Célia Belim
O Processo de Decisão Política – O Caso do Novo Acordo Ortográfico
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Elenco de Atores
Definição do Problema
Instrumentos Políticos
Identificação do Assunto: Novo acordo ortográfico (AO) de língua portuguesa para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Simplificação do seu uso? Dotação de uma maior força internacional? Estratégia negocial na Comunidade Internacional?
Quadro de analistas: ACL, Academia Brasileira de Letras (ABL), linguistas, filólogos, académicos, escritores, editores, livreiros, políticos, líderes de opinião.
Quadro de partes interessadas: Países de Língua Oficial Portuguesa.
Concretamente: Interesses empresariais brasileiros, que prognosticam uma maior penetração em novos mercados. Oferecem resistência interesses empresariais portugueses, que temem a concorrência de editoras brasileiras e pressionam o Governo no sentido de adiar a aplicação efetiva
Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL)
Como? Proposta de resolução do Governo, aprovada em Conselho de Ministros (06.03.2008), que contribuirá para a ratificação do Acordo Ortográfico pelo Estado Português.
Porquê? Visa-se a unificação da escrita do português, anulando duplicidades ortográficas, de modo a conseguir-se projeção internacional e simplificação na aprendizagem. Pois privilegiando-se a pronúncia, facilita-se a aprendizagem. "Visa contribuir para a expansão e afirmação da língua portuguesa, através da consolidação do seu papel como meio de comunicação e difusão do conhecimento, como suporte de discurso científico, como expressão literária, cultural e artística e, ainda, para o estreitamento dos laços culturais" (Governo). No sentido de relançar a língua portuguesa internacionalmente, Cavaco Silva, em visita oficial aos EUA, realçou o merecimento de estatuto do português como língua oficial da ONU – terceira língua europeia em número global de falantes e a sexta a nível mundial (Mundo Português, 2011).
Métodos analíticos:
Hipótese: O uso de uma língua portuguesa uniformizada contribui para um maior relançamento internacional do português;
Hipótese: A unificação do português, dando primazia à pronúncia, facilita a aprendizagem.
Tomadores de decisão: CPLP: três ratificadores do texto para o Acordo vigorar;
Figuras decisoras: Governo iniciador do processo, Assembleia da República (AR), com capacidade de aprovação, e Presidente da República (PR), com poder promulgador;
Votos a favor na AR: maioria dos deputados PS, PSD, BE, e 7 deputados do CDS-PP;
Abstenções na AR: PCP, o PEV e 3 deputados do CDS-PP (Paulo Portas, José Paulo Carvalho e Abel Baptista);
Votos contra na AR: Manuel Alegre, 2 deputados do CDS-PP e Luísa Mesquita.
Identificação das opções:
Seguir o exemplo espanhol – de unificação do castelhano em Espanha e na América Hispânica -, ou o exemplo inglês, que admite variações linguísticas e que não esmoreceu em projeção internacional.
Ou seja: manter-se a ortografia e fidelidade à etimologia da língua, ou simplificá-la, adoptando uma forma unificada na CPLP.
Condições atuais: O AO, que visa unificar a escrita do português, foi alcançado em finais de 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994, mas apenas três dos Estados membros da CPLP - Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - aprovaram quer o acordo quer os dois protocolos modificativos, entretanto estabelecidos entre os países da CPLP.
O segundo desses protocolos, de 2004, prevê que é suficiente a ratificação do texto por três países para que o mesmo entre em vigor. Este Protocolo Modificativo foi assinado por todos os países lusófonos, mas apenas ratificado inicialmente pelo Brasil (2004) e Cabo Verde (2005), tendo em Agosto de 2006 sido ratificado igualmente por São Tomé e Príncipe.
Acordo contemplativo das críticas à proposta de 1986.
No caso português, cabe à Academia das Ciências de Lisboa (ACL) editar os vocabulários, tornados, depois, oficiais e incluídos no Dicionário de Língua Portuguesa.
Influenciadores:
A favor: Escritores (Ivo Castro), académicos (Malaca Casteleira, Vital Moreira, Carlos Reis), comentadores políticos (Marcelo Rebelo de Sousa);
Contra: “Movimento Contra o Acordo Ortográfico”, Porto Editora, escritores (Mia Couto, Vasco Graça Moura, António Lobo Antunes), comentadores políticos (Miguel Sousa Tavares), académicos (António Barreto), jornalistas (Maria Filomena Mónica), jornal Público divulgou: “Uma das mudanças mais radicais previstas no projecto era a eliminação das consoantes mudas, 'brasilificando' assim o vocabulário português”.
opinion leaders? Academia? Especialistas? Colocar a favor e contra?
Definição das mudanças necessárias
• 26 letras (inclusão do k, w e y) em vez de 23 letras no alfabeto português;
• Novas regras no uso de maiúsculas e minúsculas;
• Supressão das consoantes mudas e de alguns acentos graves e hífenes;
• Cerca de 1,6% das palavras serão alteradas, enquanto no Brasil 0,5%.
Definição do Eleitorado
• Alguma relutância;
• Governo e respetivo partido pró;
• PSD, BE pró;
• PCP abstém-se;
• Comunidade académica, líderes de opinião, media e opinião pública divididos;
• Promoção do debate de prós e contras nos media.
Definição das opções e meios
Temporais: 6 anos de transição, com fases programadas;
Administrativos: A ACL está a elaborar o Vocabulário Ortográfico Português (VOP), que está em atraso. O Governo deve avançar com o VOP do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), que é a base do Lince. O Lince é uma ferramenta descarregável, que permite a conversão automática de textos de qualquer dimensão para a nova ortografia;
Legais: A lei fixa um período de transição de 6 anos:
No ensino educativo, ocorre no ano letivo de 2011/2012.
A partir de 1 de janeiro de 2012, é aplicado nas entidades estatais e no Diário da República;
Negociais: Sobre a pertinência do acordo: ACL e a ABL. Apreciação e aprovação: AR e PR;
Informáticos: Lince, disponibilização, pelas editoras, de ferramentas atualizadas da nova língua;
Mediáticos: Media adotam novo acordo nos textos, para os portugueses se familiarizarem com a nova escrita.
Identificação dos impedimentos
Económico-Financeiros: Investimento considerável para efetivar o Acordo;
Linguísticos: Contradição da etimologia da língua;
Sociais/Culturais: Movimentos de crítica social, manifestos (Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico), criticismo na blogosfera, petições (Petição contra o AO), abaixo-assinados, cartas-abertas;
Políticos: Possibilidade de veto do PR;
Negociais: Poder de lobbies provindos dos editores e livreiros portugueses;
Prospetivos: Lacuna/indefinição quanto aos efeitos do AO.
Definição da estratégia
Concertar meios (mediáticos, informativos, informático-práticos, etc.) para garantir a boa implementação do Acordo.
Plano tático
• Concertação de meios;
• Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), produzido em conformidade com o AO, e o conversor Lince como ferramenta de conversão ortográfica de texto para a nova grafia, disponíveis e acessíveis de forma gratuita no sítio da Internet e nos sítios da Internet de todos os departamentos governamentais, ambos desenvolvidos pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) com financiamento público do Fundo da Língua Portuguesa;
• Iniciativas de informação e de sensibilização e a divulgação de conteúdos de esclarecimento da aplicação do AO no sítio da Internet de cada departamento governamental;
• A sua aplicação pelas diversas entidades públicas e a sua utilização nos manuais escolares
• A sua adopção pelos órgãos de comunicação social;
• Sensibilização das oportunidades do Acordo no cenário internacional;
• Definição de um período transitório fásico, com esforços no sentido de familiarizar os utentes da língua.
Avaliação dos impedimentos
Força dos lobbies;
O PS, na altura com a maioria absoluta, e estando a favor do Acordo, garante a sua passagem.
O eventual entrave legislativo podia provir do PR. Contudo, o seu eventual veto – não sendo justificado pela inconstitucionalidade –, retornando à AR, seria anulado pela aprovação do PS, maioritário na AR.
Legislação
Validado no Parlamento a 16 de Maio de 2008 e promulgado pelo Presidente da República a 21 de Julho de 2008.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, Diário da República, 1.ª série – N.º 17-25 de Janeiro de 2011.
Regulação
7 — Determinar a criação de uma rede de pontos focais para acompanhamento da aplicação do Acordo Ortográfico composta por representantes nomeados pelos membros do Governo responsáveis pelas seguintes áreas:
a) Negócios estrangeiros; b) Finanças; c) Procedimento legislativo; d) Educação; e) Ensino superior; f) Cultura; g) Assuntos parlamentares.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, Diário da República, 1.ª série – N.º 17-25 de Janeiro de 2011. In .
Negociações
CPLP, respetivos governos, a ACL e a ABL, no sentido de projeção mundial do português e capacidade negocial inerente.
Execução
Período transitório fásico, com a ajuda de diversas entidades (media, entidades governamentais, etc.) e mecanismos (Lince, VOP, manuais escolares com o AO, etc.) para facilitar a adaptação ao novo português.
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