O sol e o girassol - Contos e Historias



Foi um sonho tão fofinho:

Um prado azul e rosado

Um céu amarelo e verdinho…

Sonhei que tinha bailado

Mas, vejam só que maluquinho

De pernas para o ar virado.

Entretanto, o girassol triste, que agora se transformou em Sol, está todo feliz no meio do céu!

Tem uma expressão tão sorridente, que por certo há-de aquecer muito mais do que o Sol que havia antes.

E os passarinhos?

Os passarinhos ainda estão a dormir, foi uma noite cheia de emoções… estão cansados… mas muito satisfeitos!

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Nicoletta Costa

O sol e o girassol

Lisboa, Editorial Caminho, 1991

Texto adaptado

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O sol e o girassol

Uma família de girassóis vivia feliz num belo prado grande e macio: era mesmo o melhor prado que se podia desejar. Todos os girassóis tinham um excelente carácter; eram alegres, brincalhões e sempre simpáticos.

Todos… todos, menos um!

Havia um girassol carrancudo que nunca ria, não conversava com ninguém e muitas vezes se sentia triste.

Todas as manhãs os girassóis acordavam muito cedo, porque os pássaros fazem sempre muito barulho quando nasce o Sol.

Começavam logo a contar uns aos outros aquilo que tinham sonhado durante a noite: eram sonhos tão divertidos que se punham todos a rir, fazendo uma grande algazarra.

Mas havia aquele girassol que acordava com dores de cabeça e não se ria nem sequer um pouquinho.

Sonho de um girassol:

Sonhei que estava a dançar

numa barca a meio do mar.

Azul e branca era a vela

mas depois caía dela!

Surgiu então de repente

uma flor que era demente

com a cara de vidrinhos

e folhas aos quadradinhos

Perguntou: sabes voar?

Podemos experimentar…

E assim com um grande salto

voámos até muito alto,

olhei um pouco para o chão…

fiquei em grande aflição,

dei-me um bofetão

e acordei de supetão!

— Nós não dizemos nada a ninguém — sussurravam os passarinhos – e estamos mesmo dispostos a ajudar…

— Então ouçam! — disse o Sol, que já não cabia em si de contente. — Eu digo que se pode fazer tudo na quarta-feira à noite, quando a Lua tem o seu turno de descanso…

— Como? — pergunta o girassol, que era um pouco lento e não tinha compreendido bem. – Fazer o quê?

— Vocês trocam de cara, sabes, a ideia foi minha! — explica o passarinho todo orgulhoso.

O girassol estava muito assustado, mas agora os outros já tinham decidido!

E eis que finalmente chega a escura noite de quarta-feira.

Tudo foi devidamente organizado.

Basta esperar que a Lua se vá embora… e que todos os girassóis estejam a dormir.

Os passarinhos, muito calados, estão à espera… escondidos entre a erva.

E finalmente tudo fica em silêncio.

Quatro pássaros arrancam a cara do Sol, com muito cuidado, para não deslocar os raios… e levam-na para baixo. Quatro pássaros arrancam a cara do girassol, com muito cuidado, para não deslocar as pétalas… e levam-na para cima. Mais um pouco de paciência… e… zás… tudo está pronto! A troca está feita!

Viva, viva! Estão todos a dormir, ninguém deu por nada…

Na manhã seguinte… na manhã seguinte é sempre a mesma história, migalhas e confusão para os girassóis, mas desta vez… o girassol carrancudo ri como um doido e quer contar o seu sonho.

— Mãezinha! — exclama o Sol, cada vez mais agitado. — E pensar que eu, sozinho, me sinto tão triste, todo aquele silêncio… ninguém com quem falar… os longos dias de chuva que nunca mais acabam…

O girassol olha para ele e pensa:

“Este Sol havia de estar bem no meio dos meus amigos tão tagarelas, enquanto eu… no lugar dele… estaria com certeza muito bem…”

De repente… chega um bando de passarinhos muito curiosos, que tinham acabado de acordar.

— Uh, Uh! — piou o mais pequeno de todos. — O Sol está a fazer uma coisa muito estranha… Está tagarelando com um girassol, aquele carrancudo que nunca ri.

— Sempre te disse para não andares com mexericos — disse a mãe pássaro dando-lhe uma pancadinha na cabeça com a sua asa cinzenta. Mas aquele passarinho era demasiado curioso para obedecer. Escapa-se como um foguete, salta para cima de uma folha do girassol, senta-se e começa a olhar com um ar muito astuto, baloiçando as patinhas. Como era um passarinho muito esperto, compreendeu logo o problema.

— Mas isso é simples! — piou o passarinho, procurando ter uma voz séria e convincente. — PODEM FAZER UMA TROCA!

… e zás, apanhou um tabefe mesmo no bico. (Tinha uma mãe muito severa.)

— Por acaso é uma boa ideia — disse logo o Sol, que era muito incrédulo, enquanto o girassol pessimista não acreditava nos seus ouvidos.

— Olha que nós somos tão parecidos… — disse o Sol. — Até temos o nariz quase igual!

Nessa altura chegava um gato amigo com o tabuleiro do pequeno-almoço. Os girassóis eram tão gulosos que salpicavam as folhas todas de café com leite, falavam com a boca cheia e espalhavam migalhas por toda a parte. Assim que a primeira migalha caía no chão, os pássaros vinham logo a toda a pressa, com água na boca, e punham-se imediatamente a debicar.

Eram tão glutões que não tinham nenhum medo do gato. É verdade que aquele gato era meigo e afectuoso, mas todos os passarinhos deviam saber que com os gatos se podem ter surpresas desagradáveis.

Os girassóis passavam dias inteiros a brincar com os passarinhos e a ouvir o gato contar histórias engraçadas.

Quando finalmente chegava a noite, em vez de dormir, os girassóis galhofeiros punham-se a cantar em coro e eram tão desafinados que até a Lua se sentia muito aborrecida.

O girassol solitário nem sequer tinha força para protestar.

Também, protestar não servia de nada. Quando por fim aquele pobrezinho conseguia adormecer, tinha sonhos muito suaves…

Sonhava que vivia sozinho num prado muito pequenino, onde os únicos sons eram o sussurro de alguma plantazinha tímida que se espreguiçava um pouco ou as canções dos grilos (o girassol era louco por este tipo de sons!).

Sonhava também que daquele prado se podia ver muitas coisas, porque era um prado no alto de uma colina. Podia-se olhar para muito longe, lá em baixo na planície, e ver as casas, as árvores, as pessoas, tudo pequenino, pequenino…

Mas quando acordava e via os outros girassóis ali em volta,

dormindo felizes, vinha-lhe uma grande tristeza e começava a choramingar.

Estou mesmo desesperado,

não tenho paz neste prado!

Sozinho é que eu queria estar…

sem estes a incomodar.

Enquanto o girassol choramingava, o Sol, que tinha acabado de acordar, tentava endireitar os seus raios, que tinham ficado todos emaranhados durante a noite. Depois, tinha preparado o café e estava à espera de que ele arrefecesse porque detestava as coisas demasiado quentes.

Aquele Sol era muito curioso, e por isso, ao ouvir a vozinha do girassol, pôs-se logo a escutar… e ficou muito admirado!

O Sol não acreditava nos seus ouvidos.

“Aquele menino não percebe nada…”, pensou o Sol. “Desejar viver sozinho é mesmo uma tolice!”

É preciso dizer que o Sol não estava muito contente com a sua situação. Detestava almoçar sozinho, sem ninguém a quem contar os sonhos que sonhara durante a noite… detestava aquele seu horário de trabalho tão rígido… sempre ali à mesma hora e no mesmo lugar…

Nos dias de chuva, o Sol tinha de ficar na cama, escondido atrás de uma nuvem, e aborrecia-se tanto! Não era um trabalho nada adequado ao seu carácter.

Por isso não é de admirar que lhe parecesse incrível que alguém desejasse viver sozinho…

Agora o café está pronto, e o Sol tem de bebê-lo à pressa para não se atrasar! Mas, assim que chegou ao seu lugar, depois de ter agitado um pouco os raios para fazer luz, o Sol pôs-se a olhar para baixo, para a cara daquele girassol que o tinha deixado tão curioso.

O girassol sentiu que estava a ser observado e levantou logo os olhos.

“Nunca tinha visto o Sol com um ar tão preocupado, ou antes, agora que penso bem, nunca tinha reparado que o Sol tem um nariz tão cómico”, murmurou o girassol de si para si…

Então o Sol, sentindo-se observado, fica muito vermelho e decide falar àquele girassol tão esquisito.

— Eh, tu! PSST, PSST... tenho de te dizer uma coisa… — sussurra o Sol.

O pobre girassol estava perturbado: agora até o Sol se põe com astúcias… como se não bastasse aqueles girassóis baru-

lhentos!

— O que queres de mim?

— Ouvi-te — disse o Sol — quando te lamentavas porque queres estar sozinho.

— Pois é — responde o girassol. — Gostava tanto, mas é um sonho que não se pode realizar.

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