A Segunda Guerra Mundial: Causas, Estrutura, Consequências

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A Segunda Guerra Mundial: Causas, Estrutura, Consequ?ncias

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A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Causas, Estrutura, Consequ?ncias

Osvaldo Coggiola

1

INTRODU??O, 3 1. UM MASSACRE SEM PRECEDENTES, 5

2. ANTECEDENTES E CAUSAS, 11 3. HITLER E O NAZISMO, 27

4. A GUERRA E O STALINISMO, 44 5. ENTRE EUROPA, ORIENTE E AM?RICA, 56 6. A FASE INICIAL DA GUERRA NA EUROPA, 62 7. CEN?RIO ASI?TICO E CEN?RIO MUNDIAL, 71

8. ECONOMIA DE GUERRA, 78 9. HOLOCAUSTO: PREPARA??O, 88

10. HOLOCAUSTO: EXECU??O, 98 11. A URSS EM GUERRA, 108

12. O COME?O DA DERROTA DO EIXO, 123 13. O FIM DA GUERRA MUNDIAL, 141

14. REVOLU??O E CONTRARREVOLU??O NA EUROPA, 154 15. DA ECONOMIA B?LICA ? "NOVA ORDEM ECON?MICA", 177 16. REVOLTA COLONIAL: ORIENTE M?DIO, SUDESTE ASI?TICO, AM?RICA

LATINA, 193 17. REVOLU??O COLONIAL: ?NDIA E CHINA, 206 18. A CONTRARREVOLU??O METROPOLITANA, 216 19. AS CONSEQU?NCIAS DE LONGO PRAZO DA GUERRA, 233

CRONOLOGIA, 244

DOCUMENTO 1: A LUTA CONTRA O IMPERIALISMO E CONTRA A GUERRA,

249

DOCUMENTO 2: A GUERRA IMPERIALISTA E A REVOLU??O PROLET?RIA

MUNDIAL, 252 BIBLIOGRAFIA, 273

2

INTRODU??O

N?o seguimos, no texto que segue, uma sequ?ncia cronol?gica (existem in?meras obras sobre a Segunda Guerra Mundial que assim o fazem, v?rias inclu?das na bibliografia ao final deste trabalho), mas uma sequ?ncia de problemas hist?ricos e historiogr?ficos levantados pelo maior conflito b?lico de todos os tempos. Diversos autores postularam a hip?tese de que o mundo padeceu, no s?culo XX, uma "Segunda Guerra dos Trinta Anos", entre 1914 e 1945: "Foram 31 anos, de agosto de 1914 a agosto de 1945. Ainda lhes chamamos, tradicionalmente, Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945), mas os futuros historiadores ir?o fundir os dois conflitos num s?... A Guerra dos Trinta Anos do s?culo XX, tal como a do s?culo XVII na Alemanha, n?o desfrutou de grandes intervalos de paz".1 Eric J. Hobsbawm chamou de "era da catastrofe", e de "guerra de 31 anos", o per?odo hist?rico compreendido entre 1914 e 1945, cuja nota dominante teria sido a crise da sociedade liberal/imperial precedente.2

Nessa interpreta??o, a Segunda Guerra Mundial teria sido, essencialmente, a continuidade da Primeira, envolvendo principalmente as pot?ncias europeias, com motivos e protagonistas basicamente semelhantes (inclusive nas suas alian?as internacionais, exe??o feita da It?lia), com uma breve tr?gua entre ambas, uma esp?cie de "paz armada" no entre guerras, pontuada pela "grande depress?o" econ?mica da d?cada de 1930. Tratou-se, por?m, para al?m dos elementos de continuidade, de conflitos de car?ter diverso, qualitativamente diferentes, diferen?a caracterizada, justamente, pela depress?o econ?mica mundial que precedeu a Segunda Guerra Mundial, e pela exist?ncia (sobreviv?ncia) da URSS, inclu?do seu fortalecimento econ?mico e militar na d?cada de 1930. A Segunda Guerra Mundial n?o decorreu "naturalmente" da Primeira: foi, ao contr?rio, perfeitamente evit?vel. A pr?tica de massacres em massa, elemento mais vis?vel de continuidade entre ambos conflitos, foi, na Segunda Guerra Mundial, dirigida principalmente contra a popula??o civil (o que n?o foi o caso na Primeira), em especial na Europa.

Segundo Trotsky, em texto de meados de 1940: "A guerra mundial ? a continua??o da ?ltima guerra. Mas continua??o n?o significa repeti??o. Como regra geral, uma continua??o significa um desenvolvimento, um aprofundamento, uma acentua??o". Na Enciclopedia Storica de Massimo Salvadori aponta-se o car?ter mais "ideol?gico" (democracia vs. fascismo) da Segunda Guerra Mundial em rela??o ? Primeira. Quanto ao car?ter da guerra, afirma-se: "Bombardeios maci?os, frequentemente de natureza terrorista, foram realizados sobre um grande n?mero de cidades, muitas das quais foram totalmente arrasadas, causando imensos estragos, provocando sofrimentos desumanos e destruindo para sempre grande parte da heran?a hist?rica [da humanidade]" (grifos nossos).3 N?o se poderia descrever melhor, sinteticamente, a barb?rie em a??o. A Segunda Guerra Mundial foi, antes do mais, um retrocesso hist?rico da humanidade em seu conjunto. H? outra diferen?a importante entre os dois conflitos mundiais. A Revolu??o de Outubro de 1917 foi o acontecimento mais importante da Primeira Guerra Mundial, e o principal fator que precipitou seu fim.

1 Charles Van Doren. Uma Breve Hist?ria do Conhecimento. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2012, p. 331. Henri Michel negou que a Segunda Guerra Mundial fosse a "revanche" (uma esp?cie de segundo turno) ou a continuidade da Primeira, mas limitou as diferen?as entre ambas ? "extens?o" (geogr?fica) da guerra, e ? "totalidade" dos recursos postos em jogo: os principais pa?ses envolvidos dedicaram toda sua capacidade econ?mica, industrial e cient?fica a servi?o dos esfor?os de guerra, deixando de lado a distin??o entre recursos civis e militares (La Seconda Guerra Mondiale. Roma, Newton & Compton, 1995). 2 Eric J. Hobsbawm. Era dos Extremos. O breve s?culo XX 1914-1991. S?o Paulo, Companhia das Letras, 1995. 3 Massimo Salvadori (ed). Seconda Guerra Mondiale. Enciclopedia Storica. Bolonha, Zanichelli, 2000, p. 1071.

3

Pa?ses em guerra 1939-1945

No caso da Segunda Guerra Mundial, a revolu??o social a precedeu, na Espanha e na Fran?a, mas ela fracassou: se tivesse sido vitoriosa em um desses pa?ses, ou nos dois, todo o panorama pol?tico europeu e, at? certo ponto, mundial, teria mudado por completo. Tentamos apresentar, nas p?ginas que seguem, uma vis?o da guerra, e da crise que a precedeu, incluindo n?o apenas suas realidades, mas tamb?m as virtualidades que aquelas abriram, dentro de um trabalho de s?ntese-resumo.

4

1. UM MASSACRE SEM PRECEDENTES

Na Segunda Guerra Mundial houve sessenta milh?es de homens em armas, entre 45 e 50 milh?es de mortes (pela primeira vez num conflito b?lico, a maioria delas na popula??o civil) como resultado direto dos combates, ou entre setenta e oitenta milh?es de pessoas - s? existem estimativas vari?veis -, se forem contadas tamb?m as v?timas que morreram por fome, epidemias e doen?as como resultado indireto da guerra - oito vezes mais v?timas do que na Primeira Guerra Mundial:4 ao todo, aproximadamente entre 4% e 5% da popula??o mundial da ?poca, e tudo em escassos seis anos. A hist?ria n?o conheceu jamais um mortic?nio semelhante. As cifras citadas n?o incluem as baixas nas guerras civis na Coreia e na Gr?cia, ou nas guerras nacionais nas col?nias inglesas ou francesas, que foram decorr?ncia mais ou menos imediata da conflagra??o mundial.

A Segunda Guerra Mundial foi, em primeiro lugar, o conflito militar mais sangrento do todos os tempos. Em 1939, no seu in?cio "formal" (com as declara??es m?tuas de guerra entre as grandes pot?ncias europeias), v?rios pa?ses beligerantes j? estavam em guerra, como Eti?pia e It?lia na segunda guerra ?talo-et?ope,5 e China e Jap?o na segunda guerra sino-japonesa. A guerra civil espanhola (1936-1939), por sua vez, envolveu diretamente It?lia e Alemanha no apoio ao golpe militar de Franco contra a Rep?blica; seu desfecho (vitorioso para o lado apoiado pelas pot?ncias nazi-fascistas) foi o pr?logo imediato da guerra mundial.6

O conflito mundial envolveu as mais long?nquas regi?es do planeta, nos mares e na terra, na neve e no sol escaldante do deserto. O adiamento da resolu??o dos conflitos que levaram ? Primeira Guerra Mundial, e da revolu??o socialista que nela se originou, no primeiro p?s-guerra, foi pago com um pre?o in?dito em vidas humanas, especialmente forte nos pa?ses que estiveram no centro desses problemas: entre vinte e trinta milh?es de mortos na Uni?o Sovi?tica,7 treze milh?es na Alemanha, entre dez e quinze milh?es na China (na guerra sino-japonesa, 1937-1945), sem contar a "qualidade" das mortes, que inclu?ram cen?rios de degrada??o humana nunca vistos

4 Ernest Mandel. O Significado da Segunda Guerra Mundial. S?o Paulo, ?tica, 1982. 5 A guerra ?talo-et?ope foi uma t?pica guerra colonial, que come?ou em outubro de 1935 e terminou em maio de 1936. A guerra foi travada entre o Reino da It?lia e o Imp?rio Et?ope (tamb?m conhecido como Abiss?nia). A guerra resultou na ocupa??o militar da Eti?pia e na sua anexa??o ? rec?m criada col?nia da ?frica Oriental Italiana; al?m disso, exp?s a inadequa??o da Liga das Na??es para a manuten??o da paz. A Liga afirmava que trataria todos seus membros como iguais, no entanto, garantiu ?s grandes pot?ncias maioria no seu Conselho. Tanto a It?lia quanto a Eti?pia eram pa?ses membros da organiza??o, mas a Liga nada fez quando a guerra claramente violou o seu d?cimo artigo, afundando logo depois. Edward H. Carr criticou a suposta "ordem internacional" da Liga (que L?nin chamou simplesmente de "covil de bandidos", quando da sua cria??o no primero p?s-guerra) dizendo que era uma ilus?o pensar que na??es fracas e desarmadas pudessem deter algum poder na arena mundial. Na Liga, as decis?es eram tomadas e o poder era exercido pelas grandes pot?ncias, em detrimento da suposta "igualdade jur?dica" existente entre as na??es. As na??es menores seguiam ou sofriam press?o para seguir as maiores. Isto aconteceu quando a Inglaterra (1931) e mais tarde a Fran?a (1936) deixaram o padr?o ouro, ou quando a Alemanha ultrapassou a Fran?a no seu poderio militar: nesse momento, muitos pa?ses menores declararam neutralidade ou mesmo passaram para o lado da Alemanha devido a essa situa??o (Vinte Anos de Crise 19191939. Bras?lia, UnB, 2001). Carr era um diplomata liberal ingl?s que simpatizou com a revolu??o sovi?tica, transformando-se num de seus principais historiadores. 6 Anthony P. Adamthwaite. The Making of the Second World War. Nova York, Routledge, 1992. 7 As estimativas oscilam entre essas cifras imprecisas. Hoje se calcula que a Uni?o Sovi?tica perdeu cerca de 27 milh?es de pessoas durante a guerra, inclu?das as v?timas de seus "efeitos colaterais", quase metade das mortes derivadas do confronto b?lico no mundo todo. Um em cada quatro cidad?os sovi?ticos de sexo masculino foi morto ou ferido. Em 1959, na URSS havia ainda s? quatro homens para cada sete mulheres (Pierre Brou?. Uni?o Sovi?tica. Da revolu??o ao colapso. Porto Alegre, UFRGS, 1996).

5

na hist?ria, nos campos de concentra??o nazistas, nas c?maras de g?s, nas pol?ticas de "exterm?nio total" de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes mentais e outros, nos massacres em massa na Europa oriental, nos bombardeios de muitas cidades europeias, no ataque nuclear contra duas cidades japonesas.

O "projeto geral" (Generalplan Ost) do nazismo para Europa oriental e a URSS, formulado v?rias vezes entre 1940 e 1942 (inclusive durante a vig?ncia do pacto Alemanha-URSS) previa as mortes de dezenas de milh?es de membros das "ra?as inferiores" (eslavos, principalmente; sem falar do total exterm?nio dos judeus, que eram uma - numerosa - minoria no Leste europeu), pela via da fome, para transformar esses imensos territ?rios em zonas de coloniza??o alem? (isto ?, pela "ra?a ariana"): "Os alem?es deportariam, matariam, assimilariam ou escravizariam as popula??es nativas, levando ordem e prosperidade para uma fronteira humilhada. Entre 31 e 45 milh?es de pessoas, a maioria eslavas, deveriam desaparecer... entre 80% e 85% dos poloneses, 65% dos ucranianos ocidentais, 75% dos bielorrussos e 50% dos tchecos deveriam ser eliminados".8 Esses objetivos seriam realizados, entre outros meios, por um "Plano da Fome" que mataria por inani??o 30 milh?es de pessoas em apenas alguns meses: esses planos s? foram realizados parcialmente na experi?ncia piloto da zona coberta pelo "Governo Geral" nazista na zona polonesa de ocupa??o, para onde foram inicialmente deportadas popula??es judias e de outras "ra?as inferiores". Em 1941, "Himmler se referiu a um n?mero de mortos estimado em 30 milh?es de pessoas entre as popula??es de Europa oriental. Sua declara??o refletiu o ?nimo assassino que predominava entre os quadros superiores de comando da SS nos dias e semanas que precederam o ataque ? Uni?o Sovi?tica. Eles tinham plena consci?ncia de que estavam prestes a iniciar uma campanha de exterm?nio historicamente sem precedentes e racialmente motivada".9 Sem chegar a esse n?mero, na Europa oriental, os deslocamentos de pessoas entre 1939 e 1943 afetaram trinta milh?es de pessoas, com um elevado percentagem de v?timas mortais.

A execu??o dos planos de exterm?nio massivo dos nazistas (que se revelaram imposs?veis, inclusive durante a ocupa??o, devido, em parte, ? sua enorme escala, e tamb?m ? resist?ncia das popula??es afetadas)10 teria provocado um mortic?nio ainda maior do que aquele, enorme, que de fato aconteceu: "Entre 1939 e 1942 dezenas de milh?es de homens, mulheres e crian?as foram tirados de suas casas; ? deporta??o para o exterm?nio e para o trabalho deve-se acrescentar a deporta??o para reassentamento".11 Entre dois e tr?s milh?es de prisioneiros de guerra sovi?ticos, cerca de 57%, morreram de fome, maus tratos ou execu??es entre junho de 1941 e maio de 1945, a maioria durante seu primeiro ano de cativeiro. De acordo com outras estimativas, cerca de 2,8 milh?es de prisioneiros de guerra sovi?ticos morreram em oito meses, entre 1941 e 1942, e um total de 3,5 milh?es at? meados de 1944. O Museu Yad Vashem de Israel estima que 3,3 milh?es dos 5,7 milh?es de prisioneiros de guerra sovi?ticos morreram sob cust?dia alem?, em compara??o com 8.300 dos 231 mil prisioneiros brit?nicos e norteamericanos. O racismo e o anticomunismo tamb?m deixaram sua marca nas estat?sticas da guerra.

8 Timothy Snyder. Terras de Sangue. A Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro, Record, 2012, p. 203. 9 Robert Gertwarth. O Carrasco de Hitler. A vida de Reinhardt Heydrich. S?o Paulo, Cultrix, 2013, p. 222. 10 "A implementa??o de um programa t?o vasto de exterm?nio dirigdo contra toda a popula??o nativa de Europa oriental (era) absolutamente ut?pico em 1941. Era simplesmente imposs?vel reduzir grandes cidades russas a cinzas, alvejar 30 milh?es de pessoas ou cortar seu suprimento de comida e deix?-las morrer de fome sem correr o risco de provocar s?ria agita??o nas ?reas afetadas" (Idem, p. 229). 11 R. A. C. Parker. Struggle for Survival. The history of the Second World War. Nova York, Oxford University Press, 1989, p. 295.

6

As taxas de mortalidade dos prisioneiros russos (eslavos em geral) diminu?ram ? medida que os prisioneiros dessa origem (ou de outras) foram necess?rios para trabalhar como escravos no esfor?o de guerra alem?o; em 1943, meio milh?o deles foram "exportados" como trabalhadores for?ados para a Alemanha. Muitos deles salvaram assim suas vidas, mas foram considerados e julgados como "traidores" na sua volta ? URSS, com o fim da guerra. Centenas de milhares de homens e mulheres morreram tamb?m nos mortic?nios em massa nas "limpezas ?tnicas" promovidas, durante e imediatamente depois da guerra, nos redesenhados pa?ses da Europa oriental; esses Estados, pela primeira vez na era moderna, tenderam a se transformar em Estados "etnicamente homog?neos", inclusive em regi?es que haviam sido, at? ent?o, verdadeiros carrefours ?tnicos, lingu?sticos, nacionais e culturais, em especial os pa?ses b?lticos e partes importantes da Pol?nia e da Ucr?nia. Eis uma estimativa moderada e arredondada das mortes nos principais pa?ses europeus envolvidos na Segunda Guerra Mundial:

Pa?s

Militares

Civis

Total

Fran?a

350.000

350.000

700.000

Inglaterra

326.000

62.000

388000

EUA

300.000

350.000

300.000

URSS

6.500.000

10.000.000

16.500.000*

Pol?nia

-

5.000.000

700.000

Iugosl?via

-

1.000.000

700.000

Alemanha

3.500.000

700.000

4.200.000

It?lia

330.000

80.000

410.000

(*) As baixas totais da URSS apresentam varia??es entre 20 e 30 milh?es; as autoridades sovi?ticas

computaram geralmente apenas as baixas militares, entre seis e sete milh?es de mortos, e as baixas civis

diretamente vinculadas a epis?dios b?licos.

As estimativas diferem bastante, n?o existindo acordo sobre elas at? hoje; as diferen?as s?o devidas, muitas vezes, a diversos crit?rios de classifica??o (o que deve ser considerado, ou n?o, morte devida ? guerra, por exemplo). As novas "fronteiras ?tnicas" dos Estados leste-europeus foram tra?adas sobre montanhas de cad?veres insepultos e com base em pol?ticas objetivamente (quando n?o subjetivamente, como no caso dos judeus) exterminadoras, que conseguiram, em medida enorme, apagar os motivos e mecanismos hist?ricos e pol?ticos dos enfrentamentos pr?vios entre os pa?ses beligerantes, e da pr?pria guerra. A maioria dos cen?rios, inicialmente s? b?licos, da Europa, se transformaram, no decorrer e no desfecho da guerra, em cen?rios de luta sem limites de qualquer esp?cie pela simples sobreviv?ncia f?sica de soldados e civis: "Quase tudo que os povos civilizados consideram garantido em tempos de paz foi posto de lado, especialmente a expectativa de receber prote??o contra a viol?ncia... Na sitiada Leningrado, pessoas famintas comiam umas ?s outras... A explos?o da prostitui??o foi um tr?gico fen?meno global, que merece seu pr?prio livro [at? hoje n?o escrito]... Era fundamental que somente um n?mero ?nfimo de l?deres e comandantes nacionais soubesse o que se passava al?m de seu campo de vis?o (na que) foi a maior e mais terr?vel das experi?ncias humanas".12

Os grandes massacres, por?m, precederam ? guerra propriamente dita, em especial na "terra de sangue (que) se estende do centro da Pol?nia at? o Oeste da R?ssia, passando pela Ucr?nia, Bielorr?ssia e os Estados b?lticos. Durante a consolida??o do nacional-socialismo e do stalinismo (1933-1938), a ocupa??o conjunta da Pol?nia pelas for?as alem?s e sovi?ticas (1939-1941) e, em seguida, durante a guerra entre a Alemanha e a Uni?o Sovi?tica (1941-1945), a viol?ncia em

12 Max Hastings. Inferno. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro, Intr?nseca, 2012.

7

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