As fontes no rock: uma análise dos elementos tipográficos ...

Intercom ? Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunica??o XXVIII Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o ? Uerj ? 5 a 9 de setembro de 2005

As fontes no rock: uma an?lise dos elementos tipogr?ficos em capas de discos1 M?rcia Barros Pereira Lopes 2

CESBAM ? AESO ? Centro de Estudos Superiores Barros Melo

Resumo

Com o passar do tempo, o texto ganhou novas formas e fun??es. Al?m de transmitir uma mensagem, o texto pode ilustrar graficamente e chamar a aten??o do leitor. A partir de ent?o, a tipografia tornou-se um rico campo de explora??o para os designers. O presente trabalho reuniu tr?s temas que costumam chamar a aten??o: a tipografia, o rock e as capas de discos. Atrav?s do estudo de algumas tend?ncias da cria??o tipogr?fica p?s-moderna, apresenta alguns exemplos de sua aplica??o em capas de discos de rock, relacionando esse movimento musical ? nova postura dos designers gr?ficos nas ?ltimas d?cadas.

Palavras-chave

Tipografia; rock; capas de discos; p?s-modernidade.

1. Tipografia P?s-Moderna Com o tempo, o design desenvolveu suas t?cnicas e aplica??es e permitiu ?

tipografia que transmitisse algo a mais do que a simples mensagem. Inicialmente em corpos pequenos para leitura corrida em livros, os caracteres ganharam novas formas a partir da revolu??o industrial. Era necess?rio anunciar os produtos para que fossem vendidos aos consumidores e para isso, o texto precisava estar em destaque, com maior corpo, peso e novas formas.

No s?culo XX surgiram mais experimentos tipogr?ficos com os movimentos vanguardistas. At? que foi criado o Funcionalismo Su??o iniciando uma nova era com "os ideais de uma tipografia universalmente neutra, compreens?vel e funcional". (FARIAS, 2003, p. 23). Buscando clareza, legibilidade, discri??o, formas simples e geom?tricas, esse estilo pode ser representado por tipos como Univers e Helvetica que foram largamente utilizados na comunica??o visual de multinacionais, na publicidade e por editoras de livros. Ap?s um longo uso desses tipos, os designers estavam cansados dessa monotonia e falta de expressividade. E no final da d?cada de 60 surge uma mudan?a nesta linguagem gr?fica, uma ruptura com os ideais funcionalistas.

Wolfgang Weingart, professor da Escola da Basil?ia, foi um dos pioneiros nessa revolu??o, disseminando esses novos ideais para designers do mundo todo. Surgiram

1 Trabalho apresentado ? Sess?o de Temas Livres no XXVIII Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o. 2 Publicit?ria e pesquisadora ? CESBAM ? AESO ? Centro de Estudos Superiores Barros Melo. mercialopes@

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movimentos como o psicodelismo, caracterizados pelas cores vibrantes e letras distorcidas, e o punk, marcado pela est?tica suja, desconstru?da, desarrumada. Al?m dessa nova postura rebelde dos designers, surgem os microcomputadores, que facilitaram a editora??o, instalando o desktop publishing e impulsionando a cria??o tipogr?fica. Resultando assim, em milhares de tipografias das mais variadas formas e estilos, dispon?veis na internet para download (gratuito ou n?o), em sites de typefoundries3 ou de distribuidores.

Com a chegada da tecnologia, foi poss?vel dar maior sustento a essa desvaloriza??o dos princ?pios da racionalidade, organiza??o, perfei??o e clareza. A tipografia dita p?s-moderna ? experimental, imperfeita, desordenada, mutante e ecl?tica porque ? capaz de reunir diversas tend?ncias e estilos, todas possuindo uma caracter?stica em comum, como diz Farias: "[...] a rejei??o em maior ou menor grau ao paradigma racionalista, estabelecido a partir da Bauhaus". (2003, p. 29).

Como esta nova tend?ncia pretende chocar e chamar a aten??o, os caracteres possuem duas caracter?sticas marcantes: a expressividade e a ilegibilidade. Segundo Niemeyer (2003, p. 13), a tipografia vem suprir a expressividade e a ?nfase necess?rias ? comunica??o, como ocorre na comunica??o interpessoal com os recursos da linguagem gestual (postura, express?o fision?mica, movimentos, etc.) e da oral (as varia??es de altura, ritmo e tom da voz). Para esta nova postura dos designers, quanto mais ileg?vel, melhor, pois se despende um maior tempo para reconhecer esses novos caracteres, atraindo o leitor por sua irrever?ncia nas formas, chamando sua aten??o.

H? uma liberdade nas formas das letras. Os caracteres n?o seguem um padr?o como os tipos da Univers: Ora est?o em caixa alta, ora em caixa baixa, ou inclinados ? direita, enquanto outros est?o ? esquerda, com diferentes pesos, etc. ? poss?vel observar estes pontos comparando duas tipografias: A Univers e a Ghetto-Blasterz.

3 Termo em ingl?s, que deriva da imprensa de tipos m?veis em metal e que significa fundi??o de tipos. Mesmo n?o havendo a fundi??o do metal, o termo foi apropriado pelo universo digital tipogr?fico e ? utilizado para designar as empresas especializadas na cria??o de tipografias digitais.

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2. Uma Capa Pra Qu?? O mercado fonogr?fico transformou o simples ato de ouvir uma m?sica em um

rico mercado produtor e consumidor de diversos g?neros, gerando anualmente milh?es em todo o mundo. Assim, a m?sica deixou de ser apenas arte e tornou-se um produto de consumo, sendo exposto nos meios de comunica??o, gerando vendas e conseq?entemente, lucro para o seu fabricante.

O disco ? cuidadosamente elaborado, utilizando as ferramentas do composto de marketing. Os m?sicos t?m sua imagem trabalhada e o produto final, um amplo material de divulga??o como cartazes, displays, adesivos de ch?o, propagandas em TVs e revistas, al?m da exibi??o de videoclipes, entrevistas, coment?rios da cr?tica, execu??es em r?dios, etc.

Mas antes de surgir todo esse aparato promocional, a capa do disco desempenhava esse importante papel. Torna-se dif?cil afirmar atualmente, se a capa influencia o consumidor no ato da compra. Como afirmam Barros, Coutinho e Vieira (1999, p. 36):

Com o advento tecnol?gico, outras m?dias apareceram para refor?ar a venda do disco. A m?sica toca no r?dio, na TV, nos shows, o artista aparece na divulga??o do produto disco, existe todo um trabalho de marketing direcionado para a venda. Al?m disso, o consumidor pode ouvir o produto antes da compra.

Entre tantos discos, aquele que for mais atrativo ser? retirado da prateleira pelo cliente, nem que seja para uma simples e r?pida examinada na pr?pria loja. E essa atra??o n?o precisa necessariamente vir de algo esteticamente belo, mas algo diferente, chamativo e que mesmo caracterizando o feio, seja eficaz em seus objetivos. E com a chegada do compact disc, houve uma maior liberdade de cria??o para os designers, que t?m n?o somente a capa, mas a contra-capa, encarte, fundo, etc.

Com a evolu??o da capa, que continha in?meras informa??es e o surgimento do CD, toda a informa??o t?cnica migrou para o interior do disco, ou seja, encontra-se no encarte. As capas geralmente cont?m duas informa??es b?sicas: o nome do artista e o t?tulo da obra, que s?o o que mais interessa no ato da compra.

No desenvolvimento de uma capa de disco, h? muitas vezes, um choque de id?ias entre os m?sicos, que desejam que o projeto gr?fico traduza o trabalho concebido, e a gravadora que limita a cria??o, reduzindo os custos ou estabelecendo regras como, por exemplo, exigindo a imagem do artista na capa.

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3. O Rock O mundo viu surgir um ritmo que veio a ser um marco para a m?sica e para a

sociedade do s?culo XX. Um ritmo que fez com que jovens do mundo todo se identificassem e que n?o se restringiu apenas ao aspecto sonoro. O rock envolve uma s?rie de fatores que fazem com que, at? hoje, seus f?s sejam identificados em v?rias partes do mundo. E, para continuar vivo ainda hoje, o rock se adapta de gera??o a gera??o, de acordo com os anseios do p?blico e da sociedade. Consegue reunir diversas manifesta??es e estilos em um ?nico grande grupo.

Apesar de ter se tornado um produto de consumo apoiado pela m?dia, o rock reflete, inicialmente uma insatisfa??o de jovens com os modelos r?gidos, conservadores e tradicionais da sociedade. "[...] procuravam um novo ve?culo, onde pudessem exprimir o que pensavam a respeito de coisas concretas como fam?lia, escola, poder, amizade, drogas e especialmente, amor". (CHACON, 1985 p. 29).

A partir da metade da d?cada de 60, o rock come?a a abordar assuntos mais s?rios: torna-se intelectual. Ocorre um amadurecimento tanto na tem?tica, que trata de assuntos s?cio-pol?ticos, como na t?cnica musical que ganha um aperfei?oamento. Come?am a surgir as experimenta??es com a guitarra e a preocupa??o com os conhecimentos musicais. Essa fase ? marcada pelo consumo de drogas, principalmente por grandes astros do rock morrendo por overdose.

Contrariando o rock progressivo, "[...] que aliava as mais modernas t?cnicas de grava??o ao virtuosismo de m?sicos oriundos de conservat?rios musicais [...]" (JANOTTI, 2002, p. 57), surge o punk, sem a m?nima preocupa??o com o estudo profundo da m?sica e a favor da atitude, do lema "do it yourself" e do rock de garagem. Para Janotti, "[...] o punk revitalizou a id?ia de que uma guitarra, um baixo, uma bateria e atitude s?o mais importantes do que v?rios anos de estudos musicais [...]" (2002, p. 59).

E al?m da m?sica e do visual punk, caracterizado por roupas pretas, alfinetes, correntes, manchas, etc., o punk tamb?m influenciou o design atrav?s dos fanzines, jornais de baixa tiragem, produzidos pelos pr?prios f?s de modo artesanal. Para discutir o movimento, seus artistas e festivais, os f?s utilizavam colagens e m?quinas de escrever, reproduzindo-os em m?quinas xerogr?ficas. O fato mais marcante nos fanzines foi a sua est?tica (ou a falta dela), pois esses jornais continham erros, letras agressivas, imagens em p?ssima qualidade, representando o verdadeiro caos editorial. E era exatamente isto que os designers buscavam: desordem, anarquia, caos.

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Assim como o indiv?duo de hoje, o rock consegue conviver com diversas identidades adequadas para cada momento. E assim, as bandas misturam seu som a outros ritmos, criando um hibridismo de culturas, sons, estilos, gera??es, etc.

O rock ? muito mais do que um tipo de m?sica: ele se tornou uma maneira de ser, uma ?tica da realidade, uma forma de comportamento. O rock ? e se define pelo seu p?blico. Que, por n?o ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do rock a mesma polimorfia para que se adapte no tempo e no espa?o em fun??o do processo de fus?o (ou choque) com a cultura local e com as mudan?as que os anos provocam de gera??o a gera??o. (CHACON, 1985, p. 18).

O rock ? a tradu??o do estado de esp?rito dos jovens frente aos acontecimentos da sociedade. ? uma forma de chamar a aten??o dos outros, seja pela m?sica, pelas letras, pela maneira de se vestir, pela apar?ncia f?sica, etc. O rock ? a rebeldia, a insatisfa??o, a oposi??o, o chocante.

4. An?lise Tipogr?fica Aqui ser?o apresentadas algumas das principais tend?ncias para cria??o de

tipografias digitais. Esta classifica??o foi baseada no artigo "Tipografia Digital P?sModerna", de Fl?vio Cauduro. E as capas foram selecionadas e analisadas de acordo com esta classifica??o.

? importante lembrar que nem sempre uma capa de disco possui estes dois elementos: t?tulo e subt?tulo, contendo geralmente, nome da banda e nome do ?lbum e que eles n?o precisam vir necessariamente nessa ordem: t?tulo ? nome da banda; subt?tulo ? nome do ?lbum.

A tipografia escolhida tem que estar em sintonia com o projeto do artista, pois ela ir? transmitir n?o apenas o sentido denotativo do texto, mas tamb?m o sentido conotativo, as id?ias, os conceitos, que est?o al?m do conte?do expl?cito para refor?ar e ilustrar a mensagem a ser passada. "O uso da imagem integrada ao nome da banda, remete ao consumidor a linguagem agressiva proposta nas m?sicas do disco". (BARROS; COUTINHO; VIEIRA, 1999, p. 79).

Com o desenvolvimento da inform?tica e da internet, o designer conta com uma infinidade de possibilidades tipogr?ficas a serem exploradas. ? poss?vel tamb?m criar uma tipografia espec?fica para uma determinada capa, transformando a obra numa marca, num ?cone que ir? identificar n?o apenas aquela obra, mas tamb?m a banda.

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