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Revista ISSN 1646-740X

online N?mero 12 | Julho - Dezembro 2012

FICHA T?CNICA

T?tulo: Algumas notas sobre a base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas Autor(es): Gra?a Videira Lopes Enquadramento Institucional: Instituto de Estudos Medievais FCSH ? UNL Contacto: gvl@fcsh.unl.pt Fonte: Medievalista [Em linha]. N?12, (Julho - Dezembro 2012). Dir. Jos? Mattoso. Lisboa: IEM. Dispon?vel em: ISSN: 1646-740X

Data do artigo: Mar?o, 2012

Algumas notas sobre a base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas Gra?a Videira Lopes

Como a seu tempo a revista Medievalista online anunciou, desde finais de Outubro de 2011 que se encontra dispon?vel na web, a nova base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, plataforma multim?dia que inclui a edi??o integral e anotada das cantigas medievais presentes nos cancioneiros galego-portugueses, as respectivas imagens dos manuscritos, a m?sica (quer a medieval, quer as vers?es ou composi??es originais contempor?neas que tomam como ponto de partida os textos das cantigas medievais), informa??o sucinta sobre todos os autores nela inclu?dos, sobre as

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personagens e lugares referidos nas cantigas, bem como a "Arte de Trovar", o pequeno tratado de po?tica trovadoresca que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, assim como diversos outros recursos, entre os quais ser? de salientar a possibilidade de pesquisas m?ltiplas. Resultante do projecto "Littera ? edi??o, actualiza??o e preserva??o do patrim?nio liter?rio medieval portugu?s", projecto financiado pela FCT de 2007 a 2010, o site deve a sua concretiza??o ao trabalho de uma pequena mas empenhada equipa multidisciplinar (que incluiu, com os jovens bolseiros e colaboradores, as ?reas cient?ficas da Literatura, da M?sica, da Hist?ria, mas tamb?m, e ? de toda a justi?a salient?-lo, a ?rea mais t?cnica da Inform?tica), cujos elementos s?niores (eu pr?pria, Gra?a Videira Lopes, respons?vel geral pelo Projecto, Manuel Pedro Ferreira, respons?vel pela ?rea da m?sica e Nuno J?dice) h? muito vinham trabalhando diversos aspectos do riqu?ssimo patrim?nio que s?o as cantigas trovadorescas galegoportuguesas. Seja como for, o certo ? que este trabalho espec?fico da constru??o da base de dados (BD) foi tamb?m, cientificamente, uma oportunidade ?nica de revisitar, na sua totalidade, e de forma global e integrada, o corpus das cantigas medievais conservadas. Foi desse trabalho que resultaram os dados disponibilizados no site, se bem que, dadas as caracter?sticas t?cnicas deste tipo de plataformas, o espa?o seja pouco para justifica??es ou reflex?es demoradas sobre os mesmos. Nas observa??es que se seguem procurarei, pois, dar conta, de forma um pouco mais elaborada, de alguns dos principais resultados cient?ficos desse trabalho.

Antes, por?m, n?o poderei deixar de fazer algumas considera??es preliminares sobre a pr?pria plataforma, a primeira das quais diz respeito ao crit?rio que presidiu ao seu desenho. Constru?da com vista a uma difus?o na Web, a base de dados foi pensada, desde o seu in?cio, como um instrumento de car?cter abrangente, visando um p?blicoalvo composto quer pelos especialistas das mais diversas ?reas, quer pelo leitor comum interessado, mas n?o necessariamente familiarizado com a l?ngua, a m?sica ou o universo das cantigas medievais. Trata-se, nesta medida, de um plataforma dirigida, conjuntamente, ? investiga??o e ? divulga??o, junto de um p?blico mais vasto, do riqu?ssimo patrim?nio ib?rico que constituem as cantigas medievais profanas. Todos os recursos nela disponibilizados procuraram, pois, ir ao encontro das necessidades e expectativas destes potenciais e distintos utilizadores. Para dar apenas um exemplo, ? assim que, ao mesmo tempo que anotamos com relativa abund?ncia os textos das

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cantigas (notas explicativas, gloss?rio, etc.), damos igualmente a possibilidade, ao leitor que assim o deseje, de visualizar estes mesmos textos sem anota??es (bastando-lhe, para tal, desactivar este recurso). De resto, entre os recursos disponibilizados, e tirando partido de uma das mais poderosas funcionalidades deste tipo de instrumentos, os recursos de pesquisa ser?o talvez aqueles que poder?o constituir uma das suas maisvalias, particularmente no que toca ? investiga??o nos mais variados dom?nios. Foi esse pressuposto que nos levou a construir a p?gina de entrada do site em torno desta funcionalidade, se bem que, na barra horizontal superior, o menu "Pesquisa" d? ainda acesso a pesquisas mais espec?ficas, nomeadamente ? "Pesquisa em toda a base" (cujos resultados incluem, n?o s? as cantigas, mas todos os dados inseridos na BD). Tamb?m o menu "Recursos" disponibiliza um conjunto variado de dados gerais, entre os quais poderia salientar, por exemplo, e agora visando talvez um p?blico mais lato, o que diz respeito aos "Temas", ou assuntos abordados nas cantigas.

Quanto aos crit?rios cient?ficos propriamente ditos definidos para a BD, acrescentarei ainda umas considera??es pr?vias. Na verdade, e embora os objectivos do projecto Littera fossem, no seu in?cio, mais modestos (o projecto apresentado ? FCT inclu?a apenas a edi??o integral das cantigas de amor, a que se juntava a edi??o integral das cantigas de dois ou tr?s trovadores, nomeadamente dos dois cuja m?sica parcialmente sobreviveu, D. Dinis e Martim Codax), rapidamente a equipa respons?vel considerou que, dadas as circunst?ncias e as condi??es (talvez irrepet?veis) de que dispunha, os seus objectivos poderiam ser mais ambiciosos, ou seja, que teria eventualmente disponibilidade e meios para, aproveitando as potencialidades e o impulso da jovem equipa ent?o formada, alargar o trabalho ? totalidade das cantigas transmitidas pelos Cancioneiros. Embora conscientes das dificuldades desta tarefa (que necessariamente se prolongou para al?m do per?odo financiado do projecto), a constru??o desta base de dados alargada constituiu assim, como dizia, uma oportunidade ?nica de revisitar, de forma integrada, o corpus profano trovadoresco, at? pela necessidade de responder, de forma pr?tica e num espa?o de tempo necessariamente limitado, ? multiplicidade e variedade dos problemas que as cantigas ainda hoje nos colocam: dos relativos ? edi??o dos textos aos da sua interpreta??o, da m?sica aos contextos de produ??o, dos cancioneiros e tradi??o manuscrita ?s biografias dos autores ou ? autoria das cantigas, para referir apenas os mais evidentes. Muitos destes problemas foram e continuam a ser

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objecto dos mais diversos estudos por parte de um vasto leque de fil?logos, medievalistas e especialistas de v?rias ?reas, de resto muito produtivos nestas ?ltimas d?cadas, contribui??es essas que de forma nenhuma poderiam ser ignoradas. Conscientes tamb?m da inevitabilidade de lapsos e falhas no que respeita a essa j? longa lista de bibliografia (dadas at? as dificuldades pr?ticas de acesso a alguns trabalhos mais recentes, ou at? mesmo a sua deficiente sinaliza??o), procur?mos, pois, na medida das nossas possibilidades, integrar criticamente na BD os muitos e, em muitos casos, valiosos contributos que a investiga??o "cl?ssica" e, sobretudo, a mais recente tem vindo incessantemente a fornecer sobre as diversas vertentes desta vasta mat?ria e que t?m permitido alargar consideravelmente o nosso conhecimento sobre as cantigas, os trovadores e jograis e o mundo que era o seu.

Mas um projecto desta natureza, pelo menos como a equipa o entendeu desde o seu in?cio, comporta tamb?m, necessariamente, uma dimens?o de trabalho directo sobre o corpus, assente na pesquisa e at? mesmo de descoberta mais ou menos fortuita de dados novos, dados esses que, juntamente com as inevit?veis escolhas feitas, nomeadamente no que toca ? edi??o dos textos, disponibiliz?mos igualmente na BD, muitas vezes em forma de proposta ? comunidade cient?fica. Disseminadas ao longo dos milhares de p?ginas que comporta o site, muitas dessas novas propostas poder?o eventualmente ser pouco vis?veis, ou s?-lo-?o apenas para o especialista nessa mat?ria espec?fica (que se disponha a procur?-los). Da? que, mesmo sendo imposs?vel anotar minuciosamente todas as diferentes escolhas que fizemos em rela??o a propostas anteriores ou todas as varia??es ou altera??es de dados que introduzimos em muitos campos, creio que ser? ?til fazer, neste momento, um ponto da situa??o no que toca a um conjunto mais restrito de propostas ou dados novos resultantes do nosso trabalho, particularmente os que dizem respeito a aspectos problem?ticos do corpus trovadoresco, at? para, com esta chamada de aten??o, possibilitar a sua discuss?o (e eventualmente a sua correc??o ou o seu aprofundamento, des?gnio central num projecto que se quer aberto e din?mico). Embora muitas destas novas propostas introduzidas na base tenham dimens?es m?ltiplas, no texto que se segue, por uma quest?o de legibilidade, irei organiz?-las nas seguintes al?neas: 1) Dados gerais; 2) Novas propostas de leitura (com duas notas breves sobre os manuscritos); 3) Cita??es internas e rela??es intertextuais; 4) Notas biogr?ficas

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de autores e quest?es de autoria; 5) Novos dados de antropon?mia e topon?mia; 6) Contextos e interpreta??es; 7) Perspectivas futuras.

Gostaria apenas de acrescentar que nestas breves notas est?o declaradamente ausentes as quest?es relacionadas com a dimens?o musical da BD, tarefa que, com todo o gosto, deixarei a cargo do meu colega de equipa e amigo Manuel Pedro Ferreira, que t?o competente e eficazmente coordenou esta ?rea espec?fica do projecto Littera.

Dados gerais

A afirma??o de que as cantigas medievais se inserem num tempo e num espa?o social politicamente definido n?o oferece novidade de maior. A investiga??o mais recente, dando continuidade a um tipo de abordagem j? muito presente nos grandes investigadores "cl?ssicos", de Carolina Micha?lis a Rodrigues Lapa, tem vindo, ali?s, a refor?ar esta ideia, na s?rie cont?nua de novos dados avan?ados, nomeadamente sobre a origem e o percursos dos autores ou sobre as refer?ncias antropon?micas ou topon?micas presentes nas cantigas. Abundantemente citados na presente base de dados, os excelentes e continuados trabalhos que Ant?nio Resende de Oliveira, Jos? Ant?nio Souto Cabo ou Vicen? Beltran, entre outros, t?m vindo a publicar em anos recentes sobre estas mat?rias ser?o talvez o melhor exemplo disso mesmo. De qualquer forma, do trabalho por n?s efectuado sobre o corpus integral da poesia profana trovadoresca, todos os g?neros reunidos, um dos pontos gerais que me parece de salientar desde j? ? a renovada constata??o da liga??o estreita dos textos trovadorescos com os contextos da sua produ??o, nomeadamente com os contextos pol?ticos. Na al?nea 6 destas notas retomarei, de forma mais detalhada e com exemplos concretos, este ponto. Mas a percep??o de que as cantigas trovadorescas assentam no princ?pio de uma constru??o subtil e minuciosa, na qual, em geral, todos os elementos "significam", e, em grande medida, "significam politicamente", n?o pode deixar, desde j?, de ser real?ada. Na verdade, se a quest?o do alcance pol?tico dos textos dos trovadores e jograis nunca levantou grandes d?vidas no que toca a uma parte das cantigas sat?ricas, as que abertamente referem elementos do xadrez pol?tico da sua ?poca (e a deposi??o de D. Sancho II ?, neste aspecto, um dos momentos satiricamente mais produtivos), dispomos

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