O CAMINHO JAPONÊS PARA A FELICIDADE

JUNKO TA K A H A S H I

D O CAMINHO JAPON?S

PARA A FELICIDADE

Tradu??o Patr?cia Casc?o

Planeta de Livros Portugal Cal?ada Ribeiro Santos, n.o 37 ? 2.o 1200-789 Lisboa ? Portugal

Reservados todos os direitos de acordo com a legisla??o em vigor

? 2019, Junko Takahashi ? 2019, Planeta Manuscrito

Publicado originalmente com o t?tulo D, El camino japon?s de la felicidad por Editorial Planeta, SA, Barcelona

Design de miolo: ? Diego Carrillo ? das fotografias e ilustra??es do interior: arquivo da autora, ? Anna Frajtova / Shutterstock, ? Bakai / Shutterstock, ? Panptys / Shutterstock, ? AVIcon / Shutterstock, ? Alex Leo / Shutterstock, ? Vdant85 / Shutterstock

Tradu??o: Patr?cia Casc?o Revis?o: Carlos Jesus Adapta??o: Guidesign

1.a edi??o: Janeiro de 2021 Dep?sito legal n.o 478 174/20 Impress?o e acabamento: Guide ? Artes Gr?ficas ISBN: 978-989-777-381-5

planetadelivros.pt

?NDICE

INTRODU??O, 9

CAP?TULO 4

SHODO? . A EST?TICA DOS ESPA?OS, 137

CAP?TULO 1

KO? DO? . A FRAGR?NCIA COMO ARTE, 23

CAP?TULO 5

SADO? . A EST?TICA DA SIMPLICIDADE E DA SERENIDADE, 177

CAP?TULO 2

KADO? . A EST?TICA IMPERFEITA DAS FLORES, 63

EP?LOGO, 231

CAP?TULO 3

KYUDO? . A EST?TICA DE MU (O NADA), 97

BIBLIOGRAFIA, 235

INTRODU??O

O caminho das artes tradicionais conduz ? paz interior.

-?preciso mat?-la -- disse o meu pai. Lembro-me muito bem daquela noite, quando tinha apenas sete anos. Estava a fam?lia toda na sala e apareceu uma pequena aranha. O meu pai continuou a ver televis?o com toda a tranquilidade, mas os meus dois irm?os mais novos estavam assustados. Eu fiquei petrificada, sem saber o que fazer.

A minha m?e matou-a, com um jornal, com uma pancada certeira. Aquela aranha min?scula, de apenas um cent?metro, n?o era venenosa como uma tar?ntula. Na verdade, o que me assustou n?o foi o bicho, mas a veem?ncia da minha m?e, no momento de o condenar. Por que ficou t?o nervosa ao ponto de matar a pobre aranha?

Por uma supersti??o. No Jap?o h? um prov?rbio: ?A aranha que aparece de manh? traz boa sorte, mas ? preciso matar a que surge ? noite.

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D. O CAMINHO JAPON?S PARA A FELICIDADE

Ainda que seja igual ? primeira, traz azar.? A minha m?e, depois de acabar com ela, ensinou-mo.

N?s, os japoneses, somos muito supersticiosos. Por?m, nem todas as supersti??es s?o t?o cru?is como a da aranha. Por exemplo, ?o ch?, de manh?, evita as desgra?as. Se te esqueceres de o tomar, volta a casa, mesmo que j? estejas longe, e toma-o?, ?a fam?lia cair? na pobreza se plantar uma nespereira?, ?quando, de manh?, temos comich?o na orelha direita e ? noite na esquerda, algu?m est? a falar mal de n?s?, ?se assobiarmos ? noite, atra?mos serpentes?, ?se uma folha de ch? verde boia no seu ch?, ? sinal de boa sorte?, ?quando espirra, algu?m est? a falar de si?, etc.

Sem qualquer d?vida, estes ditados n?o constituem nenhuma ci?ncia. No entanto, como a maior parte destas supersti??es se referem ? sorte, afetam-nos psicologicamente, ainda que n?o acreditemos nelas totalmente. N?o penso que uma aranha, que aparece ? noite na minha casa, v? trazer-me azar e por isso n?o a mato, mas isso n?o impede que me sinta mal quando encontro uma.

Quando penso por que h? tantas supersti??es e por que as pessoas se deixam afetar por elas, chego ? conclus?o de que todos perseguimos a felicidade e queremos evitar as desgra?as, tanto quanto poss?vel. Cada pessoa define a sua felicidade, mas o desejo de alcan?ar a paz interior ? algo que, em maior ou menor grau, ? comum a todos. H? muitas formas de alcan?ar essa felicidade: atrav?s da medita??o, pr?tica de desporto, viagens, concentra??o nas coisas que nos d?o prazer e ainda com a pr?tica das artes tradicionais japonesas, que oferecem um caminho para chegar ? paz interior.

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INTRODU??O

O objetivo principal dos seres humanos ? a felicidade.

Muitas destas artes t?m o ideograma d no nome que as designa e que significa ?caminho?. Entre elas destaca-se o bud (artes marciais), que inclui o kend (esgrima japonesa), o jud (combate sem arma), o iaid (t?cnica de embainhar e desembainhar a espada ou katana), o aikid (mistura de jud e kend) e o kyud (tiro com arco japon?s), assim como outras artes, por exemplo, o shod (caligrafia), o kad (arranjos florais ou ikebana) e o sad (ritual do ch?).

Como d, estas artes tradicionais entendem-se como um percurso numa mat?ria que deve aprender-se at? chegar a um n?vel mais elevado. A aprendizagem, na realidade, nunca acaba. Assim, estas artes n?o servem apenas para aprender a sua t?cnica, mas tamb?m para desenvolver a personalidade de quem as pratica.

Por esta caracter?stica do d, em certas alturas h? pessoas que inventam palavras onde incluem este conceito para referir o seu trajeto profissional ou veterania em determinada mat?ria. Por exemplo, uma pessoa que faz ou vende tofu dir? que segue o tofu-d, um artista que se dedica ? fotografia (shashin) falar? de shashin-d e os atores referir-se-?o ao yakusha-d.

As artes marciais e as artes tradicionais que incluem o termo d nos seus nomes t?m uma forte influ?ncia do budismo zen, que, com frequ?ncia, se considera uma religi?o pr?tica, uma vez que ensina a encontrar a luz espiritual atrav?s da experi?n-

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cia, mais do que da teoria. Por vezes, diz-se que viver em si mesmo ? ascetismo e todos os atos, at? os quotidianos, como comer, limpar, caminhar, sentar-se ou dormir, s?o oportunidades de encontrar o seu verdadeiro eu, a verdade absoluta, e por isso h? regras estoicas para lev?-los a cabo.

Ainda assim, na origem, estas artes -- exceto o aikid, que surgiu no s?culo xx -- chamavam-se de outra maneira: kenjutsu, jujutsu, kyujutsu... O termo jutsu significa ?t?cnica?. Outrora, as artes marciais n?o eram mais do que as t?cnicas que os bushis, ou samurais, a cavalaria japonesa, utilizavam em batalha.

Desde que o governo dos samurais substituiu a Corte Imperial, no s?culo xii, o Jap?o foi governado por estes durante mais de seiscentos anos. Por outro lado, o budismo zen, que chegou a este pa?s atrav?s da China, no s?culo xiii, conseguiu apoios entre os samurais -- em detrimento de outros setores convencionais do budismo, praticados pela fam?lia imperial e pelos aristocratas -- e alargou-se aos cidad?os. Desta forma, o zen influenciou a cultura e a filosofia que se desenvolveram nesse per?odo.

Pode parecer estranho que uma religi?o, que ? suposto ser misericordiosa e cujo objetivo ? o de salvar almas, fosse apoiada pelos samurais, que viviam em circunst?ncias sanguin?rias. Um fil?sofo e erudito budista, Daisetz Teitaro Suzuki (1870-1966), que deu a conhecer o budismo ao Ocidente, no s?culo xx, explicou a raz?o desta rela??o:

[...] o zen apoiou-os [aos samurais] de duas formas: moral e filosoficamente. No aspeto moral porque o zen ? uma religi?o que ensina a n?o olhar para tr?s uma vez que

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