Formas tratamentais no semiárido baiano: contribuições ...
嚜澧ap赤tulo
2
Formas tratamentais no semi芍rido
baiano: contribui??es para uma
configura??o diat車pico-diacr?nica
do sistema de tratamento do
portugu那s brasileiro
Mariana Fagundes de
Oliveira Lacerda
(Universidade Estadual de Feira
de Santana)
Zenaide de Oliveira Novais
Carneiro
Matheus Santos Oliveira
(Universidade Estadual de Feira
de Santana)
Dayane Moreira Lemos
(Universidade Estadual de Feira
de Santana)
(Universidade Estadual de Feira
de Santana)
Considera??es iniciais
No ?mbito do Projeto Nacional para a Hist車ria do Portugu那s Brasileiro
(PHPB), o sistema pronominal de 2? pessoa vem sendo discutido, numa perspectiva diat車pico-diacr?nica, a partir da an芍lise de formas de tratamento em
documenta??o epistolar, de car芍ter pessoal, produzida no Rio de Janeiro, Minas
Gerais, S?o Paulo, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte,
durante os s谷culos XIX e XX. Foram apresentados, no I Simp車sio do Labor
Hist車rico: hist車ria dos pronomes de tratamento no portugu那s brasileiro, nossas
contribui??es, com dados de cartas baianas (MARTINS et al., 2015; LACERDA; ANDRADE; CARNEIRO, 2016), cujos acervos integram o CE-DOHS 每
Corpus Eletr?nico de Documentos Hist車ricos do Sert?o (FAPESB)1, do N迆cleo
de Estudos da L赤ngua Portuguesa (NELP), da Universidade Estadual de Feira de
1
Cf: .
40
A fala nordestina: entre a sociolingu赤stica e a dialetologia
Santana (UEFS)2. Nesta oportunidade, apresentamos uma an芍lise 每 tamb谷m de
acordo com os princ赤pios da Sociolingu赤stica Quantitativa (LABOV, 1994) 每 das
formas de tratamento, na posi??o de sujeito e complemento3, encontradas em
amostras de fala do semi芍rido baiano, onde a l赤ngua portuguesa, afetada por
processos de transmiss?o lingu赤stica irregular (BAXTER, 1991), inicialmente na
aprendizagem dos 赤ndios e, mais tarde, dos negros, foi incorporando fatos lingu赤sticos comuns em situa??es de contato entre l赤nguas. Essas amostras 每 de que
falaremos, mais detalhadamente, na pr車xima se??o 每 fazem parte do banco de
dados do projeto A L赤ngua Portuguesa no Semi-?rido Baiano (FAPESB)4, coordenado por Norma Lucia Fernandes de Almeida e Zenaide de Oliveira Novais
Carneiro, no NELP/UEFS.
1 Os corpora
O trabalho de pesquisa baseou-se em amostras de fala de zonas rurais do
semi芍rido baiano 每 resultantes das Fases I e II do projeto A L赤ngua Portuguesa no
Semi-?rido Baiano 每 e em amostras de fala da zona urbana de Feira de Santana 每 segunda maior cidade do estado da Bahia 每, resultantes da Fase III, buscando responder a quest?es como: ser芍 que o dialeto urbano de Feira de Santana sofreu muitas
influ那ncias dos dialetos rurais e vice-versa? (ALMEIDA, 2005).
1.1 As amostras das zonas rurais
Na Fase I, foram escolhidas comunidades que representam o avan?o da
l赤ngua portuguesa na Bahia, a partir do s谷culo XVII: Piemonte da Diamantina/
zona rural do munic赤pio de Anselino da Fonseca, e Chapada Diamantina/zona
rural do munic赤pio de Rio de Contas. Na fase II, foram escolhidas duas regi?es
da Bahia: a Nordeste, uma das mais antigas, e a Paragua?u, um importante ponto de passagem para o interior da Bahia. Na regi?o Nordeste, as comunidades
escolhidas foram: Lagoa do In芍cio, Casinhas, Baixa da Tranqueira e Ab車boras.
Na regi?o Paragua?u, as localidades escolhidas foram duas, a saber: S?o Jos谷 de
2
3
4
A hip車tese de partida 谷 que diferentes regi?es do Brasil adotem sistemas tratamentais diferentes, o que pode explicar discrep?ncias na evolu??o hist車rica dessas formas de tratamento encontradas na Bahia, face aos resultados obtidos para outras localidades do pa赤s.
? importante salientar que foram inclu赤dos os dados em que o informante faz refer那ncia
角 2.a pessoa do singular.
Cf: .
41
Formas tratamentais no semi芍rido baiano
Itapororocas e Matinha (comunidade mesti?a, com predom赤nio da popula??o
de origem africana)5.
Quadro 1 Amostras das zonas rurais do Projeto A L赤ngua Portuguesa no Semi芍rido Baiano.
Zonas
Anselino da Fonseca
(Piemonte da Diamantina)
Localidades
Piabas
Rio de Contas
Barra dos Negros/Bananal/
(Chapada Diamantina)
Mato Grosso
Feira de Santana
(Paragua?u)
Jeremoabo
(Nordeste)
Matinha
Casinhas
Tapera
Lagoa do In芍cio
Figura 1 ?rea semi芍rida brasileira, incluindo grande parte da Bahia.
Fonte: IBGE.
5
Como afirma Mattos e Silva (2001), o estudo das variantes populares do PB 谷 uma vertente importante de pesquisa para a recupera??o do portugu那s popular brasileiro, cujo
antecedente hist車rico 谷 o portugu那s geral brasileiro, constitu赤do do encontro multil赤ngue
da popula??o ind赤gena, do portugu那s e da popula??o de origem africana.
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A fala nordestina: entre a sociolingu赤stica e a dialetologia
H芍 comunidades que foram formadas predominantemente por brancos; outras, predominantemente por negros e, finalmente, outras formadas predominantemente por 赤ndios. Como afirmam Almeida e Carneiro (2014, p. 18-19),
Um estudo lingu赤stico a partir de amostras que levem em conta essas peculiaridades regionais pode (...) propiciar uma melhor compreens?o e
controle de aspectos que podem ter influenciado a forma??o lingu赤stica
da popula??o rural da regi?o semi芍rida. Al谷m disso, os dados de comunidades n?o marcadas etnicamente em contraposi??o 角quelas marcadas
etnicamente tamb谷m podem ser significativos para o entendimento da
forma??o s車cio-hist車rica da l赤ngua falada nessas localidades.
Essas amostras 每 coletadas de 72 informantes, dos g那neros masculino e
feminino, das faixas et芍rias I (25 a 35 anos), II (45 a 55 anos) e III (acima de 65
anos), em grava??es do tipo DID (di芍logo entre informante e documentador) 每
encontram-se publicadas na cole??o Amostras da L赤ngua Falada no Semi芍rido
Baiano (ALMEIDA; CARNEIRO, 2008), que se constitui de quatro volumes:
volume I 每 Amostras da l赤ngua falada na zona rural de Anselino da Fonseca;
volume II 每 Amostras da l赤ngua falada na zona rural de Rio de Contas (Chapada
Diamantina); volume III 每 Amostras da l赤ngua falada na zona rural de Feira de
Santana (Paragua?u); volume IV 每 Amostras da l赤ngua falada na zona rural de
Jeremoabo (Nordeste).
Foram considerados, nesta pesquisa, 21 informantes, tr那s de cada localidade, dos g那neros masculino e feminino e das faixas et芍rias I, II e III.
1.2 As amostras da zona urbana de feira de Santana
Na Fase III, o projeto volta-se para a sede do munic赤pio de Feira de Santana, tendo em vista que os dados coletados nessa cidade fornecem importantes
subs赤dios para o entendimento da forma??o, caracteriza??o e difus?o do portugu那s brasileiro, notadamente no que se refere ao entrecruzamento das normas
populares e cultas e ao contato rural e urbano: a l赤ngua falada nesse munic赤pio
agrega caracter赤sticas que a fazem ser um ※espelho§ da realidade sociolingu赤stica brasileira6.
6
Sobre a s車cio-hist車ria do munic赤pio de Feira de Santana, conferir Boaventura (1989).
43
Formas tratamentais no semi芍rido baiano
Figura 2 Munic赤pio de Feira de Santana.
Fonte: MapasBlog.
S?o 72 informantes, dos g那neros masculino e feminino, das faixas et芍rias I, II
e III, em grava??es do tipo DID, assim como nas Fases I e II do projeto. Esse corpus (ainda in谷dito) traz entrevistas representativas da norma popular, da norma
culta e da norma semi-culta7:
Quadro 2 Caracteriza??o do corpus da zona urbana de Feira de Santana.
Norma popular
Norma culta
Norma semi-culta (Ensino M谷dio)
Feirenses filhos de feirenses
Feirenses filhos de migrantes
Migrantes
Feirenses filhos de feirenses
Feirenses filhos de feirenses
Feirenses da zona rural
Fonte: Ara迆jo, 2014.
Neste trabalho, analisamos dados da norma popular (feirenses filhos de feirenses), 12 informantes, e da norma culta (feirenses filhos de feirenses), tamb谷m 12
informantes, num total de 24 informantes, dos dois g那neros e das tr那s faixas et芍rias.
7
Sobre a polariza??o sociolingu赤stica do PB, conferir Lucchesi (1994).
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