A CRIANÇA E O DESENHO ANIMADO: CONCEPÇÕES SOBRE OS ...

III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR

A CRIAN?A E O DESENHO ANIMADO: CONCEP??ES SOBRE OS DESENHOS MAIS ASSISTIDOS E OS PERSONAGENS PREFERIDOS

Dilian Martin Sandro de Oliveira Alessandra de Morais-Shimizu

Faculdade de Filosofia e Ci?ncias, UNESP /Mar?lia

Pesquisa de Inicia??o Cient?fica financiada pela Funda??o de Amparo ? Pesquisa do Estado de S?o Paulo ? FAPESP

Eixo tem?tico: Educa??o e Imagem

Resumo Diversos estudos indicam que as crian?as passam a maior parte do seu tempo em frente ? televis?o, que o desenho animado ? um dos seus programas preferidos e que esse meio de comunica??o e tipo de programa??o podem exercer uma influ?ncia importante em sua forma??o integral. A presente pesquisa teve como objetivo investigar quais s?o os desenhos animados mais assistidos pelas crian?as, os personagens preferidos e as concep??es que elas possuem a respeito. A investiga??o consistiu na aplica??o de um question?rio em 162 crian?as, do 1? ao 5? ano do ensino fundamental, de uma escola municipal de uma cidade do interior paulista. O programa estat?stico utilizado para a an?lise dos dados foi o software IBM? SPSS? Statistics Version 19,0. Os resultados demonstraram que todas as crian?as possu?am televis?o em casa, que a grande maioria assistia todos os dias, boa parte em mais de um per?odo por dia e metade sozinha ou com outras crian?as. Na maioria, era a pr?pria crian?a que escolhia o programa que assistia. Constatou-se que os desenhos mais assistidos eram aqueles indicados, pelas crian?as, como os seus preferidos, os quais variaram conforme a faixa et?ria e o g?nero. Os personagens preferidos, suas caracter?sticas e as concep??es das crian?as sobre esses personagens e a respeito dos desenhos tamb?m apontaram para diferen?as marcantes conforme as vari?veis g?nero e idade. Com base nos resultados alcan?ados neste estudo, considera-se importante que se fa?a uma an?lise cr?tica dos desenhos mais indicados pelas crian?as e suas prefer?ncias, permitindo a elas, seus pais e educadores a possibilidade de leitura e reflex?o sobre o que assistem. Palavras-chave: Televis?o; Desenho Animado; Forma??o da Crian?a.

879

III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR

1. Introdu??o O mundo em que vivemos, atualmente, ? um mundo de tecnologias e culturas de massas. Talvez n?o paremos para refletir, mas estamos ficando cada vez mais dependentes das tecnologias. Em uma pesquisa a respeito de quais aparelhos eletr?nicos o brasileiro mais gosta, divulgada recentemente, a televis?o foi considerada a maior companheira com 44% dos votos, seguida do celular, computador e r?dio (JORNAL GLOBO, 24 jun. 2009). Os meios de comunica??o t?m um importante papel na forma??o de valores das pessoas (MORENO, 2008; KANE; TAUB; HAYES, 2000; RAM?REZ, 2008; PRATES, 2004), todavia, o mais preocupante ? que esses valores, segundo Kane, Taub e Hayes (2000), s?o os valores da m?dia e n?o os valores da vida real. De acordo com Ram?rez (2007), a televis?o ? uma das institui??es que possui a mais forte influ?ncia sobre as pessoas, principalmente sobre as crian?as, que est?o em pleno desenvolvimento mental. Como nos afirma Fernandes (2003) as crian?as de hoje, nascidas em meio a toda essa tecnologia e cultura de massas, j? n?o s?o as mesmas de anos atr?s, para Belloni e Gomes (2008) temos hoje, crian?as autodidatas que fazem diversas coisas ao mesmo tempo e aprendem tudo com as TICs (Tecnologias de Informa??o e Comunica??o), fazendo com que o professor e os pais percam a fun??o de mediadores. O que vem acontecendo ? o que Brito (2005) afirma em sua pesquisa, que na transmiss?o dos programas infantis houve gradativamente uma desvaloriza??o dos pais, na qual estes perdem sua autoridade e deixam de ser refer?ncia para seus filhos. Poder?amos pensar que esse autodidaticismo, talvez, fosse at? bom para o desenvolvimento da autonomia da crian?a, j? que ela pode se considerar, segundo Fernandes (2003) igual ao adulto, j? que todas as informa??es que o adulto recebe a crian?a tamb?m recebe, por?m, para Belloni e Gomes (2008) essa autonomia que as TICs oferecem pode ser desenvolvida ou simplesmente atrofiada, tudo depender? da forma como a crian?a interage com o meio em que vive.

2. Objetivos Esta pesquisa teve como objetivo: - levantar quais s?o os desenhos animados mais assistidos por crian?as do 1? ao 5? ano do ensino fundamental, de uma escola p?blica do munic?pio de uma cidade do interior do estado de S?o Paulo; - verificar quais s?o os personagens preferidos dos desenhos mais assistidos pelas crian?as participantes, e as concep??es que elas possuem sobre eles.

880

III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR

3. Referencial te?rico 3.1. A Crian?a e a M?dia Diversas pesquisas indicam que as crian?as passam grande parte de seu tempo assistindo ? televis?o e que o desenho animado ? um dos seus programas preferidos (CH?VEZ; VIRRUETA, 2009; SILVA; FONSECA; LOUREN?O, 2002; BOYNARD, 2002; OLIVEIRA, 2006; PACHECO, 1985; FERNANDES, 2003; GARCEZ, 2010). Por meio dos desenhos animados, muitas crian?as "soltam" seu imagin?rio, passam a viver em um mundo que n?o ? real. Esse faz-de-conta ? saud?vel para a crian?a, por?m, na perspectiva de Miranda (1978), o mundo dos desenhos infantis deixa, muitas vezes, de representar fantasias infantis para representar valores e ideais dos produtores adultos. Segundo Belloni e Gomes (2008) as crian?as n?o separam o que ? real e o que ? fic??o, pois interpretam o que veem ? sua maneira. Em estudos realizados por Duarte, Leite e Migliora (2006) as crian?as entrevistadas afirmam que na televis?o mostram-se comportamentos bons e maus e cabe a elas decidir o que ? melhor para elas, por?m o que nos intriga ?: o que a crian?a considera bom e o que ela considera mau? Para Ram?rez (2007), os programas infantis possuem mais atos violentos do que os programas adultos, ou seja, as crian?as est?o muito expostas a esse tipo de influ?ncia. Conforme Rosenkoetter, Rosenkoetter e Acock (2009), 70% dos programas produzidos para crian?as possuem viol?ncia. Os pr?prios pais afirmam, em investiga??o feita por Boynard (2002), que as cenas de viol?ncia na televis?o podem desencadear comportamentos agressivos em seus filhos, por?m, o mais alarmante ? que a maioria dos pais entrevistados n?o fica preocupada com essa situa??o. Blumberg, Bierwirth e Schwartz (2008) apontam que a exposi??o a conte?dos agressivos tem contribu?do para refor?ar os pensamentos e comportamentos agressivos das crian?as. Linder e Gentile (2009) e Pereira Jr. (2006) salientam que as crian?as passam a admitir a viol?ncia, transmitida pela televis?o, como normativa e aceit?vel, pois como as informa??es s?o trazidas muito rapidamente ficam apenas no plano superficial, das apar?ncias, sem dar tempo ao telespectador de refletir sobre as situa??es, al?m disso, n?o s? a agress?o f?sica deve ser levada em conta, mas tamb?m a agress?o verbal e indireta, que, ali?s, aparece em grande n?mero nos programas televisivos. Muitas vezes, ? veiculado que a melhor maneira de resolver um problema ? pela viol?ncia, comportamento, ainda, que pode trazer certo status para o personagem (ROSENKOETTER; ROSENKOETTER; ACOCK, 2009; LINDER; GENTILE, 2009; CAMINO et al., 1994; ERAUSQUIM; MATILLA; V?SQUEZ, 1983).

881

III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR

Conforme Silva, Fonseca e Louren?o (2002), diversos estudos t?m destacado tr?s tipos de efeitos negativos gerados pela exposi??o ? viol?ncia televisiva: aqueles que incidem na utiliza??o, por parte dos telespectadores, de atitudes favor?veis ? agress?o na resolu??o de conflitos; a dessensibiliza??o, gerando a banaliza??o da viol?ncia, j? que as pessoas ficam menos sens?veis a ela; e a s?ndrome do mundo paranoide, pela qual a televis?o pode alterar a percep??o que se tem do mundo real. Por outro lado, esses mesmos autores apresentam alguns estudos que defendem que a viol?ncia na televis?o pode ter um efeito positivo, como o de catarse.

Outro ponto interessante que Prates (2004) analisou, ? o conceito de beleza e de g?nero veiculado nos desenhos animados, em especial no filme Shrek, segundo a autora os modelos de beleza s?o hegem?nicos e existe um padr?o, onde as princesas s?o lindas e magras e as empregadas ou vil?s s?o feias e gordas. A mulher sempre ? indefesa, rom?ntica e sentimental.

Conforme as leituras realizadas dos autores citados que estudam as m?dias, o mais importante ? que se fa?a uma an?lise cr?tica das mesmas, permitindo ?s crian?as, pais e educadores a possibilidade de leitura e reflex?o sobre o que as primeiras assistem.

Nossa pesquisa caminhou nessa dire??o, visto que investigamos os h?bitos das crian?as em rela??o aos desenhos animados veiculados na televis?o aberta e suas concep??es sobre aqueles mais assistidos por elas e de sua prefer?ncia.

4. Materiais e m?todos A presente pesquisa consistiu na aplica??o de um question?rio, que em sua constru??o, teve como base o modelo elaborado por Pacheco (1985). O question?rio de nosso estudo foi composto por dois conjuntos de quest?es. No primeiro, foram solicitadas informa??es sobre ano e per?odo de estudo, idade, se possui televis?o em casa e quantas, a frequ?ncia, a hora, com quem assiste e quem escolhe os programas de televis?o que assiste. No segundo conjunto de quest?es, apresentamos um quadro que contemplava as seguintes perguntas: os tr?s desenhos mais assistidos pela crian?a, a que hora, dia e canal que passa cada um desses desenhos, com quem assiste, se ? o desenho preferido e por qu?, qual o personagem do desenho que mais gosta e por qu? e quais as caracter?sticas desse personagem. Participaram da pesquisa 162 alunos, do 1? ao 5? ano do ensino fundamental, de uma escola municipal de uma cidade do interior paulista.

882

III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR

Os dados coletados foram inseridos no programa estat?stico software IBM? SPSS? Statistics Version 19,0 por meio do qual foram extra?das tabelas de frequ?ncia simples, porcentagens e gr?ficos, e realizado o c?lculo do Qui-quadrado para a compara??o de frequ?ncias de acordo com as vari?veis: idade, g?nero, entre outras. Sucessivamente, foram realizadas as an?lises dos resultados apresentados.

5. Resultados e discuss?es 5.1. Caracteriza??o dos sujeitos da pesquisa Em rela??o ? caracteriza??o das crian?as que participaram da pesquisa, 51,9% eram meninos e 48,1% meninas, sendo que do total 34,6% tinham de 6 a 7 anos, 40,7% de 8 a 9 anos e 24,7% de 10 a 11 anos. Analisando os dados, conforme o ano e per?odo escolar, temos a seguinte tabela:

Tabela 1- Distribui??o dos alunos participantes da pesquisa conforme a s?rie e o per?odo

escolar

Per?odo

S?rie

Manh?

Tarde

N? de Alunos

1? ano 2? ano 3? ano 4 ? ano 5? ano

4,9% 0% 11,1% 12,3% 17,3%

13,0% 11,7% 8,6% 10,5% 10,5%

17,9% 11,7% 19,8% 22,8% 27,8%

Total

45,7%

54,3%

100%

Na tabela acima podemos visualizar que a distribui??o das crian?as conforme o per?odo de estudo, em geral, ? equilibrada, assim como no que diz respeito ? idade, em que do 1? ao 3? ano (crian?as menores) temos 49,4% da amostra pesquisada e do 4? ao 5? ano (crian?as maiores) temos 50,6%.

5.2. H?bitos em rela??o ? televis?o Quando interrogados sobre os h?bitos em rela??o ? televis?o, 98,8% das crian?as afirmaram que possu?am televis?o em casa e apenas 1,2% n?o tinham o aparelho, dentre as que possu?am, 77,8% relataram ter de 1 a 2 televis?es e 21% de 3 a 4. Verificamos que a maioria das crian?as 77,8% assiste televis?o todos os dias e que, apesar da programa??o no per?odo da manh? e da tarde ser dedicada em maior parte ?s crian?as, observamos uma proximidade no h?bito das crian?as assistirem televis?o nos tr?s

883

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download