PRESENÇA PORTUGUESA, ESTADOS TRADICIONAIS, OCUPAÇ …



APONTAMENTOS sobre a HISTÓRIA DE CABO DELGADO, do séc II até cerca de 1929

Versão provisória Set. 2014

G. Liesegang, Dep. de História. UEM

Dedicado a dois filhos de Cabo Delgado que queriam conhecer a história da sua Província, porque sem a sua insistência nunca teria iniciado o trabalho em 1997que continua ainda em 2014.

Introductory notes

The following notes on the history of Cabo Delgado were started in 1997 as a short critical text on the evolution and correct dating of colonial occupation (see 1.4. and 6.5.) that had been reconfirmed some years earlier as part of the research on Niassa province. The notes were expanded, whenever I came across new data and had time. Gradually the text came to cover a larger time span and more subjects like ethnic and linguistic groups, precolonial states, new systems of communication, periodization, etc. It is still far from being completely researched and definitely formulated. This refers also maps which would be necessary.

The study of distribution of lexemes, which I had started in 1983 and expanded in 2012 led to the proposition to consider the Makhuwa, despite their long domination by Luangwa-Lumbo tradition makers, as a representative of the earlier Kwale-Matola stream. It confirmed the hypothesis that Makonde must have had substantial inputs from the Luangwa –Lumbo or Marave movements and thus constitute a distant relative of Chewa. This is not all quite new, but had never been fully accepted and spelt out with all its consequences.

The text is made accessible now because to include the review of further sources I would need another five or six months that I do not have in the moment.

1.Introdução: A temática, periodização e as fontes ....................................................3

1.1. A zona.........................................................................................................................3

1.2. Periodização................................................................................................................4

1.3. Abordagem e Tematização..........................................................................................5

1.4. Revisão bibliográfica..................... .............................................................................7

1.5. Objectivos e Plano, linhas gerais.................................................................................8

2. Arqueologia como base de reconstituições históricas ................................................ 9

2.1 Introdução......................................................................................................................9

2.2. Tradições identificadas.................................................................................................10

2.3. Lugares Santos e Santuarios .........................................................................................11

2.4. Monumentos históricos ................................................................................................12

3. Estruturas e períodos 1500-1900.................................................................................... 12

3.1.Sequência cultural na costa e no interior.....................................................................12

3.2.A presença portuguesa na Costa ca. 1520-1894........................................................13

3.3. Desafios à presença portuguesa (Omanitas, piratas, Zanzibar).............................14

4.Estrutura regional, étnica, etnogénese, identidades e estados em Cabo Delgado ......16

4.1 Introdução.................................................................................................................... .16

4.1.1. Reconstituição da história. O problema da telescopação e de-telescopação....17

4.2. Comunidade de cultura e oposição das identidades..................................................18

4.2.1. Mitos de origem e mitos existenciais..........................................................................19

4.3. Os grupos étnicos...........................................................................................................19

4.3.1. Os Makhuwa..............................................................................................................19

4.3.2. O litoral e os Mwani...................................................................................................20

4.3.3. Os Makonde................................................................................................................21

4.3.4. Outros Grupos étnicos................................................................................................23

4.4. Os estados africanos em Cabo Delgado ca. 1450-1900......................................... 24

4.4.1 Introdução...................................................................................................................24

4.4.2. Estados da tradição lumbo e swahili: Mongalo e Moluane.................................24

4.4.3. Algumas luzes no fim do séc. XVIII e meados do séc. XIX.................................25.

4.4.4. A situação no fim do séc. XIX e início do séc. XX.................................................22

4.4.5 A organização dos estados .........................................................................................27

4.4.6. As chefaturas e a Companhia do Niassa.................................................................29

4.5. Estrutura social, estratos sociais, etc...........................................................................29

4.6. Notas sobre as religiões.................................................................................................31

4.7 Notas sobre as relações de género .................................................................................31

4.8. Conclusões ...................................................................................................................32

5. Periodização do comércio na costa norte ......................................................................,33

5.1. Participantes...................................................................................................................33

5.2. Tráfico de escravos........................................................................................................33

5.3. Marfim, borracha, oleaginosas, etc. ............................................................................ 36

5.4. Exportação colonial (algodão, sisal) ............................................................................37

5.5. Mudança do sistema de transportes .............................................................................37

6.As ocupações coloniais e resistências.............................................................................. 37

6.1. Introdução à historiografia ............................................................................................37

6.2. A actividade do estado português antes da Companhia do Niassa..................... 38

6.3. A Situação em 1894- 1900............................................................................................38

6.4. A ocupação da zona mmetho........................................................................................40

6.5. A ocupação da costa ao sul de Pemba.........................................................................41

6.6. O hinterland da costa ao norte de Pemba.....................................................................41

6.7. A Primeira Guerra Mundial no Norte.............................................................................42

6.8. 1917 /1919: Ocupação Colonial do Planalto de Mueda e da região Maconde

em Moçambique A Campanha de 1917 durante a segunda guerra mundial .............43

6.9. Outras actividades de repressão em 1919.....................................................................45

7. O fim da administração da Companhia e depois......................................................... 46

7.1 Introdução.........................................................................................................................46

7.2. O regime colonial instituido pela Companhia do Niassa ......................................... 46

7.3.A Situação de Cabo Delgado em 1920-1926................................................................47

7.4. A zona Maconde como zona especial............................................................................48

7.5 Transformação de infraestruturas económicas............................................................ 49

7.6. Expansão do sistema de escolas e missões....................................................................50

7.7. O fim da governação da Companhia do Niassa...........................................................50

7.8. Transformações sociais e estruturais..............................................................................51

8. Notas finais.........................................................................................................................51

Anexos

Anexo 1 justificativa para a formação do concelho dos MaKonde (A visão colonial do étnico: Fundação do "Concelho dos Makondes" em 1923).....................................................................................................53

Anexo 2 Evolução da Arte Maconde ....................................................................................................54

Anexo 3 Evolução da população de Cabo Delgado (falta)

Fontes e Bibliografia...............................................................................................................................56

1.Introdução: A temática, periodização e as fontes

1. 1 A zona

A actual província de Cabo Delgado de Moçambique situa-se entre os rios Rovuma e Lurio e o mar e uma linha no interior, no oeste, que não é uma fronteira cultural, mas está também parcialmente marcada por rios. As outras fronteiras naturais também não são fronteiras culturais. Os rios Lúrio e Rovuma dividem grupos, mas foram muitas das vezes ultrapassados em fugas e migrações. Ao norte do rio Rovuma existiam também Matambwe, Makhuwa e Swahili, parentes próximos dos seus visinhos no sul. Mesmo o mar era desde o séc. I ou II antes nossa era uma estrada de comunicação, utilizada por marinheiros do Golfo Persico, da Arabia e India, por Swahili das costas do Quénia e Tanzania para o sul e por piratas e refugiados dos Comoros e de Madagascar, especialmente no séc. XIX (Alpers).

Geologicamentemo o espaço tem muita diversidade, desde os planaltos, zonas de calcáreo e mármores, grafite, e uma zona perto do rio Rovuma com pequenos lagos semelhante às formações cársticas perto de Vilanculo. Há sedimentos abaixo da água do mar que servem de repositório para gas e petróleo.

Cobertura vegetal e densidade de população mostram muita desigualdade. As razões parecem na combinação de factores como precipitação média, água à superfície e fertilidade do solo. No interior perto do rio Lugenda, na zona de Nairoto , etc. existiram zonas quase deshabitadas por homens. Estas áreas foram frequentadas por caçadores. O planalto dos Maconde que capta uma parte das chuvas vindas do mar, tem um densidade maior, como a zona sul, incluindo sudeste. Ao norte do rio Lurio passou, antes, da construção das estradas modernas, um dos eixos de comunicação com o interior. Cabo Delgado tem uma zona com ilhas no norte e outra sem ilhas, mas falta uma planicie costeira como aquela entre o Zambeze e Angoche. Isso havia de influenciar a história colonial, mas não evitava que na sucessão de nichos ecológicos entre ilhas e pequenas zonas de aptidão agrícola se havia de desenvolver uma identidade costeira, a de Mwani.

Esta região costeira ou o litoral (Pwani) tinha provavelmente assumido uma identidade cultural já desde os primeiros contactos com povos islâmicos e swahili (séc. IX, XIII), mas possivelmente a incursão Luangwa- Lumbo tinha interrompido o processo até que esse grupo também aceitasse a cultura costeira.

No interior encontramos duas regiões como o planalto densamente povoado com uma vegetação própria, designado como Maconde. Ao noroeste temos uma zona mais baixa de floresta meio seca.

Mais ao sul a zona planáltica de Mmetho, um refúgio na segunda metade do séc. XIX para a população do Niassa, do vale do Lugenda, de Marrupa no tempo da expansão dos Ngoni, de Mataka e dos Magwangwara, estes últimos cerca de 1880-1890.

A região ao norte da foz do rio Rovuma faz parte de uma zona conhecido como Mgao, Mogal, Mugau, correspondendo provavelmente ao antigo Mongalo do séc.XVI- XVII, estado Marave ou pré-Marave que deve continuado ao sul da foz desse rio (ver abaixo).

No planalto Maconde se encontravam oleaginosas arbóreas como parinari curatellifolia, que também no sul da Tanzania era a oleaginosa e fruta doce e cítrica de uso tradicional. (Dias 1964: 33). Não só na aparência mas também no uso tem semelhança com o canhoeiro (sclerocarya birrea).

O clima espelha as irregularidades da zona, com as grandes secas das eras de 1830, 1845, 1900, 1951, 1988 deixando um impacto na produção e alimentação. No tempo colonial devia ter sido suspendida a exportação. Quando não foi como em 1951, deu lugar a polémicas e provavelmente mesmo mortes entre os mais vulneráveis (Soares, Liesegang).

(Para mais pormenores: Medeiros 1997: 13-28, Madquida 2007: 37-47. Talvez vale a pena estudar mapas satélite para perceber o impacto do homem e da sua economia (e política) sobre o ambiente. Espantoso como se salientam os espaços dos aldeiamentos e aldeias comunais maconde, indicando um maior impacto desde 1964-6 e 1977 até 2010 embora que o cultivo de algodão e sisal pode ter deixado algumas marcas).

1.2 Periodização.

O passado deste espaço geográfico pode ser subdividido em pelo menos sete ou oito períodos. O primeiro seria a idade de pedra que abrange períodos do pleistoceno, quando o nivel do mar estava mais baixo até ca. 20.000 a. C.. Acabou provavelmente no início do primeiro milénio antes da nossa era. Segue a Idade de Ferro, dividido em três sub-períodos: Idade de Ferro Inferior vai ao séc. IX aproximadamente, e a Idade de Ferro Médio, que começa com os período kambalu, seguido pela Idade de Ferro Superior, com o período em que dominavam Kilwa e depois elementos portugueses (incluindo indo-portugueses e euroafricanos). Esses períodos são caracterizados por trocas mercantís entre as sociedades existentes neste espaço e o exterior, que recebia marfim, cascos de tartaruga, cornos de rinoceronte, e finalmente escravos no séc. XVIII e XIX (Capela). A importação era principalmente de tecidos de algodão, provavelmente também missangas.

No período histórico, talvez começando com a idade de Ferro médio, temos provavelmente dois movimentos migratórios vindos do interior. Um trouxe a tradição Lumbo, que se fundiu talvez com os Makhuwa e Mwani e outro o grupo Maconde. Também houve na costa passagens de grupos swahili. É possível que a intervenção luangwa lumbo tivesse interrompida a primeira fase de expansão swahili (750-1.100), tendo a presença swahili aumentado outra vez após o crescimento de Kilwa e da swahilização dos Comoros a partir do séc. XIII.

Com a implantação dos Portugueses na ilha de Moçambique em 1502 e ataques e implantação em Kilwa 1502-05 as ilhas Querimbas começam a ser influenciados pelo comércio português, mantendo as populações locais características de olaria Sancule. As ilhas foram constituidos prazos (Newitt).

O desafio entre sociedades swahili e islâmicas de um lado e portugueses no outro estendeu-se brevemente a Cabo Delgado, na segunda metade do séc. XVII (Rodrigues 2014, ver abaixo). No séc. XVIIIXIX, a expansão do tráfico de escravos no oceano índico era uma base tanto para os portugueses nas Querimbas como os Swahili em Tungue e Quissanga e alguns chefes na baía de Pemba e no interior.

Cerca de 1870 começa uma fase que podiamos chamar de oleaginosas, de mistura com borracha, marfim e algum tráfico de escravos. O tráfico de escravos acaba, mas as oleaginosas continuam.

Entre 1899 e 1912 assiste-se à implantação do imperialismo colonial que provoca resistências até à altura da Primeira Guerra Mundial durante a qual Cabo Delgado foi palco de combates entre tropas portuguesas e alemães (tal como o de Negomano em 1917) e alemães e britânicas (incluindo sulafricanas). A última actividade conhecida do estado contra resistentes é em 1919. A história de Cabo Delgado desenrola-se neste período no mesmo contexto como a do resto de Moçambique, pelo menos no resto do norte e centro.

Os anos 30 e 40 são importantes pela criação de uma nova infraestrura, mas são também um período que aproximam Moçambique dos estados territórios vizinhos. E o norte de Moçambique aproxima-se das zonas vizinhas. Na Tanganyika há uma catadupa de reformas para preparar para democracia (Whiteley 1955) e contestações que aproximam este território da independência, enquanto que os colonos portugueses, cujo número tinha aumentado durante e depois da guerra, sonhavam no centro e mesmo na província com a separação de raças e continuação do estatuto de dependência da população africana.

Em 1960, com o protesto de Kibiriti Divane, Faustino Vanomba, Modesta (Binti Neva?) e outros em Mueda, e o Massacre de Mueda inciamos o período da luta de libertação do qual se transita em 1974-5 para a independência. A tentativa de implantação do socialismo e a guerra civil/guerra de desestabilização podem ser consideradas fases finais da luta de libertação.

Yussuf Adam (1993) mostrou os problemas que surgiram com o catapultamento da Frelimo a um nível nacional. A base local que tinha apoiado na luta é sujeita a pressões.

O período da reconstrução pós-guerra civil durante a qual se construi a ponte de unidade por Moçambique e Tanzania em Ngomano (Negomano) perto da confluência do Rovuma e Lugenda (inaugurada 12/05/2010, O País ) desemboca no período actual, que é caracterizado pela expansão do sistema do ensino, crescimento urbano nos grandes e pequenos cetros e planos de reabilitação da rede viária.

Com a exploração dos hidrocarbonetos e construção de infraestruturas em Palma e Pemba podia começar um novo período.

1.3. Abordagem e Tematização

Vários historiadores tem sublinhado que ao nivel da conciência de grupos locais, ao nível da história familiar, etc.existem continuidades entre períodos. P.e., já José Moreira (1995) viu em 1997 na introdução historiográfica de um livro sobre José Albasini e os assimilados o problema das continuidades entre períodos, como as pontes entre o período das trocas mercantis e do imperialismo colonial. Os editores de um artigo sobre Eduardo Mondlane notaram igualmente a importância do pré-colonial. A identificação com os aspectos mais brilhantes do passado é patente numa carta de Eduardo Mondlane e G. Macave, autor de dois poemas laudatórios, estava igualmente a sua genealogia que remonta ao sé. XVIII pelo menos e se refere a importantes chefes locais. Samora Moises Machel demonstrou em 1983 a Aquino de Bragança que até a cristianização pode ser visto numa perspectiva de manter a iniciativa africana local, de adaptação contínua a novas condições. Isso pode ser o lema para este trabalho. Há uma escola de estudos de direito da família e questões do género que tipicamente começa com o papel de casamentos no tempo pre-colonial, acompanhando a evolução ao pós-colonial (ver Griffiths 1997 para Botswana). História social e história familiar tem uma periodização diferente a história estatal. Este trabalho não entre muito nessa temâtica, mas pode ser um ponto de vista a considerar em futuros estudos da história local.

Temas tratados aqui são, entre outros: Raizes das populações e suas trajectórias. A história das chefaturas nos momentos em que são documetados, da ocupação colonial e da resistência anticolonial em Cabo Delgado que é, como aquela da Zambézia, pouco conhecida, verificada e analisada. Por isso começamos já na última década do séc. XX, na altura da publicação da obra de Medeiros 1997, sob insistência de dois alunos, a juntar alguns dados e comentários críticos para dar a conhecer a supervisandos da licenciatura em História opiniões alternativas para algumas afirmações na bibliografia. O objectivo era de dar-lhes mais segurança na discussão de periodizações, muitas deles concentradas nos Maconde e no período das ocupações coloniais (1887-1919).

Para o tema chefaturas partimos inicialmente da lista de chefaturas relativamente perto da costa de 1907 (ver cap.4.4.3. ). Brito João e Eduardo Medeiros já tinham focado o sudeste nos seus estudos sobre Megama, mas não foi possível um maior aprofundamento aqui.

O estudo do comércio internacional começou inicialmente com o séc. XVIII e uma visão do séc. XIX.

Assim, o trabalho nasceu de apontamentos desconexos, ligados à identificação de lacunas e críticas pontuais à literatura existente. Com o tempo acrescentei mais dados e capítulos, p.e. a arqueologia esboçada em 2012, mas aonde tinha ja obtido alguns dados num trabalho de campo de 1988, que beneficiou já de material obtido por Paul Sinclair e Teresa Cruz e Silva. Em 2012 era possível incluir material da tese de H. Madiquida (2007).

A matéria foi parcialmente reorganisada e sistematizada em 2013 e 2014, juntando-se um plano para a história recente, que, no entanto, vamos deixar aos mestres como Yussuf Adam, Anna Maria Gentili e outros, e aos futuros investigadores. (P.e., devido à sua focalização geográfica a história da Luta de Libertação de Yusuf Adam não cobre toda a província. Falta p.e. o sul a volta de Ancuabe.)

1.4. Revisão bibliográfica: Linhas gerais

Ao que parece, os funcionários da Companhia do Niassa não recolheram elementos sobre a história das chefaturas nos primeiros anos da ocupação. A distância da capital da Colónia, desde 1894 a funcionar em Lourenço Marques no extremo sul, com meios intelectuais interessados nas culturas e sociedades africanas e outros factores privaram-nos de estudos comparáveis àqueles feitos no sul de Moçambique, como p.e. Ferrão (1909) e A. Cabral (1910) e de alguns dos funcionários da Companhia de Moçambique (G. Bivar Pinto Lopes e outros 1923). A elite intelectual do Ibo era na altura relativamente pouco numerosa e limitada na sua capacidade de expressão em jornais ou outras publicações. Existiu um jornal e alguns padres publicaram algumas notas. Sobresai um pouco o coleccionador (e posterior intendente adjunto?) Carlos Acciolo Themudo.

Mais tarde houve tentativas de colmatar as lacunas. O mais tarde administrador da Matola

A dos Santos Baptista tentou mergulhar em 1951 na enigmatica formação dos Makhuwa, com as suas dinâmicas internas e autonomização ao longo termo de escravos domésticos. que tinha sido, tambem, parcialmente elucidada pelos estudos do padre Constantin Gerards e mais tarde Christian Geffray. De referenciar o estudo de Nampula de Mello Branquinho e Eduardo Medeiros, Geffray, mas com material de Nampula, que traz algumas luzes sobre Cabo Delgado.

Sobre a arqueologia não existem ainda muitos estudos. Há o levantamento de Teresa Cruz e Silva e Paul Sinclair no Ibo apresentado por Paul Sinclair (1986), os anteriores levantametos de Ricardo Teixeira Duarte e a posterior do autor de 1988 (passando junto à costa por mar e estrada devido à guerra) , a tese de fil.lic. (aproximadamente mestrado) de H. Madiquida (2007) e estudos mais recentes de L. Adamowicz.

No que toca à etnografia e história do interior de Cabo Delgado, aonde não vamos abranger toda a largura da sociedade e cultura, podemos definir alguns modelos de processos de migrações baseados em tradições orais e hipoteses arqueológicas. No momento é dificil distinguir elementos factuais de elementos fictícios. Não obstante existem fontes que já permitiram a publicação de obras e artigos. Brito João e E. Medeiros recolheram tradições sobre grupos dinásticos Makhuwa que pensamos precisam de de-telescopação (ver cap. 4). Medeiros publicou em 1997 um volume sobre o Niassa e Cabo Delgado no tempo da Companhia do Niassa. Sem o referir, o texto relativemente extenso sobre os Nguni tem a ver com uma desambiguição etre o grupo makuwa ekoni e os nguni,como A.J. Dias tinha deixado claro em 1967 que os Makonde não deviam ser confundidos com Ngoni. O novo espaço a propor para parte do movimento dos ekoni já ficou fora do espaço estudado por Medeiros (1836-1929). O volume I da obra colectiva de A.J. Dias et all. sobre os Macondes inclui indicações fiáveis sobre a história. Na síntese das fontes surgiu uma surpresa. Tinha sempre considerado teses sobre migrações um pouco aventureiras, talvez resultado de distorções e telescopações. Mas há de facto algumas evidências na distribuição de lexemas que apontam para a imigração de elementos importantes grupo cultural maconde talvez na idade de ferro médio ou superior, não contando com movimentos e assimilações de partes de grupos clânicos (exemplo em Madiquida 2007:51). A sua cultura original era talvez mais perto do grupo marave ou chewa que eu tinha imaginado ou Carvalho (1989) previsto! Isso dá àquele grupo uma nova historicidade.- Existem também estudos sobre a ilha do Ibo e algumas publicações de fontes do séc. XVIII e XIX (Gérards, Baptista e Bento).

1.5. Objectivos e Plano

O objectivo (ainda não plenamente realizado) é tentar sintetizar um maior número de fontes e criar uma imagem de conjunto, que pode servir para compreender melhor a história das populações da província e do seu espaço. Tem de ser suficientemente geral e simples para dar uma informação geral e suficientemete detalhado para eventualmete dar algumas bases para problemas do género, do meio ambiente, etc. Como já foi dito o objectivo inicial era rectificar alguns pormenores errados na literatura existente, como o já referido conceito de os Maconde serem parte do primeiro grupo Bantu, ou outro, que eles constituiram muma espécie de série de quilombos de escravos escapados da costa, que se tatuaram para não serem a presa preferida de caçadores de escravos, ou que eles eram os últimos resistentes em Moçambique.

O texto aqui apresentado vai debruçar-se sobre a história política e sociocultural da costa de Cabo Delgado desde o séc. II aproximadamente, e a estrutura do interior desde o período da expansão marave e a segunda parte do séc. XVIII, referindo alguns chefes e os grupos populacionais, passando depois a tratar a ocupação colonial das diversas sub-regiões de Cabo Delgado, como o corredor para o Lago de 1899, o sudeste, o hinterland da costa, o noreste em campanhas entre 1900 e 1913, a primeira guerra mundial e campanha definitiva e principal da zona dos Macondes em 1917, sequelas em 1919, bem como a situação administrativa e económica da região de Cabo Delgado e dos Macondes em 1920-1926. Da análise da literatura acima e de fontes não publicadas consultadas em Maputo pode-se concluir que o trabalho de Pélissier 1984 acessivel desde 1987 em tradução portuguesa, é de facto relativamente fiavel para a conquista colonial. Não omite conflitos importantes no âmbito da ocupação. Mas queriamos citar algumas fontes novas, não acessíveis a Pélissier, porque o AHM era um dos poucos arquivos não tocado pela sua pesquisa que levou alguns anos a partir de cerca de 1974 e beneficiou da sua experiência com a história da colonização de Angola. Estas fontes permitem identificar mais actores e apresentam outros dados e que completam a imagem, mas que mostram que correspondências e relatórios fragmentários de terceiros, louvores oficiais, etc. por si só permetem apenas uma reconstituição parcial. São de facto preciso fontes narrativas fiáveis para conseguir continuidade.

Quando o trabalho olha para a revolução de transportes ca. de 1930-35 e o cultivo forçado de algodão, introdução e missões e ensino estende um pouco a baliza cronológica inicialmente fixada, que focalizou apenas o início da re-estruturação em 1924 e 1929, data final da concessão da Companhia do Niassa.

O periodo depois de 1930 já foi investigado em relação ao algodão e um pouco sisal, menos as culturas não forçadas, aonde tem certa contiuidade. Parte da Luta Armada foi já focada em 1993, como resultado de um projecto de pesquisa, focando a história oral, de J. Depelchin e Aquino de Bragança, aonde contribuiram, entre outros, Yusuf Adam, Anna Maria Gentile e João Paulo Borges Coelho. No período recente notam-se preocupações com o meio ambiente, as florestas nativas, ao par com os hidro-carburetos, planificação urbana etc.

2. Arqueologia como base de reconstituições históricas

2.1. Introdução

A analise arqueológica de restos cerâmicos e a linguistica histórica permetem traçar três tipos de movimentos de populações: Um primeiro, basicamente norte-sul nos séculos II-III da nossa era, segundo, de novos movimentos, dos swahili, a partir do sé XII provavelmente vindos do norte por via marítima, e terceira é de movimentos transversais, cerca dos séculos XII-XIV da nossa era, continuando no séc. XVI-XVII , da África Central para leste. Estes chegam do interior na zona costeira por possivelmente várias rotas. Além disso tem, já num período aterior, populações vindo por via maritima, partes dos antepassados dos mwani e outras populações costeiras musulmanas, e geralmente incluída nos Swahili.

Existe hoje, devido às insistentes pesquisas de Felix Chami e seus alunos como Kwekason na zona de Kilwa, na Tanzania, a hipótese que os Bantu não foram possivelmente os primeiros agricultores na região. Na região de Kilwa, no sul da Tanzania, parece encontrar-se a olaria neolítica de tipo Kansyore, do segundo ou primeiro milénio antes da nossa era, primeiro identificada no Uganda e Kenya, na zona do lago Vitória (ver artigos na revista Azania) e possivelmente também existindo em Rhaphta, ao norte do delta do rio Rufiji, que teria sido um ponto de trocas comerciais no primeiro século da nossa era . É assim possível, portanto, que já os primeiros bantu, aproximadamente no séc. II da nossa era, encontraram na sua expansão do norte ao sul uma população local agrícola, vivendo talvez em contacto com caçadores ( pigmeus ou de outro grupo local de outra origem, como os san ou khoe), e que cada uma das ondas posteriores lembradas na população absorveu populações anteriores. Os pigmeus fazem parte da folklore dos Makonde da Tanzania (Weule 1908) mas podem ter sido um elemento trazido da África Central por movimentos transversais dos Marave nos séculos XII-XVI .

Sinclair insistiu que Kwale-Matola se encontra também a zona de Kilwa (Virgin 1993: 32), também foi encontrado em Cabo Delgado (Adamowicz, comm. pessoal). A rapidez da sedimentação e erosão na zona costeira fizeram com que es primeiras pesquisas não produzissem muitas evidências sobre a Idade de Ferro Inferior na zona costeira.

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2.2. Tradições arqueologicas identificadas

Pesquisas de Leonard Adamowicz no contexto de estudos prévios feitos para implatação de uma fábrica e cidade a serem implantados perto de Palma pela Anadarko e seus parceiros deram conta da existência de olaria de tradição Urewe-Lelesu ou Kwale-Matola. Foram encontrados no continente, atrás de Cabo Delgado, que é uma ilha de pedra calcárea ligada à Terra por uma língua de areia e zonas baixas. A distribuição continua na Provincia de Nampula, aonde existe olaria Kwale-Matola, bem como Monapo e Nampula, derivadas da primeira. A população Makhuwa actual, a acreditar p.e. a na distribuição de lexemas egona, ngwenya, significando crocodilo (Möhlig 1980), eram descendentes da corrente que atingiu os confins da área bantu na Africa do Sul, incluindo Natal e Phumalanga no séc. III-IV. Tiveram, portanto, uma continuidade, mas haviam de sofrer influências de movimentos posteriores.

Os movimentos chamados de “transversais” nos vales do Rovuma e Lugenda, Zambeze e no interior parecem também estar ligados a populações actuais e suas culturas. Não conhecemos as rotas exactas dos movimentos que podem ter continuado até ao início do séc. XVII, com os Maraves e Lundu, com participação de povos já de identidade Chewa da África Central. É uma estrutura de repetidas movimentações, três dos quais atingiram o norte de Moçambique que se enquadram no modelo dos mfecane. É provável, que uma parte, identificada pela olaria de tradição Lumbo, avançou até ao litoral e dirigiu-se depois ao norte. Parece provável, que em certas fases houve também um movimento pelo interior, utilizando as rotas comerciais paralelos ao vale dos rios Lugenda e Rovuma, ou talvez também Lúrio. Estas migrações podem ter levado parte dos antepassados dos Mwera e Makonde para a costa como Dias (1967) e Moser (1984) postulam. É possivel que na distribuição de lexemas como a designação da variola em Makonde (choba), e vários outros se encontre alguma confirmação de migrações. A rota costeira parece ser documentado nos relatos sobre traços de devastação dos Zimba na zona costeira perto de Kilwa (Gaspar Bocarro 1616) de João dos Santos(1609, 1999) e a tradição oral sobre os marundo (gente que vem de Lundu, cf. Soares de Castro, Lupi 1907, Newitt 1995 ).

A rota costeira anterior da tradição Kwale-Matola, como a da tradição e Lumbo parecem ser documentadas por achados de pesquisas de P. Sinclair, Teresa Cruz e Silva, G. Liesegang, Hilário Madiquida e L. Adamowicz. Eles mostraram a presença de olaria da tradição Lumbo nas ilhas Querimba e no continente junto à foz do Lúrio que foi datado por Kwekason no sul da Tanzania. Vestígios de Kwale, (ou Lelesu), Monapo aparecem em diversas estações.

A falta de investigações no interior, no Rovuma, em Montepuez, etc. não permitem tentar uma periodização da ocupação do interior, de mudanças de cultura, etc. É. porém, provavel, que haja certa semelhança com o que foi documentado em Nampula (Adamowicz 1993 etc.). Madiquida referencia restos do estado de Milwane na ilha de Matemwe (Matemo, Madiquida 2007: 62-64). Os achados incluem a tradição Sancule datada ao séc. XIII-XIV(Madiquida 2007: 63). Esta é tipica para a segunda fase da expansão Swahili em Moçambique que atingiu a zona de Chibuene no Sul. (É talvez de questionar se acabou no séc. XIV e não sobreviveu pelo menos até ao séc. XVII.

Restos materiais em Cabo Delgado (Tungui, um palácio duas vez reconstruido no séc. XVIII-XIX, tendo a última fase, talvez zanzibarita, uma latrina no primeiro andar), Vamizi (olaria da tradição Lumbo), igreja e restos da casa, provavelmente de um arrendatário português do séc. XVI-XVII . Ali parece o Sancule já está ausente. Podiamos designar esta fase como 3ª da expansão swahili.

Do séc. XIII-XVI temos testemunhos da presença do grupo swahili na Kilwa wealed e Husuni Kubwa ware e na tradição Sancule em Wamizi, Querimba mas aparentemente não em Tungue.

Somana na baía de Nacala numa estreita ilha, parece ser do séc. XIV-XV, uma ocupação swahili que se extende de Kilwa via Wamizi e Querimba à Ilha de Moçambique. Está ligado aos mais antigos vestígios de utilização de obras de alvenaria na costa moçambicana.

2.3. Lugares Santos e santuarios

L. Adamowicz apresentou abrigos debaixo da rocha que eram também lugares de culto. Colocou a hipotese de serem locais muito antigos com uma contiuidade de culto desde a idade de ferro inferior.

Em Cabo Delgado existem, também, pelo menos duas grutas considerados como lugares santos e destinos de peregrinações da população local. Uma está no extremo oeste e estudado no contexto de vias na reserva do Niassa, uma outra, a gruta de Bambarra, no distrito de Namuno (Madiquida 2007: 64-66). A estação de Bambarra tem segundo Madiquida (2007: 9)cerâmica da Idade de Ferro Inferior. Esse seria o padrão defendido por Adamowicz.

2.4. Monumentos históricos (por completar)

Palácio de Tungue (ver Monteiro 1966, Liesegang 1988)

A povoação de Amiza (Vamizi)

A ilha de Vamizi, que antigamente tinha talvez água doce na zona de Quivuli. Ao sul e mais ao oeste (Liesegang 1988), sofreu de erosão e mesmo penetração da sua base de calcáreo pelas águas do mar. Tem sinais de ocupação numa fase superior da idade de ferro inferior (tradição monapo?), possivelmente do período Kanbalu, tradição Lumbo, Kilwa wealed ware. Foi mencionado por Ahmad ibn Majid ca. 1470-85 como tendo um chefe musulmano (Khoury 1987).

Os portugueses desigavam a ilha por Amiza e ainda mantiveram a ilha arrendada no séc. XIX. Tinha uma pequena igreja ou capela e um cemitério. Tem sinais de Opaque de Sarreguemines dos meados dos séc. XIX . A seguir a um levantamento por Quirino da Fonseca foi proclamado monumento nacional no fim do tempo colonial . Durante o período da luta armada deve ter sido tentado implantar ali um aldeamento. Em 1988 tinha uma pequena população makhuwa e hoje um pequeno estabelecimento hoteleiro.

Querimba, casa na parte sul restos de olaria de tipos encontrados em Kilwa ( wealed ware, Husuni Kubwa) e tradição Sancule(séc. XV-XVIII)

Querimba e Ilha do Ibo com restos do séc. XVIII e XIX, na Ilha de Querimba, possivelmente até bases do séc. XVI (Boxer).

Presenças o continente:

Quissanga, mesquita com mihrab do estilo dos finais do séc. XVIII (mihrab com recessão de degraus, cf. tipologia de Garlake 1966), documentado por E. Rzewuski.

Com datação pouco clara o amuralhado de Gomene (cujas pedras desapereceram).

3. Sequência política e socioeconómica de Cabo Delgado

3.1.Sequência cultural e periodização politico-económica na costa

Nas ilhas Querimba encontram-se restos do séc. XIII-XIX e outros ainda de difícil datação, incluindo cemitérios. Estes existem também em Vamizi, já relativemente perto de Cabo Delgado, e Tungue. Sabemos que as ilhas Querimba faziam parte, no séc. XV-XVI, da zona swahili. Embora que não tivessem sido formalmente atestados, não há dúvida que estiveram igualmente na zona entre Lúrio e Rovuma, os antepassados dos Makhuwa e Makonde.

3.2. A Presença Portuguesa na Costa ca. 1520-1880

As primeiras intervenções militares portugueses estavam dirigidas contra os habitantes e comerciantes na ilha de Querimba em 1523 (Lobato 1970: III, ... ). Algumas décadas depois fixaram-se nessa área moradores (colonos) portugueses. No fim do séc. XVI a área parece ter estado relativemente afluente, com colonos distribuidos nas ilhas Querimba e em Cabo Delgado até aos meados do séc XVIII. As ilhas passaram a constituir terras aforadas ou emprazadas de mesma maneira como outras junto ao Zambeze e em Sofala.

Entre a queda do domínio português em Mombasa e Zanzibar e da sua ocupação pelos omanitas por volta de 1698 ou 1699 e os fins do séc. XVIII os chefes na costa entre as ilhas de Vamizi e o rio Rovuma tinham-se libertado pouco a pouco do domínio português. Uma fonte portuguesa de 1741 mencionava ainda um português em "Tunguij" mas pouco depois um grupo "shirazi" se deve ter fixado na região, fundando o sultanato de "Tungue" que floresceu no periodo do comercio de escravos até ser praticamente absorvido pelo poder de Zanzibar por volta de 1870. O sultanato de Tungue tinha mantido contactos com os portugueses de Ibo recebendo um pequeno subsídio em troca do reconhecimento do poder português ( como suzerano?) entre ca 1780 e 1836 aproximadamente. Durante este periodo a principal povoação portuguesa ao norte de Ibo situava-se na ilha de Vamizi (Amiza), onde havia uma igreja visitado uma ou duas vezes por ano por um padre. O seu domínio incluia também as aldeias de Mocimboa e Muluri no continente. Havia indubitavelmente algumas chefaturas com as quais as autoridades portuguesas tiveram contactos. Há no entanto poucas referencias a eles. Também sobre o estabelecimento de alguns chefes yao, possivelmente já na primeira metade do séc. XIX, nesta zona tem poucas informações.

A costa norte de Moçambique participava nas mudanças e adaptações tecnológicas do período mercantil. Isso permitiria desenvolver e adaptar o conceito de desenvolvimento e subdesenvolvimento ao tempo pre-imperialista, mas também depois, operacionalizando-o como capacidade ou incapacidade de acompanhar o desenvolvimento e innovações feitos em outras regiões, citando o fracasso do estado de Congo de introduzir navegação no mar alto no séc. XVI e XVII, quando tentou escapar ao cerco português. Tanzania tem exemplos como navegação e plantações de cravo e açucar, podendo-se culpar talvez a colonização como factor na interrupção parcial do desenvolvimento técnico e económico por uma ou duas gerações. Transferência de tecnologia e algum capital eram factores críticos. Moçambique tem os panos de Milvane, construçao de navios cerca de 1770-1830, que ainda desapareceram no tempo mercantil, a não ser barcos mais pequenos, que se mantém p.e. em Pemba, Mocimboa da Praia.

A ilha de Querimba tinha uma casa de pedra e cal do modelo que também existiu em Kilwa desde o séc. XIII. Talvez ainda existiu em 1609 (Reimão 1609, Liesegang 1988), veja também 6.2. As capelas construídas no séc. XVI com um amplo adro seguem modelos portugueses.

No início do séc. XIX os principais representantes do governo português viviam quase exclusivamente nas Ilhas Querimbas, começando em Quisiva, a mais austral das Querimbas. Quissanga e a zona de Arimba eram a as únicas zonas na zona costeira faixa costeira fora das ilhas com representantes directos do governo portugues. Arimba era a base da família de Calisto de Morais, estabelecida talvez no início do séc. XVIII que dominava a zona já por volta de 1770-80 e cujos descendentes ainda tinham um certo poder no séc. XIX.

O interesse comercial foi talvez o principal motivo para estabelecer contactos, um segundo bastante forte deve ter sido a chamada colonização senhorial, através da qual já por volta de 1540-60 as ilhas devem ter sido ocupadas. Em Querimba, a mais fertil das Ilhas, Diogo Rodrigues Correia, “o primeiro senhor desta ilha” que tinha edificado a igreja de Nossa Senhora do Rosário, já tinha falecido antes de 1592 e os filhos estavam administrando a ilha (Santos 1609, Boxer ).

Cerca de 1764 o regime municipal foi extendido na África Oriental e Ibo ficou vila e município com eleições regulares para a câmara municipal.

As ilhas habitadas com presença der portugueses eram no séc. XVIII-XIX principalmente Querimba, Ibo, Matemo e Vamizi, mas Santos mencionou para 1592 dez territórios e ilhas senhoriados por portugueses e uma por um senhor mouro, na ilha de “Malinde”. As povoações costeiras com fraca pesença portuguesa incluiram Arimba Quissanga, Olumbwa, Pangane, Mocimboa, Muluri, Meningane (Palma) e Tungue. Os últimos dois seriam ocupados ou destruídos militarmente em 1887. Antes tinham pertencido por duas ou três décadas ao sultão de Zanzibar que ali tinha mantido por uma guarnição para controlar os chefes locais, de origem "shirazi", como se identificaram em 1988.

O fim do regime absolutista português em 1834 também teve repercussões no Ibo. Os novos governadores mandaram riscar a correspondência registada dos seus antecessores em vários livros de registo. Um antigo secretário geral do governo geral, Diniz Costa, hábil contabilista, foi mandado degredado da Ilha de Moçambique para o Ibo e morreu rápidamente. A partir de cerca de 1838 até 1842 houve três rebeliões dos soldados e residentes contra os novos governadores militares mandados para o Ibo. Houve casos paralelos em outros governos subalternos como Inhambane e Sofala, mesmo Lourenço Marques, aonde se revoltaram soldados. Em parte as rebeliões estão ligados a movimentos politicos na metrópole, em outros casos constituiam revolta com raizes locais contra atitudes ditadoriais e centralisadoras de rendimentos do contrabando de escravos, que os goveradores militares pretendiam levar para os bolsos deles. De certa maneira seria uma revolta de cidadãos e contrabandistas locais contra um regime que disfarçava a sua corrupção. Apenas Neves 1878 descreve o sistema de “bois”, já que perús não parecia suficiente, mas em referência a Lourenço Marques e talvez Inhambane. Mas no norte não deve ter sido diferente. (Liesegang (1990: 93-98) analisou uma revolta em Inhambane em 1851).

3.3. Desafios à presença portuguesa: Omanitas, piratas, Zanzibar etc.

Desafios à presença portuguesa vieram, nos séculos XVIII e XIX, de várias quadrantes: Os omanitas ameaçaram a costa de Cabo Delgado provavelmente depois da queda de Mombasa em 1699, expedições de piratas vindos da costa noreste e oeste de Madagascar ameaçaram a costa de Cabo Delgado. Rodrigues (2014: 309-210) refere-se a ameaças de Omanitas contra Amiza e Querimba a partir de 1675. Em 1669 embarcaçoes swahili tinham saqueado a ilha de Moçambique, sem tomar aparentemente a fortaleza (ibid). Se saqueiaram a povoação, certamente também podiam ter atacado as ilhas Querimba. Só em 1790 a fortaleza de Ibo ficou pronta.

No início do séc. XIX os Sakalava do nordoeste de Madagascar, como já antes os betsimisaraka de contra-costa oriental começaram a especializar-se em guerras e pilhagens marítimas. Em 1805 eles atacaram um navio franco-português em Domoni na ilha de Ndzwani (Anjuane). Quase na mesma altura devem ter chegado na costa africana. Em 11 de Novembro de 1808 o governador português de Cabo Delgado referiu que os "Bessimissarcas" [Betsmisaraka] tinham estado três vezes na Ilha de Querimba. O capitão-mór desta zona, Manuel Onofre Pantoja, entrou numa aliança com um chefe makhuwa, “Malella”, que ajudou com 800 homens. Não obstante de que a campanha tivesse corrido mal para os habitantes costeiros, os malgaxes retiraram-se para norte e avançaram hostilmente sobre Pangane e Mocimboa. O objectivo não parece ser a conquista, mas a pilhagem e transferêcia de recursos para Madagascar. Parece que a força só se retirou da costa no início de Janeiro de 1809, tendo raptado um bom número dos habitantes das ilhas Querimba e do continente, p.e. em Arimba e Quissanga, incluindo alguns elementos de famílias mulatas donas de terras.

Em 1816 e 1817 ouve-se outra vez de piratas que tinham atacado Cabo Delgado. Um grupo actuava perto da Ilha de Wamizi e foram vencidos, antes de Março de 1816, por "Axana Asane, Governador de Tungue". Este escreveu no ano seguinte aos portugueses e mencionava mais detalhes. Segundo eles havia dois chefes de Sakalaves, Nasiri e Sicandar, o primeiro teria aprisionado 30 e o segundo mais de 300 pessoas. Nessa alturos habitantes estavam um pouco melhor prevenidos, tanto ao sul como ao norte do Rovuma. Por isso e devido a naufrágios desastrosos no mar, de ataques Merina do interior de Madagascar aos Sakalava as pilhagens acabaram depois de 1820.

Na década anterior não havia só inimigos vindos do mar, havia também conflitos entre portugueses e chefes e populações do hinterland:

Em 26 de Fevreiro de 1807 o governador de Cabo Delgado, António Alberto Pereira, se queixava de um chefe Mutuga, que desinquietava as populações entre Quissanga "principal habitação dos mouros" e o rio Lurio. Estaria fixado no "Rio de Tare, onde da acolhimento aos pangaios dos mouros, que ali aportão em grave prejuizo dos direitos Reais..". Isso não era o único foco de desinquietação, "porque os do Norte desde a Quissanga até Amiza [Wamizi] todos são pequenos assaltos, que os Macuas e Macondes vem dar a maior parte, cauzados pela nossa gente, que pegam e vendem qualquer cafre ainda forro.."

Na documentação moçambicana existente, parece ser isso a primeira menção do nome Makonde.

Em 1810 outro ofício confirma um estado latente de razzias do "pequeno regno Maconde" de onde se atacavam "escravaturas nas maxambas" dos portugueses no continente e para aonde fugiam escravos.

Um outro contestatário era o "xeque de Tungue", que provavelmente no fim do séc. XVIII construiu uma casa apalaçada em pedra, inicialmente talvez com um pátio, com um teto carregado por colunas, possivelmente com ajuda de um mestre que veio dos Comoros onde existiam casas semelhantes com base rectangular.

Cerca de 1805 era considerado "desobediente". Mais tarde perde a independência, mas a favor de Zanzibar.

Extensão do poder de Zanzibar incluía a zona a sul de Cabo Delgado antes de 1887 já mencionados acima. O sultão de Zanzibar mandou para ali um governador e uma pequena guarnição cerca de 1870 que ficaram ali até 1887 (cf. Bennett).

4. Estrutura regional, étnica, etnogénese e identidades em Cabo Delgado

4.1 Introdução

Trataremos aqui em primeiro lugar a terminologia regional, depois a étnica. Quando falamos de grupo étnico, referimo-nos em primeiro lugar a língua falado no dia a dia em casa e com os visinhos.

Toda a população, a excepção de alguns imigrantes swahili, indianos e europeus na zona costeira pertencia por volta de 1900 a sociedades de sistemas de sucessão matrilinear. Os principais grupos eram os makhuwa, makonde e mwani. Os makhuwa eram ainda subdividos em subgrupos como chaca e mmettho. Desde ca 1840/50 pelo menos existiram também alguns yao na zona vindos em uma das vagas que levou os amalambo a amasaninga com os machinga para a costa, e desde a década 1860/1870 alguns "mafíti" (grupos yao e ngindo influenciados por ngoni, que tinham chegado por volta de 1846 nesta zona, na parte alta do Niassa e região de Songea). O grupo étnico-linguistico é de solidariedade limitada, não constituia um grupo politico-militar, não era base de um estado. O estado baseava numa linhagem ou aliança de duas ou mais linhagens de diferentes clãs. Em alguns casos têm talvez estruturas de sociedade civil ultapassando o nível de chefatura. Estão ligados aos clãs, que têm represenantes com títulos hereditários. Numa fase tardia têm também redes de irmandades islâmicas. Entre Zambezi e Rovuma existiram grupos étnico-regionais, com nomes como makhuwa já documentados no séc. XVI/XVII p.e., por João dos Santos. É muito provável que incorporaram elementos das primeiras migrações bantu. Além disso havia clãs que de um lado subdividiram grupos etnicos, mas de outro ultrapassaram os limites de grupos étnicos. Exemplo os laponi, grupo chaca do Makhuwa, o importante chefe Mwatuka, mas representado também entre os Yao.

Dialectos falados, conceitos regionais talvez dão mais algumas pistas (ver em baixo)

4.1.1. Reconstituição da história. O problema da telescopação e de-telescopação

Num trabalho bem conseguido sobre as rotas comerciais, centrado nas rotas que passam pela zona mmetho no sudoeste da província, Brito João (1993) anexa algumas citações sobre migrações. Nas sinteses apresentadas (Brito João 1993:176, 180, 182-3 nota 10) toda a actividade migratória está concentrada no séc. XIX. Surge a suspeita de telescopações, do encurtamento de tradições atravês da eliminação de gerações e identificação errada de Maravi com Nguni, isso já na tradição oral.

Movimentos que tem alguma possibilidade de uma datação externa estão ligados aos movimentos marave e pre-marave e ao grupo laponi, bem como o movimento dos Maseko e Magwagwara e Mafites na segunda metade do séc. XIX. “Lapones” bem como o chefe Mwatuka já foram mencionados em atestados ligados à campanha de forças de Cabo Delgado contra o hinterland de Mossuril, São provavelmente ligado ao grupo Xaka ou Shaka. Há também um grupo makhuwa desigado como ekoni e um grupo com supostas ligações explicitas com os marave, talvez de Muzura. Estes três não tem nada a ver com o grupo nguni, com o qual foram confundidos. O nome clânico ekoni que aparece ligado a um grupo importante, não obstante a semelhança do nome, não tem qualquer ligação com os Nguni ou Ngoni do séc. XIX; talvez com os marave. Parece evidente que nas tradições referidos por João (1993: 180) os marave (de Muzura?) foram substituidos por Nguni, fazendo um salto de mais de 200 anos.

Do levantamento feito aqui conclui-se que existiram, no início do séc. XVIII termos de grupos clânicos (como laponi), e nomes de chefaturas, documentados no séc. XIX (Ver Medeiros (1997), Branquinho (1969)).

As tradições de origem e migração que A. J. Dias e outros autores (R. Moser 1984) reconstituíram, seriam genuinas? Dias mostrou que migrações de grupos étnicos muitas vezes só eram admitidos por informantes depois de uma discussão, sabiam de migrações das suas famílias. Carvalho 1989:21-2 aceitou-as e equadra com A.J. dias na feração Marave. Havia uma ligação Makonde aos Matambwe e Ndonde.

A presença de alguns lexemas que relacionam os Makonde ao grupo do Zambeze, tanto shona-karanga como chewa, como choba para varíola, em vez de ndui, relacionado com Swahili e Makhuwa (etthuwi), aponta nessa direcção e permite relacionar grupos como os Makonde com os Mwera e um grupo ligado ao grupo marave que teria utilizado o vale do Lugenda para chegar à costa. Lexemas para clã (likola), mwitu (mato, cf. Adam 1993:49) apontam na mesma direcção. Isso relaciona o núcleo Maconde com as migrações entre os séculos XII e XVI, que são por enquanto diffíceis de diferenciar.

Muzura parece ser uma figura histórica do séc. XVII, por volta de 1620, lá aonde é referido (Nampula) deve fazer parte da expansão marave.

Penso que a fixação de um estrato Laponi entre o século XVII e XVIII, talvez ainda no início do séc. XIX, com Cuamba e Maúa (Muwa). Eles devem fazer parte de uma dinâmica largamente interna, talvez aquela ligada no sul da Zambézia e em Nampula aos Lolo ou Lomwe.

É possivel que a análise de um leque maior de fontes orais e orais já registados dê uma imagem mais compreensiva.

4.2. Comunidade de muitos elementos de cultura e oposição das identidades

O senso comum do período do nacionalismo étnico que unia africanos e europeus no século XIX e XX tratava os grupos étnicos como grupos totalmente diferentes, com língua, comportamentos, tradições próprias que os dividiam. Visão de unicidade de cultura podia servir de base para etnocentrismos, que um relativismo cultural não mitiga facilmente. A etnografia particularista (Carvalho 1989, Dias 1964-70, West) podia, muitas vezes involutariamente, apoiar esta posição na medida em produzia conhecimento que isola os grupos étnicos. Em contrapartida, a etnografia comparativa da região norte produz uma visão de conjunto, de toda a região, que corrige a particularização e permite destacar heranças comuns. Se estudarmos elementos culturais como organizações de jovens focados por Holzhausen 20.. em relação a Nangade vamos descobrir que por volta de 1920-30 os Yao etre Mwembe e Chiconono e Nianja do Lago possuíam um organização semelhante que era a base de fenómenos culturais como certas danças como ganda e outros . Talvez foi facilitado pela formação de grupos que tinham feito a circuncisão ao mesmo tempo. O uso de árvores como maprounifolia (musolo, ntholo, etc.),

Figueiras como indicador do lugar de culto para antepassado parece remontar ao primeiro nível de expansão bantu, o uso de imbondeiros a uma das fases da expansão lumbo ou marave. O conceito de fabricação de leões por feitiçeiros parece unir todas as populações da zona norte. O feitiço de guerra comum, o rabo de guerra, já tinha inspirado Weule a utilizá-lo como frontispício para o seu relatório de 1908. Os makhuwa costeiros também tinham chengos, povoações fortificadas como os makonde, importando para isso um nome que é provavelmente derivado do swahili, embora o fenómeno apareça também no vale do Zambeze como musito, floresta (Isaacman).

A comunidade de cultura não surpreende, pois quase todos os grupos tinham uma componente marave e estavam em contacto. As línguas e elementos culturais que podem evoluir em anos e décadas como danças servam para diferenciar, daí as diferenças entre os Makonde da Tanzania e de Moçambique. Tinham danças características diferentes.

No fim do séc. XIX o armamento de todos os grupos tinha como arma mais prestigiosa a arma de fogo, e essa vinha de fora, tendo sido incorporado para os maconde nos ritos de casamento..

4.2.1. Mitos de origem e mitos existenciais

Podemos distinguir os mitos de origem dos próprios habitantes da zona dos mitos de origem sintetizados e formulados pelos cientistas sociais e outros espectadores externos, e ainda os mitos de origem proprimente ditos dos mitos que conferem prestígio (mitos existenciais) e que podem estar ligado a etnocentrismos. Mitos de origem formulados pelos próprios são poucos. A maior parte dos conhecidos referem-se aos Makonde, possivelmente um dos últimos núcleos populacioais a se formar ou fixar na actual província. Madiquida (2007:51) mencionou que ouviu da sua avó em 1991 tradições de migração das zonas baixas, mas também de assimilação de Makuwa para Makonde. Existem mitos de origem para subgrupos dos Makhuwa existem (João 1993).

As construções académicas partem de conhecimentos, percepções e paradigmas existentes nos momentos específicos. O etnógrafo e antropólogo alemão Karl Weule classificou em 1908 as populações da actual Tanzania e considerou os Bantu as “populações de base”, comparado-as com cuxitas e grupos nilóticos e talvez Sandawe e parentes (Khoesan?). Desde ca. 1960-70 sabemos que a sequência deve ser provavelmente atepassados linguisticos do Sandawe, cuxitas (e centroafricanos a zona do Lago Vitória), bantu, grupos nilóticos, deixando os bantu a serem considerados a camada de base, para aparecerem num contexto posterior. No caso de Cabo Delgado os antepassados do grupo makhuwa devem ser considerados descedentes do primeiro grupo bantu relacionado com a corrente Kwale-Matola. Implantaram-se na região, criando laços identitários ou ideológicos, com santuários (Adamowicz). Depois, por volta do ano 800 AD, vieram os primeiros swahili, caracterizados pela “triangular incised ware” (TIW). Duzentos a trezentos anos depois os produtores da tradição Luangwa-Lumbo chegaram e se fixaram em alguns núcleos, talvez até construíram estados. Mas foram culturalmente ou linguisticamente foram absorvidos pelos Makhuwa, podem ter absorvido influências swahili, integrando-se nos Mwani ou desenvolveram novas identidades, como a dos Maconde (Makonde, Mwera).

4.3. Os grupos étnicos

4.3.1. Os Makhuwa

O termo "macua” [Makhuwa] foi pela primeira vez usado, ao que parece, por João dos Santos na sua obra Ethiopia Oriental, publicada em 1609 . É um livro baseado em grande parte a sua experiência em Moçambique na década dos 80 do séc. XVI. Makhuwa deve ter sido de uso corrente na costa de Quelimane até Cabo Delgado por volta de 1590. O makhuwa deve representar o grupo bantu mais antigo, mas na altura em que escreveu Jooão dos Santos, já tinha absorvido influências dos Bantu occidentais, que trouxeram talvez a olaria de tradição lumbo e o imbondeiro como local de culto.

Referências da estrutura clánica vem de Melo Branquinho 1967, Medeiros que trabalhou nesta zona, de João (1993).

Subgrupos dos Makhuwa são Metho (Mmettho, meetto) e chacas etc. Ao oeste tem Chirima, não muito diferente de metho. O grupo mais importante para Cabo Delgado eram certamente os Mettho.

Muitos dos Makhuwa são Marave linguisticamente assimilados . Estes invasores vieram em diferentes grupos num espaço de mais de 400anos. Já no séc. XVI João dos Santos constatou que o chefe Maurusa perto da Ilha de Moçambique era considerado imigrante e conquistador tendo vindo ainda antes de vaga dos Zimba.

Há documentação anexa a um requerimento particular (Boleo, Joaquim José das Costa Portugal) que informa sobre uma expedição militar de forças locais em 1784 que se dirigiram de Arimba, Pemba a Monapo e Mossuril. Este documento fornece alguma informação preciosa sobre o interior makhuwa, incluindo alguns chefes, o grupo laponi etc..

4.3.2. O litoral e os Mwani

Os grupos Mwani que se encontram na costa principalmente nas ilhas Querimba e continente adjacente tem às vezes sido chamado de swahili. O termo swahili aparece na documentação portuguesa apenas por volta de 1880, e nessa altura ainda não no sentido que conhecemos hoje. Nas primeiras 7 ou 8 décadas do séc. XIX o termo swahili em cartas da costa de Quiloa (Tanzania actual) era traduzido por "mujojo". Para os portugueses pouco entendidos, um "mojojo" era um mouro escuro. No makhuwa e naharra actuais "mujojo" designa os naturais das ilhas Comoro e no mwani e makwe de Cabo Delgado os "falantes do swahili". O bacharel em direito e Secretário Geral do Governo, Joaquim Almeida Cunha, que se interessava pela linguística, parece ter sido o primeiro a tomar conhecimento e utilizar o termo swahili com conotações linguisticas, entre 1880 e 1884. Mas esse uso não vingou nessa altura em Moçambique com esse significado. Até depois de 1950 para muitos portugueses escrever com caracteres "suaili" ("suaire", etc), era escrever com caracteres árabes, quer nomes próprios, quer textos que podiam ser em língua swahili, makhuwa, mwani, árabe, etc. Depois o termo foi utilisado por Rita-Ferreira e outros em trabalhos de índole etnográfica para designar populações costeiras cuja cultura material se assemelhava muito a dos swahili da costa ao norte do rio Rovuma.

Essa falta de precisão influenciou tambem as classificações étnicas ou étnico-linguisticas publicadas. Parece que do ponto de vista linguístico nenhuma das línguas maternas faladas em Moçambique pode ser classificada como swahili, pelo menos se partirmos do swahili de Zanzibar. Talvez o Mwani seria Swahili se incluirmos o dialecto antigo Mgau e os dialectos dos Comoros como parte de um Macro-Swahili. Segundo o levantamento lexico-estatístico de Rzewuski os vocabulários de mwani (kimwani, quimuane) e o swahili padronizado da ilha de Zanzibar tinha na 2ª metado do séc. XX, apenas uma correspondência de 60%, o que os tornaria mutuamente incomprensíveis para pessoas sem adaptação. A distância entre o Swahili e o Makwe de Tungi do distrito de Palma é ainda um pouco maior. O ekoti de Angoche, esakatci de Sangage, naharra, etc. ainda são mais afastados e podem ser classificados como linguas ou quase dialectos costeiros isolados do emakhuwa, do qual tem a mesma distância. Foram fortemente influenciados pelo swahili e árabe. Tem em comum o seu vocabulário religioso musulmano.Podem ser considerado línguas parentes do makhuwa, que escreviam em caracteres árabes. O que seria provavelmente necessário, é transcrever e traduzir as cartas e outros documentos que existem desde o séc. XVIII para saber qual foi a língua utilisada pelos escrivões dos chefes quando se correspondiam com o governo na Ilha de Moçambique. E possivel que tenha sido realmente o swahili ou mwani, porque R.C.F. Maughham, que esteve na ilha de Moçambique como consul da Grã Bretanha, afirma que o chefe "Marave" ao sul de Monapo falava swahili e diz ter recebido, cerca de 1899, uma carta em "kiswahili" escrita com caracteres árabes.

4.3.3. Os Makonde

Quando o nome makonde aparece na documentação existente no séc. XIX, refere-se a um povo guerreiro no hinterland das ilhas Querimba. Uma das fontes sobre as ilhas Querimba escrito em 1960 refere que a população era assolada por espiritos "makonde". Esconde provavelmente uma experiência historica mais antiga, remontado ao séc. XIX ou XVIII.

Os habitantes do planalto têm parentes próximos entre as populações das zonas baixas circundantes, até ao sul do rio Messalo [Muhalo] em Palma. Estão entre estes os Makwe e Maraba de Palma e Mikindani, em contacto económico e social com os Swahili. Há diversas tradições sociais que não tem em conta a existência do reino Mongalo (Mugau) que deve ter sofrido influências do Swahili.

Há ainda, desde o séc. XIX, imigrantes Yao e Ngoni e assimilados aos Ngoni que aumentaram a heterogenidade.

Do ponto de vista cultural inserem-se no grupo austral da parte oriental da chamada cintura matrilinear de África, estudada por Audrey Richards, Mary Douglas e Hermann Baumann. Deste grupo austral fazem parte os Makhuwa- Lomwe, Chewa-Nyanja, os Yao, Mwera, Matambwe, e os Maconde e Makonde dos respectivos planaltos do norte de Moçambique e sul da Tanzania, entre outros. Em muitos deles encontramos danças com o uso de máscaras no fim de períodos de iniciação masculina e feminina. É possível que esta cintura tenha de facto uma origem complexa. Por um lado existe uma hipótese que os Bantu eram matrilineares quando começaram as migrações, mas houve ainda os movimentos transversais na zona ao norte do Zambeze. No que toca ao nome notamos que existem Makonde ao norte do rio Rovuma e Makonde ao sul do Rio Rovuma, mas que os Makonde ao norte do rio Rovuma chamaram, pelo menos entre 1880 e 1940, os Makonde ao sul do rio de Mavia ou Mabiha. Existem de facto diferenças linguisticas entre ambos os grupos (Lyndon Harries, Whiteley?). No entanto, em Moçambique, portugueses e outros residentes no litoral da zona de Ibo e Quissanga chamaram, já no início do séc. XIX, os habitantes do interior do planalto dos Macondes de Makonde e não de Mavia.

Alguns autores assumem que os Matambwe no vale do Rovuma perto da confluência com o Lugenda são os antepassados dos Makonde (Dias, 1964: ).

A utilização de termos para varíola (ntomba, choba) em vez de swahili ndui (etthuwi em makhuwa) sugere que de facto haja uma ligação deste grupo com a África Central.

Maconde (ou Makonde) é possivelmente um termo de origem geográfica, referindo-se a um certo tipo de ambiente, um mato de planalto e de interior, geralmente secundário, formado encima de campos abandonados, em pousio. Este mato é relativamente fechado e cresceu num solo arenoso relativamente fértil, que permete boas colheitas por alguns anos. Por isso permitiu a formação de densos núcleos de população. Este termo geográfico serviu para distinguir povos de certas áreas do interior daqueles do litoral, conhecidos por Mwani. Mas há zonas aonde os Makonde chegam quase à costa, como em Palma. Ali entraram numa simbiose com a vida marítima e foram chamados de Makwe. Portanto, o significado de "makonde" pode ter sido "as matas do interior" opostos à zona costeira perto das ilhas Querimba e foz do Rovuma, conhecido como pwani, costa. O nome de "Moconde", um chefe ao interior de Sofala no início do séc.XVI, pode derivar da mesma raiz..

Parece, portando, que originalmente Maconde não era um termo étnico-linguístico. Era uma referência a uma pertença regional, tal qual como o seu antónimo Mwani, que significa litoral, costa, baía, como o termo Nyanja (do lago), Yao (originalmente habitantes de um certo tipo de formação montanhosa), mas a experiência histórica e oposição a grupos étnico-culturais como Makhuwa também permitiam operacionalizá-lo como termo etnico-cultural.

As primeiras referências preservadas ao nome Maconde na documentação portuguesa do Ibo, que praticamente só se inicia por volta de 1770, são de 1807 e 1809. Na altura registaram-se entre Quissanga (perto de Ibo)e Amiza (Vamizi), na altura no extremo norte do povoamento português, crónicamente pequenos assaltos de "Macuas e Macondes" em retaliação a” ataques e venda arbitrária dos seus irmãos". Em 1810 outro ofício confirma um estado latente de razzias do "pequeno regno Maconde" de onde se atacavam "escravaturas nas maxambas" , portanto zonas agrícolas, dos portugueses do Ibo no continente e para aonde fugiam escravos.

Era cinquenta anos antes de as primeiras ondas de povos movimentados pelos Mfecane terem atingido esta zona por volta de 1860-70. Esses dados empurram para trás tradições sobre migrações do interior que vários autores encontraram (ver Dias 1964:60 segg) e que os dois grupos de Makonde partilham com vizinhos. Segundo estes vieram do curso superior do rio Lugenda. Não se pode indicar uma data para esta migração. Tanto se poderia ligar a migrações ligadas aos Marave e Zimba do séc. XVI-XVII como a movimentos anteriores de grupos representados pela tradição cerâmica de Lumbo (séc. XIII-XIV ou XI-XII), que se encontra em muitos sítios de Nampula e Cabo Delgado e que pode talvez ser subdividido em várias fases e parece ancestral à cerâmica Maconde, policromada e com impressões.

4.3.4 Outros grupos étnicos

Elementos novos Mafiti ou Ngoni a partir de ca. de 1870. Parte eram elementos associados ao grupo Maseko, que ficaram atras quando grupo decidiu voltar precitadamente para a zona ao oeste do rio Xire. O principal lider era Gambagamba Kaindi. Aliaram-se com chefes Maconde ou costeiros ou impunham-se simplesmente. Parte destes Mafiti eram de origem Ngindo, um grupo do Alto Rovuma.

Relatos sobre guerras e razzias falam muitas vezes de alianças ofensivas de vários chefes.

Imigrantes Yao, alguns ligados ao chefe Machemba, que veio em 1899 da Tanganyika e outros já há mais tempo na zona.

4.4. Os estados africanos em Cabo Delgado ca. 1450-1900

4.4.1 Introdução

Nenhum dos investigadores que trabalharam na costa tiveram informação sobre a história mais antiga ou ocasião de investigar se aida existem traços sociais ou materiais dos estados antigo. Vestígios a estrutura e nas tradições devem exisitir. Até já passaram alunos pela UEM que eram naturais da zona, mas que não foram capazes de articular por escrito o conhecimento que familiares ou eles possuíam do passado.

4.4.2. Estados da tradição lumbo e swahili: Mongalo e Moluane

Nos mapas e na descrição de Santos econtramos dois estados Moongalo: um perto de Quelimane e outro perto do Rovuma. Como na formação Marave há outras duplicações de nomes, O segundo Mongalo estava situado ao norte do rio Rovuma mas pode origialmente ter exercido poder ao sul do rio. Falta qualquer descrição detalhada deste

estado. O nome Mongalo sobrevive na forma Mugau na zona de MtwaraMikidani.

Referir neste contexto, que no livro de João dos Santos se encontra ainda um termo, “Embeoe” [Mbewe?] para as “terras que correm pelo sertão dentro desta costa”.

O estado Swahili de "Molluane" na ilha de Matemo (Matemwe) e continente adjacente tinha aparentemente já desaparecido quando a ocupação portuguesa expandiu no séc. XIX. João dos Santos referiu em 1609 os “panos de Milvane” tecidos de seda ou de algodão, ou de rafia que originalmente se fabricavam ali no continente, em parte desfiando tecidos importados (Santos 1999: 263). A estação vista por Santos cerca de 1585 sofreu de erosão e parece ter sido afectado pelo projecto hoteleiro implantado nesta ilha depois de 1990. Foi referida por Madiquida (2007) baseada uma visita de 1997 como existindo na parte noroeste da ilha aonde já foi referida por Santos. Tem restos de um mihrab de uma mesquita (Madiquida 2007: 99, pl. 5.2). A ilha de Matemwe (Matemo) tem solos menos profundos que Querimba e por isso os habitantes praticavam agricultura no continente. Não era apta à prática de plantio de coqueiros.

Tungue parece ter sido ocupado por uma dinastia swahili-moçambicana depois de ter sido abandonado pelo arrendatário português que esteve lá em 1740 (Boxer 19 , Liesegang 1988).

4.4.3. Algumas luzes no fim do séc. XVIII e meados do séc. XIX

Os primeiros nomes documentados, além do sultão de Tungue são chefes a volta da báia de Pemba e perto de Quissanga e Arimba. A existência de Mazeze, Muaria e Mugabo já tinha sido documentada em 1783/4. Mugabo foi ainda mencionado em 1802 e por volta de 1855. Em 1784 ele era considerado, por João de Morais, membro da linhagem dos Calisto de Morais de Arimba, "a maior autoridade entre todos os Macuas, e Pay de todos os regulos desde a jurisdição das Ilhas [de Querimba no Ibo] até as terras de Namacoma".

Nas tradições de Tungue os decedentes da família dos chefes reclamam para si uma descendência do grupo swahili shirazi. Existem algumas tradições de origem que as associam a linhagens da região ou mesmo Angoche.

Há indícios de que no fim do séc. XVIII e início do séc. XIX a região mmeetho de Montepuez estava ligado principalmente ao nome de Mwalia (Mwaliya). Um escravo recapturado pelos britânicos e libertado na Serra Leõa, que talvez tinha sido capturado por volta de 1840 em Mettho perto de Mwaliya, lembrava-se dele quando foi entrevistado pelo missionário Koelle, que recolhia amostras de vocabularies que publicou em 1856. O missionário britânico W.P. Johnson, que vivia e trabalhava por volta de 1880-87 entre os Yao do Niassa, preferia também referir-se a Mwaliya e não a Mweri ou Megama, nesta altura ambos pareciam estar ainda sem importância. Como referido acima, o Madigo ou Matico perece ter ganho importância na segunda metade do séc. XIX. Pertence ao grupo clânico Ekoni (Branquinho, Medeiros, João 1993: 176).

4.4.4 A situação no fim do séc. XIX e início do séc. XX

Em 1968 havia em Cabo Delgado cerca de 160 regedores (régulos, capitão-mores) africanos. No periodo precolonial os chefes independentes eram talvez menos numerosos em alguns dos distritos, mas em outros havia talvez mais autoridades independentes do que no fim do periodo colonial. A autoridade política estava portanto bastante dispersa. (Isso foi também um dos factores que contribuiu para o número reduzido de nomes de herois conhecidos da resistência anticolonial. Os resistentes tinham pouco poder e a sua acção eram episódios curtos).

Uma lista de 1896 menciona nos territórios de Cabo Delgado 24 chefes, alguns dos quais ja tinham tido alianças com o governo do Distrito de Cabo Delgado no Ibo, geralmente com o fim de facilitar trocas comérciais seguras do lado dos africanos e para “fingir” alguma soberania por parte dos portugueses, como evitar roubos de mercadoria. Significavam uma aliança e é um território jurídico comum..

Na zona costeira governaram:

Em Quissanga:

-Boana Chaque Abdul Latife, sendo o título do chefe "Bwana Chaque" ou “Bwana Chaca”. Em Quissanga o chefe Bwana Chaca que já no séc. XIX uma figura indispensavel nos contactos com o interior e ainda em 1932 tinha um grande prestígio e servia de intermediário para a zona vizinha. Segundo Torres (1933:20) o seu prestígio e poder se estendiam até Bilibiza e Muagide.

- Abdula bin Aly

À pequena distância de Quissanga:

- "Muguia Muguida, regulo de Muambi" [da zona de Muagide?]

No interior de Quissanga:

- Fugama [Fugania]

Querimizi:- Moamba Chaque

Olumboa: -Issufo Bacar, "cheque nomeado pelo antigo governo [antes de 1894]"

A dois dias de viagem de Olumboa:

- Namileve. "Este regulo há tempos repeliu uma invasão de Mafites contra Olumboa, matando e aprisionando muita gente; veio a esta vila [Ibo] participar o resultado da Guerra, ao Governo da companhia, e pediu instruções , recebeu assim a nossa autoridade.."

No interior de Pangane:- o chefe aguerrido Muguellela

Changane:- Agy Mussa Bin Suffo

Pemba:- Sahide Aly: regulo com um vencimento. (Nota: Esse régulo já surge nos mapas da Baía de Pembe levantados na década de 50 por Romero e aparece já em referências anteriores como se vé abaixo. A sua base incluia uma zona húmida que garantia provavelmente um certa seguarança alimentar).

Na zona Maconde a cinco ou seis dias de distância de Quissanga:

-Muado "regulo muito importante do interior"

-Namagunguro (Maconde)

no interior de Mocimboa:

- Muamba, "regulo Maconde"

- Mucinge, "regulo residente" na zona Maconde, "assassinou em 1894 o regulo Mussara [=Mossaca?], na occasião em que fazia guerra a Mocimboa".

Perto de Mocimboa:

- Mutepa, filho do "ex-regulo Mussara da povoação de Massaninga", [provavelmente um chefe yao que teve a sua origem no grupo regional Masaninga no actual Niassa] que costumava defender Mocimboa da Praia contra "invasões das tribus macondes".

No caminho para Medo[Mmetho] e na região de Metho havia os chefes seguintes:

-Namicola, na povoação de "Puto, no interior de Medo". Este chefe era "irmão do regulo de Pemba, Sahide Aly. - É muito trabalhador e nas suas terra cultiva-se me grande escala tabaco, gergelim, arroz e outros cereais".

- Muére [Mweri] "régulo avassalado residente na povoação de Mucoriles". [Um regulo com este título teve uma recepção colorosa e com grande pompa em Maio de 1846 e voltou a manter contactos com o governo de Ibo em 1858. Nos anos 80 estava na principal rota de caravanas ao interior].

- Nambomo "muito importante, residente em Ditoa [?]"

- Petecula, em Mulôgo, perto de Medo

- Madigo,[ escrito também Mwatiko], residente em Medo, "muito superior em importância ao regulo propriamente dito de Medo, de nome Mualia"

- Mualia avassalado pelo governo[ este Mwaliya tinha sido o principal chefe de Metho por volta de 1840, segundo o relato de um escravo exportado por essa altura.]

- Nanganbue

- Muala .

Esta lista abrange os chefes perto da costa e junta aqueles na zona de Montepuez/Balama, junto a uma rota de caravanas. Faltam nesta lista talvez uma centena de chefes, principalmente aqueles longe das rotas principais dos comerciantes do Ibo, ou sem grande poder territorial nesta altura.

Incluem-se neste um segundo Mualia [Muaria] junto da costa, que tinha sido mencionado em 1783 e ainda no séc. XX era um dos chefes da zona de Chiure, um Megama mencionado como "Mwigama" em 1882 por Maples, bem como Mazeze na parte sul da Baía de Pemba e Mugabo. A existência de Mazeze, Muaria e Mugabo já tinha sido documentada em 1783/4. Mugabo foi ainda mencionado em 1802 e por volta de 1855. Em 1784 ele era considerado, por João de Morais, membro da linhagem dos Calisto de Morais de Arimba, "a maior autoridade entre todos os Macuas, e Pay de todos os regulos desde a jurisdição das Ilhas [de Querimba no Ibo] até as terras de Namacoma". Namacoma, título que ainda existiu em 1968, era um chefe mencionado várias vezes no séc. XIX. Vivia entre a baia de Pemba e o rio Lúrio. Um outro chefe, Said Ali, dominava apenas a margem norte da Baía de Pemba, como se depreende de um ofício de 1841.

No séc. XIX aparece várias vezes o chefe Maruha (Marua). Foi mencionado por Elton, que viajou nesta zona em 1876. O chefe Maruha dominava nesta altura principalmente a zona sul do rio Lúrio. Nove anos depois Serpa Pinto descreve-o ainda como muito poderoso. No fim do século Amorim dá a mesma indicação no relatório sobre a ocupação do posto Lurio. O nome aparece ainda nas listas dos regedores de 1968, mas o antigo poder tinha desaparecido.

Outros chefes no extremo norte parecem também ser pouco representados.

Uma possivel linha de investigação seria a recolha sistemâtica das pertenças clânicas e das tradições de migração e conquista ligadas aos antigos estados, continuando estudos anteriores (João 1993: 176-7)

Fugas de Marrupa para Mwaliya, fugindo dos Magwangwara cerca de 1885 também podem ter influenciado a distribuição do poder nesta zona.

4.4.5. A organização dos estados

A bibliografia destacava a algus aspectos visíveis no tempo colonial, como certos aspectos de organização acima da chefatura, como o facto ao nível de grupos clânicos tiver havido cooperação ao nível de confirmação e instalação de chefes tradicionais. Há alguns dados sobre o grupo ekoni. No caso das guerras precoloniais dos Maconde parece ter havido colaboração entre homes de varios territórios de humu. É possível que alguns lideres da resistência já tinham tido o papel de líderes de guerra.

Focado na bibliografia foi o papel da ampuiamwene , irmã do chefe, que nestes grupos tem um papel semelhante à hahane e mãe do chefe ao sul do Limpopo.

A aliança entre diferentes clãs não está muito bem analisado, a não ser a gemelagem entre diferentes clãs ou comunidades que une por exemplo comunidades na costa.

4.4.6. As chefaturas e a Companhia do Niassa

É um tema que tem relevância para o cap. 6. Entre os regulos há alguns na zona costeira que preservaram o título de capitão-mór, que parece ter sido um título introduzido no século XVIII. Foi também preservado em línguas africanas.

Os chefes tinham direito a uma certa percentagem dos impostos (mussoco), também mencionados nos acordos que puseram fim a resistências. (Foram publicados no B.N.).

De sublinhar que o sistema oficial de administração fazia parte do sistema colonial português em Moçambique com regulamentos a aprovados pelo Governo Geral, ou regulamentos da colonia transcritos no BN e tornados extensivos ao território do Niassa (incluindo Cabo Delgado). Regulos depostos e presos foram levado ao depósito de sentenciados na Ilha de Moçambique.

4.5.Estrutura social, estratos sociais, etc.

Etnógrafos no século XX salientam a existência de escravos livres e linhagens de chefes, que podemos designar de "nobres".

No quer toca às estruturas sociais talvez dizer que a iniciação masculina praticada pelos makhuwa, maconde, e mwani (circuncisão islâmica dos rapazes), parece ter sido, pelo menos entre os maconde, a base para uma estrutura incipiente de classes ou corporações de de idade. Jovens circuncidados no mesmo acampamente formavam mais tarde um grupo que manteve laços sociais. Geralmente reproduziam limites de linhagens territorializadas.

Os clãs e linhagens tinham autoridades como os mahumu, alguns dos quais foram no tempo colonial nomeados regulos. Outros mantiveram-se na sombra.

Regulos e homens "ricos” que tinham adquirido escravos eram caracterizados pelo termo "tajiri", de origem árabe ou arabo-swahili (Cota).

Um homem livre podia ser caracterizado como "maka" (em makua) ou "lungwa[na?]" em Mwani, associando uma origem estrangeira ou ligação com a costa e seu comércio. Homens livres eram também às vezes descritos com "adimos", possívelmente um termo que é derivado de "cultivar" e significava talvez "camponês".- Correspondia ao termo português “colono” nos prazos.

Escravos eram epotha ou mudja[zi]. Epotha é uma designação makhuwa (que tem na sua área sul ainda uma outra, adari, mais presente no sul na área Chuabo, e que é derivado do swahili, de um termo que significa escravo doméstico nascido em casa). Mudjazi provém do mundo cultural swahili. Epotha é um termo provavelmente de origem local. Está equadrado numa classe gramatical (e-i, cf. Filippi e Frizzi 2005) aonde aparecem também inovações, emprêstimos até recentes, termos abstratos como desigações de línguas, feminilidade. Filippi e Frizzi tiveram talvez conhecimento do estudo de Mary Douglas sobre a penhora de pessoas e incluem um texto que explica a escravidão domêstica atravês da penhora de crianças em tempo de fome (Filippi e Frizzi 2005: 116-7). Os escravos seriam as crianças não resgatadas.

Hoje existem grupos profissionais como construtores de barcos (carpinteiros =saramalas), pescadores do mar, trabalhadores de prata (ourives), escultores de madeira, talvez ainda alguns ferreiros, especialistas de construção de casas de barro (com laca-laca (tipo pau à pique) e adobe). Há pouca investigação sobre a hereditariedade destas profissões.)

No séc. XVI deve ter havido tecelões, que transformavam tecidos importados. Produtores de esteiras coloridas, mencionadas também no séc. XVIII e XIX produzidos com folhas de palmeira tingidos, provavelmente coqueiros, muguemas que tratam de coqueiros, produzem nipa (aguardente feito com vinho de palma). Os marinheiros e carregadores (manamazes ou pagaji), podem ser maridos de mulheres que cultivam e tornam-se cultivadores quando não têm serviço.

Em povoações nos quais havia construção em pedra precisavam-se de pedreiros, que existiam em outros pontos da costa como Kilwa. Queimou-se cal a partir de mariscos, cortou-se coral vivo para blocos leves para a construção de tectos, para preencher o espaço entre vigas de mangal que cobriam os vãos entre paredes de pedra.

O comércio, a navegação, a administração dava trabalho para europeus, brancos e mistos locais, imigrantes dos Comoros e de Zanzibar, e a partir da década dos 20 também de vez em quando indianas conhecido como Banianes, alguns dos quais vinham através de Zanzibar.

No censo de 1848 sobresaía em Mocimboa o comerciante "Momade Antumane", de 45 anos da "carreira de Zanzibar" que sabia ler e escrever e estava "estabelecido há muitos anos em Moçambique". Tinha também arrendado as ilhas de Lupululo e Tembuzi nos anos 1846-1850. Mais ao norte, em Muluri perto da ilha de Vamizi vivia "Buana Mataca, de 30 anos de idade, natural de Tungui", também negociante de "carreira". Este era certamente um dos “tajiri” ou ricos que ficaram na memória social.

Entre c. 1895-1914 Haji Simba Ibrahimo era um comerciante importante na zona de Palma, que mandava caravanas para o interior. Aparece em numerosos documentos. Uma acusação, provavelmente infundada, de ter colaborado com os alemães durante a primeira guerra mundial, parece ter acabado com a sua carreira, talvez mesmo com a sua vida. Não sabemos se foi exilado para a Ilha de Moçambique. No periodo a seguir à primeira guerra mundial indianos e europeus dominaram entre os comerciantes.

Um outro grupo local que perdeu a sua importância ao mesmo tempo eram os brancos e mulatos e descendentes de goeses das ilhas de Ibo e Querimba. Entre os seus principais representantes eram grandes comerciantes da Ilha de Ibo como Luis Gonzaga de Sousa , arrendatário da ilha de Vamizi (Amiza] em 1846-50, Vicente Africano Dias, etc.

Os primeiros "banianes" passaram e fixaram-se temporáriamente a partir de 1828-34. Passaram da Ilha de Moçambique a Zanzibar e vice versa. Por volta de 1850 encontramo-los bem fixados nas principais sedes do governo, começando a irradiar para zonas rurais. Expandem os seus negócios mesmo para as zonas onde a autoridade portuguesa é quase nula. Em Cabo Delgado foram registadas as licenças para o comércio e podemos estudar a expansão.

Os comerciantes e casas comerciais europeias com as suas "feitorias" (lojas e armazens) fixam-se por volta de 1870, adquirindo prédios. São em parte franceses, seguidos por alemães, suiços, etc.. Importam na região tecidos, armas de fogo, pólvora e outros artigos (sabão etc.) e exportam borracha.

Ao mais tardar por volta de 1900 aparecem no interior caçadores brancos, sulafricanos, alemães, britanicos, etc.. Um boer, Trigardt, foi acusado de espionar durante a Primeira Guerra Mundial, mas absolvido (Selvagem 1924: 90).

4.6. Notas sobre as religiões (texto em revisão)

Na região tem três grupos de religiões: As tradicionais, o islão e o cristianismo. As tradicionais foram só parcialmente estudadas. Incluem ritos para antepassados, outros aspectos, como as funções de lugares santos, referidos acima, são menos bem registastados.

O islão em Cabo Delgado foi provavelmente trazido por indivíduos que eram membros de certas confrarias. Na zona Yao do Niassa teve maior influência a Muridiyya por volta de 1880- 1910. Não sabemos especificamente quais as confrarias que se afirmaram em Cabo Delgado. É claro que é um islão de grupos sufi, que praticaram as suas festas, deram um papel as mulheres e canções de grupos musicais , estabeleceram madrassas e converteram homens e mulheres. Também grande parte dos comerciantes asiáticos faziam parte dessas redes, como se notava em 1919. O islão deve ter avançado para o interior já no séc. XVIII. Mas talvez não muito longe. Os chefes tiveram secretários que sabiam escrever com letras árabes, talvez por volta de 1840.

O cristianismo apareceu com a colonização portuguesa, um catolicismo celebrado por parochos até ao aparecimento de missões em Balama e Nangololo que teve maior impacto na população atravês das escolas. A escolarização islâmica teve um impacto mais reduzido no sistema colonial.

4.7. Notas sobre as relações de género (texto em elaboração)

Na moderna historiografia e na apreciação da situação social actual, estudos do género tem a ver com a discriminação social da mulher e rapariga. Mas a definição quase oficial dos estudos de género é que se estudam relações entre homens e mulheres socialmente construídas.

Na organização de mercados, vendedores de rua nota-se em Cabo Delgado que aparecem menos mulheres e meninas que no sul. Mesmo entre os cristãos do séc. XIX e antes em Cabo Delgado não se destacaram viuvas e outras mulheres como o fizeram na Zambézia. Mas a sociedade ainda não está bem conhecida.

De referir que as estatísticas elaboradas para as povoações portuguesas por volta de 1855 e publicados no B.O. tem um limite entre menores e os potencialmente adultos que está 12 anos de vida (exemplos em Liesegang 1990: 90). Grupos sem direitos cívicos plenos como os escravos foram contados segundo os mesmos princípios. Parece que as sociedades africanas limites semelhantes vigoravam e foram reforçados por instituições como as iniciações masculinas e femininas.

4.8. Conclusões

Y. Adam constatou com razão que as populações africanas do hinterland, incluindo os maconde, estavam integrados na economia mundial muito antes de serem submetidos ao regime colonial. Para casar precisavam vender géneros na costa para obter tecidos e as espingardas que eram o contravalor de uma esposa.

Havia também redes locais de comercio.

A temâtica de migrações e movimentos ressente-se da falta de investigações. Mas podemos já esclarecer a confusão nas tradições orais e história oral entre expansão marave (dos séc.s XVI-XVII e migrações dos nguni no séc. XIX).

Parece que o grupo Maconde encontramos sobrevivências de uma cultura comum com os Chewa, que explica talvez as danças com máscaras. As escarificações são um elemento que entre sociedades congéneres como Chewa, Nyanja, Yao, Makhuwa, Ndonde, Matambwe, Mwera já desapareceu ao longo do séc. XIX/XX. As tatuagens ou scarificações levaram a outras teorias ou mitos, segundo as quais teria sido o trafico de escavos que teria sido ligado ao surgimento, como referimos acima. Pode-se concluir que a tradição popular sobre origens merece confiança. Continua a melhor explicação no conjunto dos factos que conhecemos hoje. Não se pode derivar o grupo Maconde de refugiados das diminutas comunidades islâmicas e portuguesas costeiras, como paralelo aos quilombos, embora tenham entrado, p.e. no culto de possessão por espíritos, como elementos antagônicos dos espíritos Mwani da costa.

No que toca às identidades o mito de que zona maconde era a última zona incorporada em Moçambique colonial, com uma população com capacidade de resistência excepcional também não resiste bem à crítica histórica, como se mostrará no cap.6. A longa interacção entre os swahili da costa e os povos do interior, tanto makhuwa como makonde deixou traços. Entre os Makonde mais na cultura material, menos na religião (Madiquida 2007).

5. Periodização do comércio na costa norte

5.1. Participantes

Os estabelecimentos de comerciantes aproximadamente no séc. VII-VIII (Wamizi –Kivuli) e os dos séc-XIII-XIV (Vamizi, Ibo-Querimba) eram provavelmente em parte escalas no apoio do transito costeiro. Eram lugares aonde passaram a noite, talvez carregaram agua e alguma comida. Mas produtos locais como marfim, casca de tartaruga, cornos de rinceronte podem também ter sido trocados.

5.2. Tráfico de escravos

Os franceses estabeleceram um contacto e movimento de vai-e-vem entre as Maurícias e Reunião de um lado e Madagascar e a costa africana de Moçambique de outro, encomendando escravos entre 1740 e 1770. Devido às guerras interacionais e crises económicas do séc. XVIII, o comercio foi interrompido várias vezes. Deve ter tido um certo peso na economia de Moçambique a partir de cerca de 1765-70. Os franceses passaram a exportar alguns escravos da costa oriental para as Caraibas a partir de ca. 1770. Portugueses tambem se interessaram para este tráfico e de Moçambique começam a ser levados escravos para o Brasil.

Um dos períodos do seu máximo funcionamento deve ter sido cerca de 1818 a 1830. Depois de um período de crise comercial ressuscitou por volta de 1835. Teve na costa norte de Moçambique uma vida mais longa do que no sul. Quase todos os altos funcionários estavam la metidos: oficiais, juristas e também os padres. O visconde de Arriaga escreveu em 1881:

"O parocho de Quelimane que havia falecido poucos meses antes de eu dar entrada naquele porto em 1845, era o maior traficante de escravos que havia naquele tempo.. vendeu milhares de pretos.

Era tão impio e desaforado que publicamente defendia a venda dos pretos, como vantajosa e necessária aos interesses da província, pelos lucros que tal mercadoria deixava aos moradores e aos cofres publicos, e pela riqueza que aqueles infelizes iam crear na America por via do trabalho obrigatório ao qual se recusaram na terra natal.

... no porto de Moçambique e Quelimane estavam fundeados no mesmo [ca. 1845] tempo 8 a 10 navios para transportarem pretos..".

Na ilha do Ibo o padre Faleiro emulava o padre de Quelimane. Possuia um barco e mandou nele várias cargas de escravos para a Ilha de Moçambique por volta de 1830. Os padres não eram mais do que homens do seu tempo. O padre Faleiro na ilha do Ibo negociava com escravos em larga escala. Comprava escravos na costa frente ao Ibo (ou a Swahili da costa de Kilwa) e levava-os depois à ilha de Moçambique, aonde portugueses e brasileiros os compravam.

Nos anos 40, quando se discutia já a abolição do comercio que os ingleses queriam impor a abolição por uma esquadra naval, os preços desceram em África e subiram às vezes de tal maneira nas Américas, que motivou o contrabando. Agentes dos contrabandistas vindos do Brasil como um tal Fonseca montavam um rede em Moçambique e procuravam comprar escravos para embarque em toda a zona costeira. Em Junho de 1846 um dos oficais reformados residentes em Mussuril escreveu a um amigo seu, João da Costa Xavier, em Lisboa:

"Tres navios carregados com escravos sahiram de Angoxe para o Brasil. Rodrigo [ o Governador Geral Abreu de Lima] não deu providências.... chegou a tal ponto o discaramento que andavão os Moiros a comprarem negros com onças [moeda de ouro] nas ruas de Moçambique, nos distritos de Mossuril, Lumbo, etc. &c e o Governo nada se movia."

Parece que o sucessor de Rodrigo de Lima, Domingos Fortunato do Valle, era visto como mais activo na supressão, pelo menos em relação a Angoche.

Uma outra defesa da continuação do comercio de escravos forneceu Caldeira, ligado à elite portuguesa no parlamento, em 1853. Tinha passado em 1852 pela Ilha de Moçambique e Luanda e argumentava que não obstante o trafico de escravos ainda havia braços suficientes para a agricultura.

Mesmo depois os negociantes e funcionários portugueses se terem desligado maioritáriamente desse trato (ca. 1860?), o tráfico de escravos contínuou no norte de Moçambique. Havia surtos de exportação na s décadas dos 70 e 80. Nesses periodos ainda havia anos em quais se exportaram por ano vários milhares de pessoas de portos como Quissanga.

Até 1876 Kilwa (Quiloa) tinha abertamente comerciado em escravos. Estes foram conduzidos do norte de Moçambique, do actual Malawi e Zambia para a costa. Estados yao e ngoni eram entre os fornecedores. Em 1876 os británicos ditaram ao sultão de Zanzibar o fim do tráfico. Houve um controle da navegação. Muitos pangaios e os escravos a bordo foram confiscados. O governador zanzibarita de Quiloa que participou no contrabando foi preso pelo sultão. Mas o comércio em Cabo Delgado ainda estava vivo por volta de 1885 e mesmo em 1893 um padre do Ibo fala da exportação de escravos de Tunghi (Tungue), aparentemente não ocupado depois da destruição em 1887, para Zanzibar e as possessões francesas que pode incluir os Comoros e a Costa de Madagascar. A fundação de postos na zona de Mecufi foram justificados em 1899 com a necessidade de reprimir o tráfico de escravos.

O tráfico de escravos continuou no entanto na zona costeira. Em vez de utilizar a rota marítima, os mercadores utilizaram a década dos 70 e 80 uma rota terrestre de Kilwa para o norte. Em Moçambique Ibo e os portos vizinhos foram utilizado para a exportação no início da década dos 80.

Viajantes como o missionário Chaucy Maples baseado em Masasi ao norte do Rovuma que visitaram Ibo e Quissanga por volta de 1882 encontraram ali o comercio de escravos em pleno funcionamento. Campbell (1989) descreve alguns aspectos desta rede no mar e em Madagascar, e Medeiros a parte continental da rede.

Ainda em 1901, no distrito de Moçambique (actual província de Nampula) foram detectados escravos amarrados a espera de serem exportados no pequeno porto de Quissemajulo perto de Nacala. e também na zona de Moma as operações dos negreiros continuaram . O chefe ... morreu na ilha de Moçambique prisoneiro por ser negreiro. Foram tambem exportados escravos, principalmente mulheres, para a actual Tanzania. Para certas zonas do interior a venda de escravas era a única maneira, entre cerca de 1890 e 1910, de conseguir pólvora comercial para as armas que existiam. As armas de fogo foram utilizadas em guerras e razzias e tambem na defesa contra o avanço do colonialismo. Produziu-se também alguma pólvora com recurso a materia-prima local, salitre de depósitos de guano e carvão vegetal.

5.3. Marfim, borracha, oleaginosas, etc.

Meio ofuscado pela atenção ao tráfico de escravos tinha existido o comércio de marfim que parou quase de repente na década dos anos 90 do séc. XIX. Exportavam-se cera, de vez em quando cereais, resina de raizes de acácias designadas de goma copal para uma variedade de funções, como p.e. matéria prima para vernizes, ou para acabamento de tecidos.

Tinha surgido, entretanto, entre 1877 e 1880 a exportação de borracha. Manteve-se aquela de goma copal, conhecido já na primeira metade do séc. XIX. Goma copal é em parte um produto fossil produzido em tempos remotos por acácias nas suas raizes. Gergelim e cereais foram também vendidos em conjunto com algumas oleaginosas. Eram produtos produzidos por camponeses expressamente para a exportação. Oleaginosas como amendoim, gergelim, copra haviam de ser as principais exportações de Moçambique entre 1875 e 1930. Em Zanzibar, o valor do marfim exportado perdeu o primeiro lugar entre as exportações legais depois de 1870. Em 1879 estava em primeiro lugar a borracha (£ 250.000), seguido pelo cravo da India com £170.000. produzidas nas ilhas de Pemba e Zanzibar. Em terceiro lugar, estava o marfim (£ 160.000) recolhido numa vasta zona do interior . Em Cabo Delgado havia borracha, extraido de trepadeiras silvestres, bem como oleagiosas produzido pelas unidades domesticas (mulhers e homens, às vezes com escravos).

Os portos do norte de Moçambique tambem se orientaram para esse novo mercado e cereais e outros géneros foram despachados para Zanzibar, de onde alguns foram provavelmente reexportados para a Arabia, India ou Europa.

Na década dos anos setenta casas francesas estabeleceram-se no Ibo e as feitorias indianas com os seus agentes e intermediários dependentes de crédito aumentaram a sua actividade. Contextualizando para a costa norte, afirmar que em Quelimane o volume das importações e exportações triplicou entre 1876 e 1884. Em Cabo Delgado não deve ter sido muito diferente. Talvez o boom começou um ou dois anos mais cedo.

Um factor importante era, também, a fixação de alguns missionários protestantes e colonos e de uma companhia mercantil na Niassalândia e no Lago Niassa, a partir de 1876, de que havia de resultar a formação da Niassalândia. Os valores do marfim exportado subiram tambem. Só nos anos 90 este tráfico é desviado para Chinde que para três décadas se torna um importante ponto de transito, onde reside um vice-consul británico. Mas tanto Quelimane como tambem Angoche e a Ilha de Moçambique participaram no boom das oleaginosas e da borracha nos anos 70 e 80.

A exportação de amendoim e gergelim e da borracha, alguma cera e tabaco trançado em rodas era no entanto o principal ramo do comércio entre cerca de 1875 e 1930, especialmente na actual provincia de Nampula.

Estes produtos foram trocados na costa por tecidos e sal e produtos menores como sabão. Mesmo depois do início da economia de plantações (sisal) e algodão forçado essas trocas mantiveram uma importância consideravel.

A produção artesanal de objetos de arte e artesanato feito parece ter se iniciado ainda no fim do séc XIX. Na primeira década do séc. XX o planalto ainda independente exportava caixinhas de rapé para a zona ao norte do Rovuma (Weule 1908).

5.4. Exportação colonial (algodão, sisal)

De diferentes fontes, tais como relatórios de governadores consegue-se reconstituir o padrão de exportação no tempo da Companhia e depois.

5.5. Mudança do sistema de transportes (em elaboração)

O sistema de transporte mudou muito desde o fim do séc XIX. Primeiro o sistema de transportes marinhos, com navios a vapor, que

exportações de géneros agrícolas seguiam em navios a vela até à Primeira Guerra Mundial . o séc. XX houve ainda uma segunda transformação.

Ainda por volta de 1970 utilizavam-se caixas de diferentes tamanhos, exportação de copra em sacos, depois paletes, contentores .....

Mudança as técnicas de transporte terrestre. Transportes terrestres passam de transporte a pé, incluindo o célebre transporte em machila, um sistema de um ou dois paus de bambú de que se suspende uma maca.

Os primeiros camiões apareciam na 1ª guerra mundial, mas só o uso de motores a diesel por volta de 1930 generalisou o uso e permeteu o escoamento do algodão do interior. Com isso surgiram novos centros no interior como Montepuez.

O segundo corte veio por introdução dos contentores na década dos anos 80.

6.As ocupações coloniais e resistências

6.1.Introdução à historiografia

Sabemos que houve resistências e campanhas de ocupação, mas as descrições publicadas omitem muitos pormenores e episódios que seriam importantes. Surgiram mesmo indicações de datas erradas na literatura. Em parte responsavel para esta situação são a sistemática destruição de fontes administrativas pela Companhia do Niassa em 1929, quando acabou o seu período de administração, e a não acessibilidade de correspondências dos occupantes. Isso resulta numa escassez de narrativas de participantes sobre esta temática. Algumas ilações podemos tirar dos relatórios administrativos publicados no Boletim da Companhia do Niassa. Estes são geralmente bastante lacónicos. O período 1920-24 precisa ser pesquisado na base de fontes externas.

Assim parecem perdidos muitos elementos de história da Companhia do Niassa, que administrava a zona entre 1894 e 1929, portanto durante trinta e cinco anos. O periodo inclui quase 4 anos durante e depois da 1ª guerra mundial quando a administração o passou de facto em muitas zonas para comandos militares portuguêses e britânicos. Falta recuperar para a história eventuais correspondências dos padres monfortinos do periodo depois de 1923, ou ecorajar os monfortinos a resumir esta história, jornais, relatos consulares , das administrações da Niassalândia, Tanganyika, referindo emigrações maciças, migração de trabalhadores .

Autores que fizeram trabalhos de campo (Brito João, Rafael da Conceição, Medeiros) focaram o período precolonial e mais o séc- XIX. Não dedicaram muita atenção ao periodo de ocupação colonial imperialista. Fica-se com a impressão, que por volta de 1980 na memória social muitos episodios do periodo de ocupação tinham sido apagadas e que era dificil enquadrar os dados transmitidos numa cronologia baseada em documentos da administração.

No que toca à história da ocupação destaquemos as seguintes publicações: B. Neil-Tomlinson (1977) ligou as campanhas de ocupação feita pela Companhia do Niassa ao influxo de capital. A "História de Moçambique", vol. II., publicada pela primeira vez em 1983, menciona, erradamente, que antes da 1ª Guerra Mundial, portantes antes de 1914, os portugueses não tinham conseguido penetrar no Planalto dos Macondes. Tinham penetrado, sim, pelo menos em 1913, mas tiveram de deixar depois. Refere-se igualmente de uma expedição contra os Macondes em 1919-20. A revisão de 2000 não entrou na correcção destes detalhes. A mais notável e detalhada análise encontra-se na “História de Moçambique” de R. Pélissier que este começou a investigar nos meados dos anos 70. R. Pélissier (1984) registou nove combates, confrontações ou actos de resistência durante o periodo depois de 1880 em Cabo Delgado. A base principalmente de fontes publicadas tenta datar, localizar e até certo ponto contextualizar os conflitos resultantes da ocupação colonial (e em menor degrau, dos expansionismos locais). É uma obra com cobertura bastante completa das acções militares e de resistência que cita as fontes que utilizou. Um certo destaque na história da ocupação de Cabo Delgado mereceu a zona do planalto de Mueda.

Mpalume (1990) utiliza principalmente o volume I de Pelissier e não parece introduzir elementos novos. A história de Moçambique de Newitt (de 1995, com trad. portuguesa de 1997) salienta que foi o planalto dos Maconde foi única região que não foi sujeita à Companhia do Niassa até à Primeira Guerra Mundial. Suspeita que o facto de 2.000 Makhuwa [da zona de Mogovolas, em Nampula] tenham sido recrutado para submeter a população do planalto em 1917 podia ter deixado lembranças criando desconfianças até à altura das lutas de libertação. De facto as contradições ainda bastante sensíveis, além de problemas logisticos, por volta de 1970, quando a Frelimo tentou estender a luta de libertação para o sul de Cabo Delgado parecem ter raizes mais antigas. Estas raizes podem estar em guerras entre linhagens que já devem datar do início do séc. XIX, mas continuaram até ao início do séc. XX, a julgar pelo estereotipo que os Macondes raptaram mulheres.

6.2. A actividade do estado português antes da Companhia do Niassa

relações diplomaticas sobre Tungue (ver Bennett ) e no interior

O período 1870-1894 é caracterizado pela continuação de relações diplomáticas com o interior e uma actividade militar na costa, e expulsão, em 1887 de representantes do Sultão de Zanzibar na zona de Tungi (Tungue, hoje em Palma), que havia de receber o nome de Palma. O relato de Palma Velho sobre a conquista fala de queima de casas, mas deixa de fora qualquer referência ao palácio de Tungui, que deve ter sido habitado, em conjunto com um grupo de casas swahili com plataforma elevada, que existiram atrás do palácio.

6.3. A Situação em 1894- 1900

Em Outubro de 1894 a Companhia do Niassa recebeu a posse formal dos territorios englobadas nas actuais Províncias de Niassa e Cabo Delgado. Em 1897 obteve também o controlo da Ilha do Ibo, na qual se encontrava a maior parte dos edifícios públicos do Distrito de Cabo Delgado. Só em 1899 a administração fundou Pemba, mais tarde batizado Porto Amélia.

O estado português tinha controlado Pemba, Arimba, Quissanga, Mocimboa, Palma. A parte norte da península de Cabo Delgado, o chamado triángulo de Quionga, foi ocupado pela Alemanha em 1894, acabando ali com a presença portuguesa até à Primeira Guerra Mundial. Insistiu que o limite entre Moçambique e Zanzibar tinha sido desde 1828 em Cabo Delgado e não no Rovuma e que ela era sucessora dos direitos de Zanzibar.

Os primeiros impostos de palhota parece foram cobrados nas zonas de Quissanga, Ibo, Mocimboa e Tungue em 1898, tendo havido, segundo o governador, pouca oposição em Quissanga e Tungue, e alguma nos outros. Houve, no entanto um chefe perto de Quissanga e outro perto de Mocimboa que se opôs ao recenseamento.

Por volta de 1905 o chefe yao Machemba, que tinha fugido da zona ao norte do rio Rovuma, onde tinha ocupado uma zona na parte norte do Planalto dos Makonde da Tanzania, donde tinha sido obrigado a fugir em 1899 ainda expoliava os Macondes moçambicanos. Os Maconde atacavam por sua vez os Makhuwa vizinhos até 1911 (ver abaixo).

6.4. A ocupação da zona mmetho

A constituição de um eixo de penetração a partir de Ibo, Quissanga e Pemba era uma das prioridades para a ocupação da Companhia. Daí que tenha chegado ao Lago Niassa antes de ocupar toda a zona ao norte do rio Messalo. O "Concelho de Medo" parece que foi formalmente constituido em 1899. Em Setembro de 1900 houve uma campanha de ocupação.

O capitão Spilsbury descreve em 1901 povoações queimadas pela campanha de ocupação. Nessa data o eixo de penetração chegou no lago Niassa.

A 31 de Dezembro de 1903 há notícias de uma sublevação do chefe Mwaliya em Montepuez. Parece ter durada até 1905.

Mwaliya em "Medo" (mmetho) era a base de ocupação para a zona vizinha. Na tradição oral da chefatura de Nankawiya de Nungo no distrito de Marrupa (Niassa) a ocupação é descrito da maneira seguinte:

"... no tempo do primeiro Nankawiya os portugueses vieram do litoral (makha) e acamparam em Mwaliya, mmetho. Delegaram o Nasitere a vir para aqui. Acampou na zona de Sivérete. Depois de Siverete foi para Nunko(Nungo). Não ficou muito tempo e abandonou e foi acampar em Nahiru.

Às tantas então chegou o Mapanje. O Mapanje destruiu este acampamento que se chamava, segundo a serra, Nivanka, que em mmetho significa iniciar. O primeiro branco já cobrava imposto e encontrou aqui o Nankawiya.

Em Mwaliya os brancos tinham vindo a força e batiam. Então o Mapanje vinha e interveio e convenceu as populações que o objectivo era a cobrança de imposto e não bater [e expoliar] as populações. Com o Mapanje não havia problemas. Já não amarrava as pessoas para cobrar o imposto.

Os primeiros impostos eram pagos com galinhas, cera de abelha, mapira. Havia medidas, uma lata de 20 litros. Traziam latas. Davam um recibo em tecido de saco e carimbaram com tinta, Já era imposto. Depois comerçaram a pagar o imposto com 3 shillings [rupias?]."

Esse "Mapanje" era um figura conhecida nas tradições de Cabo Delgado e Niassa (recolhidas pelo AHM em 1981 no Niassa em Marrupa e Nungo). Pensamos ser idêntico com o comandante das forças de Companhia do Niassa por volta de 1903-5. Seria António Cezario da Costa Campos que ainda em 1913 dirigiu uma campanha contra os Makonde na zona de Chai e Nguri ?

A ocupação não era linear ou definitiva. Depois de uma primeira aceitação e tolerância mútua deu-se um endurecimento da resistência na zona costeira, que obrigava as autoridades à novas campanhas. Possivelmente tinham aumetado as exigências.

6.5. A costa e o hinterland ao sul de Pemba

O relatório datado de 8-1-1907 refere que depois da instalação do posto de Lúrio[1898] foi possivel interceptar três pangaios de negreiros em Mecufi Mas houve uma actuação mais ampla depois de 1909 e em 1910 alguns chefes foram obrigados a assinar um acto de vassalagem “em caracteres árabes na lingua suail” (Acto de vassalagem prestado perante o governador dos territórios pelos chefes indígenas Maiérre, Catupa, Djembe, Rucia, Cariaua, Nameteba e Tugo, 22-8-1910).

6.6. O hinterland da costa a norte de Pemba

Em 1894 oficiais alemães enviados da zona ao norte do Rovuma tinham ocupado Quionga. Basearam-se numa antiga clausula de tratados portugueses com Zanzibar, segunda a qual o limite das possessões portuguesas era a estreita península de Cabo Delgado e não a foz do rio Rovuma mais ao norte ainda não conhecida no início do séc. XIX pela cartografia europeia. Surgiu dessa forma o chamado triângulo de Quionga que só depois da Primeira Guerra Mundial foi integrado no território moçambicano.

Em 1899 a administração colonial alemã venceu o chefe yao Machemba Che Nyama que fugiu para a zona ao sul do rio Rovuma, aonde voltaria a ser designado revoltoso em 1906. (ver abaixo).

Em 1903 o posto de Nangade tinha sido aberto pela Companhia do Niassa. Era provavelmente um posto para representar Portugal e a Companhia do Niassa perto da fronteira norte.

Na segunda parte do mês de Julho de 1904 uma revolta parece ter atingido a zona de Quissanga, Quiterajo, Olumbwa. Com a chegada de tropas com o transporte "Alvaro de Caminha" a situação melhorou para os portugueses na segunda parte do mês de Agosto.

No ano seguinte (1905) registaram-se me Mucojo no fim de Maio "incursões do regulo Nambuella" mencionado já várias vezes no séc. XIX. De Mocimboa da Praia foram mandados 13 praças como reforço.

A campanha portuguesa contra o chefe Machemba tinha sido planificado em 1906 mas foi aparentemente só realizado em fins de Maio de 1911, quase paralelamente a campanha contra o Mataca a oeste do Lúrio. Em Junho deste ano o intendente Themudo no Ibo quis "seguir para Palma para verificar que se tinha passado no ataque ao régulo Matchemba" mas não obteve a necessária licença dos seus superiores em Lourenço Marques. Em Julho de 1911 António Cezário da Costa Campos foi louvado pelos combates em 30 e 31 de Maio. A maior parte dos chefes atacados se refugiou ao norte do rio Rovuma, no território alemão, de onde Machemba ou seu antecessor tinha fugido 12 anos antes.

Outra campanha em Julho-Outubro de 1913 era dirigido contra os Makonde e levou provavelmente à instalação dos postos de Chai e "Enguri". Provavelmente nos meados de Agosto atacou-se o "chengo" do chefe Meticama .

Em Maio de 1915 foi montado outra vez o posto de Nangade a 30 km ao NO de Macomia.

Em Março do ano seguinte (1916) Portugal foi forçada de entrar como beligerente na Primeira Guerra Mundial.

6.7. A Primeira Guerra Mundial no Norte

O norte de Moçambique tornou-se palco de combates na Primeira Guerra Mundial e no decurso desta campanha a administração nas zonas da Companhia do Niassa passou para as mãos de uma estrutura militar, com predominância para os portugueses, mas com forte envolvimento de britânicos em Marrupa e Maúa, em 1917-18. O envolvimento britânico obrigou à retirada da administração portuguesa em muitas áreas até 1919.

Durante a Primeira Guerra Mundial apareceram os primeiros camiões (mesmo o exército português tinha alguns), e aviões.

Uma das primeiras bases costeiras foi Mocimboa da Praia. Surgiu um acampamento e um enorme cemitério.

O exercito português tinha tentado ocupar posições no planalto dos Makonde ao norte do Rovuma, mas teve contentar com uma série de bases e tentative da ocupação defiitiva do planalto dos Maconde. Quando o exercito alemão não conseguiu manter-se ao norte do Rovuma contra tropas britânicas, atravessou o Rovuma e atacou Negomano em Novembro de 1917 e tomou esta posição isolada. Depois avançou para o sul, principalmente fora dos limites da provícia, chegado até Namacurra (na altura Nhamacurra) tendo depois voltado para o norte.

As tropas portuguesas preocuparam-se mais com a zona da actual província de Cabo Delgado, tendo o Niassa com centros em Cuamba e Metangula uma organização separada, debaixo do administrador Dr. Guerra Lage, que tinha durante algum tempo administrado o concelho de Lourenço Marques e parece ter sido baseado em Metangula.

6.8. 1917 /1919: Ocupação Colonial do Planalto de Mueda e da região Maconde em Moçambique: A Campanha de 1917 durante a segunda guerra mundial

Já foi referido que em algum trabalhos moçambicanos recentes 1924 é dado como o ano da ocupação colonial definitiva do planalto de Mueda, mas que a data correcta é 1917. E, como se viu, 1917 não foi a primeira tentativa. Há indícios que a ocupação parcial ja tinha começado em 1911 e que um posto de Maunda (Chomba) ja tinha sido estabelecido entre 1911 e 1916. Um descrição de Maio de 1917 diz de Chomba que o "posto tinha sido incendiado e invadido por tomateiros que cobriam todo o parapeito e fossos". Os Macondes teriam também repelido "duas ou tres colunas lá mandados pela Companhia do Niassa".

No que toca à campanha de ocupação de 1917 existem dados sistematizados, incluindo um esboço detalhado da campanha de ocupação de 1917 nas biografias de Neutel de Abreu (Ferreira 1946, Barbosa 1970). Há também dados dispersos, registos de ordens a tropas estacionados no planalto em 1919-1920. Estas fontes permetem concluir que a campanha de ocupação decisiva se desenrolou entre Abril e Agosto de 1917. Teve como comandante efectivo Neutel de Abreu. Houve ainda acções militares em 1919 e em 1920, resultando na prisão e desterro de alguns chefes (provavelmente para a Ilha de Moçambique) . Em 1920 a região voltou a ser entregue à administração da Companhia do Niassa, que passou a ocupar alguns postos que reorganisou anos depois (ver Anexo 1).

O pano de fundo é o seguinte: Em 1916 Portugal é forçado a deixar de ser formalmente neutro devido à uma declaração de guerra do império alemão. Juntou-se às forças aliadas que combatiam as forças do "eixo" (os impérios da Alemanha e Austria e Turquia, todos com territórios maiores do que hoje). Começam-se a movimentar mais tropas para a zona ao longo do rio Rovuma. Inicialmente oficiais do exercito português e funcionários da Companhia do Niassa operam no mesmo territorio, mas cerca de 1917 a Companhia retira os seus funcionários do interior, porque os britânicos que combatiam não queriam interferências da administração da Companhia. O controlo e cooperação da população que tinha de fornercer alimentação e serviços era essencial nesta guerra. A partir de então os comandantes militares portugueses e depois em algumas zonas comandantes britânicos passam a lidar com as populações directamente.

Em 1916-7 o planalto de Mueda é a última zona de Moçambique cuja estrutura defensiva tradicional, que se tinha re-estruturado, ainda não tinha sido desmantelada. Existiram muitas povoaçães defendidos por mato, palisadas e trincheiras, conhecidas entre os portugueses em Cabo Delgado pelo termo jengo (ou "chengo"), termo de origem swahili ou mwani, derivado do verbo "ku-jenga", (construir, edificar). Uma descrição caracteriza-os da seguinte forma:

".. os chengos, eram instalados numa clareira no mato espesso, em torno da qual abatiam as árvores numa circumferência de perto de 100 metros. Em torno, cresciam arbustos e plantas espinhosas, formando uma fortaleza inexpugnavel. Entrava-se no chengo por 2 ou 3 entradas formadas por um corredor de troncos unidos que obrigaram a pessoa a entrar curvado, havendo outras saidas no mato, apenas conhecidas da população. A maior parte destas povoações estavam fortificadas com trincheiras ao longo dos corredores de entrada ou perpendicularmente".

Havia entre os militares portugueses o receio de que os habitantes desta região pudessem aliar-se aos alemães ao norte do Rovuma para se libertarem do sistema de requisições e pilhagens durante a ocupação, exercício do domínio colonial e durante a guerra.

Em fins de Abril de 1917 quatro grupos de 350 homens cada foram mobilizados para operar junto à estrada de Moçimboa da Praia a Chomba. Encontraram lá machambas de milho e mandioca. Houve um combate maior em Mahunda e a seguir foram queimados cerca de 150 "chengos" com 70 palhotas em media. Esse número de palhotas aponta para uma população media de cerca de 175 pessoas por povoação. No início de Maio as tropa teriam actuado perto de Nacature.

Depois do fim da guerra em 1918 o território de Cabo Delgado não foi logo devolvido à Companhia do Niassa. Saíram as tropas britânicas e ficaram as portuguesas, vivendo nas suas guarnições e mantendo as suas comunicações. Entre Março e Junho de 1919 as forças portuguesas no norte de Moçambique foram reorganisados. Foram extintos a "Expedição de Moçambique" e o "Comando Superior do Território d'Além Msalu (Msalo, ou Messalo), este último só instituido em Março de 1919 e chefiado pelo General Gomes da Costa, futuro marechal de campo e co-organisador do golpe de estado de Maio de 1926 em Braga que havia de criar as bases para a ditadura militar e posteriormente o Estado Novo. Ficou um "comando do território Maconde" (ou "Comando das forças de ocupação do território Makonde e Kionga)".

Desde Novembro de 1919 este comando deve ter exercido alguma actividade: Pela ordem nº 15, datado de Mocimboa da Praia de 5 de Dezembro de 1919, há um louvor para o alferes Justino Botelho Moniz Teixeira Vasconcelos e Sá da 13ª Companhia de Infanteria Indígena que teria sufocado o "movimento de rebelião que se pretendia levar a efeito na região de Mahunda nas terras do capitão-mor Diancar" [Diancali ou Diankali].

No dia anterior tinham dado entrada no "comando da base" 24 presos nominalmente descriminados. O primeiro era o Capitão mór "Diancar". No dia 11 estes presos embarcaram no vapor "Chinde" provavelmente com destino da Fortaleza de S. Sebastião na Ilha de Moçambique. [Um descendente ou sucessor deste Diankali, seria em 1962 o representante da MANU de Mombasa no Quénia.]

A partir de Março de 1920 planifica-se a dissolução deste corpo e em Maio ou Junho a área Maconde é entregue a Companhia do Niassa.

O Boletim da Companhia do Niassa menciona em 6 de Maio de 1920 a planificação de uma "coluna" dos Macondes. Pensamos que essa "coluna" não era mais do que um golpe publicitário. Marcharam funcionários administrativos incluindo talvez uns 130 cipaios ocupando os postos que as tropas portuguesas entregaram, o que não exclui algumas violências.

Pelo menos um dos funcionáros envolvidos na ocupação recebeu um louvor oficial. Já no ano seguinte o "Comando militar dos Macondes” é extinto por o território ser "completamente ocupado e absolutamente pacificado.

Parece que para o administrador Herculano Manso Perestrelo que escreveu em 1930-1, a ocupação se tinha dado doze anos antes, quer dizer aproximadamente em de 1918 ou 1919.

6.9. Outras actividades de repressão em 1919

A reocupação administrativa deve ter sido acompanhada também em outras regiões por captura e desterro de chefes. Um ordem de louvor de um enfermeiro refere os chefes Nicole, Mambe e Cavava.

7. O fim da administração da Companhia e depois

7.1 Introdução

Esse capítulo debruçar-se-há sobre o sistema colonial instituído pela Companhia, e ocupação política, económica e missionária, o fim da sua administração e mudanças posteriores. Em 1920 faltaram 9 anos para o fim do periodo da concessão que os investidores na companhia querem ver prorrogado. Mas, quase todas as forças políticas na metrópole estavam contra a extensão do prazo, especialmente o grupo que tomou o poder em 1926 em Portugal, instaurou uma ditadura militar e nomeou o oficial de marinha João Belo Ministro das Colónias, posição que ocupou até à sua morte repentina em 1928, .

7.2. O regime colonial instituido pela Companhia do Niassa

O regime colonial instituido pela Companhia do Niassa contrasta com o traçado fino e monumental dos seus edifícios administrativos em Pemba, a antiga Porto Amélia fundada em 1899. As condições sociais e politicas da população são espelhados principalmente em fontes externas bastante críticas. Provavelmente mudou pouco até 1923, durante os primeiros 28 anos.

A. Pires de Lima descreveu em 1933 as suas impressões de 1916:

"Os métodos de colonização da Companhia do Niassa era tudo que havia de mais simples: Nem escola, nem missões, nem hospitais, nem estradas. A sua actividade cifrava-se na cobrança dos direitos da alfândega e do m'soco (imposto de palhota)".

A Companhia do Niassa investiu pouco, tentava viver da cobrança do imposto, e occasioalmente do fundos em dinheiro avançado pelos accionistas. Os seus funcionários utilisavam frequentemente processos violentos para efectuar a cobrança ou utilisar trabalhadores feitos refens em plantações suas em proveito próprio, uma violência que a própria companhia tentava encobrir, se possível, quando focada por fontes externas.

Em Nampula e Zambézia as condições em zonas aonde o estado administrava directamente as práticas de cobrança coerciva eram geralmente pouco diferentes, mas em certas zonas houve mais fiscalização e racionalidade económica, evitando-se a prática de plantações ou machambas privadas.

João Coelho, num relatório sobre o concelho de Mucojo, relata as condiçôes em 1917 no posto de Macomia e na sede:

"No posto de Macomia há mais de 200 mulheres presas, de todas as idades, velhas, mulheres com filhos às costas e crianças de sexo feminino. Na sede, comquanto as presas não sejam de tão grande número, há também mulheres com crianças às costas, e crianças que pela sua idade, não podem de forma alguma serem compelidos ao pagamento do imposto".

Coelho finge que não sabe que as mulheres e crianças tinham sido sequestradas como penhores ou refens, para extorquir dos seus parentes masculinos o pagamento do imposto. Isso era a prática em muitas partes da colónia, p.e. na Zambézia, mesmo no sul, em Magude. Até serem libertadas as refens tinham de fazer trabalhos e prestar serviços nos postos. Alguns dos funcionários utilizaram este trabalho para mandar cultivar as suas machambas.

Lima em 1916, teve uma experiência semelhante:

"Um dia, em Moçimboa vi.... uma estranha procissão: à frente e atrás, um cipaio, no meio, uma longa bicha de mulheres. que foram metidos num redil de arame farpado. Surprendido, perguntei a significação daquilo: Era a cobrança coerciva do m'soco. Como os pretos não pagavam, encarceravam as mulheres até que os respectivos maridos, saudosos, as viessem resgatar pagando o almejado m'soco".

Certos chefes administrativos e os seus sipaios notabilizaram-se por sistemas de violências e podiam fazer isso sem que fossem castigados. Assim em 1911 o intendente no Ibo, Accaioli Themudo, tinha-se queixado que o

"chefe do Concelho do Medo, sargento ajudante Benigno Tavares, há pouco promovido a alferes, praticou n'aquelle concelho e no exercício das suas funcções, grande número de assassinatos de adultos e creanças, como ja foi relatado n'um jornal de Lisboa, sem que tal acto tivesse a justificação na mais insignificante tentativa de rebellião".

Referiu ainda que como resultado disso havia "em Quissanga... 600 indígenas" como refugiados.

Retomou críticas do consul britânico da mesma localidade. Themudo tornou-se tão incômodo e perturbador da ordem colonial que o governo retirou-o do seu posto pouco depois.

7.3.A Situação de Cabo Delgado em 1920-1926

Como em outras partes de Moçambique, entre outros a Zambézia, há um influxo de especulantes que mandam reservar terras para futuras empresas de plantação.

A 1ª Guerra Mundial também marcou o periodo final do comercio swahili/árabe e inicia o periodo da predominância europeia, coadjuvado por comerciantes indianos, muitos deles do Gujerat. Tomémos como exemplo Simba Ibrahimo, em 1900-1902 o único comerciante que mandava caravanas de carregadores e comerciante da costa para Metarica no rio Lugenda. Ele era uma figura notavel na costa norte da colónia. Em 1916 tinha tido um papel de destaque em Mocimboa da Praia e Palma. Foi preso e deportado, possivelmente em 1917, como bode expiatório para os revezes portugueses ao norte do Rovuma. Foi visto preso em Lourenço Marques mas não consta que fosse julgado.

Nos territórios da Companhia do Niassa tinha havido, no último ano da Primeira Guerra Mundial, uma onda de especulação com concessões de terrenos. Mas havia pouca gente que queria realmente investir na agricultura de plantações. Entre os poucos que se interessavam para essa zona estavam plantadores alemães de sizal impedidos de voltar para a Tanganhica sob administração britânica. Contactaram autoridades em Lisboa atravês da embaixada da Holanda em Lisboa, que representava tambem os interesses alemães até ao reatamento dos contactos diplomáticos. Dali vieram sinais encorajadores e por isso surgiram alguns modestos investimentos relativamente cedo e depois das antigas concessões terem sido confiscados. A distinguir dessas são companhias com capitais suiços, alguns da Suiça germanofona, outros, como a Companhia do Boror, mais radicada na área francófona. Muito activa era também a Companhia do Madal, também com investidores parcialmente recrutados na área francofona e na Noruega, mas que não parece ter aberto plantações. Entre as Companhias portuguesas destacou-se pelo tamanho do seu empreendimento, J. Ferreira dos Santos na Ilha de Moçambique, que pediu uma concessão em Arimba.

7.4.A zona dos Makonde como “ zona especial”

Possivelmente devido a suas percepções de cultura, sociedades e tradições o planalto de Mueda e o Planalto dos Macondes foi considerado uma área especial pelos europeus que tinham visto esta região.

Em 1921 editais publicados no Boletim da Companhia do Niassa falam da "região dos Macondes". Foi nesta zona de Chomba, Mahunda e Muidumbe onde alguns especulantes, em parte ligados à Companhia do Niassa, mandaram reservar para fins de plantação, mais de 30.000 ha (300km²) em 1921 e 1923-4.

Apenas em 1923 é fundada a unidade administrativa chamado Concelho dos Macondes com uma justificação para o seu estabelecimento que não tem paralelos no território da Companhia do Niassa. O conceito de uma identidade especial dos Maconde criou um efeito temporário na estrutura administrativa.

Já o Anuario de Lourenço Marques para o ano 1924, publicado na primeira metade deste ano, nota a sua existência .

A primeira sede é Chomba. Depois a administração passa, ainda em 1924, a ter Mocimboa do Rovuma como sede, passando Mahunda, Nacature, Chomba e Muatide a postos ocupados, ficando outros quatro vagos (Miteda, Baomba, N'gomano [Negomano], Nantuego). Em meados de de 1925 Chomba e Nacature ficaram também vagos e no ano seguinte (1926) apenas Mahunda mantem-se ocupado. O primeiro administrador Ximenes de Negreiros, que tinha sido primeiro oficial da alfandega, fica menos do que um ano à testa do Concelho. Um dos seus sucessores, José Victoriano Ferreira dos Santos, mantém-se mais tempo no seu lugar. Pode-se dizer que para a administração da Companhia do Niassa, o mito do ”caracter especial” dos Macondes, vivo em 1923, pouco durou. Teria sido ligado à especulação de terras? Talvez aos aspectos culturais, como no caso dos Chopi.

Na zona dos Maconde o pessoal europeu foi reduzido ao mesmo ritmo como nas outras zonas da Companhia do Niassa e adaptado à área e ao número dos tributados a administrar.

No entanto o primeiro administrador do Estado Colonial, Herculano Manso Perestrelo, escreve um amplo relatório sobre a Administração dos Macondes em 1930, que parece ter conhecido no tempo da companhia.

7.5 Transformação de infraestruturas económicas

Cabo Delgado dispõe de condições ecológicas pouco favoráveis ao estabelecimento de grandes plantações na zona costeira. As plantações costeiras de coqueiros, já iniciados pelos swahili, foram um pouco mais sistematizadas, mas não se estenderam muito, porque existem poucas zonas baixas e férteis junto à costa. Em certas zonas há apenas vales estreitos pouco adaptadas a uma agricultura industrial. Apenas o algodão havia de vingar na década dos anos 30 nos planaltos do interior, na zona de Balama e Montepuez, extendendo-se nos anos 40 e 50 também para outras zonas, p.e. a zona dos Macondes.

Na zona de Namuno o amendoim deve ter tido certa importância já no séc. XIX, que conservou até ao séc. XXI.

É sisal e depois de 1933 algodão forçado que inicia um novo ciclo de colonização no interior, acompanhado por uma rede de estradas utilizada por camiões. Estes camiões sinalizam a revolução de transporte dos anos 30 que atingiu muitos paises de África (ver mapa 66 em Ajayi e Crowder 1985). Foi neste período que surgiu uma rede de povoações no interior, sendo uma delas a futura cidade de Montepuez, aonde o descaroçamento de algodão era uma das primeiras indústrias.

Arranca também no período da Companhia do Niassa o trabalho migratório e a migração de Macondes e outros. Devido à perda de documentação esse sistema terá de ser estudado com base nas fontes britânicas, aonde até existem resumos.

7.6.Expansão do sistema de escolas e missões

A Companhia do Niassa, nos seus tempos áureos antes da Primeira Guerra Mundial, só tinha mantido duas escolas no território, uma no Ibo, e outra em Pemba, ambas com um professor e uma professora. Devem ter sido destinadas apenas à população branca e mista, e aos filhos dos indianos escolarizados localmente. Houve também às vezes uma escolarização dos sipaios (alguns dos quais já sabiam escrever com letras árabes) dentro das suas estruturas militares, e ao nível das comunidades religiosas as escolas islâmicas (madrasas) para os musulmanos, que possivelmente já no séc. XVIII tinham incorporado alguns africanos e no séc. XIX existiam na maior parte das chefaturas grandes.

As missões christãs vieram relativamente tarde em Cabo Delgado. (Era muito diferente no interior, no Niassa, aonde começou cerca de 1881). Os padres Monfortinos fixam-se em Namuno em 1922 e Nangololo em 1924. Eram padres holandeses e franceses que fundaram estas missões católicas, e, pelo menos a partir de 1950, havia também irmãs italianas a colaborar na educação. Alguns padres como Constantin Gerards já nos anos 30 ganharam fama como pesquizadores da cultura e história locais. A província de Cabo Delgado é a província moçambicana com menos presença protestante. Os monfortinos já tinham tido uma base na Niassalândia britânica e tiveram assim alguma experiência anterior na região. Nangololo, a 40 km de Mueda (Mahunda), foi escolhido porque possuía um acesso mais fácil à água (Cazzaniga, 1994: 17-20). A sua contribuição à educação tinha um impacto estrutural e político, porque permitia contactos de uma elite com o mundo fora. Pensa-se, que tiveram também um impacto como patrocinadores de artes plâsticas.

A igreja católica já tinha estado presente na costa desde o séc. XVI preocupando-se da classe superior cristã numa zona aonde predominava o islão e talvez num interior mais afastado, de onde vinham os escravos, com elementes de religiões africanas. De vez em quando nos grandes feriados cristãos batizaram-se alguns escravos, mas nunca se criaram maiorias cristãs. Daí que apenas as missões cristãs na zona de Mueda e Balama criaram uma nova situação. Os cristãos do Ibo haviam de espalhar-se, a passar para Pemba (Porto Amélia), Nampula e Maputo (Lourenço Marques), deixando Ibo e Querimba com uma cultura musulmana do tipo Swahili.

7.7. O fim da governação da Companhia do Niassa

A administração do Estado português não tinha aceite os pedidos da administração de Companhia do Niassa para prorrogar o espaço de exploração. Houve por isso pouca colaboração da Companhia na transmissão de poderes em outubro de 1929. Ela exportou ou destruiu os seus arquivos. O estado contratou vários funcionários do pessoal da Companhia e mandou um administrador do Distrito de Moçambique, Serpa Pimentel, que já tinha tido experiência no territorio da Companhia. (Serpa Pimentel, o autor de uma monografia etnográfica sobre Chinga com um interessante curriculo em Mauá.

7.8. Transformações sociais e estruturais

Administração do Estado Português 1929-1960 e 1960-1974

Formação de alunos em escolas interatos

Algodão forçado, nova estrutura administrativa em 1934: Província do Niassa trabalho migratório

Yussuf Adam (1993) concluiu que a propriedade individual da terra ou das pequenas linhagens já tinha avançada para o interior na década dos anos 30.

trabalhadores no sisal na Tanganyika e mesmo Quenia, migrantes em Sansibar.

Os sindicatos foram um importante elemento de lutas na Tanganyika

8. Conclusões, Notas finais

As escalas de tempo que podem utilizar o historiador ou arqueólogo são diferentes da memória social, que se cingem geralmente a períodos mais recentes, dentro de três gerações. Por isso as resistências ao colonialismo imperialista e a luta pela independência tiveram uma importância muito grande. Enquadraram parte da população de Cabo Delgado num mito nacional, como equadraram num mito de colonização, no qual o país e a população tinha de ser conquistada faixa por faixa, palissada (ou chengo por chengo).

A noção de uma cultura bantu uniforme de que fazem parte todas as populações moçambicanas tem de ser corrigida.Cabo Delgado constitui um mosaico complexo. Muito provavelmente o Mapico dos Maconde tem uma relação mais estreita e mais tardia entre os Nyau do triângulo Tete-Zambia-Malawi e grupos marave. São provavelmente ligadas atravês da expansão Luangwa – Lumbo ou movimento o migrações marave dos séculos XVI e XVII. Danças de máscaras menos estudadas existem também etre algus grupos de Makhuwa.

Devido à escassez de viajantes que passaram por terra e ausência de correspondência administrativa de Cabo Delgado nas décadas antes e depois da separação da administração de Moçambique da Índia em 1752 quase não se sabe nada sobre a estrutura do interior antes de 1784. É possivel que alguns séculos antes tinham existido duas formações politicas no hinterland da costa, a de Mongalo e “Mpewe”, talvez traços das invasões da tradição Lumbo no séc. XI-XII. A olaria de tradição Sancule parece indicar renovada presença de Swahili. A presença de olaria da família das primeiras tradições da idade de ferro inferior (Kwale-Sandawe-Nampula) também foi atestado em Cabo Delgado. e Urewe, em Vamizi olaria semelhante

As tentativas portuguesa de ocupação por "declaração" de supremacia (ou soberania) remontam aos meados do séc. XIX, quando existiu uma rivalidade com Zanzibar e Grã Bretanha. Existiu também uma certa preocupação com direitos territoriais em periodos anteriores. A ocupação das ilhas no séc. XVI também fruto de várias conquistas militares, iniciadas por volta de 1522.

A ocupação da zona de Palma, aonde foram expulsos os representantes do Sultão de Zanzibar é a primeira acção de ocupação efectiva do novo ciclo imperialista. Acontece em 1887.

Os periodos principais de esforços de ocupação militar são: 1900-1904, 1909-13, 1917-19, com outras operações pelo meio, como a fundação de Pemba (Porto Amélia) em 1899, a campanha contra Machemba em 1907.

Foi em Setembro de 1900 que se cria um eixo de ocupação que vai de Pemba na costa para o interior; passa Montepuez, o antigo posto de Metarica e chega no Lago em Metangula. A rio Rovuma era uma zona de atenção, mas não garantiu um domínio. É na fase de 1909-1913 que a maior parte do hinterland do litoral é ocupado, incluindo uma parte da zona Maconde.

A zona maconde tinha sido, depois da conquista das aringas no vale do Zambeze e da Zambézia 1897-1908, de Nampula (1897-1913), da costa de Cabo Delgado (1909 depois de uma rebelião) e do Mataca (sem sistema de defesas passivas) 1912, a última zona em Moçambique com povoações com um sistema funcional de defesa passiva e activa. Em outras áreas as povoações defendidas já tinha sido desocupadas ou destruidas. Mas não era a única em que existiram armas. Por isso não foi só na região Maconde, mas também no Niassa, em Nampula e na Zambézia, em Sofala, Manica e Tete houve onde houve revoltas e resistências durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1917 o sistema das povoações defendidas, ou chengos, foi destruido. Tal como em outras zonas a administração militar portuguesa prendeu resistentes até 1919 e exilou-os. Pode-se portanto dizer que os últimos vestígios de resistência armada foram apagados em 1919 atravês do exilio dos seus supostos protagonistas. A resistência maconde inseriu-se em outras resistências na região.

Em 1920 a companhia do Niassa, depois de lhe ter sido restituido o direito de administração, organisou uma "expedição" de ocupação administrativa da zona, montando provavelmente alguns postos. Já não era uma campanha militar, mas transporte de apretechos para postos militares.

O impacto da conquista militar foi grande nas duas primeiras décadas do século XX, devido ao trabalho forçado, abusos dos direitos humanos pelos cobradores europeus e africanos dos impostos, etc. Não levou a grandes mudanças nos padrões técnicos de produção. Tinha havido um comercio de borracha e trocas intensas a partir de pelo menos 1870. Antes era a goma copal, o marfim e escravos que eram a base de trocas. Estas trocas também envolviam a área maconde que deve ter escoado para Palma e Mocimboa da Prais. Os eixos principais do comércio passaram ao lado do Planalto. Os principais passaram a Mecufi, Quissanga e outras povoações costeiras, envolvendo a antiga Metarica, Montepues, Maúa.

No final da grande vaga de especulação de terras em 1919-1924 no norte de Moçambique, a saber em 1923-4, também se esboçaram tentativas de ocupação económica na área Maconde, ainda com pouco impacto directo no local.

A expansão da cultura de algodão no interior nos anos 30 é a base de uma nove rede de estradas e povoações como Montepuez. Estas povoações tem algum crescimento durante o período da luta armada, mas especialmente em duas fases depois da independência, antes e depois da guerra acabada em 1992.

Cabo Delgado é uma província na qual se desenrolaram episódios importantes para a história de Moçambique, período na qual a história do movimento de libertação se confundiu com a história de Moçambique, como destacou Jeremias Langa em 2012 no prefácio a uma série de entrevistas a partipantes e testemunhos da luta de libertação. Neste período a arte Makonde tornou-se emblemâtica, como a marrabenta no sul.

Anexo 1: justificativa para a formação do concelho dos MaKonde

A ordem nº 2620 de 25 de Julho de 1923 assinada pelo Governador João Henriques Pinheiro, publicada no B.N. nº 303 de 31 de Julho em conjunto com a nomeação do respectivo chefe na página 2.928, justificava o estabelecimento do "Concelho dos Macondes" e determinava limites e prazos nos seguintes termos:

"Considerando que os indigenas pertencentes à raça Makonde, apesar de terem o seu habitat nitidamente definido e fixo, formando um núcleo único de população, se encontram presentemente encorporados em dois concelhos;

Considerando que é sempre de maior vantagem para a administração agrupar, quanto possivel, sob a acção da mesma autoridade, os indígenas da mesma raça;

Atendendo as conveniências dos indígenas da região Maconde;

Tendo ouvido o inspector da zona norte e os chefes dos concelhos do Tungue e de Mocimboa; e

Ao abrigo da faculdade que me confere a 30ª das Bases de Administração dos Territórios:

Hei por conveniente determinar o seguinte:

1º É creada uma nova circunscrição administrativa que tomará a designação de "Concelho dos MaKondes" e cuja sede será instalada em Chomba.

2º O novo concelho abrangerá as áreas actuais dos postos de Chomba, Mocimboa do Rovuma e N'gomano, que actualmente fâzem parte do concelho de Tungue, e dos postos de Mahunda, Baomba, Nacature e Miteda, pertencentes ao concelho de Mocímboa, bem como os subpostos que lhes são subordinados.

3º A instalação dos serviços do concelho dos Makondes estará concluida em 1 de Setembro do corrente ano.

As autoridades e outras pessoas, a quem o conhecimento desta ordem interessar, assim o cumpram e façam cumprir.

Governo dos Territórios da companhia do Niassa, em Porto Amélia, 25 de Julho de 1923.

Nota do autor: Alguns dos postos militares como o que devia administrar os Chopi (Mazingane e depois Manjacaze), os Anguros , Angonia tem nomes de referências étnicas.

O termo raça era então definido em português por características socioculturais, e ainda por auto- (endo-) e exo-identificação. Fica aqui em aberto se o governador pensava, como muitos dos seus contemporâneos, também numa unidade biológica. Só mais tarde começam a predominar designações como "tribo", povo e "grupo étnico" na literatura colonial, este último depois de 1950.

Anexo 2 Evolução da Arte Maconde

A arte Makonde já assumiu no tempo colonial uma posição emblemática em Moçambique. Esse processo começou talvez na década dos anos 30 e encontra o seu ponto mais alto no fim da década dos anos 80.

A arte plastica e danças dos Maconde de Moçambique distinguem-se daqueles ao norte do Rovuma. No sul existe o mapico, com máscaras elmo postos sobre a cabeças, ao norte a dança sobre andas e máscaras faciais. Desta forma, as máscaras são facilmente distinguíveis. Muitos tentam transmitir alguns aspectos da vida social. (Uma das máscaras publicadas por Weule é a de um dos líderes da revolta maji-maji.

No catálogo “Art macondé” (p. 103) tem algunas bastões aparentemente feitos de madeira dura antes de 1876. A escultura makonde não estavam inicialmente de pau preto, mas predominantemente em madeira ligeira, como as máscaras e caixinhas de rapé com tampas figurativas já recolhidas por Weule e publicados em 1908 e encontradas numa aldeia maconde em 191 . De madeira ligeira, de sumaumeira bravo, eram também as máscaras. Uma máscara de um dançarino que salta e corre tem de ser relativamente leve. e a madeira , Caixinhas de rapé já eram um artigo de exportação e de trocas interétnicas.

O advogado e Goverador Geral adjunto dos anos 30, José Nicolau Nunes de Aranha e Oliveira, que tinha estado em Cabo Delgado como jurista na Companhia do Niassa por volta de 1920, tinha uma coleção particular com peças de pau preto de Cabo Delgado. Ele regressou à metrópole, possivelmente com a sua colecção, em 1940 (Botte, 1985-6). Mas havia outros aficionados que ficaram, de maneira que se pode datar para os anos 30 o início da conciência de existência de uma arte maconde na elite moçambicana, na altura predominantemente branca Parece que este artigo, que incluía também bustos, era uma inovação. Começaram a suplantar as esculturas de pau. claro. Um engenheiro suiço, que esteve em Lourenço Marques em 1929-30 comprou estatuetas de madeira clara, como também o funcionário da CCM entre 1919 e 1925, Arthur L. Thurnheer, irmão do mais tarde director da Sena Sugar Estates, Max Thurnheer (Art maconde 1985: 125). Entre 1915 e 1930 a produção parece ser predomiantemente de estatuetas de madeira clara (sumaumeira brava). Mais tarde, bustos de pau preto figuraram como “arte gentilica” e atrairam a atenção de Felisberto Ferreirinha. Publicou em 1935 um pequeno artigo na revista Seara Nova, publicação dos republicanos que sobreviveram na Ditadura militar. Eram pau preto e máscaras que foram coleccionados também para o Museu de História Nacional e para o monumental Museu de Etnografia em Nampula. Cerca de 1969 mesmo alguns Africanos do sul de Moçambique como o poeta, e pastor Gabriel Macave tinham uma peça de pau preto em casa em Chamanculo.

O museu de Nampula, construido como museu da então Província d Niassa e o museu de História Natural têm colecções de máscaras e bonecos ilustrativos de características etnográficas, que depois da independência se tornaram preciosidades (Arte Macondé 1989). Ricardo Teixeira Duarte tinha recolhido alguns elementos originais, entrevistando artistas, em Nampula e Maputo que foi publicado em 1987.

A exposição sobre arte makondé preparado para o ano de 1990 com apoio da cooperação francesa com textos de Carlos Carvalho, W. Burt, do etnógrafo tanzaniano J.A.R. Wembah-Rashid, Giselher Blesse, Paulo Soares e Elizabeth Grohs é baseado numa pesquisa aturada em museus moçambicanos, portugueses, suiços, alemães e britânicos. A contribuição nova nesta publicação são algumas peças que entraram no museu da Sociedade de Geografia de Lisboa em 1876, pouco depois da sua fundação em 1875. Trata-se das mascaras elmo mais antigas conhecidas, recolhidas por um Carlos Themudo, cujo itinerário em Moçambique devia ser estabelecido. (Art Makondé – Art Maconde 1989: 44-7). Não sabemos se ele foi o funcionário corajoso que actuou por volta de 1911 ou se foi apenas parente dele.

Nos anos 60 e 70 as novas initiativas e formas da arte Makonde vem principalmente da zona de Dar-es-Salaam. É ali que aparecem os estilos ujamaa e sheitani. O comerciante de arte Mohamed Peera reclamava para si o papel de primeiro padrinho do estilo sheitani (diabo-mau espírito). Talvez atravês de escultores makonde radicados no Kenya há também contactos com a “Airport art” dos Kamba no Kenya, que utilizam geralmente madeiras mais claras. Parece que foi dos Kamba que os escultores maconde adotaram a figura do guerreiro masai com longas orelhas furadas que nos anos 80 começou a invadir a produção dos escultores moçambicanos mesmo em Pemba.

O artesanato foi capturado pela world art plâstica que se desevolveu paralelamente a world music.

Do ponto de vista das teorias de desenvolvimento a arte maconde é um exemplo de desenvolvimeto orientado no mercado. Mas é houve momentos em que se asumiu o contrário. De facto apenas as máscaras mapiko e outros elementos eram feitas para o “mercado” local. Segundo as investigações de R.T. Duarte em Mueda em 1983 (1987: 100, 102) os administradores se destacavam, possivelmente nos anos 20 e 30, como intermediários entre o público e os escultores. Devem ter sido mais importantes do que os missionários holandeses, que mais tarde também ter feito algumas encomendas.

Anexo 3 Estatística

População de Cabo Delgado (por completar)

FONTES E BIBLIOGRAFIA

Abreviações

AHM Arquivo histórico de Moçambique

AHU Arquivo Histórico Ultramarino

BN Boletim do Niassa

GG Governo Geral

1.Fontes não publicadas

1a AHM

Fundo do séc. XIX,

Gov. do Distrito de Cabo Delgado, Cx. 8-8

Cod. 11-1830, 11-1857, 1859

Cod. 4094

4307

Cod. 11-4465

Fundo GG

Cota, Missão etnognósica

Oliveira, Baptista de Monografia da Vila do Ibo. Ms 229pp, ca. 1960 no AHM, Doc. especiais[sobre Ibo e alguns aspectos da cultura Mwani, inclui extractos de trabalhos do Padre Gerards, catálogo dos Governadores 1760 até 27-10-1894]

Inspecções administrativas (ex-fundo ISAI)

Correia

1b. AHU.Lisboa

Fundo antigo de Moçambique (reorganisado depois da consulta).

1.cBona, Alemanha (Arquivo do Ministério dos Negocios Estrangeiros

(Referências a plantadores de sisal) Talvez agora transferido para o depósito de Berlim ou Burg

1d Fontes orais e documentos privados

Eugeniusz Rzewuski, Fotos 1980, informações orais 1988

1e. Fragmentos da genealogia e outros elementos da família Calisto de Morais (vistos em Maputo, e também já consultados ca. 1935 por Torres?.. ).e

1f. Fundação Samora Machel, Maputo.

Depoimentos de Paulina Mateus e outros participantes da luta armada

1g. outros documentos

Liesegang, G. 1988: Relatório sobre a Viagem a Cabo Delgado

Boleo, Oliveira, cópia do requerimento de Joaquim da Costa.Portugal que governou de 1778 a 1786

Relatórios dos governadores da Província do Niassa

2. Mapas

Herbert, Querimba (séc. XVIII)

Romero in Boxer (séc. XIX, 1860)

VILHENA, E. Jardim de 1904: Territórios da Concessão da Companhia do Nyassa. Carta elaborada pelo Governador Ernesto Jardim de Vilhena. Lisboa 1904. (1:750.000) Nota: A cópia consultada no A.H.M. inclue os postos fundados até 1912 e deve ter sido publicado em 1912 ou 1913).

COMPANHIA DO NYASSA, 1914: Croquis indicando a linha telegráfica e a situação aproximada dos postos militares em 31 de Dezembro de 1913. (1:1.400.000 aproximadamente). Lisboa: A

Editora Lda.

SKETCH MAP. 1917: Part of Northern Portuguese East Africa. Scale 1:1.000.000. War Office, March 1917. (Desenho do rio Msalo melhor do que Vilhena 1904. Muitas gralhas).

TORRES, J. 1918: Military Road Map. Compiled by .. Dar-es-Salaam (Escala 1:1.000.000).

3.Teses

Adam Y. 1996: Trick or Treat: the relationship between destabilisation, aid and government development policies in Mozambique 1975-1990. Roskilde Ph.D. in Development Studies traduzido e publicado 2005 como: Escapar dos detes ---

Daniel, António 1995 Influência Islâmica no litoral de Cabo Delgado: o caso da educação islâmica na Ilha do Ibo. Maputo. UEM trabalho de licenciatura em História.

.

João, Benedito Brito 1989: Abdul Kamal 1892-1966 et l’histoire du Chiure aux XIX et XX siècles. Étude sur la chefferie traditionelle, les réseaux islamiques et la colonisation portugaise. Paris: Mémoire Diplome EHESS sous direction de E. M Mbokolo.

Traduzido como

Madiquida, Hilário 2007: The iron-using communities of the Cabo Delgado Coast from AD 1000. Maputo e Uppsala

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