Aqui se ensina, aqui se aprende.



1. (Fuvest 2018) Leia o texto.Um tema frequente em culturas variadas é o do desafio à ordem divina, a apropria??o do fogo pelos mortais. Nos mitos gregos, Prometeu é quem rouba o fogo dos deuses. Diz Vernant que Prometeu representa no Olimpo uma vozinha de contesta??o, espécie de movimento estudantil de maio de 1968. Zeus decide esconder dos homens o fogo, antes disponível para todos, mortais e imortais, na copa de certas árvores – os freixos – porque Prometeu tentara tapeá-lo numa reparti??o da carne de um touro entre deuses e homens.Na mitologia dos Yanomami, o dono do fogo era o jacaré, que cuidadosamente o escondia dos outros, comendo taturanas assadas com sua mulher sapo, sem que ninguém soubesse. Ao resto do povo – animais que naquela época eram gente – eles só davam as taturanas cruas. O jacaré costumava esconder o fogo na boca. Os outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir e soltar as chamas. Todos fazem coisas engra?adas, mas o jacaré fica firme, no máximo dá um sorrisinho.Betty Mindlin, O fogo e as chamas dos mitos. Revista Estudos Avan?ados. Adaptado.a) O emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e “sorrisinho”, consideradas no contexto, produz o mesmo efeito de sentido nos dois casos? Justifique.b) Reescreva o trecho “Os outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir (...). Todos fazem coisas engra?adas”, substituindo o verbo “fazer” por sin?nimos adequados ao contexto em duas de suas três ocorrências. 2. (Unicamp 2018) O brasileiro Jo?o Guimar?es Rosa e o irlandês James Joyce s?o autores reverenciados pela inventividade de sua linguagem literária, em que abundam neologismos. Muitas vezes, por essa raz?o, Guimar?es Rosa e Joyce s?o citados como exemplos de autores "praticamente intraduzíveis". Mesmo sem ter lido os autores, é possível identificar alguns dos seus neologismos, pois s?o baseados em processos de forma??o de palavras comuns ao português e ao inglês.Entre os recursos comuns aos neologismos de Guimar?es Rosa e de James Joyce, est?o:i. Onomatopeia (forma??o de uma palavra a partir de uma reprodu??o aproximada de um som natural, utilizando-se os recursos da língua); eii. Deriva??o (forma??o de novas palavras pelo acréscimo de prefixos ou sufixos a palavras já existentes na língua).Os neologismos que aparecem nas op??es abaixo foram extraídos de obras de Guimar?es Rosa (GR) e James Joyce (JJ). Assinale a op??o em que os processos (i) e (ii) est?o presentes: a) Quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém) e tattarrattat (JJ, Ulisses). b) Transtrazer (GR, Grande sert?o: veredas) e monoideal (JJ, Ulisses). c) Rtststr (JJ, Ulisses) e quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém). d) Tattarrattat (JJ, Ulisses) e inesquecer-se (GR, Ave, Palavra). 3. (Unicamp 2018) Enquanto viveu em Portugal, o escritor Mário Prata reuniu centenas de vocábulos e express?es usados no português falado na Europa que s?o diferentes dos termos correspondentes usados no português do Brasil. Reproduzimos abaixo um dos verbetes de seu dicionário. Descapotável ? outra palavra que em português faz muito mais sentido do que em brasileiro. N?o é mais claro dizer que um carro é descapotável, do que conversível? (Mário Prata, Dicionário de português: schifaizfavoire. S?o Paulo: Editora Globo, 1993, p. 48.) a) Identifique os dois afixos que formam a palavra “descapotável” a partir do substantivo “capota” (cobertura de um automóvel) e explique a fun??o de cada um. b) Explique por que o autor considera, com certo humor, que a palavra "descapotável” do português europeu faz mais sentido de que o termo “conversível”, usado no português brasileiro. 4. (Unicamp 2018) Leia a seguir trechos das entrevistas concedidas pelo escritor chileno Alejandro Zambra ao jornal Folha de S?o Paulo e à revista Cult sobre seu livro Múltipla Escolha, lan?ado no Brasil em 2017. A obra imita o formato da Prova de Aptid?o Verbal aplicada de 1966 a 2002 aos candidatos a vagas em universidades no Chile. Falando à Folha, Zambra afirma que havia na prova de múltipla escolha “uma grande sintonia com a ditadura chilena. Para entrar na universidade, teríamos que saber eliminar as ora??es. Havia censura, e nos aconselhavam a censurar”. E acrescenta que o sistema educacional moldava o pensamento dos alunos com “a ideia de que só existe uma resposta correta.” Abordando o sentido crítico da escolha desse formato para a narrativa, o autor explica à Cult que, tendo sido criado nesse sistema, interessava-lhe mais a autocrítica. Escrevendo uma espécie de novela, lembrou-se da prova e come?ou a brincar com esse formato. “No come?o foi divertido, como imitar as vozes das pessoas, mas logo me dei conta de que também imitava minha própria voz, até que de repente entendi que esse era o livro. A paródia e a autoparódia, a crítica e a autocrítica, o humor e a dor...” O formato de prova oferece diversas op??es para completar e interpretar cada resposta, mas pede ao leitor um movimento duplo de leitura: testar possibilidades de respostas e erigir uma op??o única e arbitrária. Zambra esclarece: “me interessam todos esses movimentos da autoridade. A ilus?o de uma resposta, por exemplo. Creio que este é um livro sobre a ilus?o de uma resposta. Nos ensinaram isso, que havia uma resposta única, e logo descobrimos que havia muitas e isso às vezes foi libertador e outras vezes foi terrível. Quem sabe algumas vezes nós também quisemos que houvesse uma resposta única.” (Adaptado de entrevistas de Alejandro Zambra concedidas ao jornal Folha de S?o Paulo e à revista Cult em maio de 2017. Disponíveis em e em -literatura-esta-ligada-a-desordem-diz-escritor-chileno-alejandro-zambra.shtml. Acessados em 11/12/2017.) a) Cite dois fatores que levaram Zambra a adotar a forma narrativa empregada em Múltipla Escolha. b) Por que Múltipla Escolha n?o funciona como a Prova de Aptid?o Verbal chilena? Justifique sua resposta com base no tipo de leitor solicitado pela obra. TEXTO PARA AS PR?XIMAS 2 QUEST?ES: O homem deve reencontrar o Paraíso...Rubem AlvesEra uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na enorme teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um peda?o. Ficaram cansados. Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o que tinham, compraram um barco capaz de atravessar mares e sobreviver tempestades.Mas para navegar n?o basta sonhar. ? preciso saber. S?o muitos os saberes necessários para se navegar. Puseram-se ent?o a estudar cada um aquilo que teria de fazer no barco: manuten??o do casco, instrumentos de navega??o, astronomia, meteorologia, as velas, as cordas, as polias e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o motor, o radar, o rádio, as liga??es elétricas, os mares, os mapas... Disse cero o poeta: Navegar é preciso, a ciência da navega??o é saber preciso, exige aparelhos, números e medi??es. Barcos se fazem com precis?o, astronomia se aprende com o rigor da geometria, velas se fazem com saberes exatos sobre tecidos, cordas e ventos, instrumentos de navega??o n?o informam mais ou menos. Assim, eles se tornaram cientistas, especialistas, cada um na sua – juntos para navegar.Chegou ent?o o momento de grande decis?o – para onde navegar. Um sugeria as geleiras do sul do Chile, outro os canais dos fiordes da Noruega, um outro queria conhecer os exóticos mares e praias das ilhas do Pacífico, e houve mesmo quem quisesse navegar nas rotas de Colombo. E foi ent?o que compreenderam que, quando o assunto era a escolha do destino, as ciências que conheciam para nada serviam.De nada valiam, tabelas, gráficos, estatísticas. Os computadores, coitados, chamados a dar seu palpite, ficaram em silêncio. Os computadores n?o têm preferências – falta-lhes essa sutil capacidade de gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados sobre o porto de sua escolha, disseram que n?o entendiam a pergunta, que n?o lhes importava para onde se estava indo.Se os barcos se fazem com ciência, a navega??o faz-se com sonhos. Infelizmente a ciência, utilíssima, especialista em saber como as coisas funcionam, tudo ignora sobre o cora??o humano. ? preciso sonhar para se decidir sobre o destino da navega??o. Mas o cora??o humano, lugar dos sonhos, ao contrário da ciência, é coisa preciosa. Disse certo poeta: Viver n?o é preciso. Primeiro vem o impreciso desejo. Primeiro vem o impreciso desejo de navegar. Só depois vem a precisa ciência de navegar.Naus e navega??o têm sido uma das mais poderosas imagens na mente dos poetas. Ezra Pound inicia seus C?nticos dizendo: E pois com a nau no mar/ assestamos a quilho contra as vagas... Cecília Meireles: Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra, monótona/ parece-nos fraca ilus?o! Queremos a ilus?o do grande mar / multiplicada em suas malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra n?o descoberta, no mar mais distante. Que as vossas velas n?o se cansem de procurar esta terra! O nosso leme nos conduz para a terra dos nossos filhos... Viver é navegar no grande mar!N?o só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, comparou a nossa civiliza??o a uma galera que navega pelos mares. Nos por?es est?o os remadores. Remam com precis?o cada vez maior. A cada novo dia recebem novos, mais perfeitos. O ritmo da remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência do remar. A galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados sobre o porto do destino, respondem os remadores: O porto n?o nos importa. O que importada é a velocidade com que navegamos.C Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa civiliza??o por meio duma imagem plástica: multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as mudan?as sejam cada vez mais rápidas; mas n?o temos ideia alguma de para onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco ou perdido navegaria sem ter ideia do para onde. Em rela??o à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia, na linguagem comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas n?o é isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma dire??o.Mário Quintana explicou a utopia com um verso: Se as coisas s?o inatingíveis... ora!/ n?o é um motivo para n?o querê-las... Que tristes os caminho, se n?o fora/ A mágica presen?a das estrelas! Karl Mannheim, outro sociólogo sábio que poucos leem, já na década de 1920 diagnosticava a doen?a da nossa civiliza??o: N?o temos consciência de dire??es, n?o escolhemos dire??es. Faltam-nos estrelas que nos indiquem o destino.Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que s?o feitas, determinadas pelo pragmatismo da tecnologia (o importante é produzir o objeto) e pelo objetivismo da ciência (o importante é saber como funciona), s?o: Como posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema concreto em particular? E conclui: E em todas essas perguntas sentimos o eco intimista: n?o preciso de me preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo.Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da navega??o, sem que os estudantes sejam levados a sonhar com as estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas universidades, essa doen?a assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se dedica com paix?o e competência, a fazer pesquisas sobre o seu parafuso, sua polia, sua vela, seu mastro.Dizem que seu dever é produzir conhecimento. Se forem bem-sucedidas, suas pesquisas ser?o publicadas em revistas internacionais. Quando se lhes pergunta: Para onde seu barco está navegando?, eles respondem: Isso n?o é científico. Os sonhos n?o s?o objetos de conhecimento científico.E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, por conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. N?o posso pensar a miss?o das escolas, come?ando com as crian?as e continuando com os cientistas, como outra que n?o a da realiza??o do dito poeta: Navegar é preciso. Viver n?o é preciso. ? necessário ensinar os precisos saberes da navega??o enquanto ciência. Mas é necessário apontar com imprecisos sinais para os destinos da navega??o: A terra dos filhos dos meus filhos, no mar distante... Na verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os homens sonham com navegar. Depois aprendem a ciência da navega??o. ? inútil ensinar a ciência da navega??o a quem mora nas montanhas.O meu sonho para a educa??o foi dito por Bachelard: O universo tem um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. O paraíso é o jardim, lugar de felicidade, prazeres e alegrias para os homens e mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, um brilho chamado progresso. Está na bandeira nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em dire??o ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a dire??o. E é assim que as florestas s?o destruídas, os rios se transformam em esgotos de fezes e veneno, o ar se enche de gases, os campos se cobrem de lixo – e tudo ficou feio e triste.Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do ensino – psicologias e quinquilharias – e tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um Paraíso.Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico. 5. (Efomm 2018) Chegou ent?o o momento da grande decis?o – para onde navegar. Um sugeria as geleiras do sul do Chile, outro os canais dos fiordes (...).Todas as palavras pertencem à classe gramatical da palavra sublinhada na passagem acima, EXCETO a da alternativa a) S?o muitos os saberes necessários para se navegar. b) (...) a galera navega em dire??o ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a dire??o. c) E conclui: ‘E em todas essas perguntas sentimos o eco otimista: n?o preciso de me preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo’. d) O ritmo das remadas aceleram. Sabem tudo sobre a ciência do remar. e) E foi ent?o que compreenderam que, quando o assunto era a escolha do destino, as ciências que conheciam para nada serviam. 6. (Efomm 2018) Quanto ao processo de forma??o de palavras, o de convers?o N?O está presente na palavra sublinhada na alternativa a) Disse certo o poeta: ‘Navegar é preciso’, a ciência da navega??o é saber preciso (...) b) O ritmo das remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência de remar. c) (...) multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as mudan?as sejam cada vez mais rápidas (...) d) Em rela??o à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. e) A nau navega veloz e sem rumo. Nas universidades, essa doen?a (...) 7. (Fuvest 2018) Leia o texto e responda ao que se pede.? de crer que D. Plácida n?o falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: – Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacrist?o e a sacrist? naturalmente lhe responderiam: – Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou n?o comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanh? resignada, mas sempre com as m?os no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia.Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.a) Pode-se afirmar que, neste excerto, além de resumir a existência de D. Plácida, o narrador expressa uma certa concep??o de trabalho? Justifique.b) De que maneira o ritmo textual, que caracteriza a possível resposta dos sacrist?os, colabora para a caracteriza??o de D. Plácida? 8. (Fuvest 2018) Leia o texto e responda ao que se pede.– N?o veem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai subindo às nuvens? A seus pés ainda está a seca raiz da murta* frondosa, que todos os invernos se cobria de rama e bagos vermelhos, para abra?ar o tronco irm?o. Se ela n?o morresse, o jacarandá n?o teria sol para crescer t?o alto.José de Alencar, Iracema.*murta: arbusto, árvore pequena.a) ? possível relacionar a imagem da murta ao destino de Iracema no romance? Explique.b) A frase “Se ela n?o morresse, o jacarandá n?o teria sol para crescer t?o alto” pode ser entendida como uma alegoria do processo de coloniza??o do Brasil? Explique. 9. (Unicamp 2018) O trecho abaixo corresponde à parte final do primeiro Serm?o de Quarta-Feira de Cinza, pregado em 1672 pelo Padre Antonio Vieira.“Em que cuidamos, e em que n?o cuidamos? Homens mortais, homens imortais, se todos os dias podemos morrer, se cada dia nos imos chegando mais à morte, e ela a nós; n?o se acabe com este dia a memória da morte. Resolu??o, resolu??o uma vez, que sem resolu??o nada se faz. E para que esta resolu??o dure, e n?o seja como outras, tomemos cada dia uma hora em que cuidemos bem naquela hora. De vinte e quatro horas que tem o dia, por que se n?o dará uma hora à triste alma? Esta é a melhor devo??o e mais útil penitência, e mais agradável a Deus, que podeis fazer nesta Quaresma. (...) Torno a dizer para que vos fique na memória: Quanto tenho vivido? Como vivi? Quanto posso viver? Como é bem que viva? Memento homo.”(Antonio Vieira, Serm?es de Quarta-Feira de Cinza. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016, p.102.)a) Levando em conta o trecho acima e o propósito argumentativo do Serm?o, explique por que, segundo Vieira, se deve preservar “a memória da morte”.b) Considere as perguntas presentes no trecho acima e explique sua fun??o para a mensagem final do Serm?o. 10. (Fuvest 2018) Leia o texto.A complicada arte de verEla entrou, deitou-se no div? e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os piment?es – é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impress?o de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os piment?es... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementares", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturba??o ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. N?o, você n?o está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".Rubem Alves, Folha de S.Paulo, 26/10/2004. Adaptado.a) Segundo a concep??o do autor, como a poesia pode ser entendida?b) Reescreva o trecho “Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”, substituindo o termo sublinhado por “Naquela época” e empregando a primeira pessoa do plural. Fa?a as adapta??es necessárias. 11. (Unesp 2018) Examine as tiras do cartunista americano Bill Watterson (1958 - ).a) Na tira 1, como o garoto Calvin interpreta o choro da m?e? Reescreva a última fala de Calvin, substituindo o verbo “antropomorfiza” por outro de sentido equivalente.b) Na tira 2, a pergunta do tigre Haroldo poderia ser considerada uma resposta para a pergunta de Calvin? Justifique. 12. (Unicamp 2018) Can??o é tudo aquilo que se canta com inflex?o melódica (ou entoativa) e letra. Há um “artesanato” específico para privilegiar ora a for?a entoativa da palavra ora a forma musical; nem só poesia nem só música. Um dos equívocos dos nossos dias é justamente dizer que a can??o tende a acabar porque vem perdendo terreno para o rap! Ora, nada é mais radical como can??o do que uma fala que conserva a entoa??o crua. A fala no rap é entoada com certa regularidade rítmica, o que a torna diferente de uma fala usual. Apesar de convivermos hoje “com uma diversidade cancional jamais vista”, prevalece na mídia, nos meios cultural e musical “a opini?o uniforme de que estamos mergulhados num ‘lixo’ de produ??o viciada e desinteressante”. Vivemos uma descentraliza??o, com eventos musicais ricos e variados, “e a for?a do talento desses novos cancionistas também n?o diminuiu”. O rap serve-se da entoa??o quase pura, para transmitir informa??es verbais, normalmente intensas, sem perder os tra?os musicais da linguagem da can??o. Seu formato, menos música mais fala, é ideal para se fazer pronunciamentos, manifesta??es, revela??es, denúncias, etc., sem que se abandone a seara cancional. Podemos dizer que o trabalho musical, no rap, é para restabelecer as balizas sonoras do canto, mas nunca para perder a concretude da linguagem oral ou conter a crueza e o peso de seus significados pessoais e sociais. Atenuar a musicaliza??o é reconhecer que as melodias cantadas comportam figuras entoativas (modos de dizer) que precisam ser reveladas por suas letras. (Adaptado de Luiz Tatit. Artigos disponíveis em Invis%C3%ADveis.html e . Acessados em 11/12/2017.) A partir da leitura dos textos acima, a) aponte dois argumentos de Luiz Tatit que defendem a ideia de que o rap é um tipo de can??o. b) cite duas características, apresentadas nos textos, que corroboram que o rap é uma forma ideal de “can??o de protesto”. 13. (Fuvest 2018) Leia o texto e responda ao que se pede.Da idadeN?o posso aprovar a maneira por que entendemos a dura??o da vida. Vejo que os filósofos lhe assinam* um limite bem menor do que o fazemos comumente. (...) Os [homens] que falam de uma certa dura??o normal da vida, estabelecem-na pouco além. Tais ideias seriam admissíveis se existisse algum privilégio capaz de os colocar fora do alcance dos acidentes, t?o numerosos, a que estamos todos expostos e que podem interromper essa dura??o com que nos acenam. E é pura fantasia imaginar que podemos morrer de esgotamento em virtude de uma extrema velhice, e assim fixar a dura??o da vida, pois esse gênero de morte é o mais raro de todos. E a isso chamamos morte natural como se fosse contrário à natureza um homem quebrar a cabe?a numa queda, afogar-se em algum naufrágio, morrer de peste ou de pleurisia; como se na vida comum n?o esbarrássemos a todo instante com esses acidentes. N?o nos iludamos com belas palavras; n?o denominemos natural o que é apenas exce??o e guardemos o qualificativo para o comum, o geral, o universal.Morrer de velhice é coisa que se vê raramente, singular e extraordinária e portanto menos natural do que qualquer outra. ? a morte que nos espera ao fim da existência, e quanto mais longe de nós menos direito temos de a esperar.Michel de Montaigne, Ensaios. Editora 34. Trad. de Sérgio Milliet.*assinar: fixar, indicar.a) No texto, o autor retifica o que corriqueiramente se entende por “morte natural”? Justifique.b) A que palavra ou express?o se referem, respectivamente, os pronomes destacados no trecho “Vejo que os filósofos lhe assinam um limite bem menor do que o fazemos comumente”? 14. (Fuvest 2018) Examine a transcri??o do depoimento de Eduardo Koge, líder indígena de Tadarimana, MT.Nós vivemos aqui que nem gado. Tem a cerca e nós n?o podemos sair dessa cerca. Tem que viver só do que tem dentro da cerca. ?, nós vivemos que nem boi no curral.Paulo A. M. Isaac, Drama da educa??o escolar indígena Bóe-Bororo.a) Nos trechos “Tem a cerca...” e “Tem que viver...”, o verbo “ter” assume sentidos diferentes? Justifique.b) Reescreva, em um único período, os trechos “Nós vivemos aqui que nem gado” e “nós n?o podemos sair dessa cerca”, empregando discurso indireto. Comece o período conforme indicado na página de respostas. TEXTO PARA A PR?XIMA QUEST?O: Para responder à(s) quest?o(?es), leia o soneto de Raimundo Correia (1859-1911).Esbraseia o Ocidente na agoniaO sol... Aves em bandos destacados,Por céus de ouro e de púrpura raiados,Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...Delineiam-se, além, da serraniaOs vértices de chama aureolados,E em tudo, em torno, esbatem derramadosUns tons suaves de melancolia...Um mundo de vapores no ar flutua...Como uma informe nódoa, avulta e cresceA sombra à propor??o que a luz recua...A natureza apática esmaece...Pouco a pouco, entre as árvores, a luaSurge trêmula, trêmula... Anoitece.(Poesia completa e prosa, 1961.) 15. (Unesp 2018) a) Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata?b) A primeira estrofe do soneto é composta por três períodos simples em ordem indireta (“Esbraseia o Ocidente na agonia / O sol”; “Aves em bandos destacados, / Por céus de ouro e de púrpura raiados, / Fogem”; e “Fecha-se a pálpebra do dia”). Reescreva esses três períodos em ordem direta. Gabarito: Resposta da quest?o 1: a) N?o, o emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e “sorrisinho” n?o produz o mesmo efeito de sentido nos dois casos. Enquanto que, na primeira ocorrência, o diminutivo pretende diminuir a atitude contestatória de Prometeu, na segunda, confere ironia ao comportamento do jacaré.b) Substituindo o verbo “fazer” por sin?nimos adequados ao contexto, os trechos poderiam apresentar as seguintes configura??es: os outros decidem realizar (preparar) uma festa para provocar-lhe o riso (...). Todos praticam (elaboram) coisas engra?adas”. Resposta da quest?o 2: [D]A palavra “tattarrattat” imita o som de batidas na porta, sendo, portanto, uma onomatopeia; já “inesquecer-se” é formada por deriva??o prefixal, da uni?o do prefixo “in” com o verbo pronominal “esquecer-se”. Resposta da quest?o 3: a) A palavra “descapotável” contém o prefixo “des-”, que exprime nega??o ou falta, e o sufixo “-vel”, formador de adjetivos e que significa “passível de”. b) A partir dos afixos descritos em (a), infere-se que a palavra “descapotável” significa “passível de ficar sem capota”. O termo “conversível”, por sua vez, significa, literalmente, “passível de ser convertido”. O termo “descapotável” é semanticamente mais transparente por se associar a uma parte do carro (a capota), ao passo que “conversível” apresenta um sentido, em princípio, mais amplo, que se poderia aplicar a qualquer objeto que possa ser transformado; daí a considera??o de que o primeiro seria “mais claro” e “faria mais sentido” do que o segundo. Resposta da quest?o 4: a) O autor estrutura a obra com perguntas de múltipla escolha, semelhante à Prova de Aptid?o Verbal para ingresso em universidades chilenas. Uma das motiva??es para adotar esse formato é criticar o sistema educacional, que conduz o aluno a acreditar na existência de respostas únicas, o que, para Zambra, configura uma forma de censura. O autor também tem interesse em desenvolver uma autocrítica, uma vez que ele mesmo é fruto desse sistema. b) A obra convoca um leitor crítico, aberto a repensar as formas de ensino e capaz de testar possibilidades de respostas. Desse modo, a obra n?o reproduz simplesmente o formato da prova de múltipla escolha, antes questiona ironicamente a arbitrariedade da resposta única. Resposta da quest?o 5: [C]No enunciado, o termo “um”, por oposi??o a “outro”, é classificado como pronome indefinido; a mesma situa??o ocorre nas alternativas [A], [B], [D] e [E]. Apenas em [C] há classifica??o diferente: nesse caso, “todo” deixa de ser um pronome indefinido e, acompanhado pelo artigo definido, assume papel de substantivo. Trata-se de uma deriva??o imprópria ou convers?o. Resposta da quest?o 6: [D]Convers?o ou deriva??o imprópria é o processo de forma??o de palavras segundo o qual o vocábulo tem sua classe gramatical alterada, sem que sua forma sofra mudan?a.Em [A], há convers?o, pois “saber” originalmente é verbo e no contexto apresentado tornou-se substantivo.Em [B], há convers?o, uma vez que “remar” originalmente é verbo e no contexto apresentado tornou-se substantivo.Em [C], há convers?o, uma vez que “dispor” originalmente é verbo e no contexto apresentado tornou-se substantivo.Em [D], n?o há convers?o, mas regressiva, uma vez que o substantivo “busca” deriva do verbo “buscar”.Em [E], há convers?o, uma vez que “veloz” originalmente é adjetivo e no contexto apresentado tornou-se advérbio de modo. Resposta da quest?o 7: a) Sim, ao enumerar as tarefas penosas do cotidiano de D. Plácida, o narrador coloca em evidência o trabalho exaustivo e sem nenhum reconhecimento social da personagem: a rotina cansativa, a má alimenta??o, a doen?a, o definhamento físico e psicológico, o abandono final da personagem.b) A sequência que descreve a rotina cansativa e o desempenho de fun??es de D. Plácida é constituída por sucessivos segmentos separados por vírgulas, reveladores do ritmo frenético e alienado do trabalho da personagem. Resposta da quest?o 8: a) Sim, a imagem da murta que, ao morrer, permite que o jacarandá se desenvolva e cres?a pode ser associado ao destino de Iracema, que se sacrifica e definha até a morte para salvar o homem amado.b) Sim, a frase “Se ela n?o morresse, o jacarandá n?o teria sol para crescer t?o alto” pode ser entendida como uma alegoria do processo de coloniza??o do Brasil. Sob essa perspectiva, a murta representaria o povo indígena que se sacrifica para que o povo brasileiro pudesse ser beneficiado com a coloniza??o europeia, representada, na alegoria, pela imagem do jacarandá. Resposta da quest?o 9: a) O serm?o recupera o sentido da penitência como exercício espiritual que transforma o homem, dando destaque à necessidade de liberar-se dos prazeres materiais em vista da salva??o da alma. Preservar a memória da morte é n?o perder de vista a finitude humana, produzir uma aten??o máxima ao tempo presente e reiterar, como a Igreja faz na liturgia da Quarta-Feira de Cinzas, a mensagem crist? contida na advertência da própria epígrafe do serm?o: “Lembra-te homem que sois pó, e em pó vos haveis de converter”. b) As perguntas que aparecem no texto têm uma fun??o exortativa, ou interpelativa. As últimas, sobretudo, destacadas por Vieira, incidem sobre a rela??o entre os tempos presente, passado e futuro, temporalidades que abarcam a totalidade da experiência humana, mensurando-a quantitativa e qualitativamente no que concerne à salva??o crist?. Tais perguntas conclamam o ouvinte do serm?o a manter o firme propósito do exercício da virtude, a examinar sua vida pessoal com base na mensagem bíblica e, por fim, a realizar uma reflex?o sobre a condi??o humana. Resposta da quest?o 10: a) Segundo Rubem Fonseca, a poesia resulta da intensifica??o da sensibilidade que estimula a percep??o de tudo que nos rodeia, de maneira a conferir novos significados aos seres e objetos: “Os poetas ensinam a ver".b) Substituindo o termo sublinhado por “Naquela época” e empregando a primeira pessoa do plural, a frase poderia apresentar as seguintes configura??es: Naquela época, tudo o que vimos nos causou espanto. Ou, naquela época, tudo o que víamos nos causava espanto. Resposta da quest?o 11: a) Na tira 1, Calvin atribui o choro da m?e ao fato de ela estar “ferindo” a cebola, ou seja, dá ao verbo “cortar” outro significado, o que se depreende da sua fala no último quadrinho: “deve ser difícil cozinhar se você antropomorfiza as hortali?as”. Esta frase de Calvin poderia ser substituída por: deve ser difícil cozinhar se você humaniza as hortali?as. b) Sim, a pergunta de Haroldo pode ser considerada uma resposta a Calvin por insinuar que a perda de tempo a fazer as contas é maior do que a dispensada a tomar banho. Resposta da quest?o 12: a) O rap pode ser considerado uma forma de can??o, pois é uma fala entoada com certa regularidade rítmica, o que o torna diferente da fala usual. Além disso, ainda que se sirva da entona??o quase pura, n?o perde sua musicalidade. b) De acordo com o texto, a ênfase do rap sobre a fala torna-o propício a denúncias, manifesta??es individuais e coletivas. Ao atenuar a musicalidade sem perder a “concretude da linguagem oral”, o rap ressalta os significados pessoais e sociais em suas letras. Resposta da quest?o 13: a) Michel de Montaigne contraria o senso comum que associa a morte natural à que decorre do envelhecimento, já que, na maioria das vezes, as pessoas morrem de qualquer tipo de acidente ou doen?a que as atinge de surpresa em qualquer momento da vida. “Morrer de velhice é coisa que se vê raramente, singular e extraordinária e portanto menos natural do que qualquer outra”. b) Os pronomes “lhe“ e “o“ referem-se a “dura??o da vida“ e a “limite bem menor“, respectivamente. Resposta da quest?o 14: a) Sim, o verbo “ter” apresenta diferente valor sem?ntico em cada um dos dois segmentos. Na primeira ocorrência, substitui o verbo haver ou existir. Na segunda, o verbo necessitar ou precisar. b) Em discurso indireto, a frase apresentaria a seguinte configura??o: Eduardo Koge disse que eles viviam ali aqui que nem gado e n?o podiam sair daquela cerca. Resposta da quest?o 15: a) O poema do parnasiano Raimundo Correia descreve o anoitecer: “Esbraseia o Ocidente na agonia/O sol”, “a lua/Surge trêmula, trêmula... Anoitece”.b) Em ordem direta, a primeira estrofe teria a seguinte configura??o: O sol esbraseia o Ocidente na agonia, / Aves fogem em bandos destacados por céus de ouro e púrpura raiados / A pálpebra do dia fecha-se. Resumo das quest?es selecionadas nesta atividadeData de elabora??o:12/04/2018 às 18:36Nome do arquivo:simulado 04Legenda:Q/Prova = número da quest?o na provaQ/DB = número da quest?o no banco de dados do SuperPro?Q/provaQ/DBGrau/Dif.MatériaFonteTipo 1176131ElevadaPortuguêsFuvest/2018Analítica 2175570MédiaPortuguêsUnicamp/2018Múltipla escolha 3176524ElevadaPortuguêsUnicamp/2018Analítica 4176525MédiaPortuguêsUnicamp/2018Analítica 5173582MédiaPortuguêsEfomm/2018Múltipla escolha 6173577ElevadaPortuguêsEfomm/2018Múltipla escolha 7176135MédiaPortuguêsFuvest/2018Analítica 8176134MédiaPortuguêsFuvest/2018Analítica 9176529MédiaPortuguêsUnicamp/2018Analítica 10176133MédiaPortuguêsFuvest/2018Analítica 11175674BaixaPortuguêsUnesp/2018Analítica 12176526MédiaPortuguêsUnicamp/2018Analítica 13176129MédiaPortuguêsFuvest/2018Analítica 14176130MédiaPortuguêsFuvest/2018Analítica 15175671MédiaPortuguêsUnesp/2018Analítica ................
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