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Ve?culo: gauchazh..br - Caderno: Not?cias - Se??o: Not?cias - Assunto: Cultura - P?gina: on line - Publica??o: 04/03/22 URL Original: o-veloso-gilberto-gil-milton-nascimento-e-paulinho-da-viola-chegam-aos-80-anoscl0b0qghe001z01651gx5ok0v.html

Como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento

e Paulinho da Viola chegam aos 80 anos

MPB /NOT?CIA

Como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulinho da Viola chegam aos 80 anos

Quatro grandes artistas da m?sica brasileira v?o virar oitent?es em 2022

04/03/2022 - 11h08min

WILLIAM MANSQUE

Outros nomes importantes logo chegar?o ? casa dos 80, como Chico Buarque (completa 78 em junho), Gal Costa (77 em setembro) e Maria Beth?nia (76 em junho). S? a idade de Jorge Ben Jor ? um tanto controversa: a jornalista e escritora Kamille Viola, autora do livro ?frica Brasil: Um Dia Jorge Ben Voou Para Toda a Gente Ver, encontrou evid?ncias de que ele nasceu em 1939, mas o m?sico defende que nasceu em 1945. Sobre o dia, n?o h? d?vidas: 22 de mar?o ? a data para celebrar seus 83 ou 77 anos. Entre os artistas do pa?s tamb?m nascidos em 1942, mas que j? partiram, h? Tim Maia, Nara Le?o, Celly Campello e Clara Nunes.

?s v?speras de se tornarem octogen?rios, os quatro artistas seguem ativos, cada um ? sua maneira. Seja com shows, discos ou diferentes demandas. Sempre relevantes, o tempo agrega frescor ?s suas obras. Celebrando essa longevidade art?stica, confira, a seguir, como essa turma de 1942 chega aos 80 anos e o que cada um anda produzindo.

Gilberto Gil: em tr?nsito

Gilberto Gil ? uma multipresen?a espalhada por diferentes meios. Entre setembro e outubro de 2021, ele voltou aos palcos realizando turn? pela Europa. O cantor deve retornar ao continente em junho para um giro comemorativo dos 80 anos, a ser documentado pelo cineasta Andrucha Waddington, tamb?m diretor da s?rie Fam?lia Gil, prevista para estrear no segundo semestre no Amazon Prime Video. Em janeiro, foi lan?ada a miniss?rie Infinito Brasileiro, protagonizada por Gil e dirigida por Marcelo Hallit. Dispon?vel na plataforma Casa do Saber+, traz o cantor compartilhando suas vis?es sobre o pa?s a partir de suas viv?ncias. Ainda no campo audiovisual, vale lembrar o especial Amor e Sorte com Gilberto Gil, que estreou no Globoplay em 2020. Os quatro epis?dios mostram a hist?ria por tr?s da cria??o de alguns sucessos do cantor, al?m de trazer performances e parcerias (como Elza Soares, Milton Nascimento e Pitty) para gravar novas vers?es dessas can??es durante a quarentena. As entrevistas foram conduzidas pelo cineasta Jorge Furtado e pelo escritor Carlos Renn?. Gil vai chegar aos 80 sendo um imortal: em novembro, o compositor foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Trata-se de apenas o terceiro negro na trajet?ria da ABL, ap?s Machado de Assis e Dom?cio Proen?a Filho. O ?ltimo disco de in?ditas ? Ok Ok Ok, de 2018. De l? para c?, ele lan?ou dois registros ao vivo: Gil Baiana ao Vivo em Salvador (2020), com a banda BaianaSystem, e S?o Jo?o em Araras (2021), gravado em seu s?tio. O doutor em hist?ria Maur?cio Barros de Castro, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor de Gilberto Gil: Refavela, aponta que a m?sica de Gil sempre esteve conectada a quest?es contempor?neas, refletindo os m?ltiplos interesses do artista: tecnologia, pol?ticas culturais, ancestralidade africana, heran?a nordestina e o di?logo constante com as novas formas de pensar o mundo. -- O disco que gravou com o BaianaSystem mostra como Gil chega aos 80 anos, repleto de vitalidade e com a obra em total di?logo com as novas gera??es -- diz Castro. C?ssia Lopes, professora e pesquisadora nas ?reas de Letras e Artes C?nicas da Universidade Federal da Bahia e autora do livro Gilberto Gil: a Po?tica e a Pol?tica do Corpo, salienta que o cantor pensa e interpreta os tecidos sociais brasileiros n?o s? com suas can??es, mas traz, ao longo de sua carreira, uma po?tica e uma pol?tica com o corpo. Ela lembra que, quando foi Ministro da Cultura (2003 a 2008), Gil participou de eventos de cunho pol?tico nos quais o seu lado artista tamb?m era convocado ? cena, produzindo uma politiza??o da arte e uma estetiza??o do pol?tico.

Para C?ssia, Gil sempre esteve atento a diversos ritmos e saberes presentes na paisagem brasileira, transitando sem estabelecer uma hierarquia entre eles: -- Com Dorival Caymmi, aprendeu a n?o ter a dor como uma rival, mas a afirm?-la de maneira criativa. Tamb?m a ler o mar e a sentir a poesia e as tens?es presentes na paisagem baiana e brasileira. Com Luiz Gonzaga, abriu a sanfona mundo afora, numa descoberta do sert?o e de suas festas populares. Atravessou o samba, o reggae de Bob Marley, o rap, ouviu a Banda de P?fanos de Caruaru, a can??o rom?ntica, o viol?o de Jo?o Gilberto, revelando a riqueza da musicalidade brasileira, sem fechar os olhos para a arte que se faz em n?vel global. Foi da soul music, em Refavela (1977), em que tamb?m se inspirava no Nordeste, ? m?sica de discoteca no ?lbum seguinte, Realce (1979).

Caetano Veloso: inquieto

Como m?sico e agente pol?tico, Caetano Veloso est? sempre em movimento. A principal iniciativa que encabe?a neste momento ? o Ato Pela Terra, manifesta??o prevista para o dia 9 de mar?o, em Bras?lia. Acompanhado de artistas como Seu Jorge, L?zaro Ramos e Christiane Torloni e ONGs, o cantor e compositor vai protestar contra um combo de projetos de lei chamado por ambientalistas e opositores de "pacote da destrui??o". Os textos flexibilizariam o rigor sobre a prote??o da Amaz?nia, afrouxariam o uso e registro de agrot?xicos e liberariam a minera??o em terras ind?genas ? reivindica??o que parte de garimpeiros e empresas mineradoras. A preocupa??o de Caetano com a natureza se intensificou nos ?ltimos anos. Em 2020, ele lan?ou uma s?rie de encontros musicais no Rio, para comemorar o Dia do Meio Ambiente. Gravadas em 2019, as apresenta??es marcaram o lan?amento do app da 342Amaz?nia, plataforma de ativismo ambiental que tem Paula Lavigne, companheira do m?sico, como uma das idealizadoras. Al?m da causa ambiental, Caetano vive se posicionando contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista ao jornal Metr?poles, disse que "O governo que temos agora n?o tem paralelo com a ditadura, tem saudade dela, paix?o pela deforma??o do poder p?blico" e "? o avesso do que devemos ser". A produ??o musical segue f?rtil. Em outubro de 2021, lan?ou Meu Coco, seu primeiro ?lbum solo de est?dio desde 2012. A turn? passar? por Porto Alegre, com tr?s datas no Audit?rio Ara?jo Vianna: 8, 9 e 10 de abril. Em janeiro, Caetano virou desenho animado no clipe O Le?ozinho, da R?dio Bita, bra?o do projeto de anima??o Mundo Bita. At? o fim do ano, devem sair mais v?deos. Outro lan?amento previsto ? o livro Letras (Companhia das Letras), com todas as can??es do artista. A organiza??o ? do poeta e ensa?sta Eucana? Ferraz. Vale lembrar que, em 2020, o document?rio Narciso em F?rias, de Renato Terra e Ricardo Calil, trouxe um relato ?ntimo do artista sobre sua pris?o pela ditadura militar em dezembro de 1968.

Ou seja, Caetano ? uma multipresen?a, espalhada em diferentes linguagens ou discursos. Para Rafael Juli?o, doutor em literatura brasileira e autor do livro Infinitivamente Pessoal: Caetano Veloso e Sua Verdade Tropical (2017), seria at? poss?vel afirmar que Caetano ? uma onipresen?a, pois est? sempre pronto para se instalar no cerne da discuss?o de seu tempo. Juli?o reflete: -- Sua fala p?blica e sua afirma??o pol?tica espalharam-se por jornais e memes, ao exaltar a intelig?ncia e contestar a burrice. Continua estando aqui presente, como um vate teimoso, a seguir insistindo em um destino luminoso para o Brasil em meio a mais esse momento angustioso. E ? com essa teimosia que se permite afirmar, em recente can??o (N?o Vou Deixar, do disco Meu Coco), que n?o vai deixar que esculachem com nossa hist?ria, porque aqui h? quem saiba cantar. ? tamb?m o tipo que n?o se acomoda com o sucesso, destaca o poeta e escritor Carlos Eduardo Drummond, autor, em parceria com Marcio Nolasco, de Caetano, Uma Biografia: -- Como na m?xima dos modernistas, para ele o passado n?o ? para se repetir. O olhar ? para o novo, ? na dire??o do futuro, e com uma necessidade constante de ruptura, que s?o ferramentas vitais para sua produ??o. Essa necessidade, ressalta Drummond, pode ser percebida desde os primeiros discos. Basta comparar a estreia (Domingo, em parceria com Gal Costa), de 1967, com Caetano Veloso (1968) e Tropic?lia ou Panis et Circenses (1968), onde o Tropicalismo se consolidou. Ou o clima melanc?lico do ex?lio do cantor em Londres, que rendeu Transa (1972), o experimentalismo de Ara?? Azul (1973), a parceria com a banda Black Rio no auge da soul music, a influ?ncia do rock brasil no disco Vel? (1984)... -- Tamb?m como os modernistas, Caetano devora essa cultura diversa que chega at? ele e depois recria ? sua maneira -- atesta Drummond. Juli?o corrobora: -- Esse Caetano que vai se desdobrando em muitos chegou ao novo mil?nio atento a tudo, renovando seu p?blico, experimentando sonoridades e mantendo elevada a discuss?o sobre cultura e pol?tica no pa?s. Seu mais recente ?lbum, Meu Coco, tem esse vigor de se mostrar cheio de novidades e, ao mesmo tempo, de afirmar mais uma vez tudo aquilo que, de ponta a ponta, sua obra enuncia.

Milton Nascimento: global

Ao mesmo tempo que ir? festejar oito d?cadas de vida, Milton Nascimento pretende se despedir dos palcos em 2022. O an?ncio da turn? A ?ltima Sess?o de M?sica foi realizado em outubro de 2021, mas ainda n?o foi divulgada nenhuma data de apresenta??o. O show mais recente de Milton foi a live com a Orquestra Ouro Preto, em dezembro, quando celebrou os 50 anos do disco Clube

da Esquina, que ser?o completados neste m?s. A apresenta??o foi realizada no Cine-Theatro Central, de Juiz de Fora (MG), sem presen?a de p?blico. Ali?s, tr?s shows de encerramento da turn? Clube da Esquina adiados por conta da pandemia foram remarcados para abril. A comemora??o do ?lbum j? havia come?ado com a miniss?rie Milton e o Clube da Esquina, que foi ao ar em 2020, pelo Canal Brasil (hoje dispon?vel no Globoplay). Com dire??o de Vitor Mafra e participa??es de nomes como Samuel Rosa, Iza e Ney Matogrosso, o programa se debru?a sobre as can??es e a intimidade de Bituca, Ronaldo Bastos e os irm?os M?rcio e L? Borges. O ?ltimo disco de est?dio com in?ditas de Milton foi lan?ado em 2010, intitulado ...E a Gente Sonhando. A partir da?, Bituca se dedicou a registros ao vivo e regrava??es. Um desses trabalhos foi o EP Existe Amor, de 2020, em parceria com Criolo. Em dezembro do mesmo ano lan?ou o single Dr?o, composi??o de Gilberto Gil, para a trilha sonora da s?rie Amor e Sorte. Mas h? novidade prevista para 2022: Milton publicou em janeiro um v?deo em est?dio, destacando que estava na grava??o de seu primeiro projeto do ano, sem dar maiores detalhes. Falando nisso, Milton costuma ser ativo em suas redes, com v?deos e publica??es ternas. Por?m, ele j? aproveitou o espa?o para falar de pol?tica: no feriado de 7 de setembro de 2021, quando v?rios apoiadores do governo federal ocuparam as ruas de cidades do pa?s com discursos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, publicou um v?deo interpretando C?lice. Composi??o de Chico Buarque e Gil, a m?sica ? um s?mbolo da resist?ncia ? repress?o da ditadura militar no Brasil. Na legenda da postagem, Milton protestou escrevendo "Fora Bolsonaro". O jornalista e diretor art?stico Danilo Nuha convive com Bituca desde 2009, atuando na assessoria do artista. ? autor do livro Milton Nascimento: Letras, Hist?rias e Can??es. H? 13 anos ele acompanha o m?sico em suas viagens, shows, compromissos, grava??es, encontros com outros artistas, atletas, f?s e celebridades de diferentes ?reas. Ele assegura: agenda de Milton antes da pandemia era t?pica de um chefe de Estado. -- Numa sexta-feira em Nova York, show na ONU. No dia seguinte, Montreal, no mesmo festival que Prince e Robert Plant. Pouco depois, j? est? em Istambul, tocando numa mesquita com Herbie Hancock, Esperanza Spalding e Wayne Shorter. Essa era a rotina normal dele. E uma coisa que eu sempre pensava nessas viagens ? que Milton j? ultrapassou todos os par?metros. J? n?o se trata somente de um artista e sua m?sica. O que faz da obra de Milton t?o relevante ? o papel que ele exerce no mundo de uma forma geral -- avalia. Para o jornalista e doutor em Antropologia Paulo Thiago de Mello, autor do livro Milton Nascimento e L? Borges: Clube da Esquina, Bituca re?ne uma voz singular, o dom?nio da arte de compor e a capacidade construir melodias simples e poderosas com uma harmonia sofisticad?ssima. Mello observa que o m?sico continua relevante hoje porque aprimorou o que antes era talento bruto: -- Isso o manteve relativamente a salvo do envelhecimento natural dos elementos que o tornaram singular. ? como um vinho que envelheceu bem.

Paulinho da Viola: cronista

A ?ltima vez em que Paulinho da Viola apresentou um trabalho em que m?sicas in?ditas predominaram no repert?rio foi em 1996, com o disco Bebadosamba. O Ac?stico MTV, de 2007, at? trouxe quatro m?sicas que n?o tinham sido gravadas pelo m?sico. Em 2020, saiu um registro ao vivo feito em 2006, intitulado Sempre Se Pode Sonhar, em que a faixa-t?tulo era a ?nica novidade na sua voz. Paulinho revelou em entrevista ao Estad?o, em dezembro de 2021, que j? tinha sambas prontos e algumas melodias, al?m de algumas letras para um trabalho futuro. Em entrevista ao Globo, em janeiro, ele admitiu que j? estava tudo combinado para gravar um novo trabalho, mas pediu um tempo para entender melhor como funcionam as formas de grava??o e distribui??o agora. Para Paulinho, ? estranho gravar duas ou tr?s m?sicas e depois lan?ar na internet. Quando conversou com GZH, em fevereiro, o cantor disse que em algumas ocasi?es esteve prestes a entrar em um est?dio de um amigo para trabalhar composi??es novas, mas o processo de grava??o atual (cada m?sico registrando separadamente sua parte) sempre o afastou. Contudo, ele espera, de alguma forma, poder reunir os m?sicos e gravar um novo trabalho com todos juntos, quem sabe este ano. Apesar de presente no Instagram -- o m?sico n?o faz as postagens, embora passem por sua aprova??o ou sejam suas sugest?es -- e tendo realizado em 2020 uma live dispon?vel no Globoplay, Paulinho ainda ? aquele sujeito do contato presencial, seja para gravar ou para consumir m?sica (vinil ou CD). Falando em presencial, Paulinho retomou sua agenda de shows em dezembro de 2021. Ele se apresentou em Porto Alegre em 10 de fevereiro, no Audit?rio Ara?jo Vianna. Autora dos livros Paulinho da Viola e O Elogio do Amor e Ensaiando a Can??o: Paulinho da Viola e Outros Escritos, a cantora e fil?sofa Eliete Negreiros pontua que a obra do m?sico ? atemporal, tratando de temas caros ? humanidade desde a Antiguidade, como a imperman?ncia de tudo (Tudo Se Transformou) e o amor (Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida). -- Al?m de l?rico, ? um cronista de seu tempo, como em Coisas do Mundo, Minha Nega, Comprimido e Sinal Fechado. Seu olhar confere dimens?o universal a estes temas: a amplid?o e profundidade de seu olhar conferem, ?s suas composi??es, um tom de eternidade -- reflete a pesquisadora de can??o brasileira. -- Vejo Paulinho da Viola como um criador original que mant?m acesa a chama da tradi??o do choro e do samba.

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