Mídia e movimentos sociais: os efeitos de sentido nas ...

Encontro Nacional de Pesquisa em Comunica??o e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 ? Londrina, PR

M?dia e movimentos sociais: os efeitos de sentido nas capas da Veja1 Airton Donizete de Oliveira2

Resumo:Este trabalho analisa as capas da revista Veja sobre movimentos sociais no Brasil, entre 1968 e 2013. Para minha disserta??o de mestrado foram selecionadas 20 capas. Para este artigo enviado ao Encontro Nacional de Pesquisa em Comunica??o e Imagem (Encoi) selecionei uma capa da Veja de 10 de maio de 2000, com o t?tulo: "A t?tica da baderna", seguido da chamada: "O MST usa o pretexto da reforma agr?ria para pregar a revolu??o socialista". Utilizando-se da metodologia An?lise de Discurso da Linha Francesa, a an?lise de tal capa concluiu que Veja ataca os movimentos sociais.

Palavras-chave: Imagem; fotojornalismo; movimentos sociais; Veja.

Abstract: This paper examines the covers of the magazine Veja on social movements in Brazil between 1968 and 2013. For my dissertation 20 cases were selected. For this article sent to the "Encontro Nacional de Pesquisa em Comunica??o e Imagem (Encoi)" selected a cover of Veja the May 10, 2000, with the title: "The tactics of the riot", followed by the call: "The MST uses the pretext of agrarian reform to preach the socialist revolution". Utilizing the methodology Discourse Analysis of the French Line, the analysis of such attacks See cover concluded that social movements.

Keywords: Image; photojournalism; social movements; Veja.

Introdu??o

O presente artigo analisa uma capa da revista Veja publicada em 10 de maio de 2000, com o t?tulo: "A t?tica da baderna", seguido da chamada: "O MST usa o pretexto da reforma agr?ria para pregar a revolu??o socialista".As capas de revistas semanais, a exemplo de Veja, estampam fotografias, t?tulos e chamadas sobre os mais diversos assuntos. Ao retratar os Sem-Terra em sua capa, Veja se posiciona contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). O objetivo geral deste trabalho - investigar os efeitos de sentido na capa em quest?o ? ? seguido de objetivos

1 Trabalho apresentado no GT 4- Abordagens Anal?ticas em Comunica??o Visual, do Encontro Nacional de Pesquisa em Comunica??o e Imagem - ENCOI. 2 Mestrando em Comunica??o Visual na Universidade Estadual de Londrina (UEL) -

donijornalismo@

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espec?ficos: Analisar elementos que ajudam a formar a imagem exposta nesta capa da Veja sobre o MST; realizar an?lise de tal capa com base na hist?ria da Veja e do MST e demonstrar os efeitos de sentido presentes nela.

Nas bancas de rua ou na internet revistas exibem suas capas, que funcionam como vitrines. Por meio delas, o leitor pode avan?ar ou n?o na leitura interna. Por isso, esta an?lise se ater? apenas a esta capa de Veja sobre o MST, n?o avan?ando ao conte?do interno da revista. Com tamanha exposi??o, a postura de Veja sobre o movimento pode confundir o leitor que n?o o conhece. Da? a import?ncia desta an?lise, que tamb?m pode auxiliar professores em sala de aula. Por meio de um programa "Veja na Sala de aula", criado pela Editora Abril, que edita Veja, muitos se utilizam da revista em suas aulas no ensino m?dio.

Alvo da censura militar, Veja, publicada pela Editora Abril, chegou ao mercado editorial em 1968 para substituir a revista Realidade. Tamb?m editada pela Abril, saiu de circula??o em 1976. Desde ent?o, Veja mant?m uma linha editorial voltada ao pensamento neoliberal, com destaque para assuntos do cotidiano. ? uma publica??o que apoia a livre iniciativa e o sistema neoliberal de governo. Em seu primeiro n?mero que foi ?s bancas, em setembro de 1968, Veja estampou uma capa sobre o comunismo na ent?o Uni?o Sovi?tica, com o t?tulo: "O grande duelo no mundo comunista". Um fundo vermelho ressalta a sombra da foice e do martelo em preto. Assim, a revista come?ava a demarcar sua linha editorial.

Os ataques de Veja ao MST revelam o prop?sito da revista em destruir a identidade do movimento, que est? relacionada ?s lutas sociais que outrora existiram no Brasil. Uma das principais organiza??es surgidas no Brasil p?s-ditadura militar, os Sem-Terra talvez sejam a ?nica entidade civil que consegue pressionar o Governo Federal e mostrar ? sociedade que o Brasil precisa realizar a reforma agr?ria. Esta ? uma reivindica??o antiga. A concentra??o de terra no Brasil vem desde os tempos da Col?nia e est? ligada ? falta de cidadania, que tamb?m perdura desde aquela ?poca. Carvalho (2001) lembra que um tra?o marcou durante s?culos a economia e a sociedade brasileiras: o latif?ndio monocultor e exportador de base escravista.

A concentra??o de terra no Brasil come?ou com as capitanias heredit?rias e n?o mudou. Indiv?duos determinados pela Coroa se apossavam da propriedade, que

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era repassada de pai para filho. A reforma agr?ria sempre ficou em segundo plano. A mudan?a nunca interessou ao Estado e ? classe dominante. Uma de suas armas ? a grande m?dia, um dos aparelhos ideol?gicos de Estado. Se outrora era assim, n?o interessa ao Estado e ? classe dominante que haja mudan?as.

Podemos constatar que enquanto o aparelho (repressivo) de Estado, unificado, pertence inteiramente ao dom?nio p?blico, a maioria dos Aparelhos Ideol?gicos de Estado (na sua dispers?o aparente) releva pelo contr?rio do dom?nio privado. Privadas s?o as igrejas, as fam?lias, os sindicatos, algumas escolas, a maioria dos jornais, as empresas culturais, etc. etc. (ALTHUSSER, 1974, p. 45).

Para analisar esta capa de Veja sobre o MST, ? utilizada a metodologia An?lise de Discurso de Linha Francesa e teorias do jornalismo (doravante AD).

A revista Veja

A imprensa se alastrou pelo Brasil, mas n?o mudou seu perfil editorial. Ou seja, n?o deixou de ser comandada pela classe dominante. Conviveu com a ditadura do Estado Novo (1937/1945), per?odo em que muitos jornais e revistas foram fechados por determina??o do Governo Federal. A ditadura civil/militar (1964/1985) deu outro golpe na imprensa. Jornais, revistas, r?dios e canais de televis?o passaram a conviver com a censura. Mas o golpe fatal veio em 1968 com o decreto que imp?s o Ato Institucional Cinco, o AI 5, que endureceu censura endureceu. Neste cen?rio nasceu a revista Veja, criada em 1968, pelos jornalistas Victor Civita e Mino Carta.

No come?o, Veja teve dificuldades. Lutou contra a censura do Governo Militar, at? acertar sua f?rmula. As vendas come?aram a se expandir quando a revista passou a ser vendida por assinatura, em 1971. Hoje, as assinaturas correspondem a 80% da venda dos seus 1,2 milh?es de exemplares semanais. Segundo Scalzo (2009),para formar a primeira equipe de Veja, a Editora Abril selecionou em todo o pa?s, e treinou durante tr?s meses, 100 jovens com forma??o superior, dos quais 50 foram aproveitados na Reda??o. Era o primeiro curso de jornalismo da empresa, e tamb?m o primeiro a falar de jornalismo em revista. Tal pr?tica ? mantida at? hoje. A maioria dos jornalistas

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que atua nas revistas do grupo s?o selecionados por meio de treinamento comandado pela Editora Abril. Veja ? hoje a quarta revista de informa??o mais vendida no mundo.

Veja trata de temas do cotidiano da sociedade brasileira e do mundo, como pol?tica, economia, cultura e comportamento; tecnologia, ecologia e religi?o por vezes tamb?m s?o abordadas. Possui se??es fixas de cinema, literatura, m?sica, entre outras variedades. A maioria dos seus textos ? elaborada por jornalistas, por?m nem todas as se??es s?o assinadas. No Brasil, de acordo com Scalzo (2009), a primeira concorrente de Veja foi Vis?o, que j? existia quando a revista da Editora Abril foi lan?ada. Depois vieram Isto ?, Senhor, Afinal, ?poca, Carta Capital, Caros Amigos, Piau?, entre outras. O leitor de Veja se assemelha ao da revista Vis?o que, lan?ada em 1952, tinha linha editorial voltada para um p?blico formado por empres?rios, executivos e integrantes da classe m?dia.

Vis?o aproveitou a consolida??o de uma sociedade urbana e industrial no pa?s, na d?cada de 1950, e criou um modelo de jornalismo que privilegiava a an?lise, a clareza das informa??es e a capacidade de s?ntese. Daquela d?cada em diante, a chamada grande imprensa tem tido um papel pol?tico central na hist?ria do Brasil. Tamb?m naquela ?poca, os meios de comunica??o passaram a adotar padr?es externo de comunica??o. "A hist?ria da revista Veja (e sua editora) [...] assim como os demais ?rg?os de imprensa desde os anos 1950, tem na manuten??o dos interesses hegem?nicos norte-americanos um ideal inabal?vel" (SILVA, 2005, p. 37).

MST: herdeiro de lutas hist?ricas

Interesses hegem?nicos que sempre predominaram, provocando rea??o das mais diferentes na sociedade. Um r?pido olhar pela historiografia brasileira revela os levantes e revoltas de movimentos sociais que apregoavam mudan?as na condu??o pol?tica do pa?s. Canudos (revolta no sert?o baiano entre 1893 e 1897, que culminou com a morte de 25 mil pessoas), Guerra do Contestado (conflito que se deu na divisa entre Paran? e Santa Catarina, em 1913, que teria provocado a morte de 20 mil pessoas), Revolta de Palmares (ataque das for?as governistas contra o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, hoje interior de Alagoas, no qual morreu Zumbi dos Palmares) entre

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outros, demonstram insatisfa??o com um Estado que sempre deixou o povo em segundo plano. A luta desses movimentos n?o cessou. Ela continua viva e, hoje, tem no MST seu leg?timo representante.

Portanto, a reforma agr?ria ? uma reivindica??o antiga. A concentra??o de terra no Brasil vem do per?odo colonial e est? ligada ? falta de cidadania, que tamb?m perdura desde aquela ?poca. O modelo de coloniza??o portugu?s n?o privilegiava a forma??o de uma na??o. Em 1500, eles chegaram ao Brasil e depararam com um imenso territ?rio. N?o titubearam em usar a for?a para dominar os donos das terras, que aqui viviam. Eram cerca de 5 milh?es de ?ndios, que foram submetidos ao modo de produ??o, ?s leis e ? cultura portuguesa. Toda a terra brasileira passou a ser propriedade da Coroa Portuguesa. Os que aqui chegaram receberam concess?o de uso. Um direito heredit?rio, ou seja, os herdeiros dos grandes fazendeiros podiam continuar com a posse das terras e sua explora??o.

Em 1850, a Coroa, sofrendo press?es inglesas para substituir a m?o de obra escrava pelo trabalho assalariado, com a consequente e inevit?vel aboli??o da escravid?o, e para impedir que, com a futura aboli??o, os ent?o trabalhadores ex-escravos se apossassem das terras, promulga, naquele ano, a primeira lei (Lei 601) de terras do pa?s (ST?DILE, 2005, p. 24).

Tal ato jur?dico consolidou a propriedade privada no Brasil e, a partir da?, formaram-se os grandes latif?ndios que persistem at? hoje. Com o fim da escravid?o, em 1888, e chegada dos imigrantes europeus, surgiu o campesinato brasileiro. At? ent?o, havia apenas trabalhadores escravizados, vindos da ?frica ou retirados das comunidades nativas, ind?genas. Em 1930, uma revolu??o burguesa leva ao poder Get?lio Dornelles Vargas, que fica no comando do pa?s at? 1945. A oligarquia rural se enfraquece e faz uma alian?a com a burguesia urbana. Uma das causas do ?xodo rural. Os camponeses deixam a ro?a e se iludem com novos empregos e sal?rios na ind?stria. A crise pela falta da terra se agrava. O Brasil v? o nascimento, entre 1950 e 1964, das ligas camponesas (movimento ocorrido no sert?o pernambucano liderado por Francisco Juli?o Arruda de Paula, cujo objetivo era fazer a reforma agr?ria) e outros movimentos que exigiam a realiza??o da reforma agr?ria no Brasil.

Esses movimentos foram esmagados pela ditadura militar, que se instalou no pa?s em 1964. O latif?ndio derrotou a reforma agr?ria. Pessoas que lutavam por esta

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