |0 |1 |0 |2 |0 |3 |

|Privada |0 |10 |9 |33 |0 |52 |

|Total |0 |13 |11 |61 |1 |86 |

Legenda: Condições Muito Boas (CMB), Condições Boas (CB), Condições Regulares (CR), Condições Insuficientes (CI) e Sem Conceito (SC)

* Escola confessional

2.14 – Escola Itinerante da Fenaj

Com a proposta de colaborar também com a melhoria da qualidade do ensino de Jornalismo e propiciar ao jornalista profissional um aprofundamento teórico de sua prática e a sua reciclagem, a Secretaria de Formação da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) criou a Escola Itinerante de Jornalismo. O curso é aplicado em estados ou cidades onde não têm escola de Jornalismo. “Teoricamente a proposta da Escola é a de desenvolver uma metodologia de trabalho que possibilite ao jornalista assumir-se como sujeito de sua formação, estabelecendo uma relação direta entre a teoria e prática, bem como uma reflexão do seu papel enquanto profissional e cidadão.”104

De novembro a dezembro de 1997, foram ministrados quatro cursos nos Estados do Acre, Rondônia, Amapá e Tocantins, todos na região Norte do País. Eles foram escolhidos porque não tinham escola de Jornalismo. Cada curso teve três módulos e cada um durou uma semana. No primeiro foram apresentadas e discutidas a principais correntes da Teoria da Comunicação, as novas tendências do jornalismo e oficinas de texto. No segundo os participantes discutiram os conceitos sobre os meios de comunicação de massa e as peculiaridades; desafios e limitações do jornalismo impresso foram transformados em pauta do dia. O último módulo foi sobre as novas tecnologias, novas mídias, novas rede de informação e suas influências no exercício profissional do jornalista. “Dessa forma, além da qualificação profissional propriamente dita e apontada como uma demanda da categoria, a Escola tem como objetivo provocar as universidades locais para a reflexão sobre a formação profissional do jornalista, a partir da perspectiva de um compromisso essencial com a sociedade”, disse a professora Rosa Maria Cardoso Dalla Costa que ministrou aulas em Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO).105

Para realização do curso são feitos convênios com sindicatos da categoria de jornalistas, universidades, empresas de comunicação.

2.15 – Mercado seletivo

O avanço tecnológico, o crescimento da mão-de-obra qualificada, o índice de oferta inferior ao número de profissionais que deixam anualmente as escolas, são indicadores que tornam o mercado aberto a uma renovação constante mas também mais seletivo e exigente. O que caracteriza que a disputa por uma vaga em uma redação é bem mais acirrada do que há 20 anos, quando o Brasil se sustentava numa política informativa controlada pelo o Estado. Um outro fator que contribui para a escassez de vagas foi a informatização das redações, embora a quantidade de jornais seja superior aos anos 80. O computador ajudou na agilidade da produção e difusão do jornal mas extinguiu funções e cargos, como também diminuiu o número de repórteres na redação porque a Internet facilitou o levantamento de dados e tornou a comunicação mais ágil e eficiente.

Então, beneficiado pela abundância de jornalistas, o mercado ficou restrito à mão-de-obra especializada e qualificada, principalmente nos grandes centros urbanos. É o mercado que vai testar o conhecimento e capacidade adquirida pelo recém-formado na academia. “E esse mercado não é o mar de rosas esperado e a competição torna-se acirrada, ainda mais para o jovem que, além da falta de experiência, tem contra toda uma série de características como o despreparo psicológico e a urgência em se sentir atuante, a qualquer preço.”106

Outro complicador na vida do recém-formado é que o mercado, em alguns casos, privilegia a quantidade e não a qualidade porque o custo é menor. Receita que é muito bem aplicada em jornais de bairros das metrópolis, em jornais do interior dos principais estados e em jornais controlados por políticos e empresários de estados do Norte e Nordeste brasileiro. Este termômetro salarial desqualificado serve para desprestigiar a função que a escola de Jornalismo exerce na formação do profissional.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) listou em 1997, 400 jornais diários e 892 com periodicidade variada. Já a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) catalogou mais de 300 títulos, distribuidos em 39 editoras (a Abril com 57, e a Globo com 41, dominam o mercado). Há cerca de 150 gêneros. Só as dirigidas ao público feminino são 57 títulos. É o segmento que apresenta maior crescimento nos últimos cinco anos.107

Dados de 1997, os mais atualizados, da Secretaria de Políticas de Emprego e Salário (SPES), do Ministério do Trabalho, registram que existem 19.473 jornalistas na ativa. Deste total 7.753 estão nas redações de jornais, 6.115 nos setores extra-redação (para o Ministério do Trabalho são profissionais que trabalham em assessorias de Imprensa), 1.030 em revistas, 523 em agências de notícias, 1.335 em emissoras de rádio e 2.717 em televisão. Um terço dos jornalistas trabalha nas assessorias de Imprensa. E 30,06% dos jornalistas com carteira assinada trabalham no Estado de São Paulo, representando 5.853 profissionais.

Já em Brasília, 70% dos jornalistas trabalham em assessorias. O que é normal pela peculiaridade da capital brasileira. No Rio, por exemplo, de acordo com dados de 1997 do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, dos cinco mil associados 3 mil são assessores de Imprensa.108

Observa-se que a criação de escolas de Jornalismo indiscriminadamente e as constantes mudanças na grade curricular contribuiram para a descaracterização da formação do aluno. Por outro lado, trouxeram vantagem financeira para os donos das escolas particulares. “A possibilidade de reunir-se um número elevado de alunos, de diferentes habilitações numa mesma classe e ter à frente um único professor, acabou por se tornar uma prática cultuada em grande parte das escolas de Comunicação Social, até os nossos dias”, disse Maria Elisabete Laurenti.109 Os prejudicados são o professorado e o alunado. O primeiro porque acaba não atendendo o futuro jornalista com a devida e merecida atenção e não faz um trabalho coletivo como é o Jornalismo. O segundo, que mantém a escola pagando a mensalidade, deixa de aplicar o domínio de linguagens específicas da profissão. Ou seja, a teoria e a prática não interagem no exercício acadêmico.

Desde o funcionamento do primeiro curso de Jornalismo, as mudanças sugeridas, os estudos realizados, todo o esforço despendido para a formulação de uma proposta aceitável e viável às características tupiniquins, vem sendo mais infrutíferos do que frutíferos. Cada vez mais o governo adota medidas paliativas na condução do problema crônico que é formular um currículo transparente e possível de realização. “E enquanto não vencemos as dificuldades encontradas, representantes de outras áreas chegam a lançar idéias sobre a eliminação das faculdades de Comunicação, que passariam a se constituir em extensões ou cursos de especialização, onde os graduados seriam transformados em comunicadores”, preocupa-se Iára de Almeida Bendati.110

Este impasse acaba gerando uma instabilidade acadêmica e desconfiança no mercado, principalmente porque o currículo não é estável e muito menos a escola é capaz ou está em condições de receber e atender o aluno despreparado para a vida acadêmica.

Mas é difícil prever qual é o curso de Jornalismo ideal ou o mais equilibrado se continuar a massificação no preparo profissional com escolas que aumentam o número de vagas sem ser dotadas de equipamentos, laboratórios, professores titulados. Neste turbilhão de indefinições, existe uma corrente que defende capacitar o aluno ao domínio das técnicas das mensagens jornalísticas, outra é favorável a formar profissional vinculado ao aspecto científico e com conhecimento humanístico. “E, para isso, o estudante deverá aprender a conviver com o pensamento teórico, estabelecendo as relações interdisciplinares, que estão na raiz de todo o fato social. Que seja capaz de perceber e de especular sobre acontecimentos aparentemente banais, mas que não são resultado do acaso e que, portanto, merecem um tratamento menos displicente do que em geral recebem”, comenta Iára de Almeida Bendati.111

Os pioneiros cursos de Jornalismo, ao contrário dos Estados Unidos e Europa, funcionavam como instâncias de faculdades o que gerou a ausência de tradição interdisciplinar. “Isso inviabilizou a circulação dos estudantes pelas áreas conexas, estreitando a grade curricular em função das disponibilidades existentes”, lembra José Marques de Melo.112

Sendo um apêndice das faculdades de Filosofia, os cursos de Jornalismo ficaram relegados a segundo plano até 1962 quando o Conselho Federal de Educação aprovou o Parecer 323, criando o currículo mínimo, ou seja, ganharam autonomia.113 Este período de dependência administrativa provocou a dicotomia teoria versus prática. Para dificultar mais o ensino de Jornalismo, as disciplinas eram ministradas por professores de Direito, Filosofia, Sociologia e por alguns profissionais do mercado. Eram poucos os professores de Jornalismo. Talvez esta seja uma das razões da atual situação do ensino de Jornalismo: qual é o seu papel? qual é o seu caminho? “A função da universidade (escola de Jornalismo) não é servir aos empresários de comunicação e sim formar cidadãos capazes de ter uma ampla e crítica visão do mundo”, responde o professor Sérgio Capareli.114

Na mesma linha de raciocínio está a professora Sonia Aguiar quando diz que cabe à escola “fornecer aos futuros jornalistas a base de conhecimentos necessária à compreensão da realidade brasileira, à avaliação das informações que irão transmitir e ao conhecimento das diferentes formas de tratamento dos fatos”.115

É inegável que existe há anos a divergência entre mercado e escola. O MEC, controlador e administrador dos cursos de Jornalismo, na tentativa de evitar um caos maior na formação de jornalistas, adotou medidas que iam na contra-mão de um curso voltado ao campo do saber e do conhecimento. Em contrapartida, os donos das escolas particulares, o principal alvo das críticas, ficaram à espera de uma decisão governamental, às vezes, por omissão ou para não se comprometeram. Já o mercado, cada vez mais exigente, se articulou e criou programas de treinamento e aperfeiçoamento para peneirar os melhores graduandos ou recém-formados. “Reconhecemos que temos problemas e que eles devem ser superados através do diálogo universidade-escola”, propõe José Marques Melo.116

Quanto ao currículo, o professor José Marques de Melo entende que ele deva atender às necessidades local e regional em que os cursos estão situados. Ele justifica dizendo que é na cidade onde fica o curso que os futuros jornalistas vão buscar o primeiro emprego. José Marques de Melo, porém, faz um alerta aos professores que precisam manter-se sintonizados com “as tendências nacionais/globais, desprovincianizando a formação profissional, inclusive porque é legítima a aspiração dos jovens profissionais em galgar postos de trabalho nas empresas que encabeçam as redes midiáticas às quais estão vinculados os meios locais/regionais”.117 O professor propõe que a escola faça um currículo cujo universo é a comunidade em que está localizada mas sem se asfastar do Jornalismo universal e das inovações tecnológicas, das transformações sociais e mudanças econômicas. Ele adverte ainda que os cursos não precisam ter longa duração. “Da mesma forma, convém pensar em estratégias de interconexão entre graduação e pós-graduação, entre graduação e extensão, eliminando obstáculos pedagogicamente inconsistentes.”118

2.16 – Notas e referências bibliográficas

1 – NUZZI, Erasmo de Freitas. In: Revista acadêmica do programa de pós-graduação da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. São Paulo, Cásper Líbero, ano 1, página 8, 1998.

2 – RAMADAN, Nancy Nuyen Ali. In: Revista acadêmica do programa de pós-graduação da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. São Paulo, Cásper Líbero, ano 1, página 4, 1998.

3 – GENTILI, Victor. Observatório da imprensa – jornal dos debates. São Paulo, 20 de fevereiro de 1998, página 4.

4 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

5 – MELO, José Marques de. O ensino de jornalismo no Brasil. In: O ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de Estudos de Jornalismo. São Paulo, ECA/USP, 1972

6 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

7 – Cadernos de Jornalismo nº 3. A queixa dos nossos professores: alunos, salários e maus colegas. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro/78.

8 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

9 – SILVA, Luís Custódio da. Órgãos laboratoriais: da resistência aos novos caminhos experimentais. In: Ensino de comunicação no Brasil: impasses e desafios. (org.) José Marques de Melo. São Paulo, ECA/USP, 1987.

10 – BELTRÃO, Luiz. Estrutura curricular dos cursos de jornalismo no Brasil. In: O Ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de estudos de Jornalismo. São Paulo, ECA/USP, 1972.

11 – LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. A Política educacional brasileira e os currículos de comunicação. In: Ideologia e poder no ensino de comunicação. São Paulo, Cortez e Moraes, 1979.

12 – MELO, José Marques de. Poder, universidade e escolas de comunicação. In: Ideologia e poder no ensino de comunicação. São Paulo, Cortez e Moraes, 1979.

13 – Boletim da Intercom nº37. A grande polêmica do ensino de comunicação. São Paulo, Intercom, maio/junho de 1982.

14 – LAGE, Nilson. Pela formação universitária específica dos jornalistas. Palestra ministrada no 2º Encontro Latino-americano de Professores de Jornalismo, realizado em São Paulo na Cásper Líbero, em agosto de 1999.

15 – Agência Facos. Juíza decreta fim da exigência do diploma de jornalismo. Santos, Unisantos, edição 27, de 2 de novembro de 2001.

16 – Agência Facos. Juíza decreta fim da exigência do diploma de jornalismo. Santos, Unisantos, edição 27, de 2 de novembro de 2001.

17 – Agência Facos. Sindicato repudia decisão e promete ir à Justiça. Santos, Unisantos, edição 27, de 2 de novembro de 2001.

18 – RIZZINI, Carlos. O ensino do jornalismo. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1953.

19 – MEDINA, Sinval Freitas. O Ensino de Jornalismo: revisão crítica. In: Cadernos de Jornalismo e Editoração, nº8. São Paulo, ECA/USP, junho de 1972.

20 – . 06/04/98.

21 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

22 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

23 – RIZZINI, Carlos. O ensino do jornalismo. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1953.

24 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

25 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

26 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

27 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

28 – Cadernos de Jornalismo nº 3. Aqui se ensina quem vai ser submisso e quem vai explorar. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

29 – Cadernos de Jornalismo nº 3. Aqui se ensina quem vai ser submisso e quem vai explorar. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

30 – Cadernos de Jornalismo nº 3. Aqui se ensina quem vai ser submisso e quem vai explorar. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

31 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

32 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

33 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

34 – BELTRÃO, Luiz. Estrutura curricular dos cursos de jornalismo no Brasil. In: O Ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de Estudos de Jornalismo. São Paulo, ECA/USP, 1972.

35 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de 70. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998.

36 – SÁ, Adísia. Corpo docente para os cursos de Jornalismo. In: O Ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de Estudos de Jornalismo. São Paulo, ECA/USP, 1972.

37 – BELTRÃO, Luiz. Estrutura curricular dos cursos de jornalismo no Brasil. In: O Ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de estudos de Jornalismo. São Paulo, ECA/USP, 1972.

38 – BELTRÃO, Luiz. Estrutura curricular dos cursos de jornalismo no Brasil. In: O Ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de estudos de Jornalismo. São Paulo, ECA/USP, 1972

39 – Cadernos de Jornalismo nº 3. De cima para baixo, mais um pacote: aqui está o novo currículo. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

40 – Cadernos de Jornalismo nº 3. Currículos não mudam estrutura bancária da universidade brasileira. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

41 – MARASCHIN, Jaci Correia. O novo currículo mínimo de comunicação. In: Cadernos de Comunicação Proal, nº2. São Paulo, Editora Proal, 1977.

42 – Cadernos de Jornalismo nº 3. Currículos não mudam estrutura bancária da universidade brasileira. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

43 – BUENO, Wilson da Costa. Seis propostas para ativar a reação contra censura e alienação. In: Cadernos de Jornalismo nº 3. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

44 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

45 – MELO, José Marques de. Currículo mínimo de comunicação: o soneto e as emendas. In: Boletim da Intercom, nº46. São Paulo, Intercom, janeiro/fevereiro de 1984.

46 – MELO, José Marques de. Currículo mínimo de comunicação: o soneto e as emendas. In: Boletim da Intercom, nº46. São Paulo, Intercom, janeiro/fevereiro de 1984.

47 – MELO, José Marques de. O ensino do Jornalismo na batalha decisiva pela qualidade. São Paulo, Intercom 52: Revista Brasileira da Comunicação, janeiro a junho/85.

48 – MELO, José Marques de. O ensino do Jornalismo na batalha decisiva pela qualidade. São Paulo, Intercom 52: Revista Brasileira da Comunicação, janeiro a junho/85.

49 – MELO, José Marques de. O ensino do Jornalismo na batalha decisiva pela qualidade. São Paulo, Intercom 52: Revista Brasileira da Comunicação, janeiro a junho/85.

50 – MELO, José Marques de. O ensino do Jornalismo na batalha decisiva pela qualidade. São Paulo, Intercom 52, Revista Brasileira da Comunicação, janeiro a junho/85.

51 – FREITAG, Bárbara. Educação. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, nº3, junho de 1977.

52 – CALDAS, Graça e CAPRINO, Mônica. Formação do jornalista e reforma curricular: a experiência da Metodista. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, nº2. São Paulo, Intercom, julho/dezembro de 2000.

53 – CALDAS, Graça e CAPRINO, Mônica. Formação do jornalista e reforma curricular: a experiência da Metodista. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, nº2. São Paulo, Intercom, julho/dezembro de 2000.

54 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

55 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

56 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

57 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

58 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

59 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

60 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

61 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

62 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

63 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

64 – Diretrizes Curriculares da áres de Comunicação e suas habilitações. WWW..Br.

65 – RIZZINI, Carlos. O ensino do jornalismo. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1953.

66 – MELO, José Marques de. Laboratórios de jornalismo impresso. In: Revista de Comunicação, nº 19. São Paulo, Agora Comunicação Integrada, 1969.

67 – MELO, José Marques de. Laboratórios de jornalismo impresso. In: Revista de Comunicação, nº 19. São Paulo, Agora Comunicação Integrada, 1969.

68 – BRANCO ROCHA, Samantha Viana Castelo. Os desafios dos projetos experimentais em Jornalismo. Intercom, Recife/98.

69 – BRANCO ROCHA, Samantha Viana Castelo. Os desafios dos projetos experimentais em Jornalismo. Intercom, Recife/98.

70 – AGUIAR, Sonia. A peleja dos sofistas. In: Revista Imprensa, nº57. São Paulo, Feeling, maio de 1992.

71 – MEDITSCH, Eduardo. O conhecimento do jornalismo. Florianópolis. Editora da UFSC, 1992.

72 – CARDOSO, Onésimo de Oliveira. (org.) Comunicação: Análise da disciplina Comunicação Comparada. Série Comunicação Educativa, 12. São Bernardo do Campo, Metodista, 1996.

73 – CARDOSO, Onésimo de Oliveira. (org.) Comunicação: Análise da disciplina Comunicação Comparada. Série Comunicação Educativa, 12. São Bernardo do Campo, Metodista, 1996.

74 – CARDOSO, Onésimo de Oliveira. (org.) Comunicação: Análise da disciplina Comunicação Comparada. Série Comunicação Educativa, 12. São Bernardo do Campo, Metodista, 1996.

75 – Síntese dos parâmetros curriculares nacionais. São Paulo, Editora Didática Paulista, 2000.

76 – Síntese dos parâmetros curriculares nacionais. São Paulo, Editora Didática Paulista, 2000.

77 – Síntese dos parâmetros curriculares nacionais. São Paulo, Editora Didática Paulista, 2000.

78 – BUENO, Wilson da Costa. Seis propostas para ativar reação contra censura e alienação. In: Cadernos de Jornalismo nº 3. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

79 – BUENO, Wilson da Costa. Seis propostas para ativar reação contra censura e alienação. In: Cadernos de Jornalismo nº 3. Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, setembro de 1978.

80 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

81 – AGUIAR, Sonia. A peleja dos sofistas. In: Revista Imprensa, nº57. São Paulo, Feeling, maio de 1992.

82 – MEDINA, Sinval Freitas. O Ensino de Jornalismo: revisão crítica. In: Cadernos de Jornalismo e Editoração, nº8. São Paulo, ECA/USP, junho de 1972.

83 – AGUIAR, Sonia. A peleja dos sofistas. In: Revista Imprensa, nº57. São Paulo, Feeling, maio de 1992.

84 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

85 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

86 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

87 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

88 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

89 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

90 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

91 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

92 – Revista Imprensa, nº37. O círculo de giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

93 – Revista do Provão, Brasília, ano 3, número 2, 1998.

94 – Revista do Provão, Brasília, ano 3, número 2, 1998.

95 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

96 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

97 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

98 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

99 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

100 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

101 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

102 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

103 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

104 – DALLA COSTA, Rosa Maria Cardoso. Escola itinerante de jornalismo da Fenaj. Artigo apresentado pela professora na Intercom de 1998, realizada em Recife.

105 – DALLA COSTA, Rosa Maria Cardoso. Escola itinerante de jornalismo da Fenaj. Artigo apresentado pela professora na Intercom de 1998, realizada em Recife.

106 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

107 – Revista do Provão. Brasília, ano 3, número 2, 1998.

108 – Observatório da Imprensa. Jornal de Debates, 26/2/98.

109 – LAURENTI, Maria Elisabete. Do jornalismo à comunicação social: estudo da criação da rede de escolas paulistas na década de sessenta. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade Anhembi Morumbi, 1998

110 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

111 – BENDATI, Iára de Almeida. Teoria. In: Ensino da Comunicação. Porto Alegre, Revista Abepec, junho de 1977.

112 – MELO, José Marques de. Ensino de graduação em Comunicação Social: paradigmas curriculares. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, Intercom. janeiro/junho de 1998.

113 – D’AZEVEDO, Marcello Casado. Estrutura curricular: formação fenomenológica. In: O ensino de Jornalismo: documentos da 4ª Semana de Estudos de Jornalismo. (org.) José Marques de Melo. São Paulo, ECA/USP, 1972.

114 – Revista Imprensa, nº37. O círculo do giz. São Paulo, Feeling, setembro/90.

115 – AGUIAR, Sonia. A peleja dos sofistas. In: Revista Imprensa, nº57. São Paulo, Feeling, maio de 1992.

116 – MELO, José Marques de. In: O Círculo do giz. São Paulo, Revista Imprensa, nº37, Feeling, setembro de 1990.

117 – MELO, José Marques de. Ensino de graduação em Comunicação Social: paradigmas curriculares. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, Intercom, janeiro/junho de 1998.

118 – MELO, José Marques de. Ensino de graduação em Comunicação Social: paradigmas curriculares. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, Intercom. janeiro/junho de 1998.

3

Jornal-laboratório

O papel que o jornal-laboratório desempenha na formação do futuro jornalista é de suma importância numa sociedade democrática. Se o estudante assimilar que o conteúdo do jornal-laboratório não pode confundir o leitor ao ponto de levá-lo a conclusões distorcidas, omitir dados relevantes e muito menos enganar a si mesmo, terá dado um grande passo na sua formação. É oportuno enfatizar que a preocupação na formação de um profissional responsável, crítico e ético deve ser o fio que conduz os critérios de produção e difusão do jornal-laboratório. A linguagem não é a mesma do jornal-empresa que se direciona mais ao real imediato, ou seja, ao fato acontecido em menos de 24 horas, a não ser que tenha ritmo de jornal diário.

No Brasil, o factual ainda está longe de ser aplicado no Jornalismo produzido pelo estudante. É preciso formar uma estrutura organizacional, por exemplo, criar uma Empresa Junior que possibilite ter um jornal-laboratório diário. A linguagem do jornal-laboratório não pode ser meramente informativa já que sua periodicidade vai de semanal a mensal, na quase totalidade dos casos.

Por outro lado, o estudante deve entender que o discurso jornalístico precisa se balizar na checagem do fato para comprovar a sua veracidade. O Jornalismo laboratorial jamais pode cometer inverdades. É atributo do Jornalismo divulgar o que é de interesse público e não de interesse da empresa. É um complicador a mais para o estudante que sonha trabalhar em um grande jornal, independente da sua linha editorial. Mas a escola não pode só se preocupar com o que o mercado oferece ou tem a oferecer ao futuro jornalista e muito menos negligenciar o conhecimento científico. A escola deve também se ater aos princípios básicos que regem o Jornalismo, aquele fiel ao leitor e preciso no seu discurso. Deve formar um profissional sabedor e conhecedor de que fazer Jornalismo é assumir um compromisso com a comunidade, com os direitos éticos e na busca incessante da democracia. O estudante deve desvincular (sempre) o Jornalismo do negócio. No Brasil, não é uma tarefa fácil a ser cumprida pelas escolas, porque, segundo o professor Manuel Carlos Chaparro, “o que temos por aqui, em larga escala, mandando e desmandando, são editores testas-de-ferro, apaixonados pelo poder que têm de controlar repórteres, em relação aos quais agem, frequentemente, como censores e adulteradores de textos”.1

É na escola que o estudante tem a oportunidade de analisar e elaborar críticas à mídia distante da pressão empresarial e profissional e propor alternativas. A academia é o local de troca de idéias, de conhecimento e de manter-se crítico e independente, no que diz respeito às relações de poder e às mudanças que ocorrem na sociedade

É bom lembrar que o jornal-laboratório não é um balcão de anúncios que basta pagar que será publicado. E nada mais sensato do que usar as páginas do jornal-laboratório para colocar em prática a teoria adquirida ao longo do curso. Divulgar seu resultado, ou seja, o que aprendeu, é necessário e primordial para a construção de um sistema educacional forte e de qualidade. Não podemos jamais esquecer que uma sociedade bem informada e esclarecida fortalece o processo democrático.

O horizonte do estudante precisa atravessar fronteiras, principalmente e do conhecimento. O discurso do jornal-laboratório não pode satisfazer o ego do estudante, dos pais e muito menos do professor/coordenador do projeto. Aí sim teremos um jornal-laboratório pluralista, independente e racional nas suas reportagens e análises. O estudante de Jornalismo precisa saber que o aprender não se limita a escrever por escrever. O aprender jornalismo é um exercício contínuo e ininterrupto. A função do jornal-laboratório é contribuir para que o futuro profissional ganhe uma visão universal – cosmopolita – dos acontecimentos e compreenda a importância do jornalismo na articulação de uma sociedade igualitária.

Esses indicadores permitirão que o estudante de Jornalismo, professor e escola possam expor de forma rigorosa, transparente e responsável, sem ferir os princípios da moral, da ética e do respeito pelo cidadão, independente do seu credo, raça, cor, classe social ou econômica.

3.1 – Profissão regulamentada

A regulamentação da profissão, em 1969, exigindo o diploma para o exercício da profissão e a pressão dos sindicatos de jornalistas para o fim do estágio, levaram alguns cursos de Jornalismo a implantarem o jornal-laboratório impresso como atividade jornalística no sentido de incentivar e preparar o estudante para o mercado de trabalho, permitindo um aprendizado prático adequado com o embasamento teórico em sala de aula.

Antes as escolas não propiciavam ao estudante treinamento para o exercício profissional. Na verdade, as disciplinas eram mais discursivas porque o estudante tinha a oportunidade de se aperfeiçoar fora da universidade, estagiando nos jornais. Esse mecanismo não forçava os cursos a colocar o jornal-laboratório como meta essencial na formação profissional. Segundo o professor José Marques de Melo, faltavam os laboratórios didáticos às pioneiras escolas de Jornalismo.2

A valorização do jornal-laboratório estava fundamentada na proposta de reproduzir na universidade mecanismos de produção e difusão do fato jornalístico sem que o futuro profissional ficasse à margem do processo editorial da mídia. A teoria em sintonia com a prática oferece ao estudante a oportunidade de exercitar os princípios básicos do jornalismo compromissado com a sociedade. “Sem dúvida alguma, essa alteração pedagógica ocorre a partir da implantação do jornal-laboratório como trabalho sistemático, continuado e veraz dentro dos cursos de Jornalismo”, avalia o professor José Marques de Melo.3

Apesar da obrigatoriedade, com base na Resolução 2/84, do Ministério da Educação e Cultura (MEC), há escolas de Jornalismo que ainda não mantém periodicamente e com a participação efetiva do aluno, o jornal-laboratório como atividade acadêmica. O MEC exige, no mínimo, oito edições publicadas por ano letivo. O professor Dirceu Fernandes Lopes diz que “sob o ponto de vista pedagógico parece não haver dúvidas da imprescindibilidade do jornal-laboratório para o aparendizado de Jornalismo, principalmente em países como o Brasil, onde a legislação trabalhista veta o estágio em empresas jornalísticas.”4 O estudante não deve tomar conhecimento do processo de produção e difusão do jornal impresso só depois de formado. É na escola que ele deve receber o treinamento inerente ao exercício profissional. É no laboratório didático que o estudante procura simular situações profissionalizantes, mas sem deixar de lado a teoria.

3.2 – Conceitos de jornal-laboratório

Na visão do professor José Marques de Melo o “jornal-laboratório constitui espaço essencial de ensino-aprendizagem para a formação de jornalistas na universidade. Sua função é a de criar ambiente propício para a reprodução dos processos jornalísticos, em situações práticas, vivenciadas pelos alunos, das quais os professores extraem evidências para explicar as teorias que embasam a profissão.”5

Já Luiz Beltrão diz que o jornal-laboratório é o instrumento didático e, sempre que usado apropriadamente, com um planejamento racional, se transforma no substituto da prática do treinamento nas redações6. Para Bruno Fuser, o jornal-laboratório induz o aluno a buscar novas formas de expressão jornalística, pela prática da experimentação. “Promove a partir da integração entre professores, disciplinas e estudantes, o espírito de equipe e a troca de experiências necessários para a prática e pesquisa do Jornalismo.”7

O conceito de jornal-laboratório não se limita ao espaço (sala de redação) que a universidade oferece ao aluno e aos professores que coordenam o projeto. O laboratório é importante para o aluno porque o ajuda a conhecer o jornal em vários sentidos, desde a pauta, checagem das fontes envolvidas no assunto, entrevistas, pesquisa no banco de dados, leitura complementar e a produção do texto. O aluno transporta para as páginas do jornal-laboratório a vivência teórica da sala de aula, que fica distante do praticar jornalismo. Incentivado pelo exercício, o aluno vai canalizar seu conhecimento e buscar formas de aplicar e desenvolver sua criatividade na construção de um texto jornalístico apurado e refinado.

Ao se exercitar no laboratório, o aluno assimila o poder de síntese, tão fundamental para o jornalismo que, devido ao processo de seleção dos assuntos cotidianos, publica apenas aqueles de maior interesse público. “A síntese pressupõe a capacidade aprendida pelo aluno de se comunicar com clareza e em poucas palavras”, avalia o professor da ECA/USP, José Coelho Sobrinho.8 É praticando na academia que o aluno é orientado a analisar e diferenciar o fato jornalístico daquele de interesse pessoal ou de grupos. Ainda citando o professor José Coelho Sobrinho, a ánalise colabora para que o aluno tenha capacidade julgadora de questionar, apurar e depurar.9 Num jornal-laboratório o estudante tem o feedback da sua produção. É avaliado pelo professor. É criticado pelo colega de redação e também pelo leitor. Esse retorno, quase imediato, oferece a ele subsídios para perceber que um texto jornalístico não deve ser redigido apenas para cumprir tarefas escolares. Ao contrário, deve conter elementos que satisfaçam o interesse do leitor atento e crítico. O estudante é cobrado de público em alguns casos. O que o torna responsável e crítico na apuração do fato jornalístico.

A visão de que o jornal-laboratório serve apenas satisfazer as exigências do MEC, o ego do professor/orientador ou do aluno, em alguns casos, não traduz a verdade da sua representatividade na formação profissional. É experimentando que o aluno sente na pele as dificuldades de coletar dados, encontrar as fontes necessárias para sustentar a sua proposta de pauta e provar que o assunto é de interesse da comunidade. Ao manter contato com a comunidade, o aluno passa a trabalhar de modo mais consciente, mais sério e profissional. Na verdade, deixa de ser passivo e se transforma em um questionador e defensor do jornal para o qual trabalha. Ele aprende que o jornalista não é só aquele que tem um bom texto ou que conhece todas as técnicas ou regras para redigir uma matéria jornalística, mas aquele que tem compromisso com seu público. Essa assimilação leva o aluno a refletir que a prática jornalística não é escrever para o colega de sala ou ao professor que o avalia. É o laboratório que se aproxima da realidade de uma redação.

O rigor adotado na orientação do projeto, na sua produção e difusão, principalmente em não reproduzir o padrão da grande mídia, provoca uma mudança profunda de postura do aluno. Ele cresce, e exige de si mesmo. Estimulado pelo corpo docente e interado do projeto didático-pedagócio, tenderá a colocar como meta produzir matérias cada vez mais completas, balisadas no interesse público, na ética jornalística, desvinculadas de fontes viciadas (sempre as mesmas, como acontece em alguns casos na política) e assuntos esgotados. O professor da ECA/USP, Bernardo Kucinsky, faz a seguinte análise do papel da academia na formação do futuro jornalista: “…A contradição com o mercado não é antagônica. É claro que poderá haver um choque entre o rigor desses padrões e a chamada realidade de mercado. Mas aí está exatamente a importância do curso não só como formador de um intelectual orgânico, de um trabalhador intelectual consciente, mas também como um foco de irradiação de um padrão jornalístico.”10

O jornal-laboratório é imprescindível para o processo ensino-aprendizagem e deve seguir etapas que atendam às necessidades do aprendiz. Ou seja, é essencial à preparação jornalística. A professora Cremilda Medina entende que jornal-laboratório é a teoria e a prática em movimento.11 José Marques de Melo complementa ao afirmar que, na medida em que está a serviço da teoria, o jornal-laboratório permite aplicação prática de conhecimento sedimentado e “muitas vezes para negar a própria teoria, para produzir um conhecimento novo.”12 Na verdade, é na produção e difusão do jornal-laboratório que o estudante terá condições instrumental e de conhecimentos teóricos para exercitar a prática jornalística nas mais variadas funções.

O objetivo do jornal-laboratório é justamente romper a barreira de um organismo meramente acadêmico, repetidor dos modelos existentes nas empresas de comunicação, de divulgação e promoção de alunos, professores e da própria entidade.

O jornal-laboratório impresso é importante para o aluno viver e conviver, numa redação laboratorial, com as tarefas cotidianas do fazer jornalístico. Embora as críticas de alguns jornalistas formados nas redações sejam contrárias à formação acadêmica, o laboratório didático tem a possibilidade de conscientizar o aluno da importância do jornalismo.

O professor José Marques de Melo mais uma vez reforça a validade do jornal-laboratório na formação da consciência profissional. “Formar jornalistas, sem que lhes desperte o interesse pela análise crítica dos padrões vigentes na sociedade e sem que lhes ofereça oportunidade de testar tais modelos em laboratórios e de criar alternativas inovadoras, é motivo de frustração generalizada na área desde a década de 50.”13

O jornal-laboratório é o espaço onde o futuro jornalista pode colocar em prática a sua criatividade no relato do cotidiano. O importante é que o jornal-laboratório funcione como um núcleo de produção onde tudo é apurado, analisado e questionado antes de se transformar em texto jornalístico. Para não prejudicar a utilização pedagógica do processo, é primordial que a estrutura desse veículo não seja burocrática e tenha raízes na liberdade de expressão, respeitando os princípios éticos na defesa da cidadania, principalmente quando está em jogo o interesse público. A função do laboratório didático é oferecer ao mercado um jornalista criativo, com capacidade de se comportar criticamente na atividade profissional e não apenas reproduzir mecanicamente o modelo. O professor Dirceu Fernandes Lopes diz que “nos próprios exercícios didáticos que se realizam nos laboratórios é possível contrabalançar a reprodução dos padrões jornalísticos dominantes com a criação de novos modelos que possam constituir alternativas viáveis”.14

Em algumas escolas particulares, os proprietários se acham no direito de determinar a linha editorial. Já na pública, fica evidenciado que o jornal-laboratório se retringe em alguns casos ao campus e a periodicidade depende da gráfica, do diretor do curso ou até da reitoria.

A escola tem a obrigação de manter um jornal-laboratório para orientação do aluno, com periodicidade definida. Contudo, nem sempre existe verba para a impressão de uma edição. E como não há fiscalização intensiva por parte do MEC, a escola controla o número de edições publicáveis e, em alguns casos, até o conteúdo das matérias.

O conteúdo do jornal-laboratório deve se voltar para assuntos de interesse da comunidade que ele está inserido ou mesmo para grandes reportagens. A valorização de temas regionais mostra que o jornal-laboratório não é apenas um treinamento meramente laboratorial, mas que pode levar o aluno a se posicionar de forma crítica e refletir sobre a sociedade que o cerca.

Para o êxito dessa interação escola-comunidade é fundamental que o projeto pedagógico não fique dependente da direção da universidade e muito menos se limite aos problemas acadêmicos que proporcionam uma prática restrita do exercício profissional. Deve-se respeitar as pecularidades da região onde está inserido o laboratório didático. Na verdade, não se pode pensar em produção jornalística distante da comunidade. É dessa interação entre o periódico laboratorial e comunidade que decorrerá a linha editorial, o contéudo e a linguagem adequada ao universo do público leitor. “É fundamental que os veículos ouçam as comunidades às quais se dirigem para fixar diretrizes editoriais, ou seja, levar em consideração a participação dos receptores”, avalia o professor Dirceu Fernandes Lopes.15

Ele também alerta: “Os laboratórios de generalidades, assuntos absolutamente desenraizados de uma área geo-social, correm o risco de vir a ser muito mais exercícios de crônicas do que reportagens. O aluno só trabalha num contexto real se tiver um público definido.”16

O jornal-laboratório deve estar inserido no espírito da comunidade e se preocupar com os anseios e comportamento do leitor. O leitor deve sentir que o jornal está atento a tudo o que ocorre em sua volta. A expectativa do leitor deve servir de orientação no processo ensino-aprendizagem do laboratório. Para o professor Dirceu Ferandes Lopes, essa participação da comunidade na criação do projeto, ampliada pela sua presença nas futuras reuniões de pauta, estabelecerá o vínculo tão perseguido pelos jornais que pretendem ser comunitários.17

Na dinâmica das atividades, o aluno precisa se habituar a colocar a teoria em prática da forma mais natural e sem os resquícios da mídia empresarial. “Faço jornalismo, não para ajudar este ou aquele político, este ou aquele partido, ou mesmo no limite, esta ou aquela idéia, senão a idéia da verdade. Se faço jornalismo, não é para exprimir opiniões. É para explicar o fatos.”18 O que o jornalista francês, ex-diretor do Le Figaro, Franz-Olivier Giesbert, quis dizer é que um noticiário isento jamais pode comprometer a linha do jornal e a mesma regra se aplica na produção e difusão do jornal-laboratório.

Para evitar que exemplares fiquem estocados ou empilhados no depósito da escola e que a circulação do jornal-laboratório se restrinja ao universo acadêmico, é fundamental que os alunos, orientados pelo professor responsável pelo projeto, também façam a sua distribuição. É na distribuição que ele tem um contato direto com o leitor. Esse corpo-a-corpo o ajuda no direcionamento de uma pauta, a observar os erros cometidos na produção de uma matéria, como também cria novas fontes de informação. Ao distribuir o exemplar do jornal-labarotório o aluno passa a ter uma visão mais abrangente do que pensa o público leitor. O professor responsável pelo projeto laboratorial pode usar a distribuição como uma tarefa na produção e difusão do jornal-laboratório.

3.3 – Perfil do jornal-laboratório

Os professores José Marques de Melo, Dirceu Fernandes Lopes e Walter Teixeira Lima Junior fizeram, com o apoio da Intercom, entre 1997 a 1998, pesquisa para definir o perfil dos jornais-laboratórios nos cursos de Jornalismo no Brasil.19 A pesquisa apontou que a periodicidade mais comum é a mensal, o formato é tablóide. A distruição é feita pelos alunos e funcionários. O conteúdo é informativo generalista. Poucos têm ombudsman, manual de redação, suplementos, encartes e anúncios. Já a linha editorial de 46 veículos é definida por professores e alunos. Os demais por professores, alunos direção do curso de Jornalismo, leitores e moradores do bairro onde se localiza a escola.20

Dos 109 veículos laboratoriais pesquisados, apenas 26 usam manual de redação, mas a maioria adota como regra os manuais dos grandes jornais brasileiros. São poucos que têm um manual próprio.

Outro registro é que apenas 43 avaliam o jornal-laboratório, cinco disseram que não há avaliação e 61 não responderam. Já a maioria (86) tem público definido e em 58 escolas a pauta é feita por professores e alunos. Todos os projetos laboratoriais estão ligados a conjunto de disciplinas. Ou seja: Fotojornalismo, Planejamento Gráfico, Redação, Introdução ao Jornalismo, Edição, Reportagem, Entrevista, Produção Gráfica, Diagramação e Editoração Eletrônica etc.

Apesar das cores prevalecerem no jornalismo impresso brasileiro, principalmente na grande imprensa, 86 veículos laboratoriais ainda mantêm o preto e branco contra 15 impressos em cores. Já a tiragem vai de mil exemplares a 10 mil. O papel jornal ainda é o mais usado. Ou seja, 61 jornais-laboratório são impressos no papel mais tradicional, o jornal.

Um dado interessante é que 89 dos entrevistados responderam que não há conflitos entre os que editam o jornal e as instâncias superiores das escolas. Das 109 pesquisados, 84 das publicações são feitas por professores e alunos, 13 por alunos, 11 por professores e um não respondeu.

Segundo o professor Dirceu Fernandes Lopes, a representatividade da pesquisa pode ser medida pelas regiões onde ficam os cursos que responderam o questionário:

Sudeste — São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro; Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; Centro-Oeste — Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Brasília; Norte — Amazonas; Nordeste — Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Ceará, Piauí, Bahia e Maranhão.

Por Estado: São Paulo — Santos, São Bernardo do Campo, Taubaté, São Paulo (capital), Mogi das Cruzes, Sorocaba, Itapetininga, São José do Rio Preto, Bauru, Marília, Piracicaba, Ribeirão Preto, Campinas e Presidente Prudente. Rio de Janeiro — Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo. Rio Grande do Sul — Santa Maria, Pelotas, Canoas, Porto Alegre, São Leopoldo, Passo Fundo, Caxias do Sul, Ijui e Santa Cruz. Paraná — Curitiba, Ponta Grossa e Londrina. Santa Catarina — Florianópolis, Itajai e Tubarão. Minas Gerais — Uberlândia, Belo Horizonte, Pouso Alegre e Juiz de Fora. Mato Grosso — Cuiabá, Várzea Grande. Mato Grosso do Sul — Campo Grande. Espírito Santo — Vitória. Paraíba — João Pessoa e Campina Grande. Sergipe — Aracaju. Maranhão — São Luis. Piauí — Terezina. Bahia — Salvador. Pernambuco — Recife. Ceará — Fortaleza. Amazonas — Manaus. Distrito Federal — Brasília.

A existência de um jornal-laboratório nos cursos de jornalismo é imprescindível. Porém isso não significa que qualquer projeto é condição suficiente. Tem que ter público definido, periodicidade respeitada, para que o aluno acredite que realmente ele existe e que o leitor o tenha como fonte de informação segura e confiável.

Mas a falta de laboratórios equipados (computadores, gráfica própria, máquinas fotográficas suficientes para atender à demanda etc), o desinteresse do professor pelo projeto, e outros problemas: — citados pelo professor Dirceu Fernandes Lopes em sua tese de doutorado (ECA/USP), 1986 — a mudança de turma que muitas vezes altera a forma e o conteúdo do jornal-laboratório, a saída do professor responsável e a não circulação nas férias (julho e janeiro) também prejudicam o ritmo das atividades laboratoriais. Essas deficiências atrapalham a periodicidade e acabam descaracterizando o perfil do jornal-laboratório. O jornal para ser lido regularmente precisa manter o seu padrão editorial e a sua periodicidade nunca deve ser interrompida, mesmo sendo um órgão laboratorial. As dificuldades econômicas e burocráticas são as justificativas para que projetos laboratoriais não sejam colocados em prática nas férias, mas não impediram que o Rudge Ramos Jornal, da Universidade Metodista de São Bernardo do Campo (SP), mantivesse a sua periodicidade, mesmo nos períodos de julho e janeiro. O laboratório não deve ser interrompido porque o treinamento profissional é um processo continuado como ocorre na grande mídia. Outro fator negativo é que o aluno fica afastado da motivação do fazer jornalístico. Ele pode perder o pique de produção e, ao retornar às atividades, quando o curso é anual, precisa se recompor para dar continuidade ao projeto laboratorial que deveria ser mantido para o enriquecimento do processo ensino-aprendizagem.

Além disso, o grande número de alunos, a irregularidade na periodicidade das edições e a participação parcial do corpo discente na feitura do jornal-laboratório são outros vícios nos cursos de Jornalismo. A periodicidade irregular das edições se deve, na maioria dos casos, à falta de verba, ao desinteresse do aluno e do professor e a falta de um projeto pedagógico.

A soma desses pontos negativos agrava a credibilidade do jornal-laboratório como ferramenta de aprendizagem do futuro jornalista. Das centenas de publicações laboratoriais, são raras aquelas que atingem os requisitos básicos e primordiais para o preparo de um profissional preocupado em exercer o ofício de forma crítica e responsável.

3.4 – Notas e Referências bibliográficas

1 – CHAPARRO, Manuel Carlos. Veracidade, dever maior.In. Edição em jornalismo impresso. São Paulo, ECA/USP, Edicom, 1998.

2 – MELO, José Marques de. In: Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. Dirceu Fernandes Lopes. São Paulo, Summus, 1989.

3 – MELO, José Marques de. In: Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. Dirceu Fernandes Lopes. São Paulo, Summus, 1989.

4 – LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. São Paulo, Summus, 1989.

5 – MELO, José Marques de. Uma estratégia para salvar o jornal-laboratório. In: revista Imprensa. São Paulo, número 97, outubro de 1995.

6 – BELTRÃO, Luiz. In: Perfil do jornal-laboratório no Brasil. Dirceu Fernandes Lopes. In: Sociedade Mediática: significação, mediações e exclusão. Santos, Leopoldianum-UniSantos, 2000.

7 – FUSER, Bruno. In: Perfil do jornal-laboratório no Brasil. Dirceu Fernandes Lopes. In: Sociedade Mediática: significação, mediações e exclusão. Santos, Leopoldianum-UniSantos, 2000.

8 – SOBRINHO, José Coelho. O cognitivo e o afetivo nos cursos de comunicação. In: Revista Comunicações e Artes. São Paulo, ECA/USP, número 30, 1997.

9 – SOBRINHO, José Coelho. O cognitivo e o afetivo nos cursos de comunicação. In: Revista Comunicações e Artes. São Paulo, ECA/USP, número 30, 1997.

10 – KUCINSKY, Bernardo. O ano em que fomos felizes. In: Cadernos de Jornalismo e Editoração. São Paulo, ComArte, número 21, junho de 1988.

11 – MEDINA, Cremilda. In: Jornal-laboratório. Clélia Maria Garcia. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Santos, UniSantos, 1983.

12 – MELO, José Marques de. In: Jornal-laboratório. Clélia Maria Garcia. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Santos, UniSantos, 1983.

13 – MELO, José Maques de. In: Jornal-laboratório. Clélia Maria Garcia. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Santos, UniSantos, 1983.

14 – LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. São Paulo, Summus, 1989.

15 – LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. São Paulo, Summus, 1989.

16 – LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. São Paulo, Summus, 1989.

17 – LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. São Paulo, Summus, 1989.

18 – ESTADO DE S. PAULO, O. Caderno de Política. São Paulo, página 2, 30 de novembro de 1991.

19 – LOPES, Dirceu Fernandes. Perfil do jornal-laboratório no Brasil. In: Sociedade Mediática: significação, mediações e exclusão. Santos, Leopoldianum-UniSantos, 2000.

20 – LOPES, Dirceu Fernandes. Perfil do jornal-laboratório no Brasil. In: Sociedade Mediática: significação, mediações e exclusão. Santos, Leopoldianum-UniSantos, 2000.

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Subsídios para um curso

de jornal-laboratório

Já fui professor-responsável por três jornais-laboratórios e em nenhum deles havia um planejamento gráfico ou editorial, plano de ensino adequado ao fazer jornalístico, um modelo de cronograma de atividades que pudesse agilizar a produção e difusão do veículo. Fui também professor-responsável pela implantação de dois projetos laboratoriais. Pela pressa em colocar na rua o jornal-laboratório, porque a Comissão de Especialistas do MEC estava chegando, tornou-se enviável, naquele momento, uma metodologia de trabalho que se voltasse à fundamentação teórica como princípio básico do processo ensino-aprendizagem. A minha experiência em reformular a grade curricular e o projeto pedagógico do Curso de Comunicação Social (habilitação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda) do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp) e as respostas aos questionários enviados aos professores me conduziram à reflexão da necessidade de fazer uma síntese dos principais ingredientes que dão qualidade ao jornalismo. Minha vivência em coordenar jornais-laboratório na escola particular e a coordenação de um projeto pedagógico em jornalismo me deram subsídios sólidos e concretos para fundamentar minha proposta Outros fatores preponderantes no qual também me embasei foram as leituras e a análise do ensino de Jornalismo e suas grades curriculares. A LDB deu liberdade e orientação na busca pela melhoria do ensino.

4.1 – Jornalismo e atualidade

O jornalismo, que nasceu da arte artesanal dos prelos (antiga prensa de imprimir), é uma necessidade social e representa um meio de satisfazer o desejo do homem contemporâneo de conhecer todas as coisas novas e interessantes que acontecem diariamente no Universo. Sua característica principal é a atualidade. Inserido na comunidade, ele é fundamental para sociedade e está constantemente ligado aos comportamentos do governo. O jornalismo deve ser ético, pluralista e apartidário para sobreviver e caminhar com credibilidade no mercado competitivo de hoje.

O jornalista e político Carlos Lacerda – fundador do jornal carioca Tribuna da Imprensa, crítico do governo Vargas e defensor do Golpe Militar de 64 – ensina que o segredo do jornalismo consiste em levar muito a sério os fatos cotidianos, sem ao mesmo tempo perder a perspectiva da relativa desimportância de tais fatos em face do tempo. Para ele, essa combinação de atualidade e permanência é que dá conteúdo ao jornalismo, na medida em que esses dois fatores se combinam para formar a substância do jornal.1 O ex-governador do extinto Estado da Guanabara vê ainda o jornalismo como a arte de simplificar a complexidade dos fatos, tornando-os acessíveis à compreensão do cidadão.

Rui Barbosa – advogado, jornalista e candidato duas vezes à Presidência da Repúbica – dizia que o jornalismo se constituía numa espécie de energia, que leva a sociedade a se conscientizar da importância de seus valores. Para Rui Barbosa, “o Jornalismo tem a função de despertar no País as forças morais, apelar para o poder da consciência entorpecida, mas talvez ainda não morta, falar a essa intuição de justiça, a essa avidez de sinceridade, a essa simpatia pelo desinteresse, que não se extinguem na índole das nações cristãs.”2

Não há dúvida então de que o jornalismo é um divulgador de notícias, ou melhor, é a raiz informativa da sociedade, proporcionando ao cidadão elementos de juízo para esclarecimento do dia-a-dia.

Para o jornalista e professor Danton Jobim, o jornalismo converte-se numa verdadeira manifestação de espírito, no veículo do mais alto exercício da inteligência.3 Segundo o jornalista francês Marc Paillet, foi o jornalismo que reuniu tudo que se encontrava disperso, como temas referenciais, técnicas e habilidades.4 Na análise do autor, foi o jornalismo que ampliou, universalizou e dinamizou a informação como notícia e a classificou.

Na avaliação do jornalista e pesquisador Alberto Dines, o jornalismo é a técnica de investigar, arrumar e distinguir circunstâncias. Ele entende que não há jornalismo sem investigação.5 Para Clóvis Rossi, articulista e repórter especial da Folha de S. Paulo, jornalismo é sinônimo de dedicação e disciplina. Além disso, “agrega-se a dificuldade específica de uma profissão que não permite acomodação ou a mais remota certeza de ‘saber tudo’ sobre um país, uma situação, um ramo do conhecimento humano”.6

Ciro Marcondes Filho – jornalista e professor da ECA/USP – identifica o jornalismo como uma atividade decorrente da produção empresarial de notícias, que se caracteriza pelo uso do veículo impresso para fins – além de econômicos – políticos e ideológicos. De acordo com ele, somente no momento em que a imprensa passa a funcionar como instrumento de classe é que ela assume o seu caráter rigorosamente jornalístico.7

Após essas avaliações, entendemos jornalismo – impresso, falado ou visual – não só como um conjunto de matérias que descreve a realidade social mas também como um instrumento indispensável de apoio à sociedade. Para Vladimir Hudec, jornalista da ex-Tchecoslováquia, o jornalismo orienta socialmente esse público, formula e exprime as suas diferentes opiniões, atitudes e ações, as suas concepções do mundo, dá uma idéia dos múltiplos fenômenos, processos e tendências contemporâneas em toda a sua complexidade, das leis que determinam a função e o desenvolvimento da vida econômica, sócio-política, intelectual e ideológica da sociedade, a partir de posições partidárias e de classe.8

O aparecimento do jornalismo está subordinado ao desenvolvimento da economia de mercado e às imposições dos detentores do poder. O jornalismo nasceu tutelado pelas classes dominantes que tinham influência ideológica, política, econômica e social. O jornal surge como o instrumento de que o capitalismo financeiro e comercial precisava para fazer com que as mercadorias fluíssem mais rapidamente e as informações sobre as exportações, importações e movimento do capital chegassem mais depressa e diretamente aos componentes do circuito comercial.9

O jornalismo era subjugado e seu controle foi cada vez mais rígido a partir do momento em que as classes dominantes, nelas podemos incluir a Igreja Católica, perceberam que podiam utilizar as folhas periódicas para manipular o povo. As formas de imposição de suas idéias através da imprensa eram feitas de acordo com as necessidades e viabilidades de cada detentor do poder. Existiam aqueles que detinham a hegemonia das folhas periódicas. Ou aqueles que para atuar junto ao povo controlavam o jornalismo através da força, censurando, manipulando a informação, fechando e prendendo os gazeteiros.

Logo que nasceu, em 1450, a Comunicação Moderna – após Gutenberg inventar a tipografia que permitiu a reprodução de um mesmo texto e sua difusão –, a imprensa, foi dominada pelo Poder Autoritário cuja preocupação era narrar os seus feitos e descrever as suas conquistas. Constituído por segmentos de comunidades organizadas como a política e a economia, o Poder Autoritário tinha como princípio difundir o pensamento monolítico, elitista e totalitário. Ele tentava conter o desenvolvimento da imprensa, porque esta dificultava o exercício do poder. O autoritarismo ainda usava regulamentos, dispositivos e criava leis com o único intuito de limitar a liberdade da imprensa e entravar a difusão dos jornais.

Em todos os regimes totalitários, a imprensa foi perseguida por medidas arbitrárias e, na maioria das vezes, teve reprimidas suas idéias. Napoleão tinha uma consciência muito objetiva do papel da imprensa. O Pequeno Corso calou os opositores e utilizou os jornais a serviço de sua propaganda na França e no exterior, fazendo com que qualquer notícia desagradável a seu governo não pudesse ser publicada.

É sempre assim que agem os governantes autoritários. Através da coação, submetem a imprensa e a tornam oficialesca, ou seja, uma publicação direcionada em defesa do repressor. Desde os primeiros tempos, a imprensa obedecia aos poderes político e econômico. Eram apenas periódicos com anúncios políticos e econômicos. Eles advogavam as idéias e interesses da classe dominante. Os opositores tinham vida efêmera e dificilmente trabalhavam sem pressões.

A classe burguesa, dominante economicamente, e o grupo político, ambos fontes de sustentação do Poder Autoritário, compreenderam a importância dos jornais como instrumentos políticos poderosos e a eles se aliaram. Constituídos também como poderes, os setores político e econômico começaram a monopolizar a informação diminuindo assim o raio de ação dos jornais, principalmente os opositores. Com isso, a autonomia do jornalismo ficava ainda submetida às leis totalitárias e passava a ser instrumento da política do governo. Então o jornalismo era afetado em seus princípios e métodos de trabalho.

As instituições ou grupos políticos sempre se esforçaram para ter ao lado os meios de informação, porque acreditam que quanto maior espaço ocupado, maior é o poder. Os poderes político e econômico têm como base a sua capacidade de manipular informações, pressionar e influenciar setores da sociedade. As pressões políticas e econômicas obrigaram muitos jornais a mudarem suas idéias para sobreviver ou foram excluídos sumariamente do universo informativo.

A influência dos poderes político e econômico tem as suas implicações e algumas são a submissão, a omissão e o comprometimento com os controladores da informação. Assim é assegurado aos poderes o direito “adquirido” de alinhavar o direcionamento jornalístico de um pequeno periódico e até de uma rede de comunicação. Tanto o político como o econômico usam o poder para ter ao seu alcance os meios informativos. Conseqüentemente têm a seu dispor um canal aberto com as classes marginalizadas.

No entanto, o jornalismo é de utilidade pública, um prestador de serviços, o fiscal da sociedade e tem tarefa de informar sem restrições. Deve ser o guardião da sociedade frente aos abusos governamentais e aos atentados à liberdade individual.

Assim, o jornalismo deve zelar pela transmissão de informação, de um ponto a outro, com exatidão. Ele deve estar a serviço da verdade com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública. Se nas sociedades modernas tudo deve ser aberto e público, o jornalismo tem a responsabilidade de acompanhar, sempre na vanguarda, as manifestações populares. “Quando a multidão governa no sentido do interesse geral, dá-se a esse governo o nome de república, que é comum a todos os governos.”10 Esse pensamento de Aristóteles nos dá a segurança de que o jornalismo é parte integrante da multidão que, segundo o filósofo, é soberana. Soberano também deve ser o jornalismo para se converter num autêntico sustentáculo do direito à informação e direito de informar.

4.2 – Função social

A contribuição que o jornalismo dá diariamente à comunidade possibilita um intercâmbio de informações. Essa comunicação de mão dupla é uma das funções sociais do jornalismo moderno e participativo. Entendemos que a função social do jornalismo está no seu caminho em direção à imparcialidade, sempre à procura de uma sociedade mais justa, e na luta dos povos pela sua libertação frente à agressividade dos governantes. Se o jornalismo é um fenômeno social ou um “fórum de debates”, na análise de Philip Meyer11, então, nessas condições, ele é um veículo de informação, formação, orientação e de interesse público.

Alberto Dines acrescenta que a imprensa integra a sociedade, é reflexo dela, mas não pode se escorar em santuários que ela própria nega aos poderes político e econômico.12 O professor José Marques de Melo diz que uma das funções do jornalismo é a transformação social. Ele explica: “Nos países subdesenvolvidos, a tarefa principal do jornalismo é educar as grandes massas para que possam assumir o seu papel de sujeito da História. Isso significa acesso ao conhecimento, participação política e mobilização social.”13 De acordo com a análise de José Marques de Melo, esse caminho do jornalismo em direção ao social é um exemplo do exercício de liberdade. É a oportunidade de o indivíduo adquirir conhecimentos e ainda exercer, não só seu papel de cidadão, mas também sua atividade intelectual com maior regularidade.

Se o jornalismo é visto como um elemento que incomoda os monopolistas, de outro ângulo, ele é o instrumento de toda a sociedade. Para Carlos Lacerda, “o jornal é um hóspede em seu próprio quarto, um contador de novidades que se apossa do seu tempo e influi sobre os seus pensamentos, e lhe diz o governo que deve escolher…” Carlos Lacerda completa fazendo um alerta para que o jornalismo não descumpra a sua função social. “…Agora, se esse amigo que ele trouxe para casa e a quem confiou seus próprios silêncios, esse amigo que ensina a amar e desamar os acertos e erros deste mundo de repente silencia, é como se de repente lhe mentisse. Calar, é uma traição.”14

No mundo moderno a vida econômica, política e social baseia-se na informação e nesse contexto o jornalismo é a instância superior de uma Nação, e sua função é oferecer ao cidadão um repertório de idéias que modelem sua mentalidade e formem opinião quando a comunidade se encontra desnorteada. Segundo o jornalista e professor espanhol Sabino Alonso-Fueyo, para o jornalismo cumprir realmente a sua função social, não pode ser um mero veículo de difusão. “O jornalismo não é só veículo de cultura; é, além disso, cultura propriamente dita. O jornalismo se converte numa verdadeira cátedra da cultura.”15

Nos Estados Unidos, em 1971, a função social do jornalismo foi cumprida, quando o juiz da Suprema Corte, Hugo Black, decidiu que não se podia censurar a imprensa nem em defesa da segurança nacional. Este é um trecho do seu voto em defesa da função social do jornalismo: “Uma das obrigações primárias da imprensa é impedir que o governo engane o povo.”16. Dentro desses princípios já mencionados, concluímos que a função básica do jornalismo é servir de instrumento para incentivar o homem no caminho de sua plena realização.

A população não pode ficar à margem do jornalismo, mesmo aquela que não sabe ler nem escrever ou aquela sem condições econômicas para poder consumir a informação jornalística, cultural ou educacional. Todo cidadão, não importa a raça, cor ou segmento social, político ou econômico tem direito à informação. Nos países democráticos, este direito está assegurado na Constituição. No Brasil, a Constituição, promulgada em outubro de 1988, diz em seu Capítulo I, parágrafo 24, que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.”17. Neste particular, o jornalismo não pode privilegiar setores da sociedade. A mobilização da informação jornalística tem de ser ampla e irrestrita.

Numa sociedade de vanguarda, o indivíduo se informa corretamente quando confronta informações e opiniões. As lutas sociais pelo Estado livre carregam no seu bojo o direito à informação, de saber o que está acontecendo à sua volta. Segundo os professores norte-americanos William Rivers e Wilbur Schramm, a curiosidade humana não tem limites e, se o direito à informação tampouco tem uma limitação precisa, ele superará todos os outros direitos.18 Na verdade, o direito à informação prepara o indivíduo para desempenhar tarefas produtivas na sociedade e para pleno exercício da cidadania.

O direito de acesso à informação é perene, inalienável e essencial numa sociedade democrática e pluralista. O exercício do direito à informação fortalece as bases liberais e progressistas do jornalismo voltado à comunidade. De modo geral, podemos dizer que o direito à informação está intimamente ligado à luta política, às discussões em torno da coisa pública ou ainda a questões sociais e educacionais. Todo cidadão tem direito à informação, seja ela política, cultural ou educacional. Desta maneira, o jornalismo é a tribuna do povo.

Sem ousadia e persistência não se faz jornalismo. A busca da informação não significa apenas classificar e colocar os dados coletados na estrutura da pirâmide invertida. O ritmo do escrever rápido, simples e objetivamente não impede o jornalista de organizar o fato jornalístico para transformá-lo em notícia sem violar a imparcialidade e o princípio ético. Na verdade, ele deve ser moralmente defensável para não se nutrir da vaidade, da ignorância e solidão das pessoas. Ele é uma espécie de confidente, fiel e inseparável, que oferece condições para a compreensão do presente e alarga o horizonte informativo do leitor.

O jornalista precisa ser criativo, ter iniciativa, investigar com racionalidade para fugir das mesmices do dia-a-dia das redações mais preocupadas com as notas oficiais. O jornalista não se pode dar ao luxo de agir subjetivamente em relação a pontos mais delicados de um fato jornalístico porque assim o valor da notícia relatada por ele não vai refletir o contexto do fato. Ou seja, o que ele transformou em notícia não é verídico. É parcial ou mal-intencionado.

Outro fator que atrapalha o desenvolvimento imparcial da notícia é que o jornalista precisa assimilar e compreender que ele não é infalível e que seu poder de usar a palavra falada e escrita não o legitima a atirar para todos os lados. O jornalista deve procurar preservar e contribuir na mudança social ou ampliar o discernimento do possível. Seu compromisso é com o prático, com o palpável, com a neutralidade. Porque é o caminho que se tem para escapar aos sistemas fechados de pensamentos. Informar não é intelectualizar a informação. Informar é deixar transparente ao leitor o que se passa, passou ou vai passar na sociedade. O conceito de fazer jornal é universal e impessoal.

A referência do jornalista é o interesse público e a conduta investigativa adequada. O propósito único é reportar o resultado da investigação sem manipulá-lo. O jornalista precisa deixar de lado a escravidão à pressão, e dedicar um pouco mais do seu tempo à investigação cuidadosa. “A obsessão pela atualidade faz também com que os jornalistas sejam manipuláveis por meio de pseudo-eventos, forjados com o propósito único de atrair a cobertura dos meios de comunicação”, observa o professor alemão Michel Kunczik.19

O jornalista deve respeitar a verdade, informar cuidadosamente o público, verificando a fonte das notícias e corrigindo as informações errôneas. Ele sabe que o jornalismo é um parceiro inseparável do público na busca da verdade e não deve ser um instrumento do governo ou instituições. Diante deste quadro, o profissional da informação não precisa se aliar ao sistema econômico em defender interesses de especuladores do mercado.

No entanto, como qualquer ser humano, o jornalista também toma decisões equivocadas que podem ser irreparáveis socialmente. Para não ouvir um só lado da informação, é importante que o jornalista cumpra algumas diretrizes que o afastarão do jornalismo marrom. Ele nunca deve favorecer uma única fonte da notícia. Essa preocupação gera credibilidade na informação. O jornalista não escreve para outro jornalista, mas para o leitor que precisa da informação para entender o presente. Não é nos artigos, editoriais e outros gêneros opinativos que o jornalista deixa o leitor a par dos acontecimentos. É nas reportagens que ele oferece ao leitor o rico arsenal informativo, narrativo e interpretativo. Esse material pode impulsionar uma sociedade em direção ao desenvolvimento.

No Brasil, as grandes reportagens estão distantes da mídia. É raro um jornal oferecer ao leitor uma página de conteúdo investigativo. É muito mais prático e econômico manter um banco de articulistas do que colocar repórteres na rua. O comprometimento é menor e quase nulo. É fundamental, e o jornalista precisa entender, que a reportagem seja colocada em prática para resgatar a cidadania do brasileiro. O papel do jornalista é reportar sempre e não apenas noticiar um fato que aconteceu ou vai acontecer.

4.3 – Ética é fundamental

O jornalista tem que discutir ética todos os dias. Não importa o local, a hora ou quem está ao lado. O fundamental é que em cada frase pronunciada, tenha critério e consciência coletiva. Porque, do contrário, a notícia mal apurada é socialmente inapagável. Para melhorar a relação entre jornalismo e sociedade, a ética precisa ser colocada em prática.

A ética implica a universalidade na questão dos direitos humanos e na luta contra tutelas de toda ordem, usando para isso as armas da crítica e da razão. A ética exclui o subjetivo, o emocional e as paixões. Na verdade, a ética é um conjunto “técnico” que define o valor simbólico na condução social, moral e política do cidadão que pertence a uma sociedade organizada. A ética supõe a co-responsabilidade de todos os cidadãos e por isso a lei não admite exceção, nem impunidades. Para a professora da USP, Marilena Chauí, ética é a educação da vontade pela razão, para a vida justa, bela e feliz.20 A ética exige uma racionalidade para não transformar o significado do acontecido ou destruir o seu contexto.

Se o factual é matéria-prima do jornalismo, a ética ganha importância quando o fato jornalístico é transformado em notícia. Essa narrativa do real imediato deve representar o contexto original, embora o jornalismo seja uma espécie de representação contínua, diária, do que está se passando no mundo. Mesmo subordinado a um regime de rapidez que faz parte de sua rotina, não se justifica a não-aplicabilidade da razão ao relato do cotidiano. É preciso que na construção do fato jornalístico, fruto do cotidiano, a razão dê sustentáculo à narrativa. A ética é uma meta a ser cumprida no exercício da profissão.

No Brasil a questão ética não é tratada com serenidade. O que prevalece é a Lei de Gerson: levar vantagem em tudo. Infelizmente, a impunidade adquiriu corpo e se tornou regra. Regra que levou o país ao obscurantismo que é alimentado pela turbulência política.

O jornalismo tem que ser ético para não comprometer a estrutura social, política e econômica de um país. Ele deve ser imparcial, equilibrado e objetivo ao reunir e relatar os fatos. Ao gerar opiniões ou informações sobre os fatos, o jornalismo está formando opinião pública. E é nesse processo que entra a conduta ética.

O jornalista e professor norte-americano Philip Meyer, analisando a Ética Jornalística nos Estados Unidos, descobriu que, na década de 20, os grandes jornais não vendiam enormes quantidades de nenhuma edição isolada a um único comprador sem uma investigação e aprovação da direção. Quando um jornal continha um editorial defendendo as ferrovias, por exemplo, seria embaraçoso se uma companhia ferroviária comprasse milhares de cópias, marcasse o editorial e as enviasse a líderes de opinião.21 Não vendendo no atacado a um único comprador, o jornal está preocupado com a Ética Jornalística e com o interesse público.

O jornalismo deve voltar-se para o leitor e não exclusivamente para o anunciante. Embora o jornal seja uma instituição com fins lucrativos, isso não o legitima a ser um balcão de idéias vendidas a varejo. O leitor exige seriedade e racionalidade no relato do fato. “Um jornal que se preocupa apenas em preencher o espaço noticioso da maneira mais barata possível irá usar minúcias em seu próprio proveito como material para preencher espaço”, afirma Philip Meyer.22 Se a principal finalidade do jornalismo é a informação, ela deve ser exata, precisa, íntegra e cumprir os princípios éticos sem desrespeitar a cidadania. O Código de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais (Fenaj) diz no Artigo Segundo que “a divulgação da informação pelos meios de comunicação se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.”23

Mas nem sempre a mídia age com racionalidade para retratar o cotidiano. Um exemplo da falta de critério no tratamento de um acontecimento diário foi o da Escola Base, em São Paulo. A mídia, sem cruzar as informações divulgadas pela polícia e pais de alunos e sem ouvir os dois lados do acontecimento, montou um contexto e publicou em grande estilo sensacionalista que professores da Escola Base abusavam e tiravam fotos eróticas de crianças. O resultado foi devastador, não para as crianças, pais e moradores do bairro que destruíram a escola, mas para os donos que ficaram abalados psicologicamente, perderam amigos, credibilidade, além de ser marginalizados. Foram condenados pela mídia e conseqüentemente pelos leitores que acreditaram na veracidade da informação. Além de negligência na apuração dos fatos, a mídia, mesmo depois de comprovada ser falsa a acusação dos pais, não deu o mesmo destaque dado quando “condenou” os donos da escola.

No mundo contemporâneo é fundamental que a mídia faça valer os princípios éticos para expressar o interesse público e afastar do processo democrático a vontade pessoal, individual, arbitrária. O jornalismo não pode expor as pessoas ao ridículo ou se transformar em um tribunal de inquisição. São os fatos apurados com responsabilidade ética que dão credibilidade ao jornal e parâmetros éticos individuais e coletivos. Para o diretor de redação da revista Imprensa, Ari Schneider, são os desvios de natureza ética que também revelam um problema técnico. “Ou seja, a matéria não foi devidamente apurada, o repórter não ouviu todas as fontes ou não se aprofundou suficientemente, seja por falta de tempo ou de esforço. A partir disso surge uma versão incorreta do fato, o que pode ser desastroso para as pessoas envolvidas na matéria.”24 Foi o que ocorreu no caso da Escola Base. Não houve uma coleta de informações precisa, coerente e dinâmica. Na ansiedade de cobrir o fato com maior rapidez e por entender que o fato jornalístico envolvia crianças, a mídia, não teve dúvidas, saiu em defesa dos acusadores.

Não aceitar presentes das fontes de informação, não ceder às pressões dos anunciantes ou da influência de grupos políticos, ser lícito, legítimo, rico em fatos concretos e não ser omisso com a comunidade são princípios éticos que regulam os valores morais no exercício do jornalismo. Para Augusto Nunes, ex-diretor de redação dos jornais O Estado de S. Paulo e Zero Hora, de Porto Alegre (RS), a adoção de um código de ética, por si só, não imuniza nenhum jornal contra o risco de protagonizar deslizes, escorregões ou mesmo delitos graves. “Mas sempre reduz a incidência de casos de má-fé e reafirma o compromisso de agir corretamente. Sobretudo comprova a disposição de revogar a crônica impunidade assegurada há tantas décadas pela omissão dos chefes e pelo corporativismo dos jornalistas.”25

4.4 – Ombudsman representa o leitor

A Suécia foi a inventora do ombudsman, palavra que significa representante do cidadão. Designa, nos países escandinavos, o ouvidor-geral. Função pública criada para canalizar problemas e reclamações da população. Os jornalistas suecos foram os primeiros a criar um conselho de auto-regulamentação ética. Criado em 1916, o comitê analisa, sem interferência, as queixas do leitor contra os jornais. Em verdade, no jornalismo, a função do ombudsman é representar o leitor no jornal. Ele é pago pelo jornal para defender os interesses do leitor, apontar erros de informação ou de checagem de dados. No Brasil, o primeiro jornal a instituir o ombudsman foi a Folha de S. Paulo, 24 de setembro de 1989, função exercida por Caio Túlio Costa.

De 96 jornais-laboratório pesquisados, de 1997 a 1998, pelos professores José Marques de Melo, Dirceu Fernandes Lopes e Walter Teixeira Lima Jr. apenas sete tinham ombudsman para analisar, avaliar e criticar cada edição do jornal e apontar caminhos que possam estimular a participação coletiva no processo de produção e difusão do jornal.

O crítico interno tem a função de averiguar se a matéria é exata, justa, equilibrada ou se tem defeitos que podem dar ao leitor uma falsa impressão da notícia. A sua presença na redação não tem papel inibidor ou castrador. Ele é um árbitro neutro e membro da equipe regular responsável pela produção e difusão do jornal-laboratório. Na verdade, é o porta-voz do leitor e o crítico do jornal.

A crítica interna, depois, torna-se externa, deixa o estudante mais sensível eticamente a problemas que envolvam questões como exatidão, lógica e equilíbrio no relato do fato jornalístico. O leitor torna-se mais consciente do papel acadêmico do jornal-laboratório e da preocupação do próprio jornalismo com uma conduta ética e responsável.

A presença do ombudsman reflete a realidade do mercado. Ou seja, a ética é profundamente questionada quando a mídia é obrigada a competir por notícias na velocidade cibernética estabelecida pelo noticiário on-line da Internet. É aí que o jornalismo peca por leviandade e generalizações. E nada mais sensato que um ombudsman na redação do jornal-laboratório para ajudar no contínuo processo de aperfeiçoamento da vida acadêmica e profissional. Quando levado a sério, o trabalho do crítico interno da informação conduz a uma reavaliação das práticas jornalísticas não só em defesa do interesse público, mas também em detrimento dos abusos praticados contra uma maioria excluída em uma sociedade capitalista.

O ombudsman na redação mantém acesos os princípios fundamentais da responsabilidade da mídia, a mente do jornalista fica mais observadora e crítica da realidade que o cerca e contribui para a consolidação do estado democrático, sem o qual não há jornalismo que sobreviva.

É interessante observar que a presença do ombudsman desperta na redação o espírito da leitura coletiva. Todos lêem detalhadamente cada linha publicada no jornal-laboratório para não ficar de fora do processo crítico. Cresce o número de adeptos do jornalismo ético e responsável. Há o debate de soluções para os problemas gráficos, ortográficos, gramaticais, de diagramação, ou de precisão da informação. O autor do texto analisado pelo ombudsman ou criticado pelos seus companheiros fica mais atento, mais crítico. Isso levanta o moral da equipe, principalmente quando a crítica não nasce do acaso. Eleva o número de indagações sobre questões da conduta do ombudsman, do editor, do repórter e do perfil do jornal-laboratório. É saudável o debate público porque liberta o estudante das teias do provincianismo e o obriga a entregar-se às articulações de suas idéias com afinco e prazer.

Na ética é importante o respeito pela crítica fundamentada e lógica. É na universidade que o estudante tem a oportunidade de buscar o seu caminho longe das cobranças do mercado. E o jornal-laboratório é o meio apropriado para isso. Espaço universal que serve para colocar em prática as discussões teóricas sobre o espírito jornalístico. Responsabilidade no relato do fato jornalístico e ética são elementos essenciais para a prática de um jornalismo pluralista, apartidário, moderno e independente.

No jornalismo, a crítica interna pode reduzir a arrogância e estimular uma maior responsabilidade em respeito ao interesse público e na aplicabilidade da ética na condução de um jornalismo neutro, exato, independente e íntegro.

4.5 – Gêneros jornalísticos

Após a Revolução Industrial, no final do século 19, o jornal deixou de ser um artigo só de consumo da classe burguesa, ganhou padrão gráfico e se transfomou num instrumento básico da comunicação de massa. Na verdade, se tornou um fenômeno universal. Na medida em que a informação não mais atendia a uma classe social, começava a mobilizar o grande público e assumia o papel de observador da realidade.

O jornal ao ganhar autonomia, ou seja, com a produção em escala industrial, redimensionou o universo de relação com o leitor e o maior desafio passou a ser a classificação do seu discurso jornalístico, que pudesse acompanhar o desenvolvimento sócio-econômico daquele momento histórico.

Para facilitar o processo ensino-aprendizagem, o discurso jornalístico foi classificado em gêneros:

Informativo

Interpretativo

Opinativo.

Os três gêneros ganharam subdvisões:

Informativo

Enquete

Entrevista

Nota

Notícia

Serviço (agenda)

Interpretativo

Reportagem

Opinativo

Artigo

Caricatura

Carta

Coluna

Comentário

Crônica

Editorial

Resenha

Vários elementos convergem na formação dos gêneros jornalísticos. É preciso identificar cada um deles. Vamos apresentar um por um, começando pelo gênero informativo que é o mais usado no jornalismo brasileiro.

1) Gênero informativo

Enquete – corresponde ao relato de pesquisa de opinião pública, onde uma amostragem representativa da população emite sua opinião sobre determinado assunto ou acontecimento.

Entrevista – é o depoimento de um ou mais personagens sobre um assunto, acontecimento ou a opinião sobre economia, vida pública, cultura, saúde, ciência, tecnologia etc.

Nota – corresponde ao relato sintético de um fato jornalístico. A Folha de S. Paulo, quando da sua reformulação gráfica e editorial, passou a usar este recurso ao criar os Dropes. O Estado de S. Paulo, por exemplo, no caderno de Esportes tem Breves. São notas sobre futebol, basquete etc.

Notícia – é o relato diário dos acontecimentos. É na notícia que o leitor espera encontrar informações que completam a sua curiosidade. A notícia não questiona, apenas informa. Na notícia predomina a apresentação dos fatos. Não investiga a causa ou conseqüência. Embora possa ser resultado de investigação.

Serviço – caracterizado como toda informação de utilidade pública. Por exemplo: O Estado de S. Paulo criou a Agenda para prestar um serviço ao leitor.

2) Gênero interpretativo

Reportagem – é o complemento de uma notícia. É o ato de investigar. É o relato ampliado de um acontecimento. Ela difere da notícia porque deixa de ser apenas uma informação do cotidiano. É a valorização do humano, da construção detalhada do acontecimento.

3) Gênero opinativo. São opiniões de jornalistas, políticos, cientistas e pensadores conhecidos ou de personagens ilustres.

Artigo – trata-se de um texto jornalístico no qual (jornalista ou não) desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião.

Caricatura – caracteriza-se pela finalidade satírica ou humorística que pressupõe a emissão de juizo de valor.

Carta – espaço aberto à participação do leitor, para expressar opinião.

Coluna – seção especializada de jornal ou revista, publicada com regularidade, assinada, e redigida em etilo livre e pessoal.

Comentário – geralmente é feito por um jornalista experiente, que acompanha os fatos e tem sempre dados disponíveis que o ajudam a fazer um comentário preciso sobre o fato jornalístico.

Crônica – gênero de caráter mais literário. O autor narra um fato do cotidiano sem a preocupação técnica jornalística.

Editorial – que expessa a opinião da empresa jornalística diante dos fatos de maior repercussão.

Resenha – caracteriza-se por ser uma apreciação dos produtos culturais com a finalidade de orientar o leitor.

4.6 – Texto jornalístico

O jornalismo cresce quando há controvérsia. Neste caso, o jornalismo de qualidade, desengajado e independente, assume o papel de memória da sociedade. E para que este entendimento entre jornal e leitor não se esvazie, o combustível indispensável é que o texto jornalístico seja claro e com informações corretas e precisas. Por exemplo, a simples eliminação de vícios pode contribuir para a clareza do texto. Quanto mais exato, melhor será o resultado. É fundamental que a imparcialidade e neutralidade sejam componentes do texto jornalístico, porque, ao escrever, o estudante não tem como dimensionar a intenção do leitor.

O texto jornalístico não é um simples relatório. Há uma diferença fundamental entre um e outro. E ela se evidencia quando a introdução de elementos contraditórios, declarações curtas, a descrição dos ambientes e a objetividade da narrativa dão vivacidade ao texto. Se a função do texto jornalístico é informar, sua característica é fazer o leitor entender a complexidade de qualquer assunto em pauta.

Para simplificar o texto jornalístico, o estudante deve construir frases curtas, lógicas, afirmativas, precisas, estilo direto e de fácil comprensão. Evitar também períodos longos e parágrafos a perder de vista. Na dúvida, o melhor arma contra frases longas e parágrafos intermináveis é a pontuação.

Já as formas condicionais, passivas e negativas, ou a repetição de palavras ou citações, redundância, prejudicam, desvalorizam a mensagem jornalística e reduzem a fluência da leitura.

Para tirar as dúvidas do leitor e deixar o texto homogêneo, é necessário decodificar qualquer terminologia especializada, valores de moeda estrangeira, localização de países citados, medidas em sistemas diferentes do métrico.

Se o jornalismo é transformar o ontem no hoje, ou seja, o passado imediato, tem de fornecer os elementos necessários ao leitor para que tenha a informação mais atualizada sobre os fatos que marcaram as últimas 24 horas. Na verdade, o texto deve ter uma narrativa agressiva e informativa que estimule o leitor a se interar do assunto.

Humberto Werneck, editor senior da Playboy, diz que a beleza é uma arma para capturar o leitor na primeira linha e levá-lo até a última. Se o caminho é este, nada melhor que cada palavra ou expressão contenha o máximo de carga de significado. Substantivos fortes e verbos na voz ativa reforçam a beleza do texto jornalístico, justamente com uma informação rigorosa e bem apurada.

Ao preferir a frase afirmativa, o estilo direto, e recusar a imprecisão e a ambigüidade, o uso de frases feitas, os lugares-comuns, os chavões e palavras de ordem, o estudante coloca em prática o jornalismo eficaz e de leitura fluente.

Quando compra um jornal, o leitor está pagando por notícias corretas e precisas. É sensível, inteligente e crítico, portanto é preciso dar a ele um pouco mais do que supostamente está pedindo. Mesmo com a correria da vida moderna e a tendência da informação em tempo real, é preciso reservar espaço de reflexão para o leitor se aprofundar mais.

Para um texto jornalístico que atenda às exigências do leitor, é fundamental que o aluno dê um tratamento especial às citações, diálogos, transcrições de declarações importantes ou aspas. Deve reproduzir apenas as frases mais importantes ou expressivas. Não deve transcrever entre aspas as idéias manifestadas pelo entrevistado que possam ser melhor expostas através do texto indireto. Exemplo: "O governo brasileiro precisa levar mais a sério a dívida externa e pagá-la o mais rápido possível", diz o economista Chico Breve. O correto: Na avaliação do economista Chico Breve, o governo brasileiro precisa levar mais a sério a dívida externa…

O aluno deve evitar, como mandam as regras do jornalismo objetivo, claro e exato, o uso de adjetivos que expressam juizo de valor e possibilitam uma leitura subjetiva e, às vezes, desproporcional ao acontecimento. Exemplo: uma grande bomba explodiu no centro de São Paulo e fez um enorme buraco no viaduto do Chá. O adjetivo não qualifica a informação e torna o texto opinativo. O mais correto: uma bomba do tamanho de uma bola de futebol explodiu no centro de São Paulo e fez um buraco do tamanho de um campo de futebol. A informação chega mais completa ao leitor. Então, é recomendável levar em conta que a argumentação sustentada por fatos é mais forte do que a adjetivada. Convém empregá-la apenas quando faz parte de uma citação do entrevistado.

O texto jornalístico se torna mais rico em detalhes e informações quando se evita o emprego de expressões desgastadas pelo uso exagerado, muitas delas desnecessárias e destituídas de qualquer valor semântico. Exemplo: por outro lado, ao mesmo tempo, preencher a lacuna, haja vista, perda irreparável, ataque fulminante.

Escrever curto e grosso, economizar palavras ou procurar a mais adequada para cada pensamento a ser comunicado evita a superficialidade da informação. O sujeito indeterminado é outro recurso que o estudante deve deixar de fora do texto jornalístico porque não esclarece e deixa o leitor com dúvidas. Exemplo: alguém chegou e jogou uma coisa…, dizem que foi um pedaço de madeira…, parece que atingiu alguém que estava…, talvez o culpado…

A rigor, a impessoalidade é uma abstração, porque qualquer texto jornalístico tem a visão do autor. Mesmo contra a vontade dele, acaba sendo pessoal. Para se aproximar mais da imparcialidade e neutralidade, é recomendável que o estudante fique distante do fato jornalístico, ou seja, faça apenas o seu trabalho de investigação. Não se envolva com a fonte, partidos políticos, religião, quando está no exercício profissional.

A isenção deve ser atingida quando ao ouvir uma acusação, o estudante deve se empenhar em saber a versão do outro lado. E, na elaboração do texto, dê a cada parte o destaque merecido, nem menos, nem mais.

A impessoalidade significa, além disso, fugir ao intimismo, ao excesso de liberdade com o leitor. Deve-se evitar expressões: Perguntei ao jogador… Disse-me (nos) Pelé… Chegou ao nosso Brasil… Eu ouvi o Ricardo Teixeira sobre a seleção…. Correto: Perguntado sobre… Pelé diz que… Chegou ao Brasil… Para Ricardo Teixeira, a…

O você, dirigido ao leitor, não deve ser usado. Em lugar de Se você quiser assistir ao show, compre logo o ingresso. Se interessar em assistir ao show, compre logo o ingresso.

A preocupação com o leitor deve ser constante. O estudante deve facilitar ao máximo a leitura dele, mas sem perder a riqueza e a clareza do texto. O texto puro, aquele sem adjetivos, sem superlativos, preciso, frases bem construídas, sem lugares-comuns, e com declarações específicas, deixa o leitor mais informado, com menos dúvidas quanto a intenção da notícia.

Príncipio fundamental: o estudante deve escrever como se o leitor comprasse o jornal pela primeira vez. Então, o texto jornalístico deve conter o máximo possível de dados, testemunhos, emoção, distanciamento do fato ou acontecimento, humanização e pormenores, que auxilem o leitor a criar uma idéia rigorosa do assunto.

4.7 – Ineditismo da notícia

Notícia é um texto informativo, o uso da técnica da pirâmide invertida (do maior ao menor interesse). É a unidade básica de informação do jornalismo. É a matéria-prima do jornalismo. É o relato diário dos acontecimentos ou daqueles com possibilidade de ocorrer. É na notícia que o leitor espera encontrar informações que completam a sua curiosidade ou conhecimento. A notícia não deve ser extensa, nem cheia de adjetivos.

O estudante precisa ficar atento ao coletar dados porque, quanto mais elementos recolher, maior será o interesse do leitor pela notícia. É essencial que a notícia seja rigorosa, completa e fundamentada sobre fatos e não sobre rumores. Ela deve ser atual, abrangente, inédita, inusitada, incomum e de interesse público. O leitor quer saber a relação de causa e efeito, o que está por trás da aparente realidade. Na verdade, a notícia é a ocorrência de um fato. Não questiona nem opina, afirma e informa. Ela não investiga causa ou conseqüência, embora possa ser resultado de investigação.

Notícia informativa – relato puro e simples do fato, sem opinião, a partir do mais importante. É a seleção de tudo que acontece no dia-a-dia. A informativa é a mais usada no jornalismo diário. Ela não descreve o ambiente. É montada através de tópicos e documentações. Ela tem que oferecer ao leitor todos os ingredientes necessários para que ele não precise recordar os antecedentes para compreender o que a informação lhe oferece.

Notícia narrativa – É aquela que se organiza a partir de uma seqüência de acontecimentos. É a narração da realidade. Você passa ao leitor uma visão do ambiente, como se fosse escrever para o rádio.

A notícia deve basear-se nos apontamentos acumulados pelo jornalista. É o fato jornalístico que foge da rotina.

É importante destacar que no jornalismo laboratorial raramente uma notícia publicada porque a periodicidade o veículo raramente é diária. Por este motivo tempo que é preciso valorizar ainda mais a reportagem e incentivar o aluno a produzi-la com critérios e criatividade. É na reportagem que o futuro jornalista irá colocar em prática o conhecimento de humanidades.

4.8 – Entrevista é básica na apuração

A entrevista não é um simples quadro de perguntas e respostas, ou uma discussão e nem um debate de idéias, mas uma situação de interação em que dois indivíduos ou mais exercem influência mútua. A função do estudante é perguntar, confrontar o entrevistado com as contradições dele ou com fatos e opiniões que contradizem o discurso dele. O aluno nunca deve impor a sua opinião, hostilizar o entrevistado, mas também não deve comportar-se de forma passiva ou subserviente perante as declarações e mentiras do entrevistado.

A entrevista não é apenas uma reação à pergunta formal dirigida ao entrevistado. Interrupções devem ser feitas a propósito e de forma concisa para esclarecer uma resposta ou uma idéia ou introduzir um novo tema.

Ela é uma das principais fontes de informação para o jornal, e está presente, direta ou veladamente, na maioria das notícias ou das reportagens.

A entrevista é um gênero jornalístico provocado, motivado pela atualidade e pelo interesse humano que a pessoa focalizada desperta.

Na verdade, é um relato informativo ou opinativo que o entrevistado tem sobre determinado fato jornalístico.

Princípios para se fazer uma entrevista

* Procure saber quanto tempo terá para fazer a entrevista. Se for pouco tempo, vá direto ao assunto;

* Planeje: Informe-se ao máximo sobre o entrevistado ou sobre o assunto, para que as perguntas sejam pertinentes e objetivas, mesmo que haja um roteiro pré-estabelecido. Ao sair da redação para entrevistar alguma personalidade informe-se sobre a carreira, interesses, passatempos, educação, trabalho, seus pontos de vista políticos, religiosos, esportivos etc.

* O que perguntar: É muito importante que o aluno de jornalismo conheça o assunto sobre o qual irá perguntar. Faça perguntas diretas, objetivas, específicas sobre o assunto. Nunca se deve perguntar O sr. tem algo de interessante a dizer sobre o assunto? Porque ele responderá nada, e encerra a entrevista, ou poderá ainda contar o que não é de interesse para a matéria.

* Não confie na memória, faça anotações, mas discretamente. Anote o que for necessário e preste atenção no sentido da resposta. Muitas pessoas se inibem na frente do jornalista que anota tudo, ou que está gravando.

* Cuidado com as anotações, pois notas truncadas dão aborrecimentos e posteriores retificações. Se tiver alguma dúvida, depois de voltar à redação, telefone para esclarecer, é melhor do que escrever errado e perder a fonte ou a credibilidade conquistada.

* Não deixe que o entrevistado escreva suas respostas ou as dite para você. Caso contrário, perderá o rumo da entrevista e a iniciativa. Você deve dirigir a entrevista.

* Observe e anote também as ações do entrevistado, seus movimentos e cacoetes. Tornará a matéria ilustrativa, no caso de um perfil, por exemplo.

* Deixe o entrevistado falar, o leitor quer conhecer o pensamento dele e não a do estudante. Aprenda a perguntar, a ouvir e a observar. Ouvir com atenção inspira confiança no entrevistado e o encoraja a prosseguir nas respostas. Você não sabe mais do que o entrevistado sobre o assunto em pauta, portanto é melhor ouvi-lo.

* Seja neutro, não interprete a resposta do entrevistado segundo as suas concepções. Apresente-se como pessoa compreensiva, sem querer mudar as idéias do entrevistado, mesmo que você seja contra elas.

* Empreendendo clima de seriedade e domínio do assunto, o aluno pode fazer perguntas diretas e incisivas sem que o clima de cordialidade seja quebrado.

* Evite atritos com o entrevistado, seja natural, polido, cortês, sem afetação ou subserviência.

* Se a resposta foi vazia e o entrevistado usou de evasivas, o repórter deve insistir no assunto até que obtenha uma resposta direta.

* Nas entrevistas coletivas, não espere ser conduzido, disponha-se a fazer as perguntas e corrigir o rumo da entrevista, caso alguém faça perguntas desnecessárias.

* Espere o entrevistado concluir uma resposta para fazer outra pergunta, nada é mais irritante do que uma resposta pela metade.

* A pauta é apenas uma indicação e pode ser esquecida se a entrevista seguir rumo mais interessante.

* Pergunte o mais que puder, mas evite as questões óbvias.

* Por mais desordenadas que sejam as perguntas, o aluno deve ter consciência da seqüência do assunto.

* As perguntas devem ser curtas e objetivas.

* Entrevista é um diálogo que acontece entre o estudante e o entrevistado. As respostas são dirigidas ao leitor. Por essa razão, a entrevista é uma técnica do jornalismo informativo, nunca do opinativo. Quando há opinião do entrevistado na entrevista, ela é encarada como uma informação, como complemento da entrevista, o aluno passa ao leitor a informação sobre a opinião do entrevistado e não a sua ou a do jornal.

As entrevistas podem ser:

* Individual — Entrevista concedida apenas a um aluno, exclusiva ou não. É exclusiva quando o entrevistado se compromete a dar as informações só para o aluno que o procurou e que será o único a publicá-las.

* Coletiva — Entrevista dada a um grupo de alunos, por convocação do entrevistado ou por iniciativa do aluno. O parâmetro deve ser sempre o do interesse público.

* Enquete — Série de pequenas entrevistas sobre um assunto, para saber a opinião de determinados entrevistados.

Como obter uma entrevista

* Em caso de pessoas que tenham função ou cargo de relevância, a entrevista tem que ser marcada anteriormente, caso contrário, o estudante corre o risco de não encontrar o entrevistado ou não conseguir horário para ser atendido. No entanto, se o assunto requer abordar a pessoa inesperadamente, então o estudante tem que estar consciente de que poderá ser atendido rapidamemte, ou terá que esperar muito.

* Outras pessoas devem ser abordadas sempre com educação, calmamente, sempre sendo tratadas por sr. ou sra., tratamentos que não entrarão no texto da matéria.

* Numa entrevista comum, o entrevistado não precisa ter conhecimento das perguntas anteriormente. No caso de uma entrevista mais especializada, é comum o entrevistado pedir a relação de perguntas para estudá-las antes. Pode ser fornecida ou não, dependendo do assunto.

Como preparar uma entrevista

* Para se obter resultado perfeito numa entrevista, ela tem que ser preparada com antecedência.

* As informações sobre o entrevistado podem ser obtidas das mais variadas formas, mas a mais correta é uma visita ao banco de dados do jornal ou faculdade. Lá, além de entrar em contato com as entrevistas já feitas, o aluno fica conhecendo as expressões do entrevistado, o que pensa e quem é a pessoa.

* Outra vantagem de consultar um banco de dados é a possibilidade de conhecer mais sobre o assunto da entrevista. O entrevistado precisa sentir que o aluno está seguro do que pergunta e este deve conhecer profundamente o assunto para poder cortar a resposta no tempo certo, acrescentar algo importante e não correr o risco de o entrevistado desviar o assunto.

* Se a entrevista for com um empresário, é indispensável conhecer um pouco sobre a empresa dele e o ramo. Se for com um artista, então o repórter tem que conhecer pelo menos alguns shows, programas ou filmes em que o entrevistado apareceu.

* Deve-se prestar atenção ao ambiente onde ocorre a entrevista e onde o entrevistado normalmente fica. Mais atenção ainda ao jeito como o entrevistado responde, suas expressões faciais, mãos, etc.

Deve-se gravar entrevistas?

* O gravador deve ser usado em entrevistas longas, especializadas ou depoimentos. Mas o aluno não deve deixar de fazer anotações também, registrando expressões e interferências.

* O aluno também deve anotar palavras-chaves, para reconhecer o assunto gravado.

* Em entrevistas curtas, o gravador não deve ser usado. Leva-se tempo para tirar da fita e matérias curtas são requisitadas com pressa. Informações anotadas são mais fáceis de serem trabalhadas.

* Outro fator importante é que o gravador pode tirar a espontaneidade do entrevistado e a concentração do aluno porque acredita que tudo o que está sendo gravado é o mais importante e não presta atenção na resposta do entrevistado. Há também quem não dê entrevistas gravadas e há os que começam a escolher as palavras para falar, querem falar bonito em detrimento da informação correta.

Como conduzir a entrevista

* O aluno deve fazer com que o entrevistado se sinta à vontade na entrevista. Para isso, o estudante deve conhecer o entrevistado, anteriormente ou rapidamente antes da entrevista. Mas isso não quer dizer mostrar-se amigável e nem perder tempo com brincadeiras no início. Muitas vezes o entrevistado é uma pessoa muito ocupada e demorar para começar a entrevista pode causar alguma antipatia logo no começo.

* O aluno deve fazer as perguntas objetivamente, rapidamente, sem muitas considerações e ouvir mais o entrevistado.

* O aluno tem que ter a capacidade de saber se o entrevistado está ou não mentindo, através de expressões ou de acordo com as respostas dadas. Para isso, precisa estar informado sobre o assunto. Mas nunca deve insinuar, no momento, que a pessoa está mentindo. A melhor maneira é investigar o que se desconfia que é mentira e até checar com outras fontes.

Tipos especiais de entrevistas

* Os três tipos de entrevistas são: por telefone, em grupo ou o off (informações ou declarações confidenciais em que a fonte não pode aparecer).

* Por telefone – A melhor maneira é dispensar o telefone. A entrevista por telefone tem resultado inferior à que é feita pessoalmente, é superficial. Use o telefone apenas para confirmar dados.

* O encontro pessoal para a entrevista é melhor para o aluno e para o entrevistado.

* A informação em off com se costuma chamar, precisa ser checada. O aluno deve aceitar, quando a fonte é conhecida e pode publicá-la se tiver plena confiança em quem a transmitiu. Mas deve ver com reservas as informações em off que possam ter outras intenções por trás.

4.9 – Reportagem aprofunda a notícia

O sonho de trabalhar na grande mídia deixa o aluno anestesiado ao ato reflexivo e vislumbrado com o imediatismo do fato jornalístico. Na escola, o desejo dele é escrever como se fosse para um jornal diário, justifica tal postura porque, segundo ele, é assim que funciona o mercado. Ele está correto na forma de pensar, mas equivocado quando escreve para um jornal-laboratório porque a periodicidade é outra, o modo de fazer jornal não é o mesmo da grande mídia e a narrativa jornalística, na verdade, é uma extensão da notícia. “A reportagem traz a marca de um meio de comunicação que tem os seus leitores específicos, a sua história, a sua cultura, mas também a marca de um jornalista-repórter cuja escrita afirma a sua personalidade”, observa Jean-Dominique Boucher que considera a reportagem essencial porque visualiza a informação, dando-lhe autenticidade e credibilidade.26 Aprender nas “viagens”, somado à leitura e aos contatos pessoais, tudo isso é possível conquistar produzindo reportagens. E é essa visão humanística e de um novo horizonte a cada dia que o futuro jornalista deve ter em mente, caso contrário ficará restrito apenas ao conhecimento tecnicista. “O jornalista médio, aquele que se acomoda ao estado de coisas da carreira profissional tal qual ela se apresenta no Brasil, muito cedo adere ao cepticismo, à amargura, à non chalance ou espírito blasé”.27 Essa é a previsão de Cremilda Medina ao jornalista tarefeiro, aquele que não vê na reportagem a amplitude do seu universo jornalístico como instrumento de transformação social.

O estudante, quando da elaboração do seu texto, tem de ter saber quem é o seu leitor, para quem vai escrever e que tipo de texto vai apresentar: informativo, interpretativo ou opinativo. Na imprensa diária brasileira encontram-se estas três categorias, mas em maior quantidade o texto informativo, seguido do opinativo e alguns interpretativos (reportagens). Numa revista semanal, como Veja, Época, IstoÉ, os textos são mais de interpretação dos fatos registrados na semana. Trabalha mais com reportagens, não necessariamente de investigação, mas aquela que aborda em profundidade os assuntos pautados pelos jornais impressos.

Todo fato jornalístico tem e deve se caracterizar pela narração de um acontecimento de interesse social. A reportagem está mais voltada a descrever uma situação real de domínio público, com recursos mais ligados à literatura com a finalidade de chamar à atenção do leitor. O ideal quando se tratar de jornal-laboratório, dada à periodicidade e à finalidade do veículo laboratorial, seria fazer um tipo de jornal/revista com texto bem construído.

No Brasil do final do século 19 e início do 20 era natural encontrar nas páginas dos periódicos textos literários, opinativos e pouca notícia. A maioria dos jornais tinha como função a defesa de interesses políticos. Nasciam e morriam rapidamente como as notícias de hoje. Na verdade, eram mais efêmeros que a própria notícia. Não as crônicas, as poesias, ou ao texto opinativo que João Paulo Alberto Coelho Barreto, o João do Rio, deixou a comodidade da redação e foi para rua narrar o cotidiano fluminense. “Há quem garanta que ele foi o primeiro repórter-repórter (sic) do jornalismo brasileiro; aquele que saía da redação e ia ouvir o povo, o trabalhador, o malandro, as mulheres da vida”, observa José Sebastião Witter.28 João do Rio colocou em prática o jornalismo de interesse social, a vida do trabalhador comum e a realidade brasileira nas páginas dos jornais carrancudos e conservadores. Rompia ai uma barreira que isolava o acontecimento diário porque não interessava à classe política, à burguesia e aos intelectuais noticiar o cotidiano.

Com o avanço tecnológico, a diminuição das fronteiras geográficas e a notícia em tempo real nas páginas do jornalismo on line, o texto de um jornal impresso tem de ser mais bem cuidado, mais reflexivo, mais aprofundado. Agora não basta apenas noticiar, porque a televisão, o rádio o webjornalismo são mais ágeis e versáteis em informar primeiro, independente do conteúdo da notícia. Tão Gomes Pinto também partilha dessa opinião porque, para ele, num jornal impresso a cobertura deve ser ampla. Ele explica: “Acho que um texto deve ser bem escrito, mas narrativo, no sentido de que todas as matérias tenham começo, meio e fim, do que um amontoado de frases, simples coisas brutas que você ou ouve no rádio, lê na internet ou vê pela tevê. Esse tipo de tratamento da notícia acho que não cabe mais ao jornal. Cada vez mais é um tratamento mais profundo, mais analítico.”29 Tão Gomes Pinto lembra que jornais como New York Times, Herald ou a Guardian têm essas características. Augusto Nunes, diretor de Redação do Jornal do Brasil, também concorda e prevê que o conteúdo do jornalismo impresso, apenas noticioso, vai ser substituído pelo informativo digital. Na opinião dele, o jornalismo impresso terá de ser analítico para o leitor entender melhor o assunto. Ele faz a seguinte observação para justificar o seu ponto de vista: “A notícia na íntegra, ele (leitor) assistiu, ouviu e leu nas páginas da wejornalismo.”30 Mas é preciso ficar claro que esse tratamento analítico não significa a editorialização ou opinar no texto de uma reportagem. O que o leitor deseja é ser ajudado na visualização do fato jornalístico.

É esse que deve ser o perfil do jornal-laboratório porque não há como, principalmente no Brasil, acompanhar a velocidade da informação, mesmo porque a função do exercício laboratorial é formar o profissional que tenha o domínio pleno da linguagem jornalística e não apenas da técnica da pirâmide invertida.

Não tenho a pretensão de escrever sobre a fronteira entre jornalismo e literatura porque este trabalho não focaliza essa temática, mas o texto do jornal-laboratório impresso deve se aproximar da grande reportagem, não tão em moda no jornalismo brasileiro. Há exemplos de jornalistas brasileiros e extrangeiros que transformaram a reportagem em livro-reportagem e nem por isso o brilho da linguagem jornalística foi abandonado. Entre eles se destacaram Truman Capote no livro A sangue frio que relata um brutal assassinato de uma família do estado do Kansas. Já John Reed foi o repórter da revolução russa em os Dez dias que abalaram o mundo. Euclides da Cunha em sua reportagem Os Sertões contou a saga de sertanejos do arraial de Canudos na luta contra o Exército brasileiro. Todos os autores narraram os fatos jornalísticos como observadores participantes, ou seja, estiveram no local do acontecimento. É importante citar esses exemplos de jornalismo presencial porque hoje publica-se muitas notícias levantadas pelo telefone ou internet.

O jornalismo tem regras próprias, mas nada impede o jornalista de pesquisar, checar, colher pistas e impressões na busca de elementos ou personagens que possam enriquecer o texto. Para José Sebastião Witter, uma reportagem não é um mero sistema de registro do fato jornalístico: “O autor trabalha com personagens reais, como exige a boa imprensa, porém utiliza recursos rigorosamente literários na reprodução dos cenários de sua reportagem, humaníssima e recheada de estilo, vigoroso, iluminado estilo.”31 Na verdade, o serviço de reportar é pura rotina, porque uma das funções do repórter é examinar com cuidado o fato jornalístico. Um exemplo desse trabalho minucioso e atencioso de garimpagem jornalística, onde o autor transforma uma execução de rotina, para a época, em um bem articulado texto não perecível, data de 1846, em Roma. “Havia ali um extenso local lamacento quase vazio, como uma careca na cabeça de um homem. Um vendedor de charutos, com um pote de barro contendo cinzas de carvão em uma das mãos, andava para cima e para baixo, anunciando a sua mercadoria. Um vendedor de doces dividia sua atenção entre o cadafalso e seus fregueses. Alguns meninos tentavam subir em paredes e em seguida caiam. Padres e monges tentavam abrir caminho acotovelando-se entre as pessoas e ficavam na ponta dos pés para ver a lâmina: depois iam embora.”32 Era Charles Dickens, escritor e jornalista inglês, em sua reportagem Uma Execução, descrevendo a decapitação de um prisioneiro romano. A reportagem é um acontecimento público do século 19, mas não perdeu a contemporaneidade porque o autor usou uma linguagem que não se prendeu apenas ao factual, embora cite o dia da semana, o ano, a hora, mas à narrativa concreta, objetiva e ao enredo em que os personagens se movem. O texto também retrata o comportamento do ser humano, sua curiosidade, sua ambição comercial e seu descaso para um homem que iria morrer de forma trágica. Charles Dickens narra assim a ganância humana: “…como a dos apostadores de loteria que, depois de um decapitação pela guilhotina, contam as gotas de sangue espalhadas no chão para tentar advinhar o número que será sorteado”.33 O autor explorou com propriedade a execução, usando um linguagem simples, precisa, clara, frases curtas. Ao buscar no próprio local personagens do cotidiano, enriqueceu a narrativa jornalística. Ou seja, o trama não se resumiu apenas ao destino do prisioneiro, mas o que se passava ao redor do cadafalso. É o jornalismo presencial registrando a história humana.

O texto para jornal-laboratório deve e precisa caminhar nessa direção tão bem construída por Charles Dickens. A riqueza estilística não é simplesmente noticiar o fato, está na contextualização, nos detalhes, nas contradições, na análise, nas reações humanas, no inusitado, na observação participante – foi o que fez Dickens –, na intepretação sob diferentes perspectivas. O aluno deve mergulhar nessa narrativa para descrever com singularidade o fato de interesse universal.

Enquanto o mundo e o Brasil concentram suas atenções à queda das torres gêmeas e a guerra entre Afeganistão e Estados Unidos, uma parte do extremo Norte do território nacional vive em constante conflito social, econômico, político e armado. Grandes reportagens foram publicadas em revistas e jornais brasileiros relatando mais uma aventura norte-americana além fronteiras, mas raro foi aquele que contou um pouco sobre o Brasil. Nesse mar de informações e contra-informações sobre o episódio Osana bin Laden, a revista Época fugiu da mesmice e publicou uma reportagem de Eliane Brum, que, infelizmente, mereceu uma pequena chamada na parte superior da capa do periódico, A Guerra do começo do mundo: a última fronteira. O texto narra o cotidiano de um território desconhecido pela maioria do povo brasileiro: Roraima. A autora usou do seu conhecimento de geografia, política, de história contemporânea, ou seja, de humanidades, para descrever a saga do povo de Roraima. Os dados comparativos ilustram bem o texto da reportagem e deixam o leitor familiarizado com o drama daquele Estado nortista. Esse trecho extraído da reportagem revela uma faceta do Brasil: “Roraima é uma terra isolada, ligada ao resto do país apenas por uma transfusão de recursos – intensa e de mão única – de Brasília para o Estado. Mais perto de Miami que do Rio de Janeiro, a capital (Boa Vista, grifo nosso) vive em crise de identidade. Quando um roraimense viaja, anuncia aos amigos: Vou para o Brasil.” O relato continua: “Assim, isolado, maltratado até, e um tanto órfão, Roraima vive a guerra do começo do mundo. E ninguém se importa. O Brasil não dá importância a Roraima, mas Roraima importa-se muito”.34 A autora reportou a situação local incluindo personagens que fizeram e fazem a história de Roraima: o migrante regional, nacional e extrangeiro; a saga dos aventureiros como a da maranhense Cleonice Conceição, de Maurício Habert que sonha em dismistificar a fama do pai Maurice Habert de ladrão e desertor da Primeira Guerra Mundial; do suíço Walter Vogel, que se diverte plainando de ultraleve, é dono de 12 mil cabeças de gado, 100 mil terrenos; e a guerra entre o Exército, os índios e a Igreja Católica. A riqueza estilística faz o leitor viajar no tempo e no espaço, dificilmente documentários de televisão reportariam com sutileza e maestria o dilema de personagens comuns e de um Estado em estado de alerta. A reportagem termina deixando transparente que conflitos sempre vão existir na terra que tem 57% sob o domínio indígena: “…No norte, os macuxis seqüestraram um par de botinas e uma boina dos militares para mostrar quem manda naquela quina do Brasil. Diante do ataque estrangeiro, o valente general (Claudimar Magalhães Nunes) ameaça tomar os troféus de guerra na marra. Não há dias comuns em Roraima.”35 Se uma das funções do jornalismo é colocar à tona as contradições, o texto de Eliane expõe este contraste brasileiro.

A compreensão real do fazer jornalístico exige uma sensibilidade incomum e um profundo conhecimento de história, economia, política, antropologia, filosofia e sociologia. Se a escola deve preparar o futuro jornalista para o exercício profissional, independente da mídia, então é fundamental que a formação acadêmica leve-o à criticidade, ao pensar e refletir lógico, a ouvir sempre as várias versões do fato jornalístico, a mostrar as contradições e não as suposições. Para o aluno entender e assimilar essas práticas obrigatórias do fazer jornalístico, o exercício de reportar é de grande valia.

4.10 – Aluno-repórter

É nos grandes conflitos mundiais que o papel do jornalista-repórter torna-se público, se aproxima do cidadão comum e se fragiliza por ser o único a chegar perto da notícia no campo de batalha. O exemplo mais recente dessa ação jornalística foi o confronto norte-americano contra os seguidores de Osana bin Laden. Preocupados em verificar as manobras militares in loco os jornalistas norte-americanos brigaram para entrar na guerra. O desejo era evitar que o Pentágono controlasse as informações sobre o confronto no Afeganistão. “É muito fácil perceber que não teremos reportagens em tempo real nem a verificação do que realmente aconteceu nos ataques”, reclama Doyle Macnus, do diário Los Angeles Times.36

É com esse espírito de ter maior acesso ao fato jornalístico que o aluno-repórter deve encarar a atividade profissional ainda na escola. É por meio da observação, no local que pretende reportar, que colocará à tona as contradições sociais ou políticas. “Daí por que pode ser chamado de observação-reportagem, já que apresenta certa similaridade com as técnicas empregadas pelos jornalistas.”37 Antônio Carlos Gil quis dizer que a observação é um técnica de coleta de dados e independe para que fim será usada.

Se, segundo Franz Victor Rudio, observar é aplicar os sentidos a fim de obter uma determinada informação sobre algum aspecto da realidade,38 o futuro jornalista não pode abrir mão dessa técnica, secularmente utilizada pelo ser humano, com o objetivo de valorizar e enriquecer o texto jornalístico e ainda ganhar credibilidade junto ao leitor. Mas observar abrange todos os sentidos do homem, não se resume a ver, mas de examinar e interpretar, de ler documentos, de colher depoimentos. Estes conhecimentos ajudam o estudante a compreender com maior abrangência o fenômeno jornalístico. “A percepção, observação cotidiana se enriquecem, amplia-se a cosmovisão, assim como ampliam as narrativas”, ensina Cremilda Medina que tudo isso é possível aprender por meio da reportagem.39 Luiz Maklouf de Carvalho, autor de Cobras Criadas, usou com propriedade a observação para contar a vida de menores de rua que perambulam pelo centro da capital paulista. Para mostrar com precisão e veracidade o fato, Maklouf passou 12 horas acompanhando de perto as aventuras, as peraltices de sete crianças abandonadas pelos pais e pelo Estado. “Lá vão eles de novo, a menina um pouco atrás. Entram no metrô Anhangabaú, atravessam as duas pistas da 23 de Maio. Dois deles têm cola.”40 A cada linha lida o leitor mergulha no mundo conturbado e violento de São Paulo como se fosse ele o observador-participante.

O jornalista tem sempre presente uma preocupação: ser preciso e verídico no relato do imediato, mas sem perder a criatividade. Disso decorre parte da narrativa por ele elaborada. A construção lógica de cada parágrafo e a coordenação coerente das informações coletadas, mais a intuição jornalística do autor, são fundamentais para tornarem o texto inteligível e de fácil leitura.

Prender a atenção da primeira até a última linha, ter originalidade, clareza e criatividade, simplificar o cotidiano, mostrar os contrastes sociais sem perder o brilho da narrativa são desafios constantes que o jornalista enfrenta para contar um fato real rico em detalhes. A reportagem acentua a qualidade do autor e amplifica o universo do leitor. No entanto, para seduzir o leitor é preciso algumas técnicas narrativas, nenhuma pode ser monótona, cheia de adjetivos ou cansativa. Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari classificaram a reportagem assim: a) reportagem de fatos (fact-story), reportagem de ação (action-story) e reportagem documental (quote-story).41 Os três tipos ou modelos devem ser usados pelo estudante porque não privilegiam o factual mas o desdobramento da notícia. Sendo, portanto, uma extensão do real imediato, a reportagem constitui um gênero jornalístico que contribui na formação estilística e conteudista do futuro jornalista. “Por isso, é a reportagem – onde se contam, se narram as peripécias da atualidade – um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal nosso de cada dia, na imprensa não cotidiana ou na televisão, ela se afirma como o lugar por excelência da narração jornalística. E é mesmo, a justo título, uma narrativa – com personagens, ação dramática e descrições de ambiente – separada entretanto da literatura por seu compromisso com a objetividade informativa.”42

4.11 – Pauta serve de guia

Chama-se pauta tanto o conjunto de assuntos que uma editoria está cobrindo como a série de indicações transmitidas ao estudante, não apenas para situá-lo sobre um determinado tema, mas, principalmente, para orientá-lo sobre os ângulos a explorar no fato jornalístico, entrevista ou na reportagem. Toda pauta parte de uma hipótese. É o roteiro mínimo fornecido ao estudante de Jornalismo. A pauta serve de guia ao estudante. Para Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo, a pauta é o plano de vôo para o desenvolvimento da reportagem.

O estudante precisa primeiro pesquisar o assunto antes de ir a campo. Ele deve se preocupar em levantar enfoques diferenciados sobre o assunto, buscar ângulos novos de abordagem, não ser genérico e responder a uma questão específica. O aluno deve ler de tudo, checar minúcias, ter uma boa rede de informações, conversar sempre com quem puder, interessar-se por tudo e por todos, ficar atento ao trânsito, obras públicas ou não, sempre que possível reler jornais e revistas na coleção situada no arquivo ou no departamento de documentação. Ser bem informado é uma qualidade indispensável a quem prepara uma pauta. O estudante não pode começar um texto sem muita pesquisa. Se confiar na intuição ou na velha praxe “na hora eu me viro”, já é meio caminho andado para o erro. É preciso preparar, ler, anotar. Fazer uma pauta é apurar antes da apuração. Ao apurar, com uma leitura rigorosa sobre o assunto, o estudante pode encontrar contradições ou informações que não batiam ou batem com o assunto.

Não adianta nada ser um bom criador de idéias e não saber se podem ser executadas. Formular perguntas é uma coisa, talvez até um ato mecânico, mas ter conhecimento sobre o assunto a ser pautado é outra história. A boa pauta é aquela que tem um bom histórico que possa facilitar a compreensão do objetivo. O texto deve ser leve, esclarecedor e até provocativo. Ou seja, aguçar a sua própria sensibilidade. A pauta jamais pode ser um catálogo, um índice ou uma folha repleta de anotações genéricas e dispersas. Na verdade, precisa ter uma metodogia que possa nortear e ordenar o que se propõe a confirmar ou não.

Quando se tem uma boa pauta, a coleta de dados e a matéria se desenrolam naturalmente. A pauta é um roteiro que inclui o assunto, histórico, objetivo, justificativa, telefones de pessoas a entrevistar, endereços de locais que deverão ser procurados e previsão para fotos, tabelas, gráficos, ilustrações, mapas ou box. Deve-se evitar a formulação de perguntas. Ela inibe o estudante a refletir e analisar o argumento do entrevistado. Na verdade, o estudante fica mais preocupado em fazer a próxima pergunta que já está programada e não presta a devida atenção na resposta do entrevistado. Então, o fundamental é que faça o estudo aprofundado sobre o tema ou entrevistado e redija um histórico que o possa ajudar no encadeamento da reportagem ou entrevista.

A pauta é detalhista, principalmente porque o jornal-laboratório é diferente do jornal diário. Este se pauta com acontecimentos programados e não-programados, enquanto o jornal-laboratório trabalha quase sempre com matérias frias. No jornal diário, por exemplo, é preciso agilidade para montar uma pauta de cobertura no caso de um grande incêndio. No jornal-laboratório os estudantes têm um tempo maior de operação, além do tratamento e acabamento editorial diferentes. Quanto mais o estudante estiver informado, mais sua sensibilidade estará aguçada para direcionar sua matéria. Por isso, é preferível que o aluno faça um levantamento detalhado sobre o assunto ou entrevista que vai reportar e deixar de lado o roteiro de perguntas. Então, um bom histórico, na maioria das vezes, dá muito mais subsídio ao estudante para questionar o entrevistado.

A pauta de um jornal-laboratório deve e precisa ser mais rica do que a dos órgãos de imprensa diários. Nestes, quem define a pauta são os editores. O repórter, na maioria dos casos, é um elemento passivo na discussão de pauta. Já em um jornal-laboratório esse processo deve e tem que ser diferente porque é um trabalho acadêmico e precisa ser mais fundamentado. A pauta escrita e completa obriga o estudante a fazer uma pesquisa antes: saber onde está a fonte, qual o seu telefone, a melhor angulação na matéria, o que já existe publicado sobre o assunto etc.

A cada edição do jornal-laboratório é realizada uma reunião de pauta para discutir e analisar as propostas de pautas do estudante. A reunião de pauta é para evitar decisões arbitrárias, democratiza uma Redação e hierarquiza os fatos jornalísticos – de interesse público – que devem ser “cobertos” pelo jornal-laboratório. O aluno-repórter tem de discutir a pauta também, porque durante a discussão ele já começa a fazer a matéria. Além disso, quando o aluno discute a pauta, aprende a interpretar os fatos.

Modelo de pauta

tema — saúde

assunto — paralisia infantil

histórico — é uma pesquisa sobre o assunto, seleção dos dados mais importantes que possam auxiliar o estudante no direcionamento da matéria ou reportagem.

objetivo — especificar o direcionamento do assunto. É a angulação da matéria ou reportagem.

fontes — Ministério da Saúde, secretarias da Saúde, hospitais públicos e privados, escolas, creches, depoimentos de especialistas, pais etc.

Estes dados ajudarão o estudante a montar e produzir um texto que atenderá às exigências do leitor. O estudante tem liberdade e deve ter sensibilidade para mudar a angulação da pauta quando um assunto levantado no meio de uma entrevista ou cobertura se sobrepuser aos demais pedidos pela pauta. Ou seja, quando surgir um gancho mais interessante.

4.12 – Lead não dispensa criatividade

No início dos anos 50, uma grande reforma no jornal Diário Carioca substituiu o tradicionalíssimo nariz-de-cera pelo lead, recurso de estilo norte-americano no qual as informações mais importantes e atraentes da notícia são colocadas no parágrafo inicial do texto, de modo a conquistar a atenção do leitor. O responsável pela modernidade do jornalismo brasileiro foi o jornalista Roberto Pompeu de Sousa Brasil.

Na verdade, lead, ou já aportuguesado lide, é a introdução, o primeiro parágrafo de um texto, que dá resposta a seis perguntas básicas do objeto da matéria: quem? o que? quando? onde? como? por quê? É uma técnica com o objetivo de compactar a informação ao leitor. O lead deve ter no máximo 10 linhas/lauda de um parágrafo e ser dividido em dois ou três períodos (orações) tratando do mesmo assunto. Evite parágrafos longos. Quando o lead for noticioso, o estudante de Jornalismo deve obedecer à seguinte regra: o que, quem, quando, como, onde e por quê. A seqüência das seis perguntas-chave para formação de um bom lead é flexível.

Agora, se a notícia não for factual, por exemplo, uma reportagem sobre o desmatamento clandestino na Amazônia, o estudante deve e pode lançar mão de outros recursos de redação. A receita não é correta para todos os textos, mas é preciso dominar a fórmula para saber quando não usá-la, substituindo-a pela originalidade, criatividade e talento. Porém, o estudante não pode se esquecer que a exigência fundamental continua a de prender a atenção do leitor, e para isso é preciso escrever bem, o que só se consegue lendo bem, e muito.

O estudante ao construir um texto jamais pode dispensar a criatividade, mas precisa respeitar as regras de estruturação, sem adotar uma visão burocrática do fato jornalístico. O lead, conforme define o Livro de Estilo do jornal português Publico, é aquele que introduz uma novidade absoluta, uma notícia em primeira mão. O estudante deve sempre mostrar algo novo, mesmo que o assunto seja óbvio.

O lead deve ser claro, preciso e fiel ao público, não deve ser negativo, dúbio ou de difícil interpretação, interrogar o leitor, ou no condicional e no gerúndio. O estudante também deve evitar citações literárias, expressões. O lead deve ser afirmativo, informativo e, quando possível, acentuar a ação.

4.13 – Título leva à leitura

A função do título ou manchete é anunciar a notícia ou reportagem, resumir o mais importante do texto jornalístico. Tem de refletir a realidade do fato jornalístico, o clima do assunto, tornar a notícia atraente. É a frase mais enxuta e curta, composta em letras (caracteres) maiores que ficam acima do texto. A finalidade é orientar e despertar o interesse pela leitura.

Algumas regras e dicas

O título:

* precisa sair do lead e é importante que provoque impacto, curiosidade, ser apelativo.

* precisa ser claro, objetivo, conciso.

* ter verbo de ação (no presente). Isso atualiza, não deixa a notícia envelhecer. Quando o texto se referir a fatos distantes no futuro ou passado, usam-se o pretérito ou o futuro.

* ter palavras curtas.

* conter palavras-chave que sintetizem o mais importante (lead) da matéria;

* só deve usar siglas conhecidas.

* não deve abreviar palavras.

* estar na ordem direta: sujeito, verbo e complemento.

Evitar

* uso de termos indefinidos: vários, diversos, muitos, poucos, alguns etc. Essas palavras dão margem a imprecisão.

* uso de artigo antes do sujeito.

* uso de dois pontos. Não é criativo e interrompe a continuidade do título.

* reproduzir as palavras iniciais do texto;

* uso de verbos como ter, dever e poder, em razão da carga de ambigüidade que contêm.

* uso de interrogração. O título precisa informar o leitor, não deixá-lo em dúvida ou questioná-lo.

* uso de rimas, principalmente o ão.

* título óbvio. Exemplo: Recessão causa aumento de desemprego;

* uso de palavras desconhecidas do leitor.

* aspas no título, a não ser para identificar citações fortes.

* verbos em tempo composto. Exemplo: FHC vai viajar amanhã. (Errado); FHC viaja amanhã. (Correto)

* dividir palavras.

* uso do ponto final.

* adjetivos que só preenchem espaços e não enriquecem a informação;

* uso de advérbios de lugar.

* uso de números no começo de título.

* uso de palavras ou expressões negativas. Exemplo: Jogo não se realizará. Correto: Jogo é cancelado.

* uso de números romanos.

* só use abreviaturas ou nomes próprios quando forem do conhecimento geral.

Impacto

Exemplo de título que causa impacto:

Choque de ônibus mata 100 pessoas;

Sem impacto e desinteressantes

Exemplo: Violento choque de caminhões;

Exemplo: Nenhuma pista sobre o crime da rua Cuba;

4.14 – Edição seleciona e hierarquiza

Até a metade do século 15 tudo era manuscrito, a invenção da imprensa facilitou a produção e difusão do jornal, pois permitiu que fossem feitas várias cópias de um mesmo impresso. Com a tipografia criou-se um tipo de comunicação comum, ou seja, o jornalismo passou a ser um fenômeno universal. Com a colaboração de Gutenberg, a maneira de fazer jornal foi evoluindo de acordo com a necessidade de comunicação do homem e também com a sofisticação dos governantes na arte de dominar. A linha editorial do jornal foi se moldando e ganhou padronização e organização com a Revolução Industrial.

O crescimento da industrialização provocou transformação do sistema de estratificação social com a expansão da classe operária e das camadas médias, o advento da burocracia e das formas de controle gerencial, o aumento populacional e o desenvolvimento do setor terciário em detrimento do setor agrário. A partir desses fenônemos, filhos da Revolução Industrial no final do século passado, os jornais, antes privilégios de poucos, começaram a chegar à casa do proletário. Nascia, ou melhor, se consolidava nesse movimento o primeiro veículo de comunicação de massa. O jornal viabilizou não só o debate político e a reflexão, mas também sua utilização como um mecanismo de manipulação das classes menos abastadas da sociedade.

Até a Segunda Grande Guerra, não havia uma padronização do lay-out da página. As matérias geralmente não eram tituladas. Os jornais não se preocupavam em manchetar as principais notícias na primeira página para atrair o leitor mais desatento. No decorrer dos acontecimentos da guerra, o modo de fazer jornal foi se modificando, principalmente nos Estados Unidos – onde nasce o jornalismo interpretativo, o desenvolvimento da reportagem, com o reforço analítico e documental que procurou situar mais precisamente o cidadão diante dos acontecimentos – e os critérios passaram a ser outros. Aos poucos o jornal foi introduzindo títulos e manchetes, embora longos, pois ainda não se havia determinado o espaço a ser ocupado por eles.

Com o final da Segunda Grande Guerra, o mundo se moderniza em diferentes setores. Dentro desse contexto é redefinido o antigo meio de comunicação, a imprensa. Nos Estados Unidos, a funcionalidade – praticidade e a agilidade no fazer jornal – se incorpora ao processo de produção e difusão desse veículo. Na verdade, nos Estados Unidos, a técnica de fazer jornal ganhou aliados como título, manchete, local para quadro estatísticos, fotos e lead. Esses critérios foram criados, não só para atender às exigências do leitor que cada vez mais se envolvia com a vida agitada das mudanças tecnológicas e econômicas, mas também para facilitar a produção em massa e alcançar um horizonte ainda maior, ou seja, chegar a vários locais no menor espaço de tempo.

O processo de edição – que envolve a escolha do assunto, a definição da pauta, o entrevistado, o fato jornalístico, as matérias que abrem página e aquelas que vão para a primeira página – foi o carro-chefe da evolução do jornalismo impresso. Esse processo de editar, colocar cada um no seu lugar, hierarquizar, selecionar, definir espaço e dar prioridade a temas e fatos, contribuiu para que mais pessoas, ou leitores, tivessem acesso às informações e que as notícias não ficassem restritas ao círculo de uma sociedade.

4.15 – Linha editorial define características

Toda publicação jornalística tem a sua linha editorial, apresentação gráfica/visual e padrões redacionais específicos. Com isso visa apresentar ao público leitor um produto de boa qualidade. Como complemento a essa idéia, a linha editorial se firma através do uso de padronizações redacionais e gráficas/visuais homogênicas, que dão ao veículo uma personalidade, uma identificação. O jornalista – mesmo que ainda aprendiz – deve saber adaptar-se à linha editorial do veículo em que trabalha.

Daí a importância da definição da linha editorial para a produção e difusão do jornal-laboratório porque vai oferecer ao estudante de Jornalismo elementos que vão nortear a sua matéria ou reportagem sem perder a essência do fato jornalístico.

A linha editorial é importante para evitar a interferência tanto no processo ensino-aprendizagem quanto na produção e difusão de um jornal-laboratório. Ela define as diretrizes e características do jornal-laboratório, sem as quais dificilmente um veículo de comunicação sobrevive às transformações sociais. Essencialmente, a linha editorial é a identidade do veículo laboratorial.

Não existe um modelo pronto e acabado para elaborar uma linha editorial laboratorial, mas alguns tópicos devem ser incluídos porque há casos que o jornal-laboratório se transforma num boletim informativo institucional. Um dos tópicos recomendados ao professor-responsável pelo jornal-laboratório é deixar bem claro que o veículo laboratorial é de uso exclusivo do Curso de Jornalismo, em particular do aluno que tem aonde se exercitar. O jornal jamais deve ser usado em benefício próprio (aluno) e da instituição. É bom registrar também que o aluno não pode usá-lo em defesa de interesses políticos, econômicos, estudantis etc.

Outro tópico que pode ser incluído na linha editorial é quanto à distribuição. Não é raro centenas de exemplares de jornal-laboratório ficarem encalhados na redação porque não houve a distribuição. Distribuir também é uma atividade acadêmica e não tira o brilho jornalístico do estudante que entrega diretamente ao leitor um exemplar do jornal-laboratório. Na verdade, a circulação do jornal não deve se restringir à faculdade, porque só assim o aluno-repórter tem a oportunidade de divulgar seu trabalho num universo maior, colocando em prática a teoria adquirida na sala de aula.

É recomendável ao elaborar a linha editorial que seja esclarecida a função e o objetivo do jornal-laboratório na formação do aluno, o zelo que o estudante deve tomar na apuração do fato jornalístico, a identidade do jornal-laboratório com a comunidade que estiver inserido para evitar a publicação de matérias que fujam completamente do contexto local.

É fundamental a constituição de um conselho editorial independente. É um colegiado composto por professores da instituição e por alunos. O mandato é de um ano, podendo ser renovado por mais um. O colegiado é eleito pelo voto popular entre professores da instituição e alunos de Jornalismo. Sua função é avaliar o desempenho do jornal, discutir a linha editorial, examinar o comportamento do futuro jornalista. Em casos excepcionais, pode ser convocado.

Linha editorial define as editorias

Mas, não existe uma regra que determine as editorias de um jorna-laboratório porque os critérios de escolha dependem da abrangência do veículo laboratorial e da sua função na comunidade. Mas para experimento e treinamento do futuro jornalista é viável, dentro da realidade local, que editoriais tradicionais: política, economia, saúde, esporte sejam incluídas na linha editorial do jornal-laboratório. Na verdade, a finalidade é familiarizar o estudante com a realidade do mercado, mas é preferível que os temas escolhidos sejam voltados aos interesse da comunidade em que o jornal-laboratório esteja inserido. Ou seja, não é um melhor resultado prático um aluno produzir um texto sobre a super-desvalorização do dólar num parâmetro nacional. Com certeza, o resultado será melhor e didático se o mesmo tema for explorado enfocando, por exemplo, a influência da queda do dólar na economia local. A finalidade é aguçar o estudante a entender, no caso específico da economia, como funciona o setor econômico da região de circulação do jornal-laboratório. Na verdade, o jornal-laboratório deve colocar em pauta assuntos que valorizem a comunidade e não temas que relatam fatos nacionais. Então, as editorias precisam ter enfoques locais.

4.16 – Cronograma de atividades

É a pauta do professor. Nela devem constar as atividades teóricas e práticas que vão acontecer ao longo do ano letivo. Sem uma programação definida o professor terá dificuldades em aplicar a sua metodologia de trabalho. Já o aluno fica perdido sem saber o que fazer a cada encontro na Redação. Ao elaborar o cronograma de atividades, o professor precisa relacionar e especificar cada etapa de produção e difusão do jornal-laboratório e afixá-la na Redação. Assim o aluno e professor terão como se orientar cotidianamente. É lógico que os imprevistos ocorrerão, mas nada impede ou inviabiliza a função do cronograma de atividades.

Exemplo:

1º encontro – exposição do programa de trabalho

2º encontro – aula teórica sobre a função social do jornalismo e ética

3º encontro – o que é jornal-laboratório e texto para jornal-laboratório

4º encontro – a reportagem e a comunidade

5º encontro – o que é pauta e a sua aplicabilidade no jornal-laboratório

6º encontro – distribuição de atividades para produção e difusão da primeira edição do ano letivo do jornal-laboratório

7º encontro – escolha de editorias e reunião de pauta

8º encontro – leituras da pautas

9º encontro – entrega dos textos (matérias) e leitura

10º encontro – diagramação do jornal-laboratório e revisão

11º encontro – fechamento do jornal-laboratório e edição

12º encontro – reunião de avaliação

13º encontro – distribuição do jornal-laboratório e reunião de pauta

No mínimo serão 36 encontros ao longo do ano letivo ou 144 horas/aulas, depende da grade curricular de cada escola. O tempo passa rápido e a exigência é tirar, no mínimo, oito edições do jornal-laboratório. Então, neste contexto, o cronograma de atividades vai agilizar fechamento e conduzir o aluno a respeitar regras, prazos, se disciplinar, não esquecer o dia de fechamento, de uma reunião de pauta.

Embora o aluno não deva ser treinado à base da nota para o funcionamento da produção e difusão do jornal-labratório, é importante que o professor estabeleça critérios de avaliação. Sem eles as etapas de produção e difusão raramente são respeitadas pelos alunos, principalmente aqueles meramente tarefeiros, ou seja, que não se preocupam com o processo ensino-aprendizagem, querem mais tirar nota do que exercitar o jornalismo. Na verdade, o aluno precisa entender que a avaliação não é um instrumento de poder do professor-responsável pela produção e difusão do jornal-laboratório, nem ele pode usá-la como modelo de coação, inibição da criatividade ou chantagem. O aluno tem de ser cobrado mas de público, ou seja, na frente de colegas. O recomendável que o professor converse pessoalmente com cada autor, para que ninguém fique constrangido.

É comum o aluno perguntar ao professor quanto que nota vai ganhar para cumprir as etapas de trabalho. Ele esquece que ganha sempre que produzir, e bem. Para evitar reclamações e justificativas de última hora, o professor pode adotar os seguintes critérios de avaliação: interesse pela futura profissão, disciplina, pontualidade, originalidade na gestão da pauta e produção do texto, participação e sugestões, reunião de pauta, qualidade do texto, ajuda no fechamento, distribuição.

4.17 – Orientação bibliográfica

No dia-a-dia nas redações ou na cobertura de grandes acontecimentos a leitura é indispensável para a valorização profissional. É muito importante que o estudante, mesmo com a visão de que fazer jornalismo é apenas um exercício de rotina, leia sobre tudo. Com a proposta de colaborar com o futuro jornalista, neste tópico relaciono uma série de livros dos mais variados gêneros que serão fundamentais para sua formação:

ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

ALTMAN, Fábio. A arte da entrevista. São Paulo, Scritta, 1996.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Porto Alegre, L&M Pocket, 1997.

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre, L&P Pocket, 1997.

BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica 1 e 2. São Paulo, Ática, 1990.

BALZAC. Ilusões perdidas. São Paulo, Abril, 1978.

BARCELLOS, Caco. Rota 66. São Paulo, Globo, 1994.

BARROS, Clóvis Filho. Ética na comunicação: da informação ao receptor. São Paulo, Moderna, 1995.

BELTRÃO, Luiz. A imprensa informativa. São Paulo, Editor Folco Masucci, 1969.

BELTRÃO, Luiz. Jornalismo interpretativo: filosofia e técnica. Porto Alegre, Sulina, 1976.

BELTRÃO, Luiz. Jornalismo opinativo. Porto Alegre, Sulina, 1980.

BUCCI, Eugênio. O peixe morre pela boca. São Paulo, Scritta, 1993.

CAPOTE, Truman. A sangue frio. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1965.

CASTRO, Ruy. Estrela solitária – uma brasileiro chamado Garrincha. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do jornalismo – buscas práticas para teoria da ação jornalística. São Paulo, Summus, 1994.

COSTA, Caio Túlio. O relógio de Pascal. São Paulo, Siciliano, 1991.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. Rio de Janeiro, Ediouro, 1996.

DANTAS, Audálio. Repórteres. São Paulo, Senac, 1998.

DIMENSTEIN, Gilberto, KOTSCHO, Ricardo. A aventura da reportagem. São Paulo, Summus, 1990.

DINES, Alberto. O papel do jornal. São Paulo, Summus, 1986.

EVELYN, Waugh. Furo! São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

FENAJ. Cadernos de jornalismo. São Paulo, Fenaj, 1990.

FOLHA DE S. PAULO. 20 textos que fizeram história. São Paulo, Folha da Manhã, 1991.

FUSER, Igor (org.). A arte da reportagem. São Paulo, Scritta, 1996.

GIANNOTTI, Vito. O que é jornalismo sindical. São Paulo, Brasiliense, 1998.

HOHENBERG, John. Manual de jornalismo. Rio de Janeiro. Editora Fundo de Cultura, 1982.

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo, Globo, 1997.

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JORGE, Fernando. Cala a boca, jornalista. São Paulo, Vozes, 1992.

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KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários – nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo, Scritta, 1991.

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WALLRAFF, Günter. Cabeça de turco. Rio de Janeiro, Editora Globo, 1988.

WALLRAFF, Günter. Fábrica de mentiras. Rio de Janeiro, Editora Globo, 1990.

4.18 – Notas e referências bibliográficas

1 – LACERDA, Carlos. A misão da Imprensa. São Paulo, Edusp, 1990

2 – BARBOSA, Rui. A Imprensa e o dever da verdade. São Paulo, Edusp, 1990.

3 – JOBIM, Danton. Espírito do jornalismo. São Paulo, Edusp, 1992.

4 – PAILLET, Marc. Jornalismo: o quarto poder. São Paulo, Brasiliense, 1986.

5 – DINES, Alberto. O papel do jornal: uma releitura. São Paulo, Summus, 1986.

6 – ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo, Brasiliense, 1980.

7 – MARCONDES FILHO, Ciro. Imprensa e capitalismo. São Paulo, Kairos, 1984.

8 – HUDEC, Vladimir. O que é o jornalismo? Portugal, Caminho, 1980.

9 – MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia. São Paulo, Ática, 1980.

10 – ARISTÓTELES. A política. Rio de Janeiro, Edições de Ouro, 1973.

11 – MEYER, Philip. A ética no jornalismo. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1989.

12 – DINES, Alberto. O papel do jornal: uma releitura. São Paulo, Summus, 1986.

13 – MELO, José Marques de. Para uma leitura crítica da comunicação. São Paulo, Edições Paulinas, 1985.

14 – LACERDA, Carlos. A missão da Imprensa. São Paulo, Edusp, 1990.

15 – FUEYO, Sabino Alonso. O jornalismo no mundo moderno. Porto Alegre, PUC, 1968.

16 – SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Nos EUA, vence a imprensa. São Paulo, Folha de S. Paulo, 1992.

17 – SENADO FEDERAL. Constituição do Brasil. Brasília, Centro Gráfico do Senado Federal, 1988.

18 – RIVERS, William L. e SCHRAMM, Wilbur. Responsabilidade na comunicação de massa. Rio de Janeiro, Bloch, 1970.

19 – KUNCZIK, Michael. Manual de comunicação: conceitos de jornalismo. São Paulo, ComArte/Edusp, 1997.

20 – CHAUÍ, Marilena. Ética. São Paulo, Vídeo Cultura, 1992.

21 – MEYER, Philip. A ética no jornalismo. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1989.

22 – MEYER, Philip. A ética no jornalismo. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1989

23 – FENAJ. Código de ética dos jornalistas. Brasília, Fenaj, 1985.

24 – SCHNEIDER, Ari. Entrevista. São Paulo, Jornal-laboratório Momento/Fiam, edição 78, 1997.

25 – NUNES, Augusto. Zero Hora: manual de ética, redação e estilo. Porto Alegre, RBS e C&PM, 1994.

26 – BOUCHER, Jean-Dominique. A reportagem escrita. Portugal, Editorial Inquérito, s/d.

27 – MEDINA, Cremilda. Jornalismo e literatura: fronteiras e intersecções. In: Cadernos de Jornalismo e Editoração, nº 25. São Paulo, ComArte, junho de 1990.

28 – WITTER, José Sebastião. João do Rio levou a literatura ao jornalismo. In: Jornal dos Jornais, nº19. São Paulo, Editora Jornal dos Jornais, outubro de 1999.

29 – PINTO, Tão Gomes. Antipático, mas competente. In: Revista Imprensa, nº163. São Paulo, Imprensa Editorial, agosto 2001.

30 – NUNES, Augusto. Depoimento dado no programa televisivo A verdade de…, exibido no dia 18 de dezembro de 2001, entre 21h30 e 22h30, pela Rede Brasil, apresentado por Sargenteli.

31 – WITTER, José Sebastião. João do Rio levou a literatura ao jornalismo. In: Jornal dos Jornais, nº19. São Paulo, Editora Jornal dos Jornais, outubro de 1999.

32 – FUSER, Igor. (org.) A Arte da Reportagem. volume 1. São Paulo, Editora Scritta, 1996.

33 – FUSER, Igor. (org.) A Arte da Reportagem. volume 1. São Paulo, Editora Scritta, 1996.

34 – BRUM, Eliane. A guerra do começo do mundo: a última fronteira. São Paulo, revista Época, ano 4, nº180, 29 de outubro de 2001.

35 – BRUM, Eliane. A guerra do começo do mundo: a última fronteira. São Paulo, revista Época, ano 4, nº180, 29 de outubro de 2001.

36 – FOLHA DE S. PAULO. In: Jornalistas querem ‘entrar’ na guerra. São Paulo, Caderno Mundo, página A14, 23 de outubro de 2001.

37 – GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São paulo, Atlas, 1989.

38 – RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis, Vozes, 1999.

39 – MEDINA, Cremilda. Jornalismo e literatura: fronteiras e interseções. In: Cadernos de jornalismo e editoração, nº25. São Paulo, ComArte, junho de 1990.

40 – MAKLOUF DE CARVALHO, Luiz. Doze horas acompanhando Pamela e amigos, garotos de rua. O Estado de S. Paulo, Caderno Cidades, página C4, 23 de dezembro de 2001.

41 – SODRÉ, Muniz e FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo, Summus, 1986.

42 – SODRÉ, Muniz e FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo, Summus, 1986.

5

Manual de redação

para jornal-laboratório

Com a proposta de chegar mais rápido ao leitor, agilizar o fechamento e homogenizar o texto, os jornais adotaram regras e normas na produção e difusão da notícia. Na busca de um produto mais atraente e preciso um dos recursos usados foi a valorização gráfica da primeira página. Os títulos, antes compostos em corpo que não chamavam a atenção do leitor, ganharam novo formato e espaço. Os longos textos foram substituidos por chamadas com o objetivo de levar o leitor às páginas internas dos jornais. Já as matérias foram modificadas com a criação da pirâmide invertida: do mais importante ao menos importante na estrutura da notícia jornalística, mas sempre buscando responder às perguntas quem, quando, o quê, onde, como e por quê? Embora com regras e normas internas e utilizando algumas técnicas, esse esforço era uma tentativa de dar unidade à notícia, agilidade no fechamento e um esforço para colocar o jornal nas bancas o mais rápido possível. As empresas, dessa nova indústria, se caracterizavam como organizações que não podiam mais depender da improvisação na produção e difusão da notícia. Na verdade, o texto jornalístico começa a ganhar forma e estilo com a introdução do manual nas redações.

Embora não seja considerado um manual de estilo, o livro do professor americano, Fraser Bond, Introdução ao jornalismo, representa um marco do jornalismo moderno porque contribuiu no processo de produção e difusão do fato jornalístico. O professor estimula o aluno a fazer um jornalismo preciso, exato e coerente no relato da notícia e fiel ao leitor. Ainda nos Estados Unidos os jornais The New York Times, The Washington Post, The Philadelphia Inquirer e a agência de noticias The Associated Press adotaram o livro de estilo. Na Europa El País (Espanha), Le Monde (França), The Independent (Inglaterra), Público (Portugal) também aderiram ao jornalismo moderno e implantaram o manual de estilo como ferramenta para os jornalistas da casa.

José Marques de Melo e Carlos Eduardo Lins da Silva confirmam que a primeira tentativa de usar manual de redação no jornal brasileiro foi em Pernambuco, no final da década de 20, quando o jovem jornalista Gilberto Freyre, recém-chegado dos Estados Unidos, implanta em Recife uma stylesheet. Como diretor de A Província incentiva seus redatores a escreverem com naturalidade e simplicidade. Estabeleceu um código de redação: seriam multados aqueles que chamassem pai de genitor; recém-nascido de interessante petiz; bispo de respeitável prelado e assim por diante.1 A experiência de Gilberto Freyre durou pouco porque o jornalismo da época era artesanal e amador. As empresas não pagavam e era impossível exigir textos padronizados de redatores voluntários.

Em 1959, sob a coordenação de José Nabantino Ramos, foi implantado nas Folhas da Manhã, da Tarde e da Noite as Normas de Trabalho da Divisão de Redação. “A experiência gerara o livro e o livro voltaria então a ser testado pela experiência. Tudo deu certo. A elaboração das Folhas, e mais tarde a Folha de S. Paulo, ganhou em eficiência e segurança, à proporção que era disciplinada por Normas de Trabalho escritas. Demo-nos até o capricho de elaborar a nossa Carta de Princípios, isto é, o caminho que escolhíamos, como jornalistas, para estimular o progresso político, econômico, social e moral do povo brasileiro.”2 Aproveitando a experiência acumulada na elaboração das Normas de Trabalho e somados os 18 anos vividos na redação das Folhas, José Nabantino Ramos se aprofundou no assunto e produziu um livro com 305 verbetes, distribuídos em 13 grupos: imprensa e jornalismo, a empresa e sua economia, organização da redação, organização do jornal, conteúdo do jornal, ética profissional, publicidade, oficinas, comportamento do público, direitos e obrigações do jornalista, delitos de imprensa, entidades jornalísticas e disciplina legal da profissão. Classificado como Jornalismo: dicionário enciclopédico, José Nabantino Ramos assim justificou a sua obra: “Procedendo eu da advocacia, que se desenvolve sob a disciplina de normas, sentia, como diretor de jornal, a falta de regras, tanto para o trabalho diário, como para reger as relações do periódico com o meio em que atuava. Estranhei profundamente que tudo isso se fizesse ao sabor da improvisação e do critério de cada um.”3

O Diário Carioca foi o primeiro jornal brasileiro, na década de 50, a organizar, em caráter permanente, normas de redação destinadas a padronizar o texto jornalístico. O modelo stylebook foi importado dos Estados Unidos. O manual orientava o repórter a ordenar a matéria, grifar números, usar correntamente o pronome de tratamento, maiúsculas, abreviações e pontuação.4 Era simples e compacto para a época.

5.1 – Conceitos de Manual de Redação

O Novo Aurélio conceitua manual como o “livro que contém noções essenciais acerca de uma matéria, assunto.”5 Uma das características do manual é reunir de forma ordenada e de fácil manuseio, idéias, pensamentos, regras, normas, instruções e recomendações sobre determinado assunto ou tema. “Além do conhecimento, devem-se combinar capacidade de síntese e clareza para gerar leitura produtiva e indicação de caminhos. Um bom manual tem também de se valer de conceituação utiliária e possibilitar o trabalho organizado.”6 Os manuais mais tradicionais e conhecidos do grande público são aqueles de eletrodomésticos e após 1988, com a promulgação da Constituição, nasceu o manual do consumidor: Exercício da cidadania. Ele é também um roteiro de trabalho que permite resolver dúvidas e agilizar a produção.

O manual pode ser considerado também um guia com ilustrações, tabelas, graficos. Serve para simplificar e esclarecer informações complicadas e de difícil entendimento. Embora não seja a tábua de salvação, ele indica como fazer e o que fazer nos momentos de dúvidas. Joaquín Estefanía, do jornal espanhol El Pais, define assim manual de redação: “Por ello entendemos que han de existir unas directrices que comprometan al periódico con sus lectores, una especie de control de calidad que defina quiénes somos y cómo trabajamos.”7

5.2 – Objetivos do Manual de Redação

No jornalismo contemporâneo o manual se transformou em um indispensável instrumento de trabalho do repórter. Ele orienta e regulamenta o estilo, a redação do texto. O que se busca é padronizar a linguagem, dar unidade ao texto sem inibir a criatividade do jornalista e clarear as condições de trabalho jornalístico, expor as normas e exigências para o exercício profissional. A proposta é sempre orientar o redator a produzir um texto completo, imparcial e fundamentado sobre fatos e não sobre rumores. E o Libro de Estilo do jornal El Pais não foge à regra. “Un libro de estilo no es una gramática ni un diccionario al uso. Es simplesmente el código interno de una Redacción de cualquier medio informativo, que trata de unificar sistemas y formas expresivas con el fin de dar personalidad al próprio medio y facilitar la tarea del lector en el casos de los periódicos.”8

O manual é destinado exclusivamente a facilitar a tarefa do jornalista e agilizar o fechamento de cada edição. O periódico santista A Tribuna também implantou manual com a finalidade de melhorar o texto e qualificar a notícia. “Este Manual da Redação pretende representar a alavanca de um esforço em favor do aprimoramento dos textos jornalísticos de A Tribuna.”9

O então diretor de Redação do Zero Hora, de Porto Alegre (RS), Augusto Nunes, na apresentação do Manual de Ética, Redação e Estilo, argumenta que “a adoção de um código de ética, por si só, não imuniza nenhum jornal contra o risco de protagonizar deslizes, escorregões ou mesmo delitos graves. Mas sempre reduz a incidência de casos de má-fé e reafirma o compromisso de agir corretamente”.10

Com o objetivo de informar bem e corretamente, a Editora Abril também implantou o manual para auxiliar o jornalista da casa a não cometer escorregões ao redigir um texto informativo. O autor do Manual de Estilo, Carlos Maranhão, reforça a tese de que a finalidade é ajudar a descomplicar a tarefa cotidiana do jornalista e ainda facilite o entendimento do leitor.11 Evandro Carlos de Andrade, diretor de Redação de O Globo, quando da implantação do Manual de Redação e Estilo, organizado por Luiz Garcia, fez a seguinte reflexão e observação: “Este manual tem a aspiração de contribuir para a modificação de uma realidade da qual nasceu como flor do lodo: a da massa de erros que há anos se observa nos veículos de comunicação social, com impressionante índice de repetição”.12

Tratar apenas dos problemas mais corriqueiros de redação, com o objetivo de atualizar a indispensável padronização exigida pelo processo de produção do jornal e facilitar a vida de repórteres, redatores, diagramadores, revisores e editores. Foi com estas propostas que nasceram as normas internas do Jornal do Brasil.13

E o Livro de Estilo do jornal português Público também surgiu da necessidade de sacramentar as raízes da unidade na produção e difusão da informação. “Este livro reúne apenas princípios que, partindo de uma ideia partilhada de início por um grupo de pessoas, encontraram depois forma e legitimidade na validação prática dos seus pressupostos.”14 Em verdade, o objetivo do livro é sensibilizar o repórter que noticiar é anunciar algo de novo, mas que para isso acontecer harmonicamente é preciso que tenha atitudes éticas na coleta do material e na divulgação da informação de interesse público.

A terceira edição do manual da Folha de S. Paulo também incorpora aos princípios dos demais manuais. Ele traduz o projeto editorial, no qual o objetivo é errar o menos possível no processo informativo para jamais lesar o leitor. “As normas do novo manual são flexíveis e admitem nuances antes repelidas. Apostam na iniciativa e no discernimento individuais, na inventividade das soluções em cada caso e na disposição para manter o jornalismo em aperfeiçoamento constante.”15

O centenário jornal paulista, O Estado de S. Paulo, também tornou público o seu código interno de redação. Organizado por Eduardo Martins, o Manual de Redação e Estilo é similar aos demais no sentido de traçar objetivos na apuração dos fatos e na qualidade (conteúdo e gramática) do texto jonalístico. Aliás, o que todos manuais trazem em suas páginas são instruções específicas ao jornalista, embora alguns são recomendados aos não jornalistas. O primeiro parágrafo do prefácio redigido por Eduardo Martins define bem a finalidade do manual do Estadão. “Este manual expõe, de modo ordenado e sistemático, as normas editoriais e de estilo adotadas pelo Estado. Não pretende, com isso, tolher a criatividade de editores, repórteres e redatores, nem impor camisas-de-força aos jornalistas da empresa. Seu objetivo é claro: definir princípios que tornem uniforme a edição do jornal.”16

Todos têm cunho jornalístico e foram feitos para zelar pela qualidade do texto informativo. Também foram feitos com a proposta de alertar o jornalista do cuidado que deve ter ao apurar a informação para não comprometer o interesse público. Eles nasceram da necessidade de rever os princípios éticos e colocam em prática o exercício de cidadania. Ao instruir o jornalista sobre qual é o caminho mais preciso, exato e correto na produção de uma informação, o manual torna claro a responsabilidade que o jornalista tem na consolidação de uma sociedade livre e pluralista.

O número de escolas de Jornalismo no Brasil ultrapassa a 115, mas nem todas têm jornal-laboratório com a periodicidade estabelecida pelo MEC, 8 a cada ano letivo. Entre outras o veículo laboratorial é considerado artigo de luxo porque a prática não se pratica, quando acontece é para receber a comissão de especialistas do MEC. Enfim, são os alunos os prejudicados nesse episódio didático-pedagógico. Para conhecer os jornais-laboratório que adotam ou não manual de redação, enviei mais de 100 questionários num período de 12 meses e recebi 19. O resultado é o seguinte: 5 usam o Manual de Redação de O Estado de S. Paulo, 8 não usam manual, 4 têm manual próprio, um adota o manual da Folha de S. Paulo e outro desenvolve o conteúdo do manual em disciplinas curriculares. O fato interessante é que uma escola usa os manuais do Estado e da Folha. Aquelas que não adotam justificam que o manual impõe um modo único de escrever, castra a criatividade do aluno e é uma espécie de camisa-de-força. As que adotam afirmam que ele conscientiza o aluno no fazer jornalístico, facilita e agiliza a produção e difusão do jornal-laboratório e ganha em padrão de qualidade. Se a função da escola é formar o profissional para atuar no mercado, é preocupante quando escolas de Jornalismo adotam como norma o uso de manuais da grande mídia porque, assim, elas estão preparando alunos para trabalharem em determinado veículo e não para o exercício da profissão.

O Manual de Redação para Jornal-Laboratório não tem a função de ensinar o estudante de Jornalismo a escrever com qualidade literária ou encontrar o seu talento perdido em algum lugar do passado. Porque, escrever bem, com clareza, não importa o local, a hora e a forma, é resultado da busca de aperfeiçoamento técnico-profissional e de ter vocação para o jornalismo. O jornalista escreve rápido, contra o tempo e com a exigência de ser preciso e exato no relato do real imediato, ou seja, do acontecimento, do fato. Esta velocidade ao redigir o texto jornalístico nunca deve ser inimiga da perfeição. Pelo contrário. A pressa no jornalismo deve ser sinônimo de qualidade, de fidelidade, de veracidade e conhecimento.

O objetivo não é inibir ou coibir a criatividade do estudante de Jornalismo. A preocupação pedagógico-jornalística do manual é definir princípios que darão unidade à edição do jornal-laboratório. Princípios que vão facilitar e agilizar a produção e difusão do veículo e sua leitura. Zelar pela integridade ao transformar um acontecimento em notícia é uma virtude que o estudante assimila ao utilizar o laboratório na escola de jornalismo. O ensino de Jornalismo tem como sustentáculo o jornal-laboratório que permite ao estudante colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do curso.

A finalidade do manual não é estabelecer regras ou pasteurizar a produção laboratorial, porque o limite surge das limitações do ser humano e não das regras, exigências e definições pré-estabelecidas. A intenção é provocar uma reflexão crítica e aguçar o senso de responsabilidade jornalística no estudante, e ainda subsidiar o professor-coordenador no planejamento do jornal-laboratório. O Manual de Redação para Jornal-Laboratório não é um simples receituário contendo apenas noções sobre modelos de como fazer um jornal acadêmico.

Embora o mercado jornalístico tenha manuais de redação e estilo específicos para cada veículo de comunicação, o Manual de Redação para Jornal-Laboratório atende unicamente ao estudante de Jornalismo e procura orientá-lo na redação de matérias.

5.3 – Regras

As regras estabelecidas nesse tópico, dentro da minha proposta. foram definidas com objetivo de dar unidade a forma e ao conteúdo dos jornais-laboratório. Na verdade, as regras facilitam a leitura e a análise do leitor, agilizam a redação do aluno-repórter, o disciplinam a cumprir etapas de trabalho e ajudam o professor a avaliar e acompanhar a produção individual. A seleção das regras para esta proposta de Manual de Redação para Jornal-Laboratório teve como princípio o fazer jornalístico, não deixando de lado a especificidade do veículo que se assemelhe na forma ao produzido pela grande mídia, mas que se diferencie no conteúdo. Enquanto um aborda mais a notícia o outro enfoca, na maioria das vezes, a reportagem.

A

Abertura – não a comece com aspas, gerúndio, para, se, interrogação, exclamação, algarismos. O uso de declarações entre aspas na abertura do texto só é permitido quando a frase é importante, surpreendente ou original. Exemplo: “Deixo a Presidência com o dever cumprido”, foram as últimas palavras do presidente Ernando Henrico de Viagem…

A abertura de uma reportagem não é um lead noticioso. Uma reportagem pode ter como abertura uma observação do estudante. O clima do assunto,uma história de interesse humano etc, independentemente da sua carga noticiosa imediata.

Exceto quando o texto o exija no detalhamento da notícia, reportagem, entrevista, evitar:

Entrada de contabilista: números, números e números na abertura das matérias. O leitor, coitado, se perde num amontoado de números na primeira frase. Exemplo: O governador de São Paulo, Mário Covas, liberou, por intermédio da Medida Provisória número 1010/97, R$100 milhões a 42 municípios que serão repassados a 42 cooperativas agrícolas para atender 2 mil pequenos agricultores que irão plantar 500 mil pés de café até o final de 99.

Entrada de lista telefônica: não transforme a abertura de sua matéria em uma relação de nomes, entidades e endereços. Evite escrever assim: Os jogadores Edmundo, Romário, Djalminha, Ronaldinho, Taffarel, Roberto Carlos e Dunga foram dispensados da seleção porque Zagallo preferiu ficar com Onça, Gato, Kalé, Guta, Lata, Zé Lalá, Luzão e Truz.

Entrada de burocrata: a burocracia é um dos elementos que atrapalham o desenvolvimento brasileiro desde 1500. Portanto, evite usá-la. Informações apenas para quem trabalha em repartições públicas ou em escritório de advocacia, não interessam ao leitor. Exemplo: O juiz substituto da 3ª Vara Cível de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Luis Augusto Rodrigues da Silva, deferiu a liminar ao mandado de segurança impetrado por Marco Aurélio Simões Altimari, advogado do vereador Sebastião Moraes Junior (SSC).

Entrada de poeta: o uso de trechos de letra de música ou livros, citações ou ditados populares deixam a abertura do texto uma verdadeira literatice.

Abreviatura – não se abrevia a primeira palavra de nomes compostos, sobrenomes, cargos, profissões. Exemplos: S. Antonio, João S., R. de Janeiro, São P., prof., tv., deput., gover. do Estado, Edson A. Nascimento. Evite ao máximo usar abreviaturas: Vendeu dois metros de corda (e não dois m) Correu 42 quilômetros para (e não 42 km).

Acusação criminal – o jornal-laboratório não deve endossar uma acusação criminal enquanto não for confirmada por sentença judicial. Exemplo correto: Vicente Borges, acusado de matar Ricardo Bento, será julgado… Exemplo errado: Vicente Borges, assassino da família Alves, será julgado…

Adjetivo – troque-o por substantivo ou elimine-o. Dê a devida e equilibrada atenção a seu assunto ou notícia. Nenhum texto adjetivado supera o que resulta da boa informação, da boa apuração e redação. A adjetivação enfraquece a qualidade e o impacto do texto jornalístico. Exemplo adjetivado: O governador Mário Covas é uma pessoa caridosa porque atendeu ao apelo da população marcada por cicatrizes deixadas por um pavoroso incêndio…

Advérbios – seu uso pode dificultar a interpretação do leitor. Eles são dispensáveis, por exemplo: propriamente, obviamente, somente, calmamente, firmemente.

Afirmativa – a frase deve ser sempre afirmativa e o estilo direto. A recusa, a imprecisão e a ambiguidade devem ser sempre uma das preocupações do estudante na redação do texto jornalístico. A seqüência lógica (sujeito-predicado-complemento) facilitará sempre a fluência e compreensão da mensagem jornalística.

Alinhamento da matéria – é justificado (computador), ou seja, o alinhamento das margens direita e esquerda é regular. Não se admite no jornal-laboratório que as linhas sejam completadas com asteriscos, apóstrofos ou barras.

Ambiente – para dar realidade e riqueza ao texto, é importante o estudante de Jornalismo relatar o local e as circunstâncias em que determinado fato aconteceu.

Amigo da fonte (entrevistado) – é comum – e compreensível – que o estudante de jornalismo acabe amigo do entrevistado. Quando isso acontece, a primeira vítima costuma ser o leitor. O estudante precisa saber que o amigo-fonte se presta mais a não deixar sair notícias. Na verdade, o estudante é bem informado, mas o leitor é o último a saber. O único compromisso do estudante é com o leitor. E é bom lembrar que, no jornalismo, é muito mais fácil e mais comum perder amigos do que fazê-los. Lógico, desde que o compromisso do futuro jornalista seja só com o leitor.

Ano – é mencionado de forma completa, sempre com algarismos. Não se usa o ponto para separar as classes: 1998, 2000. O ano só é abreviado quando se refere a décadas: a década de 50, ou anos 80.

Anonimato, off the record ou off – só existem para proteger a integridade e liberdade das fontes.

Antes de escrever – o estudante deve fazer um roteiro. O ato de escrever rápido, preciso e lógico torna-se mais fácil. O recomendado é ordenar as idéias por tópicos. Ou seja, faça um pequeno roteiro com começo, meio e fim.

Apartidarismo – pelas suas características acadêmicas e de aperfeiçoamento profissional, o jornal-laboratório tem que ser um jornal apartidário. Ou seja, não deve levantar bandeiras para questões de interesses pessoais ou de grupos políticos e econômicos. O jornal-laboratório deve assumir o papel das questões de interesse da sociedade.

Aportuguesar – nomes estrangeiros quando passam a ter uso corrente na mídia ou personagens históricos, ou seja, papas e membros de famílias reais. Vôlei, basquete, João Paulo II, Rainha Vitória. Não aportuguesar nomes de personagens, cidades, aviões, naves espaciais, edifícios, empresas, marcas comerciais ou modelos industriais. Exemplo: Johann Sebastian Bach nunca por João Sebastião Bá. New York por Nova York.

Apresentação – na hora de uma entrevista, cobertura de um evento ou na produção de uma reportagem, o estudante deve evitar roupas inadequadas, acessórios extravagantes, usar chinelo, óculos escuros, fumar, mascar chicletes, discutir sobre futebol, religião, política, fazer críticas pessoais, falar alto, chegar atrasado. O ideal é o estudante chegar sempre 15 minutos antes do horário marcado, ser objetivo nas perguntas, cordial com o entrevistado, não duvidar das respostas, procurar se inteirar do assunto pesquisando no banco de dados, revistas, jornais etc. A formalidade no relacionamento entre o estudante e entrevistado é sinônimo de profissionalismo.

Aquele/aquilo – em termos de texto escrito, os demonstrativos este, aquele, isto e aquilo podem reduzir a clareza e favorecer a imprecisão. Evite-os.

Arte da observação – o estudante deve sempre observar com rigor tudo que ocorra na cobertura jornalística. Ficar atento sobre o comportamento do personagem ou protagonistas do acontecimento.

Aspas – no jornal-laboratório é recomendado usar aspas na citação de um personagem, frases reproduzidas textualmente ou quando a palavra tem dupla interpretação. Exemplo: “O Brasil tem todas as condições de superar a dívida interna”, diz o presidente…

Aspas – (“”) servem para identificar a citação ou declaração do entrevistado. Sempre que as aspas são abertas, devem ser fechadas. O ponto final da citação fica antes de fechar as aspas, se a citação começar com Caixa Alta: “O Brasil não pode perder a hegemonia no futebol.” Se a citação começar com Caixa baixa, o ponto fica depois das aspas: O deputado garantiu que "todos os parlamentares estão atentos às manobras do governo".

Assessoria – Use Assessoria de Imprensa, desde que o órgão tenha esse nome formal. O jornalista é assessor de Imprensa.

Autocensura – foi uma perversa seqüela do autoritarismo. Com o fim do implacável controle da expressão, os jornais ainda sentiam o temor dos censores nas redações e se autopoliciavam. Os jornalistas praticavam o “texto de entrelinhas”. Ou seja, passavam o recado mas não explicitamente. O texto era indireto e cifrado. Hoje alguns jornais adotam a autocensura não por receio do “censor”, mas para atender interesses políticos, ou comerciais. Os anos do regime militar se foram, mas existe ainda controle sobre redações, principalmente naquelas de regiões onde prevalece o coronelismo e o caciquismo.

B

Barra – (/) use a barra como elemento separador entre número e letra, letra e número, letra e letra ou número e número. Exemplo: Lei número 10/98, S/A (sociedade anônima), casa/10, lote/11.

Bem informado – para se diferenciar, o estudante precisa estar bem informado. Iniciativa, curiosidade, dúvidas, estar atento a tudo. São características de um estudante que está atento para saber sempre mais para melhor transformar o fato jornalístico em notícia.

Boato – não é fato jornalístico. O rigor de uma informação encontra-se nos fatos, que devem ser checadas.

C

Cacoetes de linguagem – o estudante de Jornalismo deve evitar o emprego de expressões desgastadas pelo uso exagerado. Exemplo: via de regra, pavoroso incêndio, precioso líquido, verdadeiro herói, ele era forte como um touro. Com certeza, sem elas, o texto ficará mais objetivo, criativo e de fácil leitura.

Caderneta de anotações – o estudante deve usá-la sempre nas coberturas jornalísticas.

Caixa Alta (CA) – o estudante não deve redigir o texto em Caixa Alta (CA). Exemplo: IEDA MARIA CERQUEIRA SILVA FOI AO BANCO DESCONTAR UM CHEQUE DE R$2MIL…

Caixa Alta e Caixa baixa – V. maiúscula e minúscula — capítulo Regras.

Carta – o jornal-laboratório deve responder ou publicar toda carta recebida, mesmo que contenha críticas ao jornal.

Chato – o estudante não pode ter medo de ser chato, porque ser chato faz parte da profissão que vai seguir.

Chutômetro – para o cálculo de multidão, quando não tiver fundamentação científica ou números oficiais, evite o chutômetro. Para melhor situar o leitor, procure quantificar o espaço ocupado pelas pessoas, pegando o tamanho da área (metros quadrados) pelo número de pessoas que cabe num metro quadrado. Exempo: Vamos admitir que dez pessoas cabem num metro quadrado e a área ocupada tem 4 mil metros quadrados. Então, multiplique 10 pessoas por 4 mil metros quadrados. Conclusão: 40 mil pessoas assistiram ao show do Caetano Veloso na praça… Agora, quando não existe área delimitada, por exemplo, uma caminhada pela paz, o estudante pode usar dezenas, centenas, milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões.

Citação (1) – quando o estudante de Jornalismo colocar na matéria, entre aspas, uma ou mais citações do entrevistado, o verbo usado para encerrar uma declaração fica no presente. Exemplo: “O Brasil é um país rico e alfabetizado”, diz o presidente da República Ernando Henrico de Viagem. Quando o verbo usado é acompanhado por um advérbio de tempo, ele fica no passado. Exemplo: “O Brasil é um país rico e alfabetizado”, disse ontem o presidente da República Ernando Henrico de Viagem.

Citação (2) – citações de obras literárias de trechos de livros, trabalhos acadêmicos, de revistas, jornais, ouvidas na televisão ou rádio devem ser reproduzidas sempre em itálico, mas sem aspas. O estudante deve obrigatoriamente informar ao leitor de onde recolheu a citação.

Coluna – o jornal-laboratório (tablóide) pode ter quatro ou cinco colunas, com um espaço entre uma e outra de 5 milímetros. Se o jornal-laboratório for standard, o número de colunas é seis, com o mesmo espaçamento.

Compacto Disco – forma abreviada da palavra inglesa compact-disc. No jornal-laboratório usa-se Compacto Disco ou simplesmente CD.

Consulte na dúvida – é recomendado ao estudante de Jornalismo o uso de uma gramática para esclarecer dúvidas quanto à acentuação, ortografia, uso do hífen, crase, pontuação etc.

Cozinhar matérias – não usar matérias de outras publicações ou copiar citações de personagens publicadas em outros veículos de comunicação. Se for importante usá-las, o estudante deve citar o nome do veículo de onde foram retiradas.

Credibilidade – é o principal patrimônio do estudante.

Crédito de foto – citar o nome do autor da foto. O crédito no jornal-laboratório aparece em cima da foto.

Crédito de texto – cita o nome do autor do texto.

Critérios – o jornalismo tem por finalidade informar a todos sobre os fatos de atualidade. Ou seja, o que é verdadeiro e de interesse público é o objeto do jornalismo. Para o estudante checar a realidade da notícia é importante atentar para os seguintes critérios: 1) o grau de oficialismo; 2) o grau de pluralidade das fontes; 3) contrastar a notícia tal como é apresentada pelas fontes oficiais com a realidade e o pensamento dos outros setores.

Cronometragem esportiva – usa-se o sinal (’) para minuto e (”) para segundo. Exemplo: Zé sem Freio obteve o tempo de 5’22”.

Cruzar informações – é dever do estudante de Jornalismo cruzar informações com duas ou mais fontes antes de redigir o texto. Na dúvida, o estudante deve checar e cruzar os dados levantados. Sem o cruzamento, a matéria não deve ser publicada até que as dúvidas sejam esclarecidas.

Cuidado – na titulação de matérias ou manchetes, o estudante deve usar com reservas os termos querer, sofrer, pretender, falar, dizer, porque nem sempre são as mais adequadas para chamar a atenção do leitor. Exemplo: Nova lei pretende diminuir repetência (a lei não tem vontade ou desejos. Ela é passiva. Os que a elaboraram têm vontade e desejos nem sempre condizentes com a realidade do ensino brasileiro.) Salário dos jornalistas sofre reajuste (o salário não é um agente sofredor ou passivo de dor. Quem sofre é o jornalista que ganha pouco e trabalha muito). “Governo não tem nosso apoio”, diz PDT (o partido não pensa, fala ou escuta, como muitos correligionários que são surdos quando o povo reclama) O correto é: PDT não apóia FHC.

Currículo – Forma aportuguesa do latim curriculum vitae. É a história profissional de uma pessoa. No jornal-laboratório usa-se currículo.

Curto e grosso – escrever curto e grosso é não cortar nenhuma informação. É escrever o necessário sem perder a essência do fato e a qualidade da informação. É abrir e fechar uma matéria sem adjetivar o tema.

D

Data – 24 de fevereiro de 1997. Escreva o ano sem usar ponto para distinguir o milhar.

Deadline – V. fechamento – Tópico Definições.

Declaração — na transcrição de declarações é imprescindível que o estudante respeite o contexto e a intenção de quem falou.

Deixa que eu me viro – o estudante precisa tomar cuidado ao usar sua intuição na hora do sufoco. É preciso preparar, ler, anotar, fazer um roteiro, apurar antes da entrevista, reportagem e ouvir bastante. Na verdade, ele deve ler o suficiente sobre o assunto. A pesquisa é um passo fundamental para o estudante redigir um bom texto.

Denúncia do erro – Ver Tópico Definições.

Dias da semana – não abreviar. O correto é escrever por extenso e em caixa baixa: segunda-feira.

Dicionário – para a prática do bom texto, o estudante não deve abandonar o dicionário. O dicionário é o melhor amigo do estudante. Na dúvida, o dicionário é para lá de fiel. É verdadeiro.

Direito de resposta – aquele que se considerar atingido por referências ao seu nome tem direito de resposta. Solicitações de retificação são atendidas sempre que o jornal-laboratório entender que houve erro na notícia, entrevista ou reportagem.

Dólar – é a moeda oficial dos Estados Unidos. O correto é escrever em Caixa Alta (Maiúscula) a primeira letra Dólar. O símbolo é US$. Exemplos: US$11. US$23,6 milhões. Só use o centavo quando a notícia exija detalhamento.

Doutor – Use só quando o personagem tem o título acadêmico, ou seja, defendeu e teve aprovada a tese de doutoramento. O professor de história Luís Carlos de Oliveira, doutor pela Universidade de São Paulo, diz que o Brasil não tem história. (Médico é médico, advogado é advogado). A não ser em declarações textuais.

E

Editor – para agilizar o processo de produção e edição do jornal-laboratório e introduzir o estudante nas atividades internas de uma Redação, cada turma terá seu editor. Ele é nomeado pelo professor/coordenador do jornal-laboratório. Cabe ao editor coordenar a reunião de pauta, selecionar matérias, titular e fechar cada edição, mas sob a supervisão do professor. O editor deve sempre pensar na data em que o jornal será publicado, na qualidade do texto (informações precisas, texto objetivo, exato e imparcial). O editor de cada turma deve entregar as matérias selecionadas com títulos, olhos, fotos, legendas e chamadas de primeira página para o diagramador.

Editor assistente – cada turma (editoria) terá editor-assistente. Nomeado pelo professor/coordenador do jornal-laboratório, ele vai auxiliar o editor.

Editoria – Ver editoria agricultura, economia & negócios etc – Tópico Definições.

Endereço – sempre completo, nada de abreviar. Números que façam parte de nomes de avenidas, ruas, praças: escritos por extenso se compostos por um único algarismo (Sete de Abril, 1200); quando o número for composto por dois ou mais algarismos: com algarismos (23 de Maio, 500). Não use a palavra número para designar numeração. Exemplo: Avenida Brasil, número 300, conj. e, apart. 33. (errado). Avenida Brasil, 500, conjunto E, apartamento 33. (certo).

Entrega de matéria – o estudante deve respeitar a data estipulada.

Entrega de pauta – o estudante deve respeitar a data estipulada.

Entrevistado – se o estudante vai entrevistar uma personalidade, de época ou não, não pode se esquecer de pesquisar a história do entrevistado. O resultado é bem mais enriquecedor. Afinal, o leitor não é conhecedor de tudo o que acontece no dia-a-dia, nem do passado.

Envolvimento – uma das normas do jornal-laboratório é o não envolvimento público em tomadas de posição política, comercial, religiosa, militar ou clubística.

Erros – o jornal-laboratório não esconde os erros cometidos em suas edições e se dispõe a corrigi-los a cada publicação. A correção deve ser publicada na edição seguinte à constatação do equívoco. O texto da correção deve começar pela informação correta. Deve constar também a data da publicação, a página, o título, o parágrafo e linha em que foi impresso o erro e o nome do estudante, o autor do texto. Se o erro foi cometido pela fonte da notícia, deve constar da correção o nome da pessoa ou entidade que originou o equívoco. Antes de publicado, o texto deve ser submetido à leitura do professor/coordenador.

Espaço entre linhas – o texto deve ser digitado ou datilografado com espaço duplo entre as linhas. Facilita a leitura e deixa espaço suficiente para que o professor possa revisar o texto para avaliação e publicação. O ideal é o aluno também deixar margens bem largas em cada lado da página.

Etapas de vida – nas primeiras 24 horas de vida, o bebê é um recém-nascido. Até dois anos de idade, a criança é bebê. Até os 13 anos de idade, são chamados de meninos e meninas. Jovens, adolescentes, menores, até 18 anos de idade. Acima de 70 anos, a pessoa, dependendo do contexto, é chamada de ancião. Quando a palavra velho tiver sentido ofensivo, deve-se evitá-la. Pode usar terceira idade ou idoso.

Ética – o estudante de Jornalismo deve procurar conhecer todas as versões de um fato e registrá-las com ética e responsabilidade.

Estudante – jamais deve acreditar na primeira informação que coleta. Em jornalismo, todo fato pode ser negado, toda ação, contestada e toda notícia, desmentida.

Eu ou nós – a raiz do jornal-laboratório é o fato jornalístico e quem o protagoniza, nunca quem o conta. Por isso, o uso da primeira pessoa do singular ou a primeira pessoa do plural está excluído no relato do fato jornalístico. Salvo em situações especiais, após a avaliação do professor/coordenador.

Exatidão – é a meta do jornal-laboratório a alcançar a cada edição, visando a objetividade jornalística.

Exclamação – (!) não é permitido o seu uso em manchete, título, olho, submanchete, subtítulo e lead. Exemplo: Brasil é sério!

Explicação/definição – o jornal escreve para um número de leitores que forma um conjunto disperso e não na maioria dos casos. Por isso, o estudante de Jornalismo deve evitar o uso de palavras ou expressões que nada acrescentem ao texto nem esclareçam o leitor. Na busca de informações concretas, precisas, exatas, justifica-se muito o trabalho de apuração de notícias. O número da placa do carro, nome completo de pessoas vão ter, no texto, efeito de realidade, isto é, contribuem para a verossimilhança da história. Quando não, use comparações para informar o leitor com clareza. Para dar idéia da potência de uma usina hidrelétrica, recorra ao consumo de energia de uma cidade. É bom lembrar que números têm confiabilidade quando bem empregados.

Expressões – diz-se que, consta que, parece que, acho que referem-se a boatos e não são notícias e os boatos não se publicam. Evite-as.

Expressões inadequadas – o uso continuado de determinadas expressões, senão impróprias, pelo menos pouco adequadas ao ritmo e à clareza do idioma, tem criado vícios que prejudicam a exatidão do texto. Portanto, evite usar: … a mudança da data da Feira Agro-Pecuaria de Jales está sendo estudada a nível de Prefeitura. A cadeia pública de Jales foi invadida por dez homens, sendo que cinco deles estavam armados. … em termos de Brasil, segundo o ministro. A pedido do presidente da República, o ministro da Saúde, José Serra, está elaborando estudo. Não use também expressões vulgares, obscenas etc.

F

Falar errado – quando alguém fala errado, o estudante de Jornalismo deve corrigir o erro, a não ser quando há motivo para mantê-lo — e então é sempre preciso apontar o erro ao leitor.

Fechamento – Ver fechamento – Tópico Definições.

Fonte/entrevistado – o estudante de Jornalismo deve sempre ouvir no mínimo dois personagens envolvidos no fato ou acontecimento jornalístico. Deve ser imparcial. O acusado deve ser ouvido. O estudante precisa preservar suas fontes. Seja ético, não se submeta a elas.

Fonte/primária – para o jornal-laboratório é aquela pessoa responsável pelas informações prestadas. Exemplo: governador, presidente da República. Só em casos extremos ou se os representantes oficiais designarem um funcionário para representá-los. Exemplo: porta-voz, chefe de gabinete, gerente, assessor de imprensa. Nestes casos, o estudante de Jornalismo deve informar ao leitor que fulano de tal fala em nome do governador.

Fontes-fantasmas – o recurso às fontes-fantasmas não é aplicável ao jornalismo insento, exato, sério e de interesse público. Na verdade, no jornal-laboratório adota-se o recurso de total lealdade ao leitor, evitando o uso ridículo de fontes-fantasmas.

Fotografia – é um recurso técnico para enriquecer o texto mas que não pode ser manipulada. Ou seja, fotomontagem, principalmente em detrimento do interesse público. Exemplo: jornais sensacionalistas britânicos usavam de fotos montadas para realçar o dia-a-dia da ex-princesa Diana. O objetivo é vender apenas mais jornal. No jornal-laboratório não é recomendável o uso desse artifício. O estudante deve ter cuidado ao selecionar uma foto para ser publicada. A publicação de uma foto de outro jornal ou origem deve ter a aprovação do professor/coordenador. A reprodução de ilustração de enciclopédias, revistas, livros deve ter o consentimento do professor/coordenador. Não selecionar fotos de pessoas que não podem ser identificadas na legenda. Fotografia com imagem ruim (fora de foco, por exemplo) só será publicada se, realmente, enriquecer o texto. Exemplo: a foto do presidente caindo do palanque quando discursava.

Fotógrafo – é o estudante que registra o fato, acontecimento ou o entrevistado por intermédio da fotografia. Além de redigir o texto, o estudante também produz a fotografia.

Fração – sempre com algarismos: 1/3, 2/12.

Frases – curtas e objetivas. Usar sempre o sinônimo mais simples, mais conhecido. Lembre-se de que quanto mais curta a frase, mais fácil para o leitor. Recomenda-se que o estudante coloque intertítulos. O uso do intertítulo divide a matéria em capítulos e dá maior destaque ao que vem logo abaixo.

Furo – no mundo globalizado é difícil um veículo de comunicação dar furos. O importante é informar bem. O estudante de Jornalismo deve considerar que informar bem é apurar uma matéria com precisão e não publicá-la de formar incorreta só para sair na frente do concorrente. Uma informação correta é aquela que sai completa e não antes. Segundo Alberto Dines, jornalista e pesquisador do Labjor (Campinas/SP), a escola de Jornalismo deve preparar o futuro jornalista para apurar bem e não de qualquer maneira.

Futuro imediato – é o jornalismo preventivo, tão em desuso no Brasil. O estudante, sempre que possível, deve trabalhar por antecipação e preparar o leitor para aquilo que vai acontecer.

G

Gíria – no jornal-laboratório a gíria só é usada quando reproduz declarações textuais. Exemplo: malandro, falô, meu irmão, camarada, mano.

Generalização – vários, muitos, inúmeros, diversos, grande, enorme, pouco são palavras que não enriquecem o texto. O que pode ser muito para você é pouco para o leitor. O texto jornalístico tem que ser preciso, exato, de fácil leitura e compreensão. O resto é supérfluo. Agora, se o estudante comparar, ele pode usar. Exemplo: Cem pessoas assistiram ao jogo entre Fluminense e Arapiraca. Pouco pela importância do jogo e pela capacidade do Maracanã 120 mil lugares. Errado: Inúmeras pessoas foram ao jogo entre Fluminense e Arapiraca…

H

Hífen (1) – as regras do emprego do hífen são numerosas e das mais complexas da língua portuguesa. Selecionamos as menos complexas: Ante, Anti, arqui, auto, extra, hidro, hiper, infra, inter, mal, multi, neo. pró, proto, pseudo, semi, sobre, sub, super. Na dúvida, recomendamos ao estudante consultar um livro de gramática ou um dicionário da língua portuguesa.

Hífen (2) – Ver hífen – Tópico Definições.

Hipérbole – figura retórica do exagero, desaconselhável em texto jornalístico. Exemplo: gigantesca manifestação, barulho ensurdecedor.

Hora-duração – grafar assim: o número é escrito em algarismo e, por extenso, a unidade de tempo. Exemplo: A final entre Guga e Sampras durou 2 horas e 25 minutos.

Hora-tempo – não se usa m para abreviar os minutos e a hora-tempo é escrita assim: 20h30, 20h, 12h35, 12h, 0h30, sem espaço entre o número e a hora. Exceção para designar o início de um novo dia: zero hora, por extenso.

Humanizar – sempre que possível, o texto do jornal-laboratório deve ser humanizado. Ou seja, ter nomes e conter pormenores ambientais e humanos e com interesse para o leitor. Todo assunto deve ter uma dimensão humana (história e fatos pessoais). Humanizar o texto não significa ceder à vulgaridade.

I

Idade – não use idade: João Aparecido Batista, 25 anos. Cite a idade do personagem só quando a notícia exija. Exemplos: Aos 25 anos de idade, Newton José Costa se transformou no maior jogador de basquete do mundo. Aos 95 anos Araídes Domingues Leal é o principal nadador do Clube Atlético Tiête.

Identificação – o estudante de Jornalismo deve colher sempre o nome completo e correto do entrevistado, idade, profissão, cargo que ocupa e mais informações que possam enriquecer a matéria e ainda ajudar o leitor.

Imaginação – implica em um jornalismo eficaz, atrativo e criativo, mas sem perder a lucidez no relato do fato jornalístico. Jamais o estudante pode perder a comunicação com o leitor ao usar da habilidade técnica da informação para construir o texto.

Imoral – é antiético apropriar-se de informações de outros veículos de comunicação ou retocá-las. Quando o fizer, indique a fonte ou o veículo de comunicação.

Impessoal – o texto jornalístico é impessoal. Ou seja, o estudante não deve envolver-se no relato jornalístico. Ele deve passar ao leitor um retrato fiel do acontecimento de forma imparcial e exata. O estudante apenas recolhe e narra os fatos. Para Luiz Beltrão, a participação de quem transmite a informação (notícia) ao público é puramente mecânica, não torna pública suas reações pessoais ou opiniões. Um exemplo de textos de envolvimento pessoal: Conversando com o Pastor Pedro Freire Filho da Igreja Universal do Reino de Deus percebe-se que muitas pessoas são conquistadas por serem ingênuas e acabam envolvidas pelos pastores que lhes prometem o que podem e não podem e muitas vezes acabam dando o que têm e o que não têm para ter um cantinho no céu. As informações que nos passou foram muito vagas pois não queria se comprometer. Consegui perceber que o crescimento das Igrejas, não só da Universal como de outros templos que não aceitam dar entrevistas, é conseqüência das doações generosas que os fiéis fazem… (Ou) Quando o assunto é segurança a preocupação e o medo principalmente do paulistano é em dobro. Por outro lado, diariamente somos expostos a uma série de situações sem darmos conta dos perigos que nos cercam… Sendo assim, quando entramos em alguma repartição pública ou privada e encontramos estes profissionais, não sabemos se estamos realmente seguros ou na verdade estamos em perigo pois em qualquer sinal de alerta podemos ser vítimas da imperícia e despreparo destes seguranças.

Incidentes, brigas, discussões com fontes de informação – deverão ser sempre comunicados ao professor/coordenador do jornal-laboratório.

Independência – em relação aos vários poderes e às fontes de informação definem a conduta do estudante de jornalismo.

Informação – é essencial para o leitor do jornal-laboratório que a informação seja rigorosa, completa, cruzada e fundamentada.

Informação em off ou on – deverá ser sempre cruzada com, pelo menos, duas fontes diferentes e independentes entre si.

Interrogação – (?) não é permitido o seu uso em manchete, título, olho, submanchete, subtítulo e lead. Exemplo: Brasil é sério? Uma casa em Paris ou um apartamento em Londres?

Intertítulo – no jornal-laboratório recomenda-se que o uso seja de dois em dois parágrafos de 10 linhas cada. Deve conter duas palavras, no máximo de sete letras cada. O primeiro deve ficar depois do segundo parágrafo, o último antes do penúltimo parágrafo. O intertítulo não pode separar o lead do sublead. Ele deve ser negritado e centralizado na coluna, corpo 10, fonte Times New Roman.

Itálico – Ver itálico – Tópico Definições.

J

Jornalismo de precisão – Ver jornalismo de precisão – Tópico Definições.

Jornalista – o estudante para ser jornalista não pode se esquecer nunca de que sua missão é transformar o fato jornalístico em notícia de fácil entendimento para o leitor. É uma função nobre, por isso não há espaço para arrogância ou linguajar autoritário. O estudante precisa entender que o jornalista tem que ser didático, pois ele é o intermediário entre o fato jornalístico e o leitor. O jornalista tem que tornar acessível uma informação. Para isso, deve escrever de forma simples, ser objetivo e descomplicado.

Jornalista burocrata – é aquele que fica na redação à espera do furo jornalístico. O espírito burocrático deixa o estudante ultrapassado pelos fatos e acomodado.

L

Lead (lide) – Ver lead – Tópico Lead.

Leitor – o jornal é dependente do leitor. Portanto, ele deve ser tratado com atenção. Sem o leitor não há jornal que sobreviva. O jornal deve e é feito para o leitor e não para grupos. A neutralidade é um requisito essencial para informar o leitor sem deformações.

Leitor não é burro – o estudante precisa entender que o leitor, mesmo o leigo, não é burro. Imaginar que o leitor não é inteligente é uma atitude perigosa e traiçoeira. O leitor, mesmo o mais desatento, tem a sensibilidade suficientemente aguçada para encontrar desvios, impurezas, informações inexatas no texto do estudante.

Legenda – no jornal-laboratório é importante fazer legendas para as fotos porque o leitor precisa ter o máximo de informações sobre o assunto.

Ler em voz alta – o estudante deve ler seu texto em voz alta. Nesta leitura ele perceberá as repetições de palavras, rimas estranhas, frases longas que tiram o fôlego, adjetivos em demasia, erros de pontuação e concordância. Ler em voz alta reduz a incerteza no relato do fato jornalístico. É sempre bom ouvir o que se escreve. E quando isto acontece, o estudante notará que o texto tem forma, tem imagem, tem cor e tem cheiro. Ou seja, o seu texto tem vida própria.

Levantamentos de dados – o estudante de Jornalismo deve sempre ouvir todas as pessoas envolvidas, pesquisar, checar documentos, principalmente quando a matéria é de denúncia. Além de prestar um serviço à comunidade, ele protege a si mesmo.

Linguagem jornalística – o estudante deve sempre usar uma linguagem ao alcance do entendimento do leitor. Ele não deve utilizar uma linguagem de difícil entendimento só para mostrar seu conhecimento, sabedoria ou cultura. Esses são recursos de linguagem que apenas estabelecem uma distância entre quem escreve e o leitor.

Linguagem do leitor – o estudante deve sempre usar a linguagem do leitor e não a do médico, do cientista, do político. Fazer perguntas que o leitor faria. Se tiver dúvidas, não deve ter a vergonha de solicitar ao entrevistado (fonte) que explique melhor o assunto. Para escrever na linguagem do leitor, o estudante deve ser chato, sem malícia, na captação de dados. Com certeza, vai fazer a melhor matéria porque compreendeu bem a história. A história bem contada, harmoniosa vai cativar o leitor já na primeira linha e levá-lo até a última.

Local – no jornal-laboratório não é permitido ao estudante de Jornalismo assinar (crédito) uma matéria se ele não esteve no local do acontecimento ou participou de uma entrevista. Neste caso, se publicada, a matéria deve se identificada pela sua origem: se for uma agência de notícia, o crédito é para ela. O mesmo critério deve ser usado para fotografias e ilustrações.

Lobbies de informação – Ver Tópico Definições.

M

Maiúscula – nomes, sobrenomes de pessoas, apelidos, profissões, lugares, regiões, endereços, acidentes geográficos, prédios e monumentos históricos, empresas, instituições culturais e profissionais, entidades, nomes de ciência e disciplinas, pontos cardeais, organizações políticas, instituições ligadas ao Município, Estado e União e suas subdivisões, departamentos e repartições. Também em maiúscula nomes de impostos, taxas, períodos, episódios, momentos históricos (Revolução Francesa), festas e datas religiosas, comemorações cívicas (7 de Setembro), Igreja (a instituição religiosa), seleções, competições e federações esportivas, símbolos nacionais e nomes de ciências, acidentes geográficos, nomes de rios, picos, montanhas, mar, oceano, ilha, lagos, estradas de ferro, rodovias, estádio, bar, hotel etc. Exemplos: Wilson Aparecido Toneli, Pelé, Ministério da Fazenda, Governo do Estado, Bandeira Nacional, Mar Morto, Bar das Onze, Estádio da Vila Belmiro, Copa do Mundo, Presidência da República, Oeste, Leste, Sul e Norte, Matemática, Ciência da Informação. Nota 1: no caso de nomes próprios acompanhados por um substantivo, escreve-se o substantivo com letra minúscula (Caixa baixa). Exemplo: assessor de Imprensa, ministro Pelé. Nota 2: quando o substantivo é incorparado ao nome próprio, escrevem-se os dois com letras maiúsculas (Caixa Alta e baixa). Exemplo: Ministério da Fazenda, Bar das Onze, Avenida Paulista, Vale do Guaporé (RO), Rio Madeira, Governo do Estado de São Paulo. Nota 3: Interior, quando substituir o interior de São Paulo. Exemplo: O Interior tem o principal póloagropastoril. Se não substituir, fica assim: O interior do Estado tem o principal… Nota 4: Estado é maiúscula no sentido de unidade da federação e de nação.

Mancha da página – nunca um texto ou fotografia ou ilustração devem sair da mancha da página.

Manchete – na composição da manchete, o estudante deve evitar o ponto final, dois pontos, ponto de interrogação, ponto de exclamação, dividir sílabas, reproduzir as palavras iniciais do texto, adjetivos que só preenchem espaços e não enriquecem a qualidade da informação. Na manchete use, de preferência, o verbo no presente. A não ser que o texto refira a fatos distantes no futuro ou passado. Exemplos: Morre o filho de Antônio Carlos Magalhães. Brasil foi o último colocado na Copa de 30. Elimine também os artigos no início do título. Exemplo: O Brasil vai exportar pepino. Só use abreviaturas ou nomes próprios quando forem do conhecimento geral. Exemplo: Montoro é candidato à Presidência do PSDB. O título não pode ser subjetivo, sonhador, paternalista ou estar no condicional. Exemplo de um título com estas características publicado na Folha de S. Paulo, caderno Brasil, página 1/13, de 10 de agosto de 1997, sobre a morte do sociólogo Betinho: Se houver céu, Betinho ficará na porta... A submanchete compõe a manchete.

Manuscrito – nada para o jornal-laboratório deve ser manuscrito.

Menor – de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, nomes de menores envolvidos em crimes só podem ser divulgados pelas iniciais e as fotos de rostos devem exibir uma tarja.

Mês – é redigido em Caixa baixa: setembro.

Minúscula – cargos e títulos, funções, profissionais, forma de tratamento, títulos honoríficos (cidadão paulistano), grupos étnicos, raça de animais, nomes que acompanham nomes de rodovias, ruas, alamedas, praças, avenidas, logradouros públicos, geográficos, meses do ano, documentos públicos, igreja (o prédio), carnaval (no sentido de barulho), comidas. bebidas. Exemplos: prefeito, governador, professor, lateral direito, jornalista, pastor alemão, cidade, continente, capital, cabo da Boa Esperança, bar da Esquina, rua Sete de Abril, decreto-lei, lei, portaria, maio, praça Rui Barbosa, pato no tucupi, jurupeba. Nota: Referências a entidades, festivais, feiras e encontros depois de terem sido citados na matéria escrevem-se em caixa baixa (minúscula). Exemplo: A Confederação Brasileira de Basquete vai homenagear o cestinha Oscar. A cerimônia será na sede da entidade.

Mudança de página – no jornal-laboratório deve-se evitar que uma matéria continue em outra página, a não ser que o fato jornalístico seja de extrema importância. Exemplo: morte do presidente da República. Esse expediente é permitido também na elaboração e produção de cadernos especiais. Exemplo: dia da Independência da República, conquista da Copa do Mundo. Ou seja, a maioria das matérias deve ser concluída na página em que começou.

N

Não escreva – né, num, pra, pro, exceto em citações. Palavras longas como inconstitucionalidade. Ou frases longas, parágrafos longos, gírias, eufemismos ou palavras da moda. Quando citadas pelo entrevistado, o estudante de Jornalismo poderá usá-las.

Nome do jornal-laboratório – quando citado em suas páginas, é grafato de acordo com a sua estrutura e formação. Exemplo:

PRIMEIRA EDIÇÃO. Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Catanduva/SP (Fafica)

Nome próprio – o estudante de Jornalismo deve respeitar a grafia do nome do entrevistado tal como está no Registro Civil. Na primeira vez que são citadas, as pessoas devem ser identificadas pelo nome completo; daí em diante, aquele pelo qual são mais conhecidas. Exemplo: Pedro Álvares Cabral. Cabral. Quando o personagem não é mencionado regularmente pela mídia, o estudante de Jornalismo deve checar qual a parte do nome com que se identifica o entrevistado. Caso contrário, a pessoa deve ser identificada pelo primeiro sobrenome, quando homem, e a mulher pelo nome e primeiro sobrenome. Exemplos: José Bernini. Bernini / Matilde Leite Nogueira. Matilde Leite.

Nome próprio estrangeiro – o estudante de Jornalismo deve obedecer à grafia original. Exemplo: John Kennedy.

Nós – o jornal-laboratório não utiliza essa forma, exceto quando reproduz declarações textuais. Exemplo errado: Nós entrevistamos… Nós ouvimos…

Nosso – o jornal-laboratório não utiliza o pronome possessivo nosso. Exemplo: Fernando Henrique Cardoso é o nosso presidente da República.Correto: O presidente do Brasil é Fernando Henrique Cardoso. Os locutores e comentaristas esportivos gostam muito de usar o pronome quando transmitem jogos da seleção: nossa seleção foi melhor porque dominou o jogo, embora não tenha vencido os coreanos…

Número – a regra é escrever por extenso de zero a dez (duas horas depois da saída, dez pessoas morreram); de 11 ao infinito, algarismos (1.101). Para números redondos usam-se algarismos e palavras (12 mil, 22 milhões e 34 bilhões). Para números quebrados até dezenas de milhares, algarismos: 15.559. Acima disso, usa-se a fração: 31,6 milhões, 32,864 bilhões. Quando não for possível arredondar, usam-se apenas algarismos: 22.887.665. As classes são separadas por ponto ou vírgula. Nota 1: os números, mesmo inferiores a dez, quando designam valores econômicos, tempo esportivo, idade, hora, ângulo, peso, medida escrevem-se com algarismos. Exemplo: R$2, 9h, 2m... Nota 2: Mesmo que o número seja superior a dez, quando iniciar frase ou oração e não for ordinal, escreve-se por extenso. Exemplo: Onze é o número da camisa do Romário. Nota 3: o número (ordinal) seguido de letra escreve-se em algarismo sem ponto. Exemplo: O terremoto foi de10º graus na escala Richter. Silas Gabriel Zacarias venceu no 10º assalto. O exemplo serve para denominar festivais, cursos, encontros, conferências etc. Nota 4: Escreva com algarismos grupos de campeonatos, números de camisas de jogadores. Exemplo: O Brasil ficou no Grupo 3 da Copa do Mundo. A camisa 10 imortalizou Pelé.

Número de caracteres/toques – a matéria selecionada para publicação deve obedecer ao número de caracteres/toques que lhe foi reservado. Esta função cabe ao autor do texto (estudante). Caso os números não sejam respeitados, o editor é livre para cortar linhas ou mesmo remodelar a matéria. Para conhecer o número de caracteres que lhe é reservado para cada matéria, o editor deve conferir os números com o diagramador.

Números romanos – apenas para indicar números dinásticos, nomes oficiais de clubes e Comandos Aéreos Regionais (Comar): Dom Pedro I, João Paulo I, XV de Novembro de Piracicaba, XV de Jaú, V Exército. Para indicar século, escreve-se com cardinais: século 15.

O

Off – o estudante de Jornalismo deve evitar o off. Quando, realmente, a fonte não pode ser citada, o estudante não deve recorrer a expressões genéricas como fonte fidedigna, fontes oficiosas, dignas de crédito. Elas não justificam o off e colocam em dúvida a origem das informações coletadas. O correto, ou menos ruim, é identificar a fonte que se recusa a ter seu nome publicado com palavras que revelam sua profissão. Por exemplo: deputado estadual, líder sindical, religioso. Mesmo sem revelar o nome da fonte, o estudante não deixa o leitor desinformado.

Ontem – não use o advérbio de tempo nos títulos, porque uma das funções do jornalismo é transformar o ontem no hoje. Correto: Brasil vence o Chile. Errado: Brasil venceu ontem o Chile.

Opinião do estudante – não opine em matéria informativa, entrevista ou reportagem. O estudante de Jornalismo deve opinar nos artigos. No jornal-laboratório a opinião do estudante pode ser expressa no caderno de Opinião. Na matéria, o estudante deve apenas informar, orientar o leitor.

Ordinal – sempre com algarismos: 13º salário, 15º dia.

Ortografia – sempre que tiver dúvida sobre a forma de escrever uma palavra, consulte o dicionário.

P

Palavras impróprias – o estudante precisa ter o cuidado ao usar palavras para “enriquecer” o texto que elabora. Na maioria das vezes algumas palavras, termos ou expressões são inadequados para definir o que o estudante imagina. Alguns exemplos: O estádio de futebol da Usp está pedindo socorro. Na verdade, o estádio não tem sentimento, não sente dor ou tem querer. Então, ele não pede socorro. Ele precisa de manutenção, reparos, reformas etc. Outro exemplo de uso de palavras que nada acrescentam ao texto. O gramado está desmilhinguido, atachado, destruido, juntamente com as arquibancadas que podem ser um perigo iminente por causa da depredação. Virou uma miscelânea de palavras sem valor ou correção gramatical e com ortografia errada.

Palavras ofensivas – não use palavras ou frases que ofendem uma comunidade. Exemplo: deu uma de português.

Parágrafo – não deve ter mais que 100 palavras.

Parênteses – no jornal-laboratório são empregados para observar, complementar, incluir um dado importante ou complementar no texto. Exemplo: A condenação dos proprietários da Escola Base (depredada pelos moradores da região) pela Imprensa, antes mesmo da justiça, é uma prova de que as instituições brasileiras precisam encarar com seriedade e determinação a ética na profissão e apurar os fatos com mais rigor…

Partido – com a primeira letra maiúscula quando for parte de um nome próprio. Exemplo: Partido dos Trabalhadores (PT).

Passado imediato – é o que aconteceu nas últimas 24 horas.

Pé de matéria – Ver Tópico Definições.

Periodicidade – no Brasil a periocidade dos jornais-laboratórios não é regular e nem sempre é a mesma dos principais jornais, por isso o estudante deve evitar o uso de datas, ou quando se referir a algum espaço de tempo, como hoje, ontem, amanhã, domingo. Portanto, cuidado com o espaço de tempo. O ideal é evitá-lo no texto. Assim, o estudante estará mais seguro que não cometerá erros como: O Brasil joga amanhã contra o Peru… Nada de irregular na estrutura do texto, mas o jornal-laboratório só sai daqui a duas semanas. A informação torna-se velha e o leitor não vai gostar de ler um jornal com informações desatualizadas.

Periódico – nomes de jornais citados nos textos do jornal-laboratório são grafados em itálico: Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil. A mesma regra é aplicada para nomes de rádios, televisões, revistas.

Personagem – quando o personagem ocupa um cargo, público ou não, deve ser identificado na primeira vez, por cargo e nome completo. O presidente do Tribunal de Contas, Expedito Bauer da Silva, disse ontem que... Depois, o estudante de Jornalismo escolhe só o cargo ou só o nome. Quando o personagem tiver mais de um cargo ou a referência é a um cargo anterior, primeiro aparece o nome e depois os cargos. Ricardo Sidnei Xavier, ex-secretário municipal da Saúde e presidente do Instituto do Coração, diz que o Brasil é um país cardíaco.

Personagens – são os entrevistados. O estudante é apenas um atento observador dos acontecimentos e não o personagem. Então, a primeira pessoa do singular ou do plural está excluída no relato do fato.

Peso e medida – são abreviados quando as quantidades estão em algarismos: 454t, 11kg, 12m ou 33km; quando estão em algarismos e por extenso, a regra é: 23 mil toneladas, 12 mil quilômetros, 16 mil metros ou 18 mil quilos. Acre, hectare, alqueire etc. são grafados por extenso e em Caixa baixa. Para medidas de área e volume, é recomendável escrever por extenso: 12 quilômetros quadrados, 13 metros cúbicos. Para tabelas e quadros, admite-se a abreviatura: km2, m3.

Piada – nunca.

Pingue-pongue – o estudante deve evitar a entrevista de pergunta e resposta. Antes de fazê-la deve consultar o professor/coordenador do jornal-laboratório.

Pseudo-entrevistas – não será admitido a construção de uma entrevista a partir de um documento ou um texto escrito pelo entrevistado.

Play-boy – quando se referir a nome próprio se escreve em Caixa Alta (Maiúscula) a primeira letra da palavra e em itálico de origem inglesa. Exemplo: A revista Playboy vai mostrar nas páginas principais a sensualidade da Maria Rita, copeira oficial do Planalto. Agora quando se referir a um conquistador, um don juán, um bon vivant ou ainda aquele que leva a vida na flauta escreve-se em caixa baixa (minúscula) e em itálico por ser uma palavra inglesa. Exemplo: O play-boy José Maria da Costa voltou ao Brasil depois de passar uma semana no Paraguai.

Pleonasmo – é redundância de termos. Exemplo: dentro do elevador, sair para fora, ficar dentro de quarto. Evite-os.

Polícia – se escreve com minúscula inicial salvo que forme parte de um nome completo. Exemplo: A Polícia Militar de Rondônia procura o suposto assassino do líder seringalista Chico Mendes.

Política editorial – o jornal-laboratório se define como um periódico independente, de informação geral e com o intuito de orientar o estudante de Jornalismo na carreira profissional. Ele segue os princípios liberais em defesa de uma democracia pluralista. O jornal-laboratório tem a função de passar à sociedade acadêmica e aos leitores uma posição correta, verdadeira e de qualidade dos fatos que ocorrem. O jornal-laboratório não acatará pressão de grupos políticos, econômicos, religiosos em detrimento do interesse público. O trabalho com a notícia – matéria-prima do jornalismo – ou com a reportagem será feito, de forma clara e transparente. A informação e opinião resultam em textos diferentes. No primeiro, o estudante de Jornalismo deve respeitar os parâmetros indicados pelo jornal. Ou seja, o objetivo é informar e orientar o leitor sobre o fato jornalístico. O segundo, de análise pessoal, também deve seguir os princípios éticos da arte de fazer jornalismo: respeitar o cidadão e sempre fundamentar o que propõe no texto. A função editorial do jornal-laboratório é passar à sociedade um retrato fiel da realidade.

Pontos cardeais – Escrevem-se com Maiúscula a primeira letra da palavra quando definir a localização: Exemplo: ao Sul de Porto Velho (RO), o Norte do Brasil é rico em minerais. Não é Maiúsculo no seguinte caso: viajar para o nordeste

Ponto de exclamação – só em casos especiais.

Porcentagem – com algarismos e o símbolo, sem espaço entre um e outro: 87%.

Possuir – só o ser humano é que possui, no sentido de ser proprietário de alguma coisa. Exemplo: O Moacir Antônio Lungato possui dois carros importados. (correto) / A Igreja Católica possui 100 milhões de fiéis no Brasil. (errado) A Igreja Católica tem 100 milhões de fiéis no Brasil. (correto)

Povo – é um conjunto de pessoas que fala a mesma língua, tem costumes e hábitos idênticos e afinidade de interesses. No Brasil o povo só aparece na grande mídia nas páginas policiais ou como protagonista de invasão de terra, de conjuntos habitacionais ou instituições governamentais. Por isso, uma das proposta do jornal-laboratório é que o estudante mostre a vida das pessoas. Que mostre o povo personalizado. Além de fugir do padrão jornalístico empresarial, o estudante estará exercitando a cidadania.

Precisão – o estudante de Jornalismo tem o dever de reproduzir com fidelidade declarações ou situações que testemunhou. Informações desencontradas podem confundir o leitor. É bom lembrar que nunca se pode dizer tudo e pouco adiantam generalizações vagas. A precisão deve estar presente logo na escolha do ângulo de abordagem da reportagem.

Preconceito – nos textos do jornal-laboratório ninguém é qualificado por sua origem étnica, preferências sexuais, deficiências físicas ou mentais. Essa é uma atitude preconceituosa ou discriminatória.

Press-release – deve-se evitá-lo. Serve apenas como uma pista para um trabalho jornalístico independente e imparcial. Ou pode virar uma pauta.

Pressão arterial – para definir o grau de compressão sanguínea nas artérias de uma fonte entrevistada, quando necessário, o estudante deve usar o algarismo. Exemplo: A pressão arterial do presidente da República, Ernando Enrico de Viagem, antes de embarcar para mais uma viagem internacional, é de 8 por 12.

Preto – use para designar cor e não raça humana. Exemplo correto: A raça negra predomina no basquete norte-americano.

Primeira página – é o cartão postal do jornal-laboratório. Ela deve conter chamada dos principais assuntos do jornal. A seleção das matérias que vão compor a primeira página tem que ser criteriosa, de interesse público e nítida, que faça o leitor sentir o prazer de ler o jornal.

Privacidade – o jornal-laboratório respeita a privacidade do cidadão. Não admite preconceito. Ninguém deve ser identificado por grau de parentescco com pessoa pública ou não. Se a notícia for de teor negativo, ninguém pode ser identificado por sexo, raça, origem étnica, deficiência física ou mental.

Privilégio – cuidado ao usá-lo. Privilegiar é conceder vantagem, imunidade, tratamento especial em detrimento de outrem. O estudante não deve privilegiar ninguém.

Promessas – o jornal-laboratório não promete nada. Exemplo: Numa próxima edição voltamos com este assunto.

Pronome de tratamento – não use no texto pronomes de tratamento como senhor, V.S., Ilmo e outros. O recomendado é identificar o personagem pelo nome, cargo que ocupa, profissão. Exemplo: O senhor Fernando Henrique Cardoso diz… (errado) O presidente Fernando Henrique Cardoso… (correto) A não ser em declarações textuais.

Puxa-saco – não use e não seja.

Q

Queísmo – não abuse do uso da partícula que . Exemplo: O que você sabe é que o Zezinho não tem mais aquele jeito de fazer gols e que os torcedores agora não confiam mais no seu futebol que está cada vez pior. Muitas vezes ela pode ser substituída por um ponto, vírgula ou dois pontos. Exemplo: O Zezinho perdeu o jeito de fazer gols. Os torcedores deixaram de confiar no seu futebol.

R

Real – moeda oficial do Brasil. Escreve em Caixa Alta (Maiúscula) a primeira letra: Real. O símbolo é R$.

Recomendação – na avaliação de um fato para publicação, o estudante de Jornalismo deve sempre ter presente a política editorial do jornal-laboratório, ou seja, identificar o público para o qual se dirige, utilizar as regras e os princípios básicos do fazer jornalístico.

Recomendação ao redigir – recomenda-se ao estudante que procure sempre ser direto e dar importância ao que realmente merece. Evite brincadeiras. Antes de escrever, pense na frase completa, inteira, até o ponto final. Construa o texto por partes: pense na idéia, enfoque e o divida por itens de importância. Cada item é um parágrafo que tem uma idéia completa. Ao adotar esse hábito, o estudante tem como garantia a precisão no relato do acontecimento.

Redigir – é um exercício que o estudante deve praticar diuturnamente para se familiarizar com o conjunto de normas e regras que orientam o texto jornalístico. Só aprende a escrever correto e claro quem faz disso um exercício freqüente. A escrita diária aprimora o estilo, aciona o pensamento reflexivo e a ordenação das idéias. É salutar lembrar que ninguém lê por ninguém. A leitura refletida de bons autores é um vírus com qual o estudante deve a cada dia se contaminar ainda mais. Ela é indispensável para o enriquecimento do vocabulário. O lema é escrever e ler, sempre.

Redundância – exemplo: O presidente inaugura nova pista do aeroporto internacional de Brasília. Se inaugura, inaugura alguma coisa nova. Inaugurar o velho é complicado. O correto é: O presidente inaugura pista do aeroporto internacional de Brasília. Outro exemplo: Foi encontrado morto dentro do elevador social. O significado da palavra elevador já se refere a lado interior, no interior de. O correto é: Foi encontrado morto no elevador social. Evite: Deu marcha à ré para trás e bateu no poste.

Release – não deve ser publicado na íntegra.

Remissão de matéria – para facilitar sempre a vida do leitor, é melhor concentrar um mesmo assunto numa página ou editoria.

Repetição de palavras – o estudante de Jornalismo deve evitar o uso repetitivo de palavras. Uma boa leitura diária vai ajudá-lo a encontrar palavras substitutas, sem desqualificar o texto. Ou então use o dicionário.

Reportagem – numa reportagem, o estudante precisa ambientar o leitor. Se é uma festa de peão de boiadeiro, o ideal é relatar o ambiente, a música que toca após a queda do peão, as anedotas, os fatos históricos, o comportamento do público. Enfim, tudo isso quebra o gelo entre o leitor e o jornal. A reportagem ganha clima, movimento, ação e o leitor tem uma visão mais ampla da festa de peão.

Repórter – é a função que o estudante de Jornalismo deve cumprir na produção e difusão do jornal-laboratório. Ele redige, apura, checa e confronta as informações levantadas. Seu texto deve ser claro, objetivo e exato no relato do cotidiano, em uma entrevista ou reportagem. A ética e a responsabilidade social são regras que o repórter nunca deve esquecer na cobertura de um acontecimento ou em uma entrevista.

Reprodução literária – use itálico quando citar parte de uma obra literária. Exemplo: ... o jornalista autêntico tem o dever de não fornecer ao público o ópio que ele pede, e sim a verdade de que ele sempre precisa... Alceu Amoroso Lima.

Responsabilidade – a omissão dificulta e atrapalha o desenvolvimento das atividades programadas. Fica, portanto, determinado que é de responsabilidade dos editores e assistentes a seleção das matérias que serão publicadas e também coordenar cada reunião de pauta. Ainda sob a orientação do professor/coordenador, os editores e assistentes têm a função de solicitar e sugerir ao repórter o complemento ou redução da matéria e também fotos. Os editores e assistentes podem, sob a orientação do professor/coordenador do jornal-laboratório, titular, redigir chamada de primeira página e olho. Em caso de dúvida sobre o não-cumprimento de qualquer atividade, o editor, assistente e repórter (estudante) devem consultar o professor/coordenador.

Revisão de texto pelo entrevistado – só será aceita em condições excepcionais com a aprovação do professor/coordenador.

Riqueza dos detalhes – os detalhes dão verossimilhança à história que o estudante descreve. Os detalhes mostram que o estudante esteve lá, ouviu as pessoas, observou o ambiente, coletou informações no local. Ele foi conferir. O leitor sente que a informação é sólida, mais confiável: “… o presidente República olhou desanimado para a imagem de Nossa Senhora da Aparecida (padroeira do Brasil) quando ouviu do presidente do Senado que o PFL não o apoiará na campanha presidencial.”

Rosto – e não cara quando se tratar de pessoas.

S

SA – não é necessário usar a abreviatura de Sociedade Anônima cada vez que se cite uma empresa. Exemplo: A Sputinik SA é a maior exportadora de café do país. Correto. A Sputinik é a maior exportadora…

Século – com algarismo: século 18, século 21.

Segundo informações – o estudante deve citar a fonte. Exemplo: Segundo Zagallo, o Brasil precisa de dois pontas, mas no banco.

Seleção de matérias – para fechamento de cada edição sempre haverá um número de matérias a mais do que comporta o jornal-laboratório. Para ajustar o espaço destinado às matérias, será adotado um critério de seleção. O responsável é o editor, mas sob a coordenação do professor. O editor deve sempre pensar na data em que o jornal será publicado, na qualidade do texto (informações precisas, texto objetivo, exato e imparcial).

Sensacionalismo – o papel do jornalista é informar com clareza, fidelidade e exatidão, e não transformar o acontecimento em um ato sensacionalista e pessoal. Exemplo: o caso da Escola Base. A mídia paulista, sem analisar os fatos, “condenou” os proprietários da escola. Resultado (1): não foi provada a agressão às crianças. Resultado (2): a escola foi destruída por populares revoltados com os fatos publicados e divulgados pela mídia. Resultado (3): moral e psicologicamente os proprietários foram atingidos, e sem chance de resposta. Resultado (4): a mídia, embora “tenha condenado” os proprietários, ficou isenta de qualquer julgamento da justiça. O jornal-laboratório faz um jornalismo exigente e de qualidade, e não pratica o sensacionalismo e a exploração mercantil.

Serviço – caracterizado como informação de utilidade pública. Ele dever ser diagramado no pé (final) da matéria e em itálico.

Sic – indica que um termo ou texto foi reproduzido fielmente, por mais estranho ou errado que possa parecer. A palavra dever ser usada entre parênteses. Exemplo: “O Sócrates é invendável e imprestável (sic)”, disse o presidente corintiano, Vicente Matheus, aos dirigentes de clubes italianos interessados na compra do jogador.

Sigla – é a redução de longos títulos e expressões, utilizando a letra ou a sílaba inicial de cada um dos elementos. A sigla se escreve sem pontos e sem espaço entre uma letra e outra. Exemplo: Universidade de São Paulo (USP), Partido da Frente Liberal (PFL) ou Telecomunicações de São Paulo (Telesp). No jornal-laboratório o uso da sigla facilita a leitura e também economiza espaço. A sigla que formar uma palavra com mais de três letras escreve-se em Caixa Alta e baixa. (Telesp). Se formar uma palavra com três letras, a sigla é redigida em Caixa Alta. (USP). Se a sigla tiver duas ou mais letras que não formem uma palavra, é redigida em Caixa Alta. (PFL, PMDB). No jornal-laboratório o estudante de Jornalismo primeiro identifica o significado da sigla e depois usa a sigla entre parênteses. Exemplo: A Universidade de São Paulo (USP) abriu as inscrições para… Após a identificação, o estudante de Jornalismo deixa de usar os longos títulos e expressões e passa utilizar a sigla até o final do texto, quando necessário. O estudante deve respeitar a ordem: primeiro o significado, depois a sigla.

Sigla e abreviatura – na identificação de deputado federal e senador, usa-se a sigla partidária ligada por hífen à sigla do estado: PMDB-RO, PT-AC.

Significado de palavras – o estudante de Jornalismo deve recorrer ao dicionário para saber o significado da palavra que pretende usar no texto. Não é demérito o estudante adotar o dicionário como instrumento de trabalho. O dicionário foi criado para auxiliar o cidadão nas dúvidas.

Simplicidade – clareza, exatidão e diversidade são elementos que caracterizam o estilo do jornal-laboratório

Sobriedade – é que o estudante deve ter ao tratar o fato jornalístico. Moderação e segurança são indispensáveis na aplicação do jornalismo insento e verossímel.

Suicídio – o estudante de Jornalismo deve ser prudente com informações sobre suicídios, principalmente quando o personagem é menor de idade (18 anos). O cuidado é porque nem sempre o fato coincide com a versão.

T

Tablóide – formato de jornal. Ele tem a metade do tamanho do standard. O formato tablóide é mais usado em Porto Alegre (RS). Exemplo: Zero Hora.

Telefone – número de telefone deve ser sempre antecedido pelo código de área entre parênteses use hífen no prefixo: (17) 632-6681. A não ser quando o telefone não exija DDD. Se se tratar de número do exterior, mencionar o código do país e cidade: 39 (11) 562-9357.

Televisão – escreve-se televisão quando se referir ao canal ou estação.

Televisor – quando se referir ao aparelho receptor.

TV – só quando citar nomes de canais ou estações de televisão são escritos em Caixa Alta (Maiúscula) a primeira letra de cada palavra, em itálico e sem aspas. Exemplo: TV Globo, SBT.

Terra – sempre com inicial maiúscula quando se referir ao planeta. Exemplo: A Terra vai explodir em 2002.

Texto – deve ser redigido de forma clara. O texto tem de conter todas as informações corretas. O estudante de Jornalismo não deve esquecer números que possam ilustrar a matéria ou fatos que favoreçam a leitura. O texto para o jornal-laboratório é redigido em Caixa Alta e baixa (CAb). Exemplo: O ministro da Fazenda, Edson Tadeu Cintra, garante que o Brasil tem condições de pagar a dívida externa até o final do século 21.

Texto assinado – no jornal-laboratório todo texto deve ser assinado pelo estudante. Se há mais de uma participação, a ordem de assinatura deve refletir a contribuição de cada um. Já o texto escrito em parceira, a ordem das assinaturas deve ser alfabética.

Texto factual – é aquele que trabalha com o fato jornalístico a cada 24 horas. Nem sempre é publicado nas páginas de um jornal-laboratório que dificilmente tem periodicidade diária e portanto deixa a matéria velha.

Tratamento do leitor – o jornal-laboratório é lido individualmente, por um leitor, ou por centenas de leitores, que interpretam os fatos individualmente. Por isso, quando for preciso referir-se ao leitor, deve-se tratá-lo no singular, ou como você. Exemplo: O leitor interessado em comprar o livro de Marizete Leite…

Tratamento da notícia – o jornal-laboratório passa ao leitor notícias de interesse público e, se necessário, com opiniões de personagens. Estes critérios servem para enriquecer a matéria e informar o leitor com clareza e neutralidade.

Trocadilho – nunca.

U

USA – usa-se a sigla quandos os Estados Unidos já foram citados no texto, sem espaço e ponto entre as três letras.

V

Velocidade/hora – no jornal-laboratório deve ser grifada assim: 320km/h

Verbos – o estudante deve sempre usá-lo no modo indicativo, na voz ativa e nas formas simples e afirmativas. As formas condicionais, os tempos compostos, as passivas e as conjunções negativas prejudicam e desvalorizam o texto jornalístico.

Viúva – ao diagramar o jornal-laboratório deve-se evitar a viúva.

Vivacidade – é fundamental que o estudante tenha está qualidade. Ou seja, saiba explorar a introdução de elementos contraditórios, de transformar um fato rotineiro numa narrativa que surpreenda e seduza o leitor. Ele deve esquecer que citações em excesso banalizam o discurso jornalístico e não prende a atenção leitor. É importante que o estudante faça cortes rápidos (frases curtas) na narrativa e descreva, com cadência e elegância, o ambiente, cada gesto do personagem etc.

X

X – para indicar oposição, quase sempre em competições esportivas, usa-se o x minúsculo: Santos x Ponte Preta.

5.4 – Definições

Por se tratar de um manual de redação voltado para a produção e difusão do jornal-laboratório, é importante definir alguns termos técnicos e regras jornalísticas.

A

Abertura – início de um texto jornalístico, no qual o autor expõe as principais informações da notícia. O objetivo é atrair e prender a atenção do leitor para o resto do assunto e deve provocar impacto, curiosidade, ser um apelo à leitura. No jornalismo impresso, a chamada grande reportagem exige detalhamentos criativos para sustentar o interesse e o desdobramento da exposição. Um bom exemplo de uma abertura criativa é a de um jornalista da Paris-Match que, ao montar o texto do enterro de Joseph Stalin – dias após o funeral –, teve a idéia de telefonar para a central telefônica de Moscou, para se informar sobre as condições de tempo e iniciar sua reportagem descrevendo o amanhecer daquela data histórica.

Agência de notícias – na verdade, são os jornais dos jornais. É ela quem fornece informações de todos os tipos, por atacado, aos jornais. Dispõe de um amplo sistema de comunicação, de sucursais e correspondentes que recolhem, elaboram e difundem o fato jornalístico. É uma empresa de notícias que tem a finalidade de distribuir e vender notícias. Existem agências nacionais, internacionais e especializadas. A pioneira no comércio internacional foi a Havas (França), em 1845. As que se destacam hoje no mercado são: Associated Press e United Press (EUA), Reuter (Grã-Bretanha), France-Presse (França) e Tass (Rússia). A Agência JB, do Jornal do Brasil, foi uma das principais do país.

Assessor de Imprensa – profissional que divulga o press-release, marca entrevista coletiva, atende jornalistas. O estudante de Jornalismo deve entender que o assessor de Imprensa não é a fonte primária, portanto, as informações passadas por ele só serão publicadas se forem acompanhadas por um press-release contendo citações oficiais. Exemplo: o governador de São Paulo vai exonerar cinco secretários porque foram infiéis. O assessor de Imprensa não pode dizer que os secretários foram infiéis e por isso serão exonerados. Ele não tem autoridade para se pronunciar em nome do governador. A não ser que, além assessor de Imprensa, seja o porta-voz do governador. O estudante precisa tomar cuidado, sem desmerecer o cargo, com declarações do assessor de imprensa. Ele é o intermediário entre a fonte e o jornal. Para a matéria ganhar credibilidade, é importante que a palavra do envolvido seja citada no texto. Vale lembrar que o relacionamento entre o assessor de Imprensa e o jornalista é formal.

B

Barriga – veiculação de uma notícia falsa. Para evitá-la, o estudante de Jornalismo deve apurá-la com rigor.

Boneco – modelo de projeto gráfico de uma publicação.

Boxe – texto secundário que aborda aspecto específico do texto principal. Pode ser interpretativo, opinativo, histórico. Pode ser cercado, em negrito ou utilizar demais recursos gráficos. O importante é que complementa a matéria principal. Ele tem a finalidade de dar leveza e agilidade à leitura, tornando-a mais atraente.

C

Cabeçalho – nome do jornal, contendo também a data de publicação, local, editoria número de página etc.

Caderno – conjunto de folhas que formam uma unidade do jornal. Exemplo: Caderno 2 do Estadão.

Caixa Alta e baixa (CAb) – expressão que indica o emprego de letras maiúsculas e minúsculas. Exemplo: Bandeira.

Calhau – material utilizado para preencher um espaço decorrente do cancelamento de anúncio ou qualquer outro espaço em branco. Um anúncio da própria empresa jornalística é o mais usado. Dependendo do espaço destinado ao anúncio, usam-se matérias reservadas para tais ocasiões e sem interesse jornalístico.

Chamada – é originada do texto mais importante do jornal-laboratório. A chamada atrai a atenção do leitor para as páginas internas. A chamada de primeira página não pode prometer o que a matéria não tem a oferecer ao leitor. Leitor decepcionado não compra jornal. A redação de uma chamada segue os princípios do lead ou da abertura de uma reportagem. Ela deve ter frases curtas, objetivas e claras. A proposta é remeter o leitor à página onde está o texto que ela apenas resume.

Chapéu – palavra colocada acima do título ou manchete, associada ao assunto. O corpo é menor, a fonte é a mesma do título. O objetivo é reforçar o tema e estimular a leitura. Ele pode ser usado em todas as páginas para dar unidade à edição.

Exemplo: Política

FHC assina outra medida provisória

Corpo – o tamanho de uma letra ou palavra. No jornalismo a escala é de 10 a 72.

Cozinha – aproveitar, reescrevendo, uma matéria ou reportagem publicada em outro jornal, revista ou captada pelo rádio ou televisão. Enxugar o texto, deixando apenas o que é importante.

Crédito – o jornal-laboratório sempre informa ao leitor o autor de seus textos e fotos.

D

Deadline – Ver fechamento – Tópico Definições.

Denúncia do erro – uma das vocações do Jornalismo é a denúncia do erro. Ou seja, informar, prevenir, oferecer condições para a compreensão do fato e ampliar o discernimento do possível. Conhecer a realidade dos problemas, juntar forças para enfrentá-los e debater soluções. Na verdade, o erro encontra-se no cotidiano, no fato jornalístico ou na sociedade. Exemplo: A corrupção na arbitragem do futebol brasileiro. O erro encontra-se na armação de resultados. A função do jornalismo é divulgar o desvio da ética na arbitragem nacional. Divulgando-o, o jornalismo cumpre o seu papel de informar a opinião pública sobre os acontecimentos que envolvem a questão. É o discernimento do possível.

Diagramador – ainda é em muitos jornais o profissional responsável pela distribuição das matérias nas páginas. É ele que calcula o espaço para cada matéria, títulos, chamada de primeira página. Na verdade, ele é que determina o desenho de cada página e o número de toques (caracteres) de cada matéria. Com a informática nas redações, o diagramador foi substituído pelo paginador. Ele tem a mesma função de comandar a distribuição das matérias, mas com uma diferença básica: o paginador não precisa conhecer as medidas tipográficas, paicas ou cíceros. O computador – com programas específicos para fazer jornal – resolve 90% dos problemas do paginador. Por exemplo: estouro de um título. Basta acionar um ou dois comandos para colocá-lo no espaço que lhe foi reservado. Não precisa mandar o editor refazê-lo.

E

Edição (1) – é a tiragem do dia, semana ou mês de um jornal.

Edição (2) – refere-se à seleção, hierarquização e preparação de matérias a serem publicadas, utilizando-se todos os recursos visuais, gráficos, informativos e de texto para torná-las atraentes. O ato de editar deve sempre primar pela imparcialidade. Ou seja, quando houver discordâncias, pontos de vista diferentes ou versões, o estudante de Jornalismo não pode privar o leitor destas informações de interesse público. Editar, além de distribuir as matérias harmonicamente nas páginas, é publicar o fato de interesse público e não pessoal, de grupos econômicos e políticos. Até o final dos anos 80, o texto prevalecia na impressa brasileira. A informatização da produção, a crise do papel, o corre-corre diário do homem moderno e a preguiça para leitura fizeram com que o visual, nos anos 90, supere o texto.

Editoria – é uma seção de trabalho ou equipes que formam a Redação. Cada editoria é responsável pela cobertura de determinado campo temático. A instalação das editorias varia conforme as necessidades de publicação.

Editorial – gênero jornalístico que expressa a opinião oficial do jornal-laboratório diante dos fatos de maior repercussão. Ele deve seguir os princípios básicos deste manual. No jornal-laboratório é publicado na página 2. São poucos os jornais-laboratórios que reservam espaço para o editorial. Não é assinado.

Enviado especial – é o jornalista encarregado de cobrir acontecimentos fora da cidade, estado ou país.

Expediente – espaço para anunciar o nome do jornal, os nomes dos diretores, jornalista responsável, conselho editorial, endereço para correspondência, gráfica onde foi impresso o jornal.

F

Fato jornalístico – é a base do jornalismo. Ele segue os princípios éticos e interesse público.

Fechamento – é a conclusão do trabalho de edição. O ato de fechar uma edição é tão importante quanto o processo de elaboração de uma pauta ou de um texto. Todos os envolvidos nesse trabalho devem se preocupar com a qualidade e pontualidade. O atraso no fechamento, além de prejudicar a impressão e a difusão do jornal-laboratório, é um desrespeito ao companheiro que correu atrás da notícia, do entrevistado ou de uma reportagem. Fazer jornal é familiarizar-se com o trabalho contínuo, em que todos os envolvidos na produção e difusão do jornal-laboratório têm um objetivo comum: atender o exigente leitor com pontualidade e fidelidade.

Foca – é o jornalista em início de carreira. Aquele que escorrega de vez em quando, que se deslumbra com as primeiras pautas, que deixa de cruzar informações, ingênuo ainda para as manhas e macetes da profissão.

Fonte – pessoa que fornece informações, espontaneamente ou quando solicitada, ao jornalista. Descobrir fonte exige habilidade. Cultivá-la requer reponsabilidade, ética, imparcialidade e não misturar profissionalismo com interesses pessoais.

Fotojornalismo – é o trabalho de registrar um instante mágico da natureza, do espaço urbano, de transformar o obscuro em uma imagem que realça o contexto histórico, político ou social. Fotojornalismo é a composição do real imediato: a ação, o calor da hora, as emoções brutas, o tiro, a miséria, o instante em que tudo se resolve, a violência, a guerra urbana. Fotojornalismo mostra as diferenças, ou melhor, as variações das formas de expressão, a pluralidade de imagens. Na fotografia a transparência prima pela qualidade da imagem. Ou seja, o fotojornalismo é o olhar múltiplo sobre o universo. Exemplo de profissionais que transformam o real em uma imagem carregada de gesto, expressão, feição, movimentos e que tudo se torna visível ao olhar desatento: Sebastião Salgado e Cartier Bresson.

Fotolegenda – foto acompanhada de texto curto em itálico e título em até três palavras.

Free-lancer – jornalista que trabalha por conta própria. Normalmente recebe por matéria.

Furo – matéria de grande interesse, divulgada com exclusividade por um jornal. Nos anos 90, a palavra furo foi substituida pela exclusiva.

G

Gancho – é o fato gerador da notícia, ou uma informação pinçada de um texto, que pode gerar uma reportagem. O jornalista atento aos fatos e sensível a uma boa leitura é capaz de pincelar boas informações para produzir uma reportagem. O gancho pode ser extraído de uma nota em coluna social, classificados, concorrência pública, observação no cotidiano, nas ruas etc.

Gilete-press – é a prática de recortar jornais e revistas para fazer pauta ou cozinhar texto. No interior do Brasil, a prática do gilete-press incorporou-se ao cotidiano das redações. Em alguns casos os textos recortados são publicados na íntegra e a origem do texto não é citada. Os empresários se utilizam desse recurso antiético e antiprofissional para não contratar jornalista. O gilete-press custa para o empresário apenas o valor do exemplar a ser recortado. É muito usado em jornalismo de rádio.

I

Informação-relatório – é aquela que não oferece ou apresenta novidade ao leitor. Não noticia o novo, o contexto do fato, situações, personagens, objetos descritos, que não organiza a narrativa que evidencia a mensagem jornalística.

Imprensa marrom – jornalismo sensacionalista.

Intertítulo – destaque em negrito utilizado em meio ao texto para ressaltar assunto que será tratado a seguir. Sua função é facilitar a leitura, deixar a matéria mais arejada, separando assuntos, repousando psicologicamente o leitor com pequenas pausas. Ele completa a matéria.

J

Jabaculê ou jabá – são presentes oferecidos aos jornalistas, como instrumento de relações públicas. No interior do Brasil as redações, principalmente em período eleitorial e final de ano, são inundadas por garrafas de bebidas, agendas e convites para almoço, jantar e viagens turísticas. Evite receber esses presentes para não se comprometer.

Janela – frase retirada da matéria para ressaltar, em meio ao texto, uma informação na matéria. O texto, em negrito, é editado entre fios.

Jornalismo de precisão – termo usado por estudiosos alemães para definir o jornalismo exato, neutro, objetivo, sem desvios e distorções que possam alterar a realidade social ou o caráter do fato jornalístico. Para não descaracterizar a investigação jornalística, quando necessário para enriquecimento da reportagem, o estudante deve usar métodos e técnicas científicas de pesquisa social para proporcionar ao público-leitor maior entendimento do assunto publicado. O chamado jornalismo de precisão utiliza-se da pesquisa, da análise de conteúdo, da observação do jornalista e das experiências de campo na coleta e levantamentos de informações sobre o fato jornalístico. Esses são os processos de observação e investigação, hoje distantes das redações. “O jornalismo de precisão requer treinamento intensivo nas técnicas da ciência social empírica, que inclui o levantamento de informações, sua análise e interpretação. A idéia dos adeptos desse conceito de jornalismo é que, com isso, a reportagem objetiva já não consistiria em fatos isolados, mas na inserção das informações num contexto teórico que revelaria os antecedentes e as possíveis causas dos acontecimentos.” (Michael Kunczik. Manual de comunicação: Conceitos de jornalismo: norte e sul. São Paulo, ComArte, Edusp, 1997).

L

Lauda – folha de papel padronizada na qual o estudante de Jornalismo redige textos que podem ser publicados pelo jornal-laboratório. Tem 20 linhas de 70 toques cada. Total: 1400 toques. Nem todos os jornais têm o mesmo padrão de lauda. O número de toques é variado.

Legenda – texto que ilustra a fotografia ou identifica lugares, monumentos históricos, pessoas etc. Toda foto deve ter legenda.

Lei de Imprensa – mesmo com a Constituição de 1988 que diz em seu Artigo 5º, Inciso 9, que é “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”, ainda está em vigor a Lei de Imprensa, número 5250 de 9 de fevereiro de 1967, criada durante o regime militar. Essa lei trata da forma de registro dos órgãos de comunicação, dos crimes praticados por intermédio da Imprensa, do direito de resposta e da responsabilidade civil e criminal pelos abusos cometidos.

Linha fina – refere-se a um texto curto sem ponto final que, abaixo do título, adiante um ou mais tópicos da matéria para estimular a leitura. Deve evitar repetir palavras usadas no título. Ele deve estar amarrado ao título para proporcionar uma leitura harmoniosa. Complementar o titulo.

Logotipo – palavras ou sigla que representam a marca comercial do jornal. Cada jornal tem a sua grafia.

M

Mancha da página – é a área útil do jornal-laboratório. Ou seja, é o espaço definido para imprimir as matérias, fio-data, logotipo do jornal-laboratório.

Manchete – é o assunto mais importante da edição. Deve ser o resumo do lead. Ela, mais do que nunca, é a fonte de leitura do jornal. Sem uma boa manchete, dificilmente o jornal atrai o interesse do leitor. É o principal elemento de informação do jornalismo. A manchete serve para centrar a atenção do leitor para o conteúdo do texto.

Matéria – é o trabalho jornalístico de fazer uma reportagem ou entrevista que vai além da simples nota. É o desdobramento do assunto ou fato jornalístico. É a palavra mais ouvida numa Redação.

Matéria fria – quando o tema abordado não é factual. Exemplo: uma entrevista com Pelé sobre sua vida, uma reportagem investigativa que retrata o trabalho forçado em fazendas na região Amazônica. Não tem data para publicação.

Matéria quente – é factual, notícia do cotidiano. Exemplos: ACM é contra a indicação de Serra para o Ministério da Saúde. Zagallo convoca Raí.

N

Nariz-de-cera – no jornalismo de antigamente era a abertura de uma matéria que se caracterizava pela falta de objetividade. Ela não chama a atenção do leitor para a leitura da matéria. Alguns jornais ainda o utilizam. É uma série de informações sem importância antes de chegar ao mais importante (lead) do texto.

New journalism – Trata-se de um enfoque mais imaginativo da reportagem, que permite ao jornalista imiscuir-se na narrativa sem no entanto mudar os fatos observados. A definição é do jornalista norte-americano Gay Talese.

Nota da redação – um esclarecimento, feito pela redação, referente a um determinado texto e colocado logo após o seu término. Ou a resposta a uma carta enviada à redação criticando determinada matéria. Ela também é empregada para contestar alguma informação ou afirmação de um entrevistado.

O

Off – quando a fonte (entrevistado) passa ao estudante de Jornalismo uma informação de interesse público e não pode (ou não quer) ser identificada.

Olho – refere-se a um texto curto, geralmente com linhas irregulares (alinhamento central), que adianta um ou mais tópicos da matéria para estimular a leitura. Ele deve estar amarrado ao título para dar ao leitor uma leitura harmoniosa.

P

Pasquim – palavra pejorativa para designar jornal de má qualidade, panfletário ou de curta duração.

Pé – fim da matéria. Cortar pelo pé: indica que a matéria estourou.

Perfil – é um texto sobre uma personalidade, no qual o estudante procura fazer o retrato do entrevistado. Para traçar o perfil fiel do entrevistado, o estudante precisa conhecer a vida da personalidade, observar seus gestos, modo de se vestir, cacoetes, hábitos, ouvir pessoas amigas ou não, participar do convívio familiar e cotidiano, visitá-los várias vezes, recolher fotografias antigas e recentes. Enfim, manter um estreito relacionamento com o entrevistado mas sem se envolver emocionalmente. O objetivo dessa convivência mais estreita é, simplesmente, traçar o perfil de corpo inteiro do entrevistado sem prejuízo da isenção do texto.

Pesquisa – trabalho de apoio ao texto.

Pingue-pongue – é a clássica entrevista de pergunta e resposta. Uma entrevista pingue-pongue exige muita preparação, leitura, pesquisa, elaboração de perguntas. É importante que a entrevista se centre num tema específico, com suas variantes, senão fica dispersiva e superficial. O estudante precisa ficar atento às respostas porque novas perguntas podem surgir. Outro ponto positivo para o bom andamento da entrevista é o estudante sempre confirmar números e datas com o entrevistado, chegar antes do horário marcado, não o pressionar o entrevistado com perguntas sem objetividade. Agindo assim, a probabilidade de o entrevistado ser mais receptivo às perguntas é muito maior. É fundamental que seja gravado para que as perguntas e respostas sejam publicadas completas.

Pirâmide invertida – técnica de redação segundo a qual o texto é encabeçado pelas principais informações. Ou seja, do maior ao menor interesse. Sempre deve começar pelo mais importante, que será resumido no título. Vale lembrar que o primeiro parágrafo precisa conter as respostas para as seis perguntas chaves do jornalismo: Quando? Quê? Quem? Onde? Como? Por quê? Sempre respeitando a regra: do maior ao menor interesse.

Porta-voz – é a pessoa encarregada de transmitir oficialmente informações de uma empresa, entidade ou órgão governamental.

Prêmio Esso – é o principal prêmio do jornalismo brasileiro. Sua menção num currículo soma pontos na vida profissional.

Press-release – Ver release – Tópico Definições.

R

Redação – lugar onde o estudante de Jornalismo trabalha na produção e difusão do jornal-laboratório. Ato ou maneira de regidir.

Regras – método de trabalho numa redação. Ou seja, critérios para uso de minúsculas, grafia, números, pesos, quantias etc.

Release – é o texto feito pela Assessoria de Imprensa para promover um evento, um político ou lançar produtos. Seu objetivo é dar uma versão favorável ao assunto. Na maioria dos jornais brasileiros, o release, ou por falta de matérias, ou para evitar contratar profissionais para produzir matérias, ou para atender interesses pessoais, sempre é bem-vindo. O release pode ser útil na produção de uma pauta.

Reportagem – é o aprofundamento de uma notícia. É o ato de investigar, vai até o fim do assunto. É o relato ampliado de um acontecimento. Ela difere da notícia porque deixa de ser apenas uma informação do dia-a-dia. Enquanto na notícia predomina o quem e o quê, a reportagem procura saber mais sobre o como e o porquê. E é na reportagem que a interpretação do fato encontra a sua expressão mais desenvolvida. Mas a interpretação tem o olhar do estudante que o leva a escolher um ângulo de abordagem do acontecimento e situações que observa e descreve. Então, na verdade, deixa de ser impessoal e passa a ser subjetivo o seu relato. E é nessa fronteira entre a opinião e a interpretação que intervém a necessidade da distanciacão e a preocupação da imparcialidade. Interpretar é explicar o porquê e como das situações. É um exercício constante que o estudante deve praticar para não julgar e opinar o que observou. A abertura da reportagem deve ser atrativa para chamar a atenção do leitor. Ela se concentra em situações vivas. Ao interpretar existem dois tipos de reportagem: a investigativa e narrativa.

Repórter – é a função que o estudante de Jornalismo deve cumprir na produção e difusão do jornal-laboratório. Ele redige, apura, checa e confronta as informações levantadas. Seu texto deve ser claro, objetivo e exato no relato do cotidiano, de uma entrevista ou reportagem. A ética e a responsabilidade social são pontos que o repórter nunca deve esquecer na cobertura de um acontecimento ou entrevista.

Retranca – matéria que, embora faça parte de uma mesma reportagem ou notícia, tem espaço e título próprios.

Retrato – não passa de uma fabricação de álbum de família. Tudo que contém é estático. Não há expressão. Não há liberdade nos movimentos ou no olhar. O retrato retrata um real montado e um personagem social, não universal. O retrato é um clic que congela a construção de uma imagem fugaz ou um instante de fama. Retrato é sinônimo de clichês. De transformar rostos em cores.

Revisão – arte de revisar provas de composição, indicando as correções que devem ser feitas.

S

Segundo clichê – parte da tiragem do jornal cujo conteúdo é alterado, ou corrigido, após o fechamento e circulação de uma edição. Exemplo: uma edição de segunda-feira foi fechada e distribuída depois das 23h30. Às 23h50, chega à Redação a notícia da morte do presidente dos Estados Unidos. O caderno Internacional pode ser alterado e a primeira página ganhar nova manchete.

Selo – recurso gráfico (pode ser uma foto ou desenho, gráfico) para marcar uma reportagem.

Setorista – jornalista encarregado de cobrir o dia-a-dia de uma fonte permanente de notícia. Por exemplo: Palácio do Governo de São Paulo. É importante não se envolver pessoalmente com o setor em detrimento da ética e imparcialidade no relato dos fatos.

Standard – é o jornal de tamanho-padrão, ou seja, de 54cm x 33,5cm.

Sublead – segundo parágrafo da notícia.

Submanchete – frase ou período sem ponto que aparece na página com menos destaque do que a manchete. Serve para dar outras informações. O corpo gráfico é menor que o da manchete mas deve ocupar o mesmo espaço.

Exemplo:

Ronaldinho é contratado pela Inter

Barcelona recebe US$35 milhões pela venda

Subtítulo – frase ou período sem ponto que aparece no texto para mudança de assunto ou destacar um novo assunto. Serve para dar outras informações.

Suíte – é a continuação de uma notícia publicada pelo jornal. A suíte precisa sempre apresentar informações e angulações novas.

T

Texto-legenda – é a legenda* mais ampla mas sem parágrafo. Como a legenda, pode ser uma chamada para o texto correspondente na página interna. De qualquer maneira, precisa conter as principais informações sobre o assunto.

Titular – é a arte de dar títulos às matérias. É preciso ler atentamente o texto para encontrar palavras-chave que resumam o assunto para atrair o leitor.

V

Versão jornalística – a notícia (versão jornalística do fato ou acontecimento jornalístico) se expõe à verificação pública. É algo verificável pelo leitor. Portanto, o estudante não pode admitir que a versão única, aquele comentário de uma fonte envolvida no fato, seja o ponto final do texto. A versão jornalística é superior ao boato ou a de apenas uma fonte de informação. O leitor não gosta de ler apenas uma versão. Quanto maior o entrechoque de versões contraditórias, maior reside o verificável. Ou seja, quanto mais versões, tanto mais verdades terá o texto. A leitura do leitor reside em observar se o estudante colocou cada versão lado a lado.

5.5 – Siglas

A seleção das siglas foi baseada na amplitude que cada sigla representa ou representava. Ou seja, nem toda sigla é de interesse nacional. Uma sigla de um departamento do Estado de Rondônia não tem representatividade no Estado do Rio Grande do Norte. Então a escolha das siglas partiu do interesse comum. A inclusão de siglas de empresas ou países que já não existem mais foi com a intenção de apenas registrar, embora algumas delas ainda são usadas pela mídia, principalmente quando o assunto é geopolítico.

A

ABA – Associação Brasileira de Aeromodelismo.

ABC – American Broadcasting Company. Rede norte-americana de rádio e televisão.

Abav – Associação Brasileira das Agências de Viagens.

Abecafé – Associação Brasileira de Exportadores de Café.

ABDC – Associação Brasileira de Desportos para Cegos.

Abecom – Associação Brasileira de Escolas de Comunicação.

ABI – Associação Brasileira de Imprensa.

Abia – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação.

Abicomp – Associação Brasileira da Indústria de Computadores e Periféricos.

Abifarma – Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica.

Abipeças – Associação Brasileira da Indústria de Autopeças.

ABB – Associação Brasileira de Balonismo.

ABDIB – Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base.

ABL – Academia Brasileira de Letras.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

Abradecar – Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas.

Abrasa – Associação Brasileira de Surf Amador.

Abrave – Associação Brasileira de Distribuidores de Veículos.

ACSP – Associação Comercial de São Paulo.

AFP – Agence France Presse. Agência de notícias da França.

Aids – sigla inglesa para síndrome de imunodefiência adquirida. Em inglês é Acquired Imune Deficiency Syndrome.

Alaic – Associón Latino-americana de Investigaciones de la Comunicación.

Alca – Área de Livre Comércio entre as Américas.

AMB – Associação Médica Brasileira.

Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica.

Ande – Associação Nacional de Educação.

Andes – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.

Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

ANJ – Associação Nacional de Jornais.

ANP – Algemeen Nederlands Persbureau. Agência de notícias da Holanda.

Ansa – Agenzia Nacionale Stampa Associata. Agência de notícias da Itália.

AP – Associated Press. Agência de notícias dos Estados Unidos.

APAB – Associação dos Pescadores Amadores do Brasil.

Apae – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.

Apeoesp – Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.

APN – Aguéntstvo Pecháti Nóvosti. Agência de notícias da Rússia.

ASCCI – Ação Solidária Contra o Câncer Infantil

Assovesp – Associação dos Revendedores de Veículos de São Paulo.

AT&T – American Telephone and Telegraph. Companhia norte-americana de telefones e telégrafos.

B

Badesp – Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo.

Banespa – Banco do Estado de São Paulo.

Banorte – Banco Nacional do Norte.

BB – Banco do Brasil.

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Por seu uso generalizado, pode-se aportuguesar.

Bird – Banco Mundial, organismo das Nações Unidas, com sede em Washington. Também conhecido por Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. Por seu uso generalizado, pode-se aportuguesar.

BM&F – Bolsa de Mercadorias & Futuros.

BMSP – Banco Mercantil de São Paulo.

BMW – Bayerische Motorenwerke. Fábrica alemã de automóveis.

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social.

Bovespa – Bolsa de Valores do Estado de São Paulo.

Bradesco – Banco Brasileiro de Descontos.

Brasindoor – Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle da Qualidade de Ar de Interiores.

C

Cacex – Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil.

CAN – Correio Aéreo Nacional.

Cadin – Cadastro de Inadimplentes.

Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

CBA – Confederação Brasileira de Automobilismo.

CBAT – Confederação Brasileira de Atletismo.

CBB – Confederação Brasileira de Basquete.

CBCa – Confederação Brasileira de Canoagem.

CBDA – Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.

CBF – Confederação Brasileira de Futebol.

CBJ – Confederação Brasileira de Judô.

CBM – Confederação Brasileira de Motociclismo.

CBPDS – Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos.

CBS – Columbia Broadcasting System. Rede norte-americana de rádio e televisão.

CBT – Confederação Brasileira de Tênis.

CBV – Confederação Brasileira de Vôlei.

CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo.

Ceagesp – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo.

CEF – Caixa Econômica Federal.

CEP – Código de Endereçamento Postal.

Cepam – Centro de Estudos e Pesquisas da Administração Municipal.

Cepeusp – Centro de Prática Esportiva da Usp.

Cesp – Companhia Energética de São Paulo.

CET – Companhia de Engenharia de Tráfego.

Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental.

CGC – Cadastro Geral do Contribuinte.

CGT – Central Geral dos Trabalhadores.

CGT – Confederação Geral dos Trabalhadores.

CIA – Central Intelligence Agency. Organismo norte-americano de espionagem e contra-espionagem.

Ciee – Centro de Integração Empresa-Escola.

Ciesp – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

Ciespal – Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para a América Latina.

Cimi – Conselho Indigenista Missionário.

CMB – Conselho Mundial de Box.

CMN – Conselho Monetário Nacional.

CNA – Confederação Monetário Nacional.

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.

CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear.

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica.

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

CNT – Central Nacional de Televisão.

COB – Comitê Olímpico Brasileiro.

Cobrecos – Congresso Brasileiro de Estudantes de Comunicação.

Cofins – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.

COI – Comite Olímpico Internacional. Em inglês a sigla é IOC: International Olympic Committee. Por seu uso generalizado, pode-se aportuguesar.

Comgás – Companhia de Gás de São Paulo.

Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo.

Confaz – Conselho de Política Fazendária.

Confen – Conselho Federal de Entorpecentes.

Conseg – Conselho Comunitário de Segurança.

Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.

Contran – Conselho Nacional de Trânsito.

Copant – Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas.

CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira.

Cosipa – Companhia Siderúrgica Paulista.

CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz.

CSLL – Contribuição sobre o Lucro Líquido das Empresas.

CUT – Central Única dos Trabalhadores.

D

DAC – Departamento de Aviação Civil.

Decon – Departamento Estadual de Polícia do Consumidor.

Deic – Departamento Estadual de Investigações Criminais.

Dentel – Departamento Nacional de Telecomunicações.

DER – Departamento de Estradas de Rodagem.

Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A.

Detran – Departamento Estadual de Trânsito.

Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

DNC – Departamento Nacional dos Combustíveis.

DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.

DPA – Deutsche Presse Agentur. Agência de notícias originária da antiga Alemanha Ocidental.

DPDC – Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor.

DSV – Departamento de Operações do Sistema Viário.

E

EFE – Agência espanhola de notícias.

Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações.

Embratur – Empresa Brasileira de Turismo.

ESG – Escola Superior de Guerra.

F

FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Food and Agriculture Organization.

FBI – Federal Bureau of Investigation. Agência norte-americana de investigação.

Febem – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor.

Felafacs – Federação Latino-Americana de Faculdades de Comunicação Social.

Fenaban – Federação Nacional dos Bancos.

Fenabrave – Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores.

Fenacol – Federação Nacional dos Corretores de Seguro.

Fenatec – Feira Nacional de Tecelagem.

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.

FGV – Fundação Getúlio Vargas.

Fiat – Fabbrica Italiana Automobili Torino. Empresa italiana de automóveis.

Fiba – Federação Internacional de Basquete Amador. Por seu uso generalizado, pode-se aportuguesar.

Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Fifa – Federação Internacional de Futebol Associado. Por seu uso generalizado, pode-se aportuguesar.

Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.

Fisa – Federação Internacional de Automobilismo Esportivo. Fédération Internacionale du Sport Automobile.

FMI – Fundo Monetário Internacional. Em inglês =a sigla é IMF: International Monetary Fund. Por seu uso generalizado, pode-se aportuguesar.

FPB – Federação Paulista de Basquete.

FPF – Federação Paulista de Futebol.

FPV – Federação Paulista de Vôlei.

G

GLS – Associação brasileira dos Gays, Lésbicas e Simpatizantes.

GM – General Motors Corporation. Companhia norte-americana de automóveis.

Grendacc – Grupo em Defesa da Criança com Câncer.

H

HQ – História em Quadrinhos.

I

Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis.

IBF – Internacional Badminton Federation.

IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IBM – International Business Machines Corporation. Multinacional norte-americana.

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.

Ibope – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística.

IE – Imposto sobre Exportações.

IGPM – Índice Geral de Preços do Mercado.

II – Imposto sobre Importações

IML – Instituto Médico Legal.

Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social.

INST – Instituto Nacional de Segurança de Trânsito.

Inca – Instituto Nacional do Câncer.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

IOF – Imposto sobre Operações Financeiras.

IPC – Índice de Preços ao Consumidor.

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados.

IR – Imposto de Renda.

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

IRA – Irish Republican Army. Exército Republicano Irlandês.

ISS – Imposto sobre Serviços.

ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica.

ITV – Independent Television. Rede britânica de televisão.

IVA – Imposto sobre Valor Agregado.

IVV – Imposto sobre Venda a Varejo.

J

JAL – Japan Air Lines. Viação aérea japonesa.

Juca – Jogos Universitários de Comunicação e Arte.

L

Lamara – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual.

Labjor – Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade de Campinas.

M

MAC – Museu de Arte Contemporânea.

MAM – Museu de Arte Moderna.

Masp – Museu de Arte de São Paulo.

MG – Morris Garages. Fábrica britânica de automóveis.

Mercosul – Mercado do Cone Sul.

MIS – Museu da Imagem e do Som.

N

Nasa – National Aeronautics and Space Administration. Organismo norte-americano que pesquisa o espaço.

NATC – North Atlantic Treaty Council. Conselho do Tratado do Atlântico Norte.

NBA – National Basketball Association. Entidade norte-americana que administra e organiza o basquete.

NBC – National Broadcasting Company. Rede norte-americana de rádio e televisão.

NYT – The New York Times. Jornal norte-americano.

O

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil.

OEA – Organização dos Estados Americanos.

OIT – Organização Internacional do Trabalho. Organismo das Nações Unidas.

OLP – Organização para a Libertação da Palestina.

OMS – Organização Mundial do Comércio.

OMS – Organização Mundial da Saúde. Organismo especializado das Nações Unidas.

ONG – Organização não-governamental.

ONU – Organização das Nações Unidas.

Opep – Organização de Países Exportadores de Petróleo.

P

PC do B – Partido Comunista do Brasil.

PCB – Partido Comunista Brasileiro.

PDC – Partido Democrata Cristão.

PDT – Partido Democrático Trabalhista.

PF – Polícia Federal.

PFL – Partido da Frente Liberal.

PIB – Produto Interno Bruto.

PL – Partido Liberal.

PM – Polícia Militar.

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

PMN – Partido da Mobilização Nacional.

PNB – Produto Nacional Bruto.

PPB – Partido Progressista Brasileiro.

PRN – Partido da Reconstrução Nacional.

Procon – Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor.

Prona – Partido de Reedificação da Ordem Nacional.

PRS – Partido das Reformas Sociais.

PSC – Partido Social Cristão.

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira.

PST – Partido Social Trabalhista.

PT – Partido dos Trabalhadores.

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro.

PTR – Partido Trabalhista Renovador.

PUC – Pontifícia Universidade Católica.

R

Radiobrás – Empresa Brasileira de Comunicação.

RAI – Radio Audizioni Italia. Rede de rádio e televisão da Itália.

Reuters – Agência inglesa de notícias.

S

S/A – Sociedade Anônima.

SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.

SBSH – Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.

SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.

SBT – Sistema Brasileiro de Televisão.

Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas.

Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.

Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

Sida – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Sigla utilizada em países latinos.

Simca – Société Industrielle de Mécanique et de Carrosserie Automobile. Fábrica francesa de automóveis.

SIP – Sociedade Interamericana de Prensa

SPC – Serviço de Proteção ao Crédito.

STF – Supremo Tribunal Federal.

STJ – Supremo Tribunal de Justiça.

Sucen – Superintendência de Controle de Endemias.

T

TAP – Transportes Aéreos Portugueses.

TCE – Tribunal de Contas do Estado.

TCU – Tribunal de Contas da União.

Telebrás – Telecomunicações Brasileiras.

Telesp – Telecomunicações de São Paulo.

TFR – Tribunal Federal de Recursos.

TRF – Tribunal Regional Federal.

TRT – Tribunal Regional do Trabalho.

TST – Tribunal Superior do Trabalho.

TVE – Televisión Española.

TWA – Trans World Airlines. Companhia norte-americana de viação aérea.

U

Ubes – União Brasileira de Estudantes Secundaristas.

UDR – União Democrática Ruralista.

UEB – União dos Escoteiros do Brasil.

UEE – União Estadual dos Estudantes/SP.

UEFA – Union of European Football Associations. Entidade que cuida do futebol europeu.

UNE – União Nacional dos Estudantes.

Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Organismo das Nações Unidas.

Unicef – United Nations International Children’s Emergency Fund. Fundo Internacional das Nações Unidas para Ajuda à Infância.

Unamaz – Associação das Universidades Amazônicas.

Upes – União Paulista de Estudantes Secundaristas.

UPI – United Press International. Agência de notícias norte-americana.

URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Sigla da antiga União Soviética.

USP – Universidade de São Paulo.

V

Varig – Viação Aérea Rio Grandense.

Vasp – Viação Aérea São Paulo.

Z

ZAP – Zachodnia Agencja Prasowa. Agência de notícias da Polônia.

5.6 – Presidentes da República

O Brasil teve vários regimes de governo e presidentes das mais variadas tendências políticas. Desde a implantação da República em 15 de novembro de 1889, o Brasil passou por várias crises políticas que derrubaram presidentes, tiveram governos “relâmpagos” e outros se suicidaram ou morreram no poder. Mas o curioso é que Deodoro da Fonseca, militar fiel ao Imperador D. Pedro II, foi chamado para liderar o movimento armado cujo objetivo era por fim na Monarquia. E o povo, como acontece até hoje, acreditou, mais uma vez, numa derrubada de Governo. A República consolidou-se aos tropeços e em meio a golpes e eleições fraudulentas. Só governos provisórios foram dois. O mais longo da história da República foi o de Getúlio Vargas, 44 meses. Vargas, presidente provisório, presidente constitucionalista, presidente do Estado Novo e presidente eleito pelo voto direto, ficou indo e vindo ao palácio presidencial durante 18 anos. No Estado Novo, ele governou por 105 meses. O Brasil teve ainda duas juntas, uma militar e outra governativa que ficou dez anos no poder. A República teve 36 presidentes, três governaram mais de uma vez ou em regimes diferentes (Deodoro da Fonseca, Vargas e Jango). Mas nem todos foram eleitos pelo voto popular. A mais curta Presidência foi de Carlos Luz que governou de 09/11/1955 a 11/11/1955. A República teve também presidentes eleitos indiretamente, pelo Colégio Eleitoral, – criado pelo Governo Militar. O último, Tancredo Neves morreu antes de subir a rampa palaciana. Vale registrar que João Belquior Marques Goulart foi vice de dois presidentes eleitos por partidos diferentes. São fatos que ilustram a história republicana e deixam o brasileiro à margem do processo político.

Deodoro da Fonseca (Governo Provisório) – de 15/11/1889 a 26/02/1891. Manuel Deodoro da Fonseca (Alagoas, 05/08/1827 – Rio Janeiro/RJ, 23/08/1892). Militar de carreira, assumiu a liderança da tropa que proclamou a República e assumindo a chefia do Governo Provisório. Vice-presidente, Floriano Peixoto.

Deodoro da Fonseca (Governo Republicano) – de 26/02/1891 a 23/11/1891.

Floriano Peixoto – de 23/11/1891 a 15/11/1894. Floriano Vieira Peixoto (Vila de Ipioca/AL, 30/04/1839 – Barra Mansa/RJ, 29/06/1895). Militar, liderou oposição a Deodoro da Fonseca na dissolução do Congresso, ocupando a Presidência após a renúncia de seu titular.

Prudente de Morais – de 15/11/1894 a 15/11/1898. Prudente José de Morais e Barros (Itu/SP, 04/10/1841 – Piracicaba/SP, 03/12/1902). Advogado, tornou-se o primeiro presidente eleito pelo voto popular. Vice-presidente, Manuel Vitorino Pereira (Salvador/BA, 30/01/1853 – Rio de Janeiro/RJ, 09/11/1902).

Campos Sales – de 15/11/1898 a 15/02/1902. Manuel Ferraz de Campos Sales (Campinas/SP,13/02/1841 – Santos/SP, 28/06/1913). Bacharel em Direito, foi ministro da Justiça do Governo Provisório. Vice-presidente, Francisco de Assis Rosa e Silva (Recife/PE, 04/10/1856 – Rio de Janeiro/RJ, 01ª/07/1929.

Rodrigues Alves – de 15/11/1902 a 15/11/1906. Francisco de Paula Rodrigues Alves (Guaratinguetá/SP, 07/07/1848 – Rio de Janeiro/RJ, 16/01/1919. Advogado, eleito, em 15/11/1918, para um novo mandato presidencial, morreu antes de tomar posse. Vice-presidente, Francisco Silviano de Almeida Brandão (Pouso Alegre/MG, 08/09/1848 – Belo Horizonte/MG, 25/09/1902). Morreu antes de ser empossado. Para seu lugar foi eleito Afonso Pena.

Afonso Pena – de 15/11/1906 a 14/06/1909. Afonso Augusto Moreira Pena (Santa Bárbara/MG, 30/11/1847 – Rio de Janeiro/RJ, 14/06/1909). Bacharel em Direito, morreu antes do término de seu mandato. Vice-presidente, Nilo Peçanha.

Nilo Peçanha – de 14/06/1909 a 15/11/1910. Nilo Procópio Peçanha (Campos/RJ, 02/10/1867 – Rio de Janeiro/RJ, 31/03/1924). Advogado, foi candidato derrotado à Presidência da República em 1921.

Hermes da Fonseca – de 15/11/1910 a 15/11/1914. Hermes Rodrigues da Fonseca (São Gabriel/RS, 12/05/1855 – Petrópolis/RJ, 09/09/1923. Sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, foi também militar. Vice-presidente, Venceslau Brás.

Venceslau Brás – de 15/11/1914 a 15/11/1918. Venceslau Brás Pereira Gomes (Brasópolis/MG, 26/02/1868 – Itajubá/MG, 15/05/1966). Foi promotor público. Vice-presidente, Urbano Santos da Costa Araújo (Guimarães/MA, 03/02/1859 – Rio de Janeiro/RJ, 07/05/1922).

Delfim Moreira – de 15/11/1918 a 28/07/1919. Delfim Moreira da Costa Ribeiro (Cristina/MG, 07/11/1868 — Santa Rita do Sapucaí/MG, 01º/07/1920). Bacharel em Direito, elegeu-se vice-presidente na chapa de Rodrigues Alves. Com a morte do presidente eleito, assumiu até a eleição de Epitácio Pessoa.

Epitácio Pessoa – de 28/07/1919 a 15/11/1922. Epitácio da Silva Pessoa (Umbuzeiro/PB, 23/05/1865 – Petrópolis/RJ, 02/02/1942). Formado em Direito, elegeu-se presidente quando representava o Brasil na Conferência de Paz de Versalhes, em 1919. Vice-presidente, Francisco Álvaro Bueno de Paiva (Caldas/MG, 17/09/1861 – Rio de Janeiro/RJ, 04/08/1928).

Artur Bernardes – de 15/11/1922 a 15/11/1926. Artur da Silva Bernardes (Viçosa/RJ, 98/08/1875 – Rio de Janeiro/RJ, 23/03/1955). Advogado, participou da campanha pela criação da Petrobrás. Vice-presidente, Epitácio de Albuquerque Coimbra (Barreira/PE, 1872 – Recife/PE, 09/11/1937.

Washington Luís – de 15/11/1926 a 24/10/1930. Washington Luís Pereira de Souza. (Macaé/RJ, 26/10/1869 – São Paulo/SP, 04/08/1957). Bacharel em Direito. Com a Revolução de 1930, renunciou e foi morar na Europa, só retornando em 1947. Vice-presidente, Fernando de Melo Viana (Sabará/MG, 15/03/1878 – Rio de Janeiro/RJ, 10/02/1954).

Junta Governativa (generais Mena Barreto e Tasso Fragoso) – de 24/10/1930 a 03/11/1930. Augusto Tasso Fragoso (São Luís/MA, 28/08/1859 – Rio de Janeiro/RJ, 20/09/1945). João de Deus Mena Barreto (Porto Alegre/RS, 1874 – Rio de Janeiro/RJ, 25/03/1993).

Getúlio Vargas (Governo Provisório) – de 03/11/1930 a 20/07/1934. Getúlio Dornelles Vargas (São Borja/RS, 19/04/1882 — Rio de Janeiro/RJ, 24/08/1954). Abandonou a carreira militar para concluir o curso de Direito. Assumiu a Presidência no lugar de Washington Luís. Não teve vice-presidente.

Getúlio Vargas (Período Constitucional) – de 20/07/1934 a 10/11/1937.

Getúlio Vargas (Estado Novo) – de 10/11/1937 a 29/10/1945. Na sua terceira fase de governo, Getúlio Vargas foi deposto.

José Linhares – de 29/10/1945 a 31/01/1946. José Linhares (Baturite/CE, 28/01/1886 – Caxambu/MG, 26/10/1957). Advogado, ficou na Presidência da República até a eleição de Gaspar Dutra.

Eurico Gaspar Dutra – de 31/01/1946 a 31/01/1951. Eurico Gaspar Dutra (Cuiabá/MT, 18/05/1889 – Rio de Janeiro/RJ, 10/06/1974). Militar, foi eleito pelo Partido Social Democrático (PSD). Vice-presidente, Nereu Ramos (Lages/SC, 03/09/1888 — Curitiba/PR, 16/06/1958).

Getúlio Vargas – de 31/01/1951 a 24/08/1954. Eleito pelo voto popular, suicidou-se em 24/08/1954. Foi o fim da era Vargas que começou no final da década de 20.

João Café Filho – de 24/08/1954 a 09/11/1955. João Café Filho (Nata/RN, 03/02/1899 – Rio de Janeiro/RJ, 20/02/1970). Advogado e jornalista, foi vice de Vargas, mas não terminou seu mandato.

Carlos Luz – de 09/11/1955 a 11/11/1955. Carlos Coimbra da Luz (Três Corações/MG, 04/08/1894 – Rio de Janeiro/RJ, 09/02/1961. Promotor Público, assumiu interinamente a Presidência por ocasião da doenca de Café Filho.

Nereu Ramos – de 11/11/1955 a 31/01/1956. (Lages/SC, 03/09/1888 – Curitiba/PR, 16/06/1958). Advogado, assumiu a Presidência com a deposição de Carlos Luz.

Juscelino Kubitscheck – de 31/01/1956 a 31/01/1961. Juscelino Kubitschek (Diamantina/MG, 12/09/1902 – Resende/RJ, 22/08/1976). Foi médico da Polícia Militar de Minas Gerais. Durante seu governo construiu cinco usinas hidrelétricas e a abertura de três mil quilômetros de rodovias. Foi cassado em 1964. Morreu em um acidente de carro. Vice-presidente, João Goulart.

Jânio Quadros – 31/01/1961 a 25/08/1961. Jânio da Silva Quadros (Campo Grande/MS, 25/01/1917 – São Paulo/SP, 1992). Advogado e professor, renunciou sete meses depois de assumir a Presidência. Em 1964, teve seus direitos políticos suspensos por dez anos.

Ranieri Mazzilli – de 25/08/1961 a 08/09/1961. Pascoal Ranieri Mazzilli (Caconde/SP, 27/04/1910 – São Paulo/SP, 21/04/1975). Advogado. Ocupou a Presidência várias vezes: Juscelino (viagem), Jânio Quadros (renúncia) e João Goulart (viagens aos EUA e Vaticano, e deposição).

João Goulart (Jango) (parlamentarismo) – de 08/09/1961 a 24/01/1963 (Tancredo Neves foi o primeiro-ministro). João Belchior Marques Goulart (São Borja/RS, 01º/03/1918 – Mercedes/Argentina, 06/12/1976). Advogado. Foi duas vezes vice-presidente. Foi deposto pelo Golpe Militar de 1964.

João Goulart (presidencialismo) – de 24/01/1963 a 01º/04/1964.

Ranieri Mazzilli – de 02/04/1964 a 15/04/1964. Assume mais uma vez a Presidência e marca eleição indireta para 11/04/1964.

Castelo Branco (general) – de 15/04/1964 a 15/03/1967. Humberto de Alencar Castelo Branco (Maceja/CE, 29/01/1900 – Mondubim/CE, 18/07/1967). General, assume a Presidência via indireta. Dá início ao regime militar. Vice: José Maria Alkmim.

Costa e Silva (general) – 15/04/1967 a 31/08/1969. Arthur da Costa e Silva (Taquari/RS, 03/10/1902 – Rio de Janeiro/RJ, 17/12/1969). Afasta-se da Presidência por ter sofrido uma trambose, sendo substituído por uma junta militar. Morre no mesmo dia que vai ao ar a primeira edição do Jornal Nacional da TV Globo. Vice-presidente, Pedro Aleixo.

Junta Militar (almirante Augusto Rademaker, general Lyra Tavares e brigadeiro Márcio de Souza e Mello) – de 31/08/1969 a 30/10/1969. Augusto Hamann Rademaker Grüewald (Rio de Janeiro/RJ, 11/05/1905 – Rio de Janeiro/RJ, 13/09/1985); Aurélio Lyra Tavares (João Pessoa/PB, 07/11/1905) e Márcio de Souza e Melo (Florinópolis/SC, 26/05/1906).

Emílio Garrastazu Médici (general) – de 30/10/1969 a 15/03/1974. Emílio Garrastazu Médici (Bagé/RS, 04/12/1905 – Rio de Janeiro/RJ, 09/10/1985). Foi o terceiro presidente indicado e aprovado pelo Congresso. Vice-presidente, Augusto Hamann Rademaker Grünewald.

Ernesto Geisel (general) – de 15/03/1974 a 15/03/1979. Ernesto Geisel (Bento Gonçalves/RS, 03/08/1908 – Rio de Janeiro/1996). Revogou o Ato Inconstitucional nº5, mas antes, em março de 1977, fechou provisoriamente o Congresso. Vice-presidente, João Pereira dos Santos (Taquara/RS, 11/04/1905 — Rio de Janeiro/RJ, 02/04/1984).

João Figueiredo (general) – de 15/03/1979 a 15/03/1985. João Baptista Figueiredo (Rio de Janeiro/RJ, 15/01/1918). Foi no seu governo que a oposição mobilizou a população em torno de grandes objetivos democráticos, entre eles, a campanha pelas direta-já. Vice: Antônio Aureliano Chaves de Mendonça.

Tancredo Neves – 15/03/1985 (na véspera da posse ficou doente e morreu em 21/04/1985). Tancredo de Almeida Neves (São João Del Rey/MG, 04/03/1910 – São Paulo/SP, 21/04/1985). Foi o primeiro presidente civil eleito pelo Colégio Eleitoral, mas morreu antes de ser empossado.

José Sarney (vice de Tancredo Neves) – de 15/03/1985 a15/03/1990. Até a morte de Tancredo, estava provisoriamente na Presidência da República. José Ribamar Ferreira de Araújo Costa (Pinheiro/MA, 24/04/1930). É advogado, jornalista, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras. Em seu governo foi elaborada a 7ª constituição, sob o comando do deputado Ulysses Guimarães.

Fernando Collor – de 15/03/1990 a 29/12/1992. Fernando Affonso Collor de Mello (Rio de Janeiro/RJ, 12/08/1949). Foi o primeiro presidente civil eleito pelo voto popular após o regime militar. Antes de ter seus direitos políticos suspensos por oito anos, já vencidos, Collor foi afastado temporariamente da Presidência da República, em setembro de 1992.

Itamar Franco (vice de Collor) – de 29/12/1992 a 01º/01/1995. Itamar Augusto Franco Cantiero Franco (Salvador/BA, 28/07/1931). Vice de Collor assume a Presidência. O principal destaque de seu governo foi a implantação do Plano Real. Elegeu seu sucessor.

Fernando Henrique Cardoso – de 01º/01/1995 a 01º/01/1999. (Rio de Janeiro, 1931) O destaque de seu governo foi a estabilização da economia e a campanha para reeleição. Cinco meses antes da eleição presidencial perde o amigo Sérgio Motta (19/04/1998) e um forte aliado Luís Eduardo Magalhães (21/04/1998), filho do senador pefelista Antonio Carlos Magalhães.

Fernando Henrique Cardoso – de 01º/01/1999 a 01º/01/01º/2003. Logo após a vitória que garantiu o segundo e último mandato de presidente da República, fato inédito na política brasileira, o carioca FHC enfrenta a primeira e grande crise de seu governo: a desvalorização do Real, moeda criada por ele quando era ministro da Fazenda do então presidente Itamar Franco. Faz acordo com FMI e banqueiros internacionais para não desestabilizar seu governo.

5.7 – Estados, capitais e regiões

O Brasil é uma república federativa, composta por 26 estados e o Distrito Federal. Quinto maior país do mundo com uma área de 8.547.403,5 km2. Faz divisa com Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. O maior estado é o Amazonas com 1.577.820,2 km2. O menor é o Sergipe com 22.050.4 km2.

Estado Capital Região

Acre (AC) Rio Branco Norte

Alagoas (AL) Maceió Nordeste

Amapá (AP) Macapá Norte

Amazonas (AM) Manaus Norte

Bahia (BA) Salvador Nordeste

Ceará (CE) Fortaleza Nordeste

Distrito Federal (DF) Brasília Centro-Oeste

Espírito Santo (ES) Vitória Sudeste

Goiás (GO) Goiânia Centro-Oeste

Maranhão (MA) São Luís Nordeste

Mato Grosso (MT) Cuiabá Centro-Oeste

Mato Grosso do Sul(MS) Campo Grande Centro-Oeste

Minas Gerais (MG) Belo Horizonte Sudeste

Pará (PA) Belém Norte

Paraíba (PB) João Pessoa Nordeste

Paraná (PR) Curitiba Sul

Pernambuco (PE) Recife Nordeste

Rio de Janeiro (RJ) Rio de Janeiro Sudeste

Rio Grande do Norte(RN) Natal Nordeste

Rio Grande do Sul (RS) Porto Alegre Sul

Rondônia (RO) Porto Velho Norte

Roraima (RR) Boa Vista Norte

Santa Catarina (SC) Florianópolis Sul

São Paulo (SP) São Paulo Sudeste

Sergipe (SE) Aracaju Nordeste

Tocantins (TO) Palmas Norte

5.8 – Países, capitais e continentes

São nos momentos de conflitos políticos, de guerras religiosas ou combate ao terrorismo que países, raças, regiões, povos aparecem na mídia em grande estilo. A derrubada do Muro de Berlim, o fim das Repúblicas Socialistas, a divisão de países por etnias ou a independência de pequenas repúblicas reviraram o quadro geopolítico que estava estável até 1989. E foi com a intenção de auxiliar o aluno que esse tópico foi incluído no Manual.

País Capital

África

Açores Ponta Delgada

África do Sul Pretória, capital

administrativa; Cidade do Cabo, legislativa;

Bloemfontein, judiciária.

Angola Luanda

Argélia Argel

Benin Porto Novo

Botsuana Gaborone

Burkina Uagadugu

Burandi Bujumbura

Cabo Verde Praia

Camarões Iaundê

Chade Ndjamena

Comores Moroni

Congo Brassaville

Costa do Marfim Abidjã

Djibouti Djibuti

Egito Cairo

Etiópia Adis Abeba

Gabão Libreville

Gâmbia Banjul

Gana Acra

Guiné Conacri

Guinee-Bissau Bissau

Guiné Equatorial Malabo

Ilhas Canárias Las Palmas

Lesoto Maseru

Libéria Monróvia

Líbia Trípoli

Madagascar Antananarivo

Madeira Funchal

Malavi Lilongwe

Mali Bamako

Marrocos Rabat

Maurício Port Louis

Mauritânia Muakchott

Mayotte Dzaydzi

Moçambique Maputo

Namíbia Windhoek

Níger Niamey

Nigéria Lagos

Quênia Nairóbi

República Centro-Africana Bangüi

Reunião Saint-Denis

Ruanda Kigali

Santa Helena Jamestown

São Tomé e Príncipe São Tomé

Senegal Dacar

Serra Leoa Freetown

Seychelles Vitória

Socotra Tamridah

Somália Mogadíscio

Suazilândia Mbabane

Sudão Cartum

Tanzânia Dodona

Togo Lomé

Tunísia Túnis

Uganda Campala

Zaire Kinshasa

Zâmbia Lusaka

Zimbábue Harare

América Central

Anguilla The Valley

Antígua e Barbuda St. John's

Bahamas Nassau

Barbados Bridgetown

Belize Belmopán

Bermuda Hamilton

Costa Rica San José

Cuba Havana

Dominica Roseau

El Salvador San Salvador

Granada Saint George's

Guadalupe Basse-Terre

Guatemala Guatemala

Haiti Port-au-Prince

Honduras Tegucigalpa

Ilhas Cayman George Town

Ilhas Turcks e Caicos Cockburn Town

Ilhas Virgens Americanas Chalortte Amalie

Ilhas Virgens Britânicas Road Town

Jamaica Kingston

Martinica Fort-de-France

México Cidade do México

Montserrat Plymouth

Nicarágua Manágua

Panamá Panamá

Porto Rico San Juan

República Dominicana São Domingos

Santa Lúcia Castries

São Cristóvão e Névis Basseterre

São Vicente e Granadinas Kingstown

América do Norte

Canadá Ottawa

Estados Unidos da América Washington

Groenlândia Godthab

América do Sul

Antilhas Holandesas Willemstad

Argentina Buenos Aires

Aruba Oranjestad

Bolívia La Paz é a capital administrativa e sede do governo.

Sucre é a capital legal e sede do Judiciário.

Bonaire Kralendijk

Brasil Brasília

Chile Santiago

Colômbia Bogotá

Equador Quito

Guiana Georgetown

Guiana Francesa Caiena

Ilhas Falkland (Malvinas) Port Stanley

Ilhas Galápagos Puerto Baquerizo

Paraguai Assunção

Peru Lima

Suriname Paramaribo

Trinidad e Tobago Port of Spain

Uruguai Montevidéu

Venezuela Caracas

Ásia

Bangladesh Dacca

Belarus Minsk

Brunei Bandar Seri Begawan

Butão Timfu

Camboja Phnom Penh

China Pequim

Cingapura Cingapura

Coréia do Norte Piongiang

Coréia do Sul Seul

Filipinas Manila

Hong Kong Vitória

Índia Nova Délhi

Indonésia Jacarta

Japão Tóquio

Laos Vientiane

Macau Macau

Malásia Kuala Lumpur

Moldova Kichinev

Mongólia Ulan Bator

Myanma Yongon

Nepal Kathmandu

Siri Lanka Colombo

Tailândia Bancoc

Taiwan Taipé

Timor Dili

Vietnã Hanói

Europa

Albânia Tirana

Alemanha Berlim

Andorra Andorra

Áustria Viena

Bélgica Bruxelas

Bósnia-Erzegóvina Sarajeico

Bulgária Sófia

Córsega Ajaccio

Creta Iraklion

Croácia Zagreb

Dinamarca Copenhague

Eslováquia Bratislava

Eslovênia Liubliana

Espanha Madri

Faeroés Torshavn

Finlândia Helsinki

França Paris

Grécia Atenas

Guernsey St. Peter Port

Holanda Amsterdã

Hungria Budapeste

Ilha de Man Douglas

Ilhas Baleares Palma de Mallorca

Ilhas Faroë Thorshavn

Irlanda (Eire) Dublin

Islândia Reikjavik

Itália Roma

Iugoslávia Belgrado

Jersey (Ilha do Canal) St. Helier

Liechtenstein Vaduz

Luxemburgo Luxemburgo

Malta Valleta

Mônoco Mônoco-Ville

Noruega Oslo

Polônia Varsóvia

Portugal Lisboa

Reino Unido da Grã-Bretanha

e da Irlanda do Norte Londres

(Escócia, País de Gales e

Inglaterra forma a Grã-Bretanha)

República Tcheca Praga

Romênia Bucareste

San Marino San Marino

Sardenha Cagliari

Suécia Estocolmo

Suíça Berna

Vaticano Vaticano

Eurasia

Armênia Ierevan

Azerbaijão Baku

Cazaquistão Alma-Ata

Estônia Tallin

Geórgia Tbilissi

Letônia Riga

Lituânia Vilna

Quirguistão Bichkek

Rússia Moscou

Tadjiquistão Duchambe

Turcomenistão Achkhabad

Ucrânia Kiev

Uzbequistão Tachkent

Oceania

Austrália Camberra

Fuji Suva

Guam Agana

Ilha Norfolk Kingston

Ilha Pitacairn Admstown

Ilhas Christmas Fluing Fish Cove

Ilhas Cocos Rarotonga

Ilhas Marianas do Norte Garapan

Ilhas Marshall Majuro

Ilhas Salomão Honiara

Ilhas Wallis e Futuma Mata Utu

Kiribati Bairiki

Nauru Yaren

Niue Alofi

Nova Caledônia Noumea

Nova Zelândia Wellington

Papua-Nova Guiné Port Moresby

Polinésia Francesa Papeete

República de Belau Koror

Samoa Americana Pago Pago

Somoa Ocidental Ápia

Tonga Nukualofa

Tuvalu Funafuti

Vanuatu Port Vila

Oriente Médio

Afeganistão Cabul

Arábia Saudita Riad, real; Jidá, administrativa

Chipre Nicósia

Emirados Árabes Unidos Abu Dhabi

Iêmen Sanaa

Irã Teerã

Iraque Bagdá

Israel Jerusalém

Jordânia Amã

Kuait Al Kuait

Líbano Beirute

Omã Mascate

Paquistão Islamabad

Qatar Doha

Síria Damasco

Turquia Ancara

5.9 – Notas e referências bibliográficas

1 – MELO, José Marques de e SILVA, Carlos Eduardo Lins da. In: Sinal de mais: a revisão e os manuais como supervisores do texto jornalístico. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Mônica Manir Miguel. ECA/USP, 1990.

2 – RAMOS, José Nabantino. Jornalismo – dicionário enciclopédico. São Paulo, Ibrasa, 1970.

3 – RAMOS, José Nabantino. Jornalismo – dicionário enciclopédico. São Paulo, Ibrasa, 1970.

4 – MELO, José Marques de. (org.) Normas de redação de cinco jornais brasileiros. São Paulo, Com-Arte/ECA/USP, 1974.

5 – FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985.

6 – MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo, Loyola, 2000.

7 – EL PAIS. Libro de Estilo. Madrid, Ediciones Siruela, 1996.

8 – EL PAIS. Libro de Estilo. Madrid, Ediciones Siruela, 1996.

9 – A TRIBUNA. Manual da Redação. Santos, Jornal e Editora, 1990.

10 – ZERO HORA. Manual de Ética, Redação e Estilo. Porto Alegre, L&PM, 1994.

11 – MARANHÃO, Carlos. Manual de Estilo da Editora Abril: como escrever bem para nossas revistas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990.

12 – GARCIA, Luiz. O Globo: Manual de Redação e Estilo. São Paulo, Editora Globo, 1992.

13 – JORNAL DO BRASIL. Normas de redação. Rio de Janeiro, 1988.

14 – PÚBLICO. Livro de Estilo. Lisboa, Printer Portuguesa, 1998.

15 – FOLHA DE S. PAULO. Novo Manual da Redação. São Paulo, Folha da Manhã, 1992.

16 – MARTINS, Eduardo.Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo. São Paulo, 1997.

6

O olhar do professor

No momento em que escolas e alunos discutem a reforma curricular, tendo como parâmetro as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases, o questionamento da qualidade do ensino também veio à público. Se de um lado há queixas contra projetos pedagógicos dos cursos de Jornalismo, há também a cobrança por uma mão-de-obra qualificada e mais preparada para o exercício profissional. Para avaliar este quadro e projetar o curso de jornal-laboratório que mais se adeque ao conceito do fazer jornalístico, professores de dez escolas, baseados em sua experiência acadêmica, responderam questões fundamentais que contribuiram para a minha proposta.

O roteiro com 15 perguntas, enviado aos professores, levantava os seguintes aspectos: cronograma de atividades, carga horária, linha editorial do jornal-laboratório, distribuição, métodos adotados para motivar o aluno, importância do jornal-laboratório na formação do aluno, como são escolhidas as editorias, a teoria contribui no fazer jornalístico, o aluno deve contextualizar ou apenas relatar o fato etc.

Nove professores de jornal-laboratório participaram da pesquisa, quatro de escolas particulares, duas de escolas públicas (federal) e três de escolas confessionais. Onze professores não responderam.

Nome do professor: Deodoro José Moreira

Universidade ou faculdade: Unilago/Rio Preto

Nome do jornal-laboratório: Expressão Livre

Tamanho do jornal: tablóide

Tiragem: 2 mil exemplares

Periodicidade: mensal

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem? Explique.

Resposta: Sim, pois com esse instrumento o aluno tem a possibilidade de sentir como funciona a redação de um jornal verdadeiro, o que o deixará preparado para enfrentar o mercado de trabalho.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Sim.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: Como trabalhava em jornal diário, utilizei meus conhecimentos adquiridos ao longo da carreira de jornalista e os incorporei.

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar o aluno? É pouco ou ideal?

Resposta: Duas horas. É muito pouco, o ideal seriam seis horas.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Sim, inteiramente.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra? Ou seja, o ritmo de trabalho, as cobranças (comercial, patrão), o estilo, o imediatismo no redigir são diferentes do jornal-laboratório.

Resposta: Como expliquei anteriormente, a maioria não. No entanto, estou constantemente procurando aperfeiçoar o sistema para que uma motivação completa.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Sim.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: A principal delas é a motivação, fato que provoca atrasos constantes nas edições.

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Sim.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Sim. Todo o cronograma é definido antes do início das aulas. Isso é de suma importância para o andamento da produção e para que o aluno se programe em função das outras disciplinas.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Quem define são os alunos. Isso acontece no segundo ano, pois o jornal-laboratório é produzido pelo terceiro ano.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: Os alunos, supervisionados pelo professor.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Sim. Permite que o aluno saiba o porquê de sua linha de trabalho.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Deve contextualizar, pois relatar fatos ele fará no dia-a-dia de uma redação. Já o jornal-laboratório é um espaço para experimentos, necessário para uma completa formação.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Não, pois outras pessoas ou instituições devem conhecer o trabalho dos alunos.

Nome do professor: Elias Machado Gonçalves

Universidade ou escola: Faculdade de Comunicação/Universidade Federal da Bahia

Nome do jornal-laboratório: Jornal-Laboratório

Tamanho: Standard

Tiragem: 5 mil exemplares

Periodicidade: Mensal

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem? Explique.

Resposta: Indispensável. Como se pode formar um jornalista sem que tenha contato com uma das modalidades da prática profissional. Como profissional com larga experiência no mercado tenho plena certeza de que sem um bom jornal-laboratório um curso não tem condições de funcionar ou oferecer uma formação adequada aos alunos. O ambiente da redação do jornal permite a oportunidade de reflexão sobre as especifidades da prática, além de acabar com o mito de que se necessita de estágio para aprender jornalismo. Um bom jornal-laboratório pode imprimir um ritmo de trabalho e a utilização de critérios muito mais rígidos que a maioria das redações no mercado.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Sem dúvida. Se tem a pretensão de formar profissionais, a reflexão sobre a natureza da profissão, as particularidades da prática e os pré-requisitos para o seu exercício são elementos básicos. A diferença entre alguém que atua no mercado sem uma formação prévia em Jornalismo e um aluno de um curso de Jornalismo consiste em que o primeiro opera com técnicas especializadas de forma automática, sem qualquer reflexão sobre as suas funções enquanto que o segundo pode inclusive aperfeiçoar de forma constante a sua prática porque reúne condições para analisar de forma crítica os resultados de seu trabalho.

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar os alunos? É pouco ou suficiente?

Resposta: Na grade curricular tenho 8 horas semanais para a oficina de impresso mas o curso funciona em tempo integral. Como professor em dedicação exclusiva permaneço durante toda a semana – manhã e tarde – com os alunos. A redação do jornal funciona como uma redação de jornal todos os dias da semana, cabendo ao aluno adaptar a sua grade de horários. O tempo me parece mais do que suficiente para a edição de um jornal mensal em formato standard de 8 páginas.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: O método utilizado consiste na elaboração de todas as etapas do jornal – pauta, reportagem, edição, editoração eletrônica e circulação - pelos alunos, com a supervisão do professor. Parto do pressuposto que em um curso de Jornalismo se aprende fazendo, entrando em contato com as dificuldades da prática em suas diversas etapas. Em cada um dos momentos do percurso aproveito para discutir os conceitos elementares com os alunos, da pauta à edição, das particularidades dos gêneros à definição de conceitos como objetividade ou editorial.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Com certeza. O curso trabalha o referencial conceitual como instância que perpassa todas as etapas do processo de produção. O título oficina pretende justo sintetizar o espaço do jornal-laboratório como um espaço aberto para a criação, para a reflexão crítica. Para superar a disciplina o aluno tem que produzir no final do semestre um ensaio em que elabora (de livre escolha) uma reflexão sobre qualquer uma das etapas do processo de produção no jornalismo.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra?

Resposta: Na experiência que tenho como professor universitário ao longo de 11 anos tenho convicção que o aluno sempre que percebe que tem algo a aprender participa de todas as atividades propostas. No jornal-laboratório, por exemplo, em algumas oportunidades ficamos na redação até a meia noite para fechar uma edição. Quando entramos na etapa final ninguém vai para casa antes de fechar o jornal. Discordo que as cobranças são menores do que no mercado. Como jornalista profissional procuro inclusive cobrar de meus alunos muito mais do que a média das redações. Os resultados são compensadores. O índice de desistência fica abaixo de 10% e o de reprovação abaixo de 5%. O aproveitamento dos ex-alunos em redações de jornais e revistas na Bahia e em outros estados atesta a qualidade nossos profissionais. Nosso curso de Jornalismo recebeu quatro estrelas no Guia Abril e conceito Muito Bom em projeto pedagógico e corpo docente nas condições de oferta e avaliação do Mec.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Sem dúvida. Na primeira aula apresento o programa da disciplina, processo de avaliação. Faço um histórico do jornal, suas funções no processo de formação, diferenças em relação ao jornalismo praticado no mercado.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: As principais dificuldades são de ordem material. Falta ainda uma institucionalização do jornal na escola. A faculdade estava em obras. Desde que assumi funcionávamos em uma redação improvisada e sem uma devida articulação entre as disciplinas afins como fotografia, planejamento gráfico ou teorias do jornalismo. Temos a perspectiva de uma regularização do quadro. Temos a forte dependência de recursos da reitoria o que, muitas vezes, atrasa o processo de impressão e circulação jornal. A escola pretende profissionalizar o jornal, inclusive com a inserção permanente de publicidade.

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Sim. Nenhuma dúvida.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Cronograma anual impossível porque trabalho com planejamento semestral. Para cada semestre tenho um planejamento do período para cada uma das edições do jornal. Trabalho com o planejamento prévio de 4 edições por semestre, com um período de 30 dias para cada uma, dividindo as etapas neste intervalo de tempo. O planejamento permite um domínio do tempo de produção e uma iniciação dos alunos no clima de fechamento de um jornal real. Os prazos são rígidos e, caso descumpridos, aquele número sai de produção e se começa o próximo. E um condicionante fundamental para adequar o aluno ao ritmo real de trabalho.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: O jornal tem como público alvo a comunidade da Universidade Federal da Bahia – 20 mil pessoas – e as escolas de comunicação de Salvador e do país. A publicação trata da Ufba como objeto. As editorias são fixas. Editorial, Extensão, Campus, Reportagem e Entrevista. As editorias são escolhidas pelo Conselho Editorial do jornal.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: O Conselho editorial traça as linhas gerais. A aplicação cabe aos alunos em conjunto com o professor da disciplina. O jornal pretende fazer jornalismo. Desde que tenha em conta os critérios técnicos toda matéria entra. Temos a comunidade da Ufba como objeto porque permite inclusive tensionar os diversos setores da universidade e a própria Reitoria, demonstrando para o estudante as relações de poder dentro da instituição. O jornal tem total liberdade editorial. A maioria das manchetes são críticas aos diversos setores da universidade. Fazemos jornalismo. Nada a ver com assessoria de imprensa.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Sem teoria não existe prática criativa porque falta uma reflexão sobre o estado atual da arte. A melhor maneira da teoria servir para o processo de aprendizagem consiste em acabar com o mito da formação pelo mercado. A maioria dos meus alunos verifica ao final do curso que muitas das matérias publicadas pela grande imprensa teria dificuldades de entrar no jornal-laboratório porque estão mal feitas. O aluno aprende que somente terá lugar no mercado quando tem condições de contribuir para melhorar o jornalismo atual. Quem não tem poder de inovação fica de fora.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Como simplesmente relatar o fato? Todo texto jornalístico pressupõe a colocação de um contexto. E um equívoco pensar que a noticia dispensa a contextualização dos fatos. Dependendo do gênero o que muda são as formas em que se coloca o fato em contexto: a notícia trata do fato, a reportagem do tema, o editorial comenta... Na disciplina o aluno aprende a evitar o uso ingênuo de diferenciações de larga tradição no pragmatismo das redações como as propostas acima, pré-requisito básico para o exercício do jornalismo.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Depende do tipo de publicação. No nosso caso sim. Devido a natureza do jornal. Tem interesse para o público das universidades.

Nome do professor: Rosângela Marçolla

Universidade ou escola: Faculdades Integradas Alcântara Machado

Nome do jornal-laboratório: Jornal da FIAM - Digital

Tamanho: Digital e A4 (versão impressa)

Tiragem: 2.500

Periodicidade: Semanal e quinzenal, respectivamente

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem? Explique.

Resposta: Sim, pois é na faculdade que os futuros jornalistas têm o primeiro contato com as reuniões de pauta, apurar as fontes e trabalhar a edição dos textos.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Deveria.

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar os alunos? É pouco ou suficiente?

Resposta: Faço durante as aulas e não é suficiente, já que a pauta fica prejudicada.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: Fazê-los se sentir que são parte da história.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Como disse anteriormente, quando o jornal fala do dia-a-dia do aluno, eles apresentam dificuldades em escrever textos informativos e sempre lançam opiniões tendenciosas.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra?

Resposta: Infelizmente os que ainda não atuam no mercado tendem a reclamar muito dizendo que é muito texto (!!!) como se no mercado não tivessem que escrever mais de uma matéria por dia.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Acredito que sim.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: Respeito às datas, "inventam" fontes, colam da Internet...

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Sim.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Elaboro no início do semestre levando em consideração feriados, atividades em sala etc.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Não existe espaço determinado.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: O professor.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: A teoria é muito importante porque vem da prática.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Depende da linha editorial, do espaço mas se relatarem de forma precisa já é um grande passo.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Acredito que não porque outros formadores de opinião podem ter acesso à produção acadêmica, o que colabora na melhoria da imagem da instituição.

Nome do professor: Cláudia Regina Lahni

Universidade ou escola: Faculdade de Comunicação/Universidade Federal de Juiz de Fora

Nome do jornal-laboratório: Jornal de Estudo

Tamanho:12 páginas – tablóide

Tiragem: 1000 exemplares

Periodicidade: no último semestre, publicamos duas edições; no atual, estavam programadas três, estamos em greve (esses são os números desde que eu estou responsável pelo jornal)

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem? Explique.

Resposta: Sim, em função da experiência prática, responsabilidade e debate sobre isso.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Sim, em conjunto com as outras disciplinas.

Pergunta: Quantas horas/aulas semanais tem para orientar os alunos? É pouco ou suficiente?

Resposta: Quatro – o que é insuficiente

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: Discussão sobre o nosso jornal e o de outras faculdades.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Acredito que sim (a questão é dirigida ao aluno).

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra?

Resposta: Pelas reações, acredito que a maior parte dos alunos se sente motivada.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Acredito que sim. Mas, seja como for, começo o período explanando sobre a disciplina, o jornal-laboratório e a sua função no curso.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: Na UFJF falta dinheiro (e apoio) para o jornal.

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Sim.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Sim, porque definição de cronograma, na organização é fundamental. Elaboro de acordo com o número de edições que faremos, definindo dias de discussão, definição de tema, pauta, reportagem/redação, edição, revisão, diagramação/editoração, revisão, gráfica; aí apresento a proposta aos alunos e a debatemos, ficando aberta a modificações da parte deles.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Não trabalhamos com editorias.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: Professora e outros envolvidos no processo - o jornal tem um conselho editorial. Recentemente, desde que assumi estamos fazendo-o temático.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Sim – o aluno já viu na teoria, debateu e agora vai à prática.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Deve contextualizar, porque os acontecimentos não são isolados – e, diga-se, a descontextualização no jornalismo é um mal hoje no mercado; precisamos discutir isso na academia e ir mudando, a partir do trabalho de nossos alunos e alunas.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Não. O jornal-laboratório deve ir também a centros culturais, deve chegar aos entrevistados (nem sempre da academia), enfim, na medida do possível deve ser amplamente distribuído.

Nome do professor: Marta Regina Maia

Universidade ou escola: Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep

Nome do jornal-laboratório: Impressão

Tamanho: Tablóide

Tiragem: 5 mil exemplares

Periodicidade: bimestral

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem?

Resposta: Sem dúvida alguma.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: A formação dos alunos é uma junção de vários fatores. Eu diria então que o jornal contribui para esta "conscientização".

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar os alunos? É pouco ou suficiente?

Resposta: Tenho 12 horas por semana. Seria suficiente se eu não tivesse cometido a ousadia de instituir o Impressão on line - semanal. De qualquer forma tenho 2 monitores que me ajudam no Impressão (impresso) e dois no Impressão on line.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: A preocupação central sempre foi tentar produzir um jornal na linha mais interpretativa do que convencional, preocupando-se sempre com a fidedignidade das fontes e com a ética jornalística. Outra questão é que, na medida do possível, também sempre recorremos à fontes externas, para garantir a aproximação do aluno com entrevistados que vivem um universo diferente de uma cidade do interior. Inclusive não uso o termo lead e sim "abre", com o intuito de incentivar o aluno a produzir matérias menos padronizadas.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em práticapelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Sem sombra de dúvidas. Acho que é na produção, mais até do que nas discussões teóricas que podemos de fato mostrar para o aluno como exercer a ética. Por exemplo: Só aceito que saiam matérias com entrevistas específicas para o jornal e não com matérias "copiadas" da Internet.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra?

Resposta: Esta é uma resposta difícil, pois quem teria melhores condições de respondê-la seria o próprio aluno. O que posso dizer é que como existe uma avaliação, então alguns alunos produzem porque do contrário seriam reprovados e outros o fazem porque têm consciência de que assim vão poder exercitar o seu texto jornalístico. De qualquer forma, posso dizer que quando o jornal fica mais bem produzido acaba existindo um certo clima de euforia na turma.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Penso que sim.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?.

Resposta: O número de alunos ainda continua sendo um problema e a falta de interdisciplinaridade, que proporcionaria ao aluno uma participação mais intensa em todo o processo de produção.

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: É fundamental, pois é ele que propicia o exercício mais próximo da realidade profissional.

Pergunta: Elabora semestral ou anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: O planejamento é semestral, até porque as disciplinas são semestrais.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Existem algumas fixas, como Educação, Política, Cotidiano, Cultura, Saúde e Esportes, outras, entretanto, surgem de acordo com a algum assunto em evidência, como, por exemplo, meio-ambiente.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: Ela é fruto de discussões em reuniões da Faculdade de Comunicação e do meu projeto de Tempo Parcial, aprovado em concurso.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Ela é essencial, senão o aluno/jornalista acaba sendo refém das idéias (teorias) dos entrevistados e ainda poderá ter dificuldades para interpretar certos acontecimentos.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: O ideal é que sempre seja contextualizado, entretanto isso não é tão fácil de ocorrer, pois os alunos não ingressam na Universidade com uma boa formação. Mas o professor não deve desistir e sempre incentivar essa prática.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Depende de quem é o seu público-alvo. No nosso caso, é a própria comunidade acadêmica quem é o destinatário, mas acho importante tomar cuidado para que não se produza um jornal oficial da academia. Achamos fundamental a nossa independência. Agora, quando há condições de infra-estrutura acho que se pode sair do campus. Já tivemos outras experiências, na linha do jornalismo popular, mas que não foram muito eficazes, já que nem todo aluno tem a obrigação de trabalhar com comunidades carentes. Fazemos isso com projetos de extensão, por exemplo.

Nome do professor: Carlos Alberto Zanotti

Universidade ou escola: Curso de Jornalismo/Universidade de Pouso Alegre/MG

Nome do jornal-laboratório: PRIMEIRA PÁGINA

Tamanho: tablóide (personalizado, pois adapta-se à capacidade da gráfica da instituição.

Tiragem: 1000 exemplares

Periodicidade: Mensal

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem? Explique.

Resposta: Sim, pois ele materializa/sintetiza todo um conjunto de aprendizado que é oferecido/proporcionado ao aluno. Nele, trabalha-se desde a fotografia, o recorte fotográfico, a diagramação, o texto, a pauta, a ética, a legislação, o público e as estratégias de comunicação.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Sim, pois oferece mecanismos análogos aos do mercado na produção jornalística, antecipando muitos problemas/soluções que o aluno encontrará quando formado.

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar os alunos? É pouco ou suficiente?

Resposta: Total de 4 horas/aulas semanais, o que é muito abaixo das necessidades. Na reforma curricular em curso o problema deverá ser sanado, triplicando-se a carga horária em dois determinados semestres.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: Montei. Há mecanismos de orientação integral, acompanhamento próximo e cobrança proporcional às necessidades. Busco desenvolver a responsabilidade individual na produção coletiva de meus alunos.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Sim, pois não se pode entender o jornalismo distanciado da ética. Discutimos um jornal voltado para o mercado, mas solidamente calcado na ética, pois que se trata de uma atividade de interesse público.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra?

Resposta: Sinto o aluno extremamente motivado a produzir o jornal laboratório, com exceções, que devem existir em todas as escolas e cursos. É no jornal-laboratório que ele terá tempo para produzir com amparo e orientação docente. E disso o aluno sabe muito bem: aqui ele pode errar. Aqui, o erro se transforma em processo de aprendizagem.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Creio que sim. E se esforça no sentido de produzir um bom trabalho, mesmo porque o jornal irá para seu portfolio.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: Equipamentos mais adequados, maior envolvimento da instituição e maior disponibilidade de carga horária.

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Acho vital para o aluno de jornalismo. No JL é que se desenvolve, de fato, o espírito da reportagem, do furo, da suite... Esta atividade só poderia ser substituída por uma experiência, em regime de estágio, na formação do aluno. E mesmo assim, com um certo prejuízo, pois no estágio o jornal já está voltado para a venda em banca. No JL, ainda é possível não ter tão próximo esse tipo de compromisso.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Fecha-se um jornal por mês, religiosamente, porém sem um cronograma ou paginação muito definidos. Prioriza-se o aluno à publicação.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Nós temos um jornal de reportagens. Cada aluno produz uma página, da pauta à foto, o texto à diagramação e à editoração. Nossa intenção é implementar a produção de reportagens, e não necessariamente oferecer um jornal de conteúdo diversificado (em termos de público) ao leitor. A prioridade é o treinamento do aluno e não a conquista do leitor, embora, em determinados casos, as duas coisas caminhem paralelamente.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: O professor a definiu ao longo dos anos e ela está expressa em textos que acompanham a apostila oferecida ao aluno.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Sim, pois o fazer em JL laboratório é essencialmente criativo. E essa criatividade encontra seus limites nas ações de caráter teórico.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Como já foi explicado, a cada aluno é oferecida uma página. Não temos um jornal de notas. Temos um jornal de reportagens, onde a necessidade do contexto está implícita, tanto na pauta como no espaço oferecido a cada texto.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Depende do projeto editorial que se crie para a publicações. Acho que não há uma necessidade de se colocar uma camisa-de-força nos jornais-laboratório. Eles se inserem em realidades completamente distintas.

Nome do professor: Rodolfo Carlos Martino

Universidade ou escola: Universidade Metodista de São Paulo

Nome do jornal-laboratório: Rudge Ramos Jornal

Tamanho: stander

Tiragem: 30 mil

Periodicidade: semanal

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem? Explique.

Resposta: Sim. jornalista é um profissional com especifidades que escapam àqueles que nunca freqüentaram uma redação. Na maioria das vezes, os alunos deslumbram-se com o prestígio que o profissional bem-sucedido demonstra ter. Aparecer na Globo e cousa e lousa nem passa por essas cabecinhas privilegiadas o tanto de trabalho que é necessário para que o jornal chegue às bancas. E o quanto duas ou três linhas podem acrescentar ou destruir a vida de uma pessoa. Conto sempre em sala de aula, a história do Wladimir Herzog (meu professor na USP) que foi denunciado por um crápula chamado Claudio Marques, que em sua coluna no DCI achou de fazer uma piadinha dizendo que a TV Cultura que era um órgão do governo estava repleta de comunistas, especialmente o Departamento de Jornalismo. A partir dessa idiotice, veio a prisão e o resto é história.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Essa é a proposta, entre outras mas, quando os alunos não querem aprender, não há quem mude essa realidade.

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar os alunos? É pouco ou suficiente?

Resposta: Eu e a maioria dos professores temos 40 horas/aula. 4 aulas às segundas, 4 às quartas, 4 às sextas e hora extensão para o fechamento com os estagiários na quinta-feira.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: fundamentalmente, disse que todos seriam tratados como repórteres – até porque estavam no último ano do curso – e que tinhamos um compromisso de editar semanalmente um jornal de 30 mil exemplares para a comunidade do bairro de Rudge Ramos, em primeira instância; e posteriormente para toda a cidade de São Bernardo.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Pergunta: Sem dúvida. se você erra um nome, no dia seguinte vem a cobrança. Se você escrever algo que não tenha procedência, a comunidade vai te cobrar... o RRJ, até pelo brilhante trabalho feito pela Katu Nassar, editora que me precedeu, tem uma baita credibilidade junto ao seu público.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra? Ou seja, o ritmo de trabalho, as cobranças (comercial, patrão), o estilo, o imediatismo no redigir são diferentes do jornal-laboratório.

Resposta: A gente tenta reproduzir essa "pegada" no Rudge, até porque é um jornal semanal que se propõe a fazer um jornalismo interpretativo e até – ousadia – a pautar os grandes jornais. como aconteceu algumas vezes...

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Os professores tentam por essa questão em evidência em todas as aulas. No RRJ os alunos podem ousar; no mercado, nem sempre...a função da universidade é prepará-los para o mercado; mas, não unicamente para ser um técnico e, sim, um historiador do cotidiano, um autor...

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: É a questão dos equipamentos. A gente já podia estar fazendo o jornal colorido...mas, sei que o gasto será bem mais significativo. E nossos equipamentos ainda não são suficientes...

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: É vital.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: As coisas funcionam exatamente como uma redação. Conforme vão acontecendo, vamos nos reunindo. Obviamente, no início e no final do semestre há uma avaliação e uma projeção do que vai ser feito e a localização de onde aconteceram os problemas.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Política/administração, economia, cidade (2 páginas), comportamente/variedade, esportes e cultura. Quando assumi, apresentei o projeto que foi discutido e emendado pelos professores.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: O editor-chefe (claro que depois de uma reunião com os professores/editores)

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Um jornalista desinformado não sobrevive. agora, esses conceitos de teoria da comunicação, aquela discussão difusa...tenho lá minhas dúvidas...

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Contextualizar, pensar sobre, fazer uma avaliação do que disse o

entrevistado, evitar preconceitos etc..

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo

acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Depende da característica do jornal. O RRJ é distribuido em todas as casa do Rudge e bairros próximos todas às sextas.

Nome do professor: Maria do Socorro Veloso

Universidade ou escola: Faculdades Associadas de Ensino (FAE) – São João da Boa Vista/SP

Nome do jornal-laboratório: Falafae

Tamanho: tablóide

Tiragem: mil exemplares

Periodicidade: mensal

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino aprendizagem? Explique.

Resposta: É claro que sim. Qualquer ferramenta que ajude o aluno a caminhar da teoria à prática é fundamental para que esse processo funcione a contento.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: Espero que sim. Trabalho para isso, pelo menos. No segundo número, tivemos uma indisposição com a direção da escola por conta de uma matéria de tom crítico ao laboratório de tevê e fotografia do curso. A matéria estava ‘redonda’, como dizemos no jornalismo: o aluno-repórter ouviu todos os lados, checou dados, não ofendeu ninguém. Mesmo assim, o texto desagradou. Fui repreendida pela direção e tive de me defender sozinha. Tranquila e consciente de que estava apenas cumprindo meu dever, procurei mostrar aos alunos que é assim mesmo, que a tarefa do jornalista não é agradar, mas buscar, com responsabilidade e senso de justiça, uma visão ampliada dos acontecimentos. Quando a atividade jornalística não incomoda ninguém, alguma coisa está errada. Ou certa demais...

Pergunta: Quantos horas/aulas semanais tem para orientar o aluno? É pouco ou ideal?

Resposta: Tenho quatro horas semanais na disciplina, e mais quatro extras, para editar o jornal. É uma carga horária razoável, já que fizemos oito edições ao longo do ano. É claro que trabalhamos muito mais que isso. Mas faz parte...

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: Com exemplos pessoais e de terceiros, procuro mostrar como a reportagem e o jornalismo impresso podem ser sedutores.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: O tempo todo. Sou professora da disciplina Ética, também. E procuro fazer desse conceito às vezes um tanto teórico, uma prática constante.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra? Ou seja, o ritmo de trabalho, as cobranças (comercial, patrão), o estilo, o imediatismo no redigir são diferentes do jornal-laboratório.

Resposta: Existe um grupo de alunos sempre disposto a pôr a mão na massa. Esses alunos não medem esforços para produzir o jornal. São, coincidentemente, os estudantes mais dedicados e com as melhores notas. A maioria já está no mercado. Um outro grupo até participa, mas só quando solicitado. O terceiro e último grupo é apático sempre. Só faz se vale nota. E às vezes nem assim.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: A função foi colocada nos primeiros dias de aula e, sempre que necessário, ao longo do curso. A maioria compreende isso, creio.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: A falta de um laboratório de redação (na escola, usamos as máquinas do laboratório de informática), a visão conservadora de alguns setores dirigentes da escola e a ausência de um sistema de distribuição dos exemplares para outras faculdades.

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Fundamental, eu diria.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Não fomos um primor de organização em 2001. No primeiro semestre, fechamos as edições em sistema de adesão (logicamente, com reunião da pauta e prazos de fechamento, como manda o figurino). No segundo semestre, formamos quatro equipes de sete alunos para fechar as edições seguintes (temos apenas 28 alunos no 3º ano do curso). Aí, já foi valendo nota. Claro que os alunos que mais se destacaram nas contribuições ao jornal, ao longo do ano, mereceram as melhores avaliações.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Fazemos um jornal tablóide, de oito páginas, sem atribuição de editorias. Digamos que funcionou como "clínica geral" em algumas edições, quando falamos de assuntos variados. As quatro últimas edições, porém, foram tematizadas: malhação para o verão, prazeres e perigos do sexo, projetos sociais que dão certo e a força do rádio na região.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: A professora da disciplina, em conjunto com os alunos.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Mostrando os caminhos possíveis de seguir. Mesmo que na prática a teoria seja outra... Há muito tempo que já não funciona a figura do jornalista "curioso", autodidata. A teoria, no jornalismo e nas outras áreas, evolui da prática e como tal deve ser compreendida e estimulada.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos jornalísticos laboratoriais ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Sim porque o aluno precisa exercitar a arte de escrever em profundidade.

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Não vejo razão para restrições. Se houver possibilidade de o veículo extrapolar os muros da faculdade, todos tendem a ganhar com isso – a escola, os alunos envolvidos e os eventuais leitores extra-muros. Formar audiência fora da faculdade pode contribuir para a consolidação do jornal laboratorial junto à comunidade onde o curso está inserido.

Nome do professor: Ouhydes Fonseca

Universidade ou escola: Faculdade de Comunicação/Universidade Católica de Santos

Nome do jornal-laboratório: Entrevista

Tamanho: standard

Tiragem: 10 mil exemplares

Periodicidade: mensal

Pergunta: O jornal-laboratório é fundamental no processo ensino-aprendizagem?

Resposta: Sim.

Pergunta: O jornal-laboratório conscientiza o aluno para o exercício profissional?

Resposta: O nosso, sim.

Pergunta: Quantas horas/aulas semanais tem para orientar o aluno? É pouco ou ideal?

Resposta: Oito. São suficientes.

Pergunta: Adotou algum método e técnica própria para motivar o aluno?

Resposta: O importante é que ele reconheça competência no professor e sinta que o produto final do seu trabalho tem potencial profissional.

Pergunta: O conceito de fazer jornalismo com critério ético é colocado em prática pelo aluno que produz o jornal-laboratório?

Resposta: Quase sempre.

Pergunta: O aluno se sente motivado na produção e difusão do jornal-laboratório mesmo sabendo que a realidade do mercado é outra?

Resposta: Sim.

Pergunta: O aluno tem conhecimento sobre a função do jornal-laboratório na vida acadêmica?

Resposta: Sim.

Pergunta: Quais são as principais barreiras que você encontra na produção e difusão do jornal-laboratório?

Resposta: (Não respondeu)

Pergunta: Você considera o jornal-laboratório importante na formação do aluno?

Resposta: Sim.

Pergunta: Elabora anualmente o cronograma de atividades? Exemplo, dia de reunião de pauta, fechamento etc? Por que e como?

Resposta: Semestralmente.

Pergunta: Como são escolhidas as editorias?

Resposta: Das tradicionais dos jornais comerciais.

Pergunta: Quem define a linha editorial do jornal-laboratório?

Resposta: Os professores.

Pergunta: A teoria contribui no fazer jornalístico? De que forma?

Resposta: Não existe teoria sem prática e vice-versa.

Pergunta: O aluno deve contextualizar os textos do jornal-laboratório ou simplesmente relatar o fato? Por que?

Resposta: Depende do veículo (Boletim/Mural/Jornal/Revista)

Pergunta: A distribuição do jornal-laboratório deve se restringir ao universo acadêmico ou não? Explique.

Resposta: Depende da definição do público-alvo.

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Conclusão

São dez anos na universidade fazendo jornal-laboratório, e outros tantos nas redações, longe do eixo São Paulo-Rio. Quando comecei a relacionar jornalismo e ensino, o meu primeiro objetivo foi transmitir o essencial da profissão sem a preocupação didático-pedagógica, ou seja, levei o que havia assimilado na rua para a sala de aula. Mais tarde, observei que era preciso distanciar o professor do profissional para não repetir o discurso de jornalista-professor e para refletir melhor sobre o significado do ensino de jornalismo na formação do futuro jornalista. O distanciamento provocou em mim uma postura mais acadêmica, voltada ao fazer jornalístico. Embora o jornalismo nunca perca o ato de informar, jamais deixará de ser um autêntico transformador social. Essa concepção de fazer do ontem o hoje de forma precisa, clara, transparente, verdadeira e real merece um tratamento diferenciado, exaustivo e aprofundado quando o veículo for o jornal-laboratório. “O jornalismo tem que ser rigoroso na sua prática mas não é uma ciência exacta. Por isso muitos conceitos têm os contornos das épocas que atravessam, são dinâmicos porque refletem a realidade em movimento”, ensina Mar de Fonteuberta.1 E é esse movimento que deve existir ao fazer o jornal-laboratório. Não há dúvida de que a matéria-prima do jornalismo é a notícia, mas em se tratando do processo ensino-aprendizagem, o cotidiano do ponto de vista profissional deve ser praticado de forma que permita ao aluno assimilar com singularidade o conceito de jornalismo em suas várias etapas de produção e difusão.

Com o monopólio da informação digital, o jornalismo impresso readquire o papel de interpretar o fato jornalístico. Essa nova postura analítica obriga a escola a redimenssionar a função laboratorial do jornal impresso. O aluno não pode mais aprender simplesmente como montar uma pirâmide invertida, precisa refletir sobre o que pensa e ter consciência da sua responsabilidade social. O fundamental é que a escola prepare o aluno para o exercício profissional independente do veículo que vai atuar. O ato de escrever deixa de ser mecânico quando o autor é participante do processo histórico e passa a reportar o fato de interesse público.

É na capacidade de redigir uma reportagem que o aluno pode mostrar, de maneira mais clara, sua aptidão em articular os próprios pensamentos, desenvolver idéias, absorver conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Jornalismo. Não será apenas com a técnica da pirâmide invertida que o aluno se transformará num historiador do cotidiano. Se a escola deseja preparar o aluno para o exercício profissional e com qualidade para competir no mercado, é fundamental que conduza o futuro jornalista ao ato reflexivo, à consciência coletiva, ao discernimento do que é o fato de interesse público e de interesse do público. Captar o real, construir a ação cena a cena, fazer o registro completo do diálogo são caminhos que o futuro jornalista deve percorrer para a dinâmica da reportagem como expressão do cotidiano. “A reportagem é uma forma de extensão do conhecimento da atualidade. Representa para o jornalista a possibilidade de exploração da realidade para além dos limites imediatos da notícia, levando-o, à sua fonte e a seu leitor, juntos, para uma dimensão mais ampla”, explica Ana Veirano Astiz2

7.1 – Propostas abertas

A partir dos depoimentos colhidos de professores responsáveis por jornais-laboratório, de leituras de jornais-laboratório, da minha experiência na coordenação de projetos laboratoriais no interior e Capital de São Paulo, de uma vasta pesquisa bibliográfica, fundamentado numa avaliação geral do ensino apresento as seguintes propostas de uma pedagogia para o jornal-laboratório:

* Pauta mais consistente, mais histórica, mais abrangente com inúmeras fontes com visão ou olhar diferente sobre o mesmo fato jornalístico para realçar as contradições de idéias, ideologias políticas;

* Evitar a cobertura rotineira;

* Fazer o aluno ouvir a opinião pública, o popular, o cidadão comum;

* Habituar o aluno a percorrer todos os campos do conhecimento e do poder, porque é seu dever mostrar o que se passa nas esferas às quais o cidadão comum não tem acesso;

* Orientar o aluno a pensar de forma lógica-reflexiva sobre o exercício jornalístico como instrumento de transformação social;

* Estimular o aluno a conhecer e refletir sobre a produção jornalística em suas várias etapas sem a preocupação mercadológica;

* Possibilitar a formação de uma visão histórica, política, ideológica e crítica do jornalismo impresso;

* Desenvolver a capacidade e criatividade na elaboração do texto jornalístico;

* Preparar o aluno para o ato investigativo como atividade cotidiana e não apenas esporádica;

* Aguçar no aluno o domínino da linguagem jornalística e o senso crítico na apuração dos dados;

* Utilizar o jornal-laboratório como um veículo ligado à comunidade em que está inserido e não apenas ficar no universo acadêmico;

* Priorizar o local como fato de interesse público;

* Utilizar a internet como fonte de pesquisa, mas não como fonte primária;

* Conhecimento abrangente de humanidades como ferramenta de contextualização do fato jornalismo;

* Criar conselhos editoriais efetivos e participativos na produção e difusão do jornal-laboratório e que sejam incluído no projeto pedagógico;

* Preocupar-se primeiro em formar o cidadão, o profissional e não apenas o que o mercado deseja;

* Linha editorial com raízes acadêmicas, ou seja, não mercadológicas;

* Não fazer jornal-laboratório para atender o aluno ou o professor;

* Direcionar o aluno a ser um observador-participante do fato jornalístico;

Outros pontos que considero essenciais paa a formação do jornalista:

* Motivar o aluno a elaborar o jornal como uma contribuição à melhoria da sociedade, não apenas como um mero exercício escolar;

* O estudante precisa estar ligado na realidade, paralelamente à vontade de melhorar o mundo que o cerca;

* O aluno precisa estar comprometido com o seu tempo e com a sua gente;

* Lembrar que a função do jornal-laboratório não é apenas informar, denunciar, formar. É também um exercício diário de inteligência e prática cotidiana do caráter;

* O aluno precisa ter a capacidade de se indignar contra as injustiças;

* Lembrar ao aluno que sempre é bom ajudar alguém com aquilo que escreve;

* Reforçar, como diz Ricardo Kotscho, que o jornalismo não é apenas uma profissão, um meio para sobreviver, mas uma “opção de vida”;

* O aluno não deve se entregar à acomodação da pauta;

* O aluno deve manter antenas ligadas noite e dia, onde estiver;

* Deve estar sempre comprometido consigo mesmo, com o leitor, com a verdade;

* Deve sempre usar o jornal-laboratório para contribuir na formação de uma sociedade mais sadia;

* Não deve esquecer que a denúncia pela denúncia, não leva a nada;

* Reforçar que a checagem da informação com pelo menos duas fontes é indispensável;

* Lembrar que a credibilidade é o maior patrimônio do jornalista e que a responsabilidade é essencial;

Essas propostas estão inseridas no contexto mais amplo da luta pela melhoria da qualidade do ensino no Brasil que, no caso específico do jornalismo, envolve a busca de uma formação crítica/analítica aliada à cidadania e ao exercício profissional com responsabilidade social, ética e busca da verdade. A aplicabilidade dessas propostas depende da desburocratização da política laboratorial e da valorização do corpo docente.

7.2 – Notas e Referências Bibliográficas

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2 – ASTIZ, Ana Veirano. À procura de um jornalismo vivo: inquietudes, lições holísticas e o jornalismo literário espanhol como propulsores para a nova era. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ECA/USP, 1991.

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Anexos

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