RESUMO PALAVRAS-CHAVE: 1. AS CAPAS DE DISCO E AS MUDANÇAS ...



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As capas de disco como registros visuais da Bossa Nova1

Camila CORNUTTI2 Faculdade Am?rica Latina, Caxias do Sul, RS Faculdade Cenecista de Bento Gon?alves, Bento Gon?alves, RS

RESUMO

O presente artigo busca apontar a relev?ncia de uma capa de disco, como uma materialidade que carrega em si o registro visual de um g?nero ou movimento musical. Assim, aponta as mudan?as trazidas para as capas de disco a partir a Bossa Nova e faz um ensaio de an?lise de cinco capas referenciais do movimento musical ? com o objetivo de apont?-las como sendo, entre outras capas da ?poca, o registro visual da Bossa Nova.

PALAVRAS-CHAVE: capas; disco; Bossa Nova; registro; visual.

1. AS CAPAS DE DISCO E AS MUDAN?AS A PARTIR DA BOSSA NOVA A partir da pesquisa de disserta??o de Mestrado em Ci?ncias da

Comunica??o3, em que se tratou da Bossa Nova como um movimento para al?m da m?sica, foi poss?vel constatar a import?ncia das capas de disco como materialidades que carregam em si o registro visual de um movimento ou g?nero musical. Neste contexto, este artigo busca explorar a relev?ncia das capas de disco como a estampa do produto disco, bem como investiga porque ela passa a ter um tratamento diferente a partir da Bossa Nova. Al?m disso, faz-se um ensaio de an?lise de 5 capas de discos que s?o marcos dos anos iniciais e mais pr?speros do movimento: os dois primeiros discos de Jo?o Gilberto (1959 e 1960) e tr?s ?lbuns da gravadora Elenco - um de Roberto Menescal e seu conjunto (1963), outro de L?cio Alves (1963) e, por fim, o primeiro disco solo de Ant?nio Carlos Jobim (1964). Denomina-se ensaio de an?lise porque se mostra como texto em uma tentativa para examinar, apreciar e, de alguma forma, experienciar um olhar articulador frente ? Bossa Nova a fim de verificar o

1 Trabalho apresentado no GP R?dio e M?dia Sonora do X Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunica??o, evento componente do XXXIII Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o. 2 Mestre em Ci?ncias da Comunica??o (UNISINOS), professora no curso de Design da Faculdade Am?rica Latina e no curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Cenecista de Bento Gon?alves (FACEBG). Email: camilacor@. 3 Conclu?do em 2008 na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), sob orienta??o da Professora Dra. Beatriz Alcaraz Marocco.

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objetivo deste artigo: apontar as capas de disco da ?poca como sendo o registro visual da Bossa Nova.

Tendo isto em vista, partimos da id?ia inicial que a capa de disco tem uma fun??o t?o importante quanto de um an?ncio publicit?rio. Al?m de ela ser, efetivamente, a cara, a estampa de um produto comercialmente vend?vel, ela traz em si a simbologia de algo mais abstrato, de um conceito, de uma id?ia associada a determinado tipo de int?rprete e g?nero musical. Assim, ela possui o poder de representar graficamente toda a mensagem sonora contida no disco. Roland Barthes (1987, p. 165) diz que "toda a publicidade ? uma mensagem". Entendendo a capa de disco como uma forma de publicidade, ela traz consigo um discurso pr?prio e de suma import?ncia para a comunica??o. Logo, ela pode ser vista como um "objeto de um processo comunicativo que comporta um contexto ? cultural e situacional" (DUARTE, 2000, p. 45).

O an?ncio de um produto, por exemplo, necessita estar diretamente conectado com elementos que correspondam a ele. J? o disco vende sensa??es distintas, sendo que s?o complexos os motivos que levam uma pessoa a adquiri-lo. Ao vermos uma capa de disco acabamos estabelecendo a imagem disco-m?sica, e ? por isso que uma capa n?o pode ser inflex?vel e limitada.

Para Villela (2004, p. 41), "n?o ? preciso que algu?m entenda a capa de um disco, mas sim que se sinta atra?do por ela". Por isso ? que uma capa n?o pode ser t?o somente um envolt?rio comum, ela deve provocar uma rea??o imediata, um impulso, um apelo. Sobre isso, Cesar (2000, p. 135) diz que "tratar uma capa de disco com qualidade gr?fica, no que se refere ? cria??o, ? agregar ainda mais valor ao conte?do; no caso, ? m?sica e ao artista".

No Brasil, os LPs eram fabricados desde 1951, no entanto, n?o existia no pa?s uma cultura relativa ?s capas dos discos. Estas eram realizadas de maneira muito comum, contando-se apenas com a foto do int?rprete, de vez em quando com alguma imagem de paisagem ou modelos, e apelava-se para toda a esp?cie de floreios, tornando o visual polu?do, de modo que n?o existia uma sincronia entre o estilo de m?sica contida no disco e o tipo de capa aplicada no mesmo. Para Egeu Laus (apud CARDOSO, 2006, p. 317), "de modo geral, a est?tica das primeiras capas, ? parte os

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trabalhos extremamente autorais dos ilustradores, ou era muito tosco ou refletia uma n?tida influ?ncia das capas norte-americanas mais populares, invariavelmente com um trabalho fotogr?fico de qualidade inferior".

A partir da Bossa Nova, essa pr?tica passou a se diferenciar, culminando com modifica??es visuais em v?rias ?reas. A s?rie de moderniza??es pelas qual o pa?s atravessava no per?odo da Bossa Nova tamb?m atingiu transforma??es em um aspecto fundamental para a comunica??o: a ?rea gr?fica. Justamente entre 1958 e 1962 grandes mudan?as puderam ser verificadas, como o novo visual dos jornais, tendo como exemplo o Jornal do Brasil, os an?ncios, as revistas e, conseq?entemente, as capas de disco tamb?m.

Ruy Castro faz um retrospecto de como tudo isso era visto e tratado at? ent?o:

O impacto desse novo visual s? pode ser avaliado se souber como era antes. Os jornais, at? ent?o, eram uma bagun?a gr?fica e suas p?ginas pareciam um coquetel de palavras cruzadas; as revistas, mesmo a maior delas, O Cruzeiro, n?o diferiam muito das dos anos 40; os an?ncios eram de uma cafonice atroz, e n?o apenas por s? falarem de produtos contra caspa ou mau h?lito; e as capas dos livros e LPs ?s vezes usavam ilustra??es de artistas importantes, mas n?o tinham um conceito gr?fico, muito menos design. Era tudo excessivo: visual polu?do, com mais desenhos do que fotos, e texto rebarbativo, com palavras demais. As p?ginas n?o respiravam, a chamada mensagem se perdia. (CASTRO, O Estado de S?o Paulo, 8 de abril de 2000)

A Bossa Nova acabou contribuindo para esse "novo visual" adotado pela imprensa e pela comunica??o. Desse modo, tamb?m houve uma renova??o nas capas de disco produzidas pelas gravadoras. O primeiro selo brasileiro a adotar uma pol?tica visual chamava-se Elenco, e atrav?s das capas ali idealizadas foi que a Bossa Nova ganhou uma est?tica pr?pria para os discos do g?nero.

A Elenco foi fundada em 1962 por Aloysio de Oliveira4 e desde o seu in?cio era poss?vel reconhecer as suas capas, atrav?s do trabalho do artista gr?fico Cesar

4 Aloysio foi uma personalidade reconhecida pela jovem turma da Bossa Nova principalmente por sua atividade como produtor dos grandes discos daquele per?odo. Tamb?m chegou a atuar como cantor e compositor no "Bando da Lua" - grupo de Carmem Miranda. Nos Estados Unidos foi consultor de Walt Disney, ajudou a criar o personagem Z? Carioca e participou de trilhas e dublagens para os desenhos animados.

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Villela5 e do fot?grafo Francisco Pereira6. Elas eram sempre nas cores preto e branco, com um desenho ou uma foto em alto contraste e pequenos detalhes em vermelho. Essa id?ia casou com a falta de verba para a realiza??o de impress?es a quatro cores juntamente com a percep??o de que era preciso "limpar" as capas, tornando-as atrativas e destacando-as das demais pela simplicidade no visual.

Figuras 01 e 02: Exemplos de capas de disco da Bossa Nova pelo selo Elenco

Fonte: .br/elenco/sobre.htm

A forma econ?mica, direta, era uma proposta revolucion?ria. Assim como a m?sica, contida e sem excessos, as capas da Elenco tamb?m passaram a soar como uma esp?cie de representa??o gr?fica da express?o sonora apresentada nos discos.

2. A BOSSA NOVA A PARTIR DAS CAPAS DOS LPs Com a finalidade de explorarmos as capas de disco como documentos da

Bossa Nova referimos aqui tr?s capas de LPs da Elenco juntamente com as duas primeiras capas dos discos de Jo?o Gilberto, ainda n?o inseridas no contexto de identidade gr?fica do selo. Assim, este ensaio de an?lise se baseia na tentativa de estabelecer uma liga??o dos layouts ? m?sica da Bossa Nova. A ordena??o das mesmas se d? de acordo com a data de lan?amento original de capa um dos LPs:

5 Cesar Villela trabalhou como ilustrador para jornais, revistas e ag?ncias de publicidade. Foi um dos principais respons?veis por desenvolver uma est?tica para as capas de disco no pa?s, assim como trabalhou com desenhos animados no exterior. Hoje, vive no Rio de Janeiro e ainda atua como artista gr?fico para eventuais trabalhos. Diz que a base para seu trabalho tem inspira??o em Mondrian, as leis de propor??es ?ureas e o conceito de ru?do visual, de Marshall MacLuhan.

6 Francisco Pereira, ou Chico Pereira - para o pessoal da Bossa Nova, foi o principal fot?grafo dos artistas da Bossa, al?m de amigo pessoal da maioria deles.

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2.1 "CHEGA DE SAUDADE" (1959) E "O AMOR, O SORRISO E A FLOR" (1960), DE JO?O GILBERTO

Figuras 03 E 04: Capas de "Chega de Saudade" e de "O amor, o sorriso e a flor"

Fonte: .br/elenco/sobre.htm

Os dois primeiros discos de Jo?o Gilberto foram lan?ados pela gravadora Odeon e em ambos a arte das capas foram feitas por C?sar Villela com fotografias de Francisco Pereira. No primeiro deles, ainda que a estrutura formal ainda nos recorde ?s capas ligadas ao samba-can??o (em que se tinha como foco a fotografia central do cantor ou grupo), um dos aspectos que mais chama a aten??o ? a invers?o da postura do int?rprete em rela??o a um estado de humor. Normalmente o cantor, cantora ou grupo se apresentava em uma capa de disco comercial com poses demonstrando ou alegria, ou altivez, ou sorrisos sedutores, ou olhares misteriosos, por exemplo. Ou seja, se apresentava de modo a criar um estreitamento de simpatia com seu p?blico, criando algum la?o de atra??o para que a compra do disco se desse efetivamente.

No caso de "Chega de Saudade" Jo?o aparece em um plano m?dio, sendo focado desde seu busto, com a m?o direita levantada ? altura do queixo, segurando a cabe?a, com os dedos fechados no punho, nos transmitindo uma sensa??o de cansa?o, chatea??o ou um humor enfadonho talvez. Tal imagem junto ao t?tulo "Chega de Saudade" parece criar um enunciado de ainda mais impacto na medida em que o modo imperativo expresso no t?tulo se junta com o ar melanc?lico do cantor e

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