Plantação da mandioca em Moçambique



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Há um nome muito conhecido em Moçambique, porque o deram à rua onde se encontra a sede da FRELIMO: Baltasar Pereira do Lago.

Baltasar Manuel Pereira do Lago (de seu nome completo) foi Governador-Geral de Moçambique de 1765 a 1779 e bem merece a honraria que lhe concederam na então cidade de Lourenço Marques e mantida após a independência.

A ele se deve a introdução da mandioca em Moçambique, pois que originária do Chile e disseminada por todo o continente sul americano, foi trazida para África pelos portugueses.

Está ela contada no primeiro livro editado e impresso em Moçambique, em 1859, na Ilha de Moçambique, por J. V. da Gama e intitulado “ALMANACH CIVIL HISTÓRICO-ADMINISTRATIVO DA PROVINCIA DE MOÇAMBIQUE Para o Anno de 1859, 3º depois do Bissexto”.

É esse documento que abaixo transcrevo, bem como outros textos que farão melhor compreender o que é a mandioca e sua importância na alimentação do povo africano e a necessidade da renovação por espécies melhoradas das actualmente existentes.

Como há mais de 2 séculos atrás, na mandioca deverá estar o maior contributo para a redução efectiva da fome em Moçambique, além de poder ser produto de exportação. Assim o entendam as Autoridades, que parece estarem apenas preocupadas com mega-projectos.

Fernando Gil

MACUA DE MOÇAMBIQUE

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Plantação da mandioca em Moçambique.

A plantação da mandioca no Distrito de Moçambique, teve lugar no Governo do Capitão General, Balthazar Manoel Pereira do Lago: já sobre este ponto não pode haver duvida, avista do officio do dito Capitão General ao Ministro e Secretario d'Estado, escripto em 16 de Agosto de 1768, nos seguintes termos.

Anno de 1768 — Ill.mo e Ex.mo Snr. — Não posso poupar a V. Ex.ª de pôr na presença de Sua Magestade a noticia certa que lhe participo, tendo-a por muito feliz para este estado e poderá que seja estimável ao mesmo Senhor. — Nesta África e julgo em todos os seus dilatados Impérios se via produzir a terra naturalmente uma qualidade de pequenas arvores que creando grossas raízes, delas se alimentarão os cafres mais incultos, naquelles annos de gafanhotos e bexigas, únicas causas das rigorosas fomes que aqui se tem experimentado, dando as sobreditas raízes o nome de Inhames de Mujáo, usando deste alimento assado ou cosido sem saberem o que comião.

Sendo muito mais reprovável que vindo a esta terra tantos filhos do Brazil, e tendo servido n’ella tantos com residência, nunca em todo o tempo d'esta conquista se viesse ao conhecimento de que as taes arvores erão da mais perfeita e singular mandioca de que se podia ter tirado todo aquelle providente interesse que della gozão todos os Estados da America, quando nestas colonias muito mais necessário pela falta d'agricultores, sobrada preguiça, e dependência em que todos vivem, de que os mesmos cafres, nossos inimigos lhe o queirão cultivar o que necessitão para comer.

Seguro a V. Ex.ª com toda a verdade segundo o pleno e fiel conhecimento em que estou de toda esta conquista que depois de se estabelecer nela num virtuoso zello, e incansável luta dos nossos Gloriozos Reis e Fé de Jesus Christo, nenhuma causa lhe pode ser mais proveitosa do que o aparecimento e fabrico da mesma mandioca: porque estou vendo palpavelmente a sua utelidade, e as graves consequências que se seguem d'esta qualidade do commercio com aquelles cafres, os quaes em não tirando as suas utelidades d'esta nossa sustentação, sem remedio se havião de applicar a maiores produções de marfim e descubrimentos d’ouro, não podendo passar sem aquella roupa que lhe manda desta Capital a troca de seus mantimentos.

Descubrindo os Patricios e Phisicos o que bem se acomoda o meu discurso, que uso da dita mandioca fará até que se remedeie tanto padecimento de febres que aqui se padece, e nesta via remetto a presença de V. Ex.ª um frasquinho de farinha de pão feita n'esta caza para que veja a sua singularidade.

Este verdadeiro exame procedeu d'um rapaz vindo no Rosmaninho do Rio de Janeiro, que vendo ale na infructifera terra d’esta ilha uma das ditas arvores, declarando que lhe parecia ser mandioca, se lhe fez arrancar em 13 de Junho passado (dia de S. António) e logo fazendo ajuntar quantas pessoas aqui se achão do Brazil, geralmente a uma voz a reconhecerão, deforma que fazendo-a fabricar no mesmo dia, nelle se comeu logo farinha de pão, o que bastou para animar a todos estes moradores a que mandassem sem demora conduzir grandes quantidades destes ramos para os seus palmares e terras movendo-se para esta agricultura sem que lhe fosse necessário o exemplo de eu me fazer logo lavrador desta fabrica; pois todos se não pouparão………………………………………………….

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Sou obrigado a dizer a V. Ex.ª para me fazer a honra de pôr na presença de Sua Magestade que esta nova lavoira poderá annimar muitas famílias para esta residência, que tambem a sua Real Fazenda depois de grandes lucros dos seus Vassallos poderá ter o pequeno interesse que faz differença de custar o alqueire d'arroz na maior parte dos annos 2$000 réis, e um alqueire de farinha nunca passara de 300 réis com que se os...... ........................................................................................................

Moçambique 16 de Agosto de 1768.

A tradição refere que o Capitão General, notando alguma relactancia da parte de certos proprietários que recusavão substituir as suas antigas culturas, pela plantação da mandioca, usou de alguma coacção e dispotismo para poder vulgarizar a cultura da planta, prendendo dois mais salientes proprietários na Cadeia Civil: o seu Banda de 12 d’Abril de 1769, cuja copia não pude obter, por não existir nem mesmo na Secretaria Geral; publicado por via do Senado da Camara, estabelecendo graves penas aquém não quizesse plantar mandioca nas suas terras, é uma prova de que a tradição não é sem fundamento. Todavia é inegável que foi necessário empregarem-se esses meios para poder vencer os embaraços, que se offerecião para a introducção da cultura, cujas vantagens já de antemão se podião calcular: nem é fóra de comum, que quando se trata d'uma qualquer innovação em um paiz hajão sempre difficuldades e que para estas se removerem é de necessidade usar-se de meios extraordinários e coercivos. O empenho do Capitão General Pereira do Lago para levar avante a cultura d’uma planta cujas vantagens hoje ninguém desconhece, foi iminentemente enérgico; e só ao seu génio empreendedor se deve o vulgarisar-se a plantação da mandioca que hoje alimenta 4 quintos da população do Districto da Capital e uma grande parte da dos outros Districtos. Por seu Alvará da 10 de Outubro de 1770 estabeleceu por tempo de 3 annos seguintes, o privilegio de não poderem ser perseguidos em Juizo por quaesquer dividas, exceptuando as da Fazenda Real e dos Legados Pios, todos os que mostrassem por certidão do Juiz de Paz, terem plantado 400 pés de mandioca em terreno virgem; e um prémio de 100 cruzados a quem excedesse na plantação até 600 pés.

D’entre todas as raízes ou batatas alimentícias até hoje conhecidas, a da mandioca apresenta maiores vantagens e serve para mais variados usos; alem de comer-se a sua raiz assada, cozida e guizada; faz-se d'ella a farinha conhecida com o nome da farinha de páo; fabrica-se bella tapioca, tão procurada no mercado; extrahe-se a olanga (polvilho); reduz-se a macaca que para os cafres é alimento mais nutriente, e por elles preferido a outro qualquer: e muito própria e bastante usada para cevar os animaes domésticos; das folhas da planta se prepara um saborozo esperegado, que é commum em todas as mesas ou quasi todas de Moçambique; e os negros também comem guizadas as folhas, e as preferem a toda a outra matapa (verdura).

Muito esquecido tem estado na Provincia o nome do Capitão General Balthazar Manoel Pereira do Lago que introduzio no Paiz maior somma de melhoramentos em todos os ramos de administração publica: Apezar de haver decorrido quasi um século depois da morte d’aquelle Governador, era de justiça que n'uma das praças desta Cidade se erigisse um monumento á memória de tão benemerito General: à Municipalidade de Moçambique compete tomar a iniciativa de semilhante demonstração da gratidão do Povo e convidar as Câmaras dos Distritos subalternos e habitantes mais abastados da Provincia para uma obra de tão reconhecida justiça.

A lavoura da Mandioca e seus usos (a).

Mandioca, Jatrapha Manihot, L. Manihot utilissima, Pohl (monecia monadelphia,) na familia das Euphorbeaceas, é bem conhecida de todos os lavradores brazileiros, e o modo de a tratar vulgarisado. O singular capricho da natureza que reunio um violento veneno com uma substancia nutritiva tem dado a este vegetal uma grande fama nos paizes aonde não nasce.

A mandioca pede do agricultor mais trabalhos e suores do que qualquer outra planta: suas raízes querem extender-se á vontade em uma terra fofa. O costume é de repartir os terrenos em torrões ou taboleiros levantados acima do nível, a proporção que o fundo é húmido e disposto a encharcar se d'agoa permanente que apodrece as raizes. Os lavradores distinguem varias especies de mandioca; uma bem preciosa, amadurece em 8 mezes; as outras pedem de 12 até 15 ou 18 mezes para ficarem em estado de se colher. (a)

Ninguém ignora que as raizes da mandioca são raspadas para se lhes tirar a casca, e ao depois raladas por uma rapadoura circular, cujo eixo é posto em movimento por braços, por animaes, ou por agoa (b). Este ultimo motor é preferível corno já observamos; nem todos os lavradores ou moradores estão em condições de o obter, mas todos podem construir uma enginhoca movida por um animal seja boi, besta ou cavallo. A massa obtida pela operação de ralar sugeita-se a uma pressão forte para espremer o summo ou leite em que rezide o veneno. A massa tirada da imprensa vai então para a platina do barro ou cobre, encaixada em cima de uma fornalha, aonde o calor a secca e lhe dá aquelle aspecto de farinha graúda e muito branca, com que apparece no commercio, e nas mezas. Para que estes grãos não possão conglutinar-se remexe-se continuamente em numa pá de páo.

Nas Colónias Europeas o ponto de torrefacção da mandioca aperta-se muito mais, de forma que toma uma côr dourada. No Maranhão e Provincias do Norte, sugeitão-se a uma especie de fermentação, que lhe dá um sabor azedo e uma côr amarellada, e chamão-lhe então farinha de agoa: pareceu-nos menos favorável ao estomago do que a preparada pelo modo usual, a qual é de facil digestão, muito substancial, e ante-escorbutica, a ponto, ao nosso ver de neutralizar os máos effeitos que o uzo diário de carne secca e peixe salgado deverão produzir.

O suco ou leite da mandioca deposita uma substancia ou fecula finissima de grande alvura e muito parecida com o polvilho, que se tira do trigo. Esta fécula que toma o nome de tapioca é em summo grão estomacal e peitoral; e já se tornou género de exportação (c)

He facil fazer com a farinha de mandioca pães e biscoitos, mais ou menos cosidos, de sabor gostoso e grande duração; porem ainda não os adoptarão no Brazil. — Corn os mesmos biscoitos os naturaes de Goyana e os colonos europeus, a sua imitação, fazem até 4 sortes de licôr fermentado, agradável, barato e sadio, e cujo uso seria preferível nas fazendas para os escravos e mesmo para os propietarios ao da cachaça e outros alcoholicos.

In ALMANACH Civil Ecclesiatico Historico-Administrativo da Província de Moçambique – 1859 (1º livro editado e impresso em Moçambique, na Ilha de Moçambique)

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Conheça aqui a história da Mandioca:



 MANDIOCA, A PLANTA EMBRIAGADORA

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Tirarem da morte a vida, do veneno produzirem alimento e o pão de cada dia, é algo que não facilmente conseguem os homens. O maravilhoso vegetal chamado de "mandioca" nos apresenta este fenômeno ou presta-se a realizá-lo.

Sua origem americana está fora de qualquer dúvida, ainda que seja cultivada na Ásia e na África tropical. A ciência incorporo-a na família das "euphorbiaceas", que se distinguem por seu suco leitoso, muitas vezes peçonhento, que vertem por incisão. Da raiz que lhe confere a importância da mais notável e proveitosa do Brasil, levanta-se um arbusto de dois metros, cujas folhas em ordem de dedos se parecem com mãos abertas.

Planta-se a mandioca, cavando a terra em montículos e colocando em cada um três ou quatro pauzinhos da vara, tendo porém, o cuidado de quebrá-los à mão ou cortá-los à faca, porque deitam leite onde nascem e se geram as raízes.

Ouçamos agora de Gabriel Soares como no século XVI, se preparava esta comida nacional:

"E para se aproveitarem, diz o narrador, os índios, depois de arrancar suas raízes, raspam-as muito bem até ficarem alvíssimas, o que fazem com cascas de ostras e depois de lavadas, ralam-as em uma pedra, espremem a seguir, esta massa em um engenho de palma (espécie de cesto cilíndrico) a que chamam de "tupitim" (tipiti) que lhe faz lançar a água, que tem, toda fora, ficando a massa enxuta, da qual se faz a farinha que se come, que cozem em alguidar, para isso feito, em o qual deitam esta massa, e a enxugam sobre o fogo, onde uma índia a mexe com um meio cabaço, com quem faz confeitos, até que fique enxuta e sem nenhuma humildade e fica como cuscuz, porém mais branda. Desta maneira se come e é muito doce e saborosa."

"Fazem desta massa os famosos "beijus", que é o mantimento que muito saboroso e inventado pelas mulheres portuguesas."

Por serem de mais fácil digestão, os produtos de mandioca foram preferidos por muitos ao pão de trigo.

Ninguém poderia supor ou adivinhar que a mandioca, a fartura do Brasil, fosse tão perigosa aos inexperientes. "Porque é a mais terrível peçonha que há no Brasil e quem quer que beba a água da mandioca, bebe e não escapa, por mais contra venenos que lhe dêem..."

Um abuso desse terrível veneno nos permite dar uma rápida vista aos costumes daquele tempo. No sumo espremido se criam uns vermes brancos que são peçonhentíssimos, com os quais, muitas índias mataram seus maridos e senhores. Também as mulheres brancas se aproveitaram deste meio contra seus maridos. Bastava lançar um destes vermes na comida de uma pessoa para que esta não escapasse da morte.

Apesar desta qualidade mortífera, chegou a ser o sustento e o pão quotidiano deste vasto país. Um cataplasma de mandioca preparada com o caldo, era considerado excelente remédio para abcessos. O suco era usado como vermífugo e aplicado a feridas antigas a fim de corroer o tecido afetado. Para alguns venenos e também para a mordedura de cobra, o suco da mandioca era considerado poderoso antídoto. Em estado natural, era ainda usado para limpar ferro. O tóxico da planta está localizado exclusivamente na raiz. Houve historiador que, não sem razão, tentara deduzir deste fato o alto grau da intelectualidade dos índios, ao menos dos seus antepassados.

Não é de admirar, pois, que procurassem para esta planta singular uma origem superior e que a encontraremos no domínio das lendas.

Sobre a origem da mavina, existe a seguinte lenda brasileira:

Em tempos remotos, revelou-se grávida a filha de um morubixaba nas margens do Amazonas. Seu pai, querendo punir o autor de tanta desonra, perguntou quem era seu pérfido amante.

A jovem respondeu que não tivera contato com homem algum. Admoestou-a o velho e empregou para tanto, rogos e ameaças, e por fim castigos severos. Mas a jovem persistiu na negativa.

O chefe tinha deliberado matá-la, quando em sonho, lhe apareceu, que lhe disse que a jovem era completamente inocente. Conteve-se, desta forma, o irritado morubixaba. Sua filha deu à luz a uma criança encantadora, branca, que com poucos meses falava e discorria perfeitamente. Não só a gente da tribo, como também a das nações vizinhas vieram visitá-la para ver esta nova e desconhecida raça. Passou a chamar-se de Mani. De inteligência aguda, Mani passou a ser querida por todos de sua tribo. Contudo, a criança não viveu muito tempo, e morreu logo ao primeiro ano de vida.

O chefe da tribo mandou enterrá-la ao lado de sua maloca. Diariamente regavam a sua sepultura, segundo antigo costume da tribo. Muito breve, brotou uma planta que, por inteiramente desconhecida, deixaram crescer. Floresceu e deu frutos. Os pássaros que deste comiam se embriagavam, fenômeno que, desconhecido dos índios, argumentou-lhes a admiração. Afinal fendeu-se a terra, cavaram-na e na forma de tubérculo ou raiz, limpando-a, viram que era muito branca, como o corpo de Mani. Acreditando ser a planta reencarnação da criança, deram-lhe o nome de Mani. Comeram-na e fizeram uma bebida fermentada que foi seu vinho.

Este vinho, preparado com a mandioca cozida, é o "cauim", bebida predileta dos índios do Brasil, no tempo do descobrimento, e segundo o Visconde de Beaurepaire-Rohan, era ainda o fim do século passado usada na Província do Espírito Santo.

               

Segundo uma lenda dos índios Bacairi do rio Xingú a mandioca nos veio por intermédio de Keri, o herói dos mitos desta tribo, do veado (cervus simplicicornus). O veado, por sua vez, recebeu do peixe bagadu (practocephalus) ou pirara.

O veado tinha sede e procurou a água. Achou então o bagadu em uma sanga em que entrara na enchente e de onde depois de baixar a água não pode sair. O bagadu com dificuldade respirava ainda. Então disse ao veado:

 

- Leva-me, faz uma corda de embira para me levar.

 

Feito isto, o veado o ligou sobre o dorso e assim o levou a beira do rio Beijú.

 

- Aqui queria descansar, disse o veado, pois teve medo de descer ao fundo do rio. O bagadu, porém não quis, então foram juntos e laçaram-se ao rio. O veado gostou do contato com a água, sendo assim, o bagadu levou-o a sua moradia. Chegados lá, bebeu o veado pogü, comeu também beiju (até então desconhecidos dele). O bagadu levou o veado a roça de mandioca, tiraram ramos e ligaram três. Agora foram para casa.

- Amanhã vou me embora, disse o veado e dormiu a noite em casa do bagadu.

 

A seguinte madrugada, disse o bagadu:

 

- Leva os ramos da mandioca e planta-os.

 

O veado voltou para casa com seu filho, levando os ramos para casa. Descansaram um pouco, depois derrubaram árvores no mato, acenderam fogo, queimaram a lenha e plantaram. Então, o veado ficou o senhor das mandiocas. Keri o encontrou e pediu-lhe mandioca, pois até então tirava o seu beiju da terra vermelha no salto do Paranatinga.

Conversando ambos chegaram a brigar. O veado não quis largar a mandioca. Então Keri ficou bravo, segurou o veado pelo pescoço e assoprou, começou subitamente a possuir uma armação, Keri porém riu-se dizendo:

 

- Eis aqui como apareceu dono da mandioca e tomou-a, dando-a de presente as mulheres dos Bakairi mostrando-lhes como foi ensinado pelo veado que deviam fazer, para que não morressem do veneno. O veado tem agora sua armação com folhas e rói a casca dos ramos.

 

Os Bakairis estão convencidos que o veado ensinou a Keri e aos avós como se pode usar e comer a mandioca.

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

 

Rosane Volpatto

A PRIMEIRA CEIA

Mandioca era o principal alimento dos índios quando os europeus

chegaram, dando início à formação de uma nova culinária

Portugueses puseram sal na carne e na cozinha brasileiras

HAROLDO CERAVOLO SEREZA

editor-adjunto interino de Especiais

No primeiro contato que teve com os índios tupiniquins, no litoral sul da Bahia, Pedro Álvares Cabral apresentou a dois deles, no dia 24 de abril de 1500, os alimentos que trazia em suas naus: carneiro, galinha, pão de trigo, peixe cozido, confeito, fartéis, vinho, mel e figos passados.

“Não quiseram comer daquilo quase nada; se alguma coisa provavam, lançavam-na logo fora”, relatou em sua carta Pero Vaz de Caminha. Ele mesmo descreve outra visita de dois índios, cinco dias depois: “Comeram toda a carne que lhes deram”.

Foi a comida _os temperos indianos em especial_ que lançou os portugueses aos mares. Mas a aventura culinária que se iniciou após o Descobrimento do Brasil nada tinha da bem planejada e executada expansão marítima.

Há uma tendência generalizante quando se trata de história do Brasil: agrupar na categoria índios os diversos grupos humanos que aqui habitavam. Os europeus, na prática, sabiam que não era assim e se utilizavam da inexistência de unidade política para promover a conquista e a defesa do território, aliando-se a certos índios contra tribos rivais.

Esse equívoco é menor, no entanto, quando o assunto é alimentação: na hora de comer, pode-se dizer que já havia, no Brasil, um país _a Terra da Mandioca.

Da mandioca, fazia-se a farinha, a tapioca, o beiju, bebidas alcoólicas. Comia-se mandioca na forma de farinha pura, misturada com carne, frutas, vegetais. A macaxeira (mandioca doce) também servia de alimento, assada ou cozida. O cultivo e a sofisticada técnica de preparo da raiz, para que se desfaça do ácido cianídrico, venenoso, teriam sido apresentados pelos aruaques aos índios de língua tupi. O produto dominava o território em 1500 _e ainda é fundamental para o sustento do país.

Os índios tinham outros cultivos, como o das batatas e do amendoim. Também não se pode negligenciar o papel de frutos como o caju na alimentação indígena. Mas nenhum outro alimento era tão importante quanto a mandioca e seus “pratos”: pirão, mingau e paçoca são só alguns dos vocábulos deixados por essa cultura. Como o trigo europeu não se adaptava às terras novas, o colonizador teve de se habituar com a raiz, ainda que a contragosto. Um ministro da Marinha de d. João 6º, no início do século 19, que se negava a comer produtos brasileiros, devorou um prato de doces. Ao saber que eram feitos da goma da mandioca, e não de trigo, vomitou. A aversão, no entanto, não podia ser regra, e a farinha de mandioca passou a ser a ração que mantinha a Colônia, passando a integrar as receitas de bolos, caldos, cozidos e outros pratos da cozinha portuguesa.

Antes de Cabral, a carne vinha da caça. “Normal e genericamente, o alimento era assado”, conta o folclorista Luis da Camara Cascudo (1898-1986), em “História da Alimentação no Brasil”. Os relatos dos viajantes do século 16 costumam descrever o moquém, mecanismo usado para assar a carne. Um deles (Jean de Lery) escreve: “Os selvagens a preparam a sua moda, moquando-a; os americanos enterram profundamente no chão quatro forquilhas de pau, enquadradas à distância de três pés e à altura de dois pés e meio; sobre elas assentam varas com uma polegada ou dois dedos de distância uma da outra, formando uma grelha de madeira”.

Mas a função primeira do moquém não era o preparo para o consumo imediato da carne, e, sim, sua conservação. “Equipara-se ao fumeiro europeu”, comparou Cascudo, que relaciona outros modos de cozer (como fornos) carnes e peixes.

Em suas viagens, os portugueses trazem para o Brasil e daqui levam toda sorte de alimentos. A mandioca e o amendoim conquistaram a África, e coqueiros e novos bananais passaram a fazer parte da paisagem da América.

Para o Brasil, também trouxeram novas fontes de proteína: galinha, carneiro, gado bovino, pato, porcos, gansos.

Os índios não se adaptariam de pronto a todas elas. Criavam, por exemplo, as galinhas, mas apenas para vender ovos e animais ao engenho, e não para comê-las.

A ave continuaria sendo considerada como iguaria de festa, como indica uma estrofe satírica, registrada em 1821 e cantada no Recife contra o governador: “A mulher de Luís do Rego/ Não comia senão galinha;/ Inda não era princesa/ Já queria ser rainha”.

É no tempero, entretanto, que o português dá sua principal contribuição à culinária da Colônia. Impõe o gosto pelo sal, quase não utilizado pelos índios e pelos africanos, e ensina a salgar a carne para preservá-la. Cozinhar bem era e é “ter boa mão de sal”. Outras especiarias tornaram-se presentes, como o cravo-da-índia, a erva-doce, a canela e o alecrim.

As índias (cunhãs) tiveram de cozinhar de acordo com o gosto europeu, mas com os ingredientes que tinham à mão. De ordens e gostos europeus, de mãos e conhecimentos indígenas (e africanos, posteriormente) e de alimentos de todos os cantos do mundos: assim começa a história da cozinha brasileira.

LINKS A VISITAR:









NOTA FINAL:

Pelo inquérito em MOÇAMBIQUE PARA TODOS se verifica que 50% dos que responderam não sabem a história da mandioca e de como apareceu em Moçambique e em África.

Aqui fica pois esta achega.

Fernando Gil

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