A França no Brasil



A França no Brasil

Por quase cinco séculos, a influência francesa sobre o Brasil deu-se em todas as áreas, desde a ocupação do território tentada por Villegagnon, passando pelas viagens dos naturalistas, pelas artes plásticas, pela fotografia, pela literatura, pela filosofia, pelas ideais políticas, pela prevenção higienista, pela arquitetura moderna e pelo cinema. Praticamente não houve arte, ciência ou conhecimento em que a cultura francesa não esteve presente entre nós.

O que se segue é uma cronologia que procura mostrar quais foram os campos desta aproximação mais intensa, a qual, na feliz expressão de Mario Carelli, gerou um "cruzamento de culturas" que fez com que os franceses se endessem aos encantos do "bom selvagem" importado do Brasil (o precursor do "homem cordial" de Sérgio Buarque de Hollanda), enquanto os brasileiros, por seu lado, tentaram por todos os modos reproduzir a Civilização Francesa nos trópicos, provocando uma singular inter-relação entre natureza e civilização.

Cronologia

Primeira Missa da França Antártica, de Villegagnon

1500 - Extrativismo - A costa brasileira era sistematicamente visitada pelos marinheiros bretões e normandos que vinham para cá em busca do pau-brasil, cuja tintura era utilizada nas tecelagens e na tapeçaria francesa.

1504 - Expedição - Binot Paulmier de Gonneville, navegador francês nascido em Gonneville-sur-Honfleur, vindo com a caravela L’Espoir desembarca na embocadura do rio São Francisco do Sul, no atual estado de Santa Catarina, onde é rezada missa em 6 de janeiro de 1504.

1550 - Festa brasileira em Rouen - No dia 1º de outubro de 1550, portanto cinco anos antes do desembarque de Villegagnon na baia de Guanabara. Os principais investidores do projeto, os armadores e mercadores da próspera cidade normanda, providenciaram uma sensacional montagem de quadros vivos que procuravam reproduzir, em solo francês, a paisagem tropical brasileira e o modo de viver da sua gente. Entre os figurantes encontravam-se 50 índios tupinambás que, misturados a marinheiros fantasiados, simularam um combate entre as duas tribos rivais, a dos tupinambás amigos dos franceses, e a dos tabajaras, aliados dos lusos.

1555 - A França Antártica - Inicia-se a efetiva permanência francesa no Brasil pela fundação do Forte Coligny, situado na Bahia de Guanabara, feito do cavaleiro de Malta Nicolas Durand de Villegagnon - colônia que serviria à exploração mercantil e abrigaria protestantes perseguidos na França, e que durou até 1565, com a expulsão dos franceses.

A região resta totalmente inculta. Não há casa nem abastecimento de trigo. Não há senão que homens selvagens estranhos a toda cultura e a toda humanidade, totalmente diferentes de nós por seus costumes e sua disciplina, sem religião, sem qualquer noção de honra, de virtude, do bem e do mal, me dou conta que estamos em mio a bestas que têm a aparência humana. (Carta de Villegagnon a Jean Calvino: 31 de março de 1557)

1557 - Livro de André Thevet - Thevet lança Singularidades da França Antárticapela Bibliothèque National de France.

A margem do nosso mundo existe um outro mundo ainda/O qual ele relata, não como fez Jason das margens do rio Pahse, do tosão de ouro/Mas tudo o que ele viu dos campos da Aurora. (Joachim de Bellay Sonnets, sobre a narrativa de Thévet).

1565 - Poema sobre a França Antártica - Ode contra a Fortuna de Pierre Ronsard, dedicada ao ex-cardeal Odet de Coligny. O poeta conheceu Villegagnon em Turim, fazendo mais tarde menção a aventura da França Antártica, entendida como façanha dos huguenotes. Na ode, o poeta celebra a possibilidade de levar uma vida aventurosa em meio a um paraíso habitado por gente inocente.

Algum dia hei de abandonar esse mundo/E me deixarei levar pelas ondas da fortuna/para alcançar as margens do local que Villegagnon , sob o pólo da Antártica, semeou o vosso nome/Mas sinto que sou fraco para corre pelos mares, por vagalhões e ventos, do acaso maldoso (Trecho de Ode contra a Fortuna)

1578 - Etnografia – O Livro de Jean de Léry, Viagem à Terra do Brasil, faz magnífica descrição da vida na França Antártica e dos costumes indígenas da região. Obra dedicada a François Coligny, senhor de Chatillon, filho do almirante Coligny, tida como o primeiro grande relato etnográfico dos indígenas brasileiros.

Minha intenção e meu objetivo serão apenas contar o que pratiquei, vi, ouvi e observei, quer no mar, na ida e na volta, quer entre os selvagens americanos com os quais convivi durante mais ou menos um ano (Viagem à terra do Brasil, cap.I).

1580 - Canibais - Montaigne registra nos seus Ensaios, no famoso capítuloDos canibais suas observações sobre os tupinambás que encontrou na França.

Esses povos não me parecem, pois, merecer o qualificativo de selvagens somente por não terem sido senão muito pouco modificados pela ingerência do espírito humano e não haverem quase nada perdido da sua simplicidade primitiva. Contatos, sucessão e partilhas ai são desconhecidos; em matéria de trabalho só sabem da ociosidade; o respeito aos parentes é o mesmo que dedicam a todos. As palavras que exprime a mentira, a traição, a dissimulação, a avareza, a inveja, a calúnia e o perdão só excepcionalmente se ouvem. São homens que saem das mãos dos deuses. (Trecho de Ensaios Dos Canibais)".

1612 - Fundação da França Equinocial - Primeira Missa rezada por quatro frades capuchinhos em 12 de agosto onde seria erguido o forte de São Luís do Maranhão A missão francesa era capitaneada por Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, na intenção de lançar as bases da ocupação do litoral do Maranhão, em atenção ao sonho do jovem rei Luís XIII. Deu-se conhecimento da constituição real, jurada por todos os participantes da expedição.

1710 - Pilhagem - Ataque dos franceses ao Rio de Janeiro liderados pelo corsário Duguay-Troin (1673-1736), vindo de Saint Malô. Episódio agressivo que se deu no início do século XVIII(1710) com o assalto ao Rio de Janeiro, primeiro por Duclerc e em seguida pelo capitão-corsário Duguay, cidade que então era principal centro do transporte aurífero brasileiro.

1745 - Amazônia - Publicação do relatório de viagem do naturalista Charles-Marie de la Condamine sobre suas pesquisas feitas na região amazônica. Materiais que foram repassados a Buffon, celebrado autor da Historia Natural.

1789 - Inconfidência Mineira - Inspirada nas idéias iluministas e na maçonaria francesa que atuava na região das Minas Gerais. Como prova da intenção subversiva dos inconfidentes vários livros vindos da França foram arrolados pelos inquisidores como promotores intelectuais da revolta.

1798 - Revolta dos Alfaiates - Conspiração Baiana: ocorreu em Salvador na Bahia como uma reprodução dos acontecimentos revolucionários passados na França. Inspirada por intelectuais pertencentes à Academia dos Renascidos, foi uma conspiração de caráter emancipacionista, articulada por pequenos comerciantes e artesãos, destacando-se os alfaiates, além de soldados, religiosos, intelectuais, e setores populares. A Revolta dos Alfaiates foi fortemente influenciada pela Revolução Francesa, quando os jacobinos liderados por Robespierre conseguiram, apesar da ditadura política, importantes avanços sociais em benefício das camadas populares, como o sufrágio universal, ensino gratuito e abolição da escravidão nas colônias francesas.

1816 - Missão Artística Francesa - Importante para a formação cultural das nossas artes plásticas foi a chegada de artistas franceses que para cá vieram em 1816 para atender as necessidades de Dom João VI. Fundou-se então em 12 de agosto daquele ano a primeira Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios Brasil, sendo que a maior dimensão dessa presença se deu pelo talento de Jean Baptiste Debret (1768-1848), um verdadeiro cronista social armado com pincéis com os quais registrou em imagens vivas as mais diversas cenas da vida cotidiana do Brasil colonial. Foi dele também o desenho da primeira bandeira do Brasil (verde-amarela com um losângulo no centro). Além de Debret integraram a Escola os artistas Joachin Le Breton, Pierre Dillon, Nicolas e Auguste Taunay, Simon Pradlier, Granjean de Montigny, François Ovide, Charles Levasseur, Louis Meunié, e François Bonrepos.

1819 - Arquitetura neoclássica - Projeto da Praça do Comércio do arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850), assinala os começos do estilo neoclássico trazido da França.

1816 - Naturalismo - O naturalista Auguste Saint-Hilaire realiza sua viagem ao Brasil. Penetrou no Sertão brasileiro, indo para Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ficou no Brasil até 1822.

Para conhecer toda a beleza das florestas tropicais é necessário penetrar nesses retiros tão antigos como o mundo. Nada aqui lembra a cansativa monotonia de nossas florestas de carvalhos e pinheiros; cada árvore tem, por assim dizer, um porte que lhe é próprio; cada uma tem sua folhagem e oferece freqüentemente uma tonalidade de verde diferente das árvores vizinhas. Vegetais imensos, que pertencem a famílias distantes, misturam seus galhos e confundem sua folhagem.

1822 - Maçonaria - O Grande Oriente do Brasil adere ao Rito Moderno criado em 1761. Este foi reconhecido pelo Grande Oriente da França em 1773. A partir de 1786, quando um projeto de reforma estabeleceu os sete graus do rito - em contraposição ao emaranhado dos Altos Graus da época - ele teve grande impulso espalhando-se por toda a França, pela Bélgica, pelas colônias francesas e pelos países latino-americanos, inclusive pelo Brasil. Já no início do século XIX, o Grande Oriente do Brasil - primeira Obediência brasileira - foi fundada em 1822, adotando o Rito Moderno, antes do Rito Escocês que só seria introduzido em 1832.

1825 - Fotografia - Hercule Florence, um dos precursores da fotografia na América Latina, especializou-se na reprodução do canto dos pássaros (zoofonia) durante a expedição de Langsdorf da qual participou como desenhista. Autor do livro Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas (1829).

1829 - Teatro - Companhia lisboeta apresente ao público carioca no Teatro São Pedro de Alcântara, pela primeira vez peças de Victor Hugo, Bouchardy, Dumas, Voltaire e outros.

1831 - Naturalismo - O naturalista Aimé Bonpland, companheiro de Alexandre von Humboldt, após dez anos de cativeiro no Paraguai, inicia suas viagens pela região missioneira do Rio Grande do Sul, fixando-se por um tempo em São Borja.

1838 - Comédia - Martins Pena apresenta sua peça O juiz de paz na roça, e, tempos depois, é considerado o "Molière brasileiro".

1858 - Testemunho de Charles Ribeyrolles sobre o Rio - Afirmou serem os escravos indivíduos imersos em um universo de dor, promiscuidade sexual e "bestialidade". Desprovidos de condições mínimas que levassem à constituição de famílias, viviam como "ninhadas" e, deste modo, ele concluiu que não havia entre eles nenhuma perspectiva de passado e de futuro: "Nos cubículos dos negros, jamais vi uma flor: é que lá não existem esperanças nem recordações". Todavia, a gravura de Debret de um casamento entre libertos é um desmentido dessa visão tão crítica de Ribeyrolles.

1865 - Fotografia - Início da atividade fotográfica do franco-brasileiro Marc Ferrez, testemunho da vida cotidiana do Império e da República.

1870 - Gobineau embaixador - Episódio que merece registro é a curta presença do Conde Gobineau, embaixador francês da corte no Brasil, durante o 2º Reinado.Homem que apesar das suas teses racistas foi muito próximo do Imperador D. Pedro II, a quem seis anos depois servia como um cicerone informal na viagem imperial à Europa.

Estou submetido a influências malsãs e excessivas. Minha extrema solidão, esta atmosfera só comparável a um banho de vapor perpétuo, este céu sempre cinzento e baixo, flores enormes de cores brilhantes, atordoando-me os olhos, tantos negros, negras, mulatos, mulatas de todos os lados, ninguém com quem falar, a não ser o Imperador, estou-me tornando imbecil, tenho febre, um mal-estar universal e um cansaço constante(Carta de janeiro de 1870).

1871 - Manifesto Republicano - Lançado em Itu, interior de São Paulo em 3 de dezembro de 1870, por Quintino Bocaiuva e Saldanha Marino, logo após o fim da Guerra do Paraguai, inspirado na proclamação da IIIª Republica francesa, de 4 de setembro de 1870, conseqüência da queda do império de Napoleão III.

1876 - Positivismo - Surgimento da Sociedade Positivista Brasileira, antecedida pela publicação da obra de Luís Pereira Barreto As Três Filosofias, cujo primeiro volume foi publicado em 1874. Coube a Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, a partir de 1881, a assumirem o trabalho do apostolado no Rio de Janeiro. Forte influência na Escola Militar através da adesão de Benjamim Constant, famoso professor de matemática da Escola Militar.

1876 - Entrevista com Victor Hugo - Em viagem pela Europa, o imperador D.Pedro II, na qual foi acompanhado pelo Conde Gobineau, visita Victor Hugo na sua residência na Place des Voges. Diz à Jeanne filha do escritor: “Minha filha, aqui existe apenas uma majestade: Victor Hugo.” Além dele entrevistou-se com Ernest Renan e Louis Pasteur.

1884 - Espiritismo - Fundação da Federação Espírita Brasileira (FEB), em reunião promovida por Elias da Silva, a 1º de janeiro de 1884, estando presentes, além de Augusto Elias da Silva, Francisco Raimundo Ewerton Quadros. Sendo que o primeiro Centro Espírita havia surgido em Salvador, na Bahia, em 1865. Entre outras atividades a FEB assumiu a divulgação da obra de Allan Kardec, pseudônimo do pedagogo e escritor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon em 1804, O Livro dos Espíritos, editado originalmente em 1858. Todavia, a mais famosa publicação do espiritismo no Brasil ocorreu em 1869 com a edição do Eco do Além Túmulo, de Luis Olimpio Teles de Moraes.

1885 - Hugonianas - Em homenagem a Victor Hugo, falecido em Paris em 22 de maio de 1885, Múcio Teixeira publica uma coletânea de poemas do grande escritor francês traduzidos por poetas brasileiros.

1889 - A Proclamação da República - A República proclamada no Rio de Janeiro no dia 15 de Novembro de 1889, deu-se sob a égide da celebração do Centenário da Revolução francesa de 1789. Os ideais republicanos com que ela fora fundada no Brasil, estavam fortemente embasados pelo pensamento do filósofo francês Auguste Conte, fornecendo inclusive o lema da bandeira nacional: Ordem e Progresso.

1897 - Academia Brasileira de Letras - Fundada por Machado de Assis em 20 de julho de 1897, a ABL tinha os regulamentos inspirados diretamente na Academia Francesa de Letras.

Como a nossa ambição, nestes meses de início, é moderada e simples, convém que as promessas não sejam largas. Tudo irá devagar e com tempo. Não faltaram simpatias às nossas estréias. A língua francesa, que vai a toda parte, já deu as boas vindas a esta instituição. Primeiro sorriu; era natural, a dois passos da Academia Francesa; depois louvou, e, a dois passos da Academia Francesa, um louvor vale por dois. Há justamente cem anos o maior homem de ação dos nossos tempos (Napoleão Bonaparte), agradecendo a eleição de membro do Instituto de França, respondia que, antes de ser igual aos seus colegas, seria por muito tempo seu discípulo. Não era ainda uma faceirice de grande capitão, posto que esse rapaz de vinte e oito anos meditasse já sair à conquista do mundo. A Academia Brasileira de Letras não pede tanto aos homens públicos deste país; não inculca ser igual nem mestra deles. Contenta-se em fazer, na medida de suas forças individuais e coletivas, aquilo que esse mesmo acadêmico de 1797 disse então ser a ocupação mais honrosa e útil dos homens: trabalhar pela extensão das idéias humanas.(Discurso de Machado de Assis)

1902 – Urbanismo - A reforma urbana do Rio de Janeiro, transformada em Capital Federal pela República, liderada pelo prefeito Pereira Passos foi fortemente influenciada pelas obras do prefeito de Paris, o Barão de Haussmann (1851 -1871), considerado o gênio do urbanismo francês do século XIX.

1900 - Política de Higienização - No campo da saúde pública, é importante observar que a obra sanitarista de Oswaldo Cruz no combate à febre amarela e na introdução das campanhas de vacinação, bem como na direção do Instituto de Manguinhos (foto), no Rio de Janeiro, que resultou dos estudos feitos pelo doutor Cruz sobre o desenvolvimento da bacteriologia no Instituto Pasteur de Paris.

1900 - Educação Feminina - Fundação do Colégio Sévigné pela senhora Emmiline Courteihl, esposa do cônsul francês em Porto Alegre. O nome é uma homenagem à Marques de Sévigné, senhora d ealta cultuyra da França do século XVII. A partir de 1904 passou a ser orientado pedagogicamente e espiritualmente pelas irmãs de São José de Chambéry .

1906 - Aviação - No dia 23 de outubro de 1906, Campo de Bagatelle, em Paris: o 14-Bis foi envernizado, para aumentar a sustentação, e feitas alterações na carcaça, para reduzir o peso. “Resultado: o 14-bis ficou mais leve, passou a pesar quarenta quilos menos. Também acrescentara um outro carburador, e tal medida proporcionou melhor rendimento ao motor, Às 16:45 horas, a aeronave decola e percorre 75 m, numa altura de cerca de 3 m. O "grande pássaro branco", semelhante "às garças mansas do pantanal de Mato Grosso" "de maneira elegante e graciosa, descreve um círculo e desce, executa a aterrissagem. Esta se processa com uma certa rudeza, porém sem prejuízo para as rodas ou o piloto. Mais de mil pessoas, perplexas, maravilhadas, contemplam o milagre. A emoção é geral. Todos se acham mudos, não existem palavras ou interjeições que possam traduzir o assombro da multidão siderada". Santos Dumont ganha a Taça E. Archdeacon.

1919 - Missão Militar - A Missão Militar francesa no Rio de Janeiro convidada pelo Ministério da Guerra, sendo que bem anteriormente circulava no meio castrense a Doutrina do Cidadão Soldado vinda dos tempos da Revolução de 1789. A Missão de 1919/1920 veio chefiada pelo General Gamelin, um dos supremos comandantes da frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18).

1923 - O Petit Trianon - Graças à iniciativa do presidente da Academia Brasileira de Letras da época, Afrânio Peixoto, e do então embaixador da França, Raymond Conty, o governo francês doou à Academia o prédio do Pavilhão Francês, edificado para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil, uma réplica do Petit Trianon de Versalhes, erguido pelo arquiteto Ange-Jacques Gabriel, entre 1762 e 1768.

1924 - Modernismo - Chegada do poeta modernista Blaise Cendrars, a convite de Paulo Prado. Contanto com os modernistas brasileiros Mario e Oswald de Andrade. Entedeu o Brasil como a “Utopialand”, a Terra da Utopia. Relaciona-se com Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

1931 - O Cristo Redentor - Estátua localizada na cidade do Rio de Janeiro, a 709 metros acima do nível do mar, no morro do Corcovado. De seus 38 metros, oito estão no pedestal. Foi inaugurado às 19h15 do dia 12 de outubro de 1931, depois de cerca de cinco anos de obras. Projeto do escultor franco-polonês Paul Landowski.

1934 - Fundação da USP - A Universidade de São Paulo (USP), que fora fundada em 1934, muito deve aos mestres pensadores que vieram de Paris, tais como Henri Hauser, Pierre Mombeig, Roger Bastide, Fernand Braudel e Claude Lévi-Strauss, que implantaram regras científicas nas áreas das humanas. Posteriormente, muitos deles se consagraram como autores de clássicos das ciências sociais. Seus discípulos tardios mais conhecidos foram Florestan Fernandes, Bento Prado Jr e Fernando Henrique Cardoso. Num livro polêmico Paulo Arantes, definiu o ensino de filosofia da USP como um departamento francês ultramarino.

1937 - O Bom Selvagem e a França - Ensaio de Affonso Arinos de Mello Franco sobre a influência que as narrativas sobre a vida dos indígenas brasileiros terminaram por provocar nas teorias sociais franceses, particularmente na concepção de Jean-Jacques Rousseau sobre o "bom selvagem".

1942 - Educação - Reforma Capanema: Lei Orgânica do Ensino Secundário, decretada pelo Ministro da Educação do governo Vargas, Gustavo Capanema que procurou reproduzir no Brasil a excelência da educação pública francesa vinda dos tempos da Revolução de 1789, com ênfase na escola laica e no ensino científico.

1942 - Arquitetura Moderna - Lúcio Costa assume o projeto arquitetônico do Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro enquanto Oscar Niemeyer projeta a Igreja da Pampulha em Belo Horizonte, ambos estilos apresentam influência do arquiteto franco-suíço Le Corbusier.

As paredes do lado sul do edifício devem ser feitas em parte por vidros não transparentes. Foi uma sugestão que me fez pessoalmente o sr. Le Corbusier, à vista da observação, que lhe fiz, sobre o inconveniente da iluminação excessiva. Os elementos fixos dessas paredes poderão ser constituídos por vidros translúcidos ou, menos ainda, opacos. (Carta de Gustavo Capanema a Lúcio Costa)

1944 - Literatura realista - Contratado pela Editora Globo de Porto Alegre, Paulo Rónai assumiu o projeto. Ao todo, 14 tradutores assumiram a tarefa de traduzir a Comédia Humana de Balzac, entre os quais Brito Broca, Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana. Para contextualizar o leitor brasileiro a respeito da França da época de Balzac, Rónai elaborou mais de 7 mil notas de rodapé para os 89 livros da Comédia humana e escreveu os prefácios de cada uma das suas obras, pois julgava insuficiente apenas uma apresentação geral do conjunto. O projeto, composto por 17 volumes, com a primeira publicação em 1945, levou dez anos para ser concluído.

1946 - Sincretismo cultural - Pierre Verger instala-se na Bahia, dando continuidade a sua habilidade como fotógrafo, tornando-se etnólogo e babalaô, chamando-se "Fatumbi". Interessou-se pelos aspectos culturais da diáspora negra no Novo Mundo. Inicia uma incansável pesquisa sobre o culto dos orixás e sobre as influências econômicas e culturais do tráfico de escravos. Aprofunda suas investigações sobre a etnia ioruba, sua influência na cultura baiana e as ligações que estabelecem entre si. Disso resultou seu livro Flux et reflux de la traite des esclaves entre le Golfe du Bénin et Bahia de Todos os Santos, du dix-septieme au dix-neuvieme siècle.

Um balalaô me contou:

"Antigamente, os orixás eram homens.

Homens que se tomaram orixás por causa de seus poderes.

Homens que se tomaram orixás por causa de sua sabedoria.

Eles eram respeitados por causa da sua força

Eles eram venerados por causa de suas virtudes.

Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.

Foi assim que estes homens se tomaram orixás.

Os homens eram numerosos sobre a terra.

Antigamente, como hoje,

muitos deles não eram valentes nem sábios.

A memória destes não se perpetuou.

Eles foram completamente esquecidos.

Não se tomaram orixás.

Em cada vila um culto se estabeleceu

sobre a lembrança de um ancestral de prestígio

e lendas foram transmitidas de geração em geração

para render-lhes homenagem."

(Poema Como disseram Carybé e Fatumbi)

1948 - Literatura Moderna - Tradução do Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, na Coleção Nobel, da Editora Globo de Porto Alegre., cabendo ao poeta Mário Quintana a posição de um dos seus mais expressivos tradutores.

1949 - Catolicismo humanista - No pós-guerra, com a derrota do Nazi-Fascismo, e a liberação da Europa tornou-se crescente a influência de pensadores católicos humanistas - como Emmanuel Mounier, Teilhard de Chardin e Jacques Maritain, além da presença no Brasil, na década de 1950, do Padre Louis Joseph Lebret (1897-1966), dominicano francês ligado ao movimento Economia e Humanismo, o pensamento social católico brasileiro sofreu grandes transformações.

1955 - Antropologia - Tristes Trópicos: famoso livro de Claude Lévy-Strauss que relata seus contatos com grupos nativos do sertão brasileiro e marca o encerramento do fascínio do intelectual europeu pelo universo indígena. De certo modo é a resposta moderna e cética à ideologia roussoniana do "bom selvagem". Viu apenas pobreza, ignorância e desolação entre eles.

Quem vive na linha Rondon pode facilmente imaginar que se encontra na Lua.Imaginemos um território com a extensão da França, cujas quartas partes estejam inexploradas; apenas percorrido por pequenos bandos indígenas nômades que são dos mais primitivos que se possam encontrar no mundo e atravessado de um extremo ao outro, por uma linha telegráfica.(Trecho de Tristes Trópicos).

1958 - Cinema Novo - O decênio do Cinema Novo no Brasil(1958-1968), face tropical da Nouvelle Vague francesa dos anos 50 e 60, particularmente pela influência junto aos cineastas brasileiros, como Glauber Rocha, da obra de Jean Luc Godard, François Truffaut, Alain Resnais e tantos outros, cujos princípios técnicos e estéticos chegavam ao Brasil através dos Cahiers du Cinéma (criada em março de 1951 por Jacques Doniol-Valcroze, André Bazin e Lo Duca.).

1960 - Existencialismo - A Intelectualidade brasileira, especialmente aquela ligada à filosofia e à literatura, mostra forte inclinação pelas idéias de Jean Paul Sartre e Simone Beauvoir, sendo que seus conceitos são pela primeira vez desenvolvidos nos departamentos de filosofia nas nossas universidades, ainda que seu dois livros mais importantes (O Ser e o Nada e Crítica da Razão Dialética tenham sido traduzidos para o português somente em tempos mais recentes).

Sartre chegou ao Brasil (como aos EUA e ao resto do mundo) no imediato pós-guerra, quando passou a ocupar lugar de destaque na mídia internacional.Você não se lembra do samba de carnaval "Chiquita Bacana", que era lá da Martinica, que se vestia de banana nanica e "existencialista, com toda razão, só faz o que manda o seu coração"? E chegou essencialmente como filósofo-romancista. Impossível dissociar as duas faces da obra e de sua recepção pelo público leitor. (Entrevista com Bento Prado Jr em Sartre nos trópicos).

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• Verger, Pierre - Flux et reflux de la traite des esclaves entre le golfe du Bénin et Bahia de Todos os Santos, du dix-septième au dix-neuvième siècle. Paris, Mouton, 1968.

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